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João Aguiar Campos
20 - Opinião:
22 - Opinião:
24 - Opinião: José Carlos Patrício |
Igreja e Refugiados
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Foto da capa: ACNUR. Foto da contracapa: Agência ECCLESIA
AGÊNCIA ECCLESIA Diretor: Paulo Rocha | Chefe de Redação: Octávio Carmo Redação: Henrique Matos, José Carlos Patrício, Lígia Silveira,. Luís Filipe Santos, Sónia Neves Grafismo: Manuel Costa | Secretariado: Ana Gomes Propriedade: Secretariado Nacional das Comunicações Sociais Diretor: Cónego João Aguiar Campos Pessoa Coletiva nº 500966575, NIB: 0018 0000 10124457001 82. Redação e Administração: Quinta do Cabeço, Porta D 1885-076 MOSCAVIDE. Tel.: 218855472; Fax: 218855473. agencia@ecclesia.pt; www.agencia.ecclesia.pt;
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Opinião |
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O desafio dos refugiados
D. Pio Alves | D. José Cordeiro | LOC/MTC | João Aguiar Campos | João van Zeller | Manuel Barbosa | Paulo Aido | Tony Neves | José Carlos Patrício |
O rosto das palavras |
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João Aguiar Campos Comunicações Sociais
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Está escolhida, em Portugal, a palavra do ano 2015: refugiado. Segundo a Porto Editora, que promove a votação, a palavra foi a preferida por 31% das mais de 20 mil pessoas que se pronunciaram online, durante o mês de Dezembro. Sucede a esmiuçar, vuvuzela, austeridade, entroikado, bombeiro e corrupção; e venceu a concorrência de terrorismo, acolhimento, esquerda, drone, plafonamento, bastão de selfie, festivaleiro, superalimento e privatização. Tendo em conta estes outros vocábulos, a escolha parece-me natural. Mas quero pensar que corresponde a uma efetiva atenção a um drama que, mesmo se progressivamente silencioso ou silenciado, continua premente e sem solução corajosamente pensada. Incompreensível seria, isso sim, a declarada indiferença -- essa forma subtil de ser cúmplice. Acredito que quem votou em “refugiado” viu rostos na palavra: o rosto de pessoas perseguidas, ameaçadas e espoliadas nas suas terras de origem, exploradas pelos traficantes e, além disso, frequentemente mal-amadas pelos países de acolhimento. Alguns destes, aliás, não raro se comportam como países de mero e contrariado recolhimento: uma espécie de armazéns temporários com pressa de “fazer seguir” quem chega e se deseja apenas em trânsito… Acolher e não simplesmente recolher é, na minha perspetiva, um grande desafio que a todos nós se coloca, para recebermos sem “mas”, integrarmos sem segundas intenções e darmos sem calcular |
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lucros que que até provocam o maléfico ciúme de quem viu primeiro como “viver de” em vez de como “viver para”… O Papa Francisco, na sua Mensagem para o 102º Dia Mundial do Migrante e Refugiado, que se vive em 17 deste mês de Janeiro, não poupa nas palavras: “Ninguém pode fingir que não se sente interpelado pelas novas formas de escravidão geridas por organizações criminosas que vendem e compram homens, mulheres e crianças…”. Ser espetador, repete-se, é ser cúmplice. Mas Francisco já tinha alertado, há um ano, para a necessidade de agir, quando escreveu: “à globalização do fenómeno migratório é preciso |
responder com a globalização da caridade e da cooperação, a fim de se humanizar as condições dos migrantes. Ao mesmo tempo, é preciso intensificar os esforços para criar as condições aptas a garantirem uma progressiva diminuição das razões que impelem populações inteiras a deixar a sua terra natal (…)”. No mesmo texto urgiu “ a coragem e a criatividade necessárias para desenvolver, a nível mundial, uma ordem económico-financeira mais justa e equitativa, juntamente com um maior empenho em favor da paz”. Todos sentimos que é mais fácil comover-se que mover-se. Sem escolher o verbo do ano, qual destes prefere, leitor?.. |
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“A primeira questão que se impõe refere-se à superação da fase de emergência para dar espaço a programas que tenham em conta as causas das migrações, das mudanças que se produzem e das consequências que imprimem novos rostos às sociedades e aos povos” (Papa Francisco, Mensagem para o Dia Mundial do Migrante e Refugiado)
“A igreja mais do que uma empresa, uma estrutura, deve e tem de ser vista como o mistério da maternidade” (D. António de Sousa Braga, bispo de Angra)
Mais do que assistencialismo social, precisamos de responsabilidade social e de distribuição justa e equitativa dos recursos. (Guilherme d’Oliveira Martins, Jornal Voz da Verdade)
“A simples informação não produz decisão. As decisões coletivas precisam de passar por fóruns de discussão” (Diogo Pires Aurélio, Jornal Público)
"Sou mau colega? Treinador? Como não o qualifico como treinador, logo não sou mau colega” (Jorge Jesus sobre Rui Vitória) |
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Votos de Paz dos bispos portugueses para 2016 |
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Após um ano marcado pelas guerras e os atos terroristas que chegaram ao coração da Europa, os bispos portugueses multiplicaram os apelos à paz no início de 2016, um pouco por todo o país. O cardeal-patriarca de Lisboa incentivou os portugueses a uma intervenção social, cívica e política comprometida no sentido de ajudarem o país a enfrentar os desafios que vai ter pela frente. “Entramos em 2016 com indisfarçáveis preocupações, a qualquer nível que nos situemos. Mas o pior seria deixarmos que algum atordoamento redundasse em indiferença”, escreve D. Manuel Clemente, numa mensagem disponível na página do Patriarcado de Lisboa. Já o bispo do Porto diz que fenómenos como a crise de refugiados, o terrorismo, a discriminação religiosa, o desemprego ou a pobreza devem despertar a |
diocese e o país para um ano de 2016 cheio de “gestos de bondade, de misericórdia e de compaixão”. D. António Francisco dos Santos sublinha as "situações dolorosas" que persistem sem resolução, como "as guerras intermináveis" e as "perseguições aos cristãos" em países como a Síria, o Iraque ou a Nigéria. Na Guarda, o bispo da diocese do interior afirmou que a paz é um “bem essencial para as pessoas e para as comunidades” que não acontece por “geração espontânea” mas “exige” o empenho de todos, cidadãos e comunidades. “São muitos os sinais no mundo atual a dizer-nos que a paz está ameaçada. As bombas que diariamente estão a cair sobre |
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populações indefesas, a série de atentados terroristas que trazem o mundo dito desenvolvido em permanente tensão”, disse D. Manuel Felício, na Solenidade de Santa Maria Mãe de Deus (1 de janeiro). O bispo de Lamego, por sua vez, espera que o novo ano traga um mundo menos “egocêntrico”, reduzido a uma tirania do “eu” onde Deus e os outros não ocupam muitas vezes lugar. “Todos estamos imersos no lodaçal da indiferença, talvez a mais grave doença que afeta a humanidade deste tempo soturno”, escreve D. António Couto, numa mensagem partilhada com a Agência Ecclesia.
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D. Amândio Tomás, bispo de Vila Real, espera que “não falte aos pobres o que sobra e é esbanjado, na mesa dos ricos, porque pobres e ricos são filhos do mesmo Pai, que manda o sol e a chuva, sobre uns e outros, sobre justos e injustos, tendo destinado os bens da terra para proveito de todos”. O bispo do Funchal afirmou na homilia da Missa de ação de graças pelo ano que terminou que 2015 alertou para a “urgência de paz no coração do mundo” através de uma “cultura da solidariedade e da misericórdia”. “Urge fomentar a cultura da solidariedade e da misericórdia para vencer a indiferença e construir a paz. Além dos compromissos dos chefes de estado e da comunidade internacional para promover a paz, este apelo dirige-se a todos os homens e mulheres de boa vontade”, disse D. António Carrilho. |
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Jornadas da Pastoral Familiar dão continuidade ao debate do Sínodo
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O Departamento Nacional da Pastoral Familiar (DNPF) da Igreja Católica em Portugal vai promover a 16 e 17 de janeiro as suas jornadas anuais, que este ano procuram dar continuidade ao debate do Sínodo dos Bispos sobre a família. O organismo da Comissão Episcopal do Laicado e Família dedica a 27ª edição das Jornadas Nacionais da Pastoral Familiar ao tema ‘A vocação e a missão da família’, com a presença do presidente desta comissão, D. Antonino Dias, que participou em outubro na assembleia geral ordinária do Sínodo, no Vaticano. |
O bispo de Portalegre-Castelo Branco vai apresentar as conferências ‘A Igreja à escuta da família’ e ‘A família nos desígnios de Deus’. “As nossas jornadas situam-nos neste pulsar intenso da vida da Igreja, que se volta para a família, para escutar as suas alegrias e anseios, a descobrir no desígnio de Deus, e ajudar na realização da sua missão na Igreja e no mundo contemporâneo”, refere o DNPF, em nota enviada à Agência ECCLESIA. As jornadas, com inscrições em aberto, vão decorrer no Seminário do Verbo Divino, em Fátima. |
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Feriados religiosos regressam em 2016 |
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O ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal confirmou que os dois feriados religiosos suprimidos em 2013 vão ser repostos já em 2016. “Os feriados religiosos serão repostos ao mesmo tempo que os feriados civis”, disse Augusto dos Santos Silva aos jornalistas, após a abertura do Seminário Diplomático, evento anual promovido pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE). O Parlamento vai discutir esta sexta-feira várias iniciativas legislativas que têm em vista a reposição dos feriados civis (5 de outubro e 1.º de dezembro). No caso dos feriados religiosos (Corpo de Deus e Todos os Santos), esta reposição não acontece por via parlamentar, porque “envolve uma negociação entre dois Estados soberanos, Portugal e a Santa Sé”, através dos canais diplomáticos. “Logo que a decisão sobre a reposição dos feriados civis seja feita, o Ministério dos Negócios Estrangeiros, que é o organismo responsável, trocará em nome do Estado português, notas verbais com a Santa Sé que vão repor os feriados religiosos em 2016”, referiu Augusto Santos Silva. |
O dia do Corpo de Deus (solenidade litúrgica do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo, no calendário católico) é um feriado móvel, celebrado sempre a uma quinta-feira e 60 dias depois da Páscoa, que este ano se festeja a 26 de maio. A solenidade de Todos os Santos é um feriado fixo, assinalado a 1 de novembro. A suspensão dos feriados religiosos foi resultado de um “entendimento excecional” entre a Santa Sé e o Governo português, em 2012, com uma duração máxima prevista de cinco anos. O artigo terceiro da Concordata de 2004, assinada entre Portugal e a Santa Sé, indica que os dias “festivos católicos”, além dos domingos, “são definidos por acordo”. |
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A Agência ECCLESIA escolhe sete acontecimentos que marcaram a atualidade eclesial portuguesa nos últimos dias, sempre atualizados emwww.agencia.ecclesia.pt
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Cristãos de rito bizantino celebram Natal no Algarve |
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Formação avançada "O mundo da Bíblia"
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Papa estreia vídeos mensais
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O Papa divulgou o primeiro vídeo dedicado às intenções mensais do Apostolado de Oração (AO), lançando um apelo ao diálogo entre as várias religiões através do YouTube e das redes sociais. “A maior parte dos habitantes do planeta declara ser crente e isso deveria provocar um diálogo entre as religiões”, refere. O primeiro destes novos vídeos mensais tem a participação de padres católicos e responsáveis budistas, muçulmanos e judeus, além de imagens marcantes do pontificado |
de Francisco em que o pontífice argentino promove gestos concretos para o diálogo inter-religioso. O Papa convida a “rezar” por este diálogo e a “colaborar com quem pensa de maneira diferente”. “Muitos pensam de outra maneira, sentem de outra forma, procuram Deus ou encontram Deus de várias maneiras. Nesta multidão, neste leque de religiões há somente uma certeza para todos: todos somos filhos de Deus”, acrescenta. Esta é uma iniciativa global, |
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promovida pelo Apostolado da Oração, da Companhia de Jesus (Jesuítas), que visa colaborar na difusão das intenções mensais do Papa sobre os desafios da humanidade, uma tradição como mais de 100 anos. De acordo com o AO, estima-se que façam parte da Rede Mundial de Oração do Papa mais de “30 milhões de pessoas”, em dez idiomas. ‘O Vídeo do Papa’ é um projeto foi idealizado e realizado pela agência La Machi, Consultora de Comunicação para Boas Causas, e conta com o apoio do AO-Portugal. Todos os meses, o Papa confia ao AO duas intenções de oração: uma universal, com temáticas que apelam “a todos os homens e mulheres de boa vontade”; e outra pela evangelização, mais centrada na vida da Igreja e na sua missão.
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“Confio em vocês para difundir a minha intenção deste mês: que o diálogo sincero entre homens e mulheres de diversas religiões produza frutos de paz e justiça. Confio na tua oração”, conclui Francisco. Segundo o diretor geral delegado da Rede Mundial de Oração do Papa, Frédéric Fornos, sj, “num Mundo onde tudo leva à fragmentação, à oposição e à divisão, é mais do que nunca necessário que as religiões e as pessoas desejosas de paz, fraternidade e solidariedade se mobilizem juntas em projetos comuns”. “O Papa Francisco propõe em cada mês um desafio que diz respeito a todos. As religiões, mais do que nunca, têm que mostrar que juntas podem mobilizar-se por desafios comuns ao serviço da paz, da fraternidade e da solidariedade”, acrescenta o sacerdote jesuíta. |
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Empenho na construção
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O Papa começou o ano de 2016 no Vaticano com um apelo à construção de um mundo livre da "injustiça e violência que diariamente ferem a humanidade". “Onde não consegue chegar a razão dos filósofos nem a intervenção dos políticos, consegue fazê-lo a força da fé que a graça do evangelho de Cristo nos traz e que aponta sempre novos caminhos”, sustentou. Na primeira celebração eucarística do ano, na Basílica de São Pedro, Francisco sublinhou que, com a vinda do seu filho Jesus ao mundo, Deus quis marcar “a plenitude dos tempos”. Contudo, os “sinais atuais” são contrários à presença de Deus, pois essa “plenitude dos tempos parece esboroar-se perante as inúmeras formas de injustiça e violência que diariamente ferem a humanidade”, um “rio de miséria, alimentado pelo pecado”, denunciou. Ao longo da sua homilia, o Papa argentino lembrou as “multidões de homens, mulheres e crianças que hoje fogem da guerra, da fome, da perseguição”. Pessoas que estão “dispostas a arriscar a vida para |
verem respeitados os seus direitos fundamentais”. “Todos somos chamados a mergulhar neste oceano, a deixarmo-nos regenerar para vencer a indiferença que impede a solidariedade e sair da falsa neutralidade que dificulta a partilha”, frisou o Papa, que lembrou também a responsabilidade que deve ser assumida por todos os cristãos. Um repto que Francisco renovaria mais tarde na celebração do ângelus, perante os peregrinos que encheram a Praça de São Pedro. "A paz que Deus Pai deseja semear no mundo deve ser cultivada por todos nós, e não só. Deve ser também conquistada", referiu o Papa argentino, desafiando as pessoas a uma mudança de "coração" e "espiritual". |
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Imitar os Reis Magos |
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O Papa assinalou no Vaticano a solenidade da Epifania, conhecida popularmente como Dia de Reis, e convidou os fiéis a imitar os Magos para superar a “mediocridade” na vida. “A experiência dos Magos exorta-nos a não nos contentarmos com a mediocridade, a não ‘viver pela metade’ (vivacchiare, em italiano), mas a procurar o sentido das coisas, a perscrutar com paixão o grande mistério da vida”, disse, desde a janela do apartamento pontifício, perante milhares de fiéis reunidos na Praça de São Pedro para a oração do ângelus. Segundo Francisco, o episódio da visita dos Magos a Belém, relatada no Evangelho segundo São Mateus, mostra que ninguém se deve “escandalizar com a pequenez e a pobreza”, mas que é preciso |
reconhecer “a majestade na humildade”. Esta celebração, enquadrada no tempo litúrgico do Natal, tem um caráter de “universalidade”, precisou o Papa. “A Igreja sempre viu nos Magos a imagem de toda a humanidade e com a celebração da Epifania quer como que guiar respeitosamente cada homem e cada mulher deste mundo para o Menino que nasceu pela salvação de todos”, prosseguiu. Francisco recordou que após o nascimento de Jesus, foram os pastores e os Magos a chegar em primeiro lugar ao presépio, mostrando assim que para encontrar-se com Cristo é “necessário saber levantar o olhar para o céu”. No final do encontro de oração, o Papa saudou os promotores de um cortejo de reis na Praça de São Pedro e suas imediações. |
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A Agência ECCLESIA escolhe sete acontecimentos que marcaram a atualidade eclesial internacional nos últimos dias, sempre atualizados em www.agencia.ecclesia.pt
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Abertura da Porta Santa da Basílica de Santa Maria Maior
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Felizes os misericordiosos |
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D. Pio Alves Episcopal da Cultura , Bens Culturais e Comunicações Sociais |
A nossa sociedade, a nossa cultura, foi assumindo, ao longo dos séculos, valores fundamentais do cristianismo. O vocabulário, típico do pensamento cristão, é disso veículo e expressão. Seriam infindáveis os exemplos. É, por isso, significativa, por contraste, a ausência e, mais ainda, a alergia ao uso de alguns vocábulos. Por exemplo, é notória a recusa por parte do comum das cabeças pensantes e dos políticos em geral da palavra caridade. Vemos como, rapidamente, preferem o depreciativo caridadezinha ou, com dedo acusador, assistencialismo. Um político que se preze fala de justiça, não de caridade! Convenhamos que a justiça está abundantemente presente no vocabulário corrente. Está assumida, mas empobrecida. Ligada, mais frequentemente, apenas à dimensão salarial ou ao castigo dos infratores. A lei humana, com as suas frequentes incongruências, é a sua meta e o seu limite. Daí o possível e real paradoxo da justiça injusta. É que há mais mundo para além da justiça! É verdade que não há caridade sem justiça. Não é menos verdade que a justiça sem caridade pode subverter a justiça e torná-la injusta. A ordem é, efetivamente, justiça e caridade. Mas a verdadeira relação pessoal e social não termina na justiça: prolonga-se e complementa-se na caridade. Sobre esta base imprescindível e indo ainda mais longe, mas, paradoxalmente, estreitando mais a relação pessoal, entramos no mundo da misericórdia. “A misericórdia é o coração de Deus, escreve o Papa Francisco na sua Mensagem |
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para o Dia Mundial da Paz. Por isso deve ser também o coração de todos aqueles que se reconhecem membros da única grande família dos seus filhos, um coração que bate forte onde quer que esteja em jogo a dignidade humana, reflexo do rosto de Deus nas suas criaturas”. “A melhor sensação que podemos ter, tinha escrito, é a de sentir misericórdia. (…) Um pouco de misericórdia torna o mundo menos frio e mais justo” (17.03.2013). Mas se a caridade é excluída ou reinterpretada no vocabulário supostamente bem pensante, a misericórdia não aparece de todo. |
Alguém consegue imaginar o atrevimento de um discurso na Assembleia da República centrado na misericórdia? Para ajudar ao discurso recordo a existência de um guião, o mais humano possível: as chamadas obras de misericórdia. O elenco pode encontrar-se facilmente. Em todas há muita margem de progressão. A única que se pode dar por assumida (mas certamente por razões sanitárias) é enterrar os mortos! Não é verdade que dão um grande discurso? E é verdade que vale a pena, porque, realmente, são “felizes os misericordiosos” (Mt 5, 7).
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A Porta |
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D. José Cordeiro Miranda |
1. Deus abre a portaAo entrar na igreja, a porta recorda de imediato as palavras de Jesus no Evangelho de S. João: «Eu sou a porta das ovelhas» (Jo 10,7) e logo a seguir, «Eu sou a porta, se alguém entrar por Mim, será salvo» (Jo 10,9). Cristo é a passagem do homem para Deus. Tanto na sua estrutura como no seu ornamento, a porta é símbolo de Cristo, a única porta da misericórdia. Por isso, passar a porta da Igreja está cheia de significados e compromissos. Uma porta é, por um lado, uma realidade que fecha e separa dois lugares; e, por outro lado, que abre e mete em relação e comunicação. Tem além da sua função prática este apelo de passagem, da condição de peregrinos à de contemplativos. A porta é assim uma meta, o termo de uma etapa de um processo de conversão: passar desta vida à vida eterna, da condição de pecador à salvação. Entrar na Catedral ou noutra igreja ou santuário pela porta, não significa entrar num edifício sagrado de culto, mas unir-se a uma comunidade crente e orante reunida em assembleia litúrgica, ou seja, em assembleia santa. Para todo o cristão, entrar na porta da igreja, «significa entrar a fazer parte de toda a história de fé de um povo e pertencer-lhe inteiramente. Quer dizer, escolher de ser membro do corpo histórico, presente e passado, da comunidade crente» (G. Boselli). Ao entrar na igreja e particularmente nas procissões (ex. hoje no início do Jubileu da Misericórdia, no Domingo de Ramos, na entrada da missa dominical), somos convidados a cantar |
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«levantai, ó portas, os vossos umbrais; alteai-vos pórticos antigos e entrará o rei da glória» (Sl 24,7). Nalgumas celebrações (Batismo, Matrimónio, Exéquias) os fiéis são recebidos às portas da igreja marcando pois uma fronteira entre o que se vê e o mistério que se celebra. O Papa Francisco, di-lo de uma forma mais viva: «À nossa frente está a porta, mas não só a porta santa, a outra: a grande porta da Misericórdia de Deus — e é uma porta bonita! — que recebe o nosso arrependimento oferecendo a graça do seu perdão. A porta é generosamente aberta, e devemos ter um pouco de coragem para cruzar o limiar. Cada um de nós tem dentro de si situações que pesam. Todos somos pecadores! Aproveitemos este momento que chega e cruzemos o limiar desta misericórdia de Deus, que nunca se cansa de perdoar, nunca se cansa de nos esperar! Observa-nos, está sempre ao nosso lado. Coragem! Entremos por esta esta porta!» (audiência geral 18.11.15).
2. A Porta da Misericórdia do bom SamaritanoNo dia 8 de dezembro, toda a Igreja foi com-vocada para (re)entrar pela Porta Santa da Misericórdia e prosseguir na abertura do Espírito: «ao cruzar a Porta Santa, queremos também |
recordar outra porta que, há cinquenta anos, os Padres do Concílio Vaticano II escancararam ao mundo. Esta efeméride não pode lembrar apenas a riqueza dos documentos emanados, que permitem verificar até aos nossos dias o grande progresso que se realizou na fé. Mas o Concílio foi também, e primariamente, um encontro; um verdadeiro encontro entre a Igreja e os homens do nosso tempo. Um encontro marcado pela força do Espírito que impelia a sua Igreja a sair dos baixios que por muitos anos a mantiveram fechada em si mesma, para retomar com entusiasmo o caminho missionário. Era a retomada de um percurso para ir ao encontro de cada homem no lugar onde vive: na sua cidade, na sua casa, no local de trabalho... em qualquer lugar onde houver uma pessoa, a Igreja é chamada a ir lá ter com ela, para lhe levar a alegria do Evangelho e levar a Misericórdia e o perdão de Deus. Trata-se, pois, de um impulso missionário que, depois destas décadas, retomamos com a mesma força e o mesmo entusiasmo. O Jubileu exorta-nos a esta abertura e obriga-nos a não transcurar o espírito que surgiu do Vaticano II, o do Samaritano, como recordou o Beato Paulo VI na conclusão do Concílio. Atravessar hoje a Porta Santa compromete-nos a adoptar a misericórdia do bom samaritano» (Papa Francisco, Homilia 08.12.15). |
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50 anos da Gaudium et Spes |
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LOC/MTC Movimento de trabalhadores Cristãos |
“As alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo; e não há realidade alguma verdadeiramente humana que não encontre eco no seu coração”. É com esta frase que começa a constituição pastoral Gaudium et Spes, que fez 50 anos em dezembro de 2015, desde a sua promulgação pelo papa Paulo VI, no final do Concílio Vaticano II. Só este facto seria um ótimo pretexto para ler ou reler este texto e nos deixarmos interpelar por ele.
Ver, Julgar, AgirAs questões nela abordadas, como a promoção da dignidade do matrimónio e da família, a promoção do progresso cultural, a vida económico-social, a participação na comunidade política e a promoção da paz, são tão atuais e pertinentes hoje como o eram há meio século. Assim como o são os desafios que são colocados às comunidades cristãs. A sua leitura interpela-nos a olhar o mundo que nos rodeia, as suas esperanças e aspirações e o seu carácter tantas vezes dramático: a guerra, os refugiados… mas também aquele nosso vizinho que está desempregado e teve de entregar a casa ao banco; ou o que teve de emigrar deixando para trás a família, os filhos pequenos; ou que apesar de trabalhar, não dispõe de um rendimento suficiente que lhe permita viver dignamente. A Igreja faz parte da sociedade, com a qual é solidária nos |
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bons e nos maus momentos (GS 1 e GS 40). O homem deve estar no centro de toda a vida económica e social (GS 63). Convida-nos também a iluminar esse olhar o mundo com a Boa Nova de Cristo. Proclama a sublime vocação do homem, e afirma que nele está depositado um germe divino. Assim, o homem é o fulcro de toda a exposição desta constituição: o homem na sua unidade e integridade: corpo e alma, coração e consciência, inteligência e vontade (GS 3). A finalidade fundamental das atividades humanas não deve ser o mero aumento dos produtos, nem o lucro ou o poderio, |
mas o serviço do homem; do homem integral (GS 64). Os desafios que coloca aos cristãos são inúmeros, e são colocados no nosso dia-a-dia: desde o de servir efectivamente quando o outro vem ao nosso encontro, quer seja o ancião, abandonado de todos, ou o operário estrangeiro injustamente desprezado, ou o exilado (GS 27), até à participação política, numa ótica de serviço ao outro (GS 75). Pois essa atividade individual e colectiva, aquele imenso esforço com que os homens tentam melhorar as condições de vida, corresponde à vontade de Deus (GS 34). |
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Há 20 anos…
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José Carlos Patrício |
Nelson Mandela assinava uma nova constituição que punha fim ao apartheid na África do Sul Era constituído o primeiro parlamento democraticamente eleito na Palestina e depois aprovada por maioria a modificação dos artigos da Constituição que incitavam à destruição de Israel Fidel Castro e o Papa João Paulo II conversavam no Vaticano sobre a normalização das condições da Igreja Católica em Cuba França assinava o Tratado sobre a Proibição Completa de Testes Nucleares, depois de mais de 30 anos de experiências polémicas no deserto do Saara e na Polinésia francesa, no Oceano Pacífico O Parlamento da Bélgica decretava o fim da pena de morte naquele país A Jugoslávia e a Croácia reatavam relações diplomáticas depois de cinco anos de guerra O governo da Guatemala assinava um acordo de paz com vários grupos de guerrilha opostos ao regime, que colocava um ponto final a mais de 36 anos de guerra civil no país Era formada a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, em Lisboa, composta por Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe, Portugal e Timor-Leste O presidente russo Boris Yeltsin anunciava o fim da operação militar contra os separatistas |
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tchetchenos que pretendiam a independência da sua região em relação à antiga União Soviética Os 34 países que integravam a Organização dos Estados Americanos declaravam guerra total ao terrorismo O Papa João Paulo II e o patriarca Karekin I firmavam um acordo que punha fim a mais de 1500 anos de divisão entre a Igreja Católica e os cristãos arménios D. Ximenes Belo e José Ramos Horta recebiam o Prémio Nobel da Paz pelo seu empenho a favor do povo de Timor-Leste Era aprovado na Assembleia da República portuguesa o rendimento mínimo garantido
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Robin Sharma publicava o livro “O monge que vendeu o seu Ferrari”, sobre a busca dos sonhos e da concretização de um destino Já Stephen Hawking lançava a obra “A teoria de tudo”, que levava as pessoas à descoberta do cosmos e do lugar da humanidade no universo Mais factos históricos, e histórias pessoais, poderiam ser com certeza acrescentados a esta lista, mas o principal é que possamos fazer de 2016 um ano positivo, que também possa ser lembrado por acontecimentos que tornaram o mundo um pouco melhor, mais pacífico, fraterno e humano. Fica o desafio! |
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REFUGIADOSA Igreja Católica celebra no dia 17 de janeiro o Dia Mundial do Migrante e Refugiado, um tema candente na atualidade internacional que exige de todos a maior atenção possível. O Semanário ECCLESIA entrevista a irmã Irene Guia, que recentemente visitou o Curdistão iraquiano e o Líbano, recorda a mensagem do Papa para esta celebração e antecipa XVI Encontro de Animadores Sociopastorais das Migrações, em Bragança, no qual vai estar o presidente da Cáritas do Líbano. Deste país, pela mão do jornalista Henrique Matos, chega a reportagem de fundo do dossier. |
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Sociedade vive «baixo grau de humanidade» em relação ao apoio
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Agência Ecclesia (AE) – Esteve no recentemente no Médio Oriente, que oportunidade foi esta, inscreveu-se em que projetos?
Irmã Irene Guia (IG) – A oportunidade de ter ido ao Médio Oriente foi a convite, com caráter pessoal, do assistente do diretor regional do Serviço Jesuíta aos Refugiados (JRS – Jesuit Refugee Service) do Médio Oriente e África do Norte porque estive a trabalhar com ele enquanto diretor regional do JRS dos Grandes Lagos (África), durante quatro anos. Quando esta crise começou trocamos emails e ele convidou-me a ir lá. Estive no Iraque, em Erbil, no Curdistão iraquiano, uma autonomia muito bem organizada e, nesta altura da história do Iraque, talvez seja a única zona do país que de facto tem uma organização estável e uma vida mais ou menos estável. O resto está completamente desorganizado desde 2003 quando os Estados Unidos da América entraram, eles referem que esta história tem de ser contada a partir desta data. Com este convite estive uma semana e um dia no Curdistão Iraquiano e cinco dias no Líbano, em Beirute e no Vale do Bekáa onde estão imensos campos de refugiados sob um conceito diferente dos que |
é habitual em campos de refugiados ou deslocados internos à força. É um projeto muito próximo da Síria, será a população mais próxima do Iraque e da Síria, tem um monte a fazer uma fronteira natural. Ai o JRS também tem programa de assistência, sendo que como lema o JRS não tem o nome de assistência mas “acompanhar, servir e defender”. O que faz com que também tenha, normalmente, uma maneira de proceder ligeiramente diferente das outras organizações porque tem a preocupação de se misturar tanto quando possível com o padrão local e não das ONG’S (organizações não-governamentais). |
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AE – O tema dos refugiados ainda é servido quase diariamente através dos meios de comunicação social. O que encontrou está sintonizado com o que vemos deste lado? IG – Não está. Não sei como me expressar sem parecer que estou a ser demasiado critica, sem parecer que estou a acusar, por outro lado, considero que entramos no tempo desta palavra – advocacy – tornar-se voz dos que não têm voz. Para mim, continua a ser incompreensível a lentidão deste processo, em que parece que queremos resolver primeiro uma crise na região, que é verdade que tem de ser resolvida, mas entretanto há milhões de pessoas que estão de facto a precisar de salvação. Uma das características da humanidade ou do nosso coração, eu diria que é salvar. Sempre que víamos alguém em perigo estendíamos a mão e creio que não o estamos a fazer. Isto devia-nos fazer refletir mas não uma reflexão que nos obriga a ficar sentados mas, obrigatoriamente, vamos perceber que o que estamos a falhar agora quando começarmos a agir. Para mim torna-se cada vez mais incompreensível, toda esta lentidão quando se trata de seres humanos. |
Faz-me mesmo confusão que continuemos demagogicamente a fazer um tipo de pingue-pongue de argumentação, se acolhemos, o que fazemos. Até me incomoda ter que invocar o Direito Internacional e dizer que estamos obrigados a acolher. Uma demagogia de argumentação, para cá e para lá, quando se trata de mais um dia em que as pessoas estão a viver condições terríveis de olhar. Não estão a referir-me agora, nem ao Iraque nem ao Líbano. No meu coração e na minha mente estão todos que estão na nossa terra que está a encontrar muito menos possibilidades e muito menos meios de atender estas pessoas na urgência que elas estão, do que nos países que visitei onde a pobreza é muito maior. Nós somos como que o estandarte da bandeira dos diretos humanos, que eu acho que está muito rasgada. Tenho uma preocupação grande porque também sou educadora, estou na educação há muitos anos, e faz-me confusão que geração está a crescer connosco quando estamos tão frios para estender uma mão. Como podemos fazer perceber a uma criança ama só até aqui, cuidado, quando se está a ver o outro a afundar e não digo vamos salvar mas deixa morrer. Isto continua a fazer-me muita confusão |
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e acho que estamos doentes para não falar do que o Papa (emérito) Bento XVI referiu como “cultura da morte”. Nunca senti tantos sintomas de cultura da morte como agora e, talvez, por isso, o Papa Francisco é tão apologista desta consciência tão grande de nos levar ao melhor de nós mesmos, e os riscos que tem tomado para facilitar isto. Creio que esta questão dos refugiados também está a revelar qual é o grau |
de humanidade que temos, e eu diria que está a revelar um grau bastante baixinho. |
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AE – Em Portugal, como é que este tema dos refugiados está a ser tratado? Por exemplo a informação de que os refugiados não queriam vir? IG – Uma das ”batalhas” a fazer é lutar mesmo com todos os meios contra a má informação. O desmentido de que os refugiados não queriam vir para cá não foi divulgado da mesma forma, pode ser consultado na PAR – Plataforma de Apoio aos Refugiados e no Serviço Estrangeiros e Fronteiras (SEF) que explica como este processo é feito. Não é verdade que não queiram, a proposta nem sequer lhe foi feita e eles podem dizer que não querem ir |
para o país a que foram propostos mas ficam retidos na zona onde se encontram, seja onde for – Grécia; Itália; Macedónia – até serem acolhidos por esse mesmo país. A verdade é que a oferta não foi feita, como é que se pode dizer que eles não querem vir.
Outra situação são as preferências. Se eu percebo que um país me pode dar mais possibilidade de projeto assegurado, pelo estado da economia, etc, eu diria que eu também, se estou com a minha família para começar vida…
Este começar vida não é ficar, não são migrantes económicos, a percentagem dos refugiados que ficam e se querem
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integrar no país que os recebe é mínima. 80% não quer de maneira nenhuma estabelecer-se. Isto é outra demagogia. Apesar de estarmos a falar de refugiados depois a argumentação é muito mais para migrantes.
Acredito que pode ser mais uma das argumentações que nos vão desviando da centralidade do problema que é salvar os que estão a precisar de salvação. Se não salvamos estes diria que o que somos enquanto seres humanos está mesmo a deixar muito a desejar.
AE – Que análise faz à intervenção da parte da sociedade civil e das instituições da Igreja Católica. Agrada-lhe a forma como este tema está a ser trabalhado? Há condições para acolher os refugiados? IG – Há condições. Falo da PAR que é uma das que se organizou, a Misericórdia também está a organizar-se, há imensas outras formas de organização, de estruturas, com dimensão e capacidade de acolhimento que se estão a organizar. A Plataforma de Apoio aos Refugiados, é a que tenho mais dados e onde a Congregação (Escravas do Sagrado Coração de Jesus) está integrada. Neste preciso momento a PAR estabeleceu acordo com 97 instituições anfitriãs e significa que temos capacidade/possibilidade de |
acolhimento para mais de 600 pessoas. Como cidadã comum, e como PAR, interrogo-me porque é que o SEF disse à Grécia e à Itália que a capacidade de Portugal era 100, quando só a Plataforma, sem referir as outras organizações, já expressou, publicou e informou que tem capacidade para mais de 600. Eu diria que não existe a possibilidade de uma pessoa, com mais de dois dedos de testa, interrogar-se porquê. O que é que está por detrás realmente desta lentidão. Em cada frase que digo volto a referir que se trata de salvar. Se perdermos esta capacidade somos capazes de amar? Eu acho que se não somos capazes de salvar, que é dar a mão a alguém no limite da sua vida ou da sua existência… “Então não vamos salvar os pobres de Portugal?” Provavelmente não, porque nem a estes que estão num estado limite de vida somos capazes de dar a mão, diria que isto tem implicações perversas na nossa forma de amar. A nossa forma de amar é egoísta, só pode ser egoísta, porque numa altura em que há alguém em risco de vida, no limite da existência e eu continuo a pensar em mim quando amar é pensar no outro. A mim preocupa-me sobretudo as crianças que temos, as gerações futuras, o que como adultos estamos a transmitir. É uma preocupação real. |
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AE – O que é que na sua opinião está na causa dessa lentidão, demora? IG – Com vários interlocutores – eurodeputados, responsáveis políticos – não há vontade política. Houve um eurodeputado que me disse que quando a União Europeia não quer tratar de um tema, cria uma comissão - e foi criada uma para este tema. Tiremos as ilações que quisermos. Como é que se pode justificar esta lentidão: 160 mil pessoas a 14 de setembro de 2015. O acordo foi de 160 mil no espaço de dois anos. Se fizermos contas isto é tão pobre, 160 mil refugiados para 580 milhões de habitantes e até agora foram recolocadas 159 pessoas. Creio que temos de começar a manifestar que esta Europa, pelo menos a mim, não agrada, e quero uma Europa mas não esta.
AE – O que é que a irmã Irene Guia encontrou nos países que visitou. Qual a situação real das pessoas que encontrou? IG – No Curdistão Iraquiano, que como referi é a única zona segura, estive em contacto direto com cristãos mas havia muçulmanos e yazidis que são os que tem menos cuidados, faz-me muita impressão. |
Estão todos em situação limite de fragilidade. Cria-me outra questão, se o apoio quando enviamos é selecionado para uns que são idênticos a mim ou se é universal para que todos experimentem a comunhão na diferença. A harmonia pluriforme de que fala o Papa Francisco e é tão necessária. Estive com imensos cristãos de Mossul, a capital do autodenominado Estado Islâmico no Iraque, e de Qaraqosh. O primeiro impacto, nas conversas falam do dia em que saíram das cidades como massa, tanto uma como outra, em dias diferentes. Todos dizem que quando o Estado Islâmico entrou eram cidadãos com os outros, assumiram a liderança destas cidades mas o olhar era natural. Começa por uma normalidade da vida, não há rejeição da população e depois começam a ver que a expressão do olhar muda e começam os tratamentos das pessoas de forma muito violenta a implementar o medo, o terror, o receio e os cidadãos tinham todos de converter-se ao islamismo. Se são cristãos tinham de pagar uma taxa e se nem uma coisa, nem outra, então era executados. Em Mossul lembro-me da data, foi |
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a 6 de agosto, Qaraqosh foi em junho de 2013. Eles falam naturalmente do dia do êxodo, que faz lembrar as imagens dos filmes, dos ‘10 Mandamentos’. Deve ter sido uma realidade terrível, as pessoas saíram de madrugada mas encontraram barreiras dos guerrilheiros e para saírem da cidade, apesar de ser em êxodo, tiveram de pagar. Foram completamente pilhados, bens, dinheiro, ouro, carros, ficou ali tudo e continuaram a pé. Foram para Erbil, onde senti segurança, que fica a 25 e 50 |
quilómetros, de Mossul e Qaraqosh. No Curdistão Iraquiano há segurança mas são os únicos que fazem frente organizada ao Estado com uma força armada, os peshmerga, que protegem a sua região. Os deslocados internos ficam em campos que eram de tendas e agora são contentores. Referi os yazidis porque ficaram em fundos de edifícios onde a construção está parada, ocuparam os alicerces dos prédios onde não têm nem água, nem sistema sanitário assegurado. Fez-me imensa impressão. |
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IG - Tenho experiência em campos de refugiados, de situações de emergência e de permanência – no Ruanda e na República Democrática do Congo, a maioria que está no campo, desde 2013, pensava que no Natal estaria em casa mas agora começam a ver-se lonas para ocupar pedaços de terreno exterior. Na cabeça de quem ali vive, significa que passou do estado interior - “vou voltar” - para o - “isto vai demorar mais tempo do que pensava” - porque começam a criar estruturas que não são de trânsito.
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Um dado interessante é que todos com quem falei de Mossul não querem regressar, mas ficar no Curdistão ou ir para outra parte do Iraque, porque dizem que a população que ficou está de acordo com o autodenominado Estado Islâmico.
Também estive numa cidade que não existia e passados dois anos tem dois mil fogos e o conceito é outro, porque o Curdistão não quer campos de refugiados. São casas construídas à pressa. O interessante de Ouzal, que fica a 15 minutos de carro de Erbil, |
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onde é o enclave cristão, tem inúmeras famílias yazidis, cristãs e muçulmanas. Nem no Curdistão Iraquiano, nem no Líbano, os governos dão certificação às crianças nas escolas. Agora, no Líbano não querem mesmo educação, não querem que as crianças refugiadas sírias frequentem as escolas e retiram as autorizações às ONG’s para montar escolas mesmo que não sejam certificadas. A autorização do JRS foi retirada, era até dezembro, e há 300 crianças sírias que não vão frequentar a escola. O Líbano tem uma população de quatro milhões e meio e estão com 1 milhão e trezentos mil refugiados inscritos, identificados, mas considera-se que há entre 500 a 700 mil sem registo. O que significa que para dois libaneses existe um refugiado. Do que percebi é uma estratégia do Líbano que continua a acolher sírios mas precisa de ajuda internacional e as crianças não frequentam a escola até que a ajuda chegue. Mais uma vez é o frágil e vulnerável que fica de fora e nós fazemos cair as nossas decisões e argumentações.
AE – No Líbano a situação dos refugiados é diferente do Curdistão Iraquiano? IG – Sim, eles têm uma brutalidade de refugiados, muitos urbanos, e também não querem campos. |
Tiveram uma experiência de permanência com os palestinianos e dizem que querem que as condições sejam tão pouco seguras que mantenha viva a vontade de voltar. A verdade é que com todos os refugiados com quem falei querem regressar à Síria e reconstruir o país, são pessoas de garra, que trabalha, que não vai ficar parada. Por exemplo, o JRS tem um projeto de cursos para mulheres sírias onde aprendem pequenas profissões como maquilhagem, manicura, tricô, costura e a verdade é que já são elas que levam algum rendimento para casa. Na Síria o sistema é muito patriarcal e no Líbano os homens têm dificuldades em ter emprego e muitos estão em depressão porque é ele o frágil. Estas mulheres, segundo relatam à assistente social que as acompanham, o terrível de estar fora das suas terras mas se há algo de bem é que têm esta formação e na Síria vão estar mais implicadas na reconstrução do país e sustento da própria família. É interessante a alteração de cultural que daqui pode acontecer unicamente por se dar a mão. Voltando a nós, creio que a história do acolhimento mas sermos diferentes e sermos capazes de uma harmonia pluriforme e uma comunhão do encontro, que é bandeira de batalha do Papa, também aqui pode haver alteração do paradigma cultural a que somos chamados a viver hoje. |
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AE – De que forma olham para a Europa estes deslocados? IG – Ninguém o disse. Estive na oração de funeral de seis pessoas que morreram no Mediterrâneo, eram sete, não se recuperou um corpo. Eu acho que estamos a provocar violência, não senti rejeição por ser europeia, pelo contrário, mas mais faça-se embaixadora nossa: “Leve isto daqui para fora.” Senti comunhão mas a maneira como estamos a responder se eles fogem do inferno e encontram outro estamos a provocar que ele achem que o autoproclamado Estado islâmico tem razão de existir. |
Partilho da ideia que quem vai ganhar esta batalha é quem tenha o povo do seu lado, não é pelas bombas. Não creio que a Europa esteja a fazer o que é necessário para ter o povo do seu lado.
Quando vemos as reportagens com chuvas torrenciais e as crianças protegidas pelo plástico que nós compramos quando vamos a pé a Fátima, se eu estivesse ali e visse os meus filhos assim estaria a ficar revoltado. Esta revolta não vai ser indiferente. A sociedade civil não se pode demitir, se os Estado se demitem, nós não. Naquele funeral falaram dois bispos – |
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da Igreja Siríaca Católica e da Igreja Siríaca Ortodoxa. Estavam a traduzir do curdo e percebi que o ortodoxo estava a ser fortíssimo, as pessoas emocionavam-se e reatavam no choro da dor. Acho que esta questão dos refugiados vai depender da sociedade civil, da nossa capacidade em expressar o que pensamos, o que queremos. Na sociedade portuguesa também existem os séticos que dizem que vamos ser invadidos, uma demagogia total, mas os que queremos acolher temos de manifestar cada vez mais essa vontade aos nossos políticos e dirigentes porque quando nos mexemos eles também, nem que seja para agradar.
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AE – Estamos a entrar num problema de humanidade ou administrativo, em termos de responsáveis políticos? IG – Volto à mesma argumentação, não se entende se esta é a Europa que a União Europeia apregoa e defende, então não sei se gosto. Para que é que nos serve esta Europa que se está a revelar sem alma e está mais preocupada em manter alianças que talvez se devessem quebrar porque não é no espírito da Europa. O espírito gerador da Europa gerou alguma coisa diferente mas houve algum momento no caminho em começou a haver joio no meio do trigo e, neste momento, está mais forte do que aquele trigo que se pode fazer pão todos. |
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XVI Encontro de Animadores
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O presidente da Cáritas do Líbano vai estar em Portugal para apresentar as estratégias de acolhimento aos refugiados sírios o país e as formas de lhes fazer chegar os apoios da comunidade internacional. “O modo como os refugiados sírios são acolhidos no Líbano e os meios para fazer chegar a essa “linha da frente” os apoios da Comunidade Internacional vão ser apresentados em Portugal numa comunicação do presidente da Cáritas do Líbano durante o no XVI Encontro de Animadores Sociopastorais das Migrações”, referem as organizações promotoras da iniciativa em comunicado enviado à Agência ECCLESIA. “Misericórdia sem fronteiras” é o tema do XVI Encontro de Animadores Sociopastorais das Migrações que vai decorrer em Bragança de 15 a 17 de janeiro, promovido pela Cáritas Portuguesa e a Obra Católica Portuguesa de Migrações, em parceria com a Agência Ecclesia e o Departamento Nacional da Pastoral Juvenil. De acordo com o comunicado de imprensa, o encontro “vai assinalar o 102º Dia Mundial do Migrante e |
Refugiado”, que a Igreja Católica celebra a 17 de janeiro.
D. António Couto faz a primeira conferência deste encontro, na noite de sexta-feira, dia 15, sobre os “fundamentos bíblicos da misericórdia”. No dia 16, o tema ‘Um mundo sem fronteiras’ é analisado na perspetiva económica, política e de cidadania por Vera Rodrigues, Silva Peneda e a Irmã Irene Guia; e “propostas para que cada pessoa seja portadora de ‘Um coração sem fronteiras’ vão ser apresentadas nas dimensões do acolhimento, da educação e da religião por Mendo Castro Henriques, João Bartolomeu Rodrigues e Catarina Martins Bettencourt” “A conferência de encerramento é feita pelo presidente da Cáritas do Líbano, Padre Paul Karam”, acrescenta o comunicado. “O XVI Encontro de Animadores Sociopastorais das Migrações destina-se a todos os que queiram participar no debate cultural em torno da mobilidade humana, atualmente marcada pela urgência dos acolhimentos dos refugiados”, conclui a nota dos promotores do evento. |
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Refugiados: Papa denuncia indiferença e silêncio perante sofrimento de milhões
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O Papa Francisco denunciou a “indiferença” e “silêncio” da comunidade internacional perante o sofrimento dos migrantes e refugiados que procuram fugir da pobreza e das guerras. “Todos os dias, as histórias dramáticas de milhões de homens e mulheres interpelam a comunidade internacional, testemunha de inaceitáveis crises humanitárias que surgem em muitas regiões do mundo”, escreve, na sua mensagem para o Dia Mundial do Migrante e Refugiado 2016 (17 de janeiro). O texto tem como título “Os emigrantes e refugiados interpelam-nos. A resposta do Evangelho da misericórdia”, colocando a celebração no quadro do Ano Santo Extraordinário, o Jubileu da Misericórdia, convocado por Francisco. O Papa sustenta que a indiferença e o silêncio “abrem caminho à cumplicidade”, incluindo a de todos os que assistem sem agir às “mortes, privações, violências e naufrágios”. “De grandes ou pequenas dimensões, são sempre tragédias, mesmo |
quando se perde uma única vida humana”, adverte. A mensagem assinala que com cada vez mais frequência, aqueles que são “vítimas da violência e da pobreza” acabam nas mãos de traficantes de pessoas “na viagem rumo ao sonho dum futuro melhor”. Perante fluxos migratórios em contínuo aumento, escreve Francisco, faltam normas legais “claras e praticáveis” que regulem o acolhimento e prevejam “itinerários de integração” a curto e a longo prazo, atendendo aos direitos e deveres de todos. Segundo o Papa, esta é já uma “realidade estrutural”, pelo que é preciso pensar para lá da “fase de emergência” e dar espaço a programas que tenham em conta as causas das migrações. “Hoje, mais do que no passado, o Evangelho da misericórdia sacode as consciências, impede que nos habituemos ao sofrimento do outro e indica caminhos de resposta que se radicam nas virtudes teologais da fé, da esperança e da caridade, concretizando-se nas obras de |
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misericórdia espiritual e corporal”, escreve. O Papa apresenta os migrantes e refugiados como “irmãos e irmãs” que procuram uma vida melhor “longe da pobreza, da fome, da exploração e da injusta distribuição dos recursos do planeta, que deveriam ser divididos equitativamente entre todos”. “A presença dos emigrantes e dos refugiados interpela seriamente as diferentes sociedades que os acolhem”, acrescenta, pedindo dinâmicas de “enriquecimento mútuo” que previnam “o risco da discriminação, do racismo, do nacionalismo extremo ou da xenofobia”. O Papa elogia o trabalho de
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instituições, associações, movimentos, grupos comprometidos, organismos diocesanos, nacionais e internacionais, neste setor, antes de sublinhar que “a resposta do Evangelho é a misericórdia”. “A Igreja coloca-se ao lado de todos aqueles que se esforçam por defender o direito de cada pessoa a viver com dignidade, exercendo antes de mais nada o direito a não emigrar, a fim de contribuir para o desenvolvimento do país de origem”, prossegue. Francisco pede uma adequada informação da opinião pública, para prevenir “medos injustificados e especulações”, bem como para denunciar “novas formas de escravidão geridas por organizações criminosas”. |
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Jubileu dos Refugiados |
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O Papa decidiu dedicar a celebração do Dia Mundial do Migrante e Refugiado 2016 ao tema ‘Migrantes e refugiados interpelam-nos. A resposta do Evangelho da misericórdia’, inserindo-a no Ano Santo Jubilar que começa em dezembro. Francisco “quer tornar presente a dramática situação de tantos homens e mulheres, obrigados a abandonar as próprias terras, e que muitas vezes |
morrem em tragédias no mar”, adianta o Vaticano. Segundo o Conselho Pontifício para a Pastoral dos Migrantes e Itinerantes (CPPMI), da Santa Sé, a celebração do dia 17 de janeiro “insere-se logicamente no contexto do Ano da Misericórdia” convocado pelo Papa e que decorre entre 8 de dezembro de 2015 e 20 de novembro de 2016. Para o Vaticano, há o “risco evidente” de que este problema “seja esquecido”, pelo que se deseja relacionar “o fenómeno da migração |
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com a resposta dada pelo mundo e, em particular, pela Igreja”. “Neste contexto, o Santo Padre convida o povo cristão a refletir durante o Jubileu sobre obras de misericórdia corporal e espiritual, entre as quais se encontra a de acolher os estrangeiros”, acrescenta a nota oficial. O CPPMI oferece algumas indicações para a celebração do Jubileu a nível diocesano e nacional, o “mais próximo possível dos migrantes e refugiados”, determinando que o evento jubilar central seja o próximo 17 de janeiro. A Santa Sé determina que “as dioceses e comunidades cristãs que ainda não o fazem, programem iniciativas, |
aproveitando a ocasião oferecida pelo Ano da Misericórdia” para sensibilizar as comunidades cristãs sobre o fenómeno migratório e promover “sinais concretos de solidariedade”. O Dia Mundial do Migrante e do Refugiado surge, na Igreja Católica, com a carta circular “A dor e as preocupações”, de 6 de dezembro de 1914, na qual a Santa Sé pedia, pela primeira vez, a instituição de um dia anual de sensibilização sobre o fenómeno da migração e a promoção de uma coleta em favor das obras pastorais para os emigrantes italianos e para a preparação dos missionários da emigração. |
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O grande abraço da caridade |
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A capital do Líbano, Beirute, voltou a ser notícia pelas piores razões. A violência extremista passou por aqui ainda antes de chegar a Paris. Mais uma tentativa para quebrar o clima de tolerância e convivência entre as muitas sensibilidades religiosas... uma caraterística deste país que vive paredes meias com tantos conflitos que marcam o médio oriente. No Líbano, este sinal é compreendido por todos, cristãos ou muçulmanos, todos sabem que Cáritas significa proximidade dos que estão em carência, não importa o credo ou a cor da pele. E esta caridade, é do tamanho do país. A 60 quilómetros da capital fica Zahleh, no Vale de Bekka. Aqui, encontramos o Centro de Cuidados de Saúde Primários. “Este serviço de assistência médica em Zahleh, recebe utentes libaneses e sírios. Principalmente as pessoas pobres, libanesas mas, também sírias, neste momento de crise que se vive na Síria”, refere Aline Ephrem, diretora do Centro Médico-social da Cáritas Líbano. Esta unidade está situada numa região que regista uma elevada concentração de refugiados.
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O Vale de Bekka, fica encostado à Síria e o conflito que ali eclodiu nos últimos anos empurrou para o Líbano uma vaga de deslocados que ascende hoje a um quarto da população. Com os seus quatro milhões de habitantes este país acolhe um milhão e meio de refugiados. Foi esta realidade de auxílio de primeira linha aos refugiados, de um trabalho de apoio cristão que ajuda milhares de muçulmanos, que a Cáritas Portuguesa quis conhecer de perto e acompanhar os métodos como por aqui se concretiza este impulso do Evangelho que nos remete para o próximo. Por aqui, não faltam carências, situações de insegurança. Não apenas física mas também económica e social. “As necessidades são muitas, eu queria dar uma melhor formação aos meus filhos mas só os posso apoiar até ao ensino secundário, não tenho possibilidade de pagar a universidade. Sem as organizações humanitárias e principalmente a Cáritas, nem eu nem os meus filhos tínhamos assistência médica. Outro problema que enfrentamos é o desemprego, muitos homens estão sem trabalho”, refere |
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Saná Chabass, utente do Centro Médico-social. A situação no Líbano tem-se agravado bastante nos últimos tempos com a crise económica e o aumento do desemprego. A Sede da Cáritas em Beirute não se reduz a serviços administrativos, também aqui se concretiza a razão de existir para auxílio de quem mais precisa. Foi este ambiente que presenciou um gesto inédito. A Cáritas Portuguesa assinava, com a sua congénere do Líbano, um protocolo de auxílio. O compromisso de um país pequeno e em crise, ajudar outro que se depara |
com uma urgência humanitária de grande dimensão.
Para a Cáritas do Líbano este programa de auxílio é expressão desse grande abraço da caridade com que a Cáritas envolve o mundo.
“É muito importante sentir estas ligações de solidariedade com todas as Cáritas, porque a Cáritas é uma única família e quando se trata de uma só família, os membros da família são solidários uns com os outros. O acordo que assinámos com a Cáritas Portuguesa, penso que é apenas o primeiro passo para outras iniciativas que procuram um apoio mais eficaz |
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às necessidades emergentes e devolver um sorriso às pessoas que perderam esse sorriso por causa da guerra”, refere o padre Paul Karam, presidente da Cáritas do Líbano. A organização católica acolhe estes dramas humanitários, estas vidas que, num país estrangeiro esperam pela paz. “É um peso, um grande peso, mas o Líbano faz tudo o que pode e mesmo |
mais. As necessidades são muitas, as capacidades são limitadas, mas graças aos nossos parceiros e às Cáritas irmãs, como é o caso da Cáritas portuguesa, tentamos prestar um serviço ao maior número possível de pessoas necessitadas”, acrescenta o padre Paul Karam. Bourj Hammond, é a zona mais pobre e vulnerável de Beirute. Desemprego, insegurança ou toxicodependência |
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fazem deste lugar uma área de risco. Por isso a Cáritas teria que estar aqui e a sua presença concretiza-se neste centro comunitário que aposta em fornecer competências que permita quebra a espiral da pobreza. “As competências que nós lhes propomos, aos jovens e outros, faz com que eles venham aprender com a finalidade de irem trabalhar, temos por exemplo o cabeleireiro. Há raparigas que aprendem e ficam aptas para trabalhar neste ramo de atividade. É o nosso objetivo para a diferenciação, para que se tornem independentes e tenham um ofício”, precisa Maria Mounzer, do Centro Comunitário CLMC. Numa das zonas onde se encontram mais refugiados, junto à fronteira com a Síria - Vale de Bekka - a Cáritas Portuguesa visitou Zahlé, cidade onde, em 2016, se desenvolve um projeto que resulta do protocolo assinado recentemente entre os presidentes da Cáritas Libanesa e da Cáritas Portuguesa, em Beirute, que estará integrado no âmbito do Programa “PAR Linha da Frente”. Este projeto tem como objetivo apoiar 930 pessoas, entre refugiados sírios e iraquianos e algumas famílias |
libanesas, de forma a promover a sua estabilidade e dignidade, através da assistência humanitária em duas áreas fundamentais: alimentação e cuidados de saúde. Bruno Athieh, diretor do Centro de Migrações da Cáritas Líbano, admite que “tem sido um grande desafio porque o Líbano é um país muito pequeno e o número de refugiados que tem chegado é muito grande comparado com a população”. “O Líbano, per capita, tem a maior percentagem de refugiados do mundo, muito mais que qualquer outro país. E depois, a situação no Líbano está muito difícil. Ao nível político, económico, social, mesmo a questão da segurança é muito sensível”, acrescenta. |
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«A grande dificuldade é acolher» |
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“Os emigrantes e refugiados interpelam-nos” é o título da mensagem do Papa Francisco escreveu para o dia 17 de janeiro, dedicado ao migrante e ao refugiado. A diretora da Obra Católica Portuguesa de Migrações, Eugénia Quaresma, olha a “interessante” mensagem e considera que ainda “é necessário ultrapassar a dificuldade de saber acolher”. “Ao ler a mensagem temos três grandes interrogações: a primeira são as causas, o que motiva esta deslocação? Os refugiados são pessoas que procuram abrigo, e nós temos condições para abrigar mas surge a grande dificuldade que é acolher”, explica Eugénia Quaresma à ECCLESIA. |
Na sua opinião esta dificuldade é a mesma que cada pessoa tem em acolher Deus na sua vida, “ninguém acolhe quem não conhece”. “Mas há outra questão a identidade, a pergunta: quem? A xenofobia e o medo surgem, quem somos nós, quem são eles? Eugénia Quaresma sente mesmo que é preciso “ousar conhecer” o outro, o refugiado que chega com todas as suas dificuldades, circunstâncias, cultura ou religião. “Acolher é a primeira atitude mas a Europa tem uma dificuldade: acolher Deus é difícil, ver Deus nos irmãos é difícil mas é a proposta da Igreja;
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e nem todas as pessoas que estão na Igreja percebem isto”, defende. Nesse sentido a diretora da Obra Católica Portuguesa de Migrações aponta a educação para o acolhimento recordando que, enquanto povo, “já fomos migrantes, refugiados e perseguidos e continuamos a ser enquanto cristãos”. “Que resposta estamos à espera? Dos irmãos, da sociedade, do mundo?” Em resposta imediata para este dia mundial do migrante e refugiado, Eugénia Quaresma sublinha o desafio para que cada diocese e cada paróquia do Mundo Inteiro possam marcar este dia de forma diferente. “O grande apelo que nos chega do Conselho Pontifício é que cada paróquia faça alguma coisa, que a data seja assinalada pelo acolhimento, reflexão, partilha; que |
sejamos criativos e vençamos a indiferença. Olhar à nossa volta, vencer os medos e dar a resposta evangélica que é necessário já é um grande desafio.” A mensagem para este dia do migrante e do refugiado, assinalado este domingo, inicia de uma “forma muito bonita” o amor de Deus quer chegar a todos mas primeiro temos de o acolher. “Acolher Deus, perceber o que Deus quer neste momento de cada um de nós e perceber que somos amados e chamados a comunicar esse amor, seja pela paciência, bondade, compreensão ou escuta”. “Ousar conhecer quem está a chegar e os refugiados já estão entre nós, conhecer a sua história pode ser o verdadeiro desafio”, conclui. |
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Desmontar mitos e medos |
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O diretor do Serviço Jesuíta aos Refugiados destaca a mobilização da sociedade civil para o acolhimento que não foi acompanhado pelos decisores políticos e assinala que o Papa Francisco na sua mensagem não quer uma Igreja e cristãos “acantonados”. “Mais importante da consciência que existe uma ideia que aponta para algum medo, para o desconhecido, é a dimensão da hospitalidade, do acolhimento, do atender a emergência mas ir mais longe, apontar a necessidade de todos os cristãos estarem envolvidos nos processos de acolhimento e integração”, explica André Costa Jorge à Agência ECCLESIA. O responsável pelo Serviço Jesuíta aos Refugiados em Portugal (JRS, sigla em inglês) assinala que o medo vence-se, sobretudo, a partir do “envolvimento |
direto” de cada um, das paróquias, dos movimentos “no acolhimento, na integração, no apoio aos refugiados e aos migrantes”. “Sermos testemunhas e capazes de desmontar mitos e os medos que muitas vezes se instalam e decorrem sobretudo do desconhecimento, da ignorância, da falta de relação”, observa. O Papa Francisco publicou a mensagem «Os emigrantes e refugiados interpelam-nos. A resposta do Evangelho da misericórdia», para o Dia Mundial do Migrante e Refugiado, celebrado a 17 de janeiro. “Desde o início do pontificado tem sinalizado a importância da Europa olhar para o tema dos refugiados |
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e migrantes em geral. Este documento sublinha a importância da crise que estamos a viver, a questão das migrações no sentido mais global”, analisa o entrevistado. Neste contexto, o diretor do JRS constata que a nível europeu, e concretamente em Portugal, foi a sociedade civil que se mobilizou para acolher os refugiados que fogem da guerra em África e no Médio Oriente. “Temos vindo a assistir que a Europa também é um grande espaço de acomodações onde é difícil chegar a posições de compromisso e liderança clara. De maneira geral mostrou muita hesitação na hora de socorrer as vítimas”, afirma. O responsável destaca o domínio de “lógicas mais securitárias, com algum receio” em matérias como |
segurança que “devem ser acauteladas” mas não até ao “bloqueio que não socorre ninguém”.
“O testemunho que procuramos passar é que de facto esta experiência que temos realizado possa ajudar os decisores políticos a medidas mais céleres”, explica.
Para André Costa Jorge, o Papa escreve em primeiro para os cristãos e sublinha a “importância” da “não contaminação” por ideias assentes “demasiado no risco do acolhimento” mas “alerta” para a “coragem de abrir para a relação”. “Traduzindo muito, o Papa diz que a Igreja, os cristãos, não se podem acantonar, ficar passivamente sujeitos apenas a ideias, às vezes, préconcebidas, negativas, e instalados no medo”, acrescenta. Uma mensagem “importante” no contexto do Jubileu porque a misericórdia é a “atenção pelos outros, sobretudo os mais vulneráveis”. |
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Refugiados: A burocracia europeia que contrasta com voz do Papa Francisco |
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O coordenador da PAR – Plataforma de Apoio aos Refugiados analisa positivamente o trabalho desenvolvido até agora, destaca a ação e voz do Papa de sensibilização e alerta para este drama e “não entende” a falta de vontade e capacidade de decisão dos políticos europeus. “O processo de recolocação a partir de Itália e da Grécia tem sido lamentavelmente lento, a Portugal só chegaram ainda 24 refugiados de uma disponibilidade manifestada de 4500”, explica Rui Marques à Agência ECCLESIA. O coordenador da Plataforma de Apoio aos Refugiados considera que há “burocracia europeia, incapacidade, e essencialmente a falta de vontade dos Estados-membros” em desenvolver este processo, afinal no total europeu foram recolocadas “pouco mais de 200 pessoas”. “Não temos nenhuma informação quanto a novas datas de chegarem mais pessoas, o que é um sinal negativo. O processo continua paralisado e espantosamente na União Europeia não são capazes |
de organizar o processo de recolocação de 160 mil pessoas da Grécia e Itália para os diferentes países que se disponibilizaram”, desenvolve o entrevistado. Rui Marquês destaca a “importância” que o Papa Francisco tem tido na questão dos refugiados, desde o início do pontificado: “A primeira viagem e visita a Lampedusa (Itália) quis dar um sinal muito importante ao mundo.” “Hoje, em 2016, o Papa é a principal e mais importante voz internacional da defesa da causa dos refugiados”, analisa. O Papa publicou a mensagem «Os |
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emigrantes e refugiados interpelam-nos. A resposta do Evangelho da misericórdia» para o Dia Mundial do Migrante e Refugiado, celebrado a 17 de janeiro. Uma mensagem “muito interessante” para o coordenador da PAR que destaca, desde logo, “a interpelação de não se ficar indiferente” a uma crise que “não é momentânea”. Francisco defende o “direito a não emigrar» e segundo o entrevistado “é emergente” que se comece já a “reduzir as condições negativas que obrigam que as pessoas a emigrar ou fugir”. Os portugueses escolheram «refugiados» como palavra do ano de 2015, o que para o coordenador da PAR “é de saudar” porque centraram-se no “essencial da dimensão humana”, do “drama das pessoas |
que foram obrigadas a fugir da sua terra”.
Para Rui Marques “importa” também encontrar nessa palavra razões de “esperança, resiliência, coragem” e observar as palavras “associadas” que ficaram em segundo e terceiro lugar, respetivamente, «terrorismo» e «acolhimento». “Para além das diferenças religiosas e culturais que existem no mundo e são uma riqueza existe algo muito mais importante que é a nossa natureza humana, que é comum e partilhada”, observa o coordenador da PAR. A Plataforma de Apoio aos Refugiados reúne atualmente “mais de 300 organizações” sendo uma resposta da sociedade civil de âmbito nacional e local, com instituições e organizações de “várias confissões religiosas e aconfessionais” para duas respostas: PAR Famílias e PAR Linha da Frente. |
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A oração verbalizada no mundo dos smartphones:
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No nosso idioma não existem outras Apps para Oração e Meditação como o excecional “Passo a Rezar”. Em inglês, a App Truth & Life para smartphones, é um dos modelos de comunicação do universo digital católico norte-americano destinado à Evangelização, Oração e Meditação de maior sucesso, e a sua transposição para português bem poderia ser ponderada. Na App Truth & Life reside, além do Antigo, o Novo Testamento, que aí está verbalizado. Para o Católico que domine o inglês, a experiência do Novo Testamento verbalizado na App Truth & Life, e ao qual foi dado o Imprimatur pelo Papa Emérito Bento XVI, é inédita. Durante quatro anos, 10.000 horas de produção, e mais de setenta intérpretes dedicaram-se a este Projeto. Entre esses intérpretes contam-se actores de renome como Neal McDonough (Suits e CSI: NY, Minority Report), Sean Astin (Lord of the Rings), Kristen Bell (Frozen), Julia Ormond (Mad Men, The CuriousCase of Benjamin BuCon), alcolm McDowell (Clockwork Orange), Blair Underwood |
(LA Law), Michael York (Murder on the Orient Express, Cabaret, e gravação de noventa audio livros), Brian Cox (Frasier, e King Lear, este no teatro), John Rhys-Davies (Lord of the Rings, Indiana Jones) e muitos mais.1 Por isso, a dicção do Novo Testamento na App The Truth & Life é imaculada, e permite ao ouvinte/leitor escutar a palavra divina ao mesmo tempo que o texto vai rolando (scrolling), de forma sincronizada com o texto que escutamos. A App permite a busca a qualquer versículo da Bíblia que selecionemos, e facilita a elaboração de um plano para completar a escuta da Bíblia em 365 dias, e do Novo Testamento em 40 dias, com acesso a um recordatório para se identificar onde se ficou na última “sessão”. E pode-se fazer uma busca, com uma palavra concreta, ou uma frase, e o resultado é instantâneo. Insira, por exemplo, a palavra “peace” (paz) no retângulo de busca, e ela aparecerá, com o respetivo versículo, 6 vezes no Livro do Génesis, 6 no Êxodo, 31 no Levítico, nos Números 21 |
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1 Entre parêntesis estão alguns dos utulos dos filmes ou séries de televisão em que estes actores se destacaram.
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vezes, 6 no Deuteronómio, 7 em Josué, 9 em Juízes, etc, etc.
Depois, no Novo Testamento, e pelo mesmo sistema, vamos encontrar destacada a palavra “peace” 88 vezes. E pode-se escolher/selecionar todo o tipo de frases e temas, que aparecerão instantaneamente. Centenas de expressões estão sublinhadas, com explicações sobre o seu significado literal, ou teológico. Por exemplo, em Lucas 10.35, basta pressionar a simples expressão two denarii (dois dinheiros, ou dois denários), e aparece a explicação: “o equivalente ao salário de dois dias de trabalho”. Entre outras, a App Truth & Life tem uma secção que se intitula Word Made Clear (“A Palavra Tornada Clara”). Trata-se cinco cursos de trinta minutos, sobre os quatro Evangelhos e um sobre a Santa Missa, verbalizados por Fr James Mcllhone, Director de Formação Bíblica da Arquidiocese de Chicago. A recomendação explícita para o estudo e divulgação de Apps como o Truth & Life por parte de prelados portugueses, significaria apostar na busca destas novas soluções para a Oração e Meditação, adaptando-as ao português, e respondendo aos desafios colocados às |
camadas da sociedade até aos 50/60 anos que usam smartphones.
O sucesso da plataforma digital portuguesa “Passo-a-Rezar” demonstra a eficácia de Apps como a Truth & Life3. João van Zeller Advogado, Empresário, jvzeller@sapo.pt |
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______ 3 O acesso à app Truth&Life completa tem um custo de US$29,99 (US$19,99 nas modalidades simplificadas, e grátis nas mais elementares). |
Livro alia fotografia ao texto
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“Ora vê” é o livro mais recente do padre Rui Santiago que, em parceria com o fotógrafo Miguel Cardoso desafia as pessoas a entrarem na intimidade com Deus. Em entrevista à Agência ECCLESIA, o sacerdote e missionário redentorista explica que o projeto realça “a imagem de um Deus” presente em todas as coisas, em cada momento do dia, de alguém com quem se pode construir “uma relação familiar, de profunda abertura”. |
“A vida está aí para ser vista e os dias estão cheios de nesgas para percebermos a presença benévola de Deus, a gentileza de Deus”, salienta o autor.
O livro “Ora vê” reúne 52 textos inspirados em outras tantas fotografias do quotidiano e resulta de um ano de colaboração entre o padre Rui Santiago e o fotógrafo Miguel Cardoso. Uma vez por semana, os autores continuam a partilhar o seu |
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trabalho com as pessoas, através de uma página de facebook que conta com milhares de acompanhantes regulares. “Eu vou-lhe enviado as fotografias, partilhando-as online, o padre Rui Santiago escolhe-as, reza-as no coração e na cabeça e quando essa oração está amadurecida ele coloca cada fotografia em forma de texto”, explica Miguel Cardoso. Para o profissional da imagem, o livro é uma “provocação” num mundo cada vez menos habituado a “escutar com os olhos do coração” e que “perdeu a dimensão contemplativa”. Ainda antes de ser editado em livro, o projeto já funcionava como “itinerário de oração” em várias comunidades, católicas e não só”. |
De acordo com Miguel Cardoso, há “muitas pessoas evangélicas que seguem a página” e há também a vontade de estender este modelo do “Ora vê” a “pessoas de outras confissões religiosas”.
Quem comprar o livro leva também uma coleção de postais, com as mesmas orações e imagens que constam da publicação, e “a ideia é que sirvam 52 missões”, uma para cada semana do ano. “O objetivo é que, depois da nossa intimidade com Deus, passemos à ação e à missão na prática, das mais diversas formas, desde a primeira pessoa que encontremos na rua até a um colega de trabalho”, frisa Miguel Cardoso. |
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II Concílio do Vaticano:
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No I Concílio do Vaticano, a representação portuguesa, limitou-se aos prelados de Lamego, Algarve, Funchal e Cabo Verde, acompanhados pelo deão da Sé do Funchal, pelo pároco da Sé de Braga e por alguns eclesiásticos da Covilhã. “Cremos que nenhum teve qualquer intervenção”, lê-se na obra «Cartas de Roma» de D. Manuel Gonçalves Cerejeira e editada pela União Gráfica. Em relação ao II Concílio do Vaticano (1962-65), convocado pelo Papa João XXIII e finalizado pelo Papa Paulo VI, estiveram presenta cerca de quatro dezenas de bispos portugueses da metrópole e do ultramar, entre os quais dois cardeais, e houve várias intervenções públicas. Um dos cardeais presentes, D. Manuel Gonçalves Cerejeira, participou nas quatro sessões conciliares e interveio na 15ª congregação geral (9-11-1962) sobre o calendário litúrgico e artes sacras, na 20ª (16-11-1962) sobre as fontes da revelação e na 57ª (29-10-1963) sobre a vocação universal para a santidade (esquema «De Ecclesia»). Na 157ª Congregação Geral (10-11-1965), o cardeal Cerejeira foi convidado a expor o pensamento da Conferência Episcopal Portuguesa acerca da questão das indulgências. A 6 de dezembro de 1965, o cardeal patriarca de Lisboa convidou, por intermédio de monsenhor Felici, todos os padres conciliares para o Congresso Mariano e Mariológico marcado para agosto de 1967, a propósito do cinquentenário das aparições da Cova da Iria. À margem do II Concílio do Vaticano, o cardeal Cerejeira saudou o Papa Paulo VI, a 17 de setembro de 1963, |
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na visita feita à Igreja de Santo António dos Portugueses e, no dia 22 do mesmo mês, presidiu em Pádua (Itália), às cerimónias de encerramento do VII centenário da trasladação do corpo de Santo António. A 1 de dezembro de 1965 apresentou ao Papa Montini o grupo de crianças do Patriarcado de Lisboa que foram a Roma entregar ao sucessor de João XXIII um exemplar dos evangelhos copiados e ilustrados por elas e uma edição fac-similada dos «Lusíadas». Durante o período conciliar, o cardeal |
Manuel Gonçalves Cerejeira teve de sujeitar-se a “duas melindrosas operações cirúrgicas”, realça a obra «Cartas de Roma» de D. Manuel Gonçalves Cerejeira e editada pela União Gráfica. Apesar de tão intensa atividade, exercida em precárias condições de saúde, ainda conseguiu, ao longo da IV sessão conciliar, escrever uma série de cartas de Roma. Ao todo são 10 cartas que abordam várias temáticas conciliares e que serão objeto de análise no próximo texto sobre o II Concílio do Vaticano. |
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janeiro 2016 |
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08 de janeiro de 2016. Coimbra - Faculdade de Letras da UC -Simpósio internacional «Revisitar Vieira no século XXI - Uma homenagem ao professor João Francisco Marques» (08 e 09 de janeiro)
. Lisboa - Biblioteca de São Lázaro -Exposição de pintura e desenho sobre Madre Teresa de Saldanha (até 05 de fevereiro)
. Fátima - Casa de Retiros de Nossa Senhora do Carmo -Curso sobre a Mensagem de Fátima orientado pela irmã Ângela Coelho (08 a 10 de janeiro)
. Lisboa - Jardim da Rua Gomes Freire – 14h30 -Inauguração de escultura de Madre Teresa de Saldanha da autoria do artista Rui A. Pereira, no Jardim da Rua Gomes Freire, onde era a casa onde faleceu Madre Teresa Saldanha há 100 anos
09 de janeiro. Coimbra -Assembleia diocesana do Ano da Misericórdia com o tema «A missão de ensinar a Misericórdia de Deus na catequese» por D. António Moiteiro, bispo de Aveiro |
. Algarve -Jornada de Pastoral sobre a Misericórdia que inclui as dimensões bíblica, litúrgica e sócio-caritativa
. Lisboa -Visita pastoral às paróquias da cidade de Lisboa por D. Manuel Clemente e bispos auxiliares (até 13 de janeiro)
. Lisboa - Seminário da Luz – 10h00 - Dia de oração e reflexão para casais à espera de filhos promovido pelo Sector da Pastoral Familiar do Patriarcado de Lisboa
. Fátima - Basílica da Trindade – 11h00 - Celebração de ação de graças pela vida e obra de Madre Teresa de Saldanha presidida por D. Manuel Clemente
. Lisboa - Mosteiro de Santa Maria (Lumiar), 15h30 - Conferência sobre «A Misericórdia que nos reconstrói» por Emília Leitão e integrada no ciclo «A Misericórdia: um evangelho por habitar»
. Guarda – Covilhã, 21h00 - Auto dos Reis na Igreja da Conceição (Covilhã)
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10 de janeiro. Bragança - Miranda do Douro (Concatedral) - Encerramento da exposição «Pastores de um povo» comissariada pelo bispo da Diocese de Bragança - Miranda, D. José Cordeiro, e que reúne obras da história da diocese nordestina
. Setúbal - Almada (Santuário de Cristo-Rei) -Jubileu diocesano dos Convívios Fraternos com a presença de D. José Ornelas de Carvalho, bispo de Setúbal
. Évora – Sousel - Encerramento da exposição de presépios de Estremoz
. Bragança – Outeiro - Abertura da porta santa da Basílica do Santo Cristo do Outeiro
. Guarda - Capela da Casa de Saúde Bento Menni – 16h00 - Concerto de Natal do coro a «Capella Ægitaniensis»
. Lisboa – Sé – 17h00 - Concerto de Natal com o tema «Misericórdia» pelo Coro da Catedral de Lisboa
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11 de janeiro. Fátima - Casa Domus Carmeli – 10h30 - Ação de formação sobre «Noções básicas de Inventário» promovida pelo Secretariado Nacional dos Bens Culturais
. Lisboa - Sala do Arquivo Municipal dos Paços do Concelho, 18h 00 - A EAPN - Rede Europeia Anti-Pobreza, a Cáritas Portuguesa e outras instituições vão apresentar a Revista Rediteira, que tem como tema ‘Erradicar a Pobreza: Compromisso para uma Estratégia Nacional’.
. Lisboa - Capela do Rato – 18h15 - Sessão do ciclo «Os filósofos também falam de Deus» dedicada a Platão e orientada por José Pedro Serra
12 de janeiro. Aveiro - Museu de Aveiro -21h30 - A Irmandade de Santa Joana Princesa, Diocese de Aveiro, vai promover a iniciativa de formação espiritual ‘Encontros de Santa Joana – novos olhares sobre a Padroeira’, até maio, no Museu de Aveiro.
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10 de Janeiro de 2016 - Bragança-Miranda Na Diocese de Bragança-Miranda oportunidade de participar na celebração da abertura da Porta Santa na Basílica do Santo Cristo do Outeiro.
Guarda - Na Diocese da Guarda, o coro ‘Capella Ægitaniensis’ dinamiza um concerto com um programa dedicado ao Natal, às 16.00 horas, na capela da Casa de Saúde Bento Menni (Guarda).
Vaticano - O Papa Francisco preside à Missa da Festa do Batismo do Senhor com o batismo de algumas crianças na Capela Sistina a partir das 09h25 (menos uma hora em Lisboa).
11 de janeiro - Lisboa Começa o ciclo «Os filósofos também falam de Deus» promovido pela Capela do Rato, em Lisboa. São doze sessões, ao ritmo de uma por semana, entre as 18h15 e as 20h00, até 02 de maio.
12 de janeiro - Aveiro A Irmandade de Santa Joana Princesa, na Diocese de Aveiro, organizou um ciclo de «novos olhares sobre a Padroeira» e começa com a participação da jornalista da Rádio Renascença Aura Miguel sobre o tema ‘Santa Joana – uma mulher livre’. Esta iniciativa de formação espiritual realiza-se até maio, no Museu de Aveiro. |
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Programação religiosa nos media |
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Antena 1, 8h00 RTP1, 10h00 Transmissão da missa dominical
11h00 - Transmissão missa
12h15 - Oitavo Dia
Domingo: 10h00 - O Dia do Senhor; 11h00 - Eucaristia; 23h30 - Ventos e Marés; segunda a sexta-feira: 6h57 - Sementes de reflexão; 7h55 - Oração da Manhã; 12h00 - Angelus; 18h30 - Terço; 23h57-Meditando; sábado: 23h30 - Terra Prometida. |
RTP2, 13h30Domingo, 10 de janeiro - Alma Açoriana: natureza e religiosidade no Arquipélago
RTP2, 15h30 Segunda-feira, dia 11 - Entrevista a Rui Marques, coordenador da Plataforma de Apoio aos Refugiados
Terça-feira, dia 12 - Informação e entrevista ao padre António Valério sobre "O vídeo do Papa"
Quarta-feira, dia 13 - Informação e entrevista a André Costa Jorge do Serviço Jesuíta Aos Refugiados
Quinta-feira, dia 14 - Informação e entrevista a Eugénia Quaresma sobre o Dia Mundial do Migrante e Refugiado
Sexta-feira, dia 15 - Entrevista de análise à liturgia de domingo com frei José Nunes e padre Nélio Pita
Antena 1 Domingo, dia 10 de janeiro - 06h00 - O Video do Papa: nova forma de rezar pelas intenções de Francisco
Segunda a sexta-feira, 11 a 15 de janeiro - 22h45 - Migrantes e Refugiados interpelam-nos: comentários de D. Manuel Clemente; Frei Francisco Sales; Mensagem do Papa Francisco (13 de janeiro); Encontro dos agentes sociopastorais de Migrações, com Eugénia Quaresma (programa de 14 e 15 de janeiro) |
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Ano C – Festa do Batismo do Senhor |
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Viver o batismo na misericórdia de Deus |
A cena do Batismo de Jesus, nesta Festa do Batismo do Senhor que encerra o tempo de Natal, revela essencialmente que Jesus é o Filho de Deus, enviado pelo Pai ao mundo a fim de cumprir um projeto de libertação a favor dos homens. Jesus obedece ao Pai e cumpre o seu plano salvador, vem ao encontro dos homens, solidariza-Se com eles, assume as suas fragilidades, caminha com eles, refaz a comunhão entre Deus e os homens que o pecado havia interrompido e conduz os homens ao encontro da vida em plenitude. Da atividade de Jesus, só poderá resultar uma nova criação, uma nova humanidade. «Deus ungiu com a força do Espírito Santo a Jesus de Nazaré, que passou fazendo o bem e curando todos os que eram oprimidos pelo Demónio, porque Deus estava com Ele»: eis uma densa descrição da vida e missão de Jesus Cristo, na segunda leitura dos Atos dos Apóstolos «Hoje, Cristo é iluminado: entremos também nós no esplendor da sua luz. Hoje, Cristo é batizado: desçamos com Ele à água, para podermos subir com Ele à glória». Estas são palavras interpeladoras de São Gregório de Nazianzo no ofício de leitura de hoje, convidando-nos a entrar na vida em Cristo, que passou pelo mundo fazendo o bem e libertando todos os que eram oprimidos, e a testemunhar o seu amor nos quotidianos da nossa existência, para que a salvação que Deus oferece chegue a todos os povos da terra. Retomemos palavras do Evangelho: «O céu abriu-se… O Espírito Santo desceu sobre Jesus… Do céu fez-se ouvir uma voz: Tu és o meu Filho muito amado: em Ti pus toda a minha complacência». O que aconteceu em Jesus deve acontecer em cada um de nós. Batizados em Cristo e |
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enxertados no Espírito Santo, escutamos a mesma voz do Pai: «Tu és o meu filho amado, tu és a minha filha amada! Eu estou contigo, em ti pus toda a minha ternura!» Esta voz fala-nos sempre: recorda-nos a nossa dignidade de filhos e filhas de Deus; envia-nos a gritar aos nossos irmãos que são amados pelo Pai. Iluminados em Cristo, sejamos luz, ternura, bondade e misericórdia para quem vamos encontrando nos caminhos da vida. E que sejam sempre caminhos de misericórdia no amor de Deus derramado nos nossos corações. Neste Ano Santo da Misericórdia, somos convidados a passar a Porta |
da Misericórdia de Deus, sempre aberta para todos sem exceção, comprometidos num caminho que dura a vida inteira. Um caminho que tem início com o Batismo, que nos introduz e faz permanecer como filhos na vida de comunhão com Deus e como irmãos na comunidade de Jesus Cristo. Na bela provocação do Papa Francisco, sejamos «oásis da misericórdia de Deus» face aos desertos da indiferença tão globalizada no nosso mundo.
Manuel Barbosa |
Jubileu das Famílias |
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O Papa presidiu no Vaticano à Missa da festa da Sagrada Família, no primeiro domingo depois do Natal, e convidou os pais católicos a ensinar os seus filhos a rezar e a criar um ambiente de amor e perdão.
“No Ano da Misericórdia, possa cada família cristã tornar-se um lugar privilegiado da peregrinação onde se experimenta a alegria do perdão. O perdão é a essência do amor, que sabe compreender o erro e remediá-lo”, disse, na homilia da celebração que decorreu na Basílica de São Pedro, a 27 de dezembro.
A cerimónia reuniu várias famílias para o seu Jubileu, no contexto do ano santo extraordinário da Misericórdia (dezembro2015-novembro 2016), convocado pelo Papa. “É no seio da família que as pessoas são educadas para o perdão, porque se tem a certeza de ser compreendidas e amparadas, não obstante os erros que se possam cometer”, afirmou Francisco.
Segundo o Papa, o amor leva à compreensão e ao amor, na vida familiar, dando forma a uma "peregrinação doméstica, de todos os dias". “Não percamos a confiança na família! É bom abrir sempre o coração
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uns aos outros, sem nada esconder”, observou.
A intervenção sublinhou a importância da “educação para a oração” e da peregrinação, evocando o exemplo de Maria e José, que ensinaram Jesus a rezar as orações. “Como é importante, para as nossas famílias, caminhar
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juntos e ter a mesma meta em vista! Sabemos que temos um percurso comum a realizar; um caminho, onde encontramos dificuldades, mas também momentos de alegria e consolação”, acrescentou Francisco.
O Papa convidou os pais a “abençoar
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os seus filhos” com o sinal da cruz, confiando-os a Deus, e a rezar antes das refeições, para agradecer e aprender a partilhar. “Trata-se de pequenos gestos, mas expressam o grande papel formativo que a família possui”, precisou. |
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Dehonianos iniciam comemorações dos 50 anos da criação da Província Portuguesa |
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A Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus, dehonianos, iniciou a 27 de dezembro, a celebração dos 50 anos da criação da província com uma Missa presidida por D. António Francisco, bispo do Porto. O início do cinquentenário da criação da Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus decorreu no Seminário Missionário Padre Dehon, na Missa de ordenação de um diácono dehoniano. |
De acordo com a informação enviada à Agência ECCLESIA, as comemorações dos 50 anos da província serão encerradas no dia 27 de Dezembro de 2016, no Seminário Nossa Senhora de Fátima, em Alfragide (Lisboa). A Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus foi criada no dia 27 de dezembro de 1966, vinte anos após a chegada dos primeiros dehonianos a Portugal, informa a página da internet da congregação. |
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Centenário da Irmã Wilson,
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Ao longo deste ano, a Congregação das Irmãs Franciscanas de Nossa Senhora das Vitórias assinala o primeiro centenário da morte da sua fundador, a venerável Mary Jean Wilson (1840-1916), que faleceu na Madeira. A religiosa, filha de pais ingleses, nasceu na Índia, a 3 de outubro de 1840, e morreu em Câmara de Lobos, a 18 de outubro de 1916, após um percurso de vida que a fez converter- |
se do anglicanismo ao catolicismo, assumindo o nome de irmã Maria de São Francisco. A religiosa recebeu o batismo em França, em 1874, e chegou à Madeira em maio de 1881, como enfermeira de uma doente inglesa. Após ter-se fixado no Funchal, dedicou-se à catequese das crianças, aos doentes e à educação, tendo instituído diversas obras a favor dos pobres. |
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O ano santo da misericórdia já chegou à cidade de alqoshO desafio do Padre Dankha |
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Rezar pelos inimigos não é fácil. Muito menos quando eles, os jihadistas, estão a apenas 15 km de distância e todos têm ainda na memória os dias em que tiveram de fugir para salvar a vida. Há centenas de cristãos refugiados em Alqosh. É para eles – e para nós - que se dirige o desafio do Padre Dankha: Perdoar os inimigos e rezar por eles.
O Padre Dankha Issa é monge da Ordem Caldeia, em Alqosh. Esta cidade, situada no norte do Iraque, permanece intacta no que diz respeito às suas raízes cristãs, como se a sombra do Mosteiro da Virgem Maria a protegesse de todos os perigos. A apenas cerca de 15 km de distância, situa-se a linha da frente do auto-proclamado “Estado Islâmico”. A vida mudou muito em Alqosh desde o Verão do ano passado. Então, o avanço dos jihadistas na região levou à fuga desordenada de milhares de pessoas. Centenas refugiaram-se nesta pequena cidade. Ainda hoje vivem por lá. Quase todos são cristãos. Todos ali transportam as memórias desses dias de terror. Por ali são todos sobreviventes. São |
todos como náufragos. Mas o Padre Dankha tem um sonho: “O Jubileu da Misericórdia dá-nos uma nova esperança”, diz ele. “Esperemos que este ano apague o fogo do ódio e nos traga a paz.” O Padre Dankha Issa quer transformar este ano jubilar num tempo de perdão, e quer envolver toda a comunidade nesse desafio. “Deus perdoa-nos. Porém, isto significa que também temos de nos perdoar uns aos outros. E isso inclui igualmente os jihadistas que tanto mal nos causaram. Como cristãos temos de amar os nossos inimigos.”
Rezar pelos inimigos O Padre Dankha sabe que não vai ser fácil convencer as populações de Alqosh a aceitarem o seu desafio. “Falando humanamente é quase impossível. Porém, torna-se mais fácil através da fé. Deus consegue tudo.” O Padre Dankha tem ainda um desejo: que neste Ano Santo se transformem também os corações dos jihadistas do auto-proclamado ‘Estado Islâmico’. O Mosteiro da Virgem Maria é o local de abrigo de dezenas de famílias. São refugiados que perderam tudo o que tinham, mas conservaram a fé |
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em Deus. Agora, o Padre Dankha quer continuar a ajudar estas populações distribuindo-lhes, como sempre tem feito, com a ajuda dos benfeitores da Fundação AIS, “alimentos, roupa, medicamentos… Mas agora, quero mais: desejo que passemos a rezar juntos, todos os dias, sobretudo o Rosário. Assim, como membros do Corpo de Cristo, estaremos unidos com o nosso próprio sofrimento à Igreja universal e ao Papa”. O Padre Dankha agradece o apoio que tem vindo a receber da Fundação AIS. |
Sem essa ajuda seria quase impossível auxiliar tantas famílias. Mas tão importante quanto isso é a certeza da oração pelos Cristãos perseguidos. E ali, em Alqosh, o padre Dankha conhece todos estes cristãos até pelo nome. E é em nome deles que agradece também as nossas orações. Por eles e pelos jihadistas, que estão a apenas 15 km de distância.
Paulo Aido |
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Indiferença?! Nunca! |
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Tony Neves |
O combate á indiferença não permite tréguas. O Papa Francisco está na linha da frente desta ‘guerra’, pois o futuro da humanidade passa por aqui. Na Mensagem para o Dia Mundial da Paz, Francisco evoca o sem número de eventos marcados pela violência, guerra e perseguição (fala de uma ‘terceira guerra mundial em pedaços’), pedindo mudanças radicais de atitude por parte dos governos e das pessoas particulares. Ninguém se pode render à indiferença. Por isso, os líderes mundiais presentes em Paris, na Cimeira do Clima, deram corpo á esperança de uma Terra mais protegida dos efeitos das alterações climáticas, apontando caminhos novos que ainda estão por percorrer e exigem coragem e compromisso. Em tempo de Jubileu da Misericórdia, é urgente ampliar a capacidade de perdoar, dar e abrir-se a quem vive nas periferias e margens da história, sem vez e sem voz. A globalização da indiferença – segundo o Papa – começa pela marginalização de Deus. É importante perceber como Deus intervém na história: ‘Ele observa, ouve, conhece, desce, liberta. Deus não é indiferente. Está atento e age’. Temos que ser bons samaritanos. Há que viver a compaixão, atentos ao que se passa no mundo: ‘quando estamos bem e comodamente instalados, esquecemo-nos dos outros!’. Os Governos devem servir os povos e nunca servir-se deles. A conquista e manutenção de poder e riqueza acontecem quase sempre à custa dos direitos humanos espezinhados e violados. E o pobre é sempre quem mais sofre. |
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As Paróquias, Comunidades, Associações e Movimentos devem ser ‘oásis de Misericórdia’, pois o amor, a compaixão, a misericórdia e a solidariedade devem constituir um programa de vida, um estilo de comportamento, nas relações de uns com os outros.
Há muitas pessoas e organizações que se empenham na prática das obras de Misericórdia, mesmo em contextos de alto risco. Entre elas ‘contam-se muitos sacerdotes e missionários que, como bons pastores, permanecem junto dos seus fiéis e apoiam-nos sem olhar a perigos e adversidades, em particular durante os conflitos
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armados’ – defende o Papa. E, claro, Francisco pode ternura e braços abertos para o acolhimento aos refugiados que estão sempre a bater à nossa porta. Estas ideias-força retiradas da Mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial da Paz traduzem também o testemunho de vida e de Missão da Madre Teresa de Saldanha, fundadora das Dominicanas de Santa Catarina de Sena, falecida há cem anos. A Missão destas Irmãs, seguindo a inspiração fundadora, continua a semear justiça, paz e fraternidade por esse mundo além. |
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“Pode ouvir o programa Luso Fonias na rádio SIM, sábados às 14h00, ou em www.fecongd.org. O programa Luso Fonias é produzido pela FEC – Fundação Fé e Cooperação, ONGD da Conferência Episcopal Portuguesa.”
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