Comissão Nacional Justiça e Paz

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Ação Concertada de Justiça e Paz Europa 2023

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Diante de múltiplas crises num mundo cada vez mais fragmentado, a plataforma Justiça e Paz Europa está confiante de que a humanidade dispõe dos recursos criativos e espirituais para enfrentar os seus medos, para reconectar e reconstruir uma ‘ordem jurídica, política e económica’ compartilhada (Carta encíclica do Papa Francisco Fratelli Tutti). Através da promoção desta Ação Concertada, as comissões nacionais Justiça e Paz e a rede europeia defendem a cooperação internacional, novas formas de comunicação e outras iniciativas para fortalecer o sentido de pertença a uma comunidade maior.

A assistência mútua entre países é enriquecedora para cada um deles. Um país que avança na história permanecendo solidamente fundado no seu substrato cultural original é um tesouro para toda a humanidade. Precisamos de desenvolver a consciência de que no mundo de hoje ou nos salvamos todos, ou ninguém se salva. Pobreza, decadência e sofrimento em qualquer canto da Terra são um viveiro silencioso de problemas que acabarão por afetar todo o planeta... Nunca isto foi tão evidente como nos nossos dias, neste nosso mundo interligado pela globalização. Precisamos de uma ordem jurídica, política e económica global que possa aumentar e orientar a cooperação internacional para o desenvolvimento solidário de todos os povos. (FT 137.138)

1) Múltiplas crises globais e um oceano de medos.

A crise climática derivada do aquecimento global antrópico e os seus eventos climáticos extremos; a pandemia de COVID-19 com o seu impacto devastador na saúde individual e na vida social;  a brutal guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia e a consequente crise global de energia e alimentos; a migração e a insuficiente integração dos migrantes nos países de acolhimento - estas grandes crises inspiram e aumentam o nosso medo, e também raiva, especialmente entre os jovens. O medo é a emoção que nos adverte do perigo e nos leva a ser cautelosos. No entanto, tem o potencial de dividir e apagar não apenas a confiança interpessoal, mas também a confiança nas relações nacionais, regionais e internacionais, entre as Instituições e a sua capacidade de chegar a compromissos justos. Neste contexto cada vez mais fragmentado, a rede católica Justiça e Paz Europa apela a um reforço político, a apoios e melhores recursos financeiros para estas instituições multilaterais fundamentais, para que possam agir de forma decisiva, de forma a recuperar a segurança e reconquistar a confiança das pessoas.

2) Verdade e Dignidade Humana para lidar com os medos.

Lidar com os medos requer discernimento. É necessário distinguir as preocupações legítimas das manipulações. Muitas vezes, os medos dos mais fracos são esquecidos, mas a Doutrina Social Cristã insiste que eles devem vir em primeiro lugar na gestão de qualquer crise. 

Na linha dos seus antecessores, o Papa Francisco ofereceu, na sua carta encíclica Fratelli Tutti, referências para lidar com os medos e abrir caminhos para um futuro na fraternidade: “Todo o ser humano tem direito a viver com dignidade e a desenvolver-se integralmente, e nenhum país lhe pode negar esse direito fundamental. Todos o possuem, mesmo quem é pouco eficiente porque nasceu ou cresceu com limitações. De facto, isto não diminui a sua dignidade imensa de pessoa humana, que se baseia, não nas circunstâncias, mas no valor do seu ser. Quando não se salvaguarda este princípio elementar, não há futuro para a fraternidade nem para a sobrevivência da humanidade” (FT 107).

Compreender que cuidar do outro é a chave para a sobrevivência ajuda a evitar a armadilha que é sempre o recuo para bolhas de falsa segurança, entrincheiradas e voltadas só para dentro.

3) Cooperação internacional mais forte - Reinventar a comunicação - Fortalecer a comunidade.

A plataforma Justiça e Paz Europa está profundamente preocupada com a crescente ilegalidade da arena internacional em que os Estados mais fortes oprimem os mais fracos, os direitos humanos são violados impunemente, e as bases ecológicas da vida humana são destruídas. Denunciamos essas injustiças e exigimos o regresso do Estado de Direito e o fortalecimento das relações multilaterais de cooperação. "Há que favorecer os acordos multilaterais entre os Estados, porque garantem melhor do que os acordos bilaterais o cuidado dum bem comum realmente universal e a tutela dos Estados mais vulneráveis" (FT 174). Para alcançar este objetivo, são necessárias reformas das organizações internacionais.

Nenhuma reforma pode realizar-se sem um diálogo autêntico, centrado na busca conjunta da verdade e do bem comum. Isso requer não apenas que a “literacia mediática” seja melhorada em todas as gerações e grupos, mas também que a dignidade humana seja sempre reconhecida e respeitada como fundamental. Outro pré-requisito para um diálogo construtivo e para uma coexistência pacífica e sem medos é aceitar o passado e admitir erros. Incluir os marginalizados e vulneráveis é essencial para uma comunicação construtiva. Pois eles podem ajudar-nos a ver de novo e de uma outra perspetiva, para desenvolvermos uma visão positiva em contextos difíceis. Para enfrentar os nossos medos e sermos resilientes, devemos contar mais com a comunidade. "Ninguém pode enfrentar a vida isoladamente... Precisamos de uma comunidade que nos apoie, que nos auxilie e dentro da qual nos ajudemos mutuamente a olhar em frente " (FT 8)

4) Plano de Ação para a Ação Concertada de Justiça e Paz 2023.

Em 2023, a Conferência Europeia das Comissões Justiça e Paz continuará o seu trabalho de longo prazo sobre justiça social internacional e sobre as reformas institucionais mais necessárias. Vai chamar a atenção para os medos sociais que são ignorados, mas também desconstruir medos e ansiedades que podem ser instrumentalizadas para manipular os cidadãos europeus.