Igreja: «FamÃlia não é algo onde se projetam os nossos desejos», diz perito do SÃnodo
Padre José Granados Garcia falou à Agência ECCLESIA a pouco dias do debate no Parlamento da adoção por casais do mesmo sexo
Lisboa, 17 nov 2015 (Ecclesia) – O padre José Granados Garcia, um dos peritos convidados no último Sínodo dos Bispos sobre a Família, considera que este foi “unânime” e “indubitável” na rejeição de quaisquer novos “modelos de família”.
“Não há modelos de família, tal como não há modelos de humanidade, há uma só família, e a base dela é a união entre o homem e a mulher que se abrem à vida dos filhos”, explicita o sacerdote, em entrevista concedida à Agência ECCLESIA.
A dois dias da Assembleia da República portuguesa receber um debate para a alteração das leis respeitantes à adoção por pessoas do mesmo sexo, o especialista realça a posição da Igreja Católica é a de que “a família não é algo que se faz, que se realiza, onde se projetam os nossos desejos”.
“As crianças têm direito a um pai e a uma mãe”, aponta o padre espanhol, reforçando a mesma ideia quando está em causa a geração de vida humana com recurso a laboratório.
“O bebé surge sempre da união entre um homem e uma mulher, ainda que com a tecnologia o homem a trate de manipular, trate de mudar o modo como as coisas funcionam”, acrescenta.
José Granados Garcia recorda os primeiros números do documento final do Sínodo, que sublinham que “há um plano de Deus que passa pela família e que é colocado a todos os homens e mulheres, não apenas para os cristãos”.
“E portanto, quando a Igreja Católica enuncia a família baseada na união permanente entre um homem e uma mulher abertos à vida, ela está a apontar ao que é a plena humanidade, está a contribuir não só para a fé mas para a sociedade e para as pessoas”, frisa o especialista.
Esta quinta-feira vão ser também debatidos no Parlamento vários projetos de lei para a revogação das alterações à lei do aborto, apresentados pelo Partido Socialista, Bloco de Esquerda, Partido Comunista e Partido Ecologista ‘Os Verdes’.
O padre José Granados Garcia é vice-presidente do Instituto João Paulo II para o Estudo do Matrimónio e da Família e também consultor da Congregação para a Doutrina da Fé e professor na Universidade Pontifícia Gregoriana, em Roma.
Esteve recentemente em Portugal, mais concretamente em Lisboa e Coimbra, para abordar as temáticas debatidas no último Sínodo dos Bispos sobre a Família, que decorreu entre 4 e 25 de outubro deste ano.
Autor de livros como “Uma só carne em um só espírito”, sobre a teologia do matrimónio, e “Eucaristia e Divórcio – rumo a uma mudança de doutrina?”, o sacerdote sublinha que o Sínodo mostrou que a solução para a crise da família “não está nos modelos de família, mas sim em recuperar a família autêntica”.
“Como lugar de oferta, de dom, de união entre homem e mulher, que são o único lugar onde se recebe com dignidade o dom da vida”, complementa.
O padre José Granados Garcia está convicto de que o Sínodo deixou “um caminho comum” para a Igreja Católica perseguir, “com todos os leigos, bispos e sacerdotes”, no sentido de uma pastoral “mais direcionada para a família”, pois é nela que se “aprende a ser Homem, a ser pessoa, a ser cristão”.
“A pastoral da Igreja não é ainda uma pastoral convertida à pastoral familiar, e um dos exemplos está na formação dos sacerdotes, onde este elemento não está presente”, conclui.
JCP
FamÃlia SÃnodo dos Bispos