Nota da Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Humana
Temos todos conhecimento dos numerosos grupos de pessoas que tentaram atravessar o Mediterrâneo nos últimos tempos (mais de 300 mil desde Janeiro); muitas morreram (mais de 2500 no mesmo período). Vimos imagens. Ouvimos relatos. Imagens que preferíamos não ter visto, relatos que seria melhor não termos escutado. Não podemos dizer que não reparámos. Fomos todos sobressaltados com a notícia das 71 pessoas, possivelmente refugiados sírios, que morreram asfixiadas num camião que foi encontrado numa estrada da Áustria. O Papa Francisco recordou-as neste domingo e nós recordamo-las com ele. Temos todos notícia dos muros que se multiplicam, das barreiras que levantam, da morosidade em encontrar apoios e soluções consistentes.
Não se pode esperar mais!
Vários Bispos de Portugal têm manifestado o sentir da Igreja.
«Hoje, somos nós chamados a abrir as portas fechadas da Europa» (António Francisco dos Santos, Bispo do Porto).
«Não podemos ficar mais indiferentes, isto põe à prova toda a identidade, generosidade e solidariedade cristãs» (António Marto, Bispo de Leiria-Fátima)
«Perante tudo isto, já não bastam discursos, nem continuarmos somente em reuniões e encontros. Creio que é chegada a hora da acção. Acho que é urgente interrogarmo-nos sobre o porquê deste êxodo. Porque tantas pessoas querem deixar os seus países. A resposta terá de ser europeia, sem dúvida nenhuma, mas, porque não dizê-lo, também mundial, porque há muitos problemas ligados a esta situação» (Jorge Ortiga, Arcebispo de Braga, Presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Humana).
«A dramática situação de tantos milhares de pessoas que demandam a Europa como lugar de paz e de sustento para si e para os seus, arrostando com duríssimas dificuldades para chegar e permanecer no nosso Continente, exige de todos nós a resposta mais humana e capaz» (Manuel Clemente, Cardeal Patriarca de Lisboa, Presidente da Conferência Episcopal Portuguesa).
«Basta de cimeiras para descortinar formas de impedir que os povos da fome se aproximem da nossa casa, apenas para apanharem as migalhas que caem da nossa mesa! Não mais o travar caminho aos que fogem à carnificina horrorosa e bárbara dos que matam em nome de uma fé! [...] Temos o direito de exigir aos políticos do mundo soluções sérias e sustentáveis. Mas temos também de criar e difundir uma nova mentalidade: a do tal projeto universal de Deus que há-de sobrepor-se aos regionalismos e às barreiras humanas» (Manuel Linda, Bispo das Forças Armadas e de Segurança, Membro da Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Humana).
«É sempre uma situação difícil, mas é possível acolher muito mais gente [...]. Portugal tem lugar para muitos» (António Vitalino Dantas, Bispo de Beja, Membro da Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Humana).
«A acção terá que ser cada vez mais nos países de onde eles vêm, de tal modo que possam encontrar aí condições de trabalho, viver em paz e na sua família. Pede-se uma colaboração muito importante da Europa para que de facto as razões pelas quais as pessoas fogem da sua terra terminem o mais breve possível» (Ilídio Leandro, Bispo de Viseu).
No dia da apresentação pública da PAR – Plataforma de Apoio aos Refugiados, a que a Conferência Episcopal Portuguesa já deu o seu apoio e que conta com competentes organizações no terreno, a Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Humana deseja manifestar-lhe, todo seu apreço, na esperança de que ajudemos a minimizar o impacto da grave crise humana que atualmente é vivida a nível mundial. Num recente artigo de jornal (o Frankfurt Allgemeine Zeitung), um governante de um estado europeu afirma temer pela perda das raízes cristãs da Europa devido à chegada do grande número (fala de “invasão”) de refugiados, sobretudo muçulmanos. Diz ser “alarmante” o facto de os povos europeus não conseguirem “defender os próprios valores cristãos”. A Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Humana considera alarmantes estas afirmações que contrariam objectivamente a pessoa de Jesus e o seu Evangelho. Importa que possamos agir em rede europeia e internacional, para não se perderem esforços nem diluírem responsabilidades, até porque se trata duma operação de futuro complexo. A Conferência Episcopal Portuguesa, agora em Roma, na sua visita ad Limina, para encontros de trabalho com o Papa Francisco e as instituições da Santa Sé, deseja contribuir para uma resposta concreta, em colaboração com o Estado e a comunidade internacional.
4 de Setembro de 2015