Entrevistas

O país entrou numa onda de optimismo

Voz Portucalense
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À conversa com... Ribeiro Cristóvão

VP – Sente-se realizado e responsável por dever e ter de passar emotividade e energia pela rádio ao relatar os jogos de futebol? É fácil manter a neutralidade no relato, sem dar a transparecer as suas preferências? RC – Foi sempre muito fácil para mim não deixar transparecer as minhas preferências desportivas. O facto de também nunca ter receado divulgar o clube da minha simpatia, reforçou sempre aquele estado de espírito. VP – Acha que esta Selecção Nacional é a de sonho? Terá o Felipe Scolari apostado nos jogadores certos ou faltou convocar algum que fosse imprescindível? RC – O Seleccionador nacional convocou aqueles que entendeu serem os melhores para servir o seu projecto, enquanto homem com larga experiência de futebol. Podemos não estar de acordo com a totalidade dos nomes, mas a decisão é sua. VP – No seu entender, porque é que não chegaram os jogos de preparação e mesmo grande parte do 1º jogo com a Grécia para descobrir qual o plantel mais indicado para as vitórias entretanto alcançadas? RC – O Seleccionador traçou um plano de trabalho baseado numa equipa que para si era a mais adequada para enfrentar todos os desafios. Quando verificou que tinha que mudar, não hesitou em fazê-lo, com os resultados que se conhecem. Esse é, para mim, um dos seus maiores méritos. VP – De que forma analisa a vitória, justa e sofrida, de Portugal frente à Inglaterra. O que será agora da Selecção das Quinas? RC – Foi uma noite memorável e um jogo inesquecível, para cujo desfecho os portugueses deram um contributo muito forte. A partir de agora tudo pode acontecer, até mesmo tornarmo-nos nos novos campeões da Europa. VP – À questão colocada no “net voto” do site da RR, se os portugueses acreditam na vitória de Portugal, notaram-se os seguintes resultados, na véspera do jogo com Inglaterra: 81,8% sim e 18,2% não. Como interpreta a % contrastante à maioria optimista? Ribeiro Cristóvão (RC) – O país há muito entrou numa onda de optimismo, que se reflecte nos mais pequenos gestos. Tal resultado significa, sobretudo, que de uma vez por todas, povo e selecção são uma só e mesma coisa. VP – A comissária europeia destacou o “comportamento positivo” dos adeptos em geral, exceptuando “2 ou 3” casos de violência. Considera que estão todas as condições reunidas para este resultado se manter até à final, inclusive? RC – Nunca tive dúvidas sobre a forma ordeira como o Europeu iria decorrer. Os portugueses não são atreitos a provocar desacatos, mesmo quando os resultados não são bons. E os estrangeiros que nos visitaram, puderam constatar como somos gente boa e hospitaleira. VP – Como define e avalia a organização e concretização portuguesa do Euro2004? A que níveis está a ser e vai ser importante para nós? RC – Confesso que tive inicialmente algumas dúvidas sobre a nossa capacidade de organizarmos um Campeonato sem mácula. Estou por isso feliz por me ter enganado. Agora não há dúvidas de ninguém, e talvez possamos esperar que nos sejam confiadas outras grandes tarefas. VP – Quais são para si os principais destaques, surpresas, novidades, curiosidades e apontamentos a registar e recordar desde o início do Euro2004? RC – A primeira grande surpresa foi a derrota com a Grécia. Mas fomos capazes de arrepiar caminho, para estarmos agora em posição confortável. Somos uma das melhores quatro Selecções da Europa. Estádios quase sempre cheios, com uma média actual notável de espectadores, é um dos grandes destaques. Registo, igualmente, para o excelente comportamento dos estrangeiros que nos visitaram, excepto aqueles pequenos casos pontuais, que não ficam para a história. VP – Tem sido possível mostrar e demonstrar que o Futebol é um desporto sadio e alegre, que gera espectáculo: é preciso todos quererem e fazerem por isso! E assim pouco se falou da arbitragem. Este exemplo que nos é dado pelos países participantes do Euro2004 irá permanecer e vencer no Futebol português? RC – Esse tem um dos aspectos mais negativos e confirmativos de algum terceiro mundismo, que caracteriza alguns dirigentes do nosso futebol doméstico. Espero que aprendam a lição do Euro2004, e que a partir de agora se instale outra mentalidade. Mas, confesso, tenho dúvidas, de que não voltemos a ser pequeninos. VP – Qual o prognóstico que faz para esta etapa final do Euro2004? Como caracteriza cada uma das 4 equipas apuradas para as meias-finais? Como prevê ser a grande final: equipas, resultado e marcadores? RC – Prevejo 2 grandes jogos: Portugal tem condições para ganhar à Holanda, e a surpreendente Grécia deve cair face à poderosa República Checa, esta, desde sempre, uma das minhas principais favoritas. Uma final Portugal – República Checa, pode vir a ser um desafio inesquecível, mas de vaticínio difícil. Seria bom sairmos campeões, mas só o conseguiremos se a capacidade física dos nossos jogadores a isso ajudar. TRÍMERO TEMÁTICO: VP – Hooliganismo: como superar e como eliminar?... RC – Não tivemos hooliganismo no Euro2004, felizmente, porque os seus fautores quase sempre ficam fora dos estádios, mesmo na Inglaterra, o seu país de origem. É um fenómeno difícil de combater, mas nem por isso lhe devemos virar as costas... VP – Nota Pastoral da CEP por ocasião do Euro2004... RC – Importante, muito embora se tenha dado pouca divulgação e até pouca atenção. Entre outras coisas, desejava que o grande vencedor do Euro fosse o Homem. Creio que está a sê-lo. VP – Os 7 milhões e tal de euros que a nossa Selecção vai ganhar... RC – Perante a possibilidade de um triunfo de tal monta, que entrou no coração das pessoas, esse números não entram no jogo. ASPECTOS DE ELEIÇÃO VP – O melhor avançado do Euro2004... RC – Wayne Rooney. VP – O melhor guarda-redes do Euro2004... RC – O nosso grande Ricardo. VP – O melhor defesa do Euro2004... RC – Ricardo Carvalho. VP – O melhor médio do Euro2004... RC – Deco. VP – O melhor árbitro do Euro2004... RC – Markus Merk. Por alguma razão já está escolhido para dirigir a Final. VP – A melhor Selecção do Euro2004... RC – a de Portugal. VP – A Selecção revelação do Euro2004... RC – Grécia. VP – A Selecção “fair-play” do Euro2004... RC – Muitas, felizmente... VP – A Selecção temível do Euro2004... RC – República Checa. VP – A Selecção “desilusão” do Euro2004... RC – França. Campeã europeia e mundial recente, está, infelizmente a desfazer-se. VP – A Claque mais animada do Euro2004... RC – a da Inglaterra. E nós que o digamos... ao recordar o jogo da Luz!


Euro 2004