Nos cinquenta anos da morte do Padre Américo vêm ao de cima algumas análises sobre diferentes correntes de educação que podem inspirar a sociedade de hoje na “recriação” possível do ambiente familiar inexistente ou destruído. E, desde logo, surgem teorias que acentuam aspectos mais coincidentes com atitudes não apenas pedagógicas mas também decorrentes de valores – os novos valores do nosso tempo. Por vezes, em contraposição com qualidades cultivadas não apenas num passado recente mas inscritas desde sempre no coração da humanidade e progressivamente reveladas através das gerações inspiradas no cristianismo. Chegamos assim, inevitavelmente, aos conceitos de autoridade, liberdade e responsabilidade na família, educação através de auto-disciplina, respeito por valores considerados fundamentais em todos os ciclos da história da humanidade. Sem deixar de considerar como positiva a evolução pedagógica que se alcançou com novas aquisições na bio-psicologia, percepção do eu, afirmação das diferenças de personalidade e de caminhos, vamos de novo ter à senda das referências essenciais que são, em qualquer circunstância, capazes de conduzir o homem ao desenvolvimento harmónico da sua personalidade e à maturidade do seu ser.
Olhando a percepção intuitiva e a entrega pessoal do Padre Américo à causa dos pobres – os rapazes vindos da rua, os idosos marginalizados e os desprovidos de todos os bens - percebemos que um contexto social lhe despertou a veia profética do Evangelho e conduziu apaixonadamente toda a sua vida. Perdido isto, deita-se fora um património, o essencial dum espírito e o carisma dum homem inteligente, santo e corajoso que dedicou toda a sua vida, com exemplar radicalismo, à causa do Evangelho nos pobres. A Obra da Rua, na travessia das diferentes correntes do tempo, sempre teve este fio condutor como a primeira das entregas.
Ao celebrar-se os cinquenta anos da morte do Padre Américo ninguém pode, honestamente, esquecer os discípulos mais próximos – os Padres da Rua - que o seguiram e seguem, como heróis do silêncio que dão a vida pela inspiração continuada do Pai Américo. Se é verdade que são as contas de Deus que contam, não podemos esbanjar as palavras e os gestos dos profetas – que não são menores por serem da nossa terra.
António Rego