Comissão Nacional Justiça e Paz

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Muros que já tinham caído

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A História reserva-nos muitas surpresas. Não conhece evoluções lineares e automáticas. É o que revela a eleição de Donald Trump e as suas consequências,  algumas já bem visíveis. Uma delas é a do fecho das fronteiras norte-americanas a refugiados e outros nacionais de alguns países de maioria muçulmana. Uma decisão cega, que atribui a pessoas de determinadas nacionalidades e à religião islâmica, de forma arbitrária e preconceituosa, a responsabilidade pelo terrorismo.

Que os cristãos desses países do Médio Oriente sejam excluídos da medida não atenua a sua gravidade. Pelo contrário. A ética cristã e humanista não faz aceção de pessoas. E, como salientou o arcebispo iraquiano D. Louis Sako, essa discriminação acabará por prejudicar os próprios cristãos do Médio Oriente, que nesse locais serão ainda mais acusados de ser aliados do Ocidente inimigo (acusação que tem servido de pretexto para as perseguições de que são vítimas).

A globalização económica e os progressos dos meios de comunicação vêm tornando os povos mais próximos. É verdade que, como disse Bento XVI na encíclica Caritas in Veritate, a globalização torna-nos vizinhos, mas não nos faz irmãos. Daí a urgência de regular a globalização económica e completá-la com a “globalização da solidariedade”.

Mas aquilo a que agora se assiste é ao reerguer de muros que já tinham caído.

Nos Estados Unidos, mas também na Europa e noutras zonas do globo, há quem queira reafirmar as nações e os seus interesses. Poderia ser uma reação saudável a uma uniformização cosmopolita sem alma. Mas, para que fosse saudável, deveria tratar-se de uma afirmação pela positiva, uma afirmação de valores que representam o contributo de cada nação para a civilização e a fraternidade universais. Aquilo a que assistimos é a uma afirmação pela negativa, pela exclusão e pela hostilidade para com os estrangeiros. No caso dos Estados Unidos, nação de imigrantes construída na base de ideais de respeito por direitos humanos universais (consagrados na primeira Constituição escrita do mundo), essa exclusão contraria frontalmente esses ideais. Como contraria os ideais cristãos e humanistas que estão na base da cultura europeia.

                                                           Pedro Vaz Patto

                                      Presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz