Mar de peregrinos inundou Luanda Octávio Carmo 22 de Março de 2009, às 11:00 ... Bento XVI fala nas «trevas» em Ãfrica e apela à reconciliação entre os angolanos Um mar de peregrinos, que as autoridades estimam em mais de 2 milhões de pessoas, inundou este Domingo os 20 hecatares da esplanada da Cimangola, nos arredores de Luanda, capital de Angola. Bento XVI presidiu à Eucaristia, no Dia nacional de oração pela reconciliação. Este é o maior banho de multidão da primeira viagem do Papa a Ãfrica, que se iniciou nos Camarões, a 17 de Março, e um dos maiores do pontificado. “Não posso esconder a alegria que sinto por estar hoje convosco, nesta bela e sofrida terra que é Angola, terra da Mamã Muxima, terra de tantos filhos da Igreja. Abraço-vos de todo o coraçãoâ€, começou por dizer o Papa. Bento XVI incluiu nas suas intenções para esta celebração os dois jovens que ontem perderam a vida na entrada para o Estádio dos Coqueiros, deixando a sua “solidariedade†e “mais vivo pesar†aos seus familiares e amigos, “até porque vieram para me encontrarâ€. O Papa lembrou ainda os feridos do incidente de Sábado, rezando pelo seu rápido restabelecimento. Com o Papa estão a concelebrar os Bispos da Conferência Inter-Regional da Ãfrica Austral. "A Igreja em Angola e na Ãfrica inteira está destinada a ser, perante o mundo, um sinal da unidade a que é chamada toda a famÃlia humana mediante a fé em Cristo Redentor", declarou. O Papa dirigiu uma saudação "com grande afecto no Senhor", à s comunidades católicas angolandas "de Luanda, Bengo, Cabinda, Benguela, Huambo, HuÃla, Kuando Kubango, Cunene, Kwanza Norte, Kwanza Sul, Lunda Norte, Lunda Sul, Malanje, Namibe, Moxico, UÃge e Zaire". Num dia especial para a Igreja em Angola, o Papa defendeu que a reconstrução de um paÃs "deve começar nos corações e nos pequenos sacrifÃcios quotidianosâ€. "Vós sabeis, por amarga experiência, que o trabalho de reconstrução - ao contrário da repentina fúria devastadora do mal - é penosamente lento e duro, requer tempo e fadiga e perseverança", afirmou. O Evangelho, acrescentou, “ensina-nos que a reconciliação – uma verdadeira reconciliação – só pode ser fruto de uma conversão, de uma mudança do coração, de um novo modo de pensar. Ensina-nos que só a força do amor de Deus pode mudar os nossos corações e fazer-nos triunfar sobre o poder do pecado e da divisãoâ€. “Vim a Ãfrica precisamente para proclamar esta mensagem de perdão, de esperança e de uma nova vida em Cristoâ€, precisou. Antes, o Papa evocara “as terrÃveis consequências da guerra civil, que pode destruir tudo o que tem valor: famÃlias, comunidades inteiras, o fruto das canseiras humanas, as esperanças que guiam e sustentam a sua vida e o seu trabalhoâ€. “Trata-se, infelizmente, de uma experiência demasiado familiar a toda a Ãfrica: a força destrutiva da guerra civil, a queda na voragem do ódio e da vingança, a delapidação dos esforços de gerações de gente boaâ€, apontou. Segundo o Papa, “quando a Palavra do Senhor – uma Palavra que visa a edificação dos indivÃduos, das comunidades e da famÃlia humana inteira – é descurada e a lei de Deus é ridicularizada, desprezada e achincalhada, o resultado só pode ser destruição e injustiça: a humilhação da nossa humanidade comum e a traição da nossa vocação de filhos e filhas do Pai misericordioso, irmãos e irmãs do seu dilecto Filhoâ€. Evocando a II Assembleia Especial para a Ãfrica do SÃnodo dos Bispos, dedicada ao tema «A Igreja em Ãfrica ao serviço da reconciliação, da justiça e da paz», Bento XVI pediu orações por essa intenção: “Hoje peço-vos para rezardes, em união com todos os nossos irmãos e irmãs da Ãfrica inteira, para que cada cristão deste grande continente experimente o toque salutar do amor misericordioso de Deus e a Igreja em Ãfrica se torne «lugar de autêntica reconciliação para todos, graças ao testemunho dado pelos seus filhos e filhas»â€. Bento XVI pediu ainda aos presentes que façam “com que as vossas paróquias se tornem comunidades, onde a luz da verdade de Deus e a força do amor reconciliador não sejam apenas celebradas, mas manifestadas em obras concretas de caridade". Trevas em Ãfrica Recordando aos presentes nesta missa a luz de Cristo recebida no baptismo, o Papa pediu-lhes que fossem “fiéis a este dom, certos de que o Evangelho pode revigorar, purificar e enobrecer os profundos valores humanos da vossa cultura originária e das vossas tradições: famÃlias solidárias, profundo sentido religioso, celebração festiva do dom da vida, apreço pela sabedoria dos mais velhos e pelas aspirações do jovensâ€. Pediu também gratidão para com os missionários que “tanto contribuÃram, e contribuem, para o desenvolvimento humano e espiritual deste paÃsâ€: “Senti-vos agradecidos pelo testemunho de tantos pais e professores cristãos, de catequistas, presbÃteros, religiosas e religiosos, que sacrificaram a sua vida pessoal para vos transmitir este tesouro preciosoâ€, prosseguiu. Em seguida, o Papa falou nas “nuvens do mal obscureceram tragicamente também a Ãfrica, incluindo esta amada nação angolanaâ€. “Pensemos no flagelo da guerra, nos frutos terrÃveis do tribalismo e das rivalidades étnicas, na avidez que corrompe o coração do homem, reduz à escravidão os pobres e priva as gerações futuras dos recursos de que terão necessidade para criar uma sociedade mais solidária e justa: uma sociedade verdadeira e autenticamente africana nos seus valoresâ€, assinalou. “E que dizer daquele insidioso espÃrito de egoÃsmo que fecha os indivÃduos em si mesmos, divide as famÃlias e, espezinhando os grandes ideais de generosidade e abnegação, conduz inevitavelmente ao hedonismo, à fuga para falsas utopias através do uso da droga, à irresponsabilidade sexual, ao enfraquecimento do vÃnculo matrimonial, à destruição das famÃlias e à eliminação de vidas humanas inocentes por meio do aborto?â€, questionou ainda. Neste contexto, o Papa sublinhou que “a palavra de Deus é uma palavra de esperança sem limitesâ€. “Deus nunca nos considera um caso perdido. Continua a convidar-nos para erguermos os olhos para um futuro de esperança, e promete-nos a força para o realizarâ€, assegurou. Quase a concluir, Bento XVI dirigiu-se especialmente aos jovens angolanos e a todos os jovens da Ãfrica: “Queridos jovens amigos, vós sois a esperança do futuro do vosso paÃs, a promessa de um amanhã melhorâ€. “Procurai conhecer a vontade de Deus a vosso respeito, ouvindo diariamente a sua palavra e permitindo à sua lei de modelar a vossa vida e as vossas relaçõesâ€, pediu. No final da sua homilia, que teve passagens lidas em inglês, o Papa deixou uma palavra de encorajamento aos angolanos e a todos os cristãos da Ãfrica meridional: “Olhai o futuro com esperança, confiai nas promessas de Deus e vivei na sua verdade. Deste modo, construireis algo destinado a permanecer e deixareis à s gerações futuras uma herança duradoura de reconciliação, justiça e pazâ€. As leituras da celebração foram proclamadas em português e inglês; na oração universal foram utilizadas várias das lÃnguas locais. Um momento de grande colorido aconteceu na apresentação das ofertas, ao som de ritmos africanos, com representantes de diversas regiões de Angola a levarem produtos que a terra oferece e peças de artesanato. Todas as ofertas - que incluÃam um Arco e flecha, uma cabra e uma planta do deserto - foram entregues ao Papa, no final da Missa. O Coro que animava a Missa era composto por cerca de 600 pessoas. O altar, construÃdo numa estrutura de aço, com 600 metros quadrados, foi colocado no topo norte do recinto. O Arcebispo de Luanda, D. Damião António Franklin, saudou o Papa no inÃcio da celebração, apresentando os Bispos da I.M.B.I.S.A e renovando as "boas-vindas" a Bento XVI. O Arcebispo de Luanda, que falava em nome dos Bispos da Ãfrica austral, referiu que todos querem preservar a sua esperança num mundo melhor, com base na mensagem que o Papa veio transmitir a Ãfrica. Angelus No final da Missa, antes da recitação do Angelus, o Papa pediu que os cristãos de todo o mundo "voltem os seus olhos para Ãfrica, para este grande continente tão cheio de esperança, mas tão sedento ainda de justiça, paz, desenvolvimento são e integral, que possa assegurar ao seu povo um futuro de progresso e de paz". "Que a Virgem Maria, Rainha da Paz, continue a guiar o povo de Angola na tarefa de reconciliação nacional, depois da experiência devastadora e desumana da guerra civil", rogou, apelando ao "perdão autêntico, respeito pelos outros, cooperação". Alargando o olhar sobre a Ãfrica austral, o Papa falou de modo particular do conflito na região vizinha dos Grandes Lagos e do "difÃcil processo do diálogo e da negociação". I.M.B.I.S.A. O I.M.B.I.S.A. (Reunião inter-regional dos Bispos da Ãfrica Austral) reúne 6 Conferências episcopais: Lesoto (LCBC), Moçambique (CEM), NamÃbia (NCBC), Zimbabué (ZCBC), Angola - São Tomé e PrÃncipe (CEAST) e Ãfrica do Sul, que inclui a Suazilândia e Botswana (SACBC). Estas nove nações juntas correspondem a 11,36% da população africana. Em média, em toda a área, os católicos representam 27% dos habitantes. O organismo eclesial nasceu sob o influxo do ConcÃlio Vaticano II e no contexto dos desafios que a apartheid punha na região sul-africana. Um primeiro encontro para trocar ideias e propostas aconteceu durante o Primeiro SÃnodo africano (Roma – 1994). No ano seguinte, no mês de Abril, em Pretoria, Ãfrica do Sul, houve um primeiro encontro organizado, ainda que a data oficial seja a de 1978, durante uma Assembleia no Lesoto. Em 1980 nasceu o Secretariado com sede em Maseru, capital do Lesoto. Durante a plenária de 1984, no Zimbabué, os Bispos decidiram modificar a estrutura do I.M.B.I.S.A. introduzindo as Assembleias plenárias, um comité de presidência permanente e um secretariado, cuja sede, desde então, se encontra em Harare (Zimbabué). Bento XVI - Angola e Camarões Share on Facebook Share on Twitter Share on Google+ ...