Comissão Nacional Justiça e Paz

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Internacional

«A Paz é o fruto da Justiça» Comunicado da JUPAX Europa

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 A plataforma católica Justiça e Paz Europa é composta por trinta comissões nacionais Justiça e Paz de vários países europeus.

Os secretários gerais das comissões nacionais reuniram no último fim-de-semana em Szombathely, na Hungria. Durante esse encontro adotaram a seguinte declaração sobre a guerra na Ucrânia
 
Stefan Lunte
Secretário Geral de Justiça e Paz Europa 
 

                                                                                                                                                                                                                                            JUPAX logo                                                                                                                                                                                             

“A Paz é o fruto da Justiça”[1]

Declaração da reunião dos Secretários Gerais de Justiça e Paz Europa – 15 de maio de 2022, em Szombathely (Hungria)

A 24 de fevereiro de 2022 o governo russo iniciou uma invasão, brutal e não declarada, da Ucrânia. Como muitos agentes da sociedade civil, a Justiça e Paz Europa condenou imediatamente a agressão russa[2]. Embora a diplomacia continue a ser essencial, nós, como Comissões de Justiça e Paz, reafirmamos, no contexto dos nossos valores e convicções cristãs, que alguns princípios não são negociáveis, em particular o respeito pela dignidade de cada ser humano, os direitos humanos universais e indivisíveis e o imperativo da não agressão, que é a base da coexistência pacífica.

Afirmamos que uma paz justa não pode ser estabelecida privando a vítima dos seus direitos e recompensando o agressor por violar os princípios fundamentais do direito internacional. Além disso, para permitir a recuperação e a reconciliação, todos os crimes de guerra e violações do direito humanitário internacional devem ser investigados de forma consistente. A doutrina social católica sobre a paz defende explicitamente o direito individual e coletivo à autodefesa consagrado no direito internacional[3]. Isto inclui também o direito do Estado atacado a solicitar o apoio de terceiros para assegurar a sua defesa. Da nossa perspetiva, portanto, o direito da Ucrânia a defender-se é indiscutível e todas os fornecimentos de armas que permitam a sua defesa no quadro dos imperativos da proporcionalidade e do direito humanitário internacional são legítimos.

No entanto, como Comissões de Justiça e Paz, é nossa tarefa acompanhar estes desenvolvimentos com discernimento. Queremos salientar que os meios militares, por si só, não podem trazer uma paz duradoura. Além disso, acarretam grandes riscos de escalada. É, portanto, essencial evitar a retórica da guerra e manter os esforços diplomáticos através de vários canais e multilaterais. Além disso, as decisões sobre fornecimento de armas devem ser, estritamente, um último recurso e baseadas nos direitos humanos e princípios humanitários. Os interesses económicos da indústria de armamento não devem interferir. A resolução e prevenção de conflitos, bem como o desarmamento, devem continuar a ser objetivos também no futuro.

Como países europeus, devemos reconhecer a nossa quota-parte de responsabilidade nesta situação terrível. Ignorámos largamente os avisos de vários países vizinhos da Rússia sobre a ameaça de agressão, bem como a destruição e as catástrofes humanitárias na Chechénia, Geórgia e Síria. Os nossos esforços para avançar com mecanismos conjuntos e eficazes de desarmamento e controlo global do armamento também foram insuficientes. Devemos, também, reconhecer que noutros contextos, tendo como pano de fundo presumíveis interesses económicos, negligenciámos os direitos humanos fundamentais e o desenvolvimento humano global. Globalmente, em vez de aumentarmos os nossos esforços para uma transformação socio-ecológica abrangente, que está atrasada devido à aguda crise climática, aumentámos a nossa dependência de combustíveis fósseis, incluindo os russos. Por estas falhas, pedimos expressamente desculpa aos nossos irmãos e irmãs da Ucrânia, e não só. É nossa responsabilidade individual e coletiva mudar esta linha de ação tão rápida e consistentemente quanto possível.

Durante o nosso encontro em Szombathely, a cidade natal de São Martinho, na Hungria, ouvimos os testemunhos impressionantes de alguns cristãos que podem servir-nos de modelo nestes tempos difíceis. O Beato János Brenner ergueu-se em defesa da caridade e da sua profunda fé cristã.; vivendo na verdade, foi visto como uma ameaça pelo regime comunista húngaro. O Beato Vilmos Apor defendeu os mais pobres e os perseguidos ao longo da sua vida e deu a sua vida quando se opôs aos soldados russos para salvar as mulheres de serem raptadas e violadas. O Beato Ladislau Batthyány-Strattmann dedicou a sua vida à vocação de cuidar dos mais pobres e mais abandonados como médico. A partir destes cristãos corajosos, podemos ser inspirados a sermos nós próprios corajosos. Eles ensinam-nos que não devemos tomar as nossas decisões guiados por medos e por complacência, mas que, como cristãos, somos chamados a concentrar-nos primeiro nos mais pobres e mais vulneráveis. 

Deste modo, comprometemo-nos a trabalhar incansavelmente para responder às necessidades, defender direitos e por uma Europa renovada, em oração e animados pela esperança de que

1. a guerra terminará com uma Ucrânia livre, segura e independente nas suas fronteiras internacionalmente reconhecidas, com um lar para cada um dos seus cidadãos, independentemente da sua língua, filiação religiosa, origem étnica ou nacionalidade;

2. será prestada ajuda suficiente às pessoas deslocadas internamente e que os países de acolhimento de refugiados terão a força de perseverar na sua preciosa hospitalidade, para que as pessoas deslocadas da Ucrânia recebam um acompanhamento contínuo e generoso;

3. para além da Ucrânia, as nossas nações desenvolvidas mostrar-se-ão fortemente solidárias com as pessoas e regiões do mundo mais afetadas pelo acentuar da crise alimentar mundial[4];

4. nós, europeus, teremos a sabedoria de colocar sistematicamente o sofrimento alheio acima das preocupações pela nossa própria prosperidade, e mostraremos resiliência; ao mesmo tempo que partilhamos equitativamente esse fardo e que os lucros em excesso são utilizados para apoiar os mais pobres;

5. os ucranianos, com apoio internacional (CICV, OSCE, Equipas de Investigação Conjunta), terão capacidade para reunir provas e relatórios sobre violações de direitos humanos, crimes de guerra e crimes contra a humanidade; obterão os recursos para investigar e processar os autores, pois crimes hediondos não punidos facilitam a prática de outros e assombram os países durante gerações;

6. os mortos, civis e militares, de ambos os lados, serão devidamente lembrados; e as vítimas e famílias sobreviventes serão adequadamente compensadas e cuidadas; a memória será preservada num espírito de reconciliação;

7. na Europa serão superados os receios de uma transição radical, pessoal e coletiva, para a descarbonização da vida; é essencial a desvinculação das energias fósseis, não só para recuperar a margem de manobra em relação à Rússia, mas também em relação a outros regimes autoritários;

8. os líderes da União Europeia apoiarão a reconstrução da Ucrânia e concederão à Ucrânia o estatuto de candidato no próximo Conselho Europeu em junho, respeitando também as aspirações de outros países europeus a tornarem-se membros de pleno direito, especialmente os dos Balcãs Ocidentais;

9. as Nações Unidas recuperarão força suficiente para agir como um instrumento eficaz na resolução de conflitos e na diplomacia multilateral e para a aplicação do direito humanitário através do Tribunal Penal Internacional;

10. onde os povos e a paz são ameaçados pela agressão e pela guerra, as Igrejas e os seus representantes atuarão mais estreitamente em conjunto e com outras comunidades religiosas em prol da justiça e da paz no mundo;

11. a extraordinária força das orações ecuménicas pela paz continuará a ser um raio de luz num mundo dilacerado pela guerra.

A Comissão Executiva e os Secretários-Gerais nacionais da Justiça e Paz Europa  

Szombathely, 15 de maio de 2022



[1] Mensagem de São Paulo VI (1 de Janeiro de 1972). Ver também o Discurso na ONU em 5 de outubro de 1995. São João Paulo II in Sollicitudo rei socialis, 15.

[2] Ver a declaração da Comissão Executiva da Justiça e Paz Europa, de 25 de fevereiro: http://www.juspaxeu.org/en/dokumente/220225-JPE-ExCo-Ukraine.pdf

[3] Artigo 51 da Carta das Nações Unidas.

[4] Antes da guerra, à Rússia e à Ucrânia cabiam 25% das exportações mundiais de trigo. O conflito colocou grandes pressões sobre a produção de trigo e de petróleo e agravou o destino das cerca de 800 milhões de pessoas que sofrem de fome e das 2 mil milhões consideradas em insegurança alimentar.

 

55º DIA MUNDIAL DA PAZ

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 DMP 2022

 

1. «Que formosos são sobre os montes os pés do mensageiro que anuncia a paz» (Is 52, 7)!

Estas palavras do profeta Isaías manifestam a consolação, o suspiro de alívio dum povo exilado, extenuado pelas violências e os abusos, exposto à infâmia e à morte. Sobre esse povo, assim se interrogava o profeta Baruc: «Por que estás tu em terra inimiga, envelhecendo num país estrangeiro? Contaminaste-te com os mortos, foste contado com os que descem ao Hades» (3,10-11). Para aquela gente, a chegada do mensageiro de paz significava a esperança dum renascimento dos escombros da história, o início dum futuro luminoso.

Ainda hoje o  caminho da paz – o novo nome desta, segundo São Paulo VI, é  desenvolvimento integral [1] – permanece, infelizmente, arredio da vida real de tantos homens e mulheres e consequentemente da família humana, que nos aparece agora totalmente interligada. Apesar dos múltiplos esforços visando um diálogo construtivo entre as nações, aumenta o ruído ensurdecedor de guerras e conflitos, ao mesmo tempo que ganham espaço doenças de proporções pandémicas, pioram os efeitos das alterações climáticas e da degradação ambiental, agrava-se o drama da fome e da sede e continua a predominar um modelo económico mais baseado no individualismo do que na partilha solidária. Como nos tempos dos antigos profetas, continua também hoje a elevar-se  o clamor dos pobres e da terra [2] para implorar justiça e paz.

Em cada época, a paz é conjuntamente dádiva do Alto e fruto dum empenho compartilhado. De facto, há uma «arquitetura» da paz, onde intervêm as várias instituições da sociedade, e existe um «artesanato» da paz, que nos envolve pessoalmente a cada um de nós [3]. Todos podem colaborar para construir um mundo mais pacífico partindo do próprio coração e das relações em família, passando pela sociedade e o meio ambiente, até chegar às relações entre os povos e entre os Estados.

Quero propor, aqui,  três caminhos para a construção duma paz duradoura. Primeiro, o  diálogo entre as gerações, como base para a realização de projetos compartilhados. Depois,  a educação, como fator de liberdade, responsabilidade e desenvolvimento. E, por fim,  o trabalho, para uma plena realização da dignidade humana. São três elementos imprescindíveis para tornar «possível a criação dum pacto social» [4], sem o qual se revela inconsistente todo o projeto de paz.

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Declaração de “Justiça e Paz Europa” a propósito das próximas cimeiras sobre alterações climáticas

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Um apelo a um corajoso compromisso europeu nas próximas cimeiras da O.N.U. sobre o clima e sobre a biodiversidade

Declaração de “Justiça e Paz Europa” a propósito das próximas cimeiras sobre alterações climáticas (COP 26, Glasgow) e sobre biodiversidade (COP 15, Kunning)

1.  A 9 de agosto de 2021, o Grupo de Trabalho do Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas (IPCC) publicou um relatório no qual se declara a responsabilidade humana pelas alterações climáticas e pelo aumento de fenómenos climáticos extremos. A vida de pessoas e de todos os seres vivos e os seus ecossistemas serão seriamente afetados se o aumento da temperatura média anual do planeta não for urgentemente reduzido. As próximas cimeiras de Glasgow e de Kunning deveriam ser um ponto de viragem para que o planeta se mantenha habitável para as pessoas que nele vivem e para as gerações futuras.

2. Estas cimeiras deverão servir para compreender melhor e começar a corrigir as «causas estruturais e as disfunções da economia mundial e corrigir modelos de crescimento que se provou serem incapazes de assegurar o respeito pelo ambiente»[1]. Se o aquecimento global continuar o seu crescimento constante, haveremos de testemunhar uma alteração climática intensa e uma destruição sem precedentes dos ecossistemas, com sérias consequências para todos, especialmente os mais pobres e vulneráveis.

3. Como membros da plataforma católica “Justiça e Paz Europa”, temos como referência a encíclica do Papa Francisco Laudato Si` . Escutamos o grito dos pobres e o grito da Terra. Relembramos, assim, a todos os governos europeus e às instituições da U.E. e seus representantes presentes nestas cimeiras os compromissos que assumiram no passado e apelamos a que adiram às propostas seguintes:

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Um contributo de “Justiça e Paz Europa“ para a Conferência sobre o Futuro da Europa

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A União Europeia - Uma força integradora no Mundo

Um contributo de “Justiça e Paz Europa“ para a Conferência sobre o Futuro da Europa[1]

No espaço de uma geração, de 1989 a 2021, a U.E. mudou em muitos aspetos e o mundo também mudou dramaticamente. Por isso, não nos surpreende que o papel desempenhado pela U.E. noutras partes do mundo e na cena mundial tenha, também ele, mudado. Porém, numa retrospetiva destes últimos trinta anos, estas mudanças parecem ser mais uma adaptação a fatores externos para defesa de interesses de curto prazo. Parecem-nos menos movidos por uma visão baseada em valores por parte dos cidadãos europeus e dos seus dirigentes políticos.

A U.E. mudou em especial pelas razões seguintes:

- um número maior de Estados membros (há 30 anos quase todos os Estados membros tinham um passado colonial e/ou imperial; hoje esses Estados são uma minoria e a geração de políticos com experiência direta desses tempos desapareceu…) e um a menos (Brexit)

- políticas mais integradas, especialmente através do euro e da política monetária comum… e a reafirmação dos Estados membros

O mundo mudou pelas razões seguintes:

- a aceleração das mudanças climáticas

- as consequências sociais e económicas da pandemia da Covid-19, especialmente no que diz respeito ao agravamento da desigualdade entre pessoas e nações

- o desencadear de uma nova corrida aos armamentos e a relutância em assumir compromissos com novos tratados de desarmamento

- o número crescente de pessoas deslocadas

- o enfraquecimento do Estado-Nação e, simultaneamente, o reforço do sentimento nacionalista

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JUPAX Europa - Assembleia Geral e Workshop Internacional 2021

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Conference of European Justice and Peace Commissions
“Integral ecology: overcoming the social and environmental crisis”
International Workshop and General Assembly, Brussels and Leuven - 1-4 Oct 2021

FINAL DECLARATION
Structural change is necessary for the respect of our Common Home.
The ecological transition has started. It must be fair and just.
We can support and accelerate it. And we will!

 
We, delegates from 21 European Justice & Peace Commissions, came together in person and online for the Annual International Workshop and General Assembly held in Belgium from 1 to 4 October 2021, to fulfil our responsibility for exploring contributions to the ecological transition.
 
The Workshop, co-organised and co-hosted by the Flemish and French-speaking Justice and Peace Commissions in Belgium, was based on Cardinal Cardijn’s methodology of “See, Judge, Act”.
 
The opening ceremony offered us the opportunity to tackle the topic: The Ecological Transition: Limits and Opportunities through three keynote discussions.
 
In his lecture, Prof Jean-Pascal Van Ypersele delivered the scientific point of view, summarizing the essential truth about climate change in ten words and five key points : it’s real (global warming is happening), it’s us (human activity is the main cause), experts agree (there’s a scientific consensus), it’s bad (the impacts are serious and affecting people) but there’s hope (we have the technology needed to alleviate the worst impacts). He also outlined objectives to address the issue in various domains (economy, sustainability, energy efficiency, buildings insulation, mobility, finance, food, and agriculture).
  
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