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Octávio Carmo 12-55 - Dossier: Tradições de Semana Santa e Páscoa em Portugal 56-59 - Entrevista: Tríduo Pascal Cónego Luís Manuel Pereira D. José Cordeiro
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Lígia Silveira João Meneses
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Foto da capa: LFS
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Opinião |
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A Páscoa nas ruas e nas igrejas de Portugal
Entrevista ao cónego Luís Manuel Pereira, pároco da Sé de Lisboa
Papa Francisco
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Boas notícias |
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Octávio Carmo Agência ECCLESIA |
O mundo (ainda) segue com atenção as palavras e os gestos do Papa Francisco no início do seu pontificado e essa atitude representa, para a Igreja Católica, uma boa notícia: enquanto o tratamento mediático dos acontecimentos se centrar no que o sucessor de Bento XVI diz e faz, em vez de construções mais ou menos romanceadas sobre a realidade do Vaticano, será possível transmitir uma mensagem mais genuína e próxima das pessoas. O cardeal que veio do fim do mundo e foi eleito como bispo de Roma quer uma Igreja atenta às periferias e tem insistido na ideia de «sair»: da rotina, do cansaço da fé, das paredes que encurralam o dinamismo da mensagem católica, dos medos perante o mundo. O exemplo tem partido dele próprio, pronto para ser fiel ao que acredita e romper com os protocolos, dando o testemunho mais adequado num mundo em que a comunicação é cada vez mais feita de imagem e de interação do que de palavras. A aproximação a quem sofre (e são cada vez mais), a quem se sente abandonado pelos “poderes” do mundo ou esquecido pelos outros é uma missão de sempre da Igreja Católica que qualquer Papa fará bem em recordar. O desafio que se coloca no atual pontificado é de tornar relevante esta linha de orientação, traduzindo a mensagem de fé em sinais visíveis, concretos, que deem |
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sentido a um mundo que procura rumos e se sente ameaçado por cada vez mais perigos. Francisco assume, neste contexto, um papel de particular importância: tem de “construir” pontes, como o próprio assumiu, mas também derrubar muros, abrir caminhos, criar convergências com todos os que lutam pelos mesmos objetivos sem perder a identidade. A missão da Igreja, que vai muito para lá da vida no Vaticano, é “sair”, como tem insistido o Papa, e percorrer os caminhos contemporâneos da existência humana, apresentando uma resposta aos anseios mais
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profundos de cada pessoa. Numa nota final, deixo um lamento relativo à incapacidade que alguns manifestam em ver o mundo nas suas várias tonalidades, promovendo um discurso preto/branco: elogiar Francisco não é necessariamente criticar Bento XVI, não há um ‘Papa bom’ e um ‘Papa mau’, há pessoas diferentes que coincidiram no mesmo momento histórico deixando a sua marca própria, com um estilo pessoal. Porque, como dizia um colega jornalista, no final de tudo não serão os sapatos do Papa a ficar na História. |
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Pela primeira na história da Igreja, |
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«É impossível não ler a escolha do nome Francisco como a escolha de um programa, de um projecto. É disso que estamos à espera.» (Padre Tolentino Mendonça, in: Público, 24/03/13)
«Na Igreja Católica, embora sabendo que uma andorinha não faz a Primavera, vive-se um momento de esperança.» (Frei Bento Domingues, in: Público, 24/03/13)
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«O Papa Francisco aparece-nos como um cristão consciente da sua missão. Não se endeusou, nem deixa que o endeusem» (D. António Marcelino, in: Correio do Vouga, 27/03/13)
«O Papa Francisco vai continuar a residir na Casa de Santa Marta, que acolheu os cardeais eleitores durante o Conclave, sem se mudar para o apartamento no palácio apostólico do Vaticano» (Padre Federico Lombardi, In: Rádio Vaticano, 26/03/13)
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Um novo Papa, uma nova Igreja? |
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O superior em Portugal dos Jesuítas, congregação religiosa a que o novo Papa pertence, ficou impressionado com a “reação grande, a quente, de cristãos e não cristãos” perante a eleição de Francisco. Num encontro organizado em Lisboa por três jornalistas que acompanharam no Vaticano o Conclave e os primeiros dias do pontificado, o padre Alberto Brito manifestou a certeza de que a adesão ao Papa é “sinal de que há uma sede maior do que parece”. O religioso sublinhou que na primeira saudação pública após a eleição, dirigida aos fiéis reunidos na Praça de São Pedro, no Vaticano, o Papa juntou as palavras “bispo” e “povo” para salientar que ambos devem convergir “para o bem da Igreja e do mundo”, num “diálogo que deve continuar”, mesmo que com alguma “tensão à mistura”. Frei Fernando Ventura, que comentou o Conclave e os primeiros dias do pontificado do Papa para uma das principais estações de televisão, manifestou a sua preocupação perante possíveis quebras de comunhão na Igreja Católica. “O risco é grande de podermos viver um cisma dentro da Igreja”, afirmou o sacerdote português. No seguimento da declaração o biblista explicou que se sente “muito mais desconfortável a falar com algumas realidades de reflexão teológica dentro da Igreja Católica do que com outras experiências religiosas”, como o Judaísmo e o Islão. O religioso franciscano capuchinho sublinhou que com o Papa argentino o catolicismo passa “da lógica do poder à lógica do serviço”: “Do ‘eu sei’ ao ‘nós procuramos |
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respostas’, do ‘eu mando’ ao ‘nós somos circularidade de fraternidade em ação”, regressando assim às “intuições” do Concílio Vaticano II (1962-1965). A teóloga Teresa Toldy destacou em Francisco “o facto de se referir sempre a si próprio como bispo de Roma”, o que é “muito importante em termos teológicos”. A “preocupação de construir pontes com membros de outras confissões cristãs e religiões, bem como não crentes”, e a constante “referência aos fracos” são também aspetos positivo |
s apontados pela investigadora do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra. Isabel Galriça Neto, deputada do CDS-PP, também se centrou nas expectativas de mudança no catolicismo, tendo frisado que as transformações implicam igualmente os fiéis. “Como há um conjunto de coisas que queremos que mudem, e porque o difícil é mudar, projetamos a necessidade de mudança no Papa”, dado que é “confortável” projetar as reformas noutra pessoa, assinalou a médica. |
D. Manuel Clemente e a nova evangelização
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O bispo do Porto completou este domingo seis anos na diocese nortenha, ocasião para o lançamento do livro ‘O tempo pede uma Nova Evangelização’, uma coletânea de textos e intervenções do prelado. Para D. Manuel Clemente, essa nova evangelização deve ser fundamentada num “novo ardor, novos métodos e novas expressões”, como afirmava João Paulo II (1920-2005). No entanto, realça o bispo do Porto, “o essencial é o ardor” porque “a evangelização nasce de um convencimento, de uma convicção”.
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A Igreja pode ter “uma parafernália de meios tecnológicos”, mas “se lá dentro não existir ardor” a mensagem não passa. Quando existe ardor, este “encontra a expressão”, prosseguiu D. Manuel Clemente, em declarações à Agência ECCLESIA. O padre e poeta Tolentino Mendonça, um dos organizadores da obra, explica que os textos do bispo do Porto são uma “radiografia por dentro” do tempo atual. O livro, lançado pela Paulinas Editora, é “uma resposta a uma pergunta que está no ar” na vida da Igreja e da cultura: “O que vamos fazer com isto que somos?”. |
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Primavera e Páscoa |
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Todos os anos passamos por quatro estações, muito diferentes entre si, sendo a primavera a que mais maravilhas e beleza nos proporciona. Com exceção dos amantes dos desportos de inverno ou os veraneantes das praias, para a maioria das pessoas é a estação mais desejada. E não preciso de explicar porquê. Para os judeus e os cristãos é no início desta estação, por altura da lua cheia, que se celebra a festa mais importante da sua fé, a Páscoa, que para uns faz memória da libertação da escravidão no Egito e para os segundos da paixão, morte e ressurreição de Jesus, que reconcilia a humanidade pecadora com Deus, liberta da raiz da escravidão e dá a certeza da possibilidade de uma nova primavera da vida. Ao constatar tantos sinais de morte, de falta de esperança, de crise na política, nas finanças, na economia, na sociedade, nas empresas e na família, interrogo-me e grito: quem nos libertará desta escravidão? Levanto os olhos e contemplo um corpo suspenso na cruz. Recordo as narrativas dos Evangelhos sobre a vida do crucificado. Viveu fazendo |
o bem, falou com autoridade e anunciou um novo Reino, aproximou-se de quem estava doente e curou, usou de misericórdia e não teve receio de chamar pecadores para seus discípulos, acusado e difamado não quis defender-se com os meios humanos, proclamou o perdão e o amor aos inimigos e ao morrer pediu perdão para os algozes. Mataram-no, sendo inocente, mas o seu amor foi mais forte que a morte, porque Deus o ressuscitou, está vivo. Esta é a Páscoa dos cristãos, a aurora dos novos tempos, a primavera de uma vida nova e de uma nova criação. D. António Vitalino, bispo de Beja (Excerto da mensagem de Páscoa) |
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pÁSCOA EM PORTUGAL
Manifestações religiosas
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Cristo, como não poderia deixar de ser, assume, na época Pascal, o lugar central nas manifestações religiosas dos algarvios. A Sua figura, a Sua história entre os homens e a Sua divindade marcam este tempo, trazendo claramente à memória das gentes o significado maior deste tempo: quem crê em Jesus, crê na Ressureição e vive na esperança de a poder alcançar. Neste sentido, as procissões ganham particular enfase nas tradições desta região. O Cristo homem, que sofre e carrega a Cruz é lembrado, ainda antes do início da Semana Santa, nas procissões que honram o Senhor Jesus dos Passos. Em muitas localidades, quer do Barlavento, quer do Sotavento, os fiéis revivem o Seu percurso até ao Calvário. Silves, Tavira, Monchique, Estoi, Olhão e muitas outras localidades trazem às ruas imagens monumentais de Cristo, que dão a conhecer a arte, a antropologia e, naturalmente, o profundo sentir religioso destas gentes, que vive estes dias em espírito de oração. Também o Cristo que se entrega |
pelos pecados da Humanidade é lembrado nas muitas procissões de Sexta-feira Santa, conhecidas como procissões “do Enterro” ou “do Senhor Morto”. Entre as sombras e as luzes suaves das velas e das tochas, num profundo respeito e quietude, uma imagem de Jesus acabado de descer da Cruz é transportada num pequeno tombinho. A dor da perda, a culpa pelo sofrimento e morte do Senhor, o arrependimento e a penitência marcam estas manifestações e impressionam pela dignidade majestosa revelada pelo ambiente austero e silencioso. Por fim, o Cristo vitorioso e triunfante, o Cristo que tudo vence – a dor, os pecados, a morte -, é celebrado nas procissões que têm lugar no Domingo de Páscoa e que tomam diversas designações: “Procissão das Tochas Floridas” (em S. Brás de Alportel), “Procissão Real” (Monchique e Silves);“Procissão das Flores” (Silves);“Procissão das Campainhas” (S. Clemente, Loulé);“Procissão do Triunfo”; “Procissão da Ressurreição de Cristo”, ou, ainda, “Procissão do |
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DIOCESE DO ALGARVE
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Santíssimo Sacramento” (Lagoa).
Todas elas tornam bem clara a vitória de Jesus sobre a morte e a Sua realeza, trazendo às ruas algarvias a alegria e a esperança dos crentes no Seu Senhor, que vive e reina na Glória eterna, esperança essa simbolicamente presente nas crianças, que neste dia são participantes |
carregadas por homens (S. Brás de Alportel) ou em ramos ingénuos nas mãos dos mais pequenos, trazem a cor e a alegria de um tempo novo. Monumentalmente, em algumas localidades, ou de forma mais singela e discreta noutras, os algarvios transformam a Páscoa numa verdadeira passagem, um testemunho vivo de que acreditam na libertação personificada por Cristo. Padre Miguel Neto |
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pÁSCOA EM pORTUGALDos Açores para o mundo
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Frei Francisco Sales, diretor da Obra Católica Portuguesa das Migrações (OCPM) nasceu na paróquia açoriana de Agualva, na Ilha Terceira, onde aprendeu a viver o tempo da Semana Santa e da Páscoa com tradições que hoje se vão perdendo. Quando era criança, diz à Agência ECCLESIA, o ponto alto era “a visita pascal” em que o sacerdote seguia de casa em casa e saudava as famílias, deixando-lhes a paz de Cristo Ressuscitado. Este era um momento de “grande expetativa” e “alegria”, salienta o diretor da OCPM, que se recorda de ir com o seu pai e os seus irmãos, “mesmo os mais pequenos, buscar flores e outras verduras para enfeitar a entrada da casa”. “Infelizmente foi algo que se perdeu completamente nos Açores, hoje já não se encontram resquícios disso”, lamenta frei Sales. Apesar de “muito marcada pela espiritualidade da Semana Santa, das procissões de Passos e pelapenitência, |
porque foi evangelizada essencialmente por franciscanos”, a experiência pascal da comunidade católica açoriana inclui também tradições mais sociais e culturais, como “o jogo da bela” e a “dança da espada”. Segundo o sacerdote franciscano, o jogo começava “quase um mês antes da Páscoa, às vezes até mais”, era jogado aos pares e “a primeira pessoa que visse o outro em cada dia tinha que lhe dizer bela”. “Depois ia-se fazendo a contabilidade e aquele que perdesse tinha de pagar ao outro com amêndoas”, explica o frei Francisco Sales, confidenciando que o jogo “era também muito usado entre os namorados”. “Às vezes quando um rapaz gostava de uma rapariga e não namorava, tentava jogar à bela com ela e vice-versa”, recorda. Quanto à “dança da espada”, o responsável católico aponta que ela resistiu no tempo como “uma forma |
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dIOCESE dE ANGRA
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antiga de catequização e transmissão de valores e costumes”, pois permite à população, através do teatro e do drama, refletir sobre “temas da história” e da Igreja Católica em particular. O diretor da OCPM sublinha ainda que, apesar de deslocados da sua terra e do seu ambiente natural, os emigrantes açorianos “levam” consigo |
“as suas tradições” e exprimem a sua espiritualidade com a mesma intensidade de sempre. |
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PÁSCOA EM PORTUGAL“Até para os olhos, a procissão da Ressurreição é muito bonita” |
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Na Diocese de Aveiro não abundam tradições pascais de relevo, talvez por ser relativamente nova. Está agora a comemorar 75 anos de restauração, depois de uma fugaz existência na transição do séc. XVIII para o séc. XIX. Há a visita pascal em todas as terras, já quase só por leigos, e numa ou noutra paróquia sai às ruas a procissão da Ressurreição. A mais bela é a da Vera Cruz, uma paróquia nos bairros mais antigos da cidade de Aveiro, chamados “da Beiramar”. “Fiquei muito encantado quando a vi pela primeira vez”, conta o P.e Manuel Joaquim da Rocha, atual pároco da Vera Cruz. “As pessoas cobrem as ruas de junco [planta apanhada nas margens da Ria de Aveiro] e erva-doce e lançam pétalas das janelas, enquanto se canta «Aleluia resurrexit». Até para os olhos, a procissão é muito bonita”, adianta. Muita gente de fora assiste à procissão, mas o pároco nota que “as pessoas ainda vibram e não se trata de folclore”. |
D. António Francisco, que vai presidir à procissão no próximo domingo, às 10h, realça que se trata de uma “manifestação de fé muito crente e verdadeira, fiel à cultura local, com um cheiro a maresia dado pelas ruas atapetadas”. Só depois da procissão eucarística é que tem lugar a missa, na Igreja de Nossa Senhora da Apresentação. Com certo impacto popular – e mediático –, algumas terras assistem por estes dias à “Queima do Judas”. Em Travassô, a tradição faz-se sentir todas as noites da Quaresma, com a declamação de versos que imitam ladainhas e fazem crítica social, e termina no Sábado de Aleluia, com a queima do boneco Judas. P.e Júlio Grangeia, sacerdote conhecido pelo uso das novas tecnologias no seu trabalho pastoral, é o pároco de Travassô e releva-se muito crítico para com “esta tradição que pode ter tido origens cristãs, mas é tudo menos cristã”. O sacerdote aponta como |
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DIOCESE DE AVEIRO
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falhas nestes rituais o uso de linguagem destravada, o desrespeito do silêncio [algumas das representações populares chegaram a perturbar as celebrações litúrgicas] e até os excessos de bebida. No entanto, a tradição está enraizada. Será possível “recristianizá-la”? O sacerdote mostra-se cético, após anos e anos de tentativas. Resta apenas evitar danos maiores. Por último, refira-se que a Páscoa de 2013, na Diocese de Aveiro, acontece em plena Missão Jubilar, um conjunto de iniciativas pastorais, culturais e sociais que assinala os 75 anos da restauração desta Igreja particular. No dia 6 de abril, na Igreja de Albergaria-a-Velha, às 21h, há um concerto de Páscoa; no 7, domingo de Pascoela, na Sé de Aveiro, às 16h, serão ordenados
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diáconos três jovens a caminho do presbiterado; no dia 11 [há sempre uma iniciativa em cada dia 11, porque a diocese foi restaurada no dia 11 de dezembro de 1938], diversos voluntários vão bater a todas as portas para recolher bens para os mais necessitados; no dia 26, em Águeda, o ex-sindicalista Manuel Carvalho da Silva e o ex-ministro Daniel Bessa participam num debate sobre “economia e mundo operário”. Jorge Pires Ferreira |
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PÁSCOA EM PORTUGALA maior e mais antiga de Portugal |
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A Semana Santa de Braga afirma-se como a mais antiga e maior de Portugal. De acordo com as referências histórias, as representações comemorativas da Paixão e Morte de Jesus iniciaram na Terra Santa, no século IV, desde que, após séculos de perseguição pelo poder romano, o imperador Constantino, com o Edito de Milão (313), deu a paz à Igreja. Estas recriações realizavam-se nos locais e horas em que tinham decorrido os respetivos acontecimentos. A peregrina Egéria (ou Etéria), que, nos finais daquele século, se deslocou do noroeste da Ibéria (Galécia) à Palestina, no seu escrito “Peregrinatio ad Loca Sancta” (Peregrinação aos Lugares Santos), faz um relato daquelas celebrações. Foram, de facto, os peregrinos que deram a conhecer a Semana Santa e estenderam ao mundo cristão o costume de a celebrar. É provável que em Braga e nas terras da Península Ibérica isso aconteça já desde finais do século IV, por influência da referida Etéria que era provavelmente uma mulher de |
Braga, então capital da Galécia. De facto, é na cidade de Braga que se concentram as atenções na imponente programação da Semana Santa, todavia esta semana é vivida com devoção e com programações alargadas em alguns arciprestados como são exemplo os casos de Esposende e Vila Nova de Famalicão. Ao longo da Quaresma, são inúmeras as procissões com os andores do Senhor dos Passos e da Senhora das Dores que se realizam por toda a Arquidiocese de Braga. Nelas, participam centenas de figurados que transformam tais cortejos religiosos em autênticas catequeses ao vivo que são apreciadas por milhares de cristãos movidos por um misto de devoção , tradição e turismo religioso. As conferências quaresmais, os concertos e diversas exposições temáticas pontuam a época quaresmal bracarense (a dimensão cultural é cada vez mais valorizada em termos turísticos). Mas são as grandes procissões que mais prendem as atenções de devotos e turistas. |
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DIOCESE DE BRAGA
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“Procissão da Burrinha”
Na cidade de Braga, nos últimos anos, foi recuperada e antecipada para a Quarta-feira da Semana Santa uma procissão que se realizava na noite de Sábado Santo: a designada “Procissão da Burrinha”, assim chamada por nela se incorporar uma imagem da Virgem Maria, montada num jumento, numa alegoria da fuga da Sagrada Família para o Egito. Organizada pela Paróquia e pela Junta de Freguesia de S. Victor, a procissão constitui um dos mais conseguidos momentos |
catequéticos da Semana Santa, tendo sido retomada em 1998, após um interregno de 25 anos.
Quinta-feira Santa
A Quinta-feira Santa conta com a celebração matinal da Missa Crismal e a bênção dos óleos, uma cerimónia que concentra a esmagadora maioria do clero da arquidiocese, que aí renova as promessas da sua ordenação. À tarde, celebra-se a Missa Vespertina da Ceia do Senhor, com o tradicional “lava pés”, finda a qual os |
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PÁSCOA EM PORTUGAL |
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altares são desnudados. Durante a tarde, grupos de farricocos (a figura mais emblemática da Semana Santa de Braga) percorrem o centro histórico da cidade fazendo ouvir as suas matracas, lembrando que por ali passará a procissão à noite. É, então, na noite de Quinta-Feira Santa que sai à rua a Procissão do Senhor “Ecce Homo” (Eis o homem), organizada pela Santa Casa da Misericórdia – que este ano de 2013 comemora 500 anos –, costuma integrar entre perto de duas centenas de anjinhos. Esta também é conhecida como a “Procissão dos fogaréus”, já que incorpora um grupo de mascarados que transporta tigelas acesas (os fogaréus) e que outrora lançava acusações e denúncias de pecados públicos e outros menos conhecidos de moradores da cidade. Em 1859, o Arcebispo D. José de Moura proibiu tal costume. Hoje, os fogaréus permanecem silenciosos e a sua presença não é mais que um elemento turístico.
Sexta-feira Santa
A Sexta-Feira Santa é um dia espiritualmente denso em Braga. A cidade veste-se de luto e todos |
sentem que há “algo de anormal” no comum dos dias. É na Sé Primacial que se centram as atenções. Às 15h00 é guardado um minuto de silêncio pela morte de Jesus, com o templo mergulhado em trevas. Segue-se todo um ritual dedicado à Paixão, carregado de drama que é adensado pelos lúgubres cânticos que lamentam o desaparecimento do Mestre da terra dos vivos. Esta celebração da tarde é uma espécie de drama em três atos: proclamação da Palavra de Deus, apresentação e adoração da Cruz (rito do sec. XVII), e comunhão. Ainda no interior da vetusta Sé de Braga realiza-se a “Procissão Teofórica”, estabelecida em Portugal entre finais do sec. XV e princípio do sec. XVI, trazida de Jerusalém. Nela se transporta uma urna com hóstias consagradas que percorre as naves da Sé enquanto que um grupo de crianças entoa “Heu, heu Domine; heu Salvator Noster” (Ai, Ai Senhor; ai Nosso Salvador). À noite, sai a Procissão do Enterro. Da responsabilidade do Cabido Metropolitano e Primacial de Braga esta manifestação pública de fé contrasta com a da noite anterior: não há fogaréus acesos, os participantes vão de rosto coberto e os estandartes |
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DIOCESE DE BRAGA
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das confrarias e irmandades não vão desfraldados, mas caídos sobre os ombros de quem os transporta. O silêncio é quase total.
Sábado Santo
A Vigília Pascal – a mãe de todas as celebrações católicas – tem sido valorizada nos últimos anos e é presidida pelo Arcebispo Primaz.
Domingo de Páscoa
Em muitos locais da Arquidiocese de Braga continua-se a manter, tal como em toda a região do Minho, a tradição do Compasso Pascal. Na cidade de |
Braga este costume também se mantém e é na Rua da Cónega quemaior tradição conserva.
Texto: Álvaro Magalhães |
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PÁSCOA EM PORTUGALTradições de Páscoa em Trás-os-Montes |
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Trás-os-Montes, um amplo território que na atualidade se distribui pelos distritos de Vila Real e Bragança, mantém ainda - resultado de um longo processo de isolamento e de um fraco índice de urbanização -, muitas das tradições que ao longo da sua história se foram cimentando entre as comunidades rurais. A semana que antecede a Páscoa é um bom exemplo das tradições cristãs e pagãs que anualmente se repetem de uma forma cíclica neste território. Os autos da paixão, a procissão do Senhor dos Passos, as endoenças, as vias-sacras e as queimas do Judas são alguns dos exemplos dessas ancestrais hábitos que sobreviveram até aos dias de hoje e que ano após ano se repetem em muitas das nossas localidades. Estas seculares tradições cumprem-se todas na semana que medeia entre o “Domingo de Ramos” e o “Sábado de Aleluia”, e são , na sua maioria, manifestações fortemente marcadas por sentimentos religiosos, apesar de estar sempre presente um substrato |
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cultural que as relaciona de uma forma inequívoca com a vertente lúdica e pagã que ainda permanecem arreigadas no seio da cultura destas comunidades rurais. Os autos da paixão e as vias-sacras são expressões coletivas de fé, de uma fé bem sentida, mas onde ainda moram fortes influências de uma encenação provinda do teatro popular, apesar do sentimento predominante ser o luto e a dor pesarosa pela morte de Jesus Cristo; um luto e uma dor que se exprimem através de tons carregados de roxo e de negro, cores essas que expõem tristeza, melancolia, reflexão, penitência e todo o sentimento de perda e de sofrimento que antecipa o mistério pascal. Em todos os casos são recuperadas as catorze paragens que integram as estações da via sacra, e aldeias há que ainda conservam intactos os cruzeiros que representam cada uma dessas estações. É nos autos da paixão que se encontra uma das mais elaboradas expressões do teatro popular. Com uma participação coletiva e efetiva da comunidade, |
DIOCESE DE BRAGANÇA-MIRANDA
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estas representações integram velhos e novos, homens e mulheres, e quase sempre atingem picos de realismo que alguns dos participantes até chegam a parecer figuras saídas do Novo Testamento. Por estes autos passam as narrações dos últimos dias da vida de Jesus Cristo, e neles intervêm personagens como os discípulos, com Judas em primeiro plano, Herodes, Caifaz, Pilatos, Fariseu, Maria Madalena, soldados romanos ou mesmo o Diabo, culminando todas essas encenações na deposição do filho de Deus na cruz.
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Mas o sentimento de perda vivida, sentida e transmitida pela população durante a Semana Santa na região de Trás-os-Montes tem a sua mais peculiar e enigmática expressão no concelho de Vinhais, uma das localidades da região onde ainda previvem e se registam alguns vestígios das chamadas endoenças. Aqui existe um ritual onde se interpreta e encena a procura e a busca de Nosso Senhor Jesus Cristo, e todos os habitantes das pequenas aldeias se perguntam, uns aos outros, e entre vizinhos e amigos, se “alguém |
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PÁSCOA EM PORTUGAL
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por aí o viu”. Já em Mogadouro, a tradição ancora numa essência histórica melhor definida no tempo. A “Procissão dos Passos” é uma das muitas manifestações pascais que durante a época quaresmal se realizam na região do nordeste transmontano. O Senhor dos Passos de Mogadouro é uma manifestação religiosa com contornos vincadamente históricos que se realiza de dois em dois anos nesta vila transmontana. Num campo mais lúdico há a registar as “queimas de judas”, manifestações festivas e de algum excesso que marcam o fim de um período de restrições e penitência que foram impostas durante o período da quaresma. Em Constantim, no concelho de Vila Real, renasceu há alguns anos pelas mãos dos habitantes da localidade este costume antigo que esteve muito tempo adormecido. A Queima de Judas, o traidor, é realizada na noite de sábado de aleluia, véspera do domingo de Páscoa, e reúne dezenas de pessoas num cortejo constituído por várias figuras que transportam |
tochas acesas pelos arruamentos da aldeia, vindo depois toda a representação a culminar na praça principal, num cenário dantesco, onde Judas é queimado entre gritos e risos de escárnio, numa representação que dizem “teatralizar a vingança do povo contra Judas que traiu Jesus”. O mesmo espirito tem a “Queima de Judas em Montalegre”, também realizada no “Sábado de Aleluia”. O município constitui anualmente um concurso com inscrições prévias para incentivo geral da população e com o intuito de manter viva a tradição. Este ano o evento conta com a encenação da peça de teatro popular "Tá calado, ó Judas!". Nestes meios rurais mantém-se ainda o hábito de ao meio dia de quinta-feira santa tocar o sino a finados, o que significa o anúncio simbólico da morte de Cristo. A partir desse momento todas as pessoas abandonam os seus afazeres agrícolas e regressam a casa para cumprir o “dia santo de guarda”, permanecendo sem trabalhar, e muitas delas em jejum, até ao meio dia de sexta-feira. |
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DIOCESE DE BRAGANÇA-MIRANDA
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Em outras localidades só no “Sábado de Aleluia”, à meia-noite, se volta a tocar os sinos das igrejas. Ele significa o fim da tristeza, do silêncio, das restrições e do luto e anuncia um novo tempo de alegria, de vida, de ressurgimento, de renovação, de esperança, de felicidade e de uma outra vida que se espiritualiza e interioriza através do exemplo da Ressurreição de Jesus Cristo e da sua perpetuação através da vida eterna. A meia-noite é portanto a hora simbólica que marca o arranque das festividades do dia de Páscoa. Gastronomicamente a Páscoa está marcada por manjares como o folar, o
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borrego ou o cabrito assado, e no domínio religioso pela tradição do Compasso. Mas o dia de Páscoa, na maior parte das as aldeias, vilas e cidades da região fica sobretudo marcado pela alegria da visita pascal - o chamado Compasso.
O Compasso nada mais é do que um grupo de paroquianos que leva à frente o padre numa visita a todas as casas onde é dada a beijar uma cruz com Cristo crucificado. Neste ritual o pároco entra nas casas de todos os fiéis e benze-a com água benta, enquanto é anunciada por todos a boa nova da Ressureição de Cristo: “Aleluia, aleluia, Jesus Cristo Ressuscitou!”.
A. Luis Pereira
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PÁSCOA EM PORTUGALPassos Rumo à Páscoa |
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A “Procissão do Senhor dos Passos” constitui um dos pontos altos das atividades litúrgicas que culminam com a celebração da Páscoa. Trata-se de uma manifestação de fé e devoção, com séculos de existência, reunindo centenas de fiéis que vivem intensamente este ato religioso, em diferentes comunidades cristãs da Diocese de Coimbra. Através dos séculos, na época quaresmal, os cristãos souberam traduzir, por diferentes formas, os mistérios principais da nossa Fé na Ressurreição do Senhor. A Procissão dos Passos é uma maneira visível e silenciosa de proclamar o Mistério da Paixão e Morte de Jesus Cristo. É, de certo modo, a transposição no tempo e no espaço a Via-sacra de Jerusalém do “Cordeiro de Deus”, imolado no Calvário, pela remissão de crentes e não crentes. Pelo Caminho do doloroso peregrinar, apareceram os oratórios, com telas, ou azulejos, que as fraternidades franciscanas ou a piedade de grupos de fiéis erguiam, muitas vezes nas fachadas ou esquinas
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das suas próprias casas, diante dos quais se contemplavam os Passos do Senhor e por vezes algum pregador exortava à Penitência e Conversão. Algumas comunidades cristãs do Baixo Mondego (Carapinheira, Tentúgal e Montemor do Arciprestado do Baixo Mondego; Pereira, Taveiro, Sebal e Condeixa do Arciprestado de Coimbra Sul; Mira do Arciprestado de Cantanhede; Miranda do Corvo do Arciprestado do Alto Mondego e Pedrógão Grande do Arciprestado de Chão de Couce, gozando a felicidade de acolher no seu seio algumas das mais antigas manifestações de religiosidade popular, tem por tradição reconstituir os momentos mais marcantes alusivos à morte de Cristo, com a realização de soleníssimas procissões do “Senhor dos Passos”. Estas manifestações de piedade e de reconciliação têm lugar, respetivamente, antes da Semana Santa. Os pontos altos das celebrações de domingo, residem
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dIOCESE DE COIMBRA
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essencialmente na Eucaristia e Sermão do Pretório, constituindo também momentos marcantes para estas comunidades cristãs o Cantar da Verónica e o Sermão do Encontro, numa simbologia do encontro de Cristo com sua Mãe, a caminho do Calvário. A “Procissão dos Passos” constitui uma significativa manifestação de fé e
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devoção, que é visível durante o espiritual e silencioso cortejo litúrgico, apenas suspenso pelo entoar da Verónica, em latim, “vede se há dor igual à minha”. No Sermão do Encontro, é normal verem-se algumas lágrimas a brotar e a resvalarem pelos rostos das pessoas mais sensíveis, exprimindo o mais exímio sentimento de dor, fé e esperança.
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PÁSCOA EM PORTUGAL
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Via Sacra de Dornes
Centenas de peregrinos de toda a região de Ferreira do Zêzere cumpriram no passado domingo a tradicional Via Sacra de Dornes, um percurso de quatro quilómetros, fazendo desta única no país. Esta caminhada de fé em direção ao Santuário de Nossa Senhora do Pranto de Dornes foi presidida por D. Virgílio Antunes, Bispo de Coimbra.
Via Sacra profana
Em passado recente, um cidadão de Paio Mendes, freguesia vizinha de Dornes, de nome Durval Rosário Marcelino, mandou erigir entre Paio Mendes e a igreja matriz de Dornes, numa distância de aproximadamente 4 km e ao longo da estrada, os 14 cruzeiros de granito em tamanho grande, memorizando e honrando as 14 estações da Paixão de Jesus Cristo.
Entre o primeiro cruzeiro, correspondente à Agonia de Jesus no Monte das Oliveiras, e o 14.º, que relembra a colocação de Jesus no Sepulcro, revive-se a traição de Judas,
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a condenação pelo Sinédrio, a negação de Pedro, o julgamento de Pilatos, o flagelo e coroação de espinhos, a Cruz aos ombros, a ajuda de Simão de Cirene, o encontro com as mulheres de Jerusalém, a Crucificação, a promessa ao bom ladrão do Reino, Jesus na cruz, a Mãe e S. João e a morte. Dornes, não seguindo o ritual litúrgico, aproveitou a essência, a natureza e criou uma maneira diferente de evocar a Paixão de Cristo, numa tarde de verão, após as festas de Nossa Senhora do Pranto, a que denominou de via sacra profana ou mais simplesmente de Círius de Dornes.
Conferências Quaresmais
As Conferências Quaresmais levadas a cabo pela paróquia de S. José, em Coimbra, e as Jornadas Quaresmais realizadas pela paróquia de Soure andaram, este ano, ao sabor do Ano da Fé. Enquanto que em Coimbra o objetivo foi apresentar testemunhos de fé, vividos nas mais diversas situações sociais e em Soure
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DIOCESE DE COIMBRA
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procurou-se mais refletir sobre o documento Porta Fidei, documento para o Ano da Fé do Papa Emérito Bento XVI.
Semana Santa na Catedral
D. Virgílio Antunes presidiu, no passado Domingo, à celebração do Domingo de Ramos, que marca o início da Semana Santa, uma das mais |
importantes de todo o ano litúrgico.
Quinta-feira de manhã, o Bispo de Coimbra preside à missa crismal com todo o presbitério da sua diocese, e às 18 horas à Missa da Ceia do Senhor.
Sexta-feira, às 18 horas, preside à Celebração da Paixão. No Sábado, às 22 horas preside à Solene Vigília Pascal e no Domingo à Missa de Páscoa, às 11 horas.
Miguel Cotrim
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PÁSCOA EM PORTUGALA Páscoa na Arquidiocese de Évora
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Na Arquidiocese de Évora a solenidade da Páscoa celebra-se essencialmente no Sagrado Tríduo da Paixão e Ressurreição do Senhor. A grande maioria das 158 Paróquias, que constituem a Arquidiocese, vivem intensamente as principais celebrações desde a Quinta-feira Santa ao Domingo de Páscoa. Na Catedral de Évora, presididas pelo arcebispo de Évora, D. José Alves, e animadas pelo Coro Stella Matutina, decorrerão as seguintes celebrações: na Quinta-feira Santa, pelas 10h, Missa Crismal, Renovação das Promessas Sacerdotais e Bênção dos Santos óleos. Às 18h30, Eucaristia comemorativa da Ceia do Senhor, com lava-pés. Segue a adoração do Santíssimo Sacramento com duração até às 23h. Na Sexta-feira Santa, pelas 10h, celebração de Laudes e, às 15h, celebração da Paixão do Senhor, com Adoração da Cruz e Comunhão, sendo o ofertório para os lugares Santos da Palestina. No Sábado Santo, pelas 10h, celebração de Laudes e, às 21h30, Solene Vigília Pascal.
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À semelhança do que acontece na cidade de Évora, em algumas Paróquias da Arquidiocese, na noite de sexta-feira santa, as Misericórdias locais organizam a Procissão do Enterro do Senhor que, normalmente, atraem grande número de participantes. Contudo, no Alentejo, a tradição desta época está muito ligada à Segunda-Feira de Páscoa, na qual, de uma maneira geral, os alentejanos vão para o campo desfrutar da beleza primaveril que nos inunda de cores e cheiros, abrindo o apetite para a gastronomia tradicional daquele dia: o borrego e o folar. Na Arquidiocese de Évora, nalgumas localidades, essa tradição de ir para o campo ganhou contornos de Romaria, com um programa organizado em que o sagrado e o profano convivem, sendo momentos de devoção religiosa e de saudável convívio entre familiares e amigos. Assim, na próxima Segunda-feira de Páscoa voltam a cumprir-se, entre outras: a Romaria de |
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DIOCESE DE éVORA
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Nossa Senhora da Enxara (Campo Maior); a Romaria de Nossa Senhora do Carmo (Sousel); Romaria de S. Pedro dos Olivais (Mourão); Romaria de Nossa Senhora da Piedade (Redondo); Romaria de Santa Margarida (Evoramonte). Este ano, pela primeira vez na Arquidiocese de Évora, um grupo de jovens cristãos vai viver o Tríduo Pascal em comunidade rural. A iniciativa chama-se “Páscoa dos 12” e é uma organização conjunta dos Departamentos da Juventude |
e das Vocações. Três dimensões marcam o período que os jovens vivem entre 27 e 31 de março: celebrativa, em comunhão com a Igreja eborense; contemplativa, numa experiência de meditação e deserto; e caritativa, na aldeia de Monte do Trigo, no concelho de Portel, onde estes jovens vão ficar instalados para vivenciar o período pascal não só com os que sofrem, mas com toda a comunidade, que nem sempre consegue ter o seu pároco a tempo inteiro. Pedro Miguel Conceição |
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PÁSCOA EM PORTUGALAo ritmo da fé e da tradição
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Nas 96 paróquias da Diocese do Funchal as cerimónias da Semana Santa são participadas por um elevado número de pessoas. A bênção e procissão dos ramos assinalaram o Domingo de Ramos e muitas pessoas transportaram palmitos (folhas de palmeira que são entrelaçadas em sucessivos caracóis concêntricos, que se vão armando em pirâmide enfeitadas com lacinhos de seda de várias cores), elaborados por alguns paroquianos. Recentemente algumas instituições e paróquias têm incentivado nos jovens o interesse por este arte de modo a recuperar esta tradição.Nesse dia na paróquia dos Canhas foi apresentado um Auto Bíblico organizado pela
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comunidade paroquial com a participação de pessoas das mais diversas idades. No final da missa vespertina da Ceia do Senhor, em Quinta-feira Santa, o Santíssimo Sacramento é colocado num dos altares no denominado “Trono” ornamentado por muitas flores com predominância para as orquídeas, muito comuns na Madeira. A procissão do Enterro do Senhor, que se realiza nalgumas paróquias madeirenses marca a Sexta-feira Santa, dia vivido com muita fé por este povo. Nesse dia nalgumas comunidades paroquiais efectuam-se vias-sacras nas estradas. Na paróquia de Santa Cecília é representada uma via-sacra ao vivo organizada pelos jovens, que
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dIOCESE DO FUNCHAL
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reúne muito povo num evento que já é cartaz. Na freguesia da Camacha na tarde desse dia decorrem os Jogos Tradicionais da Quaresma que têm por objectivo promover o intercâmbio intergeracional e contribuir para a preservação e divulgação destas actividades que integram o lançamento do pião, jogo do burro, do batoque, das pedrinhas, da corda, andilhas, etc. As cerimónias litúrgicas do Sábado Santo incluem a participação de um grupo de catecúmenos que vão receber os Sacramentos de Iniciação Cristã o que ocorrerá na vigília pascal presidida pelo Bispo do Funchal na Catedral. O Domingo de Páscoa na Madeira é um dia de festa para os madeirenses, embora sem a |
fulgor do tempo do Natal. A procissão da Ressurreição regista sempre grande participação de pessoas. Entre as tradições do Tempo Pascal na Madeira e Porto Santo realce-se a ementa do almoço de Sexta-feira em que o inhame (uma planta da família das areáceas, originária do sudeste da Ásia) é acompanhado pelo bacalhau e as batatas. No Domingo de Páscoa ainda se mantém a tradição de se comer cabrito recheado. Os tremoços, as amêndoas e os torrões de açúcar fazem as delícias dos mais novos e não só. A Semana Santa na Diocese do Funchal vai ser vivida com fé mantendo as tradições e com esperança num futuro melhor.
Sílvio Mendes |
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PÁSCOA EM PORTUGAL
O Canto do Silêncio
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A Encomendação das Almas e o Canto dos Martírios são as tradições da Quaresma que se encontram mais enraizadas e vivas, nas paróquias da Diocese da Guarda. As semanas da Quadragésima continuam a ser respeitadas religiosamente apesar das gerações mais novas começarem a esquecer certos usos e costumes. Contam os mais antigos que, nesta altura do ano não havia bailes nem se podia dançar. O jogo do cântaro ocupava as tardes de domingo e, à noite eram muitos os que se juntavam para cantar os Martírios, a Ladainha e a Encomendação das Almas. Os Martírios são cantados, com muito entusiasmo, por grupos de homens de cabeça coberta. Com o passar do tempo, esta tradição quase desapareceu e já são poucos os que ainda têm coragem para sair à rua lembrando o caminho de Jesus até ao Calvário. Ao longo de sessenta evocações, com outras tantas respostas, este canto começa e termina junto à Igreja.
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A Encomendação das Almas é feita nos sítios mais altos das aldeias e a horas tardias. O canto mete medo pela sua profundidade e sonância musical, convidando as pessoas à oração. Esta tradição tem vindo a ganhar força com a realização anual de Encontros de Encomendação das Almas em diversas zonas da Diocese, nomeadamente, Guarda (Aldeia do Bispo, Faia, Quinta de Gonçalo Martins, Marmeleiro, Castanheira, Maçainhas e S. Miguel…), Seia e Sabugal (Badamalos, Bismula, Rapoula do Coa, Ruivós, Ruvina, Vale das Éguas, Vilar Maior…). Nestas localidades, as autarquias têm vindo a apoiar os grupos que persistem em manter vivo este costume de religiosidade popular. A Procissão dos Penitentes é outra tradição quaresmal que acontece no Paul (Covilhã). Realiza-se anualmente, numa das sextas-feiras da Quaresma. O cortejo é composto por homens envoltos em lençóis brancos, com uma coroa de silvas entrelaçadas na cabeça e descalços. Cada homem leva um |
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DIOCESE DA GUARDA
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Em várias aldeias da Diocese da Guarda (Vila Cova à Coelheira – Seia) há um costume antigo de não ir à horta no Domingo de Ramos. Este costume é justificado pela razão de que o Senhor Jesus Cristo se escondeu detrás dos arbustos, no Horto das Oliveiras. Nesse dia as sopas são sem verduras e os outros pratos não são acompanhados de salada. Nesse dia também não se apanha erva para os animais. Em dia de Quarta-feira Santa ou de |
Tréguas ainda há localidades em que as mulheres não se penteiam. Também há aldeias em que na Quinta-feira Santa e na Sexta-feira Santa não se estende a roupa branca com receio que apareça manchada de sangue. Outra tradição quaresmal acontece em Sábado de Ramos, na povoação de Aldeia Nova, localidade anexa da freguesia de Ramela, no concelho da Guarda. Trata-se da romaria de Nossa Senhora da Teixeira, que se realiza |
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PÁSCOA EM PORTUGAL
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numa altura do ano em que não são celebradas festas. O Enterro do Senhor, a Procissão dos Passos e as Alvíssaras, são outras das tradições quaresmais que ainda permanecem em toda a Diocese. Na noite de Sábado Santo, em muitas povoações, cantam-se as Alvissaras e celebra-se a Senhora da Noite. De capela em capela e de rua em rua, os grupos vão cantando Aleluia, anunciando a boa notícia da ressurreição de Jesus. |
Nos últimos anos surgiu na zona do Fundão, por iniciativa da Câmara local, a “Quadragésima”. Trata-se de um festival, dedicado ao teatro, à música e às tradições do sagrado na Quaresma e na Semana Santa. Esta iniciativa reúne diversas linguagens artísticas ao calendário religioso que celebra a paixão, morte e ressurreição de Cristo, promovendo a redescoberta das tradições religiosas do território (festas, procissões, representações sacras, dramas litúrgicos, sermões |
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dIOCESE DA GUARDA |
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medievais e orações antigas) e procura valorizar o património artístico local. Em Pinhel, o Grupo de Jovens da paróquia vai apresentar a encenação da morte do enterro de Jesus. Mantendo uma tradição que conta já com vários anos, a Câmara Municipal e a paróquia de Pinhel levam para as ruas da cidade a Paixão e Morte de Jesus. Em Vilar Maior, no concelho do Sabugal, mais de uma centena e meia de atores amadores vão recriar os últimos dias da vida de Jesus. Os intervenientes na “Paixão de Jesus segundo São Lucas” pertencem a
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localidades dos concelhos do Sabugal (Vilar Maior, Arrifana do Coa, Badamalos, Bismula, Ruivós, Ruvina, Vale das Éguas, Rapoula do Coa, Nave, Alfaiates, Baraçal, Sabugal, Aldeia de Santo António, Quarta-feira) e Almeida (Miuzela e Malhada Sorda). No dia Páscoa ainda há quem queira ganhar o folar e mande rezar quem encontre a caminho da Missa e da procissão da Ressureição. O primeiro a dizer “reza que já passou a Quaresma” tem direito ao folar.
Francisco Barbeira |
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pÁSCOA EM PORTUGAL«Hão-de olhar para Aquele que trespassaram.» (Jo 19, 37) |
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Estas palavras que o S. João refere no Evangelho expressam bem as tradições que, ao longo de muitos anos, foram nascendo à volta da celebração da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus. Para além das cerimónias propriamente litúrgicas, já por si, ricas de significado porque expressam, sacramentalmente, a presença de Jesus vivo na Igreja, as tradições locais foram transpondo essa presença para lá das Igrejas e para lá dos lugares de culto. É o que acontece com as procissões e as romarias, que criam um ambiente propício a uma vivência mais sentida e profunda destes dias da Semana Maior. Assim acontece, também, na Diocese de Lamego, onde uma rica tradição de tradições embeleza e torna mais presente a imensa Paixão de Jesus Cristo por cada pessoa. Na cidade de Lamego, na quinta feira da terceira semana do Tempo da Quaresma, duas bonitas e grandes imagens, uma do Senhor dos Passos e outra de Nossa Senhora das Dores, |
são trazidas da Igreja de Nossa Senhora da Graça para a Igreja Catedral. No final desta procissão, no Adro da Igreja Catedral, é distribuído pão quente, numa tradição que acaba por mostrar a necessidade de cada pessoa se lembre daqueles que mais necessitam. No Domingo seguinte, o quarto do tempo da Quaresma, realiza-se a procissão do Senhor dos Passos, que, saindo da Igreja Catedral, percorrem as ruas da cidade de Lamego devolvendo as belas imagens trazidas três dias antes à Igreja de Nossa Senhora das Graças. Na Semana Santa, as cerimónias litúrgicas vão-se intercalando com momentos de devoção e piedade popular. Assim, depois das várias procissões dos Ramos para cada Igreja no Domingo com o qual se inicia a Semana Santa, na Quinta feira seguinte o Sr. D. António Couto, Bispo da Diocese, reúne, para a celebração da Missa Crismal, o Presbitério lamecense. Já da parte da tarde, quer |
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DIOCESE DE LAMEGO
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na Igreja Catedral com a presença do Bispo da Diocese, quer nas restantes Igrejas da cidade e da Diocese celebra-se a Missa da Ceia do Senhor. A partir das 21h30, na cidade de Lamego, dá-se início à Procissão das Sete Bandeiras. Cada Bandeira representa um dos momentos do julgamento de Cristo e a procissão, saindo da Igreja das Chagas, percorre as várias Igrejas e Capelas onde é custodiado o Santíssimo Corpo de Jesus: Igreja de Nossa Senhora da |
Graça; Igreja de Santa Maria Maior de Almacave; Igreja de S. Francisco; Capela do Espírito Santo; e Igreja Catedral. A tradição levou as pessoas a chamarem a esta procissão aquela que percorre os Santos Sepulcros, onde está deposto o Corpo de Nosso Senhor. Na Sexta feira Santa, há algumas Paróquias que, logo ao início da manhã, fazem a Via Sacra, por percursos serranos, até alguma Capela onde se venere Jesus Crucificado. |
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PÁSCOA EM pORTUGAL |
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Assim acontece na Paróquia de Pendilhe, no Concelho de Vila Nova de Paiva, cujo trajeto durante o qual se recita a Via Sacra tem cerca de 4 quilómetros. Na parte da tarde de Sexta feira, ocupa lugar privilegiado a Celebração da Paixão, com a Adoração da Cruz que, na Igreja Catedral será presidida pelo Bispo da Diocese. Neste mesmo dia, multiplicam-se as várias procissões nascidas da piedade popular. Na cidade de Lamego, por exemplo, realiza-se a procissão do Senhor Morto que, saindo da Igreja de Nossa Senhora da Graça, desce à Igreja Catedral. Aqui, os participantes são convidados a ouvir um sermão que, este ano, será proferido pelo Sr. D. António Couto. Após este momento de pregação, a procissão recolhe à Igreja da Graça. Em algumas Paróquias, sobretudo naquelas mais próximas do rio Douro, na noite de Sexta feira Santa é tradição realizar-se a Procissão do Encontro, que evoca a quarta estação da Via Sacra, em que Jesus encontra sua Mãe, Maria Santíssima. É o caso |
de Folgosa do Douro. Noutras, como na Paróquia de Longa, no concelho de Tabuaço, as ruas são iluminadas por centenas de velas que servem de ambiente para a recitação da Via Sacra. A morte de Jesus suscita, na devoção popular, profundas manifestações de amor. Assim, na Paróquia de Castro Daire, a seguir à celebração da Paixão, faz-se uma procissão até à Capela do Calvário, que, no cimo daquela Vila, é sinal visível desse outro Calvário onde Cristo morreu. A noite de sábado para o Domingo da Ressurreição é vivida na alegria que nasce da presença de Cristo que vive. Assim o demonstram as várias vigílias pascais que, quer na Igreja Catedral, quer pelas Paróquias anunciam Cristo ressuscitado. O mesmo anúncio é repetido, casa a casa, ao longo do Domingo de Páscoa, com a visita pascal.
Padre José Alfredo Patrício |
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DIOCESE DE LAMEGO
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pÁSCOA EM PORTUGALLiturgia e tradição |
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Ao ritmo da liturgia da Igreja universal e tal como, com certeza, em todas as outras dioceses do País, a celebração da Páscoa tem especial importância na maioria das comunidades cristãs da diocese de Leiria-Fátima. Assim, centrando-nos nas festa da Páscoa, a Semana Santa tem um programa intenso de celebrações em praticamente todas as paróquias, sobretudo, a Ceia do Senhor, na quinta-feira, a celebração da Paixão, na sexta-feira, e a soleníssima Vigília Pascal, no sábado. Embora não se trate de um programa “oficial” de nível diocesano, a verdade é que a liturgia na Sé tem uma especial preponderância, dado ser presidida pelo Bispo. Para além dos atos litúrgicos, há em várias paróquias outras celebrações e tradições próprias deste tempo, algumas bastante “mediáticas”, como as representações da Via-Sacra “ao vivo”.
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Acontece, por exemplo, em Nossa Senhora das Misericórdias (Ourém), em Fátima e na Maceira, neste último caso com o próprio pároco a assumir o papel de Jesus Cristo. Há também paróquias onde a celebração da Paixão do Senhor assume uma forma representada, que reúne multidões pelas ruas, integrando a procissão do “enterro”, como é o caso da Batalha e dos Pousos.
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dIOCESE DE LEIRIA-FÁTIMA
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Este ano – Ano da Fé – algumas paróquias decidiram seguir a proposta do Bispo diocesano de fazer uma celebração comunitária da Profissão de Fé, tendo algumas escolhido como ocasião propícia a Vigília Pascal. Na Boa Vista, por exemplo, será nessa noite a Profissão de Fé dos adolescentes da catequese, decorrendo ao longo desse sábado um encontro prolongado de preparação com eles.
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Tal como referido, diversas outras manifestações de religiosidade popular, associadas ou não às celebrações litúrgicas da Semana Santa, marcam presença de forma mais ou menos intensa nesta quadra Pascal. Fator comum é uma consciência que parece mais esclarecida sobre a importância central da paixão, morte e ressurreição de Cristo no contexto da fé e da vida celebrativa dos cristãos. Luís Miguel Ferraz
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PÁSCOA EM PORTUGALSemana Maior
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A celebração da Semana Santa na Diocese de Lisboa encontra o seu centro na Sé Patriarcal, onde todos os anos o Cardeal-Patriarca preside aos diversos atos litúrgicos que marcam o ritmo da denominada Semana Maior do ano. Desde a celebração do Domingo de Ramos na Paixão do Senhor, celebrada na Sé com a habitual procissão dos ramos que percorre o espaço do deambulatório e dos claustros daquele templo, até às próprias celebrações do Tríduo Pascal, que culminam com a celebração da Ressurreição de Jesus, no Domingo de Páscoa. No entanto, existem em alguns lugares da diocese diversas manifestações públicas de fé que, com maior ou menor tradição, assinalam este tempo forte do ano litúrgico. A Procissão dos Passos, que se realiza em diversas paróquias da diocese e até mesmo na cidade de Lisboa, deverá ser a manifestação pública de fé que encontra mais réplicas durante o tempo de Quaresma em toda a diocese. Na cidade de Lisboa foi, inclusive, retomado este ano o
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percurso original da Procissão do Senhor dos Passos da Graça, que teve início em 1587, ligando a igreja de São Roque à Graça. Já em plena Semana Santa as manifestações religiosas sucedem-se com maior ou menor visibilidade mas expressando, sempre, a vivência de uma fé que se torna pública, dirigindo de modo particular o olhar para a imagem de Jesus Cristo morto. Neste sentido, a designada procissão do Enterro do Senhor, iluminada apenas por archotes que ardem, é uma manifestação religiosa, que não estando prevista pelos livros litúrgicos, estabeleceu-se em Portugal em meados dos século XV e tem vindo a ser recuperada em alguns lugares da diocese de Lisboa. Este ano, o Bairro Alto, em Lisboa, Alenquer, Óbidos, são algumas das referências a ter em conta, sendo Óbidos o lugar que, certamente, atrai maior número de fiéis mas essencialmente turistas estrangeiros, pelo impacto cultural do evento naquela vila do Oeste.
Nuno Rosário Fernandes |
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DIOCESE DE LISBOA
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pÁSCOA EM PORTUGALPor terras arraianas
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A Quaresma é o período do ano litúrgico de preparação da comunidade dos fiéis cristãos para a celebração da festa pascal que comemora a ressurreição de Jesus Cristo. Nesta preparação, embora sem o rigor de outros tempos em que apenas se cantavam cânticos religiosos e havia renúncia aos divertimentos, continua sendo, para a maioria dos cristãos, tempo de jejum, da prática da caridade, de abstinência, de penitência, de recolhimento, de reflexão e de oração. A Quaresma é tempo de vivências que nos evocam os sofrimentos da paixão e morte de Jesus Cristo, com representações cénicas conforme relatos narrados nos Evangelhos e outras que chegaram até nós segundo a tradição oral. Tal como na maioria das Dioceses, na de Portalegre e Castelo Branco ocorrem durante os quarenta dias da Quaresma celebrações que se iniciam, na Quarta-Feira de Cinzas, com a cerimónia da imposição das cinzas, sendo comuns, na maioria das cidades, vilas e algumas aldeias, no quinto Domingo a Procissão dos |
Passos e no sexto, denominado Domingo de Ramos, a bênção dos Ramos e procissão que comemora a entrada triunfal de Jesus Cristo em Jerusalém. Neste sexto Domingo, inicia-se a Semana Santa, culminando com o Tríduo Pascal que ocorre na Quinta-feira Santa com a cerimónia do Lava-Pés, durante a Missa da Ceia do Senhor, na Sexta-feira Santa com a Via Sacra, cerimónia da Adoração da Cruz, procissão do Enterro do Senhor que inclui o Sermão da Soledade e Sábado Santo a Vigília Pascal. Hoje, mesmo vivendo os riscos da total desertificação e do completo envelhecimento da população, aliás comum a todo o interior de Portugal, parece-nos que nas terras arraianas do Município de Idanha-a-Nova, pertencentes à Diocese de Portalegre e Castelo Branco, permanecem, como numa ilha encantada, tradições religiosas quaresmais e pascais que foram comuns no interior do País, arreigadas e firmadas desde cultos pré-romanos até às vivências da religiosidade e da piedade popular dos nossos dias. Para a manutenção deste |
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dIOCESE DE PORTALEGRE-CASTELO BRANCO
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precioso património oral e imaterial, contribuiu o isolamento a que fora votado (em tempos não muito recuados, com a mais elevada taxa de analfabetismo do País), a ação evangelizadora dos guerreiros monges Templários onde no seu território deixaram marcas de oito castelos medievais erguidos ou reconstruídos, dos monges dos Conventos Franciscanos de Nossa Senhora da Consolação, na aldeia de Monfortinho e do de Santo António, na Vila de |
Idanha-a-Nova, as nove Santas Casas da Misericórdia, de ímpar número em todo o País, que são um dos garantes da preservação dessas sagradas e ancestrais tradições. Também contribuíram para a salvaguarda das mesmas em cada uma das dezassete Paróquias do Concelho, o empenhamento e o esmero de uma mão cheia de guardiães desta herança tradicional que a todo o custo procuram manter, expressa em manifestações da religiosidade |
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PÁSCOA EM pORTUGAL |
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popular que ocorrem em lugares ao ar livre, fora do espaço sagrado, bem como a benéfica ação dos Párocos do ontem e dos de hoje que tranquilamente as sabem valorizar e sublimar, à luz do Concílio do Vaticano II. Merecem menção entre outras manifestações da piedade popular, o cântico ou canto da Encomendação das Almas em todas as dezassete Paróquias, o “ir ver Nosso Senhor” e o Santo Sepulcro, em Idanha-a-Nova, as Ladainhas, em Proença-a-Velha, o
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Terço cantado pelos homens, em S. Miguel de Acha, as procissões “corridas” e dos Passos, em Alcafozes e a dos homens, no Ladoeiro, a “Serração da Velha”, em Idanha-a-Velha, a representação cénica de Maria Madalena, no decurso do Sermão, em Proença-a-Velha e Monsanto, os cânticos dos Martírios, da Senhora das Dores, do Louvád’ síssemo, da Verónica, das Três-Marias e o das Alvíssaras, em Sábado de Aleluia, ao som do milenar adufe, bem
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dIOCESE DE PORTALEGRE-CASTELO BRANCO
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como a Ceia dos Doze, os Santos Passos, as “cabeleiras”, em várias Paróquias, o Lava-Pés pelo Provedor da Santa Casa da Misericórdia, em Alcafozes e Segura, o descravamento e o descimento de Cristo arvorado na Cruz e a Sua colocação no esquife, em Monsanto, e a Aleluia com cortejo pelas ruas e com as amêndoas à rebatina, lançadas pelo Pároco, em Idanha-a-Nova. No Domingo de Páscoa é comum, nas diversas paróquias, haver a Procissão da Ressurreição, seguida da Eucaristia. E logo na segunda-feira, começam e prolongam-se, mormente até ao Pentecostes, as festividades: os bodos, as romarias, as |
celebrações à Mãe de Deus, nos inúmeros santuários campestres, dispersos pelo concelho. Aos naturais, mas ausentes, e aos leitores amantes dos bens naturais e culturais, com o legítimo desejo de retemperar as forças devido ao frenesim do dia a dia, convidamos a visitar o Município de Idanha-a-Nova, de indubitável vocação turística, no decurso das manifestações quaresmais e pascais, mormente na Semana Santa, que as gentes das terras arraianas das Idanhas carinhosamente mantêm com respeito, seriedade, dedicação e fé.
António Silveira Catana |
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pÁSCOA EM PORTUGALPáscoa: anúncio, vivência e partilha
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Falar da Páscoa na zona do Porto e de uma maneira geral no norte de Portugal, para além das celebrações propriamente litúrgicas (a Ceia do Senhor, as celebrações da Paixão, as liturgias das horas) é falar das manifestações da piedade popular em torno da Paixão, e do Domingo de Páscoa. As celebrações da Paixão são muitas e múltiplas, muito marcadas e marcantes em certas regiões: os autos populares da Paixão, que englobam belos textos, poemas e melodias de criação popular (o que mostra como o povo sentia, vivia e interpretava a Paixão), e as procissões que se diziam “de endoenças”, cujo nome guarda em si o significado e a vivência da dor, associando à de Cristo a dor dos homens e mulheres saídas dos duros trabalhos: é bonito ver como assim se associam as dores humanas à dor de Cristo. Mas a mais popular celebração da Páscoa nesta zona nortenha é sem dúvida o chamado “compasso”. Compasso evoca caminhada, evoca anúncio, evoca proclamação, evoca
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festa e alegria espontânea e natural, que também se exprimia na partilha de iguarias e bebidas à volta de uma mesa. É interessante como o “compasso” (cum-passu, caminhada a pé) traduz à sua maneira o percurso vital das pessoas: caminhando ao longo dos dias, vive-se a procura do encontro, os parentes que vêm de longe, lá da cidade. a presença das famílias umas junto das outras, um sentido comunitário que se perdeu nas sociedades modernas. Com efeito, o compasso é uma tradição eminentemente rural. Perdeu muito da sua identidade quando se tentou transferir para os caixotes habitacionais das cidades, nesse afã de subir e descer escadas de uns, enquanto outros agitam campainhas do outro lado da rua, estrategicamente encostados aos candeeiros. O calcorrear dos caminhos de terra ou saibro foi substituído pela calçada portuguesa ou pelo asfalto incaracterístico. Ao compasso das cidades falta sempre o cheiro às árvores floridas ou às terras estrumadas. |
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dIOCESE DO PORTO
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Não quero com isto significar que deixe de ter sentido a agora chamada “visita pascal”. Transformou-se também a presença do padre na de leigos generosos, mas que lhe faz perder um pouco da sua “sacralidade” advinda da batina e da estola. No entanto, esta memória do anúncio da ressurreição deve tornar-se num anúncio novo: sentir que a Igreja se |
desclericaliza, se democratiza, torna mais próxima a vivência e a convivência de vizinhos que tantas vezes mal se conhecem. Viva pois, pela visita pascal, o anúncio da ressurreição e o anúncio da fraternidade humana nas cidades desumanizadas!
M. Correia Fernandes |
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PÁSCOA EM PORTUGALTradição e testemunho
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A Diocese de Setúbal, devido ao enorme aumento populacional das últimas décadas, acolhe hoje mais de 800 mil pessoas. Provindas de várias partes de Portugal e do mundo, um bom número de tradições aqui se juntou, fazendo uma mistura original e alargada no que diz respeito também às celebrações associadas à Semana Santa, Tríduo Sacro e Tempo Pascal. Estas, juntas às já praticadas pelas comunidades mais antigas, criam hoje um colorido que, embora ainda não totalmente «cristalizado» em termos de ritos, tem uma preocupação claramente apostólica e de sinal público de Fé, mais do que apenas o cumprir de uma tradição anual. Assiste-se a um reavivar de expressões religiosas e de piedade popular, as quais, já bastante purificadas, têm sido momentos de visibilidade, anúncio e encontro de muitos com a Igreja. Embora muita gente ainda «vá à terra» por esta quadra, é cada vez
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em maior número os que ficam para participar nestes momentos tão centrais da vida dos cristãos. A maioria das paróquias faz questão de celebrar uma Via Sacra pública, e essa prática tem-se incrementado nos últimos anos de modo consistente. Algumas comunidades de mais antiga tradição mantêm as Procissões dos Passos e as do Enterro do Senhor, e outras ainda uma Procissão Penitencial (como na cidade episcopal, por exemplo) que se centram no sacrifício redentor de Jesus Cristo por toda a humanidade. No Domingo de Páscoa, e no Domingo seguinte, algumas comunidades realizam a Procissão da Ressurreição e também a Visita Pascal, que foram recuperadas e implementadas de novo em vários locais, e que são muito bem aceites sobretudo naquelas localidades com maior implantação de pessoas do Norte e Centro de Portugal. As comunidades procuram ainda
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DIOCESE DE SETÚBAL
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celebrar condignamente as festas do Tríduo e da Páscoa, tendo paulatinamente introduzido elementos de maior profundidade litúrgica, como o canto de Ofício de Leituras e de Laudes na Sexta e Sábado Santos, e que hoje são apanágio de boa parte das paróquias. Também se tem valorizado muito mais a centralidade da Vigília Pascal, reservando para ela os batismos de adultos e preparando-a com um cuidado cada vez maior, o que também decorre do maior desvelo na |
preparação dos candidatos ao Batismo (em número crescente) e no seu conveniente tempo de catecumenato. Neste ano, com a celebração do Ano da Fé, algumas comunidades optaram por fazer a Via Sacra e algumas procissões com caráter interparoquial, juntando duas ou mais comunidades no mesmo gesto de sair à rua para rezar com todos e por todos, num testemunho visível e claro de unidade, para lá das tantas vezes quase intransponíveis barreiras paroquiais. Francisco Mendes |
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pÁSCOA EM pORTUGALA Páscoa na Diocese de Viseu |
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A festa da Páscoa é o momento alto do Ano Litúrgico, este ano assinala-se o Ano da Fé. |
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DIOCESE DE VISEU
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Aleluia, em que tanto na catedral de Viseu e nas paróquias é celebrada a Vigília Pascal, onde a Água e Luz são elementos de vida no surgimento da Páscoa, nessa mesma noite proclama-se que Cristo Ressuscitou, lembrando também a fuga do povo de Israel do Egipto. |
paróquias a visita pascal ocorre no domingo da Divina Misericórdia. Nas visitas pascais as casas que recebem os visitadores têm para lhes oferecer produtos tradicionais, como as amêndoas ou os bolos folar ou ainda os pães-de-ló, em algumas casas pode se encontrar as tradicionais broas doce e os pães de azeite. Élio Oliveira - Jornal da Beira |
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Tríduo Pascal, símbolos e espiritualidade |
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O padre Luis Manuel Pereira Silva, professor de liturgia na Universidade Católica Portuguesa e pároco da Sé de Lisboa, apresenta os momentos centrais do ciclo de celebrações que leva os católicos da Quinta-feira Santa ao Domingo de Páscoa. |
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Agência ECCLESIA (AE) – O que celebra a Igreja nestes dias centrais do seu calendário litúrgico? Luis Manuel Silva (LMS) – A Igreja celebra, anualmente, de maneira solene a Páscoa, a que chamamos o Tríduo Pascal (começa na Quinta-feira à tarde com a celebração da Ceia do Senhor e termina no Domingo de Páscoa, com as segundas vésperas). Na Quinta-feira Santa, o olhar e toda a vida da Igreja se centra no cenáculo, onde Jesus instituiu a Eucaristia e onde nos deixou o mandamento novo do amor. Expresso, concretamente, no gesto que São João nos relata, no capítulo 13 do seu evangelho, com o lava-pés.
AE – A espiritualidade da Quinta-feira Santa está centrada na Ceia do Senhor? LMS – Na instituição da Eucaristia, onde Jesus dá um sentido novo a todo aquele rito. Ele próprio o diz, quando pega no pão e no vinho, «tomai e comei, tomai e bebei, este é o meu corpo, este é o meu sangue». A Páscoa começa com a própria celebração histórica, para Jesus, na última ceia, |
como uma nuvem da paixão do Senhor. Jesus celebra a última ceia, já envolvido por todos os acontecimentos. Na última ceia, Jesus institui a Eucaristia de maneira a que a Igreja – ao longo dos séculos – possa sempre celebrar e renovar o memorial da Páscoa de Jesus, através de elementos que Ele próprio escolheu na última ceia. Elementos que ficassem como sinais, como presença, da sua vida e da sua obra redentora.
AE – O pão, a água e o vinho… LMS – São elementos que Jesus escolheu na ceia hebraica. No entanto, é bom recordar que a ceia hebraica tinha outros elementos, como o cordeiro pascal, as ervas amargas. Há aqui um mistério de uma vida dada e de uma vida renovada que a Igreja pode, cada vez que celebra a Eucaristia, tornar presente. Isto é o aspecto mais impressionante, Jesus deixa-se presente para que o cristão, o baptizado, vá peregrinando no tempo, mas alimentando-se do pão que é da eternidade. |
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AE – A Cruz é o símbolo, em destaque, na Sexta-feira Santa… LMS – Em Sexta-feira Santa, no horizonte da Igreja, ergue-se a Cruz do Senhor. A cruz como sinal da pior das mortes, da morte mais infame, mas que para nós, cristãos, é o sinal da glória. Por exemplo, em São João, é importante este sentido da glória da cruz. Aliás, Jesus passa a sua vida pública, em São João, a dizer: “Ainda não chegou a minha hora”. Repete esta expressão várias vezes, até que quando sobe a Jerusalém, para celebrar a Páscoa pela última vez na sua vida e fará a sua própria Páscoa, Jesus diz, abertamente, que “chegou a hora”. Esta hora, é a hora da cruz, da glorificação que ao mesmo tempo é paradoxal. A crucificação era para os malfeitores. |
AE – A dramaticidade da Sexta-feira Santa dá lugar ao silêncio no sábado santo que desemboca na vigília pascal. Uma celebração carregada de simbolismo? LMS – A vigília pascal é a grande noite dos cristãos. É a santa noite dos cristãos. Aliás, na liturgia há uma valorização da noite. Nessa noite, a Igreja reunida aguarda, expectante, a Ressurreição do Senhor. Celebramos a vitória de Cristo sobre o pecado e a morte. A vigília pascal é também uma vigília cósmica onde os quatro elementos da natureza estão presentes: terra, ar, fogo e água. Estes elementos foram escolhidos por Ele para a vida sacramental da Igreja. Em todo o tempo pascal, o círio estará ao lado do ambão. É nessa luz de Cristo Ressuscitado que a comunidade cristã lê as escrituras e toda a história da salvação. |
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AE – Na liturgia baptismal surge o símbolo da água. LMS – A bênção da água. Nessa água serão baptizados os catecúmenos e com essa água é aspergida toda a assembleia cristã. A assembleia renova, de maneira solene, os votos do seu |
baptismo. A água aparece como símbolo da vida. O baptismo é este viver para uma vida nova. Na água do baptismo morre o homem velho.
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Igreja atenta às periferias
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O Papa Francisco concedeu hoje a primeira audiência geral do seu pontificado, perante dezenas de milhares de pessoas, pedindo que a Semana Santa seja uma oportunidade para a Igreja chegar às “periferias” e “sair” de si. “Viver a Semana Santa seguindo Jesus, não só com a comoção do coração, quer dizer aprender a sair de nós mesmos, para ir ao encontro dos outros, para ir às periferias da existência”, disse, no Vaticano, falando em italiano, a única língua em que se pronunciou. O Papa argentino pediu uma atenção particular aos que estão “mais longe, aos que são esquecidos, os que têm mais necessidade de compreensão, de consolação, de ajuda”. Neste contexto, evocou o exemplo de Jesus que “falou a todos sem distinção, aos grandes e aos humildes, ao jovem rico e à viúva pobre, aos poderosos e aos fracos”, levando-lhes a “presença de Deus que se interessa por cada homem e cada mulher”. |
Segundo Francisco, a Semana Santa que a Igreja Católica se encontra a celebrar desde domingo é “um tempo de graça” para as paróquias, movimentos e associações católicas, chamadas a “sair” ao encontro dos outros para levar “a luz e a alegria” da fé”. “Sair sempre, com o amor e a ternura de Deus, no respeito e na paciência”, apelou. A mensagem seria retomada na conta do Papa na rede social Twitter: "Permanecer com Jesus exige sair de si mesmo, de um modo cansado e rotineiro de viver a fé". Francisco, saudado várias vezes pela multidão, voltou ao tema da “misericórdia”, que tem acompanhado as suas primeiras reflexões. “Deus pensa sempre com misericórdia”, declarou, dando como exemplo “o pai que espera o regresso do filho e vai ao seu encontro, vê-o quando ainda está longe, sinal de que o esperava todos os dias no terraço da sua casa”. |
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Encontro de «irmãos» |
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O primeiro encontro “face a face” entre o Papa Francisco e o seu antecessor, Bento XVI, decorreu este sábado em Castel Gandolfo, nos arredores de Roma, e começou com um abraço. "Somos irmãos", disse o atual Papa ao seu predecessor, segundo o porta-voz do Vaticano. O padre Federico Lombardi revelou alguns detalhes daquela que foi a primeira audiência entre um Papa em exercício e um emérito, num encontro "totalmente privado e reservado". De acordo com o diretor da sala de imprensa da Santa Sé, “o helicóptero que transportou o Papa Francisco chegou ao Palácio Apostólico às 12h15 (menos uma hora em Lisboa) e o carro com Bento XVI aproximou-se desde logo do local de aterragem”. “Quando chegaram ao pé um do outro, o Papa emérito aproximou-se de Francisco e os dois deram um abraço comovente”, revelou o porta-voz da Santa Sé. Depois do percurso de carro desde o heliporto até ao Palácio, ambos “seguiram imediatamente para a |
capela” do edifício “para um momento de oração”. “Bento XVI ofereceu o lugar de honra a Francisco mas este quis que eles ajoelhassem os dois no mesmo banco”, realçando a sua condição de “irmãos”. Francisco ofereceu a Bento XVI “um bonito ícone” dedicado a Nossa Senhora da Humildade, um presente que pretendeu invocar “a grande humildade” do Papa emérito. Através das imagens disponibilizadas pelo Centro Televisivo do Vaticano foi possível perceber a conversa mantida nesse momento, em que o Papa argentino explica a oferta e o seu antecessor se mostra comovido com o gesto. |
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Papa vai lavar os pés a jovens detidos |
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O Papa Francisco vai lavar os pés a 12 jovens de várias nacionalidades e religiões na celebração da tarde de Quinta-feira Santa, marcada este ano para um centro de detenção para menores, em Roma. O Serviço de Informação do Vaticano (VIS) revelou que a celebração será “muito simples” e tem um “caráter íntimo”, por vontade expressa do Papa argentino, sem transmissão televisiva em direto e presença de jornalistas limitada ao exterior do Instituto Penal para Menores (IPM) de Casal del Marmo, que Bento XVI também visitou em 2007.A celebração tem início marcado para as 17h30 locais
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(menos uma em Lisboa) e representa uma mudança relativamente ao programa habitual da Semana Santa, dado que o Papa preside habitualmente a esta cerimónia na Basílica de São João de Latrão. A ‘missa da Ceia do Senhor’ é caraterizada “pelo anúncio do mandamento do amor e pelo gesto do lava-pés”. A celebração vai contar com a participação de 50 jovens, incluindo 11 raparigas, todos do IPM, que irão proferir as leituras da cerimónia. “O Papa vai lavar os pés a 12 deles, escolhidos entre várias nacionalidades e confissões religiosas”, explica a nota do VIS enviada à Agência ECCLESIA. |
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Semana Santa: Oportunidade
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O frei Filipe Rodrigues, da Ordem dos Pregadores, convida os fiéis a fazerem da Semana Santa uma oportunidade de “atualização” da fé e de reflexão sobre aquilo que a Páscoa pode trazer de novo à vida de cada um. Em entrevista ao Programa ECCLESIA, na Antena 1, o religioso dominicano salienta que o “mais importante” é que a vivência do Tríduo Pascal seja de facto “santa”, que as pessoas participem nas celebrações e procurem na Palavra de Deus “pistas” que permitam interpretar “a morte e ressurreição de Cristo” à luz dos acontecimentos atuais. Mais do que recordar algo que “aconteceu há dois mil anos atrás”, os católicos são chamados a ver como é que “este ano”, nas “condições” em que estão, com tudo o que os envolve, conseguem acolher na sua “história” a “libertação” que Cristo oferece. A partir das leituras que compõem a Semana Santa, o frei Filipe Rodrigues realça que “Jesus não vem cumprir com as aspirações das pessoas em relação ao Messias, vem cumprir a vontade de Deus”. “O poder de Jesus, e a Semana Santa vai dizer isso a cada dia, é na Cruz. Jesus reina na Cruz e a sua coroa é de espinhos”, aponta o religioso, que chama a atenção para a simbologia contida na celebração do Domingo de Ramos.
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Tal como Jesus foi acolhido em tom de festa e “alegria” em Jerusalém, apenas para ser depois rejeitado e entregue à morte, hoje também os católicos “muitas vezes aclamam Jesus, como Deus e Senhor e depois o vão traindo, através de erros, pecados e omissões”, salienta o dominicano. No entanto, “em cada dia, ajudadas pelas leituras”, as pessoas têm a oportunidade de perceber que a atitude de Cristo é de “misericórdia” e não de repreensão, que as suas “últimas palavras são de perdão e reconciliação”. |
Isto também deve ajudar as pessoas a encararem a Semana Santa com esperança e otimismo, “não como um caminho de morte mas de ressurreição”, reforça o frei Filipe Rodrigues. A Semana Santa, ciclo litúrgico mais importante do calendário católico, recorda os momentos que antecederam a prisão e execução de Jesus e culmina na Páscoa, na qual se celebra a ressurreição de Cristo. Até sexta-feira, às 22h45, o Programa ECCLESIA na Antena 1 vai apresentar uma reflexão sobre o significado destes dias.
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Valores para este tempo |
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D. José Cordeiro, bispo de Bragança-Miranda |
O novo Papa Francisco e a leitura do livro “Il vescovo” do Cardeal Martini, outro Jesuíta e de saudosa memória inspiraram esta simples reflexão acerca de quatro valores adaptados a este tempo da net generation, que já supõem a fé, esperança e caridade e ainda as virtudes cardiais (justiça, prudência, temperança e fortaleza) e são eles: 1) a integridade, 2) a lealdade, 3) a paciência e 4) a misericórdia.
1) Integridade Ser uma pessoa íntegra e honesta é ser uma pessoa atual: «Não digas: “Porque foram os dias antigos melhores que os de agora”? Pois não é a sabedoria que te inspira essa pergunta» (Ecl 7, 10). O grande F. Pessoa, sabiamente escreveu: «Para ser grande, sê inteiro: nada teu exagera ou exclui. Sê todo em cada coisa. Põe quanto és no mínimo que fazes. Assim em cada lago a lua toda brilha, porque alta vive».
2) Lealdade Dizer a verdade, significa não mentir e por nenhum motivo. Ser honesto é ser simples, isto é, ‘sem dobra ou vinco’ que não transpareça da sua vida alguma atitude de escondimento acerca das regras e das normas a observar. |
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3) Paciência Um dia o Cardeal G. Siri aconselhou aos bispos cinco virtudes, ao que eu acrescento mais duas: 1. Paciência; 2. Paciência; 3. Paciência; 4. Paciência; 5. Paciência; 6. Paciência; 7. Martírio da paciência. Há que ter paciência também com aqueles que nos convidam a ter paciência.
4) Misericórdia A Igreja tem de exercitar ainda mais a sua função de mãe amável e atenta no acompanhamento de todas as pessoas, para que seja capaz de oferecer motivos de esperança a todos os que «jazem nas trevas e nas sombras da morte» (Lc 1, 79).
O Beato D. Bartolomeu dos Mártires, Arcebispo de Braga e ao tempo também das terras do Sul da Diocese de Bragança-Miranda escreveu no tão atual Stimulus Pastorum: «três coisas se requerem no prelado: 1ª – pureza de intenção, que consiste nisto: desejar mais servir que presidir; procurar em tudo não a honra, não a |
própria comodidade, mas a pura vontade de Deus e a salvação das almas; 2ª – conversão santa e irrepreensível, para que de nenhum modo se possa objetar-lhe: médico, cura-te a ti mesmo; 3ª – Todos estes valores referidos ao bispo, servem também para todo o cristão, porque «quando professamos um Cristo sem cruz não somos discípulos do Senhor, somos mundanos, somos bispos, padres, cardeais, Papas, mas não discípulos do Senhor», como observou, em nobre simplicidade, o Papa Francisco. A cruz florida da Páscoa nos renove na fé da Esperança que irradia o amor luminoso e confiante. |
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A nova estação |
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Lígia Silveira Agência Ecclesia |
- O pontificado de Karol Wojtyla iniciou-se poucos dias antes de eu nascer. Durante muito tempo, num sentimento comum a tantos que acompanharam os 27 anos de João Paulo II, aquele foi o meu Papa. Na Jornada Mundial da Juventude, em 1997, onde o encontrei, não era o seu conservadorismo que me marcava mas antes o convite à participação numa Igreja jovem. Com Bento XVI fui percebendo que seria o Papa da minha maturidade, onde os limites e as fronteiras da fé desapareciam para dialogar, em liberdade, em beleza, em promessa de uma Igreja de encontros que queria respeitar a diferença. Junto-me agora ao coro de vozes que se deixou emocionar quando viu uma figura de branco sem ornamentos aparecer na varanda da Basílica de São Pedro e, dias mais tarde, nos falou de uma Igreja pobre e para os pobres. Simplicidade e profundidade mostraram que palavras e gestos se unem para cuidar, verbo importante na América Latina. A cruz de João Paulo II, as reflexões de Bento XVI ou os gestos simples de Francisco convidam a ir ao essencial da fé e à mudança de estação em cada etapa da vida. |
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- Num trajeto quotidiano passei por um local que povoou diariamente a minha infância. Anos 80 quando, ainda miúdos, todos os trocos serviam para gomas, pastilhas e rebuçados. Os intervalos entre os Trabalhos Manuais e as Ciências da Natureza eram passados no quiosque a comprar guloseimas e a deixar os olhos brilhar perante tanta cor e promessa de açúcar. Há pouco mais de 20 anos esta paragem obrigatória seria enorme e movimentada mas, há dias, ainda a funcionar e com a mesma senhora a vender gomas, pastilhas e rebuçados, este pequeno recanto era isso mesmo: um lugar confortável mas redimensionado à mundividência que os anos adquiriram. Assim como quando entramos na antiga sala da escola primária, onde tudo era enorme e a carteira o canto de conforto, hoje, esse espaço em que crescemos torna-se o lugar onde se recorda a promessa do que seriamos. A mudança está nos olhos e na vida. |
- A Ecclesia mudou-se por estes dias para novas instalações dentro da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), concretizando o projeto de edição e realização conjunta de toda a informação produzida pela agência de notícias, programa de televisão e emissão de rádio. A partilha de um espaço comum abre uma nova etapa na forma de se ser jornalista nesta casa, da pertença e do projeto de informação religiosa.
- A redação da Ecclesia é um local privilegiado para acompanhar as mudanças de estação. As muitas árvores que dão sombra e frescura no verão são as mesmas que no outono, entre folhas cor-de-laranja e castanhas, mostram o crepúsculo dos dias mais pequenos. Os ramos despidos que dançam à chuva batida a vento e mostram a nudez do inverno renovam-se com o tempo ameno e colorido que a primavera oferece. São sempre novas as estações que acompanhamos pelas janelas da nossa redação. |
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TERRA PROMETIDA |
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Steve Butler e Sue Thomason, dois executivos que trabalham para uma companhia energética dos Estados Unidos, têm por incumbência convencer os proprietários agrícolas de Midwestern a vender os direitos de exploração das suas terras em favor da extração de gás natural. No pacote de contrapartidas e atrativos, conta-se a participação nos lucros da companhia e a transformação radical do estilo de vida de uma população francamente afetada pela recessão económica... Em plena campanha e apesar dos resultados positivos que um discurso bem afinado vai encontrando, Steve Butler depara-se com a firme oposição de Frank Yates, um cientista reformado, e de Dustin Noble, ambientalista, ambos decididos a demonstrar os efeitos nefastos de tal exploração para a qualidade da água e, consequentemente, para o equilíbrio natural de um solo invulgarmente rico. Aos poucos, a convicção de Steve vai sendo abalada, obrigando-o a ponderar não apenas sobre os |
seus interesses pessoais e profissionais, mas sobre a defesa dos seus valores... sobretudo do bem comum. Nesta ponderação não é indiferente a relação que estreita com Alice, uma professora local... Trazendo a lume uma velha, pertinente e nada consensual questão sobre a racionalidade do uso dos recursos naturais, Gus Van Sant propõe em ‘Terra Prometida’ uma reflexão sobre os custos e benefícios da exploração do gás natural que, embora focalizada numa região dos Estados Unidos, abrange uma discussão a nível planetário. A perspetiva económica e ambientalista assumem o protagonismo da história, numa relação em que as respostas de curto prazo às necessidades de uma população, enquadradas numa mais vasta necessidade de autonomização económica dos Estados Unidos face a países produtores de gás natural, não são suficientes para camuflar nem a necessidade de preservação da saúde dos recursos naturais, a maior e mais garantida riqueza |
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que uma população possui, nem a desproporção entre os ganhos de quem explora os recursos e de quem deles deve beneficiar por direito.
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Com uma realização escorreita e um naipe de excelentes atores, os argumentos de Van Sant pendem de forma muito evidente para a perspetiva ambientalista, o que apesar da agilidade com que o seu mais recente filme se desenvolve, não chegará para minimizar o alcance mundial da questão, num mundo, que apesar das convenções, acordos e regras que se vão estabelecendo entre países, continua a ser explorado de forma bastante desigual...
Margarida Ataíde |
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Semana Santa de Braga |
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Em plena Semana Maior, achamos por bem trazer a este espaço o único sítio online inteiramente dedicado a este grande momento de fé e esperança vivido por todos os cristãos. Da responsabilidade do Cabido Metropolitano e Primacial Bracarense que, em conjunto com mais um grupo de entidades (Irmandades, Câmara Municipal, região de turismo do norte e a associação comercial de Braga), disponibilizam este espaço que pretende acima de tudo ser um local onde podemos consultar tudo aquilo que está relacionado com esta ocasião única para a cidade dos arcebispos. Ao digitarmos o endereço www.semanasantabraga.com encontramos um espaço muito bem concebido, com uma imagem discreta |
mas ao mesmo tempo solene e perfeitamente enquadrada com o tempo litúrgico em que vivemos. Na página inicial temos ao dispor um conjunto enorme de recursos, que transformam esta área como o palco que nos transporta para as diferentes propostas. Assim, passamos a descrever os principais itens. Na opção “lausperene quaresmal”, podemos consultar o calendário da exposição à adoração do Santíssimo Sacramento nas diferentes igrejas da cidade. De seguida, temos um mapa interativo com todos os percursos das diversas procissões que percorrem as artérias de Bracara Augusta. Mais abaixo, no item “histórico”, para |
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memória futura, podemos aceder aos registos dos anos anteriores desde 2007 até ao ano passado. Existe um conjunto de artigos que podem ser adquiridos diretamente nesta plataforma, para isso, basta clicar em “produtos oficiais”. Dentro ainda desta temática comercial, pode consultar uma listagem completa com todos locais de acomodação em “alojamento”. Pode também colaborar financeiramente com a comissão que organiza esta semana, através de um |
patrocínio ou donativo, podendo obter mais informações em “donativos”. Em “celebrações religiosas”, dispomos de uma explicação detalhada de todas as celebrações e momentos solenes de âmbito religioso, desde a bênção dos Ramos que inicia a Semana Santa, passando pela “mãe de todas as celebrações” e terminando na visita Pascal. Paralelamente existe um vasto programa cultural, com exposições e concertos, envolvendo assim toda esta semana, num extraordinário momento de fé e vivência cristã, para quem se entrega à paixão, morte e Ressurreição de Cristo. Fernando Cassola Marques |
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II Concílio do Vaticano:
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Nos anos 60, viveu-se o enorme entusiasmo da aplicação da reforma da liturgia surgida pelo II Concílio do Vaticano. Segundo o bispo de Bragança-Miranda, D. José Cordeiro, esta aplicação destacou-se na abertura da liturgia às línguas vernáculas e o papel relevante atribuído às Conferências Episcopais; a restauração da concelebração e da comunhão sob as duas espécies; a simplificação do ofício divino; as perspectivas missionárias que as possíveis adaptações ofereceram; a preferência do termo unção dos doentes ao antigo de extrema unção; o anúncio de que é possível reformar toda a liturgia; o ênfase ao mistério pascal; a participação dos fiéis e a dignificação do culto. Numa conferência proferida na Academia Internacional da Cultura portuguesa, em Lisboa, e subordinada ao tema «Do Movimento Litúrgico à Reforma Litúrgica em Portugal» o prelado de Trás-os-Montes sublinhou ainda que nos anos 70 (Note-se, porém que, em 1974, iniciam-se em Portugal as semanas de Pastoral litúrgica, que congregam milhares de pessoas em Fátima e muito têm contribuído para a formação litúrgica das dioceses portuguesas), assistiu-se a um “desencanto na receção da reforma, devido a uma renovação não suficientemente preparada, permanecendo a reforma no exterior”. “Foram, no entanto, anos marcados pela: fixação das celebrações e a publicação dos livros
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litúrgicos; o crescimento rápido da secularização da sociedade; a crise dos sacerdotes. Nestes anos, ao ver que a liturgia não resolvia todos os problemas de fundo, a preocupação pastoral voltou-se para a evangelização”, disse. A recuperação operou-se nos anos 80. Uma reorientação litúrgica favoreceu a procura de um novo estilo de celebração. A relação celebração-evangelização tornou-se mais dinâmica e conciliatória. A pastoral litúrgica salientou-se nos anos 90. Existiu uma “plena sintonia com os novos Ordines e um renovado interesse pela Palavra de Deus” (Cf. SC 35.) Surgiram os novos Leccionários com um dinamismo vital e sublinhou-se o domingo como a festa primordial. A nova evangelização tornou-se uma prioridade. O valor da Liturgia das Horas foi considerado com maior destaque, bem como a experiência do silêncio na oração. No limiar do terceiro milénio fez-se um apelo à espiritualidade litúrgica: participação mais ativa e |
consciente dos fiéis na liturgia; o enriquecimento doutrinal e catequético; o uso da língua vernácula; a abundância das leituras bíblicas; o aumento do sentido comunitário da vida litúrgica; os esforços bem sucedidos para eliminar o desacordo entre vida e culto, piedade litúrgica e piedade pessoal e liturgia e piedade popular. “Restam, contudo, grandes trabalhos a realizar”, salientou D. José Cordeiro e acrescentou: O prosseguimento da séria investigação bíblica e teológica sobre os temas atinentes à liturgia (lex orandi) será, certamente, um apoio precioso para o desenvolvimento e a consolidação da mesma sempre a renovar no espírito e na prática concreta. Todo o espaço da reforma litúrgica foi sustentado pelo «Consilium ad exsequendam Constituitionem de Sacra Liturgia (25.01.1964 – 09.05.1969), constituído para a aplicação da Sacrosanctum Concilium. |
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Dia 30* Vaticano - Basílica de São Pedro (19h30m) - Vigilia Pascal presidida pelo Papa Francisco.
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* Lisboa - Sintra - 6º Compasso Pascal Motard.
Dia 01* Braga - Montariol - Capítulo provincial dos Franciscanos sobre «A caminho, rumo ao futuro». (01 a 06)
Dia 02* Braga - Museu Pio XII - Encerramento (início a 20 de Março) da exposição de fotografia sobre a Semana Santa de Braga, resultante do concurso público em 2012.* Itália - Roma - Ordenação de dois diáconos da Companhia de Jesus (jesuítas): Frederico Cardoso de Lemos e Gonçalo Machado.
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Dia 03
* Coimbra - Instituto Universitário Justiça e Paz - Iniciativa «Party_Ora» promovida pelo Serviço de Pastoral do Ensino Superior (SPES).
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Ano C - Domingo da Páscoa
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“Levaram o Senhor do sepulcro e não sabemos onde O puseram”. No Evangelho deste domingo de Páscoa, Maria Madalena experimenta o vazio: não há nada, nem mesmo o cadáver do seu Senhor bem-amado. Ela não tinha nada a que se agarrar para fazer o luto. Sabemos bem como é mais dolorosa a morte de um ente querido quando o seu corpo desapareceu, quando não há túmulo onde se possa ir em recolhimento. A Igreja não cessa de repetir que Jesus está vivo, vencedor da morte para sempre. Todos os anos se multiplicam aleluias. Mas ressoa em nós a constatação dos discípulos de Emaús, ao dizerem ao desconhecido, que se lhes juntou no caminho, que não tinham visto o Senhor. Paulo grita: “Onde está, ó morte, a tua vitória?” A nossa experiência poderá perguntar: “Ressurreição de Cristo, onde está a tua vitória?” Apesar do |
Ver e acreditar
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vazio, para podermos ir mais longe, como o discípulo que viu e acreditou. Daí a importância do sábado santo, tempo de passagem para a vida nova no Ressuscitado. Podemos apoiar-nos e confiar no testemunho das mulheres e dos discípulos. Também eles tiveram que acreditar! A sua fé é essencial para enraizarmos a nossa fé em Cristo Ressuscitado. Como os discípulos, procuremos ver e acreditar que Cristo está vivo, sem correr atrás do maravilhoso que sempre nos escapa e dececiona. Durante o tempo pascal, a exemplo de João, exercitemos o nosso olhar para descobrir o Ressuscitado através dos sinais humildes da vida quotidiana. Com os discípulos de Emaús, procuremos descobri-lo a caminharperto de nós na peregrinação da vida e a abrir os nossos espíritos à compreensão das Escrituras. Que a Páscoa seja a nossa alegria! Aleluia! Manuel Barbosa, scj |
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Programação religiosa nos media |
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Antena 1, 8h00 RTP1, 10h00 Transmissão da missa dominical
11h00 - Transmissão da Mensagem e Bênção "Urbi et Orbi" do Papa Francisco
11h30 . Transmissão da missa do Domingo de Páscoa da Sé de Lisboa
Domingo: 10h00 - O Dia do Senhor; 11h00 - Eucaristia; 23h30 - Ventos e Marés; segunda a sexta-feira: 6h57 - Sementes de reflexão; 7h55 - Oração da Manhã; 12h00 - Angelus; 18h30 - Terço; 23h57-Meditando; sábado: 23h30 - Terra Prometida. |
RTP2, 11h30Domingo, dia 31- Da morte à vida: a transformação que acontece nos Companheiros de Emaús.
RTP2, 18h00Segunda-feira, dia 1 - Entrevista ao padre Vitor Melícias, no primeiro dia do capítulo provincial dos franciscanos.
Terça-feira, dia 2 - Informação e rubrica sobre o Concílio Vaticano II, com padre António Martins;
Quarta-feira, dia 3 - Informação e rubrica sobre Doutrina Social da Igreja, com Manuela Silva;
Quinta-feira, dia 4 - História e religiosidade em torno da igreja de Marvão e a rubrica "O Passado do Presente", com D. Manuel Clemente
Sexta-feira, dia 5 - Apresentação da liturgia dominical por D. António Couto
Antena 1 Domingo, dia 31, 06h00 - Domingo de Páscoa: A Primavera da Igreja com o início do pontificado do Papa Francisco
Segunda a sexta-feira, dia 1 a 5 de abril, 22h45 - Memórias e vivências do tempo pascal em Bragança, Açores, São Tomé e Príncipe, na comunidade ecuménica Taizé e revitalização das tradições nos centros urbanos. |
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♦ O tríduo que celebra a morte de Cristo chama-se Pascal, implica a palavra ressurreição para que seja compreendido e vivido. Os últimos 3 dias da Quaresma, quando se recordam e recriam os últimos momentos da vida de Jesus adquirem assim um tom marcadamente festivo, porque de fermento de vida.
♦ Por estes dias terminam os 40 dias do Tempo da Quaresma e começam os 50 dias do Tempo Pascal. Dois tempos da liturgia católica que radicam no mesmo acontecimento: Jesus Cristo, a sua paixão, morte e ressurreição. O primeiro, de preparação, é vivido intensamente em muitas regiões de Portugal. Que o seja também o tempo do anúncio do ressuscitado.
♦ No Domingo de Páscoa o Papa Francisco dirige a sua primeira mensagem pascal à cidade de Roma e ao mundo. Os dias deste pontificado oferecem motivos de sobra para criar expectativas quando ao que vai dizer e sobretudo ao modo como se vai dirigir a todas as pessoas. É que os gestos que mais surpreendem no Papa Francisco são do quotidiano, surgem inesperadamente. E por isso são genuínos!
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A carta do Cardeal Bergoglioao Padre Werenfried van Straaten“Por favor, rezem também por mim” |
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É uma simples carta de agradecimento. Tem apenas quatro parágrafos e nota-se logo a ausência de qualquer brasão cardinalício ou de qualquer elemento gráfico relevante. A carta do “Arzobispo de Buenos Aires”, Cardeal Jorge Mario Bergoglio, tem a data de 27 de Fevereiro de 2001,
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é dirigida ao Padre Werenfried e demonstra o afecto que o actual Papa já então nutria pela missão da Fundação AIS.
Hoje, esta carta ganha um inesperado valor. Não apenas pelas palavras afectuosas que D. Jorge Bergoglio escreveu ao fundador da AIS, agradecendo a presença dos representantes da Fundação AIS no consistório em que foi elevado à dignidade de cardeal, mas especialmente pela visão comum do trabalho da Igreja para os dias de hoje.
Fidelidade do Evangelho
Hoje, quando o Papa Francisco afirma querer “uma Igreja pobre”, seguindo o ideário de São Francisco de Assis, sabe bem do que fala. Nos bairros miseráveis dos subúrbios de Buenos Aires,
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onde a pobreza é extrema e contrasta violentamente com o luxo excessivo e tantas vezes quase ostensivo das zonas nobres da cidade, a Igreja é quase sempre a única mão amiga, a única ajuda desinteressada, o único apoio de centenas e centenas de pessoas.
Por isso, D. Jorge Mario Bergoglio agradeceu ao Padre Werenfried o mais importante de todo o apoio que a Fundação AIS possa oferecer à Igreja na Argentina: as orações. “Peço que orem por este trabalho missionário”, escreveu o cardeal. “Prometo-lhe que rezo pelos trabalhadores e benfeitores da AIS. Também vou rezar por si, de quem guardo uma excelente memória”.
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Igreja pobre
Esta simples carta, arquivada ao lado de centenas de outras que tiveram como destinatário o Padre Werenfried, ganha agora outra luz, desde que o seu autor foi eleito Papa. Curiosamente, porém, dir-se-ia que nada mudou nestes dez anos. O trabalho missionário de que falava o Cardeal de Buenos Aires é seguramente o mesmo de que fala hoje o Papa Francisco quando diz que deseja “uma Igreja pobre”; quando explica que, “sem Jesus Cristo, podemos ser uma ONG piedosa, mas não a Igreja”.
Nos bairros pobres de Buenos Aires, onde a Igreja sofre, o Cardeal Borgoglio tomou conhecimento do trabalho e da missão concreta da Fundação AIS. Hoje, talvez mais do que nunca, a Igreja precisa de voltar ao essencial, a ser esperança para os que mais sofrem, a secar as lágrimas dos que choram, a ser pobre com os pobres.
Saiba mais em www.fundacao-ais.pt
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Pão e rosas |
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João Wengorovius Meneses |
O problema do atual Governo é não ter sido capaz de melhorar os níveis de bem-estar material nem imaterial dos portugueses. Churchill, após a II Guerra Mundial, em virtude da necessária contenção orçamental, recusou com veemência a proposta de encerramento do Ministério da Cultura, alertando para o facto de que sem cultura deixaria de haver razão para tudo o resto (i.e. para a economia e para os sacrifícios). E poucas coisas terão unido tanto o povo americano no século XX como o desafio do presidente J.F. Kennedy de conquista da lua – à época, algo aparentemente “inútil” (comparando com outros investimentos públicos), porém, determinante como referencial simbólico e motivacional para uma nação a precisar de se superar a si própria. Já o atual Governo português, na tentativa de melhorar a vida material dos portugueses, nem sentido conseguiu dar aos sacrifícios impostos, nem uma visão partilhada de futuro. O fascínio das sociedades (ocidentais) pelo bem-estar material generalizou-se após a Revolução Industrial, tendo-se instalado a ideia de que este tem uma relação umbilical com os níveis de consumo e rendimento (e de que o progresso consiste basicamente na sua expansão contínua), inaugurando-se um período antropocêntrico, materialista, racionalista e utilitarista. Desde então, mede-se o bem-estar através do PIB, trabalho e |
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produtividade são palavras de ordem, e gestores e engenheiros os demiurgos da nova era – associando-se as funções sociais produtivas à ideia de utilidade e as não produtivas (por ex., artistas e filósofos) à de (quase) inutilidade. Ao arrepio do fascínio atual pelo materialmente útil, Goethe contava que uma vez Napoleão e Bethoveen se cruzaram num carreiro estreito e que terá sido o primeiro a dar passagem ao segundo – ou seja, a política (o “útil”) a dar passagem à cultura (i.e. ao “inútil”). Impressiona, também, no documentário “Man on Wire” (2008), a determinação de Philippe Petit – funambulista francês que, em 1974, atravessou as duas Torres Gémeas de Nova Iorque sobre um fino cabo de aço, estendido 400 metros acima do chão sem rede nem cinto de segurança e totalmente incógnito – na defesa da importância desse gesto. Era ilegal, ilógico e inútil e, no entanto, acabou por ser considerado por muitos a performance artístico-desportiva do século XX, inspirando inúmeras pessoas a realizar pequenos gestos para os quais se julgavam sem coragem. |
Paul Valéry escreveu que “duas coisas ameaçam o mundo: a ordem e a desordem”. Será sempre da dialética entre a ordem e a desordem, entre o útil e o inútil, entre o pão e as rosas que resultará um sentido coletivo. É importante que haja engenheiros para aparafusar, mas também artistas para desaparafusar. Ora, o atual Governo falhou em ambas as frentes – razão pela qual é tão inútil (resta-nos António Costa…?).
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