Os valores éticos do futebol estão ameaçados, numa época em que este desporto sofre todo o tipo de influências exteriores. A afirmação é de D. José Policarpo, Cardeal-Patriarca de Lisboa, que a 10 de Junho participou numa conferência sobre "o Futuro do Futebol", patrocinada pelo Instituto Alemão Goethe.
O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa assegurou que cada vez mais o futebol está a perder a sua função social. "O futebol, sendo um espaço cultural, tem que ser um espaço de liberdade. Se for manipulado por poderes políticos, e por políticas em concreto, ou por outras forças que querem dominar a sociedade, dificilmente ele exercerá essa função social. É um desporto ameaçado como desporto", avançou.
Para D. José Policarpo, o futuro do futebol está intimamente ligado “ao futuro das nossas sociedades, no seu todo, e de modo particular à influência que a dimensão cultural tiver na evolução das mesmas”.
A ideia é particularmente relevante numa altura em que vivemos o início do Euro-2004, com o Cardeal-Patriarca a deixar alertas claros para a opinião pública: “não vale a pena estar a acusar empresários, jogadores ou claques das dificuldades provocadas pelo futebol, porque elas se inserem num conjunto muito vasto, que tem a ver com a sociedade, a dimensão ética, com os valores”.
“Devemos ter o cuidado de não isolar o culpado num determinado momento, porque não deixa de o ser, do conjunto da sociedade que, essa sim, tem de encontrar o rumo de uma prioridade da cultura sobre o seu destino colectivo”, acrescentou.
O Cardeal desafiou os participantes a uma reflexão sobre se o futebol “ainda merece o título de desporto”. “Interessa saber se se pode aplicar ao futebol o critério de análise ética sobre o desporto: ele é uma macrorealidade, é empresa, é paixão – e era bom que fosse paixão estética e não apenas violenta -, são pressões sociais, são tentativas de influências”, referiu.
“O desporto é a elaboração cultural de um instinto básico, que é o lúdico. Ligado ao sentido do jogo está o divertimento, a festa, a criatividade: até que ponto é que o futebol pode ser expressão estética?”, lançou.
Ligado a este fenómeno, o Patriarca de Lisboa apresentou a dimensão ética, enquanto “realização global da pessoa humana, integrando a corporeidade na espiritualidade”.