Nacional

As crises na família

CPM
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Conclusões do Encontro de Formação Nacional dos CPM

O Salão do Bom Pastor, no Edifício Paulo VI, em Fátima, foi pequeno para acolher as mais de 600 pessoas – casais e Assistentes da Associação Portuguesa dos Centros de Preparação para o Matrimónio – provindas de 18 Dioceses: Algarve, Aveiro, Beja, Braga, Bragança-Miranda, Coimbra, Évora, Funchal, Guarda, Leiria-Fátima, Lisboa, Portalegre-Castelo Branco, Porto, Santarém, Setúbal, Viana do Castelo, Vila Real e Viseu, que, no dia 29, participaram numa sessão de formação promovida pela Equipa Responsável Nacional. O tema, “As crises em casal”, foi tratado, de manhã, por Manuel Freitas Gomes, Psiquiatra, da Diocese do Porto e, de tarde, pelo P. Carlos Carneiro, Jesuíta, de Coimbra, que trouxeram ao plenário situações concretas reflectidas e tratadas, quer no consultório médico, quer no acompanhamento e aconselhamento espiritual. O Dr. Freitas Gomes começou por afirmar que o amor passa por diferentes fases e etapas que são determinadas pela idade das pessoas e pela maturidade dos sentimentos. Referiu que, antigamente, os jovens começavam o seu processo amoroso pela conquista, entravam no namoro e faziam o seu noivado em direcção ao casamento. Hoje os jovens vivem situações complexas por falta de sinais orientadores de valores e de princípios básicos por culpa dos adultos, perdendo-se em labirintos de experiências e de vivências que destroem. Se a “conquista” é, ainda hoje, o ponto de partida, há, no entanto, jovens que optam pelo curtir e se enredam no sexo, enquanto outros se encaminham para o “namoro”, decidindo, uma parte morar juntos e a outra escolher o casamento, com passagem eventual pelo noivado. Uma vez casados, há os que se esforçam pela unidade e pela fidelidade que os levará à eternidade e os que, por circunstâncias diversas, desembocam no divórcio para darem lugar a uma nova conquista. Cabe aos adultos apontar os valores que devem informar e preencher interiormente os jovens de hoje, de modo que eles possam estruturar validamente as suas vidas, preparando um futuro risonho e feliz. Demonstrou que uma relação madura é definida pelo desejo, pela elaboração de sentimentos, pelo projecto e pelo sacramento e que é neste contexto que se experimenta a sexualidade de uma forma plena e saudável. Não havendo receitas nem remédios para manter uma relação amorosa sã e estável de dois seres, há, contudo, condições que podem facilitar uma boa convivência entre o casal. Tendo em conta a dificuldade natural da gestão das diferenças de dois patrimónios distintos em termos biológicos, afectivos e psicológicos, os jovens deveriam ser mais criteriosos na escolha do outro – procurar alguma semelhança quanto à idade, ao nível cultural, às crenças, possuir e desenvolver uma comunicação livre, espontânea, honesta e recíproca, sonhar e projectar uma família que contribua para fortalecer o amor através de um espaço partilhado. Mas é sabido que o casamento, apesar de bem preparado, não é um jardim sem espinhos, porquanto sofre, internamente, das limitações humanas de dois seres e daqueles que vão nascendo no seu seio ou recolhendo a ele e, em termos externos, de todas as variáveis que não podem ser controladas – condições de trabalho, mobilidade e influências do meio social. São, por isso, inevitáveis certos desentendimentos e crises que geram medos, ansiedades e stress. Perante cada uma dessas situações há que parar, reflectir e tentar reduzir o peso que sobrecarregamos, tomando as medidas adequadas. A sua superação passa pelo diálogo aberto e sereno e pelo companheirismo que vão implicar planeamento e projecto. As crises devem levar o casal a rever os costumes do dia a dia e a criar uma nova dinâmica que desvalorize algumas dificuldades e que reconheça o enriquecimento resultante duma crise olhada e superada de modo positivo. Importa, aqui, renovar o compromisso do sacramento do matrimónio, refrescar a vida a dois, com mais cor e luz, criando energias para um melhor equilíbrio em termos futuros. Onde há diálogo e cooperação o relacionamento sai fortalecido e as crises, que não são desejáveis, reforçam o vínculo do casal e da família. Terminou, afirmando que o amor surge e se mantém quando cada um consegue perceber o outro como ser humano diferente, aceitando a sua realidade, procurando a sua felicidade e exigindo respeito por si e pela sua diferença. Amar é fazer feliz o outro na sua diferença. O P. Carlos Carneiro apresentou e reflectiu as várias crises que afectam a família em função das vivências a que os seus elementos e o próprio núcleo está sujeito – nascimento dos filhos, os filhos como solução para as crises, o relacionamento sexual do casal, o planeamento familiar do casal, os filhos que não vão à missa, a falta de trabalho, a relação dos ascendentes com a nova família, o filho homossexual, a droga, a doença de um dos cônjuges, os pais e a vida sexual activa dos filhos solteiros a viverem em causa. Foi um manancial de situações concretas, geradoras de muitas crises que afectam os casais e podem pôr em causa a estabilidade conjugal e familiar. Referiu que o casal entra em crise porque não se ama o outro como ele gostaria de ser amado, isto é, os cônjuges não querem pôr em causa o modo como se amam mutuamente, sabendo que o amor não é uma abstracção, mas concreto – ama-se uma pessoa, ama-se aquela pessoa que é única, diferente na sua expressão corporal, nos seus afectos, nos seus sentimentos, no seu pensar, no seu agir. O bonito do casamento é a sua conjugalidade, é o encontro, é a união que não mata a liberdade, é saber que, com o outro, se vai mais longe. É parar, reflectir o caminho, eliminar rotinas, ser criativos, viver a novidade do dia a dia, respeitar as diferenças e crescer com elas. Afirmou que o casamento não é para todos, mas, apenas para aqueles que são capazes de se pôr em causa. Um namoro sem zangas não é namoro e, para casar, não basta gostar. É preciso que os dois se entendam, porquanto não se casa com uma ideia, mas com uma pessoa. Casar pressupõe a educação da vontade porque o amor dá trabalho e é preciso pagar o seu preço. O casamento pressupõe viver segundo um projecto evangélico, sendo a fidelidade a experiência do amor, a sexualidade a capacidade do corpo dizer aquilo que a alma sente e a espiritualidade levar Deus a todas as situações da vida do casal. A esperança nasce da crise e a cruz é aliança, é casamento. A Equipa Responsável Nacional


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