Acabo de ver o noticiário da hora de almoço na SIC.
Um vídeo amador circula já no facebook: duas jovens do Bairro Novo da Figueira da Foz situado numa rua principal da cidade que leva às praias, pejada de cafés, bares e restaurantes, agridem selvaticamente um rapazinho. Passou um ano até tomarmos conhecimento do que se passou, depois de alguém colocar as imagens nas redes sociais - talvez os pais do jovem agredido quisessem manter este incidente no foro do privado, tal o estigma que rodeia uma vítima de processos de bullying. 13 minutos de agressão na cara e nos órgãos genitais! O rapazinho encostado a uma parede cor-de-rosa de mãos atadas. 13 minutos de crueldade sádica. Raparigas reproduzindo modelos de violência física que julgávamos serem mais frequentes em rapazes.
Eis algumas das minhas reflexões enquanto membro desta Comissão:
- O flagelo do bullying nas escolas, nos bairros, nos jardins públicos, entre portas - trata-se ou não de uma questão de Justiça e Paz?
- Será ou não uma forma de globalização – bem localizada, desta vez – do pecado da indiferença? (Papa Francisco)
- Numa rua cheia de movimento quem protegeu este rapazinho? Quem prestou atenção? Quem olhou para o que se passava e procurou “dar uma mão”? Ou olhou para o lado dizendo para os seus botões que não era nada com ele/ela?
- O bullying está diretamente correlacionado com o sucesso escolar, ou a ausência dele...com o sucesso na vida.
Sendo um dos primeiros países do mundo a subscrever a Convenção Internacional dos Direitos da Criança onde a colocámos? Que descrevemos nos relatórios quinquenais que nos propusemos fazer?
Fiquei estarrecida ao ouvir uma das jovens afirmar: “Eu estou na paz!” E a outra, rindo-se, completar: “Na Paz de Deus?!” Lembrei-me o que aprendi na catequese: “Não invocar o Santo Nome de Deus em vão..”
Fui professora e depois formadora de professores e educadores ao longo de quase 30 anos. As questões do bullying já são investigadas há muitos anos nos Estados Unidos, na Noruega, na Dinamarca. Quantas crianças em Portugal terão sido já objeto de bullying? Que consequências para a sua vida escolar, para a capacidade de aprender, de se relacionar de forma saudável com os outros? Que faz a escola, os professores, os assistentes operacionais que acompanham as crianças nos recreios, nas refeições, nas entradas e saídas, no recinto circundante à escola?
Justiça e Paz para esta criança, não consigo deixar de pedir bem alto. E se fosse o “meu filho” e não qualquer criança algures na Figueira da Foz?
Cito Augusto Gil: Mas as crianças, Senhor, porque lhes dais tanta dor, porque padecem assim?
Teresa Vasconcelos