Como alguns de vós saberão, já várias vezes exprimi a minha posição contrária à legalização da prostituição. Atualmente, a lei portuguesa não pune a pessoa que se prostitui (esta é encarada como vítima), mas pune o lenocínio, isto é, a exploração da prostituição, o proxenetismo. A legalização implicaria a descriminalização do lenocínio em determinadas condições, que passaria a ser encarado como uma normal atividade empresarial, sendo a atividade da pessoa que se prostitui encarada como um trabalho equiparado a qualquer outro.
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ESCUTAR O CLAMOR DOS POBRES[1]
Quero, antes de mais, agradecer o convite para vos falar, saudar o Sr. Bispo e a todos, e exprimir a minha alegria por estar hoje aqui convosco.
Serve-nos de inspiração para a celebração deste Dia Mundial dos Pobres a mensagem do Santo Padre que alude no seu título à escuta e resposta ao clamor dos pobres (Sl 34,7). Diz o Papa nessa mensagem (n. 2), referindo-se ao clamor, ou brado, dos pobres: «como é possível que este brado, que sobe à presença de Deus, não consiga chegar aos nossos ouvidos e nos deixe indiferentes e impassíveis? Num Dia como este, somos chamados a fazer um sério exame de consciência para compreender se somos verdadeiramente capazes de escutar os pobres.» Por muito meritória que seja uma qualquer ação social, há que ver se ela nasce dessa escuta do clamor dos pobres, das suas angústias e sofrimentos, tal como Deus escuta esse clamor, essas angústias e sofrimentos.
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«Que mundo queremos deixar em herança? Era a pergunta que ecoava durante a Conferência internacional "Salvar a nossa casa comum e o futuro da vida na terra", realizada no Vaticano, de 5 a 6 de julho passado, por ocasião do 3º aniversário da Laudato Si.» José Maia, Secretário-Geral da Comissão Nacional Justiça e Paz, participou na Conferência e deixa-nos o seu testemunho. Aqui
A decisão dos governos de Malta e de Itália de recusar a entrada do navio Aquarius nos portos desses países, contrariando o que vinha sendo prática habitual em casos semelhantes, causou indignação em muitas pessoas. O navio, da O.N.G Sos Mediterranée, tinha salvo do naufrágio centenas de refugiados e migrantes, alguns deles menores desacompanhados, muitos com necessidades de assistência imediata. Veio a ser recebido em Valência, por decisão do governo espanhol. A Igreja espanhola manifestou a sua total disponibilidade para colaborar no acolhimento dessas pessoas. Disse, a propósito o cardeal arcebispo de Madrid, D. Carlos Osoro, que o Aquarius é «um apelo de Cristo à Europa». Ou seja, um teste à coerência da Europa com as suas raízes cristãs e com o propósito político de respeito pelos direitos humanos. E o cardeal Ravasi evocou, também a propósito desta questão, as palavras de Jesus no Evangelho: «Era forasteiro e recebeste-Me».
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Pode um cristão estar sossegado com a moralidade dos seus atos, ao mesmo tempo que vende um produto financeiro a um cliente incapaz de avaliar o risco que lhe está associado quando não o alerta para tal?
Os cristãos e homens de boa vontade, sejam eles banqueiros ou bancários, gestores, empresários ou políticos, reguladores, clientes ou consumidores, não podem resignar-se à mera lógica dos “mercados” e devem estar conscientes do efeito do somatório das ações pelas quais cada um deve responsabilizar-se individualmente. Esta é a principal advertência que o texto da Santa Sé, hoje publicado no Vaticano, faz ao analisar, em pormenor, o funcionamento dos mercados financeiros, num passo em muitos aspetos inédito da Doutrina Social da Igreja e que constitui um novo guia para a reflexão de todos sobre a sua quota parte na mudança de mentalidades que se impõe.
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O título em latim (comum em documentos do magistério da Igreja) pode parecer bizarro num documento sobre finanças (onde até questões mais técnicas não são esquecidas), numa área onde a língua inglesa impera em absoluto. Trata-se de um documento do Vaticano (da Congregação para a Doutrina da Fé e do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Integral) com considerações para um discernimento ético sobre alguns aspetos do atual sistema económico e financeiro recentemente publicado. A Igreja não ignora estes aspectos, porque, como se afirma no documento, «nenhum espaço no qual o homem age pode legitimamente pretender ser estranho, ou permanecer impermeável, a uma ética fundada na liberdade, na verdade, na justiça e na solidariedade» (n.4)
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Ao participar na cerimónia das exéquias do D. Manuel Martins, Bispo Emérito de Setúbal, na passada terça-feira, dia 26 de Setembro, com o coração consternado, não pude deixar de me sentir um privilegiado pelo facto de me poder contar entre os seus amigos.
Alguns meses após a entrada do D. Manuel em Setúbal, primeiro por causa da elaboração dos Estatuto da Assembleia Diocesana e depois pelo facto de ser sido nomeado por ele para a Comissão Diocesana Justiça e Paz, tive a oportunidade de conhecer uma «figura» que contribuiu para consolidar traços importantes da minha postura como Cristão e como Homem.
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Quando morre um homem bom o mundo fica mais pobre. Hoje, Portugal e a sua Igreja perderam um desses homens que nos fazem falta: D. António Francisco, o bispo do Porto. Reconhecidamente um homem bom.
[Graça Franco, Renascença]
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Tive o grato prazer de acompanhar a elaboração de um texto (Ser Cristão no Trabalho - Um Desafio! ) que resulta do diálogo e comunhão entre representantes de várias organizações católicas, entre elas associações de trabalhadores e de empresários.
As perspetivas de que partiam estas associações de trabalhadores e empresários não eram uniformes, e não o são ainda hoje. Mas uns e outros identificam-se com os princípios da doutrina social da Igreja. Podemos, pois, dizer que entre elas os pontos de união são mais relevantes e sólidos do que os de divergência. Mas a verdade é que nem sempre esta realidade vem em evidência, neste como noutros âmbitos do diálogo intraeclesial.
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A temática das migrações e do acolhimento de refugiados e imigrantes vem sendo presença recorrente nas mensagens do Papa Francisco. A tal não serão estranhas as suas próprias origens: neto de imigrantes, vindo de um país construído por vagas sucessivas de imigrantes. Mas este é um fenómeno hoje incontornável em qualquer parte do mundo globalizado. Quando sopram com cada vez mais força os ventos hostis à imigração (que Donald Trump qualificou como um privilégio, e não um direito), a voz do Papa ressoa contra a corrente. Há quem o acuse de irrealismo ingénuo. Mas em várias ocasiões já mostrou que o seu pensamento tem sólidas raízes e não deve ser encarado como expressão de superficialidade emotiva.
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