Nacional

Definição de sem-abrigo tem de ser ampliada

Nuno Rosário Fernandes
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Estudo revela razões para a exclusão

A crise familiar, as razões de saúde e a toxicodependência são as principais razões que justificam o elevado número de sem-abrigo em Portugal, indica um levantamento, hoje divulgado, realizado em 2004 pelo Instituto de Segurança Social (ISS). Para o Presidente da Comunidade Vida e Paz, João Abrunhosa, a questão dos sem-abrigo “é uma realidade que vai mudando com o tempo”, e com tendência para uma mutação continuada. O estudo apresentado é “uma radiografia da situação dos nossos sem-abrigo”, refere, e as razões que se apresentam “dão que pensar”. Segundo este responsável “o falimento do conceito de família teve as suas consequências” e “a primeira das razões – aponta - são os problemas conjugais”. Em segundo lugar vêm os problemas de saúde do foro psicológico e mental, “e aqui neste grupo – destaca – estão incluídos muitos toxicodependentes”. Em relação a estes considera que “há fuga ao contacto e muitos tem vergonha de ser contactados”, mas esta – sublinha - é uma realidade volúvel que nos obriga a ter cuidados, sem os quais as conclusões podem ser erradas”. Perante esta problemática há atitudes que é necessário tomar para ir ao encontro destas pessoas sem tecto. “Precisamos de contacto humano, de quebrar a solidão”. A Comunidade Vida e Paz encontra no terreno muitos destes homens e mulheres que o ISS aponta para cerca de 3 mil em Portugal, numero que refuta considerando ser maior do que é apresentado e, por isso mesmo, sente a necessidade de uma maior intervenção por parte do Estado. “O Estado deve reforçar as instituições que têm equipas de contacto directo, mas deve ser um contacto demorado, de diálogo, e não só de passagem e de distribuição de bens alimentares”, alertou. “Nós temos trabalhado com a Câmara Municipal de Lisboa., mas há cerca de dez anos que prometem e não o fizeram ainda”, lamenta. O estudo revela que a maioria dos sem-abrigo são de nacionalidade portuguesa, de sexo masculino, solteiros, em idade activa (entre 30 e 59 anos) e com baixo nível de escolaridade. Os novos tempos têm provocado diversas mudanças e por isso “a definição de sem-abrigo tem de ser ampliada”, defende João Abrunhosa. “Há pessoas que têm abrigo, mas aquilo já não é abrigo. Vivem em carros abandonados, prédios abandonados. São pessoas que vivem à margem da sociedade portuguesa”, constata.


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