04 - Editorial:

   Paulo Rocha

06 - Foto da semana

07 - Citações

08 - Nacional

14- Internacional

    José Luis Gonçalves

22- Semana de

    Sónia Neves

    DNPJ

26- Dossier

    Quaresma 2015
     Henrique Joaquim

 

 


 

 

56 - Multimédia

58 - Estante

60 -  Vaticano II

62 -  Agenda

64 - Por estes dias

67 - YouCat

68 - Programação Religiosa

69 - Minuto Positivo

70 - Liturgia

72 - Família

74 - Ano da Vida Consagrada

78 - Fundação AIS

80 - Lusofonias

Foto da capa: Lusa

Foto da contracapa:  Agência ECCLESIA

 

 


AGÊNCIA ECCLESIA 
Diretor: Paulo Rocha  | Chefe de Redação: Octávio Carmo
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Opinião

 

 

 

 

Portugal tem um novo cardeal

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Uma igreja junto dos marginalizados

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Viver a Quaresma ao serviço dos outros

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Paulo Rocha | Eugénio Fonseca | Fernando Cassola Marques  | Manuel Barbosa |Paulo Aido | Tony Neves | José Luís Gonçalves

 

Tocar o pobre

  Paulo Rocha   
  Agência ECCLESIA   

 

 

Há dias perguntavam-me: “o que seria dos pobres sem as respostas sociais prestadas por instituições ligadas à Igreja Católica?” Respondi que as consequências seriam semelhantes à decisão dos proprietários ou gerentes de restaurantes naturais de Arganil fecharem as portas das casas que gerem em Lisboa: a fome, dir-se-ia com algum exagero! Porque assim é, de facto, na sociedade lisboeta, onde atividades profissionais afirmam-se de acordo proveniências geográficas ou influências de determinados grupos e até inspirações espirituais ou religiosas. E se os restaurantes em Lisboa têm por trás do balcão muitas mulheres e muitos homens da zona centro de Portugal, os pobres, em todos os locais, têm muitos cristãos comprometidos a lutar pela dignidade de vida de cada um deles, todos os dias. Uns de forma organizada, nas várias instituições de solidariedade, outros no exercício autêntico da caridade, que dá e promove o outro sem que ninguém dê por isso.

O Papa Francisco inspira e desafia à solidariedade de forma sempre criativa! Facilmente assentimos no sucesso do combate à pobreza caso fossem seguidas as propostas que o cardeal que chegou de Buenos Aires repete desde sempre e de forma mais insistente e com alcance global a partir do momento em que preenche o ambiente do Vaticano.

Primeiro na exortação apostólica “A Alegria do Evangelho”, Francisco afirma que “para a Igreja, a opção pelos pobres é mais uma categoria teológica que cultural, sociológica, política ou filosófica” e sugere uma “atenção amiga” aos pobres.

 

Depois na mensagem para a Quaresma, o Papa estende este programa de experiência crente a todos os batizados, às comunidades e grupos que formam, numa reação clara à indiferença que marca a maioria das relações humanas. Ser “ilhas de misericórdia no meio do mar da indiferença” é o desafio deixado às paróquias. No último domingo, na missa com os novos cardeais, o conselho que o Papa lhes deixava insistia na mesma determinação proposta para toda a Igreja: “acolher com ternura os marginalizados”.

“Não só acolher e integrar, com coragem evangélica, aqueles que batem à nossa porta, mas sair, ir à procura, sem preconceitos nem medo, dos afastados revelando-lhes

 

 
 

gratuitamente aquilo que gratuitamente recebemos”. É este o programa para todos. Também para quem é cardeal.

A inspirar slogans, desafios ou objetivos está o gesto de Jesus diante do leproso, quando rompe com a lei que o catalogava como impuro, escandaliza toda a sociedade que o remetia para o isolamento e choca a mentalidade de então que o colocava sempre à distância. E Jesus não só se aproxima do leproso como também lhe toca, inaugurando um novo paradigma na atenção ao outro e na forma de o ajudar.

Antes de qualquer programa, projeto ou estratégia tem de estar o toque, a determinação de tocar o pobre. E são tantos os exemplos que o demonstram!

 
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

"Acho, manifestamente, que é uma declaração bastante infeliz do presidente da CE porque nunca a dignidade de Portugal nem dos portugueses foi beliscada, pela ‘troika' ou qualquer das suas instituições. Só posso classificá-la como declaração infeliz"

Marques Guedes, ministro da Presidência do Conselho de Ministros e dos Assuntos Parlamentares, Lisboa, 19.02.2015

 

 

 

 

 

 

 

 

 

“Pecamos contra a dignidade dos povos, sobretudo na Grécia, em Portugal e muitas vezes na Irlanda. Eu era presidente do Eurogrupo e pareço estúpido ao dizer isto, mas temos de tirar lições da História e não repetir os mesmos erros”

Jean-Claude Juncker, presidente da Comissão Europeia, no Comité Económico e Social, em Bruxelas, 18.02.2015

 

"A declaração do presidente Juncker é sábia e espero que seja bem escutada e compreendida pelos diferentes Governos, que têm aqui uma grande oportunidade de uma vez por todas, de travarem este caminho para o precipício, de assumirmos de uma vez por todas que há um problema na Europa, que não é um problema exclusivamente grego e que é tem de ser resolvido de uma forma solidária”

António Costa, secretário-geral socialista, Lisboa, 19.02.2015

 

 

“Aprender português vale a pena para todos os galegos"

Alberto Núñez Feijóo, presidente da Junta da Galiza, Real Academia Galega, Corunha, 19.02.2015

 

 

 

Portugal tem um novo cardeal

D. Manuel Clemente, patriarca de Lisboa, tornou-se este sábado o 44.º cardeal da Igreja Católica em Portugal, Católica, numa cerimónia que decorreu na Basílica de São Pedro. Eram 11h27 (menos uma em Lisboa) quando o Papa Francisco pronunciou o nome do prelado português, ao ler a fórmula de criação em latim.

Cada um dos novos cardeais ajoelhou-se, depois, para receber o barrete cardinalício, de acordo com a ordem de criação: D. Manuel Clemente, patriarca de Lisboa, foi o segundo, cerca das 11h37 locais. O cardeal-patriarca foi cumprimentado pelo Papa emérito, Bento XVI, depois de descer do altar.

Cada cardeal foi inserido na respetiva ordem (episcopal, presbiteral ou diaconal), uma tradição que remonta aos tempos das primeiras comunidades cristãs de Roma, em que os cardeais eram bispos das igrejas criadas à volta da cidade (suburbicárias) ou representavam os párocos e os diáconos das igrejas locais. D. Manuel Clemente é cardeal-presbítero, com o título da igreja de Santo António (dos portugueses), em Roma.

 
Antes, centenas de cabo-verdianos e portugueses tinham chegado à Praça de São Pedro para celebrar a criação como cardeais de D. Manuel Clemente e D. Arlindo Furtado, bispo de Santiago. As bandeiras dos dois países lusófonos surgiam entre as filas que se estenderam a toda a praça, onde ecoavam os cânticos dos cabo-verdianos.

Na primeira conferência de imprensa como cardeal, este domingo, D. Manuel Clemente disse que o único caminho para “credibilizar” a Igreja é passar das palavras a atos concretos, um desafio que envolve todos os católicos. “É uma questão de credibilizar pelo comportamento aquilo que se diz ser”, declarou, no Colégio Pontifício Português de Roma.

Depois de dois dias de debate sobre a reforma da Cúria Romana e do consistório público para a criação de cardeais, o patriarca afirmou que as indicações do Papa são um caminho de “reforma” da Igreja, que exige um “trabalho diário” de “credibilização”.

“Quando se fala em reforma, é sobretudo disto que se fala: uma re-ligião, uma ligação com Deus, que se concretiza para nós cristãos nas 

 

 

 

 

atitudes concretas, práticas, comezinhas, diárias, de Jesus de Nazaré”, prosseguiu.

Segundo D. Manuel Clemente, o Papa convida a comunidade católica a uma “descentralização” para que seja capaz de “acolher o outro”, uma atitude que “reforma muito a Igreja”. “Fazer meu o problema do outro é um enorme desafio para qualquer cristão”, precisou.

“Quer a Igreja, quer o mundo esperam muito” de Francisco, admitiu, revelando que após as cerimónias dos 

 

últimos dias vai regressar à capital portuguesa “confirmado” na “colaboração com o Papa e o seu programa”.

 

 

 

 

 

À espera de Francisco em 2017

O cardeal-patriarca de Lisboa revelou no Vaticano ter a certeza “quase absoluta” de que Francisco vai visitar Portugal em 2017, depois de vários convites dirigidos pelo Governo, a Conferência Episcopal e a Diocese de Leiria-Fátima nesse sentido. “É o centenário de Fátima e Fátima tem um lugar muito importante na vida de milhões e milhões de católicos no mundo inteiro. O Papa Paulo VI foi lá em 1967, depois o Papa João Paulo II, depois o Papa Bento XVI e o Papa Francisco também vai, por isso lá o esperamos”, disse aos jornalistas que acompanhavam a sessão de cumprimentos, horas depois do consistório em que D. Manuel Clemente foi criado cardeal.

A este respeito, o bispo do Porto, D. António Francisco dos Santos, disse também no Vaticano que espera uma visita do Papa à cidade nortenha, em 2017, ano em que se prevê que Francisco se desloque a Portugal, por ocasião do centenário das aparições de Fátima. “Todos estamos convencidos de que o Papa irá a Portugal e eu estou imensamente 

 

 

 

desejoso de que ele vá ao Porto, na tradição, aliás, do que fizeram os Papas João Paulo II e Bento XVI, em 1982 e 2010, respetivamente”, declarou.

O vice-primeiro ministro Paulo Portas manifestou este sábado ao Papa Francisco o desejo de que este visite Portugal, no centenário das aparições de Fátima. “Esses 100 anos são muito importantes para muitos portugueses com fé e nós gostaríamos todos de ter o Santo Padre em Portugal por ocasião desse centenário, em 2017. Aproveitamos para o sublinhar”, disse aos jornalistas, na Praça de São Pedro.

Paulo Portas cumprimentou o Papa, juntamente com o ministro dos Negócios Estrangeiros, Rui Machete, na Basílica de São Pedro, Vaticano, após a conclusão da cerimónia.

Este último adiantou que Francisco deixou palavras “muito simpáticas” para Portugal, esperando que a visita de 2017 seja uma realidade. “Ele não fez uma promessa solene, mas disse que ouviu e várias pessoas falarem-lhe nisso e que não se ia esquecer”, acrescentou Machete.

 

 

 

 

 

Cáritas lança campanha para apoiar crianças refugiadas da Síria

O antigo alto representante das Nações Unidas para a Aliança das Civilizações e a Cáritas Portuguesa apresentaram esta quarta-feira em Lisboa uma campanha de recolha de roupa para as crianças refugiadas da Síria na Jordânia e no Líbano.

“Podemos ser sempre solidários e quando não há disponibilidade em géneros todas as pessoas têm algo que pode partilhar e o que conta é o resultado final”, assinalou Jorge Sampaio, em conferência de imprensa. O ex-presidente da República portuguesa explicou que esta iniciativa resultou das preocupações de 10 estudantes de mestrado e doutoramento sírios em Guimarães, num total de 63 que Portugal acolhe.

Jorge Sampaio recordou que há “quase dois milhões de crianças” refugiadas no Líbano, Jordânia, Iraque, Turquia e Egito e que “já morreram de frio várias crianças” devido ao inverno rigoroso.

Neste contexto, a campanha quer recolher vestuário, cobertores, mantas e agasalhos em boas condições. “Entreguem só aquilo que os seus filhos vestiriam. Organizem as caixas com roupa digna”, pede Eugénio Fonseca, presidente da 

 

Cáritas Portuguesa.

A instituição católica explicou que todos podem participar e que disponibilizou no seu sítio online o impresso para se assinalar o que contém cada caixa de roupa.

À Agência ECCLESIA, o responsável frisou que esta situação, “em termos humanos, é muito mais dolorosa”, porque afeta crianças que correm risco de vida por não terem “condições mínimas de conforto” e “indispensáveis” para “crescer harmoniosamente”.

Eugénio Fonseca revela que não as organizações de solidariedade conseguem chegar a “todos os campos de refugiados”, pelo que, neste caso, se vão centrar atenções na Jordânia e no Líbano, onde “estão as maiores dificuldades e temperaturas mais agressivas”.

 

 

 

 

 

A Agência ECCLESIA acompanhou em Roma o consistório para a criação cardinalícia de D. Manuel Clemente, que aqui se passa em revista

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Igreja sem medo dos marginalizados

O Papa Francisco defendeu este domingo no Vaticano que a Igreja Católica tem de estar junto dos “marginalizados” e rejeitou a formação de uma “casta” que exclui quem sofre da vida eclesial. “Verdadeiramente é no evangelho dos marginalizados que se joga, se descobre e revela a nossa credibilidade”, disse, na homilia da Missa que celebrou com os novos cardeais.

O Papa pediu aos cardeais que saibam servir “todas as pessoas marginalizadas”, desde as vítimas da fome ou dos desempregados aos que “perderam a fé", "se afastaram da prática” ou que "se declaram ateus". “A disponibilidade total para servir os outros é o nosso sinal distintivo, é o nosso único título de honra”, prosseguiu.

A intervenção partiu do relato da cura de um leproso, por Jesus, recordando que no tempo de Cristo as vítimas desta doença eram consideradas “impuras” e que o contacto com elas era proibido pela lei religiosa judaica. “Jesus responde à súplica do leproso sem demora e sem os habituais adiamentos para estudar a situação e todas as eventuais consequências”, 

 

 

assinalou Francisco.

Esta ação, precisou, “revoluciona e sacode intensamente” uma mentalidade fechada e “revoluciona também as consciências”, abrindo novos horizontes para a humanidade, a “lógica do amor, que não se baseia no medo mas na liberdade”. Segundo o Papa, a atitude de Jesus “deixou alguns escandalizados”, mas este não se preocupou com as “mentes fechadas que se escandalizam até por uma cura, que se escandalizam diante de qualquer abertura”.

“O caminho da Igreja é precisamente sair do próprio recinto para ir à procura dos afastados nas «periferias» da existência”, observou, retomando um dos temas centrais do atual pontificado.

Francisco criticou a “pureza ritualista” que deixa de fora dos seus esquemas qualquer “carícia ou ternura”, ao contrário do exemplo do próprio Jesus. “A compaixão leva Jesus a agir de forma concreta: a reintegrar o marginalizado”, lembrou.

Sem nunca se referir diretamente aos debates que têm marcado os últimos meses de pontificado, em particular no Sínodo sobre a Família, o Papa disse que a Igreja sempre teve no 

 

 

 

 

 

 

seu interior “duas lógicas de pensamento e de fé: o medo de perder os salvos e o desejo de salvar os perdidos”, oscilando entre “marginalizar e reintegrar”.

“O caminho da Igreja, desde o Concílio de Jerusalém [séc. I] em diante, é sempre o de Jesus: o caminho da misericórdia e da integração”, observou.

O caminho da Igreja, insistiu, é “não condenar eternamente ninguém”.

 

 

 
 

“Queridos novos cardeais, esta é a lógica de Jesus, este é o caminho da Igreja: não só acolher e integrar, com coragem evangélica, aqueles que batem à nossa porta, mas ir à procura, sem preconceitos nem medo, dos afastados revelando-lhes gratuitamente aquilo que gratuitamente recebemos”. 

 

 

 

Papa pede humildade
e ternura aos novos cardeais

A criação de 19 novos cardeais, este sábado, no Vaticano, ficou marcada pelos alertas do Papa contra as tentações da inveja, do orgulho e do rancor que podem existir na vida da Igreja. “Nós, seres humanos (todos, e em todas as idades da vida), sentimo-nos inclinados à inveja e ao orgulho por causa da nossa natureza ferida pelo pecado. E as próprias dignidades eclesiásticas não estão imunes desta tentação”, assinalou, na homilia do consistório.

Segundo Francisco, quem tem responsabilidades de governo na Igreja Católica “deve ter um sentido tão forte da justiça que veja toda e qualquer injustiça como inaceitável, incluindo aquela que possa ser vantajosa para si mesmo ou para a Igreja”. O Papa argentino explicou que a “dignidade cardinalícia” não é “honorífica” e que, na Igreja, “toda a presidência provém da caridade, deve ser exercida na caridade e tem como fim a caridade”.

“A caridade, dom de Deus, cresce onde há humildade e ternura”, acrescentou.

 

 
Francisco admitiu que quem vive em contacto com as pessoas tem sempre “ocasiões para se irritar”, mas advertiu contra o “risco mortal da ira retida, «aninhada» no interior”. “Não. Isto não é aceitável no homem de Igreja. Se é possível desculpar uma indignação momentânea e imediatamente moderada, não se pode dizer o mesmo do rancor. Que Deus nos preserve e livre dele”, declarou.

O Papa convidou os presentes a “saber amar sem limites”, com atenção às situações particulares, através de gestos concretos, com a “capacidade de ter em conta o outro, a sua dignidade, a sua condição, as suas necessidades”.

O mais velho dos novos cardeais, D. José de Jesús Pimiento Rodríguez, arcebispo emérito de Manizales (Colômbia), de 95 anos, não pôde deslocar-se ao Vaticano, pelo que vai receber o anel e o barrete vermelho na sua diocese.

 

 

 

Amor é mais do que o aspeto sexual

O Papa Francisco afirma na mensagem para a 30ª Jornada Mundial da Juventude que a vocação humana para o amor não se reduz ao “aspeto sexual”, o matrimónio não está “fora de moda” e a ecologia também é humana. “Exorto-vos a rebelar-vos contra a tendência generalizada de banalizar o amor, sobretudo quando se procura reduzi-lo apenas ao aspeto sexual, desvinculando-o assim das suas características essenciais de beleza, comunhão, fidelidade e responsabilidade”, escreveu o Papa na mensagem divulgada pela Sala de Imprensa da Santa Sé.

Francisco refere que na juventude surge “a grande riqueza afetiva”, o “desejo profundo dum amor verdadeiro, belo e grande”, 

 

 

sinal da “capacidade de amar e ser amados”. “Não permitais que este valor precioso seja falsificado, destruído ou deturpado”, escreve o Papa.

A Igreja Católica assinala a Jornada Mundial da Juventude, em cada diocese, no Domingo de Ramos, 8 dias antes da Páscoa, este ano a 29 de março.

Na mensagem do Papa, intitulada “Felizes os puros de coração, porque verão a Deus”, Francisco dirige-se aos jovens para lhes pedir que salvaguardem a “criação, a pureza do ar, da água e dos alimentos”, sublinhando que é necessário “com maior razão ainda” “salvaguardar a pureza” do que a pessoa tem de “mais precioso”: os corações e as relações.

 

 

 

 

 

A Agência ECCLESIA escolhe sete acontecimentos que marcaram a atualidade eclesial internacional nos últimos dias, sempre atualizados em www.agencia.ecclesia.pt

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Lógicas de Dádiva

  José Luís Gonçalves    
  Escola Superior  
  de 
 Educação   
  de Paula Frassinetti
   

 

 

A Mensagem do Papa Francisco para a Quaresma de 2015 faz referência a uma “globalização da indiferença” enquanto forma predominante de relação social que acaba por excluir os mais indefesos. Caracteriza, assim, as relações de sociabilidade que tecem, contemporaneamente, os vínculos que alimentam as razões da vida em comum. Erigimos uma sociedade de risco (U. Beck), vulnerável e precária (M. Castells), onde a individualização dos estilos de vida forjaram uma mentalidade líquida (Z. Bauman) nas relações instrumentalizadas que as pessoas entretêm entre si, ligadas mais pelo “interesse” que pela noção de bem-comum.

Refere ainda o Papa Francisco que a Igreja devia viver numa atitude de dádiva permanente, “recendo e partilhando aquilo que Deus nos quer dar”. Ora, é possível instaurar um laço social novo através de relações humanas de proximidade alimentadas por lógicas de dádiva. Os sinais e os gestos de dádiva têm-se multiplicado visivelmente pelas mais variadas esferas e lugares da vida pessoal e social: nos atos de generosidade entre família ou entre amigos, na doação de sangue a desconhecidos ou no acolhimento a estrangeiros, no apoio a grupos de entreajuda ou através de projetos de voluntariado…

Podendo ser a dádiva caracterizada como “qualquer prestação de bens ou serviços efetuada sem garantia de retorno, tendo em vista a criação, manutenção ou regeneração do vínculo social” (A. Caillé, Antropologia da Dádiva), está revestida 

 

 

 

de um paradoxo ético: constituindo um verdadeiro bem, o seu valor não é primeiramente económico mas antes social e moral, porque o valor não se centra no objeto trocado, mas na troca desinteressada e gratuita que ela instaura. No momento do gesto, a dádiva implanta no coração do doador uma expectativa, esperança ou até exigência de resposta (não utilitarista), de um reconhecimento do ato simbólico encetado e, nessa medida, abre a relação ao imprevisto, ao excesso, à desmesura do receber…

Ao contrário de uma relação económica em que cada troca é completa, cada relação é pontual e cada dívida deve ser definitivamente liquidada, na relação de dádiva 

 

estabelece-se uma “dívida mútua positiva”. Trata-se, de facto, de uma dívida que é permanente e recíproca, que não tem um sentido económico nem tampouco diz simplesmente respeito “às coisas” que circulam na relação, mas que atua, no interior dessa mesma relação, sobre o laço e vínculo que se estabelece entre as pessoas.

Contrariando atitudes egoístas que se mantêm reféns de lógicas de convivialidade esgotadas que empurram muitos dos nossos irmãos para os limiares de uma sociabilidade – indiferença – insuportável, urge reconstruir, por via de uma “educação para a dádiva”, laços sociais alternativos regeneradores da condição humana.

 

 

O caminho para a sustentabilidade

  Sónia Neves   
  Agência ECCLESIA   

 

Há dias um amigo regressado de uma viagem à Índia contava-me que tinha ficado impressionado com a forma desumana como vivem os intocáveis, “aqueles que não pertencem a nenhuma casta e não são aceites pelo Hinduísmo”, explicava-me.

Fui pesquisar mais e tentei perceber a discriminação que tinha ouvido… Crianças, adultos e famílias inteiras a viver pelas ruas sem qualquer tipo de dignidade. É uma realidade longínqua e consequente de uma cultura e religião que poucos conhecemos mas a minha reflexão levou-me a pensar nos “intocáveis” do Ocidente.

Afinal também há pessoas a viver na rua, em situações miseráveis, desumanas, de rosto baixo, muitas vezes sem forças, coragem ou autoestima para se levantarem. E os números não param de aumentar… A confederação europeia da Cáritas apresentou em Roma o terceiro relatório sobre a crise no qual denuncia a existência de 133 milhões de pobres na União Europeia.

Na sua mensagem para esta Quaresma o Papa alerta para a sociedade superar o “mar da indiferença”, estando atenta aos problemas e às injustiças que os outros sofrem.

Francisco deu mesmo o exemplo da construção de três chuveiros e de um pequeno espaço de barbearia para os sem-abrigo, no Vaticano, “para não serem socialmente rejeitados” e dar a possibilidade de criar uma auto-estima e dignidade.

A caridade é um dos preceitos deste tempo litúrgico e compromisso para cada cristão. Podemos chamar “intocáveis”, “frágeis” ou 

 

 

 

 

 

“sofredores” mas não passemos indiferentes, impõe-se o desafio.

Olhar o outro, cultivar a proximidade e fazer da dignidade humana um estandarte nesta Quaresma é, respeitando o ser humano e colocando-o no centro, fazer caminho para a sustentabilidade.

Sustentabilidade? Sim, leu bem. Uma palavra associada a questões ambientais mas que me fez sentido ao lê-la neste tempo, baralhá-la com a sociedade e sentir que é preciso e, 

 

digo mesmo, urgente um equilíbrio, um “rasgar” de preconceitos e ir ao encontro de quem mais se esconde para que a sociedade evolua.

Com o roxo a servir de base nestes dias que cada um assuma o seu papel na construção do bem comum, interiorize o ‘’bem dizer’’ e saiba viver na esperança da ressurreição.

E partilho uma mensagem que ouvi em quarta-feira de cinzas: “ A Quaresma é como o código postal, bem vivida é meio caminho andado”!

 

 

Quaresma e fast food

Em cada ano, começamos a Quaresma com a celebração das Cinzas. A liturgia propõe textos fortes, para quem tiver ouvidos para os escutar: o apelo a rasgar o coração (profeta Joel), a acolher a reconciliação como um dom de Deus (Paulo aos Coríntios), a viver na autenticidade os caminhos interiores (Evangelho de Marcos). Mais discreta, a antífona que o missal propõe para o cântico da comunhão desse dia: Aquele que medita dia e noite na lei do Senhor dará fruto a seu tempo. Uma frase tirada do primeiro dos 150 salmos que o povo judeu rezava e que Jesus também rezou.

Neste poema que é também oração, o justo, o homem sábio, é comparado à árvore plantada à beira dos riachos. Porquê a escolha deste texto e desta imagem para o início da Quaresma? Porque não um apelo ao arrependimento, ao voltar para Deus o coração, ao mudar de vida? Depois de textos tão fortes, de um gesto tão dramático como a imposição das cinzas, porquê a proposta deste versículo do salmo? O que tem que ver connosco, este justo que medita dia e noite e que não espera de imediato o fruto deste caminho?

 
A mim, este texto toca-me por relembrar como a Quaresma é um caminho de escuta paciente, de acolhimento da “espantosa realidade das coisas”, desse Deus que, como lembra o profeta Elias, se deixa escutar no sopro ténue de uma brisa. Nos caminhos interiores, não há pressas nem receitas. Como a árvore que pacientemente cresce e lança as suas raízes a uma profundidade cada vez maior, assim aquele que se dispõe a escutar e a acolher a vida com simplicidade aprende a descobrir nos seus dias os traços da passagem de Deus.

A árvore lembra que, nestas coisas de Deus, onde todos somos peregrinos e pessoas de escuta, à procura, a descoberta do essencial exige tempo. É a escuta paciente que permite as decisões firmes e corajosas. É o mastigar paciente da Palavra que pode fazer dela, cada vez mais, uma luz para os nossos passos. Nestas coisas não há fast food.

Regressar ao essencial, permanecer na escuta, ouvir o que Deus nos segreda no meio dos nossos dias, não é fácil. Estamos cheios de ruídos, stresses, imagens, palavras. O justo medita 

 

 

 

na lei do Senhor, na Sua Palavra, diz o salmo. O justo faz-se pobre, lembra-se faminto de algo maior. Como tantos outros, também nós somos gente sedenta: de verdade, de sentido, de relações plenas de humanidade e de bondade.

Fazer jejum, regressar a uma alimentação simples, partilhar, são formas de nos dizermos dispostos a procurar o essencial. Que, tal como 

 

o justo, queremos ser essa árvore que pacientemente lança as suas raízes para beber da água que corre nas profundidades. Sem pressas de obter logo os resultados, pois a árvore cresce devagar. Mas cresce… Nestas coisas de eus, não há mesmo fast food

Por João Luís Inglês Fontes
para o Departamento Nacional da Pastoral Juvenil

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O início da Quaresma convida à reflexão e à ação,

pela mão do Papa Francisco, relativamente

aos temas da pobreza, da miséria, da construção

da sociedade e da relação com Deus e entre pessoas. Iniciado simbolicamente sob as cinzas, este tempo de preparação para a Páscoa convida a um renascimento, uma mensagem particularmente importante no momento que se vive, a nível nacional. Francisco pede um combate contra a ‘globalização da indiferença’ e é isso que este Semanário ECCLESIA apresenta, com entrevistas e testemunhos de quem está no terreno, para além de recolher as várias reflexões lançadas pelos bispos diocesanos, rumo à Páscoa. 

     
 

 

 

Lutar contra a indiferença: o desafio humano e divino de transformar vidas

 

O presidente da Comunidade Vida e Paz comenta o convite e o alerta de se combater a indiferença feito pelo Papa Francisco na mensagem para a Quaresma, um tempo de conversão que identifica como sendo de “transformação”.

Para os voluntários da instituição, tutelada pelo Patriarcado de Lisboa, este desafio é “diário e noturno”, no serviço e encontro com as pessoas sem-abrigo.

Henrique Joaquim, professor universitário de Serviço Social, destaca que a Igreja “ganha em humanidade, realismo e sensibilidade” ao deixar-se questionar pela situação das pessoas sem-abrigo uma vez que o “grande segredo do cristianismo” está num critério contrário da sociedade atual que vive a “apologia do bonito, do belo, do crescido, do maior, do crescente”.

Entrevista de Lígia Silveira

 

 

Agência Ecclesia (AE) - A mensagem que o Papa dirige à Igreja e a todos os cidadãos sobre a Quaresma apela ao combate à indiferença. Um desafio que equivale ao esforço que a Comunidade Vida e Paz (CVP) realiza dia após dia. Como sente esta luta para ultrapassar a indiferença?

Henrique Joaquim (HJ) - É o nosso desafio diário e noturno. Este desafio do Papa tem para nós duas dimensões: uma ‘agri’ e outra ‘doce’. Doce no sentido que vem reforçar a nossa missão, a nossa essência que é ir ao encontro e ultrapassar os 

 

nossos limites, indo para lá das periferias à procura daqueles que mais precisam ultrapassando todas as barreiras, todos obstáculos, desde logo o primeiro que é sermos indiferentes a esta realidade.

O ‘agri’ porque infelizmente é preciso o Papa continuar a insistir, ou vozes da Igreja continuarem a insistir, sobre a necessidade de estarmos ao serviço dos outros porque se trata de um problema que tem múltiplas causas mas que é difícil resolver enquanto nós não o enfrentarmos, enquanto formos indiferentes.

 

 

 

 

 

AE – Recentemente o Papa falou os participantes de um encontro sobre alimentação pondo em causa o paradoxo que existe: alimentação para todos mas muitos continuam a passar a fome. Há um paralelismo com a pobreza: há riqueza para todos mas muitos continuam pobres. A mudança que é necessária pela pelo olhar, pela atenção?

HJ – Hoje nós sabemos que quer a nível mundial quer a nível local, teríamos as condições mínimas necessárias para que ninguém passasse fome. Também sabemos que há pessoas que lutam para que isso deixe de acontecer, pessoas que se continuam a dar, a entregar.

Eu julgo que um dos fatores

que levam a esta grande

discrepância decorre do

progresso que conseguimos

dando-nos condições

de vida e bem-estar mas ao

mesmo tempo toldou-nos a consciência para o mundo

à nossa volta.

As situações de fragilidade

mostram-nos o espelho

 

 

de que quem somos. As necessidades satisfeitas criam a ideia, inconsciente, de autossuficiência. É a necessidade que nos faz despertar para a realidade finita que somos. Na vulnerabilidade somos todos iguais.

 

 

 

AE – Em que é que o outro, que é diferente e está numa atitude de fragilidade como uma pessoa sem-abrigo, pode desafiar os cristãos?

HJ – Pessoalmente mostra-me a minha própria fragilidade. Quando mantemos o olhar aberto, não ficamos indiferentes. Nós temos de nos perguntar: «E se fosse eu?» Podia ser eu, e se podia ser porque é que não sou? O que é que eu faço, então, com o que sou?

Colocamo-nos uma série de perguntas a partir da situação do outro. Tudo a partir dai se relativiza: a autossuficiência, a ideia, ainda inconsciente que possa ter criado que não preciso ou que o que tenho é meu por direito. Esbate-se porque passo a ter consciência que se calhar tenho coisas que não são minhas por direito, ainda que as tenha conquistado e devo colocá-las ao serviço dos outros.

Há pouco tempo uma pessoa que é voluntária há muitos anos e tem uma situação de vida muito complicada dizia-me: “Eu se não tivesse ajuda, neste momento, podia ser uma pessoa sem-abrigo”. Esta é a frase que ouvimos repetidamente de pessoas cujo olhar está de facto desperto 

 

para a fragilidade, não está centrado na ceia que se dá ou na roupa que se dá. Isso é o mínimo que se pode fazer.

Da pessoa que, supostamente ajudamos, recebemos como resposta um auxílio existencial e até espiritual porque nos questiona e nos provoca uma mudança. Eu acho que temos tudo a ganhar em deixarmos de ser indiferentes.

 

AE – O Papa nesta mensagem recorda a passagem bíblica do lava-pés em que Pedro recusa que Jesus lhe lave os pés: “Não Senhor, não me vais lavar os pés” e Jesus coloca-o noutra posição: “Se eu não te lavar os pés, não me poderás lavar os pés a mim”. Acontece o mesmo com os voluntários da CVP? São os próprios sem-abrigo que lavam os pés aos voluntários?

HJ – No encontro entre Jesus e Pedro dá-se um encontro de corações mais do que pessoas. A dificuldade está na posição de Pedro que só depois percebe a relação de empatia com Jesus, nessa mística do encontro que Jesus provoca.

As pessoas sem-abrigo provocam-nos isso também. Nós temos é de estar na predisposição e na disponibilidade para gerar essa mística desse 

 

 

 

 

encontro. Quando isso acontece é o outro que me está a lavar a mim das limitações que eu tenho e que me impedem de ver a fragilidade, a vulnerabilidade, a finitude que eu sou. Isso são limitações, ao contrário do que nós possamos pensar porque temos roupa, casa, família, porque somos felizes, rezingões, temos dinheiro. Tudo isso, para mim, são condições de bem-estar mas podem ser simultaneamente condições 

 

de limitação que nos impedem de disfrutar delas.

Portanto, quando nós vamos para esse encontro e vamos de olhos abertos e de coração disponível gera-se essa mística no encontro e acontece a relação. É desta relação que muitas vezes se dá a transformação das duas pessoas, a do voluntário que vai para ajudar e sai ajudado e da confiança que se gera no outro que muitas vezes se deixa ajudar e transformar do ponto de vista físico e espiritual.

 

 

 

AE – O que é que a Igreja ganha ao deixar-se questionar pela situação das pessoas sem-abrigo?

HJ – Ganha em humanidade acima de tudo. Ganha em realidade, em sensibilidade. Ganha em relações muitíssimo mais amáveis e mais amadas. Em bondade, não no sentido de ser bonzinhos, em simplicidade, de se auto reconhecer simples, de se auto reconhecer limitada, simultaneamente humana e divina.

O dar-se implica predisposição transcendental. Eu muitas vezes não faço isso por mim: a mim não me apetece sair numa noite de frio de 

 

 

rachar, apetece-me muito mais estar no sabor do meu lar à lareira, com as minhas filhas ou a ver um programa de televisão.

Não somos uns heróis. Todos temos as mesmas tentações, as mesmas  vontades, sensações e comodismos e isso é legítimo, é humano. Mas tenho um ato de bondade e concretizo esse ato disponibilizando o meu bem-estar para poder fazer acontecer vida na vida dos outros. E vou para que o outro faça acontecer vida na minha, eu acho que isto é um autêntico lava-pés. No sentido simbólico, obviamente, mas também no sentido real.

 

 

 

 

Nestas relações geram-se dívidas e saldam-se dívidas. Sou muito grato a estas pessoas que me interpelam porque dão-me o sentido da minha vida e não posso ficar quieto com isso, tenho de retribuir, que replicar isso com os outros.

Quando estamos mergulhados na realidade tal como ela é, com simplicidade, humildade mas também com ousadia, com coragem tornamo-nos mais humanos e mais divinos, não pela heroicidade mas pela simplicidade.

 

AE –Pedro era aquele apóstolo que estava sempre disponível, mas perante as fragilidades muitas vezes recuava. Jesus usava essa fragilidade para se manifestar…

HJ – Penos que o grande segredo do cristianismo está exatamente num critério no contrário do que vivemos hoje. Vivemos na apologia do bonito, do belo, do crescido, do maior, do crescente, e Jesus tem tudo o contrário. A liberdade, a confiança, o amor, a paz e a verdadeira felicidade que vem do resultado de tudo isto é-nos dado por nos reconhecermos e na nossa essência. A nossa essência é humana e divina. Não uma divindade extraterrena mas uma capacidade que nos leva à transcendência porque conseguimos fazer atos inconcebíveis inicialmente.

 

Na rua andamos cinco ou 10 anos a acompanhar uma pessoa e ficamos felicíssimos quando uma noite a pessoa diz que se quer ajudar. Depois percebemos que não foi aquela noite, foram todas as noites que estão para trás. Isto é um ato transcendente. É nosso na medida que fomos nós também que o vivemos, e somos nós que o tornamos transcendente.

Viver o contrário é muitas vezes viver pelo medo e às vezes a indiferença é a capa que tenta esconder este medo. As pessoas não são indiferentes porque não veem mas porque não sabem o que fazer com a situação, porque já não estão educadas, sensibilizadas para lhe dar resposta.

Uma pessoa em situação de sem-abrigo é o limite da nossa vida, está para lá da periferia, é uma situação miserável e isso exige que eu consciente ou inconscientemente tenha de reconhecer que podia lá estar. Isto gera medo, insegurança e numa legitimidade, que acho que é humana, protegemo-nos e preferimos ignorar. O nosso desafio é dizer mas porquê ter medo? Faz parte de nós. Que tal reconhecê-la e vivê-la com um sentido muito mais transcendente. Eu acho que é essa a proposta de Jesus e é por isso que o Papa nos desafia a interpelar e a questionar essa indiferença.

 

 

 

AE – É por isso que Quaresma é desafiante para quem se predispõe pôr-se a caminho?

HJ – Eu costumo dizer que a Quaresma é um tempo de transformação. Todo o caminho da vivência de Jesus, o sofrimento o calvário, a cruz mas fundamentalmente a ressurreição é um processo que está interligado. É-nos dada uma chave de leitura gratuita para a nossa vida. Podemos perceber que toda a vida tem sofrimento, situações limite, mas também toda a situação limite tem uma resposta, uma possibilidade por ínfima que ela pareça ser.

Os Apóstolos não a perceberam. Acreditamos que provavelmente Maria terá percebido: não viu mas acreditou que alguma coisa poderia acontecer porque não faria sentido não acontecer. Se calhar tinha uma esperança mais lúcida que os Apóstolos. Eu acredito numa mulher muito humana, muito simples que no fundo o coração tinha a certeza que alguma coisa ia acontecer, que aquilo não podia acabar ali. E esta é a chave de leitura que nos é dada.

Queremos passar depressa do sofrimento para a ressurreição e achamos que a vida é toda uma 

 

alegria e isso é uma falácia.

Com a chave de leitura que é dada, os cristãos têm a responsabilidade de aprofundar com seriedade a sua vida, de assumir situações limite, fragilidades, carências e sentidos de esperança, de renovação, de transformação.

Gandhi dizia «Sê a transformação que queres ver no mundo». Jesus diz o mesmo com a sua vida: transforma-te e sê a transformação que queres deixando-te transformar por mim.

É possível acontecer a ressurreição. Podemos ficar frustrados por esperamos a espetacularidade. A ressurreição às vezes é simples, discreta, quase nem se vê mas são vidas que mudam, as nossas e as deles.

 

AE- Uma ressurreição assente também na fé, naquilo que aparentemente pode não existir mas está lá?

HJ – A ação exige sempre uma vontade, um ato de coragem mas exige também uma esperança sempre alimentada. Não seremos nós a resolver o problema, mas se não estivermos provavelmente mais ninguém está. Poderemos ser o elo da cadeia que vai permitir a pessoa chegar à resolução do problema. 

 

 

 

 

 

 

 

 

Se vamos ser nós ou não a ver a verdadeira transformação da pessoa isso é o menos relevante. Importa que contribuímos para um sentido para a dignidade e para uma vida com condições.

Isto exige esperança para acreditar que se nós pusermos a nossa parte Deus também não falha.

Para mim é um ato de fé: não vejo se está lá a solução mas acredito

 

 que Deus trabalha por detrás das situações quando não estou, quando não vejo e a outra pessoa também se deixa trabalhar por Deus ainda que lhe chame outra coisa qualquer. Trata-se de estar recetivo ao dia que a mudança acontece. Foi coincidência, não. A ação humana está lá mas o divino também se cruzou e também potenciou o humano. 

 

 

Solidariedade e Espiritualidade nas mensagens dos bispos para a Quaresma

A ECCLESIA apresenta uma síntese de várias mensagens quaresmais de bispos portugueses, centradas na solidariedade dentro e fora de portas, bem como na necessidade de viver a preparação para a Páscoa como um caminho de conversão interior.

O principal destino da chamada ‘renúncia quaresmal’ são este ano os Centros de Recuperação Nutricional na Guiné-Bissau, projeto apoiado pela Fundação Fé e Cooperação (FEC) que em 2015 celebra o seu 25.º aniversário. Os 25 centros são um projeto da Cáritas guineense com âmbito nacional que acolhem mais de 60 mil crianças, dez mil famílias e 320 comunidades por ano.

Também os cristãos do Médio Oriente foram recordados por vários bispos, bem como as vítimas da crise económica em Portugal.

Todas as notícias sobre este tempo litúrgico da Quaresma podem ser consultadas em agencia.ecclesia.pt/tag/quaresma/

 

Algarve

D. Manuel Neto Quintas pede a colaboração de todos, solicitando 

 

que as suas renúncias quaresmais possam contribuir para o apoio de duas instituições: o Vicariato da Pedra Mourinha, comunidade que necessita de verbas para a conclusão da construção da igreja; e o projeto da FEC na Guiné-Bissau.

 

Aveiro

O bispo de Aveiro anunciou que a diocese vai ajudar os cristãos do Médio Oriente, particularmente do Iraque e da Síria, e reforçar o orçamento da casa sacerdotal com os contributos dos católicos que forem recolhidos durante a Quaresma. “A conversão também exige mais penitência, jejum e partilha com as maiores necessidades dos irmãos e da Igreja”, refere D. António Moiteiro.

 

Beja

O bispo de Beja vai destinar parte da renúncia quaresmal deste ano, na diocese alentejana, para ajudar as vítimas da erupção vulcânica na Ilha do Fogo, em Cabo Verde. D. António Vitalino realça que “espalhados pelos espaços geográficos” existem 

 

 

 

 

“muitas pessoas esquecidas” a necessitarem de ajuda.

“Se somos cristãos, se o Espírito de Deus nos habita e dinamiza, não podemos ficar indiferentes”, exorta o prelado.

 

Braga

D. Jorge Ortiga convida a apoiar o ‘Fundo Partilhar com Esperança’, que em três anos distribuiu mais de 230 mil euros, ajudando 726 famílias e 2075 pessoas a pagar rendas de casa (80% dos casos), medicação, água, luz e tantos outros bens de primeira necessidade.

“Infelizmente e no meio de discursos políticos que tentam convencer-nos dum crescimento económico gerador de igualdade de tratamento para todos os portugueses ainda somos interpelados por situações que não podem esperar e aumenta o número daqueles que vivem com rendimentos abaixo do limiar da pobreza”, adverte.

A arquidiocese minhota vai ajudar também a Diocese de Pemba, Moçambique, com quem assinou um protocolo de cooperação missionária em outubro de 2014.

 

 
 
Bragança-Miranda

D. José Cordeiro, bispo de Bragança-Miranda, saúda os 25 anos da FEC, cumpridos “ao serviço dos mais pobres” e do “desenvolvimento humano integral”. Os donativos recolhidos durante a Quaresma, na diocese transmontana, vão ser canalizados para o projeto da FEC na Guiné-Bissau.

Frisando que “o sentido” da renúncia “é o da abertura aos outros”, o bispo de Bragança-Miranda faz votos de que a preparação para a Páscoa seja também uma época marcada pela “globalização da misericórdia e da caridade na oração”, como “convida o Papa Francisco”.

 

 

 

 

Évora

A Arquidiocese de Évora vai destinar a renúncia quaresmal deste ano para o apoio aos cristãos perseguidos por causa da sua fé, no Médio Oriente. D. José Alves desafia as suas comunidades a serem “ilhas de misericórdia” junto dos mais necessitados e recorda o sofrimento por que passam todos os dias “muitos milhares” de cristãos, “de todas as idades incluindo crianças”.

 

Funchal

O bispo Funchal anunciou que a renúncia quaresmal dos católicos madeirenses vai ter como destino o Fundo Social Diocesano e a rede de Centros de Recuperação Nutricional na Guiné Bissau.

“Em espírito de solidariedade e partilha fraterna, pensamos nas situações de carência mais próximas de nós, mas não esquecemos, também, tantas outras necessidades materiais e espirituais, com que se debatem os nossos missionários, na sua ação evangelizadora”, explicou D. António Carrilho, durante a Eucaristia de Quarta-feira de Cinzas.

 

 
 
Guarda

Na mensagem para a Quaresma, intitulada ‘fortalecer a nossa responsabilidade missionária contra a globalização da indiferença’, D. Manuel Felício adianta que pretende “dar expressão” à responsabilidade missionária na diocese através da “valorização” do Centro Missionário D. João de Oliveira Matos, na Diocese de Sumbe, em Angola. O bispo da Guarda revela ainda que a renúncia quaresmal da diocese vai também apoiar os Centros de Recuperação Nutricional na Guiné-Bissau

 

Lamego

D. António Couto a Quaresma como um “tempo de diferença, e não de indiferença”, para ir ao encontro das “periferias do mundo”. “Peço aos meus irmãos e irmãs da nossa Diocese de Lamego para abrirmos o nosso coração a todos os que sofrem aqui perto e lá longe", escreve o prelado, na sua mensagem para este tempo litúrgico.

O bispo de Lamego adianta que uma parte do montante recolhido na tradicional renúncia quaresmal vai 

 

 

 


 

 

 

financiar o Fundo Solidário Diocesano, criado para ajudar as vítimas da crise económica. “Olhando para os nossos irmãos e irmãs de longe, vamos destinar outra parte do esforço da nossa caridade para apoiar os 25 Centros de Recuperação Nutricional da Guiné-Bissau”, acrescenta.

 

Leiria-Fátima

O bispo de Leiria-Fátima destaca a Quaresma como um tempo para “cuidar da formação do coração”, da “vida interior e comunitária” e alerta para a importância de combater a “indiferença” que tomou conta da sociedade. Numa mensagem dedicada a este tempo litúrgico, D. António Marto pede “atenção para que este perigo não atinja também a família”.

Este ano, “um terço” da renúncia quaresmal da Diocese de Leiria-Fátima vai ser dedicada a um projeto da Fundação Fé e Cooperação na Guiné-Bissau. D. António Marto conta com a “generosidade” das suas comunidades a favor destes projetos, que envolvem “crianças carenciadas” e uma obra que estará “ao serviço de toda a diocese”, sublinhou.

 

 
 
Lisboa

O cardeal-patriarca de Lisboa desafiou a comunidade católica a procurar soluções para a crise, na sua mensagem para a Quaresma 2015, lamentando que alguns sinais de “recuperação” tardem em ter consequências na vida de muitos. O patriarca de Lisboa anunciou que a renúncia quaresmal de 2015, este contributo dos católicos vai apoiar instituições sociais diocesanas: a Casa do Gaiato de Lisboa e a Comunidade Vida e Paz.

 

 

 

 

 

Portalegre-Castelo Branco

A Diocese de Portalegre-Castelo Branco vai reunir nesta Quaresma apoio monetário para os seus pobres e também para os cristãos perseguidos no Médio Oriente. Numa nota enviada à Agência ECCLESIA, o bispo diocesano, D. Antonino Dias, salienta que a preparação para a Páscoa “é tempo de alargar as medidas, capacidades e horizontes do coração humano”, à imagem “de Cristo”.

 

Ordinariato Castrense

D. Manuel Linda revela na sua mensagem para a Quaresma 2015 que 50% do montante recolhido na chamada ‘renúncia quaresmal’ vai ser destinado às “situações mais aflitivas” existentes no interior do Ordinariato Castrense (militares, agentes de segurança e civis). A outra metade vai ser canalizada para África, por intermédio do Conselho Pontifício Justiça e Paz, do Vaticano, “para organismos que estão, no terreno, a lutar contra o terrível (e, agora, algo esquecido…) vírus Ébola”.

 
Porto

O bispo do Porto alertou no início da Quaresma para o “oceano de indiferença” que “afoga os mais frágeis e asfixia os mais pobres” da sociedade, pedindo a intervenção solidária dos católicos. Neste contexto, o prelado anunciou que a renúncia quaresmal da diocese se vai destinar, em parte, às “crianças e famílias” da Guiné-Bissau apoiadas pela FEC. O contributo vai reforçar também o Fundo Social Diocesano, para ir ao “encontro dos mais pobres” do Porto, onde a presença “solícita e pronta” da Igreja continua a ser “imprescindível”.

D. António Francisco dos Santos pediu aos católicos que participem na recolha de roupas a favor das crianças sírias refugiadas em campos no Líbano e na Jordânia.

 

 


 

 

Santarém

O bispo de Santarém propôs às comunidades católicas uma maior ação nas “periferias onde vivem muitas pessoas com carências e necessidade de ajuda”, durante o tempo da Quaresma. “Prestemos, portanto, maior atenção, apreço e solidariedade aos mais sofredores”, escreve D. Manuel Pelino, na mensagem para o tempo litúrgico que antecede a celebração da Páscoa, no calendário católico.

A diocese vai apoiar o projeto da FEC na na Guiné-Bissau.

 

Viana

O bispo de Viana do Castelo apelou à “luta contra a atitude egoísta da indiferença”, na sua mensagem para a vivência da Quaresma e da Páscoa. “É nesta luta contra a indiferença que inserimos o contributo penitencial deste ano”, explicou D. Anacleto Oliveira sobre os dois destinos que “se integram” no atual projeto pastoral da diocese.

A comunidade católica de Viana do Castelo vai apoiar os Centros de Recuperação Nutricional, na Guiné-Bissau, e o restauro do Centro Pastoral Paulo VI, edifício diocesano “usado para a formação e a vivência de espiritualidade cristã”.

 

 
 

Vila Real

O bispo de Vila Real desafiou os católicos da diocese a olharem com particular atenção para os mais pobres durante a Quaresma. D. Amândio Tomás revela que a tradicional renúncia quaresmal vai este ano destinar-se, em parte, aos “pobres de cada uma das Conferências de São Vicente de Paulo”. O bispo destinou ainda “uma fatia igual do dinheiro recolhido” para as crianças da Guiné-Bissau. 

 

 

 

 

 

Salvar os mais velhos da indiferença

A primeira-dama portuguesa visitou em Lisboa a “Residência dos Velhinhos”, da congregação das Irmãzinhas dos Pobres, para entregar um donativo de 2508 euros referente a duas iniciativas solidárias promovidas no Palácio de Belém. Em entrevista à Agência ECCLESIA, Maria Cavaco Silva destacou o serviço “notável” que as religiosas prestam aos mais idosos, considerando-as um exemplo para o país.

“Elas têm uma preocupação enorme com a dignidade destas pessoas, e isso é uma coisa que infelizmente a sociedade vai esquecendo, apesar de ter cada vez mais idosos”, frisou.

A primeira-dama enalteceu depois o papel das instituições da Igreja Católica “que trabalham com os que menos têm” e onde “todo o cêntimo é bem aproveitado”. “Talvez as pessoas não deem suficientemente valor ao papel da Igreja, ela é uma almofada que tem evitado que muitas pessoas caiam definitivamente na miséria total, na desgraça”, apontou.

Fundada em França no ano de 1839, por Santa Joana Jugan, a ordem das Irmãzinhas dos Pobres tem como missão ajudar “quem sofre por 

 

causa da idade, da pobreza, da solidão e outras dificuldades”, e está espalhada um pouco por todo o mundo.

Em Portugal conta com duas casas, uma em Campolide – Lisboa, e outra no Porto, que funcionam sem qualquer tipo de apoio do Estado, já que o carisma da congregação assim o determina. Os custos relacionados com o serviço aos idosos, desde o alojamento à alimentação, passando pelo vestuário e cuidados médicos, são comportados em parte pelas pensões dos utentes e o resto através dos donativos que as irmãs vão conseguindo angariar.

“Todos os gestos de partilha são bem-vindos porque são idosos com pensões muito pequenas e se não for esta ajuda que nos chega através de muitos meios não seria possível fazermos frente às despesas”, frisou a irmã Natália de Jesus, superiora da casa das Irmãzinhas dos Pobres em Lisboa.

A “Residência dos Velhinhos” acolhe atualmente 99 idosos, mas “a lista de espera é ainda maior”. “Chegam-nos pedidos de todos os lados, das famílias, das pessoas amigas, de vizinhos, e vamos acolhendo 

 

 

 

 

 

segundo as possibilidades e as vagas. Alguns têm filhos mas eles não têm possibilidades de os acolher, de os ter, e também nos chegam muitos idosos não têm ninguém, e casais também”, explicou a religiosa.

Mais do que comida, roupa ou medicamentos, a grande 

 

necessidade da obra neste momento é de “camas ortopédicas”, para os utentes que têm maior dificuldade de movimentos. Quanto à congregação em si, o maior desafio é a falta de vocações, que tem levado ao fecho de diversas obras, a última das quais em Espanha.

 

 

Cartuxa: Todo o ano no deserto

O Prior da Cartuxa Scala Coeli de Évora, dom frei Antão Lopes, considera que o tempo da Quaresma corresponde ao quotidiano da Cartuxa, onde se vive “todo o ano no deserto”. "O deserto é o significado da Cartuxa. A nossa vocação consiste em passar todo o ano no deserto, todo o ano sozinhos com Deus e jejuando", afirmou dom frei Antão Lopes à Agência Ecclesia.

Para o Prior da Cartuxa de Évora, o deserto do monge é a sua cela, que nela passa a maior parte do tempo. "Este espaço liga-nos ao deserto da Judeia, a esse ar livre, à natureza para onde Jesus se retirou. Liga-nos também aos primeiros ermitas da Igreja que se retiravam para os desertos do Egito e da Síria, Santo Antão, São Paulo Eremita, São Pacómio… todos eles procuravam imitar Jesus num lugar que facilitasse, a natureza", sublinhou.

No ambiente da Cartuxa, o prior do mosteiro de Évora disse que o tempo da Quaresma “não difere muito do resto do ano”, apesar do jejum ser "mais forte" e a liturgia "mais abundante e rica", com mais tempo para a oração e o canto.

 
Dom frei Antão Lopes conta que quando a comunicação social fala da Cartuxa, valoriza o jejum, mas que os monges não lhe atribuem assim tanto relevo. "É algo que entra na normalidade da nossa vida. O facto de comermos pouco e de forma mais simples é algo que nos deixa mais tempo livre e é mais económico. O que para nós é importante é a oração. Esse é que é o aspeto forte da nossa vocação”, sublinhou.

O dia na Cartuxa divide-se em três partes (oito horas de oração, oito horas de trabalho e oito horas de descanso), onde a leitura tem um lugar central na formação espiritual do monge, nomeadamente da Bíblia, à semelhança da experiência de deserto vivida por Jesus

"Não nos podemos esquecer que Jesus, no deserto, venceu as tentações com a Palavra de Deus. Para nós, a Escritura é uma ajuda fenomenal. Nós também temos as nossas tentações, as nossas ideias, pensamentos que por vezes brotam dentro de nós. A Escritura e principalmente o Evangelho é muito importante", sustenta frei Antão Lopes.

Apenas com 6 monges, 

 

 

 

 

 
 
 

o radicalismo da vida na Cartuxa de Évora tem por dificuldades principais “a solidão e a família”. “A renúncia à família custa muitíssimo, custou-nos a todos, a solidão também custa, mas ela é um meio para se chegar até Deus", refere.

O Mosteiro da Cartuxa, em Évora, remonta a 1587, ano em que se iniciou a sua construção pelo arcebispo D. Teotónio; os primeiros monges chegaram em 1598 e aí permaneceram até à expulsão das ordens religiosas em 1834, quando

 

o espaço se tornou propriedade do  Estado e albergou uma escola agrícola que transformou a igreja do mosteiro em celeiro. Em meados do século XX, Vasco Maria, conde de Villalva, restaurou o mosteiro e devolveu-o à Ordem de São Bruno para acolher a vida cartusiana em Santa Maria Scala Coeli.

A reportagem sobre o mosteiro da Cartuxa em Évora vai ser emitida no programa '70x7' deste domingo, às 11h30, na RTP2.

 

 

Combater a pobreza nas paróquias

O Papa Francisco não deixa de nos surpreender e de nos inquietar com as suas mensagens sejam elas verbais ou escritas. As duas mais recentes são a habitual mensagem para a Quaresma, que agora iniciamos, e a homilia na celebração eucarística com os novos cardeais.

A mensagem para Quaresma é um texto belo e de uma clareza impressionante. É um texto que devemos aproveitar para reflexão pessoal mas que poderá ser também objeto de reflexão nos diferentes grupos existentes nas nossas dioceses e paróquias.

Entre muitas outros ricos trechos desta mensagem, optei por esta: “Em segundo lugar, cada comunidade cristã é chamada a atravessar o limiar que a põe em relação com a sociedade circundante, com os pobres e com os incrédulos. A Igreja é, por sua natureza, missionária, não fechada em si mesma, mas enviada a todos os homens”. Eis um enorme desafio à consciência eclesial de cada uma das 4.350 paróquias que são a Igreja que está em Portugal.

Em que medida é que nos nossos planos pastorais são tidos em devida preocupação eclesial os mais pobres 

 

e excluídos da nossa sociedade e até mesmo os não crentes? Não duvido que muito têm feito as nossas paróquias para minorar a pobreza que, nos últimos anos, atingiu, dolorosamente, tantas famílias portuguesas, mas temos de aceitar que a maior parte das preocupações pastorais continuam muito direcionadas para o interior de cada comunidade cristã com desproporcionadas preocupações no dinamismo missionário, incluindo aquele que é a essência da missão da Igreja: a prática da caridade. Isto mesmo já o disse o Papa Emérito Bento XVI: “A natureza íntima da Igreja exprime-se num tríplice dever: anúncio da Palavra de Deus (kerygma-martyria), celebração dos Sacramentos (leiturgia), serviço da caridade (diakonia). São deveres que se reclamam mutuamente, não podendo um ser separado dos outros. Para a Igreja, a caridade não é uma espécie de atividade de assistência social que se poderia mesmo deixar a outros, mas pertence à sua natureza, é expressão irrenunciável da sua própria essência.” (DCE 25a).

A Quaresma é referida pelo Papa Francisco, nesta sua mensagem, 

 

 

 

 

 

 

 

como tempo de “renovação para a Igreja, comunidades e fiéis”. É indiscutível de que o grande desafio está na conversão interior de cada cristão, de modo a permitir “a Deus revesti-lo da sua bondade e misericórdia, revesti-lo de Cristo para se tornar, como Ele, servo de Deus e dos homens.” Mas também deverá ser o tempo para a renovação de algumas das práticas pastorais. Não será, por isso, displicente que no nº2 da Mensagem, o Papa Francisco 

 

retome a pergunta que Deus fez a Abel: “Onde está o teu irmão?” (Gen 4, 9)

Então, que a Quaresma seja uma oportunidade de cada paróquia repensar como tem organizado a sua ação social de modo a que ela seja capaz de colocar no “ limiar que a põe em relação com a sociedade circundante, com os pobres e com os incrédulos.”. Não podemos continuar a manter uma ação social que se limita a distribuir bens pelos mais 

 

 

 

 

 

carenciados e que dispensa o combate por mais justiça social.

Para que isso aconteça é necessário que os cristãos, particularmente os que estão nas comunidades investidos de responsabilidades sociocaritativas, se preocupem também em conhecer a realidade socioeconómica e, muito importante, em conhecer o Pensamento Social Cristão.

Esta tem sido a preocupação da Cáritas Portuguesa nos últimos anos. O programa de formação “+Próximo” é o resultado da nossa preocupação e atenção ao papel dos agentes de ação social de proximidade. Pretendemos, com isto, promover a participação dos indivíduos na procura de soluções para os seus problemas e trabalhar em conjunto, fomentando parcerias transformadoras e abertas aos outros e ao mundo.

O Papa disse que as paróquias devem ser ilhas de misericórdia no meio do mar da indiferença. Perdoem-me a ousadia de substituir a palavra “ilhas”, que me lembra isolamento, pela palavra “oásis” e, assim, reforçar o apelo feito pelo Sucessor de Pedro.

 

Eugénio Fonseca

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Combater a indiferença

Na mensagem que o Papa Francisco nos dirige, para esta Quaresma, somos particularmente alertados para o perigo da indiferença. Cair numa apatia morna é um perigo a que todos estamos sujeitos. Esta doença da alma toma conta de cada um de nós e urge, neste tempo favorável, tomar medidas concretas que nos façam acordar desse mal.

O Papa é claro: cada comunidade é comparada a um corpo. Se algum membro não está bem, é facilmente esquecido. E isso não pode nem deve acontecer. O mesmo se diga de todos os que sofrendo, não estão integrados ou por qualquer razão se encontram excluídos. Urge criar laços, tecidos de ternura que tornem todos mais próximos.

Foi precisamente tendo em conta as palavras que o Papa nos tem vindo a dirigir que, na Paróquia de São Tomás de Aquino, adoptamos determinadas iniciativas destinadas a consolidar o corpo. Eis alguns exemplos:

 

· Criação de um grupo de “cantares de rua” que levou cânticos de Natal às esquinas das ruas que palmilhamos todos os dias na área da paróquia. Uma iniciativa que poderá ser repetida em outras épocas festivas.

 

· Aquino’s Outfest: Os jovens, em pequenos grupos e movidos pelo desafio lançado pelo Santo Padre, saíram para a rua e foram convidando quem passava a vir conhecer a paróquia. Uma verdadeira “malha de partilha e companhia” se entrelaçou pelas ruas da comunidade.

 

· Boletim: Imbuídos do espírito de missão criamos um pequeno jornal chamado TransMissão. Partilhamo-lo igualmente pelas caixas de correio para que a todos se transmita esta “missão”.

 

· Visita Pascal: É ainda nossa intenção continuar um costume que no ano passado “ressuscitamos”: à boa maneira das aldeias portuguesas, fazemos o compasso pascal, a visita aos lares da nossa paróquia.

 

· Concertos: A arte é a linguagem de crentes e não crentes. O espaço paroquial tornou-se lugar de partilha de experiências, sobretudo na área da música, que acolhe e congrega gentes de “diferentes credos”.

 

· Domingo da cesta”. Instituiu-se ao nível da catequese uma iniciativa de recolha de alimentos em que 

 

 

 

 

todas as crianças e famílias são convidadas a partilhar os seus géneros no ofertório da missa dominical. Os Vicentinos e o Centro Social encarregam-se de fazer chegar a quem precisa.

 

· Acompanhamento na dor: em agenda temos ainda programado para breve o acompanhamento de pessoas que perderam um ente querido.

 

 

 

 

É uma alegria imensa sentir que podemos contribuir para que os” lugares onde a nossa Igreja se manifesta (…) se tornem ilhas de misericórdia no meio do mar da indiferença!” É isto que nos move e é por isto que continuaremos a caminhar. Na Quaresma e sempre.

 

Paróquia de São Tomás de Aquino

 

 

 

 

Por uma ética do cuidado

A Comissão Nacional Justiça e Paz (CNJP), 0rganismo laical da Conferência Episcopal, alertou na sua mensagem para a Quaresma de 2015 para os “enormes desequilíbrios sociais” que afetam os portugueses. “O desemprego atinge dramaticamente a sociedade portuguesa criando exclusão a todos os níveis. A pobreza infantil não cessa de aumentar. O trabalho já não faz parte da identidade do ser-se homem ou mulher”, refere o texto, enviado à Agência ECCLESIA.

Partindo do cenário de crise financeira e económica, os membros da CNJP constatam que, “de ano a ano, as fortunas de alguns aumentam” face a “maiorias que não têm o essencial para viver”.

“As nossas sociedades produzem exclusões numa espiral sem fim”, lamenta o organismo católico, na reflexão intitulada ‘Da Globalização da Indiferença a uma Ética do Cuidado’, partindo de uma expressão do Papa Francisco

A “crise” dos mercados mundiais tem trazido “consequências a nível de desemprego, pobreza infantil, vulnerabilização da vida familiar, 

 

exclusão” e, segundo a CNJP, a sociedade portuguesa tem “vindo a assistir com alguma indiferença ao avolumar destes desequilíbrios”.

“Cerca de dois milhões de portugueses estão em situação de pobreza ou na iminência dela. Continuamos a ser pressionados pelas imposições do norte da Europa. Nunca como agora precisamos de coesão social”, adverte o documento.

Nesse sentido, o organismo católico propõe mudanças nas instituições governamentais, a nível nacional e internacional, no sentido de se orientarem para “uma proteção dos mais frágeis e vulneráveis ou mesmo excluídos, das minorias e dos grupos marginalizados”.

O texto deixa críticas ao “mundo misterioso dos mecanismos do ‘mercado”, das empresas e contas bancárias offshore, da especulação e das transações financeiras fictícias”, que representa “os interesses irresponsáveis de uma minoria”.

A CNJP alude ainda às “notícias do terror” que chegam de outros países, atingidos pela “fome, a ausência de condições de saúde e habitação, o atropelo aos direitos humanos 

 

 

 

 

mais básicos”. “O terrorismo que invadiu a Europa também nos bate à porta e está a tornar-se nosso vizinho”, observam os membros desta comissão.

A mensagem de Quaresma deixa um conjunto de questões para a reflexão das comunidades católicas, incluindo perguntas sobre o acolhimento que recebem “aqueles que vivem nas 

 

periferias, sejam elas económicas, sociais, culturais, geográficas étnicas, religiosas, de orientação sexual ou outras”. Os católicos são interrogados sobre a sua posição face ao subemprego, a exploração pelo trabalho, o acesso à saúde, a ecologia, a liberdade de educação ou o direito aos tempos livres, entre outros temas.

 

 

Dignidade, justiça e igualdade

A Fundação Fé e Cooperação (FEC) lançou uma proposta de percurso quaresmal, intitulada “Tempo de Transformações através de Olhares Cruzados”, na qual propõe uma reflexão sobre a dignidade, justiça e igualdade. “Abraçar o outro como meu irmão para lhe dar a dignidade, justiça e igualdade que ele merece. 

 

Abraçar o outro como meu irmão para globalizarmos o mistério do Amor de Deus por cada um de nós”, explica a organização não-governamental para o desenvolvimento, no seu sítio online.

Neste contexto, a FEC pretende que a Quaresma seja um tempo de “reflexão forte” na vida de cada um e “na vida 

 

 

 

 

em sociedade” num percurso em oito etapas, onde sugerem uma dimensão do desenvolvimento.

A instituição destaca que a Quaresma é um tempo de “transformação, de passagem da morte à vida” e os oito pontos “permitem esta passagem” tendo como interpelação o apelo “abraçar o outro como meu irmão”. “As bases de partida para esta reflexão são as leituras próprias da liturgia de Quaresma e Páscoa, sobre as quais apresentamos diferentes 

 

 

 

 

 

meditações a partir de diferentes perspetivas – Olhares Cruzados diante da Cruz e da Ressurreição”, acrescenta a fundação da Conferência Episcopal Portuguesa, sobre o percurso até à Páscoa.

Um instrumento para “iluminar e guiar” este tempo de oração “à luz dos temas do desenvolvimento” é a proposta de Via-Sacra que a ONG católica construiu em parceria com voluntários missionários e entidades de voluntariado missionário.

 
Fundação Ajuda à Igreja que Sofre

A fundação pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) lançou uma campanha de apoio aos cristãos no Médio Oriente que se vai prolongar ao longo de toda a Quaresma 2015.

“A trágica situação em que se encontram milhões de pessoas no Médio Oriente, em particular na Síria, levou a Fundação AIS, a nível internacional, a lançar uma enorme campanha de ajuda de emergência, nomeadamente para as populações que vivem em condições muito precárias em Alepo, Homs e Damasco”, refere uma nota da organização católica enviada à Agência ECCLESIA. A AIS sublinha que, após quatro anos de guerra civil, na Síria “falta quase tudo” e que as populações que não fugiram “estão particularmente fragilizadas”.

 

 

 

Nesta quaresma: Leva contigo a tua oração!

www.passo-a-rezar.net

 

Iniciamos na passada quarta-feira, dia 18 de fevereiro, mais uma quaresma. Penso que uma das melhores formas de nos prepararmos para a Páscoa do Senhor, é através da oração e meditação pessoal. Apesar de já não ser a primeira vez que o aconselho, torna-se inevitável que, mais uma vez, faça a sugestão de visita atenta e cuidada ao sítio deste extraordinário projeto católico nacional sustentado na internet, lançado em fevereiro de 2010.

Este projeto inspirado no sítio pray-as-you-go (originalmente concebido pelos Jesuítas Ingleses) da responsabilidade do Apostolado da Oração, pretende “chegar à cultura da vida daqueles que rezam todos os dias e que, no encontro com Jesus Cristo, ganham força para transformar o mundo”.

O conceito subjacente a este espaço virtual passa pela disponibilização de um ficheiro gratuito em formato de áudio, que pode ser guardado no computador e distribuído pelas diferentes plataformas (Windows, Linux, android, ios) e dispositivos (email, leitor de música digital, 

 

pen drive, smartphone, tablet, etc.). Este arquivo áudio é composto por “uma prece diária de 10 a 12 minutos, com música de fundo, introdução, uma leitura – normalmente o Evangelho do dia – e pontos de oração inspirados na espiritualidade de Santo Inácio de Loyola”. Caso pretenda automatizar a descarga regular das orações diárias, basta efetuar a subscrição do podcast, que “em vez de irmos ao sítio buscar um ficheiro diária ou semanalmente, pode-se deixar o dispositivo de podcast (software) fazê-lo automaticamente”.

Logo na página inicial temos ao dispor os registos áudio das orações distribuídas pelos dias da semana de segunda a sexta, sendo ainda permitido a possibilidade de descarregarmos um ficheiro único que é composto por todas as orações dessa semana. No item “quem somos”, ficamos a conhecer a equipa que compõe este projeto da iniciativa do Secretariado Nacional do Apostolado da Oração, uma obra da Companhia de Jesus (jesuítas) que se dedica à promoção da oração pessoal.

Em passos diários obtemos o resumo da oração proposta para cada semana. Podemos saber quem escreveu 

 

 

 

 

 

as meditações, quais são as leituras bíblicas e ainda quais as composições musicais que fazem parte da cada oração diária.

Por último caso pretenda ir mais além das meditações diárias propostas pode sempre aceder ao item “passos para mais”. Aí dispõe de vários retiros em formato digital para as mais variadas alturas do ano ou da vida.

 

 

 
Fica lançado o repto para que aceda diariamente, durante esta quaresma, a este espaço virtual, porque podemos sempre adaptar a nossa oração pessoal “às circunstâncias da vida de todos os dias e à exigência de mobilidade que nos caracteriza”.

 

Fernando Cassola Marques

 

Via Sacra universaliza mensagem cristã

O livro «Via Sacra para Crentes e não Crentes» partilha e universaliza a mensagem das 14 estações a todas as realidades através da perspetiva de um filósofo e de um empresário “aparentemente” diferentes mas que se complementam. “Uma mensagem para todos, é demasiado forte e universal para os cristãos a reclamarem só para si. O caminho que fazemos é semelhante ao de Jesus Cristo quer tenhamos ou não consciência disso é um dom e podemos ser dom na vida das pessoas”, explicou José Luís Martins.

À Agência ECCLESIA, o filósofo revelou que o livro «Via Sacra para Crentes e não Crentes» foi “mais difícil em teoria”, antes de começar a escrever, uma vez que em “verdade” existe proximidade à vida de cada um onde “todos” caem e se levantam, todos encontram um “amigo inesperado que ajuda”.

“Ficamos contentes quando percebemos que estávamos claramente a abrir as portas e a tentar marcar a diferença numa época caracterizada pela globalização da indiferença”, acrescentou José Luís Martins recordando o apelo do Papa na mensagem para a Quaresma.

 

 
O empresário Paulo Pereira da Silva, presidente da Renova, comenta que a Via-Sacra é um ato de piedade popular que “sempre” o “marcou muito” e sempre gostou de tentar “aprofundar e refletir” sobre esse caminho. “Aparentemente é um caminho que corre tudo mal até acabar na própria morte mas depois há a esperança da ressurreição. De alguma forma dá uma certa tranquilidade em relação ao sofrimento, à vida, ao valor do sofrimento”.

O professor Marcelo Rebelo de Sousa destacou “a experiência muito curiosa” uma vez que os autores são duas pessoas “completamente diferentes” e enquanto uma parte da teoria e o outro da prática “têm maneiras diferentes de ver o mundo”.

“Como é que um não crente olha para este texto e como é que um crente vive este texto. São duas ideias e perspetivas aparentemente inversas e que se cruzam”, acrescentou assinalando que um reflete sobre “Deus é amor” e o serviço dos outros à luz da mensagem cristã”, o outro autor reflete o sentido da vida, do “amor mesmo que não haja Deus”.

Marcelo Rebelo de Sousa contextualizou que “muitos 

 

 

 

 

 

 

 

 

portugueses” identificam-se diariamente com a Via Sacra uma vez que “caem” mais do que uma vez, “têm dificuldades económicas, financeiras, sociais” e depois têm esperança.

A publicação apresenta o modelo “clássico” da via-sacra, com as 14 estações, mas integra duas reflexões, uma para crentes e outra para não crentes, respetivamente pelo filósofo e pelo empresário. “Através da sua experiência de vida partilham as 

 

 

 

estações de uma forma atraente e a grande novidade numa linguagem para crentes e não crentes”, comentou o diretor-geral da Paulus que destacou a necessidade dos católicos falarem destes “mistérios” aos que não crentes.

Nesse contexto, o padre Rui Tereso explica que o livro pretende ser um “instrumento” ao serviço da evangelização não só para alguns mas para todos na “proximidade” pedida pelo Papa Francisco.

 

 

 

 

II Concílio do Vaticano:
Papa quer cardeais intrépidos

 

Com a criação dos 27 novos cardeais, no consistório de 22 de fevereiro de 1965, o Papa Paulo VI esclareceu que a sua intenção não “era tanto fazer crescer o esplendor da estrutura externa” da Igreja mas dilatar “a comunhão interna da Igreja”. Aos novos cardeais, o seguidor da obra iniciada pelo Papa João XXIII realçou: “O que quisemos aumentar, não foi o seu poder falaz, mas sim o seu valor espiritual”.

Devido à distância entre os vários organismos, o Papa Montini pretendeu mostrar uma maior proximidade entre estes, tal como o espírito de “dedicação e serviço”. No fundo, foi intenção do grande construtor do II Concílio do Vaticano (1962-1965) reforçar a “unidade e a vida da Igreja através de uma autoridade mais representativa”.

Mais do que dar aos cardeais “novas honras e privilégios”, Paulo VI pediu-lhe “novos serviços” porque o “peso e a complexidade” do governo central da Igreja estavam a aumentar.

50 anos depois, o Papa Francisco disse palavras semelhantes, no último consistório (14 de fevereiro de 2015), aos 20 novos cardeais, onde estava incluído o bispo de Lisboa, D. Manuel Clemente. “A dignidade cardinalícia é certamente uma dignidade, mas não é honorífica”, disse o Papa argentino na homilia. Ao falar da caridade, o Papa Bergoglio sublinha que esta “não é invejosa, não é arrogante nem orgulhosa” e as “próprias dignidades eclesiásticas não estão imunes desta tentação”.

Na alocução aos novos cardeais, o Papa Paulo VI 

 

 

 

 


 

 

 

desenvolveu “mais claramente o seu conceito de autoridade, relacionando-a com o serviço de unidade” (Cf. Boletim de Informação Pastoral; nº 37-38; Março-Maio de 1965; Página 41). O Papa Montini tem consciência de como o exercício da autoridade “é, por vezes, impopular”. Daí que a intrepidez, a coragem deva ser uma das virtudes dos cardeais: “aceitai, igualmente este dom pelo que pode ter de impopular e de pesado. Que não vos desagradem estas palavras que vos dirigimos no decurso das cerimónias: Deveis mostrar-vos intrépidos. Hoje, o encargo de governar os outros é acompanhado de grandes esforços espirituais”.

No discurso acutilante que serve igualmente para os dias de hoje, o Papa Paulo VI salienta que estes são “mais do que nunca necessários e providenciais” mesmo no interior da Igreja. O Papa que deu corpo ao II Concílio do Vaticano não quer que a Igreja seja “um redil fechado, imóvel, egoísta e exclusivo”, mas um rebanho “aberto, multiforme, com largueza ilimitada e polivalente da caridade”.
 
 
O Papa Francisco não se cansa de fazer os mesmos pedidos, mesmo para o interior da Igreja. Os novos cardeais escutaram as suas palavras…

 

Fevereiro 2015

Dia 20 de Fevereiro

* Fátima - Santuário de Fátima celebra Festa Litúrgica dos Beatos Jacinta e Francisco


* Lisboa - Centro Cultural Franciscano - Lançamento da obra «O Homem nos escritos de São Francisco» da autoria do padre Álvaro Silva com apresentação do padre Cerqueira Gonçalves que falará, para além do livro, também da Antropologia Franciscana (a identidade humana nos Escritos de S. Francisco).


* Lisboa – Sé - Concerto «Os três pastorinhos de Fátima» do compositor de música contemporânea Arvo Pärt.


* Braga - Auditório Vita - Sessão do ciclo «Olhares sobre economia, cultura, política e família» com o neurocirurgião João Lobo Antunes, o selecionador nacional de futebol Fernando Santos e o físico Henrique Leitão.


* Guimarães - Escola EB2/3 João Meira - Alunos de EMRC de Guimarães, em parceria com 

 

uma companhia de teatro e duas instituições particulares de solidariedade social, fazem teatro para ajudar famílias.


* Coimbra - Cantanhede (Centro Paroquial) - Conferência quaresmal sobre o contexto sociocultural da família por Pedro Vaz Patto.


* Viana do Castelo - Monção (salão paroquial) - Jornadas teotonianas sobre a figura de frei Bartolomeu do Mártires e com conferências do padre Jorge Alves Barbosa e monsenhor Sebastião Pires Ferreira. (20 e 21)


* Coimbra – Penacova - Retiro da Quaresma orientado pelo padre Humberto Martins (20 a 22)


* Fátima - Hotel Cinquentenário - III Workshop Internacional de Turismo Religioso sobre «Turismo Religioso: Novas Respostas a Novos Desafios». (20 a 23)

 

 

 

 

 

 

 

 

Dia 21 de Fevereiro

* Lisboa - Convento de São Domingos - Conferência «Simbólicas da luz na liturgia» integrada no ciclo «De onde nos vem a luz?» e proferida por Joaquim Félix.

 

* Vaticano - Encontro do Papa Francisco com Angela Merkel


* Lisboa - UCP (Auditório) - Iniciativa «Faith's Night Out» onde 14 convidados falam de 14 assuntos sobre 1 tema: Fé Católica.


* Lisboa - Bucelas (Auditório da Junta de Freguesia de Bucelas) - Jornada de história da arte sobre «A Igreja Matriz de Bucelas - o Património Artístico».


* Évora - Seminário de Évora - Ação de formação litúrgica para organistas, salmistas e responsáveis de acólitos


* Beja - Sede da Cáritas - Assembleia geral da Cáritas diocesana de Beja com conferência sobre «Família, escola de caridade» por Maria do Rosário Carneiro.


* Fátima - Encontro das equipas de Nossa Senhora

 

 
Dia 22 de fevereiro

* Portimão - A Cáritas Paroquial da matriz de Portimão, Diocese do Algarve, inaugura uma cantina social que funciona em regime de take away.

 

* Lisboa - Mosteiro dos Jerónimos - Conferência Quaresmal de D. Manuel Clemente seguida de uma sessão de apresentação de cumprimentos.

 

* Itália – Ariccia - Exercícios espirituais da Curia Romana orientados pelo carmelita Bruno Secondin e tem como tema geral «Servidores e profetas do Deus vivo». (22 a 27)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

- Hoje, a partir da meia-noite, pode ver no facebook o novo documentário das irmãs Leitão. Inês e Daniela entram com o padre João Gonçalves, coordenador nacional da Pastoral Penitenciária da Igreja católica, na prisão de Aveiro para, no Dia Internacional da Justiça Social, dar conta do trabalho de um sacerdote visitador que há mais de 40 anos alerta para a realidade prisional portuguesa e para a falta de condições. 

 

- Na festa litúrgica dos beatos Jacinta e Francisco Marto, a 20 de fevereiro, o Santuário de Fátima propõe um programa próprio de celebração, tendo como momento alto a estreia nacional da peça musical ‘Drei Hirtenkinder aus Fatima – Os Três Pastorinhos de Fátima’, da autoria de Arvo Pärt, compositor estoniano “de referência na música contemporânea”, a decorrer na Sé Patriarcal de Lisboa.

 

- A Cáritas Paroquial da matriz de Portimão, na diocese do Algarve, vai inaugurar uma cantina social, a funcionar em regime de take away no dia 22 de fevereiro, respondendo ao “elevado número de pessoas carenciadas que habitam no centro da cidade e que, por dificuldade económica ou incapacidade - idade ou doença -, passam dias sem uma refeição confecionada”. 

 

- A Ordem Hospitaleira de São João de Deus foi distinguida pelo Parlamento Europeu com o prémio «Cidadão Europeu», atribuição que vai ter lugar no dia 25 de fevereiro, em Bruxelas. O reconhecimento decorre da “dimensão social ligada aos valores consagrados na Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia”. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Quem pode receber o sacramento da Ordem?

 

 

 

 

 

 

 

 

Programação religiosa nos media

Antena 1, 8h00

RTP1, 10h00

Transmissão da missa dominical

 

11h00 - Transmissão missa

 

12h15 - Oitavo Dia

 

Domingo: 10h00 - O Dia do Senhor; 11h00 - Eucaristia; 23h30 - Ventos e Marés; segunda a sexta-feira: 6h57 - Sementes de reflexão; 7h55 - Oração da Manhã;  12h00 - Angelus; 18h30 - Terço; 23h57-Meditando; sábado: 23h30 - Terra Prometida.

 
RTP2, 11h18

Domingo, dia 22 - A Quaresma no quotidiano da Cartuxa, em Évora.

 

RTP2, 15h30

Segunda-feira, dia 23 -Entrevista ao padre João Gonçalves, sobre o trabalho nas prisões;
Terça- feira, dia 24 - Informação e entrevista ao padre Tiago Neto, sobre a proposta para a catequese no tempo da Quaresma;
Quarta-feira, dia  25 - Informação e entrevista a Miguel Mendes, sobre o projeto Cristo Jovem;
Quinta-feira, dia 26 - Informação e entrevista ao padre Manuel Barbosa sobre a Semana de Estudos da Vida Consagrada;
Sexta-feira, dia 27 - Apresentação da liturgia de domingo pelo padre João Lourenço e Juan Ambrosio.

 

Antena 1

Domingo, dia 22 de fevereiro - 06h00 - Mensagem para a Quaresma do Papa Francisco analisada por Henrique Joaquim, da Comunidade Vida e Paz. Análise informativa com Paula Martinho da Silva.
 

Segunda a sexta-feira, 23 a 27 de fevereiro - 22h45 -  A Quaresma vista e analisada por um consagrado: carmelita Jeremias Vechina.

 

  

 

 

     

 

 

 

 

 

 

Ano B
1.º Domingo do Tempo da Quaresma

 
 
 
 
 
 
 
Conversão na alegria da Boa Nova
 

Neste primeiro domingo da Quaresma, Marcos inicia o seu Evangelho proclamando a encarnação do Filho de Deus. Jesus é plenamente homem, pois é tentado, e plenamente Deus, ao manifestar a vitória do amor sobre o mal. Faz uma declaração: os tempos cumpriram-se. Dirige-se a um povo que espera um Messias que estabelecerá um Reino novo, bem próximo, que vem precisamente trazer a esperança a todo o povo. Mas Deus não impõe a sua vinda, Ele faz-Se desejar. Aqui, duas atitudes do coração são necessárias: a conversão, mudando de vida e voltando para Deus, e a fé, aderindo plenamente com todo o ser à Pessoa de Jesus Cristo.

Aí está a Quaresma, conotada como tempo de penitência, de sacrifícios de toda a espécie, de resistência às tentações, à imitação de Jesus no deserto. Tempo não muito entusiasmante se houver esta acentuação sem partilha concreta! Porém, na breve passagem do Evangelho, Marcos fala duas vezes da Boa Nova, que dilata o coração, traz alegria. Porque não falar de alegria durante a Quaresma? Será que isso desvirtua o seu sentido? Trata-se de conversão. Converter-se é certamente deixar de cometer pecados e voltar a uma vida moralmente pura e recta. Mas a verdadeira conversão é “acreditar na Boa Nova”. E esta é a manifestação do verdadeiro rosto de Deus em Jesus: um Pai que é puro Amor, a fonte absoluta do Amor.

Às vezes, a primeira tentação, a mais terrível, consiste em transpor para Deus as nossas maneiras de amar, de compreender a justiça e o poder. Ora, não é Deus que é à nossa imagem, nós é que somos à sua imagem. A

 

 

 

 

 

 verdadeira conversão consiste em mudar as nossas conceções de Deus para acolher um Pai que nunca para de nos amar, que nunca nos rejeita. E quando recusamos o seu amor, Ele só tem um desejo: manifestar-nos ainda mais o seu amor, até nos dar o seu Filho, para que nos deixemos amar. Quaresma são 40 dias! Não é demasiado tempo para descobrir este Deus!

Ao longo desta primeira semana da Quaresma, vale a pena retomar o Salmo 24 da liturgia deste domingo e rezá-lo em cada manhã, lentamente. Pode ser meditado, “ruminado”. Por exemplo, memorizar um versículo 

 

para cada dia: “Tu és o Deus que me salva”… “Lembra-te, Senhor, da tua ternura”… Repeti-lo várias vezes ao longo do dia, em caminhada com o Senhor. Será uma maneira de viver a exortação à oração em segredo, escutada na Quarta-feira de Cinzas.

Com esta autêntica atitude orante, veremos que os jejuns, abstinências e esmolas só podem ser expressão do amor de Deus, nunca caricaturas de práticas exteriores, sem coração. Aí está a verdadeira conversão na alegria da Boa Nova.

 

Manuel Barbosa, scj

www.dehonianos.org

 

48 mil assinaturas pelo Direito a Nascer

Os promotores da Iniciativa Legislativa de Cidadãos ‘Lei de Apoio à Maternidade e à Paternidade – do Direito a Nascer’ entregaram esta quarta-feira no Parlamento português mais de 48 mil assinaturas, para que o respetivo projeto-lei seja apreciado pelos deputados. A comissão representativa da iniciativa foi recebida pela presidente da Assembleia da República às 17h30 horas, para fazer a entrega das assinaturas e dar início ao processo que levará à votação no Parlamento.

“A finalidade desta iniciativa é apoiar a maternidade e a paternidade e o Direito a Nascer”, precisa um comunicado enviado à Agência ECCLESIA, e as várias medidas propostas visam “apoiar a família, a maternidade e paternidade em meio profissional e social”, “apoiar socialmente a grávida em risco de aborto”, “promover o apoio do pai à mulher grávida”, “dignificar o estatuto do médico objetor de consciência” e “reconhecer o bebé nascituro como membro do agregado familiar”.

O encontro com a presidente da Assembleia da República, Assunção Esteves, demorou cerca de meia hora, tendo depois o grupo seguido para

 

uma audiência com um grupo de deputados das bancadas da maioria. "Os deputados presentes demonstraram grande apreço pela Iniciativa, sobretudo pelo grande empenho de cidadania que ela demonstra", refere a nota de imprensa.

Segundo os promotores da iniciativa, "não se trata de rever o resultado do referendo de 2007, mas de um conjunto de propostas concretas que visam apoiar socialmente a paternidade e a maternidade assim como proteger a vida intrauterina".

Após a verificação das assinaturas, o projeto-lei anexo à Iniciativa será publicado no Diário da Assembleia da República e entregue a uma das comissões do Parlamento.

A Iniciativa Legislativa de Cidadãos começou em novembro do último ano e decorreu sem apoio de qualquer partido, tendo as assinaturas sido recolhidas por pessoas de todo o país. A comissão de subscritores desta Iniciativa Legislativa (a quarta a dar entrada no parlamento desde a lei de 2003 que instituiu este mecanismo de democracia participativa) é constituída por António Pinheiro Torres (Advogado, vice-presidente da 

 

 

 

 

 

Federação Portuguesa pela Vida); Fernando Soares Loja (Advogado, presidente em exercício da Comissão de Liberdade Religiosa, dirigente da Aliança Evangélica Portuguesa); Laurinda Alves (jornalista); Manuel Braga da Cruz (professor universitário, ex-reitor da Universidade Católica); Margarida Neto (médica psiquiatra, ex-coordenadora nacional dos Assuntos da Família); Isilda Pegado (advogada e presidente da Federação Portuguesa pela Vida); Paulo 

 

Adragão (professor universitário de direito); Pedro Luvumba (pastor das Igrejas da Ação Bíblica Portugal); Pedro Vaz Patto (juiz desembargador, presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz); Sofia Reimão (médica neurologista).

O porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa disse, após a apresentação do documento, em outubro de 2014, que os bispos se congratulavam com esta iniciativa legislativa, “perante o grave problema da natalidade".

 

 

Quaresma nas tribos
seminómadas do Quénia

A irmã Beta Almendra, missionária comboniana, recorda as vivências e o anúncio da tradição da Quaresma, do jejum e da abstinência, às tribos seminómadas do Quénia, que faziam “uma refeição por dia”, onde viveu durante sete anos. “Eles entendem, percebem e também precisam de tempos diferentes e percebiam muito bem que a Quaresma é tempo de mais sobriedade, sem tocar tambores [na Missa] para depois chegar à Páscoa e ser um boom”, recordou à Agência ECCLESIA, sobre a vida a 660 quilómetros a norte da capital Nairobi.

Para a irmã Beta Almendra a dúvida foi como falar de jejum e abstinência a pessoas de tribos seminómadas que “comem uma refeição por dia”, a quem não podia “pedir muito mais”. “Quando apresentávamos esta tradição, explicávamos o porquê para refletirmos mais sobre Deus e havia quem fazia jejum o dia todo”, revela a missionária que os caracteriza como “cristãos extraordinários”.

Neste contexto, a Quaresma era vivida pela abstinência de outras coisas que “não tanto a comida” 

 

e pelos valores, “o que podiam melhorar”.

Na memória guarda as primeiras vivências de setes anos no Quénia, quando “era tudo novidade, diferente” e destaca a experiência vivida aos domingos à tarde nas comunidades de base, a Igreja familiar que envolve também os vizinhos mais próximos para “rezar novamente as leituras”, partilhar e tentar “resolver os problemas”. “Olhar para o vizinho independente da religião, porque éramos a minoria, e a campanha quaresmal era muito por estes núcleos de responsabilidade”, desenvolve a irmã Beta Almendra.

A entrevistada deste “olhar” assinala o “contraste muito grande” para a Europa onde “quase nem se conhece os vizinhos”.

O tríduo Pascal era a oportunidade das missionárias combonianas irem ainda mais às periferias, às “comunidades mais longe” e passar uma ou duas semanas em “aldeias sem eletricidade, água, vida simples e acolhedora”.

No deserto do norte do Quénia, a Páscoa em ano de abundância – “água, pastos” – era sinónimo

 

 


 

 

 

 de grandes festas para os povos seminómadas guardadores de animais. “Queriam acolher da melhor maneira que podiam, sentíamos que queriam celebrar e festejar as grandes etapas da vida”, conta a irmã Beta Almendra que recorda as pessoas que vinham para estas celebrações de outras terras e “via-se interesse em celebrar a vida, a ressurreição, o Deus connosco”.

 
A missionária explicou que foi para o Quénia porque queria dedicar-se “à pastoral da catequese” e, neste contexto, formou-se em Ciências Religiosas, na Faculdade de Teologia do Porto, esteve um ano em Londres, Inglaterra, a estudar inglês e partiu de seguida para Nairobi, a capital do Quénia, onde ainda esteve seis meses a aprender suaíli e outro dialeto para “estar mais perto das pessoas nas tribos”.
 

 

ABC da Vida Consagrada (3ª parte)

Hábito

Surge na vida consagrada como símbolo da própria consagração, da primazia de Deus e muitas vezes pela qualidade do tecido ou pelo modelo foi escolhido por ser símbolo de pobreza. Na “Perfectae Caritatis”, nº 17 (Concílio Vaticano II), “recomenda-se que seja simples e modesto, simultaneamente pobre e condigno, além disso consentâneo com as exigências de saúde e acomodado às condições de tempo e lugar e às necessidades do ministério”, caso contrário deverá ser alterado. O próprio hábito e o seu uso ou não são regulados pelo direito próprio dos Institutos, que, no geral, procuram dar a resposta mais concreta à pastoral em que se encontram, incentivando o uso do mesmo ou de roupa secular.

 

Institutos, ordens e congregações

Nos primeiros tempos do cristianismo, quando terminaram as perseguições com o Édito de Constantino, Deus suscita homens e mulheres e à semelhança da comunidade apostólica, convoca-os a viver com Ele, e nalguns casos, a viver em Comunidade.

 

 

Surge a vida eremítica ou anacorética e monacal.

 

Ordens Religiosas: Surgem na Idade Média e procuram responder a problemas concretos, algumas mantém-se até aos nossos dias e, ao longo dos anos ou logo na sua fundação constituíram famílias religiosas, partilharam a sua espiritualidade com diversas formas de vida , até, associações laicais, denominados de terceiros.

As Ordens militares e hospitaleiras - Aparecem com outras formas associativas, pelo século XIII. Surgem como prolongamento e consequência das cruzadas do século XI para combater a expansão muçulmana. São compostas por soldados e monges.

As ordens mendicantes - Surgem numa época em que a Igreja e as próprias ordens religiosas estão instaladas e acumulam riquezas. Coexistem também vários grupos heréticos que se intitulam a renovação da Igreja e vivem a pobreza evangélica.  Distinguem-se os carmelitas, os franciscanos e os dominicanos, que dão uma resposta consoante o seu carisma específico a esta Igreja instalada e ao povo que recusa um Deus pobre pregado por uma Igreja abastada.

 

 

 

 

 

Nos Institutos religiosos temos a Vida Contemplativa e a Vida Apostólica, que só se conseguiu afirmar a partir do seculo XIX. Os Institutos de Vida Apostólica, tanto clericais como laicais, mostram ao mundo o rosto de Deus próximo e atento. 

 

Os Institutos seculares pretendem transformar o mundo a partir de dentro, uma característica própria, é a secularidade, inteiramente consagrados a Deus pela profissão dos conselhos evangélicos,

 

apesar de não serem Institutos religiosos, são reconhecidos pela Igreja.

 

Já as Sociedades de Vida Apostólica perseguem o seu estilo próprio, com um fim apostólico ou missionário, segundo aquilo que o Senhor pediu aos seus fundadores. Algumas assumem expressamente os conselhos evangélicos, se bem que, de forma diferente dos Institutos religiosos e seculares, há que salvaguardar a especificidade.

 
 

 

 

Paquistão: O pesadelo da Irmã Nasreen Daniel

“Não consigo esquecer”

 

 

Muitas pessoas nunca ouviram falar em Maria Iqbal, nem em Shafilla, muito menos na amiga da Irmã Nasreen. Se os Cristãos são perseguidos no Paquistão, as mulheres, então, vivem em constante sobressalto.

 

Maria Iqbal andava no quinto ano. Era a única cristã da sua escola. Um dia, estava num grupo de raparigas quando ouviu a frase que nunca mais irá esquecer: “Não bebas do copo dela porque é cristã!”

Maria já tinha ouvido falar em Asia Bibi, a mulher cristã, mãe de cinco
filhos, que a justiça paquistanesa
considerou culpada do crime
de blasfémia por ter bebido
água de um poço,
“contaminando-o”. 

 

 

 

 

 

 

Asia Bibi está presa, já perdeu todos os recursos na justiça e falta-lhe apenas aguardar que o Supremo Tribunal se pronuncie sobre o seu caso. Se os juízes lhe negarem razão, será enforcada.

Shafilla tinha 14 anos quando foi raptada e violada. Esteve em cativeiro vários meses e o seu estado de saúde era tão frágil que acabou por ser libertada, a troco de um resgate. Apesar de tudo, teve sorte. Não morreu, não foi apedrejada. Não foi queimada viva. A Irmã Nasreen, da comunidade de Loretto, tem um pesadelo desde que visitou uma rapariga na província de Sindh. Não interessa o seu nome. Era jovem, cristã, e estava apenas no nono ano. Um dia, ninguém sabe porquê, contaram ao seu tio, com quem vivia, que estava grávida. Quando regressou da escola, ele chamou-a ao quarto – a casa só tinha um quarto – e despejou gasolina sobre ela. Depois, deitou-lhe fogo. É aqui que começa o pesadelo da Irmã Nasreen. “Quando fui ao hospital, desmaiei. Simplesmente não conseguia olhar. Muitas vezes, a meio da noite, vejo-a. Ela era uma ferida, todo o seu corpo era uma ferida. Eu queria dar-lhe a mão, só para lhe dizer que estava com ela, mas não sabia onde colocá-la.”

 
Histórias trágicas

A menina morreu cinco dias depois. “Foram cinco dias de sofrimento, de gritos, de dor e de agonia. Não consigo esquecer. Ninguém lhe perguntou se estava grávida. O tio, por ser o homem da família, tinha o direito de o fazer.” E fê-lo. No Paquistão é assim. Nunca se vai saber se esta rapariga, amiga da Irmã Nasreen, estava realmente grávida. Se estivesse, o mais provável era por ter sido violada. Mas isso também pouco contaria a seu favor. No Paquistão, para a maior parte das famílias, as mulheres violadas são acusadas de adultério e condenadas. Demasiadas vezes, são mortas.

A Irmã Nasreen conhece bem a história de Asia Bibi, e sabe que o seu marido e os seus cinco filhos têm sido ameaçados, e que vivem quase na clandestinidade. Também a vida deles está em risco. Na verdade, nenhum cristão está seguro. A Irmã Nasreen não tem dúvidas. “Se Asia Bibi for libertada, não creio que possa continuar a viver no Paquistão. Qualquer pessoa, se for acusada de blasfémia, mais cedo ou mais tarde será morta. E quem a matar acredita que irá directamente para o paraíso.”

 

Paulo Aido | www.fundacao-ais.pt

 

 

Um amor para a vida

  Tony Neves   
  Espiritano   

 
 

Não estou seguro de que S. Valentim esteja mesmo ao serviço do amor. Pelo menos, fico com essa impressão por ocasião do Dia dos Namorados onde quase nunca se fale de projetos de vida e, muito menos, de compromissos para a vida. Mas, nesta como noutras coisas, há que focar o essencial e não desistir de lutar por ideais que valham a pena. É aí que me quero centrar.

Conheço muitos casais felizes. Sentiram-se chamados a constituir família. Fizeram caminho de conhecimento mútuo. Casaram e são felizes. Mais ainda: tentam gerar e semear felicidade á sua volta.

Fico sempre fascinado quando vejo casais idosos felizes. Essa é, para mim, a prova maior de que o amor vence tudo quando é tomado a sério por todos os intervenientes. Fico preocupado quando vejo casamentos a romper-se, pais a filhos a desentender-se, às vezes por razões tão fracas de argumentos, mas eficazes na hora da ruptura.

Este Ano da Vida Consagrada que o Papa Francisco lançou como desafio à Igreja tem mostrado ao mundo muitos rostos de homens e mulheres que se sentiram chamados por Deus e por Ele dão a vida. São pessoas felizes, atentas ás periferias e às margens, capazes de dar a vida pelos mais pobres e abandonados das nossas sociedades.

Que herança deixamos aos que vierem depois de nós? Quer as Famílias, quer as Comunidades de Vida Consagrada têm de deixar atrás de si um rasto de entrega total, de serviço, de amor. Não há nada melhor que se possa oferecer. O mundo será 

 

 

 

 

 

 

Luso Fonias

 

 

 

 

tanto mais humano, fraterno e cristão, quanto mais entrega houver. Santo Agostinho disse ‘Ama e faz o que quiseres’ e acho que ninguém disse nada melhor depois, uma vez que quem ama vai querer fazer sempre o melhor para si e para os outros.

 
O Sínodo sobre a Família tem feito correr muita tinta, mas todas as focagens assentam numa palavra: Amor. Jesus disse:’Amai-vos como Eu vos amei’ e S. Paulo garantiu que a fé e a esperança vão acabar um dia, mas o Amor não acaba nunca.

 

 

 

“Pode ouvir o programa Luso Fonias na rádio SIM, sábados às 14h00, ou em www.fecongd.org. O programa Luso Fonias é produzido pela FEC – Fundação Fé e Cooperação, ONGD da Conferência Episcopal Portuguesa.”

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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