Numa mensagem recente, dirigida aos participantes de uma conferência internacional sobre as mulheres e o desenvolvimento, organizada pelo Conselho Pontifício da Justiça e da Paz, em colaboração com a União Mundial das Organizações Femininas Católicas e a World Women’s Alliance for Life and Family, o Papa Francisco sublinhou uma questão que já o Papa Bento XVI havia, mais do que uma vez, sublinhado: a estreita ligação entre a ética da vida e a ética social. Afirmou a este respeito: «As questões ligadas à vida são intrinsecamente conexas com as questões sociais; quando defendemos o direito à vida, fazemo-lo também para que essa vida possa, da sua conceção até ao seu termo natural, ser uma vida digna, que não conheça as chagas da fome e da pobreza, da violência e da perseguição». E citou a encíclica de Bento XVI Caritas in veritate : «A Igreja propõe, com vigor, esta ligação entre ética da vida e ética social, ciente de que não pode ter sólidas bases uma sociedade que afirma valores como a dignidade da pessoa, a justiça e a paz, mas contradiz-se radicalmente aceitando e tolerando as mais diversas formas de desprezo e violação da vida humana, sobretudo se débil e marginalizada» (n. 15).
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Acabo de ver o noticiário da hora de almoço na SIC.
Um vídeo amador circula já no facebook: duas jovens do Bairro Novo da Figueira da Foz situado numa rua principal da cidade que leva às praias, pejada de cafés, bares e restaurantes, agridem selvaticamente um rapazinho. Passou um ano até tomarmos conhecimento do que se passou, depois de alguém colocar as imagens nas redes sociais - talvez os pais do jovem agredido quisessem manter este incidente no foro do privado, tal o estigma que rodeia uma vítima de processos de bullying. 13 minutos de agressão na cara e nos órgãos genitais! O rapazinho encostado a uma parede cor-de-rosa de mãos atadas. 13 minutos de crueldade sádica. Raparigas reproduzindo modelos de violência física que julgávamos serem mais frequentes em rapazes.
Eis algumas das minhas reflexões enquanto membro desta Comissão:
- O flagelo do bullying nas escolas, nos bairros, nos jardins públicos, entre portas - trata-se ou não de uma questão de Justiça e Paz?
- Será ou não uma forma de globalização – bem localizada, desta vez – do pecado da indiferença? (Papa Francisco)
- Numa rua cheia de movimento quem protegeu este rapazinho? Quem prestou atenção? Quem olhou para o que se passava e procurou “dar uma mão”? Ou olhou para o lado dizendo para os seus botões que não era nada com ele/ela?
- O bullying está diretamente correlacionado com o sucesso escolar, ou a ausência dele...com o sucesso na vida.
Sendo um dos primeiros países do mundo a subscrever a Convenção Internacional dos Direitos da Criança onde a colocámos? Que descrevemos nos relatórios quinquenais que nos propusemos fazer?
Fiquei estarrecida ao ouvir uma das jovens afirmar: “Eu estou na paz!” E a outra, rindo-se, completar: “Na Paz de Deus?!” Lembrei-me o que aprendi na catequese: “Não invocar o Santo Nome de Deus em vão..”
Fui professora e depois formadora de professores e educadores ao longo de quase 30 anos. As questões do bullying já são investigadas há muitos anos nos Estados Unidos, na Noruega, na Dinamarca. Quantas crianças em Portugal terão sido já objeto de bullying? Que consequências para a sua vida escolar, para a capacidade de aprender, de se relacionar de forma saudável com os outros? Que faz a escola, os professores, os assistentes operacionais que acompanham as crianças nos recreios, nas refeições, nas entradas e saídas, no recinto circundante à escola?
Justiça e Paz para esta criança, não consigo deixar de pedir bem alto. E se fosse o “meu filho” e não qualquer criança algures na Figueira da Foz?
Cito Augusto Gil: Mas as crianças, Senhor, porque lhes dais tanta dor, porque padecem assim?
Teresa Vasconcelos
Pendurei-me na minha camisa branca para gritar a minha adesão ao “somostodospessoas”. Depressa senti um sobressalto, uma agitação, porque por momentos tinha a alma em paz, já tinha o “dever cumprido” com a camisa branca, mas já está tudo feito?
Entretanto, à janela dos dias perpassa o cinzentismo de nuvens carregadas de intolerâncias, argueiros ou traves, eus inchados de mesquinhas razões, subtis interesses, vãs aspirações de glórias.
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A Comissão Nacional Justiça e Paz publicou na Semana Santa uma nota sobre a perseguição aos cristãos em várias partes do mundo, com o título dos versos de Sophia de Mello Breyner: Vemos, ouvimos e lemos, não podemos ignorar. Dias depois, a questão tornou-se, tragicamente, ainda mais atual, com o massacre na Universidade de Garissa, no Quénia. E outros acontecimentos análogos continuam a verificar-se desde então.
Durante muito tempo, imperou a este respeito, sobretudo na sociedade civil, mas também na Igreja, a ignorância, ou uma atenção muito ténue, desproporcionada em relação à gravidade da situação. Ainda hoje, estes atentados à vida e à liberdade religiosa, que alguém já qualificou como das mais graves violação dos direitos humanos do início do século XXI, parecem não receber manifestações de repúdio tão intensas como as de outros atentados não tão graves e frequentes.
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Abre nossos ouvidos
Deus de quem tocamos as margens do lado de cá das fronteiras da palavra, as linhas contrárias; abre os nossos ouvidos aos corredores de vozes que nos atravessam (...) e livra-nos do mal absoluto que é não haver ninguém que nos responda.
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A Comissão Nacional Justiça e Paz inicia hoje a publicação de artigos de opinião dos seus membros sobre questões de atualidade à luz dos critérios do Evangelho e da doutrina social da Igreja que orientam o trabalho desta Comissão. Procuramos, assim, estar atentos aos que se passa à nossa volta e fazer nossos os sofrimentos e as alegrias de quem está mais próximo ou mais longínquo.
Através da variedade destes contributos e das diferentes temáticas, perspetivas e sensibilidades, temos como ambição compor uma unidade segundo a imagem (várias vezes evocada pelo Papa Francisco) do Poliedro, onde a unidade harmónica do todo conserva a particularidade e originalidade de cada uma das partes.
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