Migrações: Diretora católica defende «maior cooperação e sensibilização» contra novas tragédias
«É essencial que estas pessoas não sejam mais penalizadas do que já são», frisa Eugénia Quaresma
Lisboa, 20 abr 2015 (Ecclesia) – A diretora da Obra Católica Portuguesa das Migrações (OCPM) abordou hoje a tragédia do Mediterrâneo, envolvendo cerca de 700 imigrantes clandestinos que naufragaram ao largo da Líbia quando procuravam entrar na Europa.
Em entrevista concedida à Agência ECCLESIA, Eugénia Quaresma defende a necessidade de “uma maior cooperação entre as Nações Unidas, a União Europeia e os países de origem destas pessoas”, para evitar que casos deste género continuem a acontecer.
Ao mesmo tempo, sublinha a importância “da Igreja Católica, dos seus bispos, estruturas e comunidades”, colaborarem na “sensibilização” das populações para o “acolhimento” deste “fluxo, não só de imigrantes mas de refugiados”.
No que toca ao naufrágio deste domingo, as autoridades resgataram com vida apenas 28 dos cerca de 700 ocupantes da embarcação proveniente da Líbia, que contava com centenas de mulheres e crianças.
Desde o início do ano, segundo o último relatório das Nações Unidas, mais de 1600 imigrantes ilegais morreram nas águas do Mediterrâneo, a juntar aos cerca de 3500 de 2014.
Eugénia Quaresma recorda que são pessoas que buscam no Velho Continente uma porta para “uma vida melhor”, ameaçada por “conflitos armados” e “desequilíbrios sociais”, e que muitos “partem mas não querem partir”.
Fatores que devem ser “tidos em conta” na opinião pública, “para que haja não só esta obrigação do acolhimento mas também se olhe para o lado humanitário da questão”.
“É essencial que estas pessoas não sejam mais penalizadas do que já são”, frisa Eugénia Fonseca.
Paralelamente à imigração, está também aqui envolvida uma componente religiosa, já que muitos dos imigrantes fogem da discriminação e da violência com base em diferentes crenças.
Ainda recentemente, doze cristãos que seguiam num barco também proveniente da Líbia foram lançados borda fora por muçulmanos.
Para Eugénia Quaresma, estes casos são uma “chamada de atenção” na sociedade “para o fanatismo religioso que pode conduzir à morte” e para a urgência de “acentuar o diálogo inter-religioso”.
“Precisamos realmente de trabalhar nesse sentido, na educação dos crentes, para não criarmos tensões e medos que já estão aí e que temos de os combater através do diálogo e da formação”, sustenta a responsável católica.
Só através desta educação social para a diferença e da “desmistificação” de alguns preconceitos é que será possível falar com segurança numa maior abertura das fronteiras europeias a quem vem de fora.
Outro ponto destacado pela diretora da OCPM foi a questão da integração dos refugiados, de distinguir os imigrantes ilegais dos requerentes de asilo.
JCP
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