Migrações: Paróquias católicas deveriam ter equipas multiculturais de padres
Frei Sales Diniz, diretor da Obra Portuguesa para os migrantes, participou em encontro do Conselho das Conferências Episcopais da Europa
Lisboa, 30 nov 2012 (Ecclesia) – O diretor da Obra Católica Portuguesa de Migrações disse hoje à Agência ECCLESIA que as paróquias deviam ter equipas multiculturais de padres para acolher os migrantes, em vez de forçar a sua inclusão ignorando as suas raízes.
Alguns responsáveis eclesiais europeus apoiam “a integração plena” dos migrantes nas paróquias mas o frei Francisco Sales Diniz defende que “é impossível acolher as pessoas esquecendo sua a língua, cultura, tradições litúrgicas e devoções”.
“Tem de pensar-se em paróquias multiculturais, com uma equipa de sacerdotes que abarque as diversas realidades migratórias, como já existe nos EUA, onde as celebrações e as catequeses se realizam em diversas línguas”, frisou.
O religioso lembrou que “já foi tentada a integração à força nas comunidades de emigrantes portugueses em França e noutros países, mas essa orientação resultou no afastamento das pessoas”.
“Há o perigo de as seitas se aproveitarem destes casos ao verem esta falha no acompanhamento pastoral; e as pessoas aderem facilmente porque as seitas esperam pelos momentos de maior fragilidade para atraírem mais fiéis”, acrescentou.
O tema esteve em debate durante o encontro da Comissão Caritas in Veritate, estrutura do Conselho das Conferências Episcopais da Europa dedicada às questões das migrações, que se reuniu entre terça e quinta-feira em Roma com a participação do frei Sales Diniz e de cerca de 40 bispos e responsáveis do setor.
“A diversidade da Europa é enorme no que respeita às migrações”, explicou, referindo que “há países como a Itália, Alemanha e Inglaterra que se confrontam com a entrada de muitos imigrantes e refugiados, enquanto que em Portugal o principal problema é o das pessoas que estão a sair”.
Durante o encontro procuraram-se obter linhas de ação comuns para receber os estrangeiros mas “não há consenso”, apontou o religioso, que salientou o impacto da crise económica na capacidade de as Igrejas suportarem equipas de padres e leigos que falem a mesma língua das comunidades imigrantes.
Um dos problemas colocados na assembleia, dedicada ao tema ‘Uma pastoral de comunhão para uma evangelização renovada’, centrou-se nos obstáculos jurídicos às celebrações dos cristãos de Rito Bizantino em territórios onde são dominantes as Igrejas de Rito Latino.
“Em Portugal ultrapassámos essas situações. Aliás, no nosso país existe algo de único no mundo, que o facto de um sacerdote de Rito Bizantino ser padre numa Igreja de Rito Latino [na Arquidiocese de Évora]. Noutros países esta situação ainda é muito problemática, até porque alguns são casados”, disse.
O responsável português salientou ainda que os católicos na Turquia, país que participou pela primeira vez num encontro de migrantes a nível do episcopado europeu, têm-se destacado no apoio aos refugiados do Norte de África e do Médio Oriente.
Nos estados da ex-União Soviética a Igreja depara-se com redes de tráfico de pessoas para fins laborais, enquanto que na Polónia e Lituânia é frequente o recurso a correios de droga jovens que fazem a rota entre a América Latina e a Europa.
O frei Sales Diniz criticou a preponderância “académica” do encontro, em detrimento da troca de informações e experiências, e revelou que está a ser pensado um encontro ibérico ao nível das organizações da Igreja ligadas às migrações.
RJM
OCPM Migrações