Entrevistas

Novo bispo do Porto

Agência Ecclesia
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D. António Francisco dos Santos fala à Agência ECCLESIA sobre esta missão, para a qual diz partir com o objetivo de estar junto de toda a população, de uma maneira «simples, próxima e fraterna»

Agência ECCLESIA (AE) – A serenidade e a tranquilidade são duas características de D. António Francisco Santos. Este período entre a nomeação (21 de fevereiro) e a tomada de posse na Diocese do Porto (dia 06 de abril) mexeu consigo?

D. António Francisco Santos (AFS) – Costumo ser uma pessoa serena e tranquila. Mas ao ser confrontado com a decisão do Santo Padre senti-me surpreendido. Só à luz da fé pude entender esta decisão e é, também, à luz da fé que assumi esta minha decisão de obedecer, acolher e ir com alegria e entusiasmo servir a Diocese do Porto. Sempre procurei fazê-lo em todo o itinerário da minha vida de sacerdote e de bispo.

 

AE – É natural de Lamego, já esteve em Braga e depois Aveiro. Agora vai para a diocese vizinha, Porto. Nota-se que deixa sempre o seu cunho pessoal e serenidade por onde passa.

AFS – Creio que isso é, simultaneamente, um dom de Deus recebido e acolhido. Recebido por mim e acolhido também nas pessoas que encontro. Este meu peregrinar, este meu jeito itinerante de ser, que manifesta a minha disponibilidade interior. Esse é o único mérito que tenho porque quem me conduz são as mãos do Senhor. Tenho-me sentido muito feliz em todos os lugares onde trabalhei e servi. Quer na minha diocese de origem (Lamego), depois na diocese de Braga, como bispo auxiliar, e agora, neste encanto e nesta vivência tão bela na diocese de Aveiro. Devo muito, muito, a todas as pessoas e à comunidade que encontrei e procuro servir.

 

AE – Na mensagem à Diocese do Porto e citando o profeta Jeremias refere “Irás aonde Eu te enviar” (Jer 1,7). Essa é a expressão que simboliza a sua partida para a diocese do Douro?

AFS – Essa expressão veio ao meu espírito e senti pulsar no meu coração quando me foi anunciada e comunicada a decisão e escolha do Santo Padre. Sempre procurei ir para todos os lugares para onde Deus me enviou. É com esse espírito, ânimo, alegria e coragem que vou. Queria que fosse a coragem dos profetas. É a bênção e a bondade de Deus que me anima a prosseguir neste caminho.

 

AE – O Porto está a poucos quilómetros de Aveiro. No entanto, sente-se – pela forma como se refere à Diocese de Aveiro – que as águas da ria já entraram no seu sangue.

AFS – Sem dúvida. Senti sempre que aqui era a minha terra. Mas sinto também que da janela da minha aldeia natal vê-se o Porto. Essa grande e encantadora diocese que é o Porto, com tantas pessoas de bem e de valor, com um itinerário e percurso histórico maravilhoso. Depois da confirmação do Papa Francisco e da minha decisão tenho colocado no coração de Deus e no meu coração, esta oração pela diocese do Porto. Procurarei ser apóstolo das bem-aventuranças e testemunho da bondade de Deus.

 

AE – Acredita que deixou corações destroçados na Diocese de Aveiro?

AFS – A dureza da separação não a posso ignorar nem a posso contornar. Sinto que fui sempre muito bem acolhido e muito acarinhado e que encontrei generosos colaboradores. Sofro com a tristeza desta separação e, sobretudo, por ver que eles sofrem, mas sinto também que é à luz da fé que eles aceitam a decisão do Santo Padre e a minha disponibilidade para ir ao encontro desta nova missão. Acredito que o Senhor lhes vai proporcionar um servidor generoso, como eles merecem.

 

AE – Para além da sua sabedoria e disponibilidade, o que leva para o Porto?

AFS – Levo a minha entrega e alegria de anunciar o Evangelho. Levo também a minha certeza da proximidade com todos. Levo a minha disponibilidade para que todos encontrem em mim um pastor e um irmão. Vou para estar com eles sempre e em todas as situações. Quero ser o porta-voz do amor de Deus e esse rosto de um Deus que ama cada um em cada situação e em cada circunstância. Vou também para semear esperança no futuro da história daquela Igreja.

 

AE – O pontificado do Papa Francisco tem deixado marcas inapagáveis. É um seguidor deste modelo de proximidade do papa argentino?

AFS – Sou e muito. Tive a graça de estar com o Papa Francisco, em Roma, no passado mês de setembro (no congresso internacional da catequese). Falei-lhe da diocese de Aveiro e o dom que ele é para a Igreja universal. Quero aprender sempre com ele, nos seus exemplos e suas atitudes proféticas. Os seus gestos fazem escola. Com ele quero aprender a ser o pastor que a Igreja do Porto merece.

 

AE – Caminha rápido com os mais rápidos e mais lento com os vagarosos. A sua pastoral tem duas velocidades?

AFS – Essa é uma generosa maneira de compreender a minha forma de estar e ser bispo. No entanto, não esqueço que na exortação apostólica, o Papa Francisco nos diz: “o bispo é aquele que deve guiar o povo”. Deve ir à frente, mas em alguns momentos deve saber ir no meio e noutras ocasiões deve saber ir atrás para acolher e acompanhar os que têm ritmo mais lento. Não há caminho a duas velocidades, mas tem de haver a perspicácia e lucidez do bispo para saber estar com todos. O rebanho conhece-se pelo olfato. Isso é uma forma de viver a caridade pastoral.

LFS



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