Editorial

A sério

Agência Ecclesia
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Octávio Carmo, Agência ECCLESIA

“Qualquer dia começa outra guerra mundial…” Esta é uma frase que ouvimos esporadicamente, mostra, acima de tudo, que vivemos longe dos vários focos de conflito que incendiam o mundo, um pouco por todos os continentes. Isso e muita distração.

Nunca como hoje foi a guerra tão mundial, no verdadeiro sentido da palavra. Exportável, transportável, descartável. Uma derrota para a nossa humanidade. O próprio Papa Francisco já teve oportunidade lamentar que o apelo de “guerra nunca mais” nunca tenha sido levado a sério, insistindo no drama da “terceira guerra mundial aos bocados” com conflitos na Ucrânia, Médio Oriente, África…

Teve grande impacto mediático o desabafo pontifício de que a Europa precisa de líderes. Sim, a Europa, toda a comunidade internacional procuram lideranças de estatura moral, de dimensão mundial, capazes de superar a pequenez de visões, os interesses mesquinhos, a ganância, o desprezo pela vida humana, a submissão a poderes económico-financeiros.

A Mensagem para o Dia Mundial da Paz, com que a Igreja Católica começa cada ano novo, tem de ser levada a sério. A não-violência proposta pelo Papa é mais do que um ato mais ou menos piedoso ou uma objeção de consciência. É um desafio à ação em favor da paz. Para o envolvimento de mais e mais construtores de paz contra os “senhores da guerra”. Integra-se, no conjunto do seu pontificado, na luta contra a indiferença globalizada, a inércia, o distanciamento em relação aos dramas humanos do mundo contemporâneo.

Vale a pena, como sempre, ler com atenção. Se o mal começa no coração humano, se a violência começa no contexto doméstico, é impossível dizer que não podemos fazer nada para mudar o cenário mundial. Ao pedir que se comece em casa, na família, na vida de cada um, Francisco lança uma grande onda internacional de não-violência que pretende chegar ao topo da pirâmide, não como uma exigência abstrata, mas vivida e interiorizada por milhões de pessoas. Não como uma imposição de sonhadores, mas como uma proposta de vida de milhões de “bem-aventurados” pacificadores, como Jesus proclamava no Evangelho. A paz vive-se, constrói-se, consolida-se com o esforço de todos. E aí sim, os senhores da guerra vão ter de levar o resto da humanidade a sério.

Octávio Carmo