04 - Editorial:

   Paulo Rocha

06 - Foto da semana

07 - Citações

08 - Nacional

14 - Internacional

20 - Opinião:
    D. Manuel Linda

22 - Opinião:
    Miguel Oliveira Panão

24 - Semana de..

    Luis Filipe Santos

26 - Dossier

   Combate ao Desperdicio Alimentar

 
 

52 - Multimédia

54- Estante

56- APP Pastoral

58 - Concílio Vaticano II

60- Agenda

62 - Por estes dias

64 - Programação Religiosa

65- Minuto Positivo

66 - Liturgia

68 - Jubileu da Misericórdia

70 - Ano da Vida Consagrada

72 - Fundação AIS

74 - Lusofonias

Foto da capa: Agência ECCLESIA

Foto da contracapa:  Agência ECCLESIA

 

 

AGÊNCIA ECCLESIA 
Diretor: Paulo Rocha  | Chefe de Redação: Octávio Carmo
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Opinião

 

 

 

Novo bispo auxiliar no Porto


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O roteiro do Papa para 2016

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Contra a fome e o desperdício

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D. Manuel Linda | Paulo Rocha | Miguel Oliveira Panão | Margarida Alvim | Manuel Barbosa | Paulo Aido | Tony Neves | Luis Filipe Santos

 

Partilhar sobras ou gerir o necessário

  Paulo Rocha   
  Agência ECCLESIA  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O desequilíbrio global gera contrastes cada vez mais evidentes nos vários setores da sociedade. Em diferentes escalas, notam-se tensões entre hemisférios Norte e Sul, do interior em relação ao litoral, entre ambientes urbanos e rurais, empregadores e empregados, centros e periferias. Comum a todos os conflitos, mais ou menos explícita, é a crescente polarização entre ricos e pobres.

Conta quem dirigiu departamentos de recursos humanos de grandes empresas que a progressão na carreira e consequente aumento das remunerações - nos tempos em que aconteciam de forma notória, por mérito ou por favor – provocava muitas conversas, mais ou menos subjetivas. Uma delas girava em torno da possibilidade de adequar progressivamente o gasto ao ganho, numa verdadeira espiral reveladora de ausência de projetos pessoais e familiares, sem considerar o sentido da vida muito para além da sua dimensão material. Até que uma voz se ergueu para afirmar que o teto orçamental da família tinha sido definido, por uma vez, independentemente da remuneração. Em conjunto, a família estabelecera uma referência máxima, considerada necessária e razoável, e daí não se excedia (o destino do restante, confesso, não foi revelado).

Um princípio inspirador para um novo paradigma no relacionamento entre povos, estratégias orçamentais e políticas económicas, que apenas considera o necessário e recusa a voraz especulação do máximo, do superior em relação a um outro.

 

 

O Ano Nacional de Combate ao Desperdício Alimentar, em 2016, é um alerta para estar atento aos mínimos: aproveitar o que sobra para a matar a fome de muitos. Mas a certeza de que se há sobras numa mesa é porque outras estão sem nada tem de gerar revolta nas consciências e recuo nos procedimentos.

“Mais vale sobrar que faltar”, diz-se, mas erradamente. Agora como sempre, e nomeadamente no que diz respeito à administração dos bens, “mais vale faltar do que sobrar”.

Nos diferentes ambientes e nos vários setores da sociedade, é por certo difícil pôr fim a essa tensão entre gerir o necessário ou assoberbar todo o 

 

possível para -ocasionalmente - dar do que sobra. Infelizmente, assim continuará. Porque permanecem distantes aproximações entre indivíduos e povos para definir esse fiel de uma balança que gera equilíbrios pessoais e sociais: estabelecer o necessário.

 
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Imagem de Istambul após o atentado que esta terça-feira matou 10 pessoas na cidade turca

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

“É uma emoção estar aqui, no Vaticano, o Estado mais pequeno do mundo, que tem dentro o maior homem do mundo, neste momento”

Roberto Benigni, realizador italiano, na apresentação do livro ‘O nome de Deus é misericórdia’, Vaticano, 12.01.2016

 

"Não é só a experiência e a maturidade, a experiência convertida em maturidade, é também a sensibilidade (…), uma coisa é fazerem isto numa campanha eleitoral e outra coisa é transbordar de afeto durante mais de quatro décadas"

Maria de Belém Roseira, candidata presidencial, Viseu, 13.01.2016

 

"Há quem veja a democracia como uma coutada para a caça aos votos, eu vejo a democracia como um espaço para ouvir as pessoas e debater ideias"

António Sampaio da Nóvoa, candidato presidencial, Faro, 13.01.2016

 

"Eu lanço a candidatura e depois aceito os apoios e tenho estado a aceitar apoios de mandatários, de personalidades, de grupos, muitos dos quais não são do PSD"

Marcelo Rebelo de Sousa, candidato presidencial, Funchal, 13.01.2016

 

 

Novo bispo auxiliar para a Diocese do Porto

O Papa Francisco nomeou no último dia 9 como bispo auxiliar do Porto D. António Augusto Azevedo, de 53 anos, atual reitor do Seminário Maior da diocese. O novo bispo junta-se a D. António Francisco dos Santos, bispo do Porto desde fevereiro de 2014, e a D. António Maria Bessa Taipa e D. Pio Alves, auxiliares na diocese mais populosa do país.

D. António Augusto Azevedo, natural de Avioso (Concelho da Maia), foi ordenado padre a 13 de julho de 1986. Lecionou na Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa (UCP), no Centro de Cultura Católica e no Curso de Pastoral do Seminário Maior, sempre no Porto, tendo colaborado ainda com a Escola de Direito e da Faculdade de Educação e Psicologia da UCP.

Em declarações à Agência ECCLESIA, o novo bispo auxiliar, disse que recebeu com “humildade, disponibilidade” e “sentido da grande responsabilidade” o desafio a que foi chamado pelo Papa Francisco.

D. António Augusto Azevedo manifesta ainda o “sentido da grande responsabilidade” que significa ser sucessor dos Apóstolos e “testemunha da fé em Jesus Cristo no tempo de hoje”.

 

A ordenação episcopal vai decorrer a 19 de março, na Sé do Porto.

O prelado revela que escolheu como lema episcopal «Cantarei eternamente as misericórdias do Senhor», do Salmo 89. “Escolhi-o porque traduz o meu sentimento e corresponde à minha atitude e propósito de ser testemunha alegre da Boa Nova da misericórdia de Deus”, contextualiza.

Os bispos da Diocese do Porto convidaram as comunidades católicas a celebrar “a gratidão e a esperança” pela nomeação de D. António Augusto Azevedo, de quem destacam a “multifacetada experiência pastoral” para a sua nova missão e serviço.

“A multifacetada experiência pastoral testemunha a sua preparação para a missão que o Papa Francisco lhe confia”, escrevem o bispo do Porto, D. António Francisco dos Santos, e os seus auxiliares, D. António Bessa Taipa e D. Pio Alves.

Num comunicado enviado à Agência ECCLESIA, os prelados consideram que os serviços desenvolvidos até agora oferecem a D. António Augusto Azevedo “conhecimento da vida diocesana”. “Confere-lhe a autoridade que aos discípulos de Jesus se pede”, que consiste na “retidão de vida 

 

 

 

 

para O seguir e na prontidão para servir, onde Deus chama e envia”, explicam.

O bispo auxiliar é dado ao responsável diocesano para o coadjuvar nas tarefas apostólicas da diocese, sem direito de sucessão.

D. António Augusto Azevedo foi nomeado bispo com o título de Cemeriniano, uma antiga diocese do norte de África, na atual Argélia.

 

 

 

 

Núncio denuncia crises nacionais
e internacionais

O núncio apostólico (embaixador da Santa Sé) em Portugal denunciou esta quarta-feira as perseguições “sistemáticas” de minorias étnicas ou religiosas a que se somam as ameaças terroristas. “Em várias partes assiste-se, distraídos ou indiferentes, a perseguições sistemáticas de minorias étnicas ou religiosas, ou reage-se, horrorizados mas praticamente impotentes, a uma guerra fantasma, alimentada por uma ideologia extremista que, fazendo do terrorismo a sua arma, ataca de surpresa, em qualquer lugar”, disse D. Rino Passigato, na cerimónia de apresentação de cumprimentos de Ano Novo pelo Corpo Diplomático acreditado em Portugal ao presidente da República, no Palácio Nacional de Queluz.

No último encontro do género com Aníbal Cavaco Silva, o representante diplomático da Santa Sé falou num panorama mundial “muito complexo” que chega a ser “dramático”. “Em diferentes regiões do planeta perpetuam-se cenários de guerras que, causando no terreno destruição, horror e morte, provocam êxodos de proporções bíblicas de pessoas

 

de todas as idades e condições sociais”, precisou.

D. Rino Passigato aludiu depois à crise económica e financeira “sem fim” que afeta a Europa, agravada por “inquietantes escândalos bancários”. Esta crise, lamentou, “continua a impor sacrifícios gravosos aos cidadãos, castigando as famílias e roubando às novas gerações a esperança de um futuro digno e seguro”.

O responsável evocou várias das preocupações que têm marcado os discursos do Papa Francisco em relação a fenómenos como o tráfico de seres humanos, o tráfico de drogas e de armas.

D. Rino Passigato, decano do Corpo Diplomático em Portugal, saudou depois Cavaco Silva, que se aproxima do final de um segundo mandato como presidente da República Portuguesa.

 

 

 

Bispos ao lado das Misericórdias
e em defesa da liberdade de ensino

O Conselho Permanente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) lamentou hoje o recente recuo do Governo em acordos celebrados com as Misericórdias e eventuais cortes de financiamento de escolas do ensino particular e cooperativo. “Preocupam-nos, concretamente, algumas notícias referentes à relação com as Misericórdias ou o ensino não-estatal”, referiu o organismo dos bispos católicos, em comunicado apresentado hoje aos jornalistas, em Fátima, após a primeira reunião de 2016.

O padre Manuel Barbosa, que leu esta nota, referiu que o Estado tem o dever de “respeitar e apoiar todas as iniciativas da sociedade civil que comprovadamente respondem às necessidades de saúde, educação e outras, e correspondem ao direito de livre escolha por parte dos cidadãos”.

A intervenção acontece depois de o Ministério da Saúde ter cancelado o acordo que previa a transferência da gestão dos hospitais de Santo Tirso e de São João da Madeira para as santas casas das misericórdias locais.

Esta quarta-feira, por outro lado,a secretária de Estado Adjunta e de Educação, Alexandra Leitão, 

 

anunciou que o Ministério da Educação vai avaliar "de forma criteriosa" os contratos celebrados com as escolas privadas que têm neste momento contratos de associação para “evitar redundâncias na rede".

O Conselho Permanente da CEP refere, a este respeito, que “numa democracia, a solidariedade tem de ir a par com a subsidiariedade”.

A Igreja Católica, começa por referir a nota, “reconhece e valoriza tudo quanto desenvolve a solidariedade na sociedade portuguesa, prioritariamente a favor dos que continuam mais desprotegidos ou pouco promovidos”.

Já em declarações aos jornalistas, o secretário da CEP sustentou que “a Igreja não pode calar a sua voz” quando está em causa o “direito de livre escolha dos cidadãos”.

 

 

 

 

A Agência ECCLESIA escolhe sete acontecimentos que marcaram a atualidade eclesial portuguesa nos últimos dias, sempre atualizados emwww.agencia.ecclesia.pt

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima reabre a 2 de fevereiro

 

 

 

PAR-Linha da Frente entrega 200 mil euros para os refugiados que estão no Líbano

 

Nunca se pode matar em nome de Deus

O Papa condenou no Vaticano o terrorismo e o fundamentalismo religioso, diante dos representantes do corpo diplomático na Santa Sé, rejeitando que se justifique a violência com qualquer credo. “Nunca se pode matar em nome de Deus”, afirmou Francisco, num longo discurso que marcou o encontro anual com os representantes de 180 Estados, 

 

incluindo Portugal, bem como da União Europeia, da Palestina e da Ordem Soberana de Malta.

A intervenção desta segunda-feira apelou a uma "ação política conjunta" para conter a propagação do extremismo e do fundamentalismo, "com as suas consequências de matriz terrorista, que ceifam inumeráveis vítimas quer na Síria e na Líbia, 

 

 


 

 

 

 

quer noutros países, como o Iraque e o Iémen". Segundo o Papa, os homens e mulheres de fé têm de ser pessoas de “paz” e “só uma forma ideologizada e extraviada de religião pode pensar fazer justiça em nome do Omnipotente, massacrando deliberadamente pessoas indefesas”.

A este respeito, Francisco recordou os “sangrentos ataques terroristas” dos últimos meses na África, Europa e Médio Oriente. “Toda a experiência religiosa, vivida autenticamente, só pode promover a paz”, insistiu.

O Papa recordou, a este respeito, o ano santo extraordinário que a Igreja Católica está a viver, o Jubileu da Misericórdia (dezembro de 2015-novembro de 2016), sublinhando que para Deus “o poder não significa força e destruição, mas amor” e a justiça “não significa vingança, mas misericórdia”.

“Precisamente nesta perspetiva, quis proclamar o Jubileu extraordinário da Misericórdia, inaugurado excecionalmente em Bangui durante a minha viagem apostólica ao Quénia, Uganda e República Centro-Africana”, assinalou.

 
Na República Centro-Africana, “país longamente atribulado pela fome, a pobreza e os conflitos”, Francisco quis deixar a 29 de novembro do último ano um “sinal de encorajamento” para as vítimas da “violência fratricida”.

“Ali, onde se abusou do nome de Deus para cometer injustiça, quis reiterar, juntamente com a comunidade muçulmana da República Centro-Africana, que quem afirma crer em Deus deve ser também um homem ou uma mulher de paz e, consequentemente, de misericórdia”, precisou.

O Papa afirmou depois que convivência pacífica entre membros de religiões diferentes é possível quando "se reconhece a liberdade religiosa e se assegura uma real possibilidade de colaborar para a edificação do bem comum, no respeito mútuo da identidade cultural de cada um".

O encontro começou com as palavras de saudação do novo decano do Corpo Diplomático acreditado junto da Santa Sé, o embaixador de Angola, Armindo Fernandes do Espírito Santo Vieira.

 

 

 

Crise dos Refugiados abalou a Europa

O Papa alertou no Vaticano para as consequências que reações de medo e preconceito face aos refugiados podem ter nos fundamentos e valores da Europa.“A atual vaga  migratória parece minar as bases daquele espírito humanista que a Europa ama e defende desde sempre”, afirmou Francisco, esta segunda-feira.

O pontífice argentino aludiu a um “fluxo impressionante de refugiados” e aos “desembarques maciços” nas costas do Velho Continente, que parecem estar a “fazer vacilar o sistema de acolhimento” construído depois da II Guerra Mundial.

O Papa admitiu que existem “dúvidas” sobre as reais possibilidades de receção e adaptação das pessoas, sobre a mudança do meio cultural e social dos países de acolhimento, bem como “a redefinição de alguns equilíbrios geopolíticos regionais”.

“Relevantes são igualmente os temores pela segurança, exacerbados desmedidamente pela difusa ameaça do terrorismo internacional”, acrescentou.

Nesse sentido, Francisco sublinhou que “o extremismo e o fundamentalismo encontram terreno fértil não só numa  

 

instrumentalização da religião para fins de poder mas também no vazio de ideais e na perda de identidade – inclusive religiosa” no Ocidente. “De tal vazio nasce o medo que impele a ver o outro como um perigo e um inimigo, a fechar-se em si mesmo, refugiando-se em posições preconceituosas”, acrescentou.

A Europa, prosseguiu, “não se pode dar ao luxo de perder os valores e os princípios de humanidade” que brotam do seu “grande património cultural e religioso” e a tornam respeitada em todo o mundo.

Francisco agradeceu depois aos países que têm acolhido migrantes e refugiados, a começar pelas nações vizinhas da Síria, como o Líbano e a Jordânia, passando pela Turquia, a Grécia e a Itália, “cujo decidido empenho salvou muitas vidas no Mediterrâneo”.

 

 

 

Papa inicia ciclo de reflexões
dedicadas à misericórdia

O Papa iniciou um novo ciclo de catequeses semanais, dedicadas ao tema da misericórdia, um dia depois do lançamento do seu livro-entrevista intitulado ‘O nome de Deus é misericórdia’. “A misericórdia é o nome de Deus e o seu modo de manifestar-se a si mesmo e o seu amor pelos homens. Ele chama-nos a ser misericordiosos uns com os outros, para sermos verdadeiramente seus filhos”, disse, na audiência geral que decorreu na sala Paulo VI, perante cerca de 7 mil pessoas.

Francisco sublinhou que o adjetivo “misericordioso”, aplicado na Bíblia a Deus, evoca uma “atitude de ternura”, como a de uma mãe em relação aos filhos. “Por isso, a imagem que sugere é a de um Deus que se comove e enternece por nós, como uma mãe quando pega no seu filho ao colo, apenas com vontade de amar, proteger, ajudar, pronta a dar tudo, inclusive ela própria”, precisou.

A intervenção falou depois da fidelidade de Deus, uma presença “sólida e estável” que está na base da fé cristã. “Deus não pode renegar-se a si mesmo: a fidelidade na misericórdia é precisamente o ser de Deus”, explicou.

 

 

A misericórdia, acrescentou o Papa, é o “nome”, o “rosto”, o “coração” de Deus, apresentando nos Antigo Testamento como “lento na ira”. “Deus sabe esperar, os seus tempos não são impacientes como os dos homens. Ele é como sábio o agricultor que sabe esperar, deixa crescer a boa semente, apesar da cizânia”, exemplificou.

Além da fidelidade “sem limites”, Francisco sublinhou a grandeza e a bondade como atributos divinos. “Deus é grande e poderoso, mas esta sua grandeza e esta sua força usa-as para nos amar a nós, tão pequeninos, incapazes”, sustentou.

Neste amor, é Deus que “dá o primeiro passo, que não depende dos méritos humanos”, com plena “gratuidade”. “Deus vigia constantemente sobre nós para nos conduzir à vida”, afirmou.

 

 

 

 

A Agência ECCLESIA escolhe sete acontecimentos que marcaram a atualidade eclesial internacional nos últimos dias, sempre atualizados em www.agencia.ecclesia.pt

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Apresentação do novo livro do Papa Francisco

 

 

 

Os alertas do Papa à comunidade internacional no início de 2016

 

 

 

Salvemos o Presépio

  D. Manuel Linda    
  Bispos das Forças   

  Armadas e Forças de  

  Segurança  

 
 

Aquela rua alentejana é estreita e as casas quase simétricas, como que a garantir veracidade às palavras da canção: “em cada rosto igualdade”. Igualdade, porém, mais aparente que real. Pelo menos, ao nível das crenças de quem as habita. E da forma de as manifestar.

De facto, numa varanda, estampado num pano, reconheci o Menino Jesus. Com as mãozinhas abertas, estava a olhar, complacente, para uma figura toda vestida de vermelho, com barbas brancas e saco às costas, gorducho, a subir por uma corda, na varanda em frente, para penetrar numa casa por meio de uma porta entreaberta.

Perante esta cena de ternura, por um lado, e do que se me afigurou tratar-se de um assalto, por outro, devo ter ficado algo perturbado. De tal forma que um simpático habitante local, que armazenava raios de sol para suportar o inverno, sentiu-se na necessidade de me esclarecer: “É o Pai Natal”. “Ai sim?” – indaguei eu. “E quem é o Pai Natal”? Mas a única resposta que obtive foi de que não sabia. Apenas sabia que todos dizem que é o Pai Natal.

Poucos metros à frente, e eis-me na praça principal lá do burgo. E a cena quase se repetiu: no centro do largo, numa ampla estrutura de acrílico, uma luxuosa sala de estar, com lareira, alcatifa, poltrona, botas de neve e mobiliário diverso. Tudo vermelho! Ah, e mais um amontoado de embrulhos. Não adivinharia do que se tratava se, por cima, não tivessem escrito a letras garrafais: “Casa do Pai Natal”.

 

 

 

 

E num canto da praça, aproveitando o ângulo entre duas casa, um presépio, envergonhadito, como que a suplicar autorização para existir, com as três figuras principais de pano e as outras pintadas num platex recortado.

E dei comigo a meditar: ora, cá temos duas culturas que convivem, mas não se reconhecem. A do Pai Natal, ainda que diga que se reporta a S. Nicolau, é meramente comercial e dispõe de grandes arautos: a publicidade e a comunicação social. E vende, vende muito! E a do presépio, cansada, silenciosa, mais intimista. E posta de lado. Com uma agravante: a primeira é típica das gerações jovens, incluindo os casais; a segunda, é mantida, a custo, pelos mais idosos.

 

 

Curiosamente, por essa altura, ouvi na rádio uma pessoa de cultura -não padre nem sei se crente- a pedir que se salve o presépio. Até por motivos artísticos e para acalentar o imaginário, coisa que a representação do Pai Natal não consegue fazer. E afirmava mesmo que a cultura da árvore e a do Pai Natal são falsidades históricas, mitos de substituição. Mas que o presépio possui uma identidade onde se regista o nascimento: oitocentos anos de bom serviço.

Pois, eu junto a minha à sua voz para pedir: salvemos o presépio de uma cultura minimalista. O Natal é mais que as efémeras sensações que as prendas podem conceder ao longo de… escassos minutos. Ou até segundos.

 

 

 

 

Escutar Observando

  Miguel Oliveira Panão   

  Professor Universitário   

 

Começámos um novo ano. Talvez tenhamos feito algum propósito para 2016 e apontamos o olhar para o inesperado que este ano nos reserva. Poderia aproveitar esta oportunidade para vos partilhar uma leitura dos acontecimentos mais importantes de 2015 e quais as expectativas para 2016. É verdade que o acontecimento mais importante, do ponto de vista do nosso planeta, a nossa casa comum, penso ter sido o contínuo desde o lançamento da Encíclica do Papa “Laudato Si’” até à decisão tomada no COP21 em que as nações do mundo se comprometeram a mudar o rumo da nossa história em relação à forma como queremos progredir socialmente, mas em maior harmonia com os ritmos dos ecossistemas deste planeta.

Porém, não pensava em partilhar qualquer leitura do género … mas antes uma experiência pessoal que levou a uma maior compreensão daquilo que o Papa nos disse no n.84 da Laudato Si’:

“Todo o universo material é uma linguagem do amor de Deus, do seu carinho sem medida por nós.”

 

 

 

 

Se o universo é uma linguagem através da qual Deus nos fala amorosamente, ao contemplar a natureza deveríamos fazer alguma experiência disso mesmo. Será que o fazemos? Ou o frenesim da vida amainou a nossa capacidade de aprender o que significa isso nos dias de hoje?

Nos últimos dias cruzei-me com um pequeno filme (link) com diversos cenários simplesmente espantosos do nosso planeta Terra. Houve dois momentos particulares em que fiz uma experiência - dir-se-ia - contemplativa.

O primeiro foi quando vemos pessoas a lançar-se num buraco enorme no interior de uma montanha para fazer parapente. Admito. Deixa-nos perplexos. Mas em vez de ficar simplesmente chocado, veio-me de imediato à mente o convite de Deus a dar passos de uma maior entrega a Ele. Penso nos sacerdotes ou leigos consagrados. Quando entregam a sua vida totalmente a Deus, e dizem um Sim a Ele para sempre, é como se lançassem de tal modo que não podem mais voltar atrás. Porém, é um lançamento no vazio, de braços abertos, confiando plenamente que nos dirigimos para os braços de 

 

Deus não deixa de nos surpreender. 

D’Ele podemos sempre esperar o inesperado. Por outro lado, lançando a nossa vida em Deus, cruzar-nos-emos com os diversos rostos daquele que do alto da Cruz grita “Meu Deus, meu Deus porque me abandonaste”, ou seja, as dificuldades e dores da humanidade e da natureza. Assim, lançar-se significa também este “estar pronto” a dar a vida pelo outro, chorando com os choram, sorrindo com o que sorriem.

O segundo momento foi quando se vê diversas cascatas confluírem num rio que leva a água a um mar ou oceano. Para mim, era como uma imagem da entrega de amor a cada próximo que cada um de nós é chamado por Deus a fazer no quotidiano da nossa vida. Uma entrega que se consuma na unidade (rio), através de um amar e deixando-se amar, de modo a que juntos, como comunidade, ou melhor dito, como família, possamos caminhar em direção a Deus (mar ou oceano).

Reconheço que esta foi talvez a primeira vez em que foi clara a experiência de escutar Deus observando a natureza. Experimentem.

 

 

«Sarampo presidencial»
ou «apostolado do ouvido»

  Luís Filipe Santos  
  Agência ECCLESIA   

 

Confesso que a dúvida me assolou… Escrever sobre 10 anos presidenciais ou escriturar sobre uma leitura curta temporalmente, mas densa no espaço: «O nome de Deus é Misericórdia». 

Durante uma década tivemos um presidente que vestiu uma camisola e brindava os portugueses com «pérolas linguísticas» que ficam nos anais da história contemporânea. Nunca mais esquecerei o discurso de vitória quando foi eleito pelos portugueses para o segundo mandato presidencial. Palavras com sabor a fel e pouco mel. Dificilmente, a história será generosa para com Cavaco Silva. Os seus 10 anos como presidente da República tiveram momentos delirantes… Basta ir ao baú das memórias.

Foi com ele em Belém que os «senhores da troika» desembarcaram nas terras lusitanas e foi com ele ao leme do barco que quatro bancos (BPN, BPP, BES, Banif) faliram e custaram muitos milhões aos bolsos dos portugueses. Uma semana antes de uma instituição bancária falecer, o visionário, que antecipava sempre os acontecimentos, garantia que esta era segura.

Como tinha o dom da profecia «acertava sempre». Até nas eleições de outubro passado, os cenários estavam todos estudados. Mesmo não colocando, no saco democrático, alguns partidos. O cargo de presidente da República não deve ser apenas fotogénico. Se o fosse, teríamos pessoas com mais brilho fotográfico e com melhor dicção.

 


 

Neste «sarampo presidencial» faltou o chamado «apostolado do ouvido». Falar menos e ouvir mais, ao bom estilo do Papa Francisco. Quando entramos no Jubileu da Misericórdia, Jorge Maria Bergoglio brinda-nos com respostas – na entrevista concedida a Andrea Tornielli - cheias de sabedoria e humanismo. O papa argentino despe as suas vestes quando fala ao mundo. Apesar de ser mais novo que o presidente da República Portuguesa, o discurso de Jorge Bergoglio tem aromas primaveris. Duvido que alguém diga – como verbalizaram em relação à mensagem de Ano Novo de Cavaco Silva - que a grande 
 
novidade do discurso foi ser o último.
O Papa Bergoglio coloca a sua experiência humanista e cristã nas suas palavras. Não fala porque leu os melhores livros de economia. Francisco ouve os lamentos das pessoas e, ao bom estilo samaritano, age em conformidade com o coração. Os seus discursos têm o sabor do melhor mel e não a acidez do fel. O papa Francisco não cansa… Podia ficar décadas naquela cadeira que seria sempre amado. Aprendi mais em duas horas com a leitura «O nome de Deus é Misericórdia» do que em dez anos presidenciais.

 

 

 

 

 

 

 

 

A reportagem apresentada neste Semanário evoca duas obras de Misericórdia, uma dinâmica que se vai manter ao longo do Ano Santo Extraordinário:

Dar de comer a quem tem fome

Dar de beber a quem tem sede

 

 

 

A Assembleia da República declarou 2016 como o ano nacional de combate ao desperdício alimentar. A ECCLESIA apresenta esta semana dois projetos que vão ao encontro destas recomendações, para além de recordar as mais recentes palavras do Papa sobre o escândalo da fome e de apresentar as conclusões da campanha internacional da Cáritas neste campo.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Cuidar das pessoas
no Refeitório das Vicentinas

A irmã Celeste Lopes, das irmãs de São Vicente de Paulo, dedica o seu serviço aos mais frágeis e menos favorecidos da sociedade, desde maio de 2005, no Refeitório Beata Rosália Rendu. Um serviço social dedicado aos refugiados e migrantes sem documentos e sem trabalho, muitos a viver na rua, que precisavam de quem os ajudasse “na parte humana”, para além das refeições, higiene pessoal e da roupa.

O refeitório da Província Portuguesa das Filhas da Caridade, no Campo Grande, em Lisboa, surgiu de um acordo com o Serviço dos Jesuítas aos Refugiados e a ACIME (Alto Comissariado para a Imigração e Minorias Étnicas). 10 anos depois da sua fundação, em 2015, tinha servido mais de 49 mil refeições, cerca de 150 por dia, e apoiado também 38 agregados familiares com 26 crianças.

No Ano Nacional de Combate ao Desperdício Alimentar, a religiosa considera que “está a haver uma pequena mudança” na mentalidade da sociedade e na educação dos mais jovens mas “todo o trabalho é pouco”.

 

   
 

 

 

Agência Ecclesia (AE) – Estamos no Refeitório Beata Rosália Rendu, mais conhecido como refeitório das Vicentinas. Chegam aqui muitas pessoas com fome? A quantas pessoas é que as sobras de comida matam a fome?

Irmã Celeste Lopes (CL) – A este refeitório chegam pessoas de todas a raças, todas as cores, todas as religiões. Neste espaço fazem a refeição uma média de 35 a 40 pessoas, depois há um grupo de famílias carenciadas que apoiamos. São cerca de 25 agregados e com 33 crianças até aos 19 anos.

 

AE – Nesse contexto, a crise vivida nos últimos anos em Portugal que afetou a sociedade aumentou a procura de famílias portuguesas pelos vossos serviços?

CL – Este ano (2015) tivemos pedidos de paróquias, Segurança Social, para que atendêssemos pessoas que ficaram sem rendimentos, sem possibilidade de se alimentar. Por exemplo, tivemos um pai com três filhos que chegou aqui - depois de bater a muitas portas, nenhuma se abriu -, porque naquele dia não tinha comer para dar aos filhos. Fomos a única porta que se abriu para poder alimentar os filhos.

 
Esse pai continuar a vir cá, é muito cuidadoso com os seus filhos, mas não tinha possibilidade de alimentar os três. Ele trabalha de noite e vai gerindo o cuidado dos filhos com a hora de ir para a escola.

 

AE – Como e quando é que surgiu o Refeitório Beata Rosália Rendu. Qual foi a necessidade identificada pelas vicentinas?

CL – Estas necessidade surgiu quando acabaram as grandes obras da construção civil e havia muitos emigrantes, principalmente ilegais que foram parar à rua, tinham um trabalho precário. Automaticamente não renovaram o trabalho, ficaram sem documentos e iam para a rua, é um ciclo vicioso.

A nível geral, a Companhia (das Filhas da Caridade) alertou todas as províncias, todos os países, para se adaptarem às novas pobrezas. Em 2005 esta situação era uma nova pobreza, embora existisse sempre a assistência aos pobres, organizou-se o refeitório para atender os imigrantes. Fizemos acordos com o Serviço Jesuítas (aos Refugiados), eles tinham a missão de acompanhar a nível jurídico, médico e nós ficamos com uma das partes principais, a parte humana.

 

 

 

Muitas vezes eles chegavam aqui pareciam tudo menos pessoas humanas porque a rua é a mãe de todos os vícios e eles metem-se em muitos vícios e aqui muitos conseguiram recuperar. Muitos conseguiram recuperar porque encontraram aconchego, conforto para além da refeição que tinham assiduamente. Muitos que já partiram, têm a sua vida organizada e continuam a vir visitar-me, têm-me quase como mãe, muitos deles chamavam-me mãe.

 

AE – Para além das refeições – almoço, lanche e muitos jantar – também proporcionam a higiene pessoal e de roupa. Como funciona o refeitório das Vicentinas?

CL – Nós temos casas de banho onde fazem a higiene e são eles que também tratam das suas roupas. Eles enchem a máquina, tiram a roupa e estendem e cuidam dela. Eu apenas coloco a máquina a lavar, para não passar por muitas mãos, e forneço o detergente e os produtos de higiene.

 

 

Muitas vezes eles chegavam aqui pareciam tudo menos pessoas 
 

 

AE – A irmã Celeste Lopes disse que têm utentes de diferentes culturas e religiões, que preocupação existe na preparação da comida que dão tendo em conta essas especificidades religiosas e culturais?

CL – Quando eles chegam, se não vierem referenciados que são muçulmanos ou hindus, não pergunto nada, mas se não tiverem essa referência, ou que não comem determinados alimentos, pergunto quando chegam. A partir daí respeito sempre e tenho comida feita à parte para lhes servir.

 

 

 

AE – Como estão organizados, de onde provém então toda a ajuda?

CL – A nossa ajuda vem de muitos sítios, felizmente nunca nos faltou nada, é só enviar um SOS que temos um milagre da multiplicação. Os géneros alimentares primeiro são da nossa casa, da nossa instituição, tudo o que precisamos e o excesso do dia anterior damos-lhe outra apresentação, damos-lhe outro apetite e eles gostam mesmo.

Depois, uma grande ajuda são os benfeitores, os pais dos alunos do colégio e os pais que já passaram por aqui são uma presença constante e sempre atentos se falta alguma coisa aos pobres. São muito preciosos e dou muito graças a Deus porque os pais são uma grande valia neste serviço.

Temos também ajuda da instituição que recolhe os desperdícios, a Refood e das padarias. Tudo o que sobre ao fim do dia temos duas padarias que nos dão. É dessa ajuda que fazemos os lanches e podemos dar alguma coisa doce, como eles dizem. Existe ainda o Banco Alimentar onde todas as semanas vamos buscar fruta e outros géneros que tenham nessa ocasião.

 

AE – Essa logística é fácil de organizar?

CL – Sim, não é difícil, desde que haja uma organização desde o início não tenho tido dificuldades, mesmo com o pouco espaço que tenho no refeitório, mas vou ter um espaço melhor, se Deus quiser. (Brevemente, o refeitório das Vicentinas vai deixar de estar no “vão” das escadas da igreja para outras instalações a poucos metros)

 

AE – A irmã está neste serviço pastoral desde 2005, quantas pessoas a ajudam?

CL – Muitas pessoas, todos os dias tenho dois voluntários. Uma pessoa que chega pelas 10h00 e depois à hora do almoço tenho duas pessoas a ajudar-me. Ao fim de semana também são dois voluntários que estão a ajudar-me, em geral são pais e são da Paróquia de São Tomás de Aquino, foram eles que quiseram estar neste serviço.

O refeitório funciona sete dias por semana, no início, início não funciona ao sábado e domingo, por vários motivos e eram um grupo restrito de emigrantes que aos sábados, normalmente, andavam sempre em estado impróprio. Só algumas pessoas que aparecessem eram atendidas.

 


 

Depois, vendo as necessidades e as urgências que foram surgindo o mesmo número de pessoas que vem cá durante a semana vem também ao fim de semana. Fazem as suas refeições neste espaço 30 a 35. Temos dias que o número de pessoas que estão à espera é igual ao de dentro e a sala enche duas ou três vezes, que se mantém aos sábado e domingo.

Felizmente é com donativos que fazemos face a esta situação porque se tivéssemos de pagar as refeições que fornecemos a Companhia, a província portuguesa não tinha sustentabilidade para eles.

 

AE – O refeitório das Vicentinas tem um regulamento e o primeiro “dever” é “zelar pela tranquilidade” uns dos outros e “não criar conflitos”. Com tantas pessoas países, culturas e religiões diferentes eles dão-se bem, interagem uns com os outros ou mantêm-se nos seus grupos?

CL – Às vezes isolam-se e por vezes surgem conflitos e na verdade não tenho problemas em gerir conflitos. Por exemplo entre ucranianos e russos há conflitos, entre pessoas de cor e caucasianos há conflitos, entre religiões há conflitos.

A determinada altura digo-lhes: 

 

 

 

“Meninos, aqui somos todos filhos do mesmo Deus e, por isso, somos todos irmãos. Aqui têm de se tratar como irmãos”.

A civilização está mudada e mesmo aqui no refeitório existe uma civilização de irmãos, entreajudam-se, raramente há conflitos, mesmo com os que aparecem em estado impróprio. Às vezes tenho dificuldade em compreender russo e ucraniano e eles ajudam-me a compreendê-los e a conseguir que se expressem.

Alguns dizem que sou a mãe de todos porque entendo as línguas todas. E respondo que não entendo as línguas todas mas as necessidades deles, é assim que conseguimos perceber se um precisa de umas meias ou de um casaco.

Temos tido casos difíceis em que precisamos da ajuda de quem fale a mesma língua e já esteja integrada na sociedade. Felizmente, temos no colégio pais ucranianos que me ajudaram muito, e têm ajudado, a integrar pessoas que foram vítimas de tráfico, caíram aqui e ficaram sem nada e foi muito difícil. 

 

tentamos dar um sentido religioso ao nosso trabalho
 

AE – Para além das preocupações culturais e religiosas na ementa, o refeitório também têm preocupações em prestar um serviço religioso de acordo com cada credo?

CL – Nos momentos oportunos quando isso se proporciona tentamos dar um sentido religioso. Por exemplo, quando vou à Missa e eles perguntam o que é, porque não sabem, explico por palavras simples.

Às vezes na Bíblia eles vão procurar e mostrar apenas a parte que lhes interessa, como passagens do Antigo Testamento. Digo-lhes para lerem o Novo Testamento, tentamos dar um sentido religioso ao nosso trabalho porque só assim se vai entendendo.

 

AE – O mundo vive a maior crise de refugiados desde a Segunda Guerra Mundial. Aqui no refeitório verificaram se o número de migrantes não documentados que procuram este serviço social aumentou?

CL – Sim, temos bastantes migrantes indocumentados. Os migrantes do fluxo migratório chegam aqui depois de passarem por instituições de acolhimento e ultrapassarem o limite de tempo de permanência, já um pouco integrados, com as suas dificuldades. Eles não têm como se 

 

 

 

 

alimentar, estão num quarto da Santa Casa da Misericórdia ou de outra instituição e vêm aqui fazer as refeições.

 

AE – Os migrantes e refugiados chegam a Portugal sonhos e ilusões que muitas vezes não se concretizam quando chegam à realidade. Como é que também os ajudam a lidar com essas frustrações originadas pelos sonhos que não se concretizaram ou podem demorar mais tempo a ser uma realidade?

CL – Isso é um bocado difícil porque eles sentem-se revoltados. Existem aqui casos de rapazes que são explorados, chegaram com o sonho de realizar a vida deles, ter um trabalho e arranjar documentos. Conclusão, vão trabalhar e depois os patrões ao fim do primeiro dia não pagam, dizem que não podem, mas mandam-nos ir no dia seguinte. No outro dia acontece a mesma situação e no dia seguinte eles vão outra vez trabalhar todo o dia nas obras e recebem 3€.

Digo-lhes que não adianta beber porque o patrão não lhes paga e peço o contacto da empresa onde trabalham para resolver essa situação. Revoltarem-se e beber por causa disto não adianta mas é uma fuga que têm

 
“Meninos, aqui somos todos filhos do mesmo Deus e, por isso, somos todos irmãos. Aqui têm de se tratar como irmãos”.

 

para esquecer. É por isso que muitos mantêm-se na rua por causa da exploração no trabalho.

Há muita exploração destes migrantes e pouca fiscalização, parece que pactuam com os empresários. É por isso que muitos empresários enriquecem e os pobres estão cada vez mais pobres.

 

AE – 2016 é o Ano Nacional de Combate ao Desperdício Alimentar. Em 2016, no século XXI devia ser preciso este ano para alertar que o desperdício que existe pode ser bom para outras pessoas?

CL – Devia existir uma civilização muito grande nas escolas, colégios, restauração, e, mesmo instituições do próprio Estado. Existe muito desperdício e seria muito proveitoso porque é alimentação boa, que é fresca naquele momento e ao outro dia ainda está em boas condições, desde que bem acondicionada. Devia existir fiscalização, e mesmo proibir a restauração de deitar comida fora.

 

 

 

  

   
 

 

 

AE – “O consumismo incentivou-nos ao hábito do desperdício. Mas a comida que se deita fora é como se fosse roubada aos pobres e aos famintos”, escreveu o Papa Francisco no Twitter, a 7 de junho de 2013. Não há consciência da sociedade que o desperdício alimentar pode ajudar a matar a fome a outras pessoas?

CL – Não existe essa consciencialização. Muitas vezes preferem mandar para o lixo para o lixo e que as pessoas vão lá busca-las. É uma forma desumana, acho que é provocar a baixeza do ser humano - porque um ser humano ter de ir ao caixote do lixo buscar a comida deve ser muito penalizador.

 

AE – A Igreja tem diversos serviços e apoios sociais e está a viver o Ano da Misericórdia. O que pode fazer mais a Igreja na área social e de alerta da sociedade durante este ano?

CL – A Igreja talvez já faça muito mas ainda pode fazer mais um pouco. Talvez estar mais atenta. Mesmo a nível das congregações, não ser apenas uma pessoa a ter esta preocupação, mas estar toda a congregação empenhada em apoiar os pobres, em ajudar os que mais precisam. Numa congregação, como a nossa, deve haver um empenho,um gosto em ajudar o outro, o amor, porque nós nascemos para servir os pobres. 

Nós (Irmãs de São Vicente de Paulo)

 

nascemos no século XVII com essa missão de ajudar os que viviam na rua e é isso que faço e sinto-me a fazer. Estou nas raízes da companhia porque foi realmente para esta finalidade que fomos criadas e aparecemos.

 

AE – A irmã Celeste Lopes referiu que o Refeitório Beata Rosália Rendu também recebe ajuda do vosso colégio, há pais de alunos que vos ajudam. Qual a importância de educar os jovens, e começar desde pequenos no colégio, para a solidariedade, para o não desperdício alimentar, por exemplo?

CL – Nesse campo está a melhor um pouco no nosso colégio e em todos. Tenho exemplos de colégios que ajudam, que apoiam este serviço. No nosso colégio houve uma semana da solidariedade no ano passado e existiu uma mudança, sentiu-se uma pequena mudança a nível do colégio, dos pais. Como diz o provérbio “água mole em pedra dura tanto bate até que fura”, então tanto se bate que as pessoas mentalizam-se e é preciso mentalizar as crianças. Educando as crianças para não desperdiçarem a comida, para não desperdiçarem nada porque muitas crianças têm tudo e pensam que os outros também têm tudo, não estão a educá-las.

Penso que está a haver uma pequena mudança nesse sentido e todo o trabalho é pouco.

 

 

No refeitório das Vicentinas
«há gente com respeito»

O Refeitório Beata Rosália Rendu ganha vida todos os dias, a partir das 10h00. Por baixo da igreja das Irmãs Vicentinas, na casa Provincial das Filhas da Caridade, Campo Grande, Lisboa, idiomas e religiões diferentes convivem através dos saberes de pessoas que são migrantes sem documentos ou refugiados que vivem na rua.

As instalações convertidas em refeitório, desde 2005, são o apoio de quem precisa de ajuda, e encontra aqui quem coloque em prática obras de misericórdia como dar alimento, dar de vestir e cuidados de higiene.

“Aqui há gente com respeito, dão comida, roupa, tomas banho”, explica Nicolai.

Quando chegou ao refeitório recebeu um casaco para chuva, ajudou a estender a roupa e a irmã Celeste Lopes ainda aplicou pensos rápidos nuns cortes que trazia nos dedos.

Ucraniano a viver há sete anos em Portugal, depois de ter estado “muito tempo em Espanha”, revela que “trabalhava a montar e desmontar palcos”.

“Durmo na calçada”, conta Nicolai,

 

recordando que ficou “sem documentos” e ilegal “não pode” trabalhar, por isso, atualmente vive na rua.

“Entregue à bicharada”, é desta forma que Cândido Monteiro diz que se encontra. Veio da Guiné Bissau, “há dois anos e sete meses, com um mapa de junta”, ou seja, para fazer um tratamento a uma “úlcera na perna esquerda”.

“Eu estava a viver na Fundação Ricardo Sanhá. Trouxe-me, responsabilizou-se por mim e depois correu comigo”, conta, revelando que hoje tem estatuto de “refugiado sem-abrigo”.

Depois, foi para o centro de acolhimento aos sem abrigo de Lisboa, agora vive na rua e tem estado a fazer tratamento no Centro de Saúde da Charneca, “três vezes por semana”.

Foi do Serviço Jesuíta aos Refugiados em Portugal que foi encaminhado para o refeitório das Filhas da Caridade.

“Não tenho nenhum apoio, nem da nossa embaixada, nem de mais nada. Este apoio é muito valioso, é muito

 

 

 

 

bom. Os refugiados não temos apoio de ninguém”, concluiu Cândido Monteiro.

Dumitru era professor de Educação Física na Roménia mas veio para Portugal onde vive há 22 anos clandestinamente, desde 02 de outubro de 1992.

“Não pude trabalhar na minha profissão porque não tinha documentos”, explica à Agência ECCLESIA.

Desde que chegou a Portugal conta que trabalhou na construção civil “durante muitos anos” ajudou a construir o Centro Comercial Colombo, a Expo 1998 e a Gare do Oriente, e passou também pelo metropolitano, o aeroporto e em muitas outras empresas.

Em 2011, Dumitru teve um acidente de trabalho e em 2013 a esposa faleceu, altura em que o “senhorio colocou fora de casa” e foi viver para rua, hoje é ocupa.

Com 170€ por mês e com medicamento para comprar não pode fazer “mais nada”.

“Não posso viver”, acrescenta, por isso procura ajuda no Refeitório Beata Rosália Rendu, das Vicentinas, há cerca de um mês.

 
 
 
 

“Hoje digo muito obrigado a Jesus por estar aqui a almoçar. Ajudam na higiene, ajudam na roupa”, observa Dumitru, que revela ainda que tem um amigo que “não” pode abandonar porque acompanha-o “há muito tempo”, o pastor alemão “boby”.

 

 

Combater o desperdício alimentar
Promover uma gestão eficiente dos alimentos

A Assembleia da República resolve, nos termos do n.º 5 do artigo 166.º da Constituição, declarar o ano de 2016 como o ano nacional do combate ao desperdício alimentar e recomendar ao Governo:

1- O desenvolvimento de um conjunto de iniciativas no âmbito do ano nacional do combate ao desperdício alimentar.

2- Promover levantamentos rigorosos, e continuadamente atualizados, sobre a realidade do desperdício alimentar em Portugal, que indiquem, designadamente, as causas que contribuem para as perdas alimentares, ao longo de toda a cadeia alimentar.

3- Criar um programa de ação nacional que fixe objetivos e metas, anuais e plurianuais, para a redução do desperdício alimentar, e que seja construído num processo de participação ativa e colaborativa da sociedade.

4- Compatibilizar os objetivos e as medidas de redução do desperdício de alimentos com a segurança 

 

alimentar e a satisfação plena das necessidades alimentares da população, com particular urgência em relação a crianças e jovens, tendo em conta o relatório do INE sobre a pobreza, as desigualdades e a privação material em Portugal.

5- Desenvolver uma campanha de sensibilização de agentes económicos e de consumidores para o problema do desperdício alimentar.

6- Divulgar, anualmente, o cálculo da quantidade de recursos naturais poupados por relação com os níveis de redução de perdas alimentares, por forma a estimular todos os intervenientes na cadeia alimentar para o sucesso ambiental das suas opções.

7- Integrar nos programas escolares, no âmbito da educação ambiental ou da educação para a sustentabilidade, a matéria da gestão eficiente dos alimentos e do combate ao desperdício alimentar.

8- Desenvolver programas de ideias dos jovens para o combate ao desperdício alimentar.

 

 

 

9- Criar um subprograma no âmbito do Programa de Desenvolvimento Rural (PDR 2020) direcionado para cadeias de circuitos curtos de comercialização de produtos alimentares.

10- Incentivar os atos de compra de bens alimentares em mercados de proximidade, nomeadamente no que respeita a produtos perecíveis.

11- Estipular uma percentagem significativa de utilização de produtos alimentares locais, por parte das instituições públicas, designadamente para abastecimento de cantinas públicas (em estabelecimentos de ensino, hospitais, estabelecimentos prisionais, etc).

 

12- Generalizar o conhecimento dos consumidores sobre a diferença entre “consumir antes de” ou data limite de consumo e “consumir de preferência até” ou data preferencial de consumo.

13- Garantir que as embalagens de produtos alimentares são dimensionadas em função das necessidades dos consumidores.

14- Incentivar o combate ao desperdício alimentar no setor da restauração.

15- Desenvolver ações ao nível da União Europeia sobre a ineficácia de regras estabelecidas sobre os requisitos de dimensões e formas de frutos e produtos hortícolas.

 

 

 

Milhões de crianças que morrem de fome

Ouvimos a voz de Jacob que – tendo ouvido dizer que havia trigo à venda no Egipto – diz aos seus filhos: «Ide lá comprá-lo, para nós continuarmos vivos e não morrermos» (Gn 42, 2). É a voz daqueles que fogem da miséria extrema, sem possibilidades de alimentar a família ou ter acesso aos cuidados médicos e à instrução, fogem da degradação sem perspetivas de qualquer progresso ou mesmo por causa das alterações climáticas e de condições climáticas extremas. Sabe-se que, infelizmente, a fome é ainda uma das chagas mais graves do nosso mundo, com milhões de crianças que morrem anualmente por causa dela. É triste, porém, constatar que muitas vezes estes migrantes não se enquadram nos sistemas de proteção baseados nos acordos internacionais.

 

Como é possível não ver, em tudo isto, o resultado daquela «cultura do descarte» que põe em perigo a pessoa humana, sacrificando homens e mulheres aos ídolos do lucro e do consumo? É grave habituar-se a estas situações de pobreza e necessidade, aos dramas de tantas pessoas, fazendo com que se tornem «normalidade». As pessoas já não

 

são vistas como um valor primário a respeitar e tutelar, especialmente se são pobres ou deficientes, se «ainda não servem» (como os nascituros) ou «já não servem» (como os idosos). Tornamo-nos insensíveis a qualquer forma de desperdício, a começar pelo alimentar, que aparece entre os mais deploráveis, vistas as inúmeras pessoas e famílias que padecem fome e subalimentação.

 

A Santa Sé espera que a I Cimeira Humanitária Mundial, convocada pelas Nações Unidas para o próximo mês de Maio, possa ter sucesso, no atual quadro sombrio de conflitos e desastres, na sua pretensão de colocar a pessoa humana e a sua dignidade no coração de cada resposta humanitária. É preciso um compromisso comum que inverta decididamente a cultura do descarte e da violação da vida humana, para que ninguém se sinta negligenciado ou esquecido nem sejam sacrificadas mais vidas pela falta de recursos e sobretudo de vontade política.

 

Infelizmente, hoje como então, ouvimos a voz de Judá sugerir que se venda o próprio irmão

 

 

 

(cf. Gn 37, 26-27). É a arrogância dos poderosos que instrumentalizam os fracos, reduzindo-os a objetos para fins egoístas ou por cálculos estratégicos e políticos.

 

Papa Francisco,

Vaticano, 11 de janeiro

de 2016

 

 

 

 

“Os Alimentos são uma arma!
Não os desperdicem”

Durante a II Guerra Mundial, nos Estados Unidos da América, a máquina de propaganda inundou os lares e cozinhas com inúmeros cartazes que apelavam à luta contra o desperdício alimentar, considerando que os “alimentos são uma arma”. E são! Com efeito, todos quantos já participámos em ações de ajuda alimentar em cenário de guerra, ou como simples espetadores atentos do atual conflito na Síria, sabemos que os alimentos são frequentemente uma arma de pressão. Já era assim nas praças-fortes sitiadas na Idade Média.

Hoje, em países como Portugal, tendemos a esquecer-nos destas duras realidades, como pertencendo ao passado, ou a um presente geograficamente distante. Porém, no nosso país, há uma guerra da alimentação. É silenciosa, mas existe e mata. Mata a malnutrição, através das doenças associadas aos maus hábitos alimentares; mata muita da nossa pequena agricultura familiar – fonte de segurança económica em períodos de crise e austeridade – fruto da luta desigual das forças de mercado, onde 

 
as superpotências são as grandes cadeias de distribuição.
Para diminuir o desperdício alimentar, não basta praticar uma solidariedade pouco esclarecida, ainda que muitas vezes, extremamente útil. Por outras palavras, lutar contra o desperdício alimentar, de forma eficaz, não se pode limitar a participar nas campanhas de recolhas de alimentos, no reaproveitamento das sobras dos restaurantes, ou num mais eficiente aproveitamento dos alimentos que compramos e confecionamos em nossas casas. É necessário travar o combate em todas as fases de aprovisionamento da cadeia alimentar; começando no aproveitamento do potencial produtivo, passando pela maximização da utilidade social da produção (criação de emprego, fixação de pessoas em regiões de baixa densidade) e pela alteração da infraestrutura física e social do comércio e distribuição (preços justos para os produtores, organização de mercados físicos e eletrónicos de proximidade, articulação dos espaços rurais e urbanos, ligação direta entre 
 

 

 

 

consumidores e produtores, regulação dos mercados de modo a apoiar a compra direta aos produtores locais da restauração coletiva que é paga pelos contribuintes, incluindo as refeições escolares, das cantinas sociais e de muitas valências das Instituições Particulares de Solidariedade Social. É nesta luta que a Oikos participa, quer ao nível da proposta de políticas públicas, que tem vindo a desenhar no âmbito do projeto «Integrar para Alimentar», em parceria com a Direção Geral de Saúde e o Instituto Superior de Agronomia, quer ao nível da criação de soluções técnicas e operacionais para a criação de mercado mais justas.

Chegados aqui, muitos leitores perguntar-se-ão: “mas, que tem a ver com o desperdício alimentar?” A resposta é dada pelas evidências. Os dados de um estudo académico no âmbito do PERDA – Projeto de Estudo e Reflexão sobre o Desperdício Alimentar em Portugal, publicado em 2012, estimam que são perdidas e desperdiçadas anualmente, no nosso país, mais de 1000 toneladas de alimentos.  

 

 

 

Destas, 332 mil são perdidas na produção, 77 mil no processamento industrial, 298 mil na distribuição e 324 mil no consumidor final. Assim, não podemos ignorar as  perdas na agricultura e na cadeia de aprovisionamento, antes de chegar ao consumidor final. Com efeito, representam cerca de dois terços do total.

 

João José Fernandes

Presidente do Conselho Diretivo da Oikos – Cooperação e Desenvolvimento

Coordenador Nacional do Projeto «Integrar para Alimentar», financiado pelo EEA Grants e Programa Cidadania Ativa da Fundação Calouste Gulbenkian.

As opiniões aqui expressas são da responsabilidade do autor.

 

 

Desperdício Alimentar
- uma realidade que podemos alterar

Dados recentes da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) revelam que um terço dos alimentos produzidos no mundo perde-se ou é desperdiçado durante os processos de produção e venda.  Ao mesmo tempo, entre 2005 e 2009, o número de pessoas que sofre de fome ultrapassa os 850 milhões. A par destes números, as Nações Unidas dão conta que 1,3 mil milhões de toneladas de alimentos são desperdiçadas todos os anos. Na Europa, América do Norte e Oceânia o desperdício per capita de alimento varia de 95Kg a 115Kg por ano, enquanto na África Subsaariana e Sudeste Asiático são deitados fora entre 6 e 11Kg anualmente. A mesma fonte revela que nas regiões industrializadas, quase metade da comida rejeitada, cerca de 300 toneladas por ano, ainda está própria para o consumo e que essa quantidade é equivalente a toda a produção de alimentos da África Subsaariana e suficiente para alimentar 870 milhões de pessoas. Sabe-se também que o número de pessoas com fome pode ser 

 

fortemente reduzido se os cidadãos, sobretudo os que vivem nos países considerados desenvolvidos, alterarem de forma profunda o modo como compram e consomem comida. Por outro lado, nos países em desenvolvimento, grande parte dos alimentos são desperdiçados devido a colheitas prematuras, devido à escassez de alimentos e à grande necessidade de dinheiro, sobretudo na segunda metade da época agrícola. Sabe-se que o desperdício pode ser fortemente reduzido se se organizar os pequenos agricultores em grupos, no sentido de diversificar a produção e a comercialização .

Através da Campanha de Sensibilização "Semear Portugal, Semear Angola", a FEC tem vindo a contribuir para consciencializar a sociedade civil portuguesa e angolana no sentido das alterações que cada um pode fazer nas suas rotinas diárias, em benefício do bem comum e do combate ao desperdício.

Por sua vez, o projeto aTerra (promovido pela FEC em parceria com a Associação Casa Velha) tem dinamizado Oficinas 

 

 

 

temáticas (da produção ao consumo) em escolas do Concelho de Ourém, sendo o Desperdício Alimentar um dos temas explorados. Em resultado destas Oficinas, o Clube aTerra (do Colégio Sagrado Coração de Maria em Fátima) lançou mãos à obra: os participantes juntaram cascas de laranja e limão que, provavelmente, seriam descartadas; lavaram-nas e cortaram-nas em finas tiras, que adicionaram a sal grosso; por fim, o sal, assim aromatizado, foi distribuído por várias saquetas, que foram distribuídas pelos participantes do seminário nacional aTerra, realizado no dia 23 de janeiro de 2015,  

 

e em vários eventos no Colégio. Já os alunos do 10º A da Escola Básica e Secundária de Ourém realizaram um pequeno filme de sensibilização “O Desperdício Alimentar. Tomaram também a iniciativa de incentivar os colegas na cantina a só se servirem do que de facto julgam consumir. Com pequenos passos como estes, podemos efetivamente alterar esta realidade de desperdício inaceitável.

 

Para mais informações: margarida.alvim@fecongd.org | www.projetoaterra.org | www.semear.org

 

Alimentação para Todos

A Cáritas Internacional acredita que é um escândalo que hoje em dia cerca de mil milhões de pessoas passem fome num mundo em que existem recursos para alimentar todos. Lançada em dezembro de 2013, a campanha ‘Uma só família humana, alimentos para todos’ foi a primeira campanha mundial da confederação da Cáritas.

As metas desta campanha foram:

- Consciencializar sobre a crise da fome

- Analisar de que forma é que os programas da Cáritas estão a ajudar as famílias para que se possam alimentar

- Estimular as pessoas a aprender mais sobre o problema da fome e as formas de o resolver

- Pedir aos governos internacionais que garantam o direito de todas as pessoas à alimentação

- Acabar com a fome sistémica até 2025

 

Diálogo com os Governos

Mediante a incidência política e o impulso de uma campanha mundial, o pessoal da Cáritas em todo o mundo foi capaz de fazer pressão sobre os seus líderes em relação às leis 

 

alimentares que prejudicam os pobres e marginalizados. Isto inclui a pressão sobre líderes de governo para que pensem nos pobres na hora de redigir novas leis sobre alimentação e agricultura, promover o direito das mulheres a ter propriedade da terra e pressionar os líderes políticos para 

 

 

 

 

 

 

que reconheçam o acesso aos alimentos como um direito humano essencial.

 

Partilha

 

Os membros da Cáritas trabalharam com os agricultores durante muitas décadas, dando-lhes poder para que as suas terras sejam suficientemente produtivas para abastecer as suas famílias. A campanha animou e aumentou a troca de informação especializada e as iniciativas sobre o que funciona melhor para ajudar as famílias com dificuldades. A campanha também prestou homenagem ao incrível trabalho que pessoas de várias partes do mundo realizaram para alimentar as suas famílias e comunidades, reconhecendo especialmente o importante papel que as mulheres desempenham na segurança alimentar, através do prémio ‘Mulheres, cultivadoras do desenvolvimento’.

 

 
 
Consciencialização

Começando com uma onda global de oração para lançar a campanha, os membros da Cáritas organizaram incontáveis eventos comunitários e atividades para a campanha. O objetivo destas iniciativas foi trazer para a luz do dia o problema da fome, rezar em solidariedade para combater esta crise. Diversos membros da Cáritas elaboraram valiosos recursos educativos sobre a alimentação e a fome, destinados a famílias, estudantes e grupos comunitários.

 

 

Como parte da campanha, os membros da Cáritas das várias partes do mundo requereram uma sessão especial sobre o direito à alimentação na próxima Assembleia Geral das Nações Unidas, que vai ter lugar em 2016, a fim de dar seguimento ao primeiro novo Objetivo do Desenvolvimento Sustentável, que diz respeito ao fim da fome e à obtenção da segurança alimentar.

Saber mais: http://food.caritas.org/

 

 

 

 

Zero Desperdício, milhões de refeições

Colocar “comida boa” no lixo sempre fez “muita confusão” a António Costa Pereira, presidente da Associação DariAcordar, que criou o Movimento «Zero Desperdício». Ao visualizar estas situações resolveu escrever, em janeiro de 2008, ao presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, a manifestar a sua indignação em relação às sobras dos restaurantes e dos hotéis.

Para além da carta a Aníbal Cavaco Silva, o promotor do Movimento «Zero Desperdício» escreveu a deputados e não teve “grandes respostas” e defendendo-se que era uma “questão da lei e uma norma da União Europeia”, disse à Agência ECCLESIA:

A sua persistência levou-o a lançar, posteriormente, uma petição online onde pedia “que a lei fosse alterada ou reinterpretada”. Essa luta constante fez com que tivesse uma reunião na ASAE e chegou à conclusão que “a lei estava a ser mal interpretada”, frisou o promotor da iniciativa.

O primeiro passo para a abertura de “um caminho legal”. Com a ajuda de outros cidadãos preocupados com o desperdício alimentar foi criada a Associação «DariAcordar». Depois 

 

do trabalho legal com a ASAE, desde 2012, que têm “doadores” que vão desde cadeias de supermercados a hotéis, do refeitório da Assembleia da República ao Banco de Portugal.

Dentro do conceito de não desperdiçar o que existe, a associação contactou várias câmaras municipais para que indicasse instituições (Centro Social, Misericórdias ou IPSS) “para ir buscar esses alimentos ao centro comercial do seu bairro ou freguesia”, sublinhou António Costa Pereira.

Um “grande” trabalho de equipa que resultou na criação do movimento «Zero Desperdício». Ao fim de um ano de labor, já tinham acordos com quatro municípios (Loures, Cascais, Lisboa e Sintra).

 

 

Desde 2012, esta associação já recuperou “quase dois milhões e quatrocentas refeições” que “antigamente iam para o lixo”, realçou o promotor. Estas refeições são doadas às pessoas que “as instituições no terreno” indicam. “Elas é que definem para quem vão as refeições”.

Este processo “não envolve dinheiro” porque é feito na “base das energias e sinergias”. Desde 2014, e no sentido de “fazer crescer ainda mais este movimento”, o grupo tem tido o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian.

 
O movimento tem “crescido bastante” e, atualmente, está localizado em dez municípios portugueses, mas com tendência para alargar os horizontes. Com a legalização, as operações “ficam seguras” e “às claras, como tudo na vida”, disse.

Um trabalho social, visto que estas refeições vão ajudar “inúmeras pessoas”. Através destas iniciativas foram recuperados cerca de “seis milhões de euros”. É como que evitar que este dinheiro “fosse queimado”, concluiu.

 

O melhor da internet em 2015

 

http://www.webbyawards.com

 

No início de mais um ano e tendo em conta que esta rúbrica se dedica essencialmente à apresentação de sítios na internet, esta semana proponho um olhar ao que de melhor se produziu em 2015 na grande rede mundial. Para tal, vamos olhar para “óscares da internet”, os “webby awards”, que são os prémios anuais entregues pela Academia Internacional de Arte Digital e Ciência sobre o que de melhor se produz para a internet (sítios da internet, publicidade interativa, vídeos online e conteúdos para dispositivos móveis). Naturalmente que neste espaço iremos somente olhar para algumas categorias relativas aos melhores sítios da internet do ano passado.

 

Ativismo: http://www.lastdaysofivory.com/ - sítio dedicado ao projeto de defesa dos elefantes selvagens tendo como suporte o filme “last days”;

 

Arte: http://illusion.scene360.com/ - espaço da revista de artes mundialmente conhecida “Illusion”, dedicada a grafite, ilustração, tatuagem, design e cinema;

 

Associações: http://www.visitcalifornia.com/ - página de promoção turística da Califórnia;

 

Celebridades / Fans: http://chrishadfield.ca/ - sítio do Chris Hadfield, primeiro canadiano que caminhou no espaço;

 

Organizações não lucrativas: https://morethanacostume.com/ - da responsabilidade dos médicos do mundo este espaço é dedicado ao combate do vírus ébola;

 

Religião e espiritualidade: http://www.onbeing.org/ - sítio da rádio on being onde são abordadas temáticas relacionadas com a vida humana;

 

 

 
 

 

 

 


 

Educação: http://www.cfr.org/ - espaço do Conselho de Relações Exteriores (CFR) que é uma organização independente dedicada ao estudo do mundo complexo;

 

Juventude: https://www.dosomething.org/ - é uma das maiores organizações globais para os jovens com campanhas de combate à pobreza, violência e proteção ambiental;

 

Família: https://www.understood.org/ - quinze organizações sem fins lucrativos uniram forças para apoiar os pais de crianças com problemas de aprendizagem e défice de atenção;

 

Melhor sítio ao nível da navegação: http://genelab.nasa.gov/ - sítio do GeneLab onde se realizam as pesquisas que exploram as fronteiras do conhecimento na Terra;

 

Melhor sítio ao nível da animação: http://alfredservice.com/ - espaço online da empresa alfred;

 

Somente a título de curiosidade, sabe quais foram os termos mais pesquisados no Google em Portugal no ano de 2015? desafio final 3 (geral), Maria Zamora (figuras públicas), como ser feliz (como ser), Taylor Swift (figuras públicas internacionais), Cristiano Ronaldo (jogadores de futebol), o amor (o que é).

 

Fernando Cassola Marques

fernandocassola@gmail.com

 

 

 

 

Nem só de pão vive o homem

A PAULUS Editora apresenta o livro Quando Ele nos abre as Escrituras Domingo após Domingo. Esta obra, da autoria de D. António Couto, oferece uma viagem e uma visita guiada pelos textos bíblicos dos domingos, solenidades e festas ao longo do Ano C, muito à semelhança dos dois livros anteriores, que contemplavam os itinerários litúrgicos dos Anos A e B.

D. António Couto é biblista e bispo de Lamego, e as suas reflexões sobre os textos litúrgicos são um excelente roteiro para os fiéis acompanharem a liturgia anual e também para auxiliar os sacerdotes na preparação das suas homilias dominicais.

O livro está dividido em oito partes que facilitam a sua consulta e leitura: Tempo do Advento; Tempo do Natal; Tempo da Quaresma; Semana Santa, Semana Grande, Semana Autêntica; Páscoa de Cristo,

Tempo da Páscoa, Tempo Comum, Solenidades e Festas.

Com o estilo com que já nos habituou, D. António Couto parte da substância bíblica e litúrgica e tem

tempero teológico, literário, simbólico, cultural, histórico, arqueológico. «Fui-o escrevendo 

 

 

com gosto, pensando em todos aqueles que gostam de saborear os textos bíblicos que a Liturgia nos oferece. Pensei sobretudo naqueles que, domingo após domingo, têm a responsabilidade de abrir as Escrituras à compreensão dos homens e mulheres, jovens e crianças, que, domingo após domingo, entram nas nossas igrejas.»

O Evangelho deste Ano C é, como é sabido, o de Lucas, ainda que com interferências do Evangelho de João e uma apenas de Mateus (Domingo da Epifania). A escrita de Lucas apresenta um carácter particularmente plástico e pictórico, deixando-nos, nos seus textos, figuras inesquecíveis, como são vários retratos de Maria (Anunciação, Visitação, Magnificat…), Zacarias

 

 

 

 

 

 

 

 e Isabel, os pastores, Simeão e Ana, o bom samaritano, Marta e Maria, a parábola da misericórdia (Lc 15), o homem rico e o pobre Lázaro (Lc 16,19-31), o juiz iníquo e a viúva importuna (Lc 18,1-8), a oração do fariseu e do publicano (Lc 18,9-14), Zaqueu (Lc 19,1-10), os dois discípulos de Emaús (Lc 24,13-35).

«Desejo ao leitor bom apetite», diz D. António Couto no fim da introdução deste livro, pois «já se sabe que nem só de pão vive o homem.»

Quando Ele nos abre as escrituras Domingo após Domingo está disponível em todas as livrarias e em www.paulus.pt.

 

 


Ficha Técnica 
Título: Quando Ele nos abre as escrituras domingo após domingo 
Autor: António Couto 
Coleção: Espiritualidade 
Secção: Homilias 
Formato: 15 cm x 22 cm 
Páginas: 464 
Editora: Paulus Editora 
ISBN: 9789723018967

preço: 21,00 €

 

Twitter: vamos a votos?

Desenganem-se os que pensaram pelo título do artigo que iria fazer apologética às eleições presidenciais do próximo dia 24 de janeiro. Não, desenganem-se. O twitter lançou uma nova forma de interação com os seus seguidores: permite criar questionários/sondagens. 

 

A rede social Twitter continua a estudar se deve ou não manter os 140 caracteres que a caracterizam. Falam-

 

 

se em novos limites: 10 mil caracteres. Modesta opinião: vai deixar de ser o Twitter. Passaremos a ter, ainda que com o mesmo nome, outra coisa diferente. O Twitter é a rede que pretende que respondamos ao “que? estás a acontecer?”? Isto é, é uma rede de informação, de partilha, de anúncio, de comunicação, de notícias, de boas novas, onde também cabe a Boa Nova.

Os questionários/sondagens (polls), 

 

 

 

já presentes nos grupos do Facebook como sondagem, pretendem ser uma nova forma de interação no Twitter. O objetivo é promover uma maior interação entre os utilizadores e contribuir para a discussão alargada de vários assuntos, problemas.  

 

Esta nova função, chamada de Polls em inglês, permite aos utilizadores criarem votações ou inquéritos. Já se encontra disponível para todos os utilizadores, incluindo na versão desktop.

 

Pode-se ler no blogue? oficial do Twitter que “para? os criadores das enquetes (polls), é uma nova maneira de se envolver com o enorme público do Twitter e entender exatamente o que as pessoas estão dizendo. Para 

 

 

quem participa, é uma maneira muito fácil de fazer com que sua voz seja ouvida?”.

 
A ferramenta tem as suas limitações: o utilizador apenas pode definir duas respostas, mais duas opcionais. As votações do Twitter ficam disponíveis para participação durante 24 horas e as participações dos utilizadores serão sempre privadas, isto é, nem o próprio criador da votação saberá quais dos seus seguidores participou naquele inquérito.
 
Como fazer? Veja o vídeo.
 
 
Mais uma forma de criarmos interação com os seguidores das nossas contas no Twitter.

Boas sondagens. 

 

Bento Oliveira |@iMissio

http://www.imissio.net

 

 

II Concílio do Vaticano:
Cartas de Roma do cardeal Cerejeira (II)

 

 

Durante a IV sessão do II Concílio do Vaticano, o cardeal Manuel Gonçalves Cerejeira escreveu uma dezena de cartas aos diocesanos de Lisboa onde a tónica dominante era a presença da Igreja no mundo contemporâneo. A sua leitura sistemática permite verificar que em quase todas elas, ou se retomam os mesmos pensamentos ou se dão elementos que permitem tornar mais explícito o que foi dito nas anteriores.

Na nona carta dedicada ao tema «Igreja e Estado», este padre conciliar escreve que é “da maior importância”, na sociedade pluralista, ciosa da autonomia do temporal e da maioridade dos cristãos, que “se tenha o justo respeito da relação entre a comunidade política e a Igreja”.

É um princípio conciliar bem assente que “a Igreja, em razão da sua missão e competência, não se confunde nem se enfeuda a nenhum sistema político”. Cada uma, no seu próprio campo, “é independente e autónoma” em relação à outra. Ambas servem, embora por título diverso, “a vocação pessoal e social dos homens”, lê-se na obra «Cartas de Roma» da autoria de Manuel Gonçalves Cerejeira e editada pela «União Gráfica».

Segundo o cardeal Cerejeira – na página 88 da referida obra – tem sido difícil, desde há mais dum século, entrar isto na consciência pública. “Sempre têm acusado, entre nós, a Igreja de comprometida com o Estado, os que a desejariam associada na luta política”. Numa pastoral do episcopado português de 16 de Janeiro de 1959, lê-se que “aquela acusação (assim como a de não interpor a sua autoridade espiritual a favor do Estado) resulta

 

 


 

duma confusão: confunde-se a missão própria da Igreja, situada no domínio religioso e moral, com uma missão política de tutela sobre o Estado ou de subordinação ao Estado, qualquer das quais é contra a natureza da Igreja. Num caso e noutro, politiza-se a Igreja e sacraliza-se o temporal”.

Aos padres, Manuel Gonçalves Cerejeira aconselha os padres a ouvirem, conhecerem, compreenderem e sentirem o mundo onde estão inseridos “sem se enfeudarem a ele”. Deverá fazer 

 

“figura de não conformista”, “denunciando o pecado, recusando-se a tudo o que seja contra o espírito ou a liberdade da sua missão”.

«A obra do Espírito no Concílio»; «A liberdade religiosa»; «A Igreja no mundo de hoje»; «O padre no mundo de hoje»; «Apostolado dos leigos»; «A esperança cristã», «A liberdade cristã», «Da missão pastoral dos bispos», «A Igreja e o Estado» e «Sob a invocação da Virgem» são os títulos das cartas escritas pelo cardeal Cerejeira, aos diocesanos de Lisboa. 

 

 

janeiro 2016 

15 de janeiro

. Fátima - Centro Paulo VI, 09h00 - Celebração do Dia da CNIS com um encontro em torno do «Desenvolvimento do Estado Social».

 

. Fátima, 15h00 - Reunião da Comissão Episcopal do Laicado e da Família

 

. Lisboa - Armazém do Banco Alimentar, 17h00 - D. Manuel Clemente celebra no Banco Alimentar Contra a Fome

 

. Coimbra - Auditório do Conservatório de Música de Coimbra, 21h15 - O núcleo de Escolas Católicas da Diocese de Coimbra promove um sarau solidário a favor do Centro Social e Paroquial da Pedrulha.

 

. Lisboa - Igreja do Coração de Jesus, 21h30 - Vigília de Oração pela Paz com o tema «Vence a indiferença, conquista a paz» promovida pela Fundação Betânia

 

16 de janeiro

. Fátima - Seminário do Verbo Divino - Jornadas Nacionais da Pastoral Familiar com o tema «A vocação e a missão da família» (16 e 17 de janeiro)

 

Fátima - Museu de Arte Sacra e Etnologia - Exposição «A seara dos na casa das sementes» sobre a vida e obra da venerável madre Maria Isabel da Santíssima Trindade. (até 28 de fevereiro)

 

Lisboa - Linhó (Casa das Irmãs Doroteias) -Encontro sobre «Escutar para Viver - As Obras de Misericórdia» pelo Frei Luís de Oliveira e promovida pela Escola de Oração de São José.

 

Braga - Biblioteca Lúcio Craveiro -Sessão de história sobre «Os jesuítas na cidade de Braga»

 

Guarda – Seminário, 10h00 -  Encontro do bispo da Guarda, D. Manuel Felício, com os professores de EMRC.

 

Lisboa – Algueirão, 21h00 - Encontro ecuménico em Algueirão com a presença de D. Joaquim Mendes, bispo auxiliar de Lisboa

 

17 de janeiro

Itália – Roma - Papa Francisco visita a Sinagoga de Roma

 

Santa Sé - Jubileu do Migrante e do Refugiado

 

 

 

 

 

Vaticano - Basílica de São Pedro - O Papa Francisco e milhares de migrantes atravessam a Porta Santa da Basílica de São Pedro

 

Setúbal - Celebração do Jubileu dos Consagrados

 

Viana do Castelo - Caminha (Paróquia de Venade) - Bênção dos animais na festa de Santo Antão

 

Fátima - Peregrinação nacional do Movimento de Espiritualidade da Sagrada Família com o tema «Com Maria, Mãe na Sagrada Família, a Família será Santuário de Misericórdia»

 

Beja - Diocese de Beja recebe a Cruz das Jornadas da Juventude (termina a 23 de janeiro)

 

Algarve - Loulé (Santuário de Nossa Senhora da Piedade), 09h00 - Bênção dos ciclistas seguida de passeio de cicloturismo entre Loulé e São Brás de Alportel

 

Bragança – Balsamão, 11h00 - Abertura da porta santa do Santuário de Nossa Senhora de Balsamão

 

Lisboa - Escola Superior de Enfermagem de São Vicente de Paulo, 15h00 - Encontro sobre «Profetas da Misericórdia na Sociedade hoje» por António Campelo Amaral e promovido pelo Secretariado Regional de Lisboa da CIRP.

 

Setúbal - Cúria Diocesana, 15h00 - Encontro do bispo de Setúbal, D. José Ornelas, com as direções dos centros sociais paroquiais.

 

Braga - Faculdade de Teologia (Auditório São Tomás de Aquino), 18h30 - Concerto de Ano Novo

 

18 de janeiro

.  Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos (termina a 25 de janeiro)

 

Lamego - Casa de São José - Jornadas de formação do clero sobre o plano pastoral em curso com conferências de D. António Couto (bispo de Lamego) e do padre Carlos Carneiro (sacerdote jesuíta). (18 e 19 de janeiro)

 

Algarve – Faro - Conselho Presbiteral da Diocese do Algarve

 

 

 

 

 

- A Biblioteca Municipal de Ponte de Lima, em Viana do Castelo, vai revisitar entre 25 de janeiro e 29 de fevereiro a vida e obra de Virgílio Ferreira, por ocasião do primeiro centenário do seu nascimento. Mais de uma dezena de painéis dão conta do legado do escritor português, autor de títulos como “Aparição”, “Manhã Submersa” e “Em nome da Terra”.

 

- Museu de Arte Sacra e Etnologia, dos Missionários da Consolata em Fátima acolhe entre 16 de janeiro e 28 de fevereiro, de terça a domingo entre as 10h00 e as 17h00, a exposição temporária “A Seara dos Pobres na Casa das Sementes”, uma mostra inspirada na vida e obra da Madre Maria Isabel da Santíssima Trindade, fundadora das Irmãs Concepcionistas ao Serviço dos Pobres, e que coincide com o final do Ano da Vida Consagrada.

 

- A Igreja de São Vicente de Fora, em Lisboa, vai acolher dia 22 de janeiro, às 21h30, um Concerto de Ano Novo com o organista João Vaz, as vozes da Capella Patriarchal e a música de João Rodrigues Esteves (1700 – 1751). Iniciativa que servirá também para assinalar o início das celebrações dos 300 anos da elevação da Diocese de Lisboa à categoria de Patriarcado.

 

- O reitor da Universidade do Algarve, António Branco, vai dar no dia 22 de janeiro uma conferência sobre a encíclica do Papa, “Laudato Si”, uma iniciativa no auditório da Escola Secundária João de Deus, em Faro, a partir das 21h00, e que procurará dar um olhar académico sobre o texto que Francisco dedicou à temática da Ecologia 

 

 

 

 

 

 

 

 

Programação religiosa nos media

Antena 1, 8h00

RTP1, 10h00

Transmissão da missa dominical

 

11h00 - Transmissão missa

 

12h15 - Oitavo Dia

 

Domingo: 10h00 - O Dia do Senhor; 11h00 - Eucaristia; 23h30 - Ventos e Marés; segunda a sexta-feira: 6h57 - Sementes de reflexão; 7h55 - Oração da Manhã;  12h00 - Angelus; 18h30 - Terço; 23h57-Meditando; sábado: 23h30 - Terra Prometida.

 
RTP2, 13h30

Domingo, 17 de janeiro - Alerta Refugiados

 

 

RTP2, 15h30

Segunda-feira, dia 18 - Entrevista sobre O oitavário de Oração pela Unidade dos Cristãos

 

 

Terça-feira, dia 19 - Informação e entrevista sobre o Jubileu da Misericórdia 

 

Quarta-feira, dia 20 - Informação e entrevista Curso "O Mundo da Bíblia"

 

Quinta-feira, dia 21 - Informação e entrevista 

 

 

Sexta-feira, dia 22 - Entrevista de análise à liturgia de domingo com o padre João Lourenço e Juan Ambrosio

 

Antena 1

Domingo, dia 17 de janeiro - 06h00 - A ajuda portuguesa aos refugiados

 

 

Segunda a sexta-feira, 18 a 22 de janeiro - 22h45 - Experiências de Ecumenismo: Apresentaçao do oitavário de oraçao, com João Luis Fontes; experiência do produtor da RTP, Diogo Peres; O casal ecuménico Dina e Alberto; a experiência de Félix Lungu e o ecumenismo na Comunidade Vida e Paz, com o diácono Horácio Félix.

 

  

 

 

     

 

 

 

 

 

 

Ano C – 2.º Domingo do Tempo Comum

 
 
 
 
 
 
 
Sermos a alegria de Deus
 

A liturgia deste segundo domingo do tempo comum tem a marca do amor de Deus por nós.

A primeira leitura de Isaías define o amor de Deus como um amor eterno, que continuamente nos renova e transforma. Nesse amor nunca desmentido, reside a alegria de Deus.

A segunda leitura fala dos carismas ou dons como sinais do amor de Deus destinados ao bem de todos.

No contexto de um casamento em Caná, o Evangelho apresenta um sinal, ou milagre, que aponta para o essencial do programa de Jesus: apresentar-nos o Pai que nos ama e que com o seu amor nos convoca para a alegria e a felicidade plenas.

Tudo isto são coisas bem sabidas por nós, ou que julgamos saber. Mas será que assumimos e acolhemos com todo o nosso ser o que a Palavra de Deus nos dá hoje? Estamos num campo decisivo da nossa vida humana, que pela fé nos compromete a seguir Cristo, a grande revelação do amor de Deus. Uma vida que só pode ser levada na alegria.

O Papa Francisco não se cansa de dizer que a alegria, que é do Evangelho, faz parte constitutiva da identidade cristã. Já Bento XVI falava da alegria com um dos cinco elementos essenciais da vida cristã. Por outras palavras, se não vivermos o amor de Deus na alegria, não somos cristãos autênticos. Aliás, o amor, mesmo quando transporta sinais de sofrimento, só pode provocar e ser alegria.

«Sermos a alegria de Deus». Que bela definição nos traz hoje o profeta Isaías. O amor de Deus espera-nos sempre, de forma gratuita, convida-nos a refazer relações desfeitas. Esse amor gera vida nova, alegria, festa e

 

 

 

 

 felicidade; transforma-nos em profetas do amor, sinais vivos e alegres de Deus.

Será que esse amor transparece nos nossos gestos e atitudes? As nossas famílias são um reflexo do amor de Deus? As nossas comunidades cristãs e religiosas anunciam ao mundo, de forma concreta, o amor que Deus misericordioso tem por nós? Levamos a vida cristã na alegria de Deus?

São exigências que nos plenificam e dão sentido aos nossos andamentos quotidianos, agora em tempo comum, nunca de rotina, mas de renovação. Sempre com a preciosa ajuda de Maria, que nas bodas de Caná 

 

guardou no seu coração esse sinal de amor, de aliança e de alegria, a indicar a direção do que somos: «fazei o que Ele, Jesus, vos disser!»

E já agora, acrescento, se levamos Cristo como aquele que marca radicalmente as nossas vidas, só podemos viver em comunhão. Esta semana de oração pela unidade dos cristãos recorda-nos que nem sempre é assim. Como podemos invocar o mesmo Cristo, se vivemos desavindos?

A caminhada continua. Rezemos e renovemos em nós o entusiasmo de sermos a alegria de Deus.

Manuel Barbosa, scj

www.dehonianos.org

 

O nome de Deus é Misericórdia

O novo livro-entrevista do Papa foi em 86 países, incluindo Portugal, com o título ‘O nome de Deus é Misericórdia’, reforçando as posições de Francisco sobre a necessidade de uma Igreja de “portas abertas”. “A Igreja não está no mundo para condenar, mas para permitir o encontro com o amor visceral que é a misericórdia de Deus”, refere Francisco, na entrevista ao vaticanista italiano Andrea Tornielli.

Francisco diz que também o Papa é alguém com “necessidade da misericórdia de Deus” e revela ter uma relação especial com os presos. “Tenho um especial carinho pelos que vivem na prisão, privados da liberdade. Fiquei muito ligado a eles, por esta consciência do meu ser pecador”, explica, acrescentando que não se sente “melhor” do que aqueles que estão à sua frente.

O Papa apresenta a sua visão sobre a missão da Igreja no mundo, sublinhando que quando “condena o pecado” o faz porque “deve dizer a verdade”. Ao mesmo tempo, no entanto, “abraça o pecador que se reconhece como tal, aproxima-se dele, fala-lhe da misericórdia infinita de Deus”, à imagem de Jesus, 

 

que “perdoou mesmo os que o crucificaram”.

“Seguindo o Senhor, a Igreja é chamada a derramar a sua misericórdia sobre todos os que se reconhecem como pecadores, responsáveis pelo mal que fizeram, que sentem necessidade do perdão”, observou.

Em relação ao ano santo extraordinário que convocou, o Jubileu da Misericórdia (dezembro de 2015-novembro de 2016), Francisco espera que a iniciativa permita fazer emergir um rosto cada vez mais materno da Igreja.

O Papa convida as comunidades católicas a “sair das igrejas e das paróquias” para ir ao encontro das pessoas, onde elas vivem, “sofrem e esperam”. “A Igreja em saída tem a caraterística de surgir no local onde se combate, não é a estrutura sólida, dotada de tudo”, mas um “hospital de campanha” no qual se pratica uma “medicina de urgência”.

Nesse sentido, deseja que o jubileu extraordinário “faça emergir cada vez mais o rosto de uma Igreja que redescobre as vísceras maternas da misericórdia e que vai ao encontro de tantos feridos necessitados de escuta, 

 

 


compaixão, perdão, amor”.

Após precisar que o pecado é diferente da “corrupção”, porque nesta não existe qualquer “arrependimento”, Francisco fala da “graça” da vergonha, porque permite 

 

ter a consciência das falhas e limites de cada um, diante de Deus.

A tradução portuguesa, que inclui a Bula de Proclamação do Jubileu Extraordinário da Misericórdia, é editada pela Planeta.

 
Recebe e oferece a Misericórdia
A Arquidiocese de Braga vai promover retiros durante o jubileu e o primeiro ‘Recebe e oferece a Misericórdia’ destina-se aos agentes da Educação Cristã, a 30 de janeiro no Centro Apostólico do Sameiro, orientado pelo padre Manuel Morujão. “A todos desafio a participar nesta proposta, com a certeza que só corações renovados ajudarão a edificar a Igreja renovada que o mundo espera”, apelou D. Francisco Senra Coelho, bispo auxiliar de Braga. 

 

 

D. Manuel Clemente deseja beatificação rápida de madre Teresa de Saldanha

O cardeal-patriarca de Lisboa espera que madre Teresa de Saldanha seja beatificada “rapidamente” destacando a sua “persistência, intrepidez, clarividência”, no contexto dos 100 anos da morte da fundadora da Congregação das Dominicanas de Santa Catarina de Sena. “É pedagógico para a Igreja porque depois tem uma festa anual que é celebrada liturgicamente, a história é contada e estimula”, explicou D. Manuel Clemente, em Fátima, assinalando que Teresa de Saldanha faz parte de um trio de “outras raparigas” que começaram jovens este serviço “e duas já estão beatificadas”.

À Agência ECCLESIA, o cardeal-patriarca disse que “ninguém pode queixar-se de ser pouco, pequeno ou frágil” contextualizando que as três jovens no século XIX “contra quase tudo e todos” prosseguiram com as suas obras, referindo-se também às fundadoras da Congregação das Irmãs Franciscanas Hospitaleiras da Imaculada Conceição e à do Instituto Jesus-Maria-José.

No dia 15 de dezembro de 2015, o Papa aprovou a publicação do decreto que reconhece as ‘virtudes heroicas’

 

da irmã Teresa de Saldanha (1837-1916), que recebe assim o título de ‘venerável’, fase do processo que leva à proclamação de um fiel católico como beato.

Madre Teresa de Saldanha foi a primeira mulher a fundar uma congregação em Portugal, após a extinção das ordens religiosas no século XIX. “O ambiente mesmo anticatólico numa cidade como Lisboa às vezes toca as raias do inacreditável, mesmo de perseguição. Não era fácil uma jovem católica ir à missa sem ouvir alguma reprovação, brincadeira de mau gosto”, desenvolve o cardeal-patriarca.

Para D. Manuel Clemente é “muito importante e oportuno” redescobrir o exemplo de vida cristã de Teresa de Saldanha porque a vida “em qualquer tempo e época tem as dificuldades próprias e alheias, pessoais ou sociais”.

Madre Teresa de Saldanha foi também uma “figura basilar da emancipação da mulher” em Portugal “pela educação”. “As raparigas, sobretudo pobres, estavam fora de qualquer processo educativo. Ela lançou essa iniciativa não só em termos práticos mas em 

 

 

 

 

 

 

 

termos teóricos porque tem uma obra escrita, de reflexão, de cartas, muito importante”, acrescentou.

A religiosa portuguesa à data da sua morte tinha fundado 27 casas: 17 em Portugal; seis no Brasil; uma na Bélgica; duas nos EUA; e uma em Espanha.

Hoje, revela a superiora geral a Congregação das Dominicanas de Santa Catarina de Sena que celebra 150 anos está presente em quatro continentes - Albânia; Brasil e Paraguai Timor Leste, Angola e Moçambique. “Ai vão surgir novas vidas, novas vocações e o carisma há de continuar, porque é muito evangélico e atual, procurar fazer 

 

o bem e há sempre quem precisa da nossa ajuda, proteção, apoio”, comenta madre Rita Maria Nicolau.

João Saldanha, sobrinho-trineto de Madre Teresa, também esteve nas celebrações dos 100 anos da morte da fundadora da Congregação das Dominicanas de Santa Catarina de Sena e os 150 anos do início congregação, este sábado, em Fátima. “Sempre foi fonte de inspiração pela coragem. Era espectável que seguisse outro caminho, normal para a educação e meio social, e teve a coragem pelo lado privado de romper e pelo lado público construiu uma obra que é deitada a baixo e volta a erguê-la já muito velhinha”, observou.

 

 

Cristãos celebram mais um Natal em tempo de guerra

“Não me deixem sozinho”

Pelo quinto ano consecutivo, a guerra ensombrou o Natal em Alepo. O desalento é indisfarçável. Falta tudo. Por causa dos constantes bombardeamentos, dos infindáveis tiroteios, a água secou nas torneiras, as lâmpadas continuam emudecidas, a comida escasseia e a cidade é uma ruína imensa, uma sombra lúgubre do que foi. O Arcebispo escreveu-nos uma carta. É um enorme lamento.

A destruição é tanta que o Arcebispo Jean-Clément até tem medo de usar as palavras como se elas pudessem ferir ainda mais a cidade, como se elas pudessem fazer sangrar ainda mais a vida dos que restam em Alepo. D. Jean-Clément escreveu-nos. É uma carta sofrida, um longo lamento, uma lágrima sem fim. “Nesta noite de Natal, estou triste. Sinto uma enorme necessidade de escrever, de vos escrever, a vós, os meus amigos mais próximos, para pedir que aceitem partilhar comigo algumas das minhas preocupações e o meu sofrimento.”

Jean-Clément diz que tem o “coração escurecido” e sente-se impotente perante tantos cristãos forçados a deixar o país rumo a um exílio no 

 

estrangeiro. Fogem de uma “guerra injusta e selvagem”, que continua a “semear o terror e a insegurança”, e que já matou quase 300 mil seres humanos “em nome do próprio Criador”.

 

Órfãos e viúvas

Em Alepo, como em tantas outras cidades e lugares na Síria, só restam mesmo os mais pobres, os que não puderam fugir. Ficaram os órfãos e as viúvas. Os idosos e os doentes. As lágrimas deles são também as lágrimas de Jean-Clément. A cidade foi destruída nestes cinco anos de guerra. Mas a cidade continua a ser destruída todos os dias sempre que cai uma bomba, sempre que uma bala é 

 

 

disparada, sempre que alguém cai ensanguentado. Falta tudo. A destruição é dantesca. Quase todas as escolas, hospitais e fábricas foram reduzidas a escombros. São ruínas. “Estou triste por ver o nosso povo a viver na miséria, sem recursos, sem água ou electricidade, nas filas para receber uma ajuda alimentar modesta. Estou triste porque não sei como dizer palavras de encorajamento aos meus fiéis que estão sem fôlego e perdem dia após dia o que resta das poucas esperanças que ainda tinham.”

 

Cidade em ruínas

Jean-Clément escreveu-nos as palavras que não pode dizer ao seu povo. Compreende-se. As pessoas olham para ele com expectativa. Ele é o Arcebispo. “Estou triste mas não posso dizer-lhes isso.” É difícil imaginar como foi realmente este Natal em Alepo. 

 

Na carta que nos enviou, o Arcebispo Jean-Clément confidencia-nos a oração que fez ao Menino Jesus. “Vou pedir-Lhe para vir em nosso socorro. Peço-Lhe, neste Natal, como presente, que possa devolver os sorrisos ao nosso querido povo, peço-Lhe, de todo o coração, que faça aparecer, com o Seu nascimento, a ternura nos corações endurecidos, a amizade entre os homens e a paz para o nosso país.”

 

O conforto das orações

Alepo é uma cidade em ruínas. Falta tudo. Comida, água, luz eléctrica, roupa quente. O frio do Inverno é também uma arma de guerra. Como se a própria natureza desejasse

o sofrimento dos que vivem ainda na cidade.

Jean-Clément suplica-nos para não o deixarmos sozinho, pede que o acompanhemos com as nossas orações. Pede-nos ajuda. Já passaram quinze dias desde o Natal. Em Alepo, quinze dias são quase uma eternidade. As pessoas têm medo. Mesmo após cinco anos de guerra, ninguém se habitua verdadeiramente à morte. Todos os dias se ouvem tiros, rebentamentos de bombas. Todos os dias alguém fica ferido. Todos os dias morre mais alguém. Todos os dias. “Não me deixem sozinho”, pede-nos D. Jean-Clément.

Paulo Aido | www.fundacao-ais.pt

 

 

Deus, o construtor de Pontes

  Tony Neves   
  Espiritano   

 
 

O drama dos refugiados está a atingir o coração da humanidade. São milhões os que, por esse mundo além, fogem de guerras e perseguições sem fim á vista. Fora das suas áreas de conforto e segurança, sem trabalho nem casa, os refugiados ficam á mercê da hospitalidade de quem os acolhe (ou não) nas terras onde vão parar.

A Europa confronta-se com a maior onda de refugiados de toda a sua história. São muitos, chegam todos ao mesmo tempo e aqui vive-se em tempo de inverno. Tanta gente em simultâneo coloca em causa a ‘demasiada’ organização dos países europeus. Pessoas que fogem de áreas em guerra e, sobretudo, aterrorizadas pelo fundamentalismo islâmico, metem ainda mais medo a quem acolhe. Para além dos gastos evidentes neste tipo de operações humanitárias, há um medo quase doentio de que venham muitos terroristas disfarçados de refugiados.

No meio de todo este ‘tornado’, como se posicionam as religiões? Felizmente, a maioria dos europeus está de braços abertos para acolher ou, pelo menos, de acordo no que diz respeito a investimentos públicos para que a hospitalidade se exerça bem e quanto antes. O mesmo se pode dizer dos líderes religiosos, em geral. Cristãos (de diferentes confissões), Muçulmanos, Judeus, Hindus… estão a dar-se as mãos para que este drama humanitário termine. E mais: há uma consciência clara de que a verdadeira solução do problema passa pelo fim das guerras que geram fugas massivas de pessoas. Para tal, há que combater todos os extremismos que 

 

 

 

 

 

Luso Fonias

 

 

provocam violências e levam as pessoas a procurar a sobrevivência longe das terras onde nasceram e viviam.

Nos seus princípios, as religiões apostam na paz e no respeito mútuo. As práticas nem sempre confirmam esta postura e, por isso, há fundamentalismos que é urgente combater.

Deus é um construtor de pontes entre povos e culturas. A fé obriga os crentes a olhar para Deus e a abraçar as pessoas, pois se Deus é Pai, nós somos todos irmãos. Em Portugal, a criação da Plataforma de Apoio aos Refugiados (PAR) é um grande sinal

 

 

desta comunhão entre Religiões e Confissões. Muito caminho está feito, quer na sensibilização das pessoas para o drama, quer na mobilização de meios humanos e materiais para o acolhimento a quem vem de longe. E mais: está já a ser enviado apoio financeiro para os países vizinhos da Síria e do Iraque, a fim de ajudar na sobrevivência dos largos milhares de refugiados que aí permanecem á espera de uma mão amiga que proteja e alimente.

Ao perto e ao longe, abrir mãos e corações é caminho de futuro para uma humanidade fraterna. Há que construir menos muros e mais pontes.

 

“Pode ouvir o programa Luso Fonias na rádio SIM, sábados às 14h00, ou em www.fecongd.org. O programa Luso Fonias é produzido pela FEC – Fundação Fé e Cooperação, ONGD da Conferência Episcopal Portuguesa.”

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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