Neste contexto, queremos pôr em relevo alguns dos aspetos da referida mensagem:
Deve ser reafirmada a dignidade da política («uma forma eminente de caridade») como serviço à vida e dignidade das pessoas, aos direitos humanos fundamentais (os quais não podem ser desligados dos deveres respetivos) e à paz.
A política assim concebida leva a estabelecer entre as gerações presentes e as gerações futuras laços de confiança e gratidão.
A boa política promove a participação política dos jovens. Reconhece as capacidades de cada pessoa e encoraja os talentos e vocações dos jovens, porque «cada um pode contribuir com uma pedra para a construção da casa comum» e «cada mulher, cada homem e cada geração encerram em si uma promessa que pode libertar novas energias relacionais, intelectuais, culturais e espirituais».
A boa política promove a confiança no outro. Vivemos hoje um clima de desconfiança enraizada no medo do outro ou do estrangeiro que se manifesta em atitudes de fechamento ou nacionalismo que colocam em questão a fraternidade universal, de que o nosso mundo globalizado tanto precisa.
A paz não é um simples equilíbrio de forças, nem pode assentar na ameaça e medo de retaliações. Manter o outro sob ameaça é reduzi-lo a objeto e negar a sua dignidade.
Merecem especial cuidado e proteção as crianças vítimas da guerra (uma em cada seis, no mundo inteiro), algumas delas arregimentadas como soldados ou reféns de grupos armados.
A paz supõe uma conversão do coração e do espírito e nas suas vertentes pessoal e comunitária inclui três dimensões indissociáveis: a paz com o outro (o familiar, o amigo, o estrangeiro, o pobre, a pessoa que sofre), a paz com a criação (um dom de Deus por que somos responsáveis enquanto habitantes do mundo e construtores do futuro) e a paz consigo mesmo (o que supõe a recusa da intransigência, da cólera e da impaciência).
A política da paz apoia-se e renova-se no espírito do Magnificat que Maria, Rainha da Paz, canta por nós e por todas as gerações: «…exaltou os humildes…aos famintos encheu de bens…lembrado da sua misericórdia, como tinha prometido a nossos pais, a Abraão e à sua descendência para sempre» (Lc, 49-55).
Lisboa, 1 de janeiro de 2019
A Comissão Nacional Justiça e Paz