Director da OCPM explica como a Igreja em Portugal responde aos novos fluxos migratórios
A igreja em Portugal, a partir das estruturas criadas em 1962 - vésperas do profético Concílio Vaticano II - tem procurado estar atenta às mudanças dos fluxos migratórios de saída, permanência e de entrada que atravessam o nosso território, cultura, mobilidade e espiritualidade.
Um serviço que, conforme as orientações do Conselho Pontifício para os Migrantes e Itinerantes, deverá acontecer no “hoje plural”, cada vez mais em contexto ecuménico, intercultural e inter-religioso para a efectiva unidade da única família humana.
Portugueses pelo mundo
Para acompanhar social e pastoralmente os portugueses, cuidando da fé, defendendo a família e valorizando a cultura e língua, existe hoje ao serviço dos “Portugueses em Movimento” uma rede de Missões Católicas ou outras Estruturas linguísticas em 21 nações. Esta obra de evangelização é garantida, pelos próprios leigos emigrantes, com o presença de missionários portugueses e lusodescendentes, que aceitam “ser migrantes com os migrantes” lá onde a Igreja deles precisa. A responsabilidade pelos cristãos migrantes e seus “evangelizadores” é tarefa primária da igreja de acolhimento, em colaboração com a igreja de origem, sobretudo, nas primeiras fases do processo de integração.
Actualmente a Comissão Episcopal da Mobilidade Humana (CEMH) da CEP, através da OCPM, acompanha a “pastoral portuguesa” mantendo laços com: 123 sacerdotes (37 na Europa, 4 em África, 77 na América, 5 na Ásia e Oceânia); com 30 religiosas (22 na Europa e 8 em África); com 22 diáconos permanentes (7 na Europa, 15 na América); e, 30 Assistentes pastorais formados em teologia (dos quais 19 na Europa). Além destes operadores portugueses ou lusodescendentes cresce o número de sacerdotes de outras nacionalidades que acompanham as Comunidades no espírito de universalidade que caracteriza a acção da Igreja.
A última grande reflexão da Igreja, motivada pela CEMH, sobre as “mutações qualitativas e quantitativas” em acto nas Comunidades, ao inicio do Novo Milénio, aconteceu durante o I Encontro Mundial das Comunidades Portuguesas, realizado em finais de Março de 2005, do qual existe um Livro de Actas que pode ser solicitado à OCPM.
Refugiados e imigrantes no país
Em Portugal continental e Regiões autónomas, têm sido acompanhados os vários fluxos de refugiados (os das ex-colónias africanas, de Timor leste e dos Balcãs, entre outros) através dos secretariados diocesanos de migrações, em parceria com as Organizações Não Governamentais (ONG) vocacionadas e preparadas para este apoio.
Todavia, diante da situação de emergência social que tem caracterizado os fluxos de entrada - alguns fortemente marcados pela irregularidade administrativa a que o país assiste desde os anos 80 - a igreja tem procurado criar estruturas para o acolhimento na fé e defesa dos valores da família dos imigrantes. Entende-se que ao favorecer a auto-organização em comunidades de culto, ao valorizar a cultura e tradições religiosas através de eventos específicos, ao apoiar a afinidade cultural dos mediadores pastorais, os imigrantes e suas famílias podem continuar, não obstante as dificuldades inerentes à sua condição de estrangeiros, o seu itinerário de fé e vida comunitária mediante um acompanhamento específico e inculturado.
Por isso, encontram-se em criação - numas dioceses mais do que noutras - as capelanias para os católicos e a celebração de “protocolos” com outras confissões religiosas para a cedência de espaços de culto e eventos de colaboração ecuménica e inter-religiosa, a nível de boas práticas de integração social, religiosa e consciente participação cívica.
Actualmente a Comissão Episcopal da Mobilidade Humana, após o levantamento nacional de 2006, tem conhecimento da existência de várias capelanias/centros ao serviço da fé dos imigrantes cristãos em Portugal: 12 sacerdotes (para 9 capelanias católicas linguísticas de rito latino); 07 sacerdotes, dos quais 3 casados (para 5 capelanias católicas linguísticas de rito oriental); e 10 sacerdotes, dos quais 2 celibatários (para 8 capelanias linguísticas ortodoxas). Também a nível das comunidades evangélicas surgiram ultimamente, sobretudo, nas grandes cidades estruturas de maior acompanhamento da fé.
Para assumir esta diversidade cultural e solidariedade na fé em Jesus Cristo tem-se vindo a divulgar nas dioceses, sob indicação da CEMH, a celebração anual da Festa dos Povos, envolvendo todas as comunidades migrantes e religiosas, assim como ONG comprometidas com a defesa dos direitos humanos dos migrantes, independentemente do seu estatuto jurídico.
Famílias solidárias com a vida e amor
Tendo como ícone a experiência bíblica da família de Nazaré, relatada nos evangelhos, forçada a refugiar-se no estrangeiro - no Egipto - para salvar a vida do menino Jesus das mãos do opressor Herodes, as comunidades cristãs e movimentos eclesiais são, no próximo Dia Mundial do Migrante e Refugiado, convidadas e a solidarizar-se com as famílias migrantes a viver na área da paróquia, mediante gestos simples e concretos, para que com as famílias portuguesas sejam “santuários” de vida, de amor e de identidade numa sociedade portuguesa que dá sinais preocupantes de “desagregação” da família e “profanação” da vida humana. Um simples e bonito gesto seria de, nas eucaristias do próximo domingo dizer aos imigrantes que são muito bem-vindos.