Dossier

Um olhar sobre o Euro-2004

Pe. Júlio Carrara
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Olhares de um padre atento ao futebol

Campeonato Europeu No sábado, dia 12 de Junho, às 17 horas começou o Campeonato Europeu de futebol. Através de torneios eliminatórios ficaram 16 equipas para disputar a fase final aqui em Portugal. Portugal preparou-se com sentido de responsabilidade. E fez sacrifícios superiores às suas forças. Tudo está pronto e vamos ao jogo. É bonito jogar, certamente é mais prático jogar que ser simples espectadores. Mas aqueles que podem jogar num Campeonato Europeu são muitos. Respira-se um ar de festa, de novidades. As expectativas são grandes e numerosas; os agentes do turismo, os hotéis, os gestores dos estádios. As crianças, os jovens vão à procura de assistir aos jogos mágicos e entusiasmantes; muitos carros e janelas mostram a bandeira nacional. Até os condutores de táxis estão à espera de numerosos utentes. Estamos a viver um período cheio de expectativas e de um mundo diferente. Jogos e atentados A guerra não respeita nada; tudo se torna possível. Depois do atentado de Madrid, no dia 11 de Março deste ano, muito se falou, se escreveu e se mostrou. O medo de perigos iminentes e selvagens para o Campeonato Europeu de futebol espalhou-se em Portugal, até conseguiu calar o fenómeno “Casa Piaâ€. Graças a Deus que os meios de comunicação social tornaram-se mais equilibrados e deram a possibilidade aos responsáveis da segurança a fronteiras, nos estádios, nas cidades, nos lugares mais sensíveis, de se prepararem com equilíbrio e sensatez. Claques, adeptos e hooligans Campeonato Europeu de futebol movimenta muitos adeptos e aficionados de futebol, sejam nacionais, sejam estrangeiros. O desporto é uma festa, um convívio, uma libertação de nervos e de toxinas, um encontro de jovens e adultos, iguais e diferentes, com culturas muito diversificadas... é uma beleza... um descanso. E certamente triunfará o bom senso. Entre a enorme multidão há os hooligans que nasceram na Inglaterra nos anos 70 e 80. Existiam correntes pseudo-filosóficas, niilistas com o gosto perverso de destruir, para abater a ordem pública, até pessoas ajudadas pelo vazio e falta de valores. É estranho, o vazio moral e de valores leva à destruição. E foram muitos os desacatos, as mortes e o vandalismo nos estádios e fora dos estádios. Uma claque deve ser acompanhada no seu nascer, no seu crescer e na organização, por pessoas que amem o desporto, ricos de humanidade e de bom senso. Não deve estar ligada à direcção do clube, diversamente este perde a força e a capacidade de orientar. As direcções às vezes são capazes de defender, desculpar e proteger as acções criminosas e de distúrbio das mesmas claques. É necessário prevenir factos inconvenientes, mas também reprimi-los intempestivamente. O ideal seria que os adeptos se tornassem como uma única e grande claque. Uma das cenas mais impressionantes, mais exaltante e folclórica à qual assisti foi o jogo celebrado entre o Boavista Futebol Clube e o Celtic de Glasgow. Estava como convidado e membro da direcção do Boavista Futebol Clube. O grandioso estádio estava repleto e emoldurado com cachecóis dos adeptos que unia os espectadores, juntamente com música e cânticos. Faltavam poucos minutos para o início do jogo e levantou-se da tribuna uma voz forte e agradável de uma cantora que a todos silenciou. Acabou o canto e começou o jogo. Continuaram os cantos, as palmas e os coros. Era um espectáculo, uma festa da bola. O primeiro golo foi marcado pela equipa hóspede e os espectadores continuaram a cantar, a bater palmas e a fazer festa. Seria interessante que também nos nossos estádios acabassem os palavrões obscenos, os gritos contra os árbitros, os cânticos inconvenientes. Nós esperamos que o Campeonato Europeu de 2004 seja ganho pela equipa de Portugal e que marque uma viragem no comportamento, nas palavras, nas atitudes dos verdadeiros amigos da bola. O desporto é uma festa, é alegria, é um momento de descanso sorridente e contagiante. Pe. Júlio Carrara, Paróquia Nossa Senhora da Boavista


Euro 2004