A quadra natalícia na região de Guimarães começa a 16 de Dezembro, Dia da Senhora do Ó, com a “novena em honra do Menino Jesus” que é organizada e dinamizada “por grupos de rapazes e raparigas” – disse à Agência ECCLESIA o Pe. Armando Luis, pároco de Fermentões. Actos preparatórios que terminam na “noite de consoada com a missa da Meia Noite, mais conhecida como a missa do Galo”. Uma celebração “muito solene” que traz à Igreja paroquial “quase 100% da população”. O Pe Artur Coutinho diz mesmo que nesse dia “todos iam à missa”. E acentua: “depois da celebração, as pessoas, com o melhor fato que tinham (fato de ver a Deus), ficavam no adro a conversar muito tempo”.
A refeição da noite de Natal – refere o Pe. Armando Luis – congrega “a família” e “temos casos de pessoas que vêm do estrangeiro para passar o Natal”. Momentos únicos e de partilha à volta de pratos típicos. Naquela zona do Minho, o “bacalhau com batatas é indispensável” mas há “quem adicione também o arroz com polvo”. Ao nível de doces “não dispensamos as rabanadas, aletria, formigos e o bolo rei” mas as “famílias da lavoura ainda fazem estes doces à moda antiga” – sublinhou o pároco de Fermentões, localidade a meia dúzia de quilómetros de Guimarães. O bacalhau já está de molho há quatro dias “que ele é alto e precisa de muitas mudas” – diz o povo minhoto, o polvo, as tronchudas e a couve-galega escolhidas na horta ficam à espera de mais umas noites de geada. É, sem dúvida, a Ceia de Natal “o mais solene banquete da família minhota” - di-lo já Ramalho Ortigão, no seu livro «Farpas». Uma festa de e em família que reúne na mesma mesa miúdos e graúdos para celebrarem o nascimento do menino. Não se levanta a mesa - para as “alminhas” e os “anjinhos” comerem de noite, se quiserem (e que lhes faça bom proveito) - assim rezam algumas das tradições mais familiares do Alto Minho.
Na Serra de Arga, no Alto Minho, as tradições natalícias sempre foram vividas “intensamente” porque, como tinha muitos emigrantes, quer no Brasil quer na Europa, “era o momento de encontro”. Era o “voltar às origens” para estarem com os seus familiares – disse à Agência ECCLESIA o Pe. Artur Coutinho, pároco de Nossa Senhora de Fátima, cidade de Viana do Castelo. Actualmente, é um pároco da cidade mas “passei muitos anos com aquela gente” e interessou-se sobre as vivências daquele povo. Outrora o “bacalhau não chegava à serra” por isso o prato tradicional “daquela gente é o Perú ou então o melhor galo da capoeira”.
A festa em família tem um grande significado e “eu próprio passo o Natal com os meus”. Há trinta e oito anos naquela parcela da Igreja, o Pe. Armando Luis salienta que “os meus sobrinhos não faltam a este convívio” e quando o relógio dá as dozes badaladas “abrimos as prendas”. Um inconveniente de ter muitos sobrinhos porque “fica caro”. E adianta em tom de brincadeira: “Deus tirou os filhos aos padres mas o Diabo deu-lhes sobrinhos”.
As lareiras das cozinhas patriarcais «recebem» a fogueira de Natal, que muitas vezes se prolonga até aos Reis. O grande reizeiro ou canhoto arde lentamente até se transformar “em cinzas que muitas vezes são guardadas para livrar das trovoadas de Inverno” – diz o adágio popular. Tradições que não diferem muito da aldeia para a cidade porque “não há família que tenha uma vivência cristã que deixe passar despercebida a quadra do Natal”. Como nesta época do ano o frio domina, as famílias “fazem uma fogueira com canhotas grandes de carvalho” para tornar o ambiente “mais acolhedor” – observa o Pe. Armando Luis. Na Serra de Arga a “fogueira, as pinhas e os pinhões” também fazem parte do ritual.
Enquanto uns têm óptimos manjares outros “vivem na penúria” mas para diminuir estas assimetrias “na nossa paróquia fazemos recolha de alimentos e de roupas para oferecer aos mais desfavorecidos” – disse o pároco de Fermentões.
O presépio é outro símbolo desta quadra, o que leva o pároco de Fermentões a dizer que “não há família cristã que não o faça”. E adianta: “mesmo as instituições locais fazem a sua festa de Natal com presépios vivos”. Mais a norte, no Alto Minho, os jovens reuniam-se “e faziam o presépio comunitário na Igreja”. O Natal não passa “despercebido” nesta região apesar da mentalidade “hedonista e consumista da sociedade contemporânea” – finaliza o Pe. Armando Luis.
Notícias relacionadas• O Natal em Portugal