Vaticano

Bento XVI ataca críticos da Igreja Católica

Octávio Carmo
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Papa encerra ano dedicado a São Paulo apontando para o novo Ano Sacerdotal

Bento XVI encerrou na tarde deste Domingo o Ano Paulino, na Basílica de São Paulo fora de muros, deixando duras críticas à "moda" que considera que uma "fé adulta" implica não dar ouvidos "à Igreja e os seus pastores".

"A fé adulta não se deixa levar de um lado para outro por qualquer corrente. Ela opõe-se aos ventos da moda", apontou.

O Papa falava na celebração das I Vésperas da Solenidade de São Pedro e São Paulo para o encerramento do Ano, que assinalou os dois mil anos do nascimento de Paulo de Tarso, uma das figuras mais importantes do Cristianismo. Presente na cerimónia estava uma delegação do Patriarcado Ecuménico de Constantinopla (Ortodoxo).

Na sua homilia, Bento XVI disse que a expressão "fé adulta" se tornou nos "últimos dez anos um slogan difundido.

"É entendida muitas vezes como comportamento de quem já não dá ouvidos à Igreja e aos seus Pastores, mas escolhe autonomamente aquilo que quer ou não acreditar, uma fé «feita por si mesma»", precisou o Papa.

Para estes, acrescentou, é um sinal de "coragem" expressar-se contra o Magistério da Igreja. "Na realidade, não é preciso ter coragem para isso e contar com o aplauso do público. É preciso ter coragem para aderir à fé da Igreja, mesmo se esta contradiz o esquema do mundo contemporâneo", acrescentou.

Bento XVI lembrou que, para São Paulo, infantil era "correr atrás de ventos e de correntes do tempo".

"Faz parte da fé adulta, por exemplo, lutar contra a violação da vida humana desde o primeiro momento, opondo-se com isso radicalmente ao princípio da violência e colocando-se em defesa das criaturas humanas mais vulneráveis. Faz parte da fé adulta reconhecer o matrimónio entre um homem e uma mulher por toda a vida como norma do Criador, restabelecida novamente por Cristo", indicou.

Exemplo de São Paulo

Neste ano dedicado a Paulo, por iniciativa de Bento XVI, foram muitos os que, segundo o Papa, "seguiram os caminhos do Apóstolo, tanto exteriores quanto interiores": "o caminho de Damasco rumo ao encontro com o Ressuscitado; os caminhos no mundo mediterrâneo que ele atravessou com a chama do Evangelho, encontrando oposição e adesão, até o martírio, pelo qual pertenceu para sempre à Igreja de Roma".

Seguindo o seu exemplo, observou, os cristãos devem ser "homens novos, transformados numa nova maneira de viver".

"O mundo está sempre em busca de novidade porque está sempre infeliz com a realidade concreta. Paulo diz: o mundo não pode ser renovado sem homens novos. Somente se existirem homens novos, existirá também um mundo novo, um mundo renovado e melhor", referiu, exortando a um não-conformismo.

Neste contexto, Bento XVI falou contra "o pensamento do homem velho, a maneira de pensar comum", que considerou centrada no "possuir, no bem-estar, na influência, no sucesso, na fama e assim por diante".

"O vazio interior, a fraqueza do homem interior, é um dos grandes problemas de nosso tempo. Deve ser reforçada a interioridade, a perceptividade do coração; a capacidade de ver e compreender o mundo e o homem a partir de dentro, com o coração", desejou o Papa.

 

Autenticidade do túmulo

No início da homilia Bento XVI revelou os procedimentos levados a cabo para certificar a autenticidade do sarcófago de São Paulo, que se encontra sob a basílica romana que leva o seu nome.

"Estamos aqui junto ao sepulcro do Apóstolo, cujo sarcófago, conservado sob o altar papal, foi submetido a uma atenta análise científica: no sarcófago, que nunca foi aberto em vários séculos, foi feita uma pequena abertura para introduzir uma sonda especial, e por meio dela foram identificadas partículas de um preciso tecido de linho colorido de púrpura revestido de ouro, e de um tecido azul com filamentos de linho", revelou.

Segundo o Papa, foram também encontrado "grãos de incenso vermelho, substâncias proteicas e calcárias. Além disso, pequenos fragmentos ósseos, submetidos por especialistas ao exame do carbono 14, resultam ser de uma pessoa que viveu entre o I e o II século".

Bento XVI defendeu que "isso parece confirmar a tradição unânime e incontestável que se tratam dos restos mortais do Apóstolo Paulo".

 

Novo ciclo: Ano Sacerdotal

De manhã, durante a recitação do Angelus, o Papa falou do novo ciclo iniciado a 19 de Junho, com a celebração de um Ano Sacerdotal em toda a Igreja, pedindo a renovação do clero e uma presença mais incisiva no mundo de hoje.

Este ano, disse Bento XVI, "tem como objectivo promover o empenho de renovação interior de todos os padres, para um testemunho evangélico mais forte e incisivo, no mundo de hoje".

"O Apóstolo Paulo constitui a esse propósito, um modelo esplêndido para imitar, não tanto no aspecto concreto da vida - a sua de facto foi verdadeiramente extraordinária - mas no amor por Cristo, no zelo pelo anúncio do Evangelho, na dedicação às comunidades, na elaboração de sínteses eficazes de teologia pastoral".

O Papa desejou que a iniciativa decorra à imagem do Ano Paulino, agora encerrado, que considerou "um verdadeiro tempo de graça no qual, mediante as peregrinações, as catequeses, numerosas publicações e várias iniciativas, a figura de São Paulo foi reproposta na Igreja inteira e a sua vibrante mensagem reavivou por todo o lado nas comunidades cristãs, a paixão por Cristo e pelo Evangelho".



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