Bispos católicos apontam SAD’s, doping, corrupção, violência das claques e politização no futebol como pontos negativos deste desporto
A Nota Pastoral da Conferência Episcopal Portuguesa intitulada “O Desporto ao serviço da construção da pessoa e do encontro dos povos”, publicada por ocasião do EURO 2004, desafia os portugueses a aproveitarem esta oportunidade para “afirmarmos Portugal, no concerto das nações, como país moderno e empreendedor, capaz de vencer os grandes desafios”.
O documento refere-se ao Euro 2004 como “um desafio a vencer” e como “um projecto motivador” que deverá ultrapassar largamente as quatro linhas dos 10 estádios onde se disputarão, de 12 de Junho a 04 de Julho, os jogos da fase final do Europeu.
“Será um festa dos povos, um encontro de culturas, um ocasião propícia para afirmarmos a nossa vocação de país hospitaleiro, aberto à colaboração com outras nações, que acolhe, que dialoga e que partilha”, asseguram os Bispos.
A CEP afasta-se de qualquer polémica em relação ao dinheiro empregue na construção/renovação dos Estádios para o Euro 2004, mas a Nota não deixa de referir que é indispensável que as novas estruturas desportivas sejam “postas ao serviço de toda a comunidade, particularmente apoiando as camadas mais desfavorecidas”.
O texto, divido em quatro partes (“o desporto e a pessoa humana”, “o desporto e a construção da comunidade humana”, “o futebol: luzes e sombras de um desporto mediático” e “a fase final do Euro 2004, um desafio a vencer”), ressalta a importância do desporto na formação integral do homem e o potencial do futebol, em particular, como instrumento de encontro, tolerância e convivência entre “os vários povos e culturas”.
Os bispos portugueses advertem, contudo, que o desporto não pode absorver de tal forma o homem “que o conduza a dispensar-se das suas responsabilidades religiosas”, nomeadamente no que diz respeito à celebração do Domingo.
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Particularmente incisiva é a III parte do Documento, sobre as “luzes e sombras” do desporto-rei. A CEP retoma mesmo a acusação de "exagerada comercialização do fenómeno desportivo”, afirmada na recente Carta Pastoral “Responsabilidade Solidária pelo Bem Comum”.
Para os Bispos portugueses, o futebol deixou de ser um "jogo", para se tornar uma indústria: “o futebol perdeu o seu sentido lúdico e humanizante, para se tornar uma competição de artistas pagos a peso de ouro, que oferecem um espectáculo de alto valor comercial mas, muitas vezes, despido de alma e de sentimentos; o futebol deixa de ser um veículo dos valores que unem as pessoas e que geram comunidade, para se tornar um factor de divisão, de ódio, de ruptura, de fractura social e de violência”, advertem.
O dedo acusador da CEP cai sobre as sociedades anónimas desportivas, regidas “por interesses comerciais, por critérios de rentabilidade económica e pelo espírito de lucro”, sobre o fenómeno das claques “frequentemente ligadas a episódios de intolerância e de agressividade que desembocam em graves manifestações de violência” e sobre o uso de substâncias químicas proibidas para melhorar o desempenho dos atletas. A corrupção, a politização do fenómeno futebolístico e o tratamento comercial dos jogadores são outras das “sombras” apresentadas.
A Nota Pastoral• O Desporto ao serviço da construção da pessoa e do encontro dos povos