Comissão Nacional Justiça e Paz

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Ética da vida e ética social

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Numa mensagem recente, dirigida aos participantes de uma conferência internacional sobre as mulheres e o desenvolvimento, organizada pelo Conselho Pontifício da Justiça e da Paz, em colaboração com a União Mundial das Organizações Femininas Católicas e a World Women’s Alliance for Life and Family, o Papa Francisco sublinhou uma questão que já o Papa Bento XVI havia, mais do que uma vez, sublinhado: a estreita ligação entre a ética da vida e a ética social. Afirmou a este respeito: «As questões ligadas à vida são intrinsecamente conexas com as questões sociais; quando defendemos o direito à vida, fazemo-lo também para que essa vida possa, da sua conceção até ao seu termo natural, ser uma vida digna, que não conheça as chagas da fome e da pobreza, da violência e da perseguição». E citou a encíclica de Bento XVI Caritas in veritate : «A Igreja propõe, com vigor, esta ligação entre ética da vida e ética social, ciente de que não pode ter sólidas bases uma sociedade que afirma valores como a dignidade da pessoa, a justiça e a paz, mas contradiz-se radicalmente aceitando e tolerando as mais diversas formas de desprezo e violação da vida humana, sobretudo se débil e marginalizada» (n. 15).

Nessa mesma encíclica também afirmou o Papa emérito: «A abertura à vida está no centro do verdadeiro desenvolvimento. Quando uma sociedade começa a negar e a suprimir a vida, acaba por deixar de encontrar as motivações e energias necessárias para trabalhar ao serviço do verdadeiro bem do homem. Se se perde a sensibilidade pessoal e social ao acolhimento duma nova vida, definham também outras formas de acolhimento úteis à vida social. O acolhimento da vida revigora as energias morais e torna-nos capazes de ajuda recíproca. Os povos ricos, cultivando a abertura à vida, podem compreender melhor as necessidades dos países pobres, evitar o emprego de enormes recursos económicos e intelectuais para satisfazer desejos egoístas dos próprios cidadãos e promover, ao invés, ações virtuosas na perspetiva duma produção moralmente sadia e solidária, no respeito do direito fundamental de cada povo e de cada pessoa à vida.» (n. 28).

A tutela da vida é um imperativo desde o seu início e até ao seu termo natural. Em todas as suas fases, não certamente apenas no seu início. Mas também no seu início; se não for protegida uma vida antes do nascimento, nunca o será depois. A tutela da vida no seu sentido biológico é um pressuposto da tutela da vida na sua plenitude, que se confunde com a tutela da dignidade humana. Haverá sempre incoerência quando nos limitamos a algum aspeto dessa tutela.

Madre Teresa de Calcutá, que dedicou a sua vida ao serviço dos pobres, considerava o nascituro “o mais pobre dos pobres”. A sua pobreza e vulnerabilidade também decorre da sua invisibilidade. Mas muitas outras facetas tem a pobreza e a vulnerabilidade, mais ou menos visíveis. Também haverá incoerência quando se defendem umas categorias de pobres e se esquecem outras.

Considerar que a ética da vida e a ética social são indissociáveis implica que o empenho nas causas de defesa da vida e o empenho nas causas da justiça social não podem ser, para os cristãos, compartimentos estanques (como diferentes “gavetas” – ouvi dizer a alguém) que se ignoram e não comunicam entre si.

Pedro Vaz Patto