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Octávio Carmo |
António Pinho Vargas
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Foto da capa: Santo Sepulcro, Jerusalém. Foto da contracapa: Agência ECCLESIA
AGÊNCIA ECCLESIA Diretor: Paulo Rocha | Chefe de Redação: Octávio Carmo Redação: Henrique Matos, José Carlos Patrício, Lígia Silveira, Luís Filipe Santos, Sónia Neves Grafismo: Manuel Costa | Secretariado: Ana Gomes Propriedade: Secretariado Nacional das Comunicações Sociais Diretor: Cónego João Aguiar Campos Pessoa Coletiva nº 500966575, NIB: 0018 0000 10124457001 82. Redação e Administração: Quinta do Cabeço, Porta D 1885-076 MOSCAVIDE. Tel.: 218855472; Fax: 218855473. agencia@ecclesia.pt; www.agencia.ecclesia.pt;
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Opinião |
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Celebrar a Ressurreição
António Rego | Eugénio Fonseca Joana Carneiro | José Luis Gonçalves LOC/MTC | Manuel Barbosa | Paulo Aido | Tony Neves | Fernando Cassola Marques | Octávio Carmo |
A última fronteira |
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Octávio Carmo
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Ano após ano, a Igreja Católica celebra a Páscoa, uma festa que ainda não foi completamente engolida pelos interesses comerciais e que mantém vivas celebrações religiosas marcantes, por muitas ruas do país, que evocam momentos fundamentais do julgamento, morte e ressurreição de Jesus. E é nesta última que se coloca a fronteira, aquela que separa definitivamente os cristãos dos não-cristãos: acreditar na ressurreição. A Ressurreição de Jesus - não a morte definitiva, a reincarnação ou reanimação de um cadáver - e de cada um. Como o Papa Francisco já recordou, todo o Evangelho foi escrito à luz desta fé: Jesus ressuscitou, venceu a morte. O mesmo Papa já se mostrou preocupado com a diminuição da fé na vida eterna entre os católicos, o que à partida deveria ser um contrassenso: não há fé cristã sem Ressurreição e é desta convicção fundamental que brota tudo o que pode, verdadeiramente, fazer a diferença na vida de cada um. É a palavra de alegria que cada católica tem para oferecer, com um novo sentido para a vida. É verdade que exige ir contra a corrente, na maior parte dos casos, e implica projetar no presente uma mudança existencial que parece inconcebível, tão embrenhados que estamos na efemeridade. Eterna, porventura, parece apenas a verdade humana, não a vida, e é por isso que a mensagem pascal é tão decisiva para cada pessoa. O Papa emérito Bento XVI na sua obra «Jesus de Nazaré», considerava que a Ressurreição era
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o elemento decisivo para decidir se ?a fé cristã fica de pé ou cai?. Sem a nova vida de Cristo, essa fé estaria morta e a própria figura de Jesus seria um falhanço. Esta nova possibilidade da existência humana interessa todos, unidos pelo destino comum do nascer, viver e morrer. Espanta, por isso, que o |
anúncio cristão se esqueça tantas vezes desta verdade fundamental da sua fé, embrenhado noutros debates e questiúnculas. A Ressurreição é um salto ontológico e a palavra definitiva de Deus sobre a morte. Que a Páscoa seja ocasião para voltar a falar do que importa, realmente. |
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Um abraço entre a França e a Bélgica, por Plantu. Pelo fim destes dias! |
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“O Mistério que veneramos nesta Semana Santa é uma grande história de amor que não conhece obstáculos” (Papa Francisco) "Tenho um sentimento de culpa, vivíamos o futebol 24 horas por dia, não víamos crescer os filhos. Não ouvi o meu filho dizer pai pela primeira vez, não vi o meu filho aprender a andar de bicicleta, não o abraçava todos os dias, passavam-se meses que não o abraçava e ele agora não está cá. A culpa é do futebol, há um certo divórcio… o futebol saiu-me caro” (Quinito, antigo treinador de futebol) “O que nos une é a luta pela democracia, liberdade e direitos humanos. É nos momentos crucias de crise aguda que sentimento a necessidade de reafirmar esses valores” (Marcelo Rebelo de Sousa, presidente da República) ¿Que bolá Cuba? (Barack Obama, no twitter, ao chegar a Cuba: "Como estás, Cuba?")
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Novo bispo auxiliar quer ajudar na renovação da Diocese do Porto
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A Sé do Porto acolheu a 19 de março a ordenação episcopal de D. António Augusto Azevedo, que o Papa Francisco nomeou como auxiliar desta diocese. Em declarações aos jornalistaso novo bispo salientou a intenção de ser um “colaborador próximo” de D. António Francisco dos Santos e de “contribuir” com “fidelidade plena”, com “alegria” e “entrega” para a “renovação” de “uma diocese de grande dimensão” e “importante para o país”. O até agora reitor do Seminário Maior da Diocese do Porto sublinhou |
a vontade de “levar a alegria do Evangelho às pessoas”, na “continuação do espírito dos apóstolos” e daquilo que o “Papa Francisco tem ensinado”. D. António Augusto Azevedo quer privilegiar o “acolhimento” como forma de “ir ao encontro das pessoas” e revela ter já “uma agenda carregada”. “Há muito que trabalhar, com o espirito do Papa, pelo espirito de proximidade por todos”, frisou o novo bispo auxiliar do Porto, que vai continuar durante algum tempo a acompanhar as novas vocações que
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estão a surgir na região, não só na Diocese do Porto mas também de dioceses vizinhas, como Vila Real e Coimbra. Sobre o futuro do clero no território, D. António Augusto Azevedo revela ter “muita esperança” nos novos sacerdotes, perspetivando “bons pastores, dedicados ao serviço das comunidades”. “É uma geração de jovens muito disponíveis, muito generosos, também muito corajosos, pois a vocação sacerdotal hoje exige uma grande coragem. Terão também, como todas as gerações, as suas fragilidades, mas
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dessas também tentaremos cuidar e estar atentos, para que sejam fiéis e servidores dedicados”, apontou o prelado. D. António Augusto Azevedo, de 53 anos, é natural do Concelho da Maia e sacerdote na região do Porto há cerca de 30 anos. Para D. António Francisco dos Santos, que presidiu à ordenação episcopal na Sé do Porto, o facto de o novo bispo auxiliar ser da casa e “conhecer bem a diocese” poderá ser fundamental para o desenvolvimento de uma Igreja Católica local atualmente "em percurso sinodal", de revitalização. |
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A Igreja do Porto congratula-se contigo, D. António Augusto, e com a tua família, na celebração festiva da nossa alegria de hoje, como amanhã e sempre o queremos fazer no trabalho pastoral, que agora se inicia. Dou graças a Deus pela tua disponibilidade pronta, pela tua serenidade confiante e pela tua entrega generosa. (Homilia de D. António Francisco dos Santos) |
Braga, capital da Semana Santa |
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A Semana Santa da Arquidiocese de Braga privilegia a força das imagens e da encenação bíblica, nas celebrações, procissões e exposições que compõem o programa, para ajudar as pessoas a entrarem no espirito deste tempo pascal. Em entrevista à Agência ECCLESIA, o cónego Luís Miguel Rodrigues, presidente da Comissão da Semana Santa, destaca “uma fé que gera cultura, que se faz cultura” através de vários momentos e ao longo dos próximos dias. “Quem passa por Braga nestes dias percebe um ambiente diferente, propedêutico à proposta de uma transcendência que só Deus pode dar”, frisa o sacerdote. No programa da arquidiocese minhota para este tempo litúrgico pontificam as procissões, como a “chamada procissão da Burrinha” que sai à na Quarta-feira Santa. Uma tradição que tinha na sua génese salientar “as dores de Nossa Senhora” e em que “a imagem ia em cima de uma burrinha, recordando o tempo em que Maria e a Sagrada Família fugiram para o Egito”, explica o cónego Luís Miguel Rodrigues. A Semana Santa de Braga tem |
uma história de vários séculos e a sua configuração atual continua um modelo que vem pelo menos do século XVI. Em 2011 foi declarada como um projeto de interesse para o Turismo e dois anos depois foi distinguida com a Medalha Municipal de Mérito - Grau Ouro. Iniciativas como a já referida Procissão da Burrinha mas também a Procissão do Ecce Homo ou “Senhor da Cana Verde”, na Quinta-feira Santa, e do cortejo do “Enterro do Senhor” na Sexta-feira Santa, “congregam milhares de pessoas, 100 mil, 120 mil, com a maior das facilidades”, realça o cónego Luís Miguel Rodrigues. Além de apontar para a vivência espiritual das comunidades locais, a Semana Santa de Braga procura também “integrar” todos quantos visitam a região nesta altura. |
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Grupo Gólgota
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Há 25 anos que o grupo Gólgota, um conjunto de leigos ligados aos Missionários Passionistas, representa em Santa Maria da Feira (Distrito de Aveiro, Diocese do Porto) os últimos passos da vida de Cristo. Em entrevista à Agência ECCLESIA, o padre César Costa, coordenador deste projeto social, cultural e de evangelização, sublinha o objetivo de passar às pessoas um “evangelho palpável” e “feito realidade” através do empenho, da “garra” e do “rigor histórico” posto em cada representação. O grupo Gólgota iniciou as suas atividades a 29 de março de 1991, com uma representação ao vivo da Via-Sacra, dos passos de Cristo rumo ao Calvário onde depois é crucificado e morto. Para o padre César Costa, a vivência da Semana Santa, e a recriação dos últimos dias da vida de Jesus, é um convite às pessoas para “se abeirarem” de acontecimentos que podem parecer “horrendos aos olhos do mundo”, mas que à luz da fé têm um valor eminentemente “salvífico”. No seu programa para a Semana Santa, o grupo Gólgota já recriou no |
último Domingo de Ramos a “entrada triunfal de Jesus em Jerusalém”, na igreja Matriz dos Passionistas. Esta quarta-feira, foi a vez de apresentar uma encenação da “Última Ceia”, pelas 21h30, no exterior do Museu Convento dos Lóios. Um dos quadros mais fortes destes dias é o da “Crucifixão” que, segundo Maria do Carmo Soares, “mais do que uma representação é uma vivência” e “uma lição de vida”, a partir do “sofrimento”. Às vezes perdemo-nos em coisas tão pequenas, e zangamo-nos com tantas menoridades, que quando chegamos ali isso tudo deixa de ter importância, é uma prova de amor que nos ajuda a levar o nosso dia-a-dia”, conclui a leiga passionista, que desempenha o papel de Maria. |
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A Agência ECCLESIA escolhe sete acontecimentos que marcaram a atualidade eclesial portuguesa nos últimos dias, sempre atualizados emwww.agencia.ecclesia.pt
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Reação de D. Manuel Clemente aos atentados de Bruxelas
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Resposta unânime
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O Papa Francisco recordou no Vaticano as vítimas dos atentados terroristas de terça-feira na capital da Bélgica e defendeu a necessidade de uma “condenação unânime” destes atos de “horror”. “Dirijo novamente um apelo a todas as pessoas de boa vontade, para que se unam numa condenação unânime destas cruéis abominações que estão apenas a causar morte, terror e horror”, disse, perante milhares de pessoas reunidas na Praça de São Pedro para a audiência pública semanal. |
Bruxelas foi atingida esta terça-feira por três explosões, duas no aeroporto internacional de Zaventem e outra no metro, que provocaram a morte de pelo menos 34 pessoas e feriram mais de 200. “Peço a todos que perseverem na oração, pedindo ao Senhor nesta Semana Santa que conforte os corações aflitos e que converta o coração destas pessoas cegas pelo fundamentalismo cruel”, referiu o Papa Francisco. Os atentados foram reivindicados |
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pelo grupo extremista Estado Islâmico. “Com o coração entristecido, segui as tristes notícias dos atentados terroristas que aconteceram ontem [terça-feira] em Bruxelas, que causaram numerosas vítimas mortais e feridos”, começou por dizer o Papa. Francisco manifestou a sua “oração e proximidade” à “querida população belga”, a todos os familiares das vítimas e a todos os feridos. O pontífice argentino pediu depois aos presentes que se unissem a si na recitação de uma Avé-Maria, antes de propor um momento de oração em silêncio. |
“Rezemos pelos mortos, pelos feridos, pelos familiares e por todo o povo belga”, apelou.
Já na terça-feira, Francisco tinha condenado a “violência cega” dos atentados, num telegrama enviado ao arcebispo da capital belga. “O Santo Padre condena de novo a violência cega que gera tanto sofrimento e, implorando a Deus o dom da paz, invoca sobre as famílias provadas e sobre os belgas os bens das bênçãos divinas”, refere a mensagem divulgada pela sala de imprensa da Santa Sé. |
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Introdução ao Tríduo Pascal,
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O Papa Francisco apresentou no Vaticano uma reflexão sobre o Tríduo Pascal, itinerário celebrativo que leva da Quinta-feira Santa à Páscoa, que considerou como o “coração do ano litúrgico” na Igreja Católica. “O Tríduo Pascal é o memorial de um drama de amor que nos dá a certeza de que nunca seremos abandonados nas provações da vida”, declarou, perante milhares de pessoas reunidas na Praça de São Pedro para a audiência pública semanal. “O Mistério que veneramos nesta Semana Santa é uma grande história de amor que não conhece obstáculos”, acrescentou. A Igreja Católica começa esta quinta-feira a celebrar os dias mais importantes do seu calendário litúrgico, que assinalam os momentos do julgamento, morte e ressurreição de Jesus, culminando na Páscoa. “Na Quinta-feira Santa, com a instituição da Eucaristia e o lava-pés, Jesus ensina-nos que a Eucaristia é o amor que se faz serviço”, explicou o Papa. Segundo Francisco, a Eucaristia é “a presença sublime de Cristo” que deseja alimentar todos, “sobretudo |
os mais fracos”, promovendo uma “comunhão de vida” com os necessitados.
Este conjunto de celebrações do Tríduo Pascal remontam ao século IV, seguindo as indicações deixadas pelos Evangelhos sobre a Paixão de Jesus Cristo, que para o Papa “dura até o fim do mundo, porque é uma história de partilha com os sofrimentos de toda humanidade”. “Na Sexta-feira Santa chegamos ao momento culminante do amor, um amor que quer abraçar todos sem excluir ninguém, com uma entrega absoluta”, afirmou. O Sábado Santo, tal como a sexta-feira, é um dia dito ‘alitúrgico’, isto é, sem celebração da Eucaristia ou de outros sacramentos, o “dia do silêncio de Deus”, referiu o Papa. |
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Via Sacra do Coliseu vai evocar cristãos perseguidos |
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O Papa Francisco escolheu o cardeal Gualtiero Bassetti, da diocese italiana de Perugia, para criar as reflexões da tradicional Via Sacra do Coliseu de Roma, na Sexta-feira Santa. Os textos propõem meditações sobre as perseguições e a violência que atingem a humanidade. A evocação da prisão, julgamento e condenação à morte de Jesus, no esquema das 14 ‘estações’, inclui reflexões sobre os cristãos perseguidos, o Holocausto dos judeus na II Guerra Mundial, as famílias em dificuldade e o drama dos migrantes. O autor fala na “justiça de Deus que transforma o sofrimento mais atroz na luz da ressurreição” e lamenta que alguns escolham outro caminho, com medo do que é diferente ou de quem vem de outras terras. Na reflexão sobre a terceira queda de Jesus, o cardeal italiana recorda o sofrimento das famílias em crise, de quem não tem trabalho ou dos jovens com empregos precários. Os textos falam ainda das “crianças profanadas na sua intimidade”, que sofreram abusos ou foram desrespeitadas na sua dignidade. A celebração tem início marcado para as 21h15 (menos uma em Lisboa). |
Nós Vos pedimos, Senhor, por todas as situações de sofrimento que parecem não ter sentido, pelos judeus mortos nos campos de extermínio, pelos cristãos mortos por ódio à fé, pelas vítimas de toda a perseguição, pelas crianças que são escravizadas no trabalho, pelos inocentes que morrem nas guerras. |
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A Agência ECCLESIA escolhe sete acontecimentos que marcaram a atualidade eclesial internacional nos últimos dias, sempre atualizados em www.agencia.ecclesia.pt
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Lugares da Paixão: percursos na Terra Santa
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Dar sentido ao sofrimento: o contributo de Viktor Frankl para o tema da eutanásia |
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José Luís Gonçalves |
A recente Nota Pastoral dos Bispos Portugueses, intitulada «Eutanásia: o que está em causa? Contributo para um diálogo sereno e humanizador», constitui uma tomada de posição esclarecedora contra a legalização da eutanásia. Nela é evocada a figura do psiquiatra Viktor Frankl que, na qualidade de sobrevivente a dois campos de concentração nazi, testemunha que, mesmo em condições desumanizadoras extremas, é possível encontrar razões para viver (Cf. O homem em busca de sentido). Mais tarde, como docente universitário, dedica-se com notável sucesso a ajudar estudantes com tendências suicidas. O que distingue a logoterapia V. Frankl das outras perspetivas terapêuticas na época, sobretudo da psicanálise de Freud ou da psicologia individualista de Adler, é a ideia de que «a existência do homem sempre se refere a alguma coisa que não a ela mesma» (In A psicoterapia na prática). Dito de outra forma, concebe a pessoa como alguém vocacionado para dar sentido e propósito à sua vida, independentemente da situação concreta em que se possa encontrar. Denomina este movimento interior de saída de si em busca do sentido de «autotranscendência da existência humana». Esclarece ainda que «a autorrealização não constitui a busca última do ser humano. Não é sequer a sua intenção primária. A autorrealização, se transformada num fim em si mesmo, contradiz o caráter autotranscendente da existência humana. |
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Assim como a felicidade, a autorrealização aparece como efeito, isto é, o efeito da realização de um sentido. Apenas na medida em que o homem preenche um sentido lá fora, no mundo, é que ele se realizará a si mesmo. Se ele decide realizar-se a si mesmo, ao invés de preencher um sentido, a autorrealização perde imediatamente a sua razão de ser» (In A psicoterapia na prática). De forma simplificada, podemos afirmar que Frankl preconiza uma descentração do sujeito a favor do sentido. Esta proposta pode parecer estranha. Todavia, só esta descentração cumpre um dos objetivos da própria existência: tornar significativa a própria vida. A afirmação antropológica da «auto transcendência da existência humana» confere valor espiritual e existencial ao desenvolvimento de cada pessoa e permite a esta dar sentido às crises, ao sofrimento e até às situações limite em que se encontra: «quando não podemos mudar certas circunstâncias da vida, somos desafiados a mudar-nos a nós próprios» (In O Homem em busca de sentido). A vida em toda a sua extensão e profundidade é, portanto, dom e tarefa! A perspetiva de V. Frankl contraria, pois, as conceções redutoras de pessoa humana que têm vindo |
a defender a legalização da eutanásia quando apoiadas no argumento de que seria defensável pôr fim à própria vida quando nos encontramos em sofrimento extremo. A proposta humanizadora de Frankl abre pistas psico-espirituais que não podem deixar de ser levadas em consideração por todos os interessados no debate atual, conferindo um outro valor à pessoa, elevando-a ao patamar ético do «ser digno», no sentido empregue pelo filósofo Kant. Para os crentes, a dignidade intrínseca de cada pessoa diante de Deus constitui o fundamento da dignidade do homem perante o outro homem. Uma sociedade justa só se realiza no respeito por esta dignidade transcendente da pessoa. |
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Trafico humano: Da morte à vida,
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LOC/MTC Movimento de trabalhadores Cristãos |
O tráfico humano, também chamado de tráfico de pessoas, é uma das atividades ilegais que mais se expandiu no século XXI, pois, na busca ou seduzidas por melhores condições de vida, muitas pessoas são ludibriadas por criminosos que “oferecem” um futuro melhor. Uma sociedade baseada no dinheiro e no bem-estar, que mercantiliza a vida, cheia de desigualdades e indiferente, bem como o cruzar dos braços diante da exploração (vale mais isto que nada!), são as causas mais visíveis do tráfico humano. A que se junta a dificuldade em identificar e criminalizar os “agentes”, que atuam em escala regional, nacional e internacional, através de redes muito sofisticadas, privando a liberdade de indivíduos que sonham um futuro melhor. De acordo com o Protocolo Adicional à Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional relativo à Prevenção, Repressão e Punição do Tráfico de Pessoas, em especial de Mulheres e Crianças, o tráfico humano é caracterizado como: “o recrutamento, o transporte, a transferência, o alojamento ou acolhimento de pessoas, recorrendo à ameaça ou uso da força ou outras formas de coação, ao rapto, à fraude, ao engano, ao abuso de autoridade ou à situação de vulnerabilidade ou à entrega ou aceitação de pagamentos ou benefícios para obter o consentimento de uma pessoa que tenha autoridade sobre outra para fins de exploração.” |
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O tráfico de pessoas consiste, portanto, no ato de comercializar, escravizar, explorar, privar pessoas de liberdade, com o fim de enriquecer sujeitando-as à prostituição, a trabalhos forçados, a “serviços domésticos”, a trabalhos ilegais em pequenas fábricas, a barrigas de aluguer, à feitiçaria, retirando-lhes órgãos, ou seja, é um atentado à dignidade humana, uma violação dos direitos humanos. E é uma atividade que movimenta milhões, só superada pelo tráfico de armas e de droga.
As vítimas acabam por chegar ao “destino de trabalho” já endividadas, pois elas têm que pagar aos traficantes valores elevadíssimos referentes à viagem, hospedagem, documentação, alimentação, roupas, etc. O problema é que essa dívida financeira, e também de “favor”, nunca poderá ser paga. Sendo assim, muitas vezes os criminosos passam |
a ameaçar e torturar os “devedores”.
As mulheres são o principal alvo, pois o retorno financeiro para os traficantes é maior, uma vez que a prostituição, é o destino de 79% das vítimas do tráfico humano. O trabalho forçado, exercido por homens, mulheres e crianças, representa 18%.
Apesar de o papa Francisco nos querer acordar da indiferença em relação a “esta praga indigna de uma sociedade civilizada”, uma “intolerável vergonha” (Angelus, 08.02.2016), e de o tráfico de pessoas não ser apenas uma questão religiosa ou simplesmente feminina é verdade que párocos e comunidades eclesiais estão pouco sensibilizados para esta questão. E a sociedade em geral também. A não ser quando nos bate à porta por algum vizinho ou membro da família que é apanhado por estas redes. Esta também é uma questão de misericórdia. |
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Uma espiral de autoaniquilação |
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José Carlos Patrício
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Esta semana não exige muitas palavras, mas uma reflexão séria à volta da pergunta (ingénua dirão alguns) mas que se impõe: Em que é que estamos a transformar o mundo? Os atentados em Bruxelas, que aconteceram em sequência de outros atos de violência gratuita contra pessoas e civis inocentes, mostram-nos a face mais negra de uma humanidade que foi capaz de evoluir até ir à Lua, até dominar os segredos da ciência e da tecnologia. Mas que em tantos séculos foi incapaz de dar o passo definitivo para aquilo que realmente interessa, se queremos assegurar a subsistência da nossa espécie: viver em paz, defender as pessoas na sua dignidade, na vida e na morte, assegurar a harmonia entre as sociedades e o futuro do nosso planeta. O que fazer quando ouvimos a ameaça de que horas mais duras e mais amargas ainda estão para vir? As grandes potências já garantem que tudo vão fazer para que quem está por trás destes ataques seja responsabilizado pelo que fez. Mas podemos confiar no juízo daqueles que atualmente também bombardeiam e matam civis, com ataques levados a cabo com drones? Ou em quem sabe que, na base desta questão, estão também interesses financeiros à volta do tráfico de armas e do domínio das grandes reservas de petróleo, mas não faz nada para travar isso? Pelo contrário, o que vemos é que se continua a acalentar tudo isto porque é através disto, da |
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guerra, do negócio da morte, que essas grandes potências sustentam a sua própria economia. Como Cronos, o deus que segundo a mitologia grega comia os seus filhos como medo de ser destronado, a humanidade tem vivido permanentemente numa espiral de autoaniquilação da sua espécie, por sua própria iniciativa tem encurtado, tirado tempo ao seu próprio tempo. A religião, o Islão, as diferenças religiosas, nada disto está aqui em causa, é tudo uma questão de poder, de resposta à guerra pela guerra, a supremacia de uma raça sobre outra. Todas as grandes religiões assentam em pressupostos de paz, de um caminho que leva à interioridade e à transcendência, ensinam valores e apontam para o bem das pessoas, são resposta para a busca de sentido e de felicidade de todos os homens e mulheres. São uma parte essencial da educação |
das pessoas: ainda há pouco tempo se questionava o sentido de várias escolas realizarem celebrações católicas durante o tempo letivo. A religião não é apenas espiritualidade, é cultura. E é de cultura, de educação, que o mundo carece para ultrapassar estes tempos negros: não de uma cultura de morte, como tem estado na moda com a defesa da eutanásia, mas uma cultura de vida. Quem coloca à sua volta um cinto de explosivos e vai para o meio de uma multidão disposto a fazer-se explodir por uma causa, não compreende que assim a sua causa já está perdida. Mas toda a humanidade perde quando acha que a solução chega através das armas, do perpetuar dos conflitos e não do diálogo. Falta educar as novas gerações para os mais altos valores, mudar mentalidades. Paz aos mortos e a todos os familiares das vítimas da tragédia em Bruxelas. |
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Celebrar a Ressurreição
A Igreja Católica celebra nas últimas horas de Sábado Santo e nas primeiras de Domingo de Páscoa o principal e mais antigo momento do ano litúrgico, a Vigília Pascal, assinalando a ressurreição de Jesus. Um tema central para a Igreja Católica, que tem inspirado reflexões e criações teológicas e artísticas ao longo da história que é abordado em entrevista ao compositor António Pinho Vargas, para além de vários testemunhos e mensagens de responsáveis católicos. |
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A Música como LiturgiaO ano litúrgico, que percorre todos os mistérios da vida de Cristo, desafia a música a exprimir intensamente todos estes passos e sentimentos da vida cristã e é no espaço litúrgico da comunidade cristã que muitas das peças encontram o seu total significado e o fim para que foram criadas. A Semana Santa, de modo especial, está ligada a um mundo de sentimentos e de tradições muito particulares, que procuram apresentar o mistério da redenção: a dor de Maria é acompanhada com o “Stabat Mater”; o salmo “De Profundis” marca a Sexta-feira Santa; o Sábado Santo, dia alitúrgico, pede um “requiem” pelo Senhor no sepulcro. António Pinho Vargas, compositor, músico e ensaísta, fala à Agência ECCLESIA da experiência de compor a partir destes e outros episódios que moldaram a cultura ocidental. Entrevista conduzida por Lígia Silveira
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Agência ECCLESIA (AE) - Como compositor que teve uma educação católica, o que o leva a aceitar ou mesmo a propor criações de temáticas religiosas como o Requiem, a Oratória de Judas, o Magnificat, o Stabat Mater ou o De Profundis? António Pinho Vargas (APV) - Nós ocidentais, nós portugueses, temos uma relação histórica, forte, naturalmente, com a Cristandade. No meu caso, aos 15 anos li a Bíblia, tinha dúvidas e dado o facto de me interessar por questões de caráter histórico, lembro-me de ler esses textos.
AE - De fio a pavio? APV - Quase, quase, houve um mês de
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intervalo entre a leitura do Antigo Testamento e a do Novo Testamento. Sei bem que a nossa civilização ocidental é marcada por essa relação com os textos sagrados da religião cristã, mas transcendem o Catolicismo. Todo este conjunto é muito importante. Para além das minhas motivações naquele momento, eu tive a sensação de que estava a ler, por um lado, obras de uma enorme riqueza literária, mas sobretudo o humano - apesar de haver permanentemente uma relação com o divino. Estamos a ler histórias de pessoas, acontecimentos. Nesse sentido, o meu interesse pelos textos bíblicos deriva, em primeiro lugar, desse fator. São muito importantes para todos nós. |
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AE - Isso marcou-o, mesmo com 15 anos? APV - Sem dúvida, até porque também não é vulgar, com aquela idade, ler tudo ou quase tudo. Por outro lado, a história da música ocidental, que teve lugar neste espaço geocultural, tem uma enorme quantidade de peças a partir de alguns desses textos. Aqui há também uma motivação que tem a ver com essa própria história. A primeira peça que eu fiz e que foi proposta por mim foi ‘Judas secundum Lucam, Joannem, Matthaeum
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et Marcum’. No caso da segunda, que estreou em 2009, o ‘Requiem’, não tinha ainda decidido completamente o que seria. O diretor do serviço de música da Gulbenkian disse-me que achava bem que fosse um ‘Requiem’, porque era importante, no sentido de saber o que um compositor de hoje tinha a dizer sobre uma peça com tamanha história. Julgo que é a junção desses dois fatores que me leva, progressivamente, ao interesse por estes textos sagrados. Ao mesmo |
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tempo, aquilo que eles dizem interessa-me em si mesmo, porque eu posso dizer de uma forma resumida o que é um ‘Requiem’, enquanto que Judas tem uma espécie de estrutura dramática e quase trágica, no sentido das antigas tragédias gregas - porque há personagens, há dois homens em que existe sofrimento, Jesus e Judas. Em relação ao ‘Requiem’, podemos dizer que no essencial a frase que une e podia resumir cada uma daquelas partes é uma frase na qual os homens, o ser humano, pedem a Deus que os receba no seu seio. A temática da morte é central e, nesse sentido, é indiferente às crenças religiosas ou de outra ordem.
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AE - Já disse noutras ocasiões que não passa muito tempo sem regressar à Oratória de Judas. Porque é que esta obra é tão particular? APV - Primeiro, porque tenho uma recordação que ficará para sempre da sua estreia. Estrear uma peça é uma enorme responsabilidade e penso que ela é que me lançou num percurso: passados 10 anos (2002-2012), escrevi à Fundação Gulbenkian a propor uma segunda proposta para coro e orquestra, pensando noutro texto sacro - como disse, não estava ainda decidido qual deles seria. Quase como por coincidência, no ano a seguir estreou o Magnificat, ligado aos 20 anos da Culturgest, foi uma decorrência natural: o Magnificat tem ressonâncias festivas, em português, e ali tratava-se de celebrar o aniversário de uma instituição. Transcendia o significado da palavra.
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APV - Regresso ao Judas porque eu gosto imenso daquela peça. Tem momentos de verdadeiro milagre. O meu trabalho é profundamente humano e, como tal, contingente, como o de todos os compositores. Umas vezes têm sorte e sai melhor, outras vezes não sai bem. Essa contingência está sempre, queiramos ou não. Não há nenhum sistema de composição que assegure à partida |
que aquela peça vai ser muito boa, não há. O Judas foi um período duro para mim, ao estar em confronto com aqueles textos, com aqueles momentos… Não foi fácil, às vezes ia para casa devastado, não com a música, apenas, mas por causa do próprio tema, do que estava escrito, das falas de Jesus e Judas, da dramaticidade que podemos retirar daquela circunstância: traição, |
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arrependimento, uma série de problemas que estão permanentemente presentes nas nossas vidas. Vivemos numa época em que pouca gente se arrepende e ainda menos se suicida, a seguir a um arrependimento. Apesar de eu não defender o suicídio, evidentemente, aquele homem traz consigo um lado trágico, em que se suicida numa espécie de tragédia grega. Não é qualquer um que atira o dinheiro que recebeu para o chão, diz ‘pequei, traí sangue justo’ e vai ao extremo de pôr fim à sua própria vida.
AE - Este ato de contrição inquieta-o? APV - Sim. Nunca deixou de o fazer, aliás, eu recebi uma encomenda do Festival de Música Sacra de Viana do Castelo e fui eu próprio a propor esta temática. Depois, verifiquei na leitura dos quatro Evangelho está sobretudo presente no Evangelho segundo São Mateus e menos nos outros, pelo que tive de constituir uma narrativa que usasse os quatro, mas preservasse aquele momento que só existe como verdadeira descrição, pungente, de São Mateus. |
Eu não sou, longe disso, o primeiro agnóstico, digamos assim, a tratar textos sagrados. Há um ‘Requiem’ de György Ligeti, uma peça de que eu gostava muito há 30, 25 anos, que não é crente, mas assumiu que isto interessa à humanidade em geral.
AE - Como é que se escolhe um texto litúrgico para a composição? APV - Na verdade, cada peça é uma peça. Para mim, o texto ocupa o primeiro lugar, a leitura, a sua compreensão, perceber de que forma é que pode ser abordado, o que pretende dizer, mesmo que seja uma língua morta, como é o caso do latim. O texto é o início da composição. |
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AE - É a partir dos ecos que esse texto possa suscitar que parte para a composição. APV - Sim, sim. No caso do Judas, tive de fazer algumas leituras em paralelo, antes de ter constituído o livrete final, mas optei por não as incluir. Os Evangelhos, só por si, davam material suficiente para eu poder trabalhar. É o texto, ele próprio, as ressonâncias que tem na minha memória. É sempre preciso fazer uma seleção e, ao mesmo tempo, não posso ignorar que conheço, por exemplo, o ‘Requiem’ de Mozart. Portanto, tenho uma consciência que me interessa, no momento de lançar-me na composição: se calhar apenas na minha imaginação, mas estou a dar resposta a peças que me são caras e das quais ficaram resíduos na minha memória. A pessoa está a responder a uma herança, a um passado.
AE - Disse uma vez que qualquer artista responde a uma necessidade interior, quando cria. O que sente nesse ato de compor, a que necessidade pretende responder? APV - Nem sempre é completamente claro. Posso responder ‘a contrario’, |
para usar uma expressão latina: em certos caso, eu recusei encomendar por não me reconhecer no projeto que me era proposto. É relativamente fácil, para mim, mais fácil até, saber quando não quero fazer. Cada peça é, de uma certa maneira, uma autorreflexão sobre a nossa condição, sobre a minha condição em particular, porque cada um fala por si. É uma espécie de posição que, em si, por muito oculto que esteja, é uma declaração sobre a sua condição.
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AE - Procura isolar-se quando compõe?
APV - Na minha vida houve momentos desse tipo, em que às vezes ter de continuar a dar aulas se revelava de uma extrema dificuldade, porque eu não queria sair da minha peça. Desse ponto de vista, houve um período da minha vida em que, provocando uma enorme surpresa em todos os músicos que tocavam comigo, eu falava do
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facto de gostar do isolamento, de ter uma espécie de atração pelos eremitérios, sítios em que a pessoa se recolhe para meditar. Isso é o contrário do nosso de modo de vida atual. É necessário pensar sobre o que se vai fazer e quanto maior o peso simbólico do texto que vai ser tratado, mais aumenta a necessidade de pensar. |
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AE - De que forma é que gostaria que os ouvintes se relacionassem com estas obras de cariz mais religioso? APV - Uma peça musical tem um texto. No entanto, a peça é a minha peça musical. Não é redutível a uma mera música para o texto, transfigura-se numa outra realidade terceira, que não é apenas uma música e uma poesia, é uma outra entidade. Isso é válido para o Judas, o ‘Requiem’, etc. O artista, que é um ser de uma enorme fragilidade - apesar de alguns não parecerem, propriamente -, o
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compositor está consciente de que a estreia é o momento da verdade, a peça vai dizer o que tem a dizer, ao público. E nós nunca sabemos quem é que constitui o público, em quantidade ou em qualidade. A questão que se coloca é a da arte. Uma pintura de um grande artista do passado é um objeto que está na parede de um museu e lá fica. Pode ir visitar um dia, pode ir lá 10 dias depois e lá continua. A música não, tem um princípio e um fim, no fim acaba. Esse momento para mim, normalmente,
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é a entrada numa espécie de abismo, de vazio existencial, difícil de explicar aos outros. Verifica-se o fenómeno do ter sido - a música carateriza-se por não existir senão no momento em que é feita. Mesmo com a gravação, que podemos dizer que fixa para toda a eternidade aquele momento, a audição é um momento de decisão individual.
AE - Mas isso não acontece quando se fecha um livro ou se viram as costas a uma pintura? APV - Sem dúvida. Simplesmente, ao contrário do livro e da pintura, a música não é um objeto, a música em concerto. Até 1900 só havia música quando havia homens a tocar.
AE - Fica-lhe essa inquietação quando uma obra sua chega ao fim, depois de reproduzida? Precisa do diálogo com o público? APV - Eu não tenho diálogo com o público, a minha peça é que vai ter um diálogo, vai dizer o que tem a dizer ou não. Nós, os artistas, trabalhamos para o outro, no sentido mais amplo do termo, aquele que não conhecemos, que é indefinível, mas que se vai |
emocionar, nos melhores casos, se vai sentir tocado. Esse é um momento em que o artista deve ficar grato, porque o seu trabalho, ao qual dedicou tanta energia, tempo e afeto, teve uma ressonância positiva. No momento em que a peça é estreada, em que sou chamado ao palco pelos artistas, foi aquela música, aquele artista que está a ser alvo de afeto, de gratidão. A obra foi considerada boa, aplaudida com entusiasmo, e esse é um momento que não tem nada a ver com o sucesso que se mede com o número de espetadores no cinema ou o número de cervejas vendidas num determinado evento, é outra coisa. Mais pequena no número de pessoas envolvidas, mas que tem a sua importância. Não é irrelevante |
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AE – O que é que a gratidão e o afeto faz pelo vazio que sente a seguir? APV – Infelizmente nada. Porque é o vazio de ter sido. Às vezes aumenta-o. O ter sido exaltante, mas ter sido. Mesmo que a obra seja novamente executada, e igualmente com comoção, aquele momento foi único e irrepetível. Eu diria que quanto mais extraordinário, exultante e único, maior é o vazio. Há uma satisfação porque se passou uma mensagem para as pessoas. Nós vivemos no tempo, é no tempo que vivemos e é também nele que morremos. A pessoa não se esquece do lado exaltante, continua consciente que foi incrível e extraordinário, mas tem de viver com a consciência de que já passou.
AE – O compositor João Madureira diz sobre si: “não é uma pessoa religiosa, mas há um lado onírico e intimista, uma reflexão sobre a condição humana que está presente na sua criação. Um compositor que facilmente entra no universo da música que é vista como religiosa”. Como se revê neste comentário? APV – No essencial estou de acordo. Do ponto de vista social a nossa |
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música em geral é tocada em espaços seculares, salas de concertos. A estreia de Judas foi numa igreja, em Viana do Castelo, não em ambiente de culto; no dia prévio fiz uma conferência com a presença do bispo. Mas é uma exceção. A regra são os espaços seculares.
Eu estou sempre a compor sobre a condição humana, mesmo em peças que não se relacionam com a temática religiosa, como por exemplo «Six portraits of pain». É sempre sobre a condição humana e a sua dor.
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AE – Gostaria de ver mais obras musicais, mesmo não religiosas, executadas em espaços de culto? APV – Sim. No passado a execução de peças de caráter religioso decorriam em igrejas. Já tive oportunidade de afirmar publicamente que não deixa de me suscitar alguma perplexidade o facto de a Igreja católica, enquanto instituição, estar completamente divorciada das minhas peças e de algumas peças de colegas meus. Isto não é válido individualmente. Há padres individualmente que vieram falar comigo e, de forma circunstancial, elogiam as minhas peças. Como instituição manifesta-se pelo silêncio. Isso custa-me compreender.
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AE – Fala em termos de mecenato? Como promotora de cultura? APV – Sim, na verdade faz isso algumas vezes. Ocasionalmente há concertos de órgão na Sé, em Lisboa, ou em outros locais. Mas o meu ‘Requiem’ ou o meu ‘Magnificat’ foram executados na Fundação Gulbenkian, eu não tive notícia nenhuma. No passado não foi assim. Julgo que alguma reflexão deveria ser suscitada.
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AE – A Igreja tem perdido oportunidade de construir pontes com a arte musical, por exemplo? APV – Julgo que sim. Por exemplo: Stravinsky estava no final da sua vida e a peça Threni foi estreada em Veneza na presença do Papa João XXIII. O Papa que lançou o Concílio Vaticano II não deixou de ir ouvir a peça daquele compositor que, do ponto de visto simbólico, era o maior compositor do mundo. Eu não posso dizer nada de semelhante, nem creio que nenhum dos meus colegas o possa fazer.
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AE – “Ressuscitar a capacidade de nos reencantarmos com o mundo é uma forma de sobreviver às dificuldades da crise”, disse numa entrevista. A música é um caminho para a insurreição ou uma forma de Ressurreição? APV – Julgo que sim. Sinto que para muitas pessoas nas suas vidas, nas suas casas, como algo privado, esse é um momento de apaziguamento de angústias para muitos.
AE – As perguntas sobre a vida humana deveriam estar presentem na sociedade? APV – O nosso mundo caracteriza-se pelo contrário. Não acredito que todos vivam numa espécie de não interrogação. Há um fenómeno que nos permite estar em permanente contacto com o que está no mundo mas também em permanente contacto com muitas outras coisas, que é a televisão. Quando se liga este aparelho liga-se um desconversador com a sua família e consigo próprio.
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AE – Nessas perguntas cabe a pergunta sobre o divino? APV – Julgo que sim. Eu tenho a minha própria ideia, mas a minha ideia serve a mim. Há uma prática religiosa convencional, o ir à missa todos os domingos… é necessário começar-se a pensar que ser católico, cristão, judeu, ortodoxo, muçulmano eventualmente não é compatível com práticas humanas que não são defensáveis. Há um divórcio entre a prática religiosa convencional mas sem profundidade e com desconhecimento dos textos sagrados, e a verdadeira relação com o divino que deveria ser mais profunda e mais ligada à vida das pessoas. A minha mãe, quando eu tinha 15 anos, ficou muito preocupada porque eu perdi a fé. E pediu-me para ir falar com o padre da minha freguesia em Vila Nova de Gaia, onde nasci. No final ele disse à minha mãe para não se preocupar. «Ele é bem formado, não se preocupe. Sem o saber, será mais religioso que muitas pessoas que vão à Missa». |
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AE – Alguns pensadores indicam que os católicos terão muito a aprender com aqueles que se afirmam não católicos e que poderão estar mais dentro de que alguns que se afirmam dentro. APV – Julgo que sim. Aquele que está tranquilo numa fé tem tendência a pensar com mais superficialidade do que aquele que está inquieto.
AE – As perguntas, novamente… APV – Sim.
AE – Oratória de Judas, Requiem, Stabat Mater caminham no mesmo tom musical. Falta-se uma
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composição mais em tom de ressurreição e Aleluia? APV – Na música religiosa em muitos casos passa-se por lá porque o texto vai lá parar. Mas não é essencial. Oscompositores conhecem o seu métier musical e sabem que esse é um momento de elevação. A resposta musical, nas peças que eu conheço, é relativamente simples de conceptualizar e realizar. Se euimagino que num dado momento estou a escrever música para exaltar a glória do divino não posso usar se não um acorde perfeito. |
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AE – A palavra «Páscoa» significa passagem. Como traduzi-la num tom musical? APV – A ideia de passagem faz-me muito sentido. A vida é uma impermanência. Como fazê-lo musicalmente é uma questão a que teria de me reter. De qualquer forma, no meu concerto para violino há um momento delicado e importante, é uma espécie de morte, é um falso fim. Há um grande clímax e a música começa a descer. Finalmente termina numa nota. Essa nota é tocada apenas por um instrumento que são os tímpanos. Os tímpanos fazem um trémulo, um pequeno crescendo e diminuem, crescendo e diminuem, apenas com as notas Ré e Lá. Eu recordo isto porque me disseram que,
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este momento que demora um minuto parecia uma eternidade. Na verdade estamos perto do nada. Quando o Lá desce meio-tom para Lá bemol começa o que chamamos o lamento final. A peça é dedicada à memória de alguém que morreu. Aquele momento, consciente ou inconscientemente, para mim foi concebido como ligação entre a música anterior e uma música que era necessário que existisse com carácter de lamento - e lamento é uma expressão que existe na história da música há muitos séculos - esse lamento tinha que existir para por fim à peça. Esse momento é impressionante. E aquilo que se torna impressionante é o quase nada, é o quase silêncio. |
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Estar com Jesus vivo nos injustiçados
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Por razões de sensibilidade pessoal, até atingir maior maturidade cristã, a celebração da ressurreição, no culminar de uma semana muito rica de ritos litúrgicos e tradicionais, foi sempre, para mim, a festa religiosa mais bela. Agora, sem ter perdido todo o seu encanto sentimental, a festa da ressurreição adquiriu o seu verdadeiro sentido. Ao percorrer novos caminhos, no |
encontro com outros cristãos que testemunhavam a fé de maneira diferente da minha, ao conhecer melhor a Sagrada Escritura e o Pensamento Social da Igreja, sinto-me mais próximo de realidades onde se toca o divino, com maior nitidez. E esses caminhos não foram, não são, os que estavam ligados aos ritos religiosos praticados dentro ou forados ditos “locais sagrados”. Esses já eu conhecia. Os caminhos que fui |
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descobrindo conduziram–me até lugares onde se experimentavam diversas formas de morte que reclamavam por mais vida e “vida em abundância” (Cf Jo 10,10).
Entendi, então e para sempre, que ser cristão não é, apenas, pertencer a uma “religião”; adorar um ídolo e ter como únicas referências os seres humanos “eleitos” para os altares e prestar-lhes culto muito piedoso; seguir cegamente as normas imposta pela “religião”; odiar o mundo por criar dificuldades à minha salvação e possibilidade de ser mais um dos eleitos. Descobri que ter fé é muito mais do que pertencer a uma “religião”. É seguir, com todas as consequências daí decorrentes, não um morto, mas um vivente: Jesus Cristo, Deus encarnado e impregnado totalmente pelo Espírito Santo. Então, tudo mudou. As exigências e desafios passaram a ser mais, muito mais, exigentes. Os “combates” a travar mudaram de campo. O mundo passou a ser o lugar e o tempo onde o Reino de Deus começa a acontecer, na medida em que eu seja capaz de “dar razões da minha esperança” (Cf 1Pe 3, 15). Passei a sentir que teria de ser maior o esforço de coerência entre aquilo em que acredito e o que vivo no meu quotidiano. Enraizou-se em mimque a única lei da minha religião |
é amar, dando a vida pelos meus irmãos (Cfr Jo 13,1-15). E a minha vida cristã recomeçou. A minha espiritualidade transformou-se. Passei a estar mais com Jesus vivo nos injustiçados, nos pobres de todo o tipo, nos oprimidos por qualquer circunstância, nos mal-amados, nos que já estão mortos, socialmente, pela difamação e suspeição de qualquer ordem, e em muitos mais!… E, como Maria Madalena, já tive a graça de sentir e anunciar: “Eu vi o Senhor” (Jo 2,1.11-18). Agora sou cristão católico que amo a Igreja que me acolhe. Não a vejo agora como uma “religião” mas como uma forma de vida. Por isso, não a dispenso, mesmo com todas as suas limitações. Porque não consigo estar em processo de ressurreição contínuo sem me alimentar de Cristo Ressuscitado que está também na Eucaristia. Que pena ainda se confundir este agir ressuscitado e ressuscitador com a pertença a “idologias hodiernas” (?!). Quando tal acontece, o Senhor quer que saibamos que não se chega à ressurreição sem passar pela morte. Viver a ressurreição, em cada ano, é a possibilidade de retemperar as forças para transportar, comigo, evidências de que “o amor é mais forte que a morte”(Ct 8,6). Eugénio Fonseca Presidente da Cárias Portuguesa |
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A Tenda do Mistério |
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Que penso da ressurreição? Nesta Quaresma alguém, antes de iniciar a Confissão, me perguntou: ”acredita na ressurreição?”-“ Claro. Acha que estaria aqui se não acreditasse? Nem sei por onde andaria.” Depois fui dizendo para mim próprio: “nem sei que sentido teria a minha vida, por que teria nascido, por que teria aceite ser padre, como acreditaria na bondade e na misericórdia de Deus”. De facto proclamo com a comunidade “creio na ressurreição” mas, dito isso, como que passa a um pressuposto silencioso mas essencial da minha vida, que vai atravessando os meus momentos mais decisivos, alegres ou dolorosos, as razões mais profundas da minha existência, o suporte mais sólido da minha esperança. Depois, começo a não sentir-me tão seguro quando me ponho a pensar no “como” e no “quando” e, ainda menos se ponho a desenhar cenários a partir do que conheço, visualizar as formas como me exprimo. Vou aos teólogos, aos místicos, Paulo, Tomás, Damasceno e vejo-os envolvidos na nuvem do mistério como aconteceu no Monte com Pedro, Tiago, João, a Voz, o Estrondo, o Mistério e a |
vontade de Pedro de ficar por ali. Pedro tinha razão: o melhor é instalar uma Tenda de Mistério e prolongar essa contemplação. De contrário aterramos como que desiludidos, com os pés e as mãos magoados da aspereza do real, a sentirem a dimensão maravilhosa mas estreita da terra que, por muito que queiramos, nos recolhe por uns tempos o corpo – venham agora os filósofos explicar a dualidade – e nos deixa a alma perplexa e incompleta – outro trabalho para os filósofos. Nem Jesus se cansou em transformar em sistema o facto maravilhoso de se definir como “a ressurreição e a vida”. Na essência da vinda de Jesus sempre ficou ténue o admirável véu que nos separa de Deus ao mesmo tempo nos envolve e faz sentir envolvidos pelo Seu Rosto que um dia veremos face a face. Parecendo tudo isto uma divagação intimista sobre um ponto essencial da nossa fé, acaba por tocar todas as franjas da nossa existência, porque tem a ver com a nossa vida profissional, as nossas óticas, a leitura da realidade, a interpretação da história, a aceitação dos limites, a ultrapassagem das derrotas, a luz que |
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sempre se acende quando a noite e os vendavais parecem devastadores de qualquer iluminação nas trevas que tantas vezes nos envolvem. Como veríamos este mundo de hoje, desta Páscoa, com crianças vítimas de tragédias, bombas suicidas a rebentarem pelas praças mais armadas, novos vírus e epidemias a imporem velhas ameaças, continentes e países a reforçarem fronteiros com
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cortinas de ferro, refugiados repelidos como novos invasores, terroristas disfarçados de refugiados... e não vai a meio o relatório. Tudo isto poderia suscitar em todos a pergunta como dúvida: acredita na ressurreição? A resposta é simples: o que seria de tudo isto, e sobretudo de nós, sem a ressurreição?
Padre António Rego
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A ressurreição convida-nos a confiar |
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A Ressurreição, um dos pilares do Cristianismo, é um mistério para mim. Evidentemente não presenciei, nem fui uma das mulheres que visitaram o sepulcro de Jesus, “sabiam que estava morto e caminhavam na certeza desse facto”.[1] A minha perspectiva, a única que posso partilhar, é de uma leiga que muito indirectamente observa, lê, interpreta, se inspira e que simplesmente e essencialmente acredita. Acreditar, ter Fé, é natural para mim. A contemplação da Vida e do Mundo deixa-me invariavelmente agradecida e certa de que existe um Criador pleno de amor e bondade. A vida é essencialmente boa e todos somos um bocadinho dessa Criação. Acredito com máxima naturalidade no que o Cardeal Patriarca Senhor D. José Policarpo uma vez me disse: “também tu tens um bocadinho de Deus”. Pelas mãos do meu marido (e do estimado Padre Alberto Sousa, sj), acabei de ver um documentário sobre uma sobrevivente do Holocausto, a pianista Alice Sommer. |
Um testemunho inspirador por muitas razões, entre elas pela forma como fala da importância da música na sua vida. Dizia Alice Sommer que Música é... Deus. Há uns anos, o Papa Bento XVI falava aos artistas referindo que a Música tinha a capacidade única de nos elevar para um plano imediatamente espiritual, distante de um plano físico e do quotidiano. Escutar a inspiração de grandes compositores ao longo da história, a maravilha da criação musical faz-me, de novo, certa no divino, num Deus e numa humanidade maravilhosos. Este forte sentimento que tenho de que a vida é essencialmente bela e boa (ou que para lá tende), de que todos nós, artistas, fazemos parte da Criação através da geração de Beleza, acompanha-me nesta reflexão sobre a Ressurreição; reforça em mim um pedido do Papa Francisco, que nos alerta para não nos concentrarmos nos mortos mas nos vivos e na recordação d”as maravilhas que o Senhor fez ao longo da vida”. Ressurreição, dizem os dicionários e os catecismos, significa erguer. |
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[1] Papa Francisco, Homilias Pascais |
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Para mim, o simples exercício de contemplação que nomeava - da Criação, da Natureza, da simplicidade de uma flor que agora desabrocha, do nascimento de uma criança - faz renascer em mim uma contínua esperança. Uma vez perguntaram-me, numa entrevista, o que pensava da morte. Penso que respondi de forma semelhante: penso ser impossível compreender o que será realmente, ao meu nível terrestre; mas tenho a certeza de que o que vier será bom. Se, no meio da desgraça humana existe sempre um gesto de caridade e misericórdia, se, no meio do maior sofrimento existe um milagre, terá de ser bom. Repito, se somos constantemente confrontados com a possibilidade do milagre na nossa vida, terá de ser bom. Felizmente, estes sinais são reais, eu própria tenho tido o privilégio de os sentir ao longo da minha caminhada, em momentos muito bons e muito maus. A renovação deste sentimento de esperança e confiança de que o virá será bom (ou pelo menos sempremelhor), de que é possível (mesmo quando temos a certeza, no maior sofrimento, do contrário) nos reinventarmos com a maior simplicidade, de que a felicidade existe realmente e que a podemos construir, é a minha forma pouco complicada de sentir a |
Paixão e Ressurreição em cada ano que passa. Ao longo da minha carreira tenho tido a sorte de tocar obras maravilhosas que me convidam da forma mais bela a reflectir sobre a natureza, a vida e todo o mistério que envolve a Criação. Em 2009, em Sydney e anos depois na Nova Zelândia, colaborarei com o extraordinário e profundo encenador, criador e pensador Peter Sellars numa produção de “Oedipus Rex” e Sinfonia dos Salmos, de Igor Stravisnky. A narrativa era perfeita: a destruição a que assistimos na história do Rei Édipo é sucedida por redenção, esperança e confiança. Hoje, Ressurreição convida-nos a confiar, como sempre. Stravinsky, na sua maravilhosa sinfonia dos Salmos, cita o salmo 40 que bem ilustra esta convicção:
Esperei com paciência no Senhor, e ele se inclinou para mim, e ouviu o meu clamor. Tirou-me dum lago horrível, dum charco de lodo, pôs os meus pés sobre uma rocha, firmou os meus passos. E pôs um novo cântico na minha boca, um hino ao nosso Deus, muitos o verão, e temerão, e confiarão no Senhor.
Uma boa Páscoa para todos. Joana Carneiro |
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D. José Ornelas, Bispo de SetúbalMensagem de Páscoa 2016 |
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A aproximar-se a conclusão do caminho quaresmal, preparamo-nos para celebrar a festa maior das celebrações cristãs: o tríduo pascal, memorial da morte e ressurreição do Senhor Jesus. É um tempo para recordar os acontecimentos fundadores da nossa fé, que continuam a inspirar a nossa existência, a guiar o nosso caminho, a motivar o nosso empenhamento na família, na comunidade cristã, na sociedade onde nos inserimos. É sobretudo um tempo de recuperar e renovar a esperança, sem ignorar os problemas dramáticos que nos rodeiam e sem deixar-se submergir por eles. Ao celebrar a morte do Senhor, não podemos esquecer que Ele assumiu voluntariamente o destino de cada homem e de cada mulher, neste mundo: a injustiça dos inocentes condenados à prisão, à miséria, ao desemprego, à via dos exilados e desprotegidos; o sofrimento dos doentes e dos feridos nos atentados e na guerra; a solidão de tantos anciãos abandonados; o desespero dos famintos, das crianças sem carinho, dos que buscam em vão |
um lugar seguro e digno para viver. Ele assumiu tudo isso sem se resignar ao medo ou ao comodismo, à violência ou à vingança. Ele experimentou todo este drama substituindo a vingança pelo perdão, o ódio pelo amor, a crueldade pelo carinho para com a vida, a arrogância pelo serviço, a miséria pela partilha e multiplicação do pão, o esquecimento pela solidariedade do samaritano que se aproxima e carrega quem foi abandonado à borda da estrada. Não se resignou nem se poupou ao sofrimento e à morte, mas abriu através deles um caminho para a vida, a alegria e a esperança. Por isso celebramos a Páscoa, sem esconder sob o tapete do comodismo ou do medo o sofrimento e a morte, mas expondo-os ao sol do amor e do poder de Deus, com o qual é possível construir um futuro novo e jubiloso, nesta terra e na plenitude da vida de Deus. Este não é um sonho de quem não abre os olhos aos dramas do mundo, mas a teimosa esperança de quem os assume com amor e dom de si mesmo, na certeza de que Deus, mesmo do |
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sofrimento, do ódio e da morte, é capaz de gerar alegria, carinho e vida. É com a certeza desta esperança que desejo a todos uma PÁSCOA FELIZ, porque o Senhor Jesus ressuscitou.
Setúbal, 21 de Março de 2016
+ José Ornelas Carvalho Bispo de Setúbal |
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MENSAGEM PASCALA maior obra de misericórdia |
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Na tarde daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas as portas da casa onde os discípulos se encontravam, com medo, (…) veio Jesus…(Jo.20,19). Queridos irmãos e irmãs: Regressado da morte e trazendo no seu corpo as chagas gloriosas, Jesus saúda os discípulos com palavras habituais entre os judeus mas que neste momento alcançam a plenitude do seu significado e da sua eficácia: “a paz esteja convosco!” Com esta saudação entrega-lhes o precioso fruto da Sua Páscoa: a paz e a alegria do perdão e da reconciliação com o Pai que têm o poder de nos recriar, de fazer de nós criaturas novas. E envia-os pelo mundo inteiro com o poder de anunciar e de dar esse mesmo perdão a todos aqueles que acreditarem no Evangelho: “assim como o Pai Me enviou também Eu vos envio a vós”. Dito isto soprou sobre eles e disse-lhes: “Recebei o Espírito Santo: àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados e |
àqueles a quem os retiverdes ser-lhes-ão retidos”. (Jo.20,21-23) Libertar as pessoas da escravidão do pecado e do medo, esta é a missão da Igreja em todos os tempos e lugares, esta é hoje a nossa missão e a maior obra de misericórdia que devemos praticar: anunciar a vitória de Cristo sobre a morte e ajudar as pessoas a encontrar-se com Ele para que recebam o perdão dos seus pecados, tenham Vida em seu nome e possam cantar connosco: é eterna a sua misericórdia! Desejamos a todos uma vivência intensa da Páscoa. O Senhor vos abençoe e vos dê a Sua paz e a Sua alegria! Rezai por nós.
+ António Vitalino + João Marcos |
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Mensagem PascalPáscoa, a plenitude do amor misericordioso |
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Platão, o filósofo grego, trata o tema do amor de uma forma curiosa. Recorre a uma fábula –um “mito”, diz ele- segundo a qual o amor é filho de Póros (o Engenho) e de Penía (a Pobreza ou Penúria). Então, a mãe do Amor chama-se Pobreza e o pai, Engenho. Que é que este mito quer dizer? Que o amor se origina na pobreza ou carência humana. Que em todos nós há um vazio, uma insatisfação, que tentamos «engenhosamente» suprir com o amor. E que este se apresenta como uma porção mágica ou remédio que intenta três funções: preencher o tal vazio, transformar a pobreza em riqueza e conduzir a pessoa a um estado de felicidade. Mas se esta noção de amor vale para os humanos, não se aplica a Deus. Deus, que é a própria plenitude, não tem necessidades de qualquer espécie. Não é um pobre carente, como nós, um insatisfeito, um mendigo da atenção. Pelo contrário, é Ele mesmo a superabundância da felicidade. Por isso, se nos criou, rigorosamente não é por precisar do nosso amor, por esperar que |
retribuamos o amor que nos dirige: Deus não nos criou para obter de nós qualquer coisa que Lhe falte. Assim sendo, a criação do homem e do mundo que este habita só se compreende como produto de um amor que se difunde e que não espera nada em troca. Apenas que abramos o nosso coração a ele. É o amor ilimitado que vai de encontro às nossas carências para as eliminar, que completa o que falta ao nosso vazio interior e que transforma em sentido para a vida a dor da chaga originada no medo de que a nossa existência não se realize. E esse amor tem um nome: chama-se Misericórdia. Ou Salvação, que é o mesmo. Então, na Páscoa, e muito mais na Páscoa do Ano Jubilar da Misericórdia, somos chamados a contemplar a enorme grandeza de um Amor –“Deus é amor”, garante-nos S. João (1Jo 4, 8)- que nos envolve como graça, ternura, plenitude, felicidade, sentido, misericórdia, salvação. É o «Amor puro», que colmata e branqueia o nosso amor impuro, isto é, a perene tendência à posse e domínio da outra parte: o instinto não de fazermos os |
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outros felizes, mas a exigência de que os outros nos façam felizes a nós. E como nos enganamos tantas vezes neste beco sem saída!… Precisamos de pensar mais neste estranho paradoxo entre o que habitualmente designamos por amor e a misericórdia. Vulgarmente, quando falamos em amor, exigimos que o outro seja perfeito, para o amar sem reservas. Quando as imperfeições aparecem, o amor diminui. E o amor do bem conduz ao ódio do mal. Com as consequências que se conhecem: tornamo-nos insensíveis, rígidos, inflexíveis, mal-humorados. E facilmente chegamos ao ódio. Pelo contrário, a misericórdia aumenta quando o mal é maior. Quando a misericórdia vê um mal, sente-o como seu e compromete-se a libertar a pessoa. Ela destrói as barreiras, todas as barreiras. Leva a sacrificar-se para socorrer quem precisa, mesmo a sofrer para fazer a outra parte feliz. Eis, pois, a Páscoa de Cristo: não se trata de um simples «amor», na significação que a nossa linguagem corrente dá a esta palavra, mas da mais completa e plena misericórdia. Não é o amor que aumenta ou diminui de acordo com a |
correspondência da outra parte, mas a Misericórdia que abraça a todos, mesmo que o não mereçam e até a rejeitem. Ela faz-nos ver a grandeza de Deus: o seu operar magnânimo é completamente diferente da nossa mesquinhez interesseira. E assim se compreende o mistério pascal: Jesus Cristo entregou a própria vida à morte para que nós, pecadores ou «criminosos», possamos ter a vida. E vida em plenitude, pois se trata da participação da própria vida divina. Caros militares e polícias, no nosso próprio interesse, deixemos que a misericórdia do Redentor supra as nossas carências e infelicidades. Abramos o nosso coração ao Senhor da Misericórdia! A todos, feliz Páscoa! O vosso irmão e amigo,
+ Manuel Linda |
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«Páscoa em oração» para pais e filhos
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A Fraternidade Verbum Dei promove o retiro “Páscoa em oração”, na sua casa de Vale de Lobos, em Sintra, uma atividade aberta às famílias que visa ajudar a viver mais intensamente esta Semana Santa. “Muitas vezes as pessoas agradecem o silêncio e essa possibilidade de se encontrarem cara |
a cara com Jesus”, explica Paula Jordão, uma das organizadoras da atividade, em declarações à Agência ECCLESIA. Orientada para pessoas de todas as idades, a iniciativa pretende levar os participantes a “sintonizarem” o seu espírito com o tempo da Páscoa.
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Segundo Paula Jordão, no meio de “tantas celebrações”, de tanto “conteúdo”, torna-se por vezes “difícil” interiorizar “os impactos” que este tempo litúrgico tem ou pode ter, na vida de cada um. “Deus passa às vezes de uma maneira insuspeitável, dá a cada pessoa aquilo que ela precisa”, aponta a missionária. Os quatro dias de retiro, até ao Sábado Santo, são pontuados pela celebração do Tríduo Pascal mas também pelo lançamento de “pistas de oração”, pela “pregação” ou testemunho, pelos “tempos com Maria”, tudo preparado pelos missionários e missionárias Verbum Dei. “Uma das grandes apostas que sempre temos feito é permitir que casais com crianças até aos 12 anos não deixem de poder rezar porque têm as crianças e precisam de tomar conta delas”, conta Paula Jordão. Para contornar esta questão, a Fraternidade Verbum Dei disponibiliza para os mais novos um espaço chamado “Casa da Alegria”, com monitores e educadores. Assim, “enquanto os pais rezam, durante a manhã e a tarde, sabem |
que os seus filhos estão a fazer jogos, brincadeiras e alguma dinâmica parecida com a deles, apropriada à idade”. Deste modo, todos, pais e filhos, podem “viver” o retiro da melhor maneira, “cada um dentro das suas idades e necessidades”. Paula Jordão destaca a energia positiva que as crianças, com a sua “alegria”, levam a todos os participantes, mesmo quando o sono já leva a melhor e os pequenos deixam-se dormir “a partir da quarta ou quinta leitura da vigília pascal”. “É também a alegria de experimentar que elas fazem parte desta nossa fé à sua maneira”, realça aquela responsável. O retiro de Páscoa da Fraternidade Verbum Dei em Vale de Lobos termina com a vigília pascal de sábado e com um espaço de ação de graças, “já na antecipação da ressurreição” de Cristo. |
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A dimensão social dos meios
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Em plena semana maior, vamos continuar a observar um pouco sobre aquilo que a Igreja tem escrito sobre os meios de comunicação social. Conforme nos diz o Catecismo da Igreja Católica, “o desenvolvimento positivo dos média ao serviço do bem comum é uma responsabilidade de todos e de cada um”, devido ao forte impacto que os média têm na sociedade, ao nível político, económico e social, é então necessário fazer-se uma seleção que salvaguarde a dignidade da pessoa humana e a sociabilidade plena entre as diversas pessoas. Assim sendo, deveremos ter em conta três opções fundamentais: a formação, a participação e o diálogo, diz João Paulo II na carta apostólica “O rápido desenvolvimento”. Do ponto de vista formativo é necessário fazer com que os meios de comunicação social sejam usados de maneira consciente e apropriados no espaço e no tempo. As novas tecnologias modificam os processos e a qualidade das relações humanas, razão pela qual sem a adequada formação se corre o risco de, em vez de estarem ao serviço |
das pessoas, as instrumentalizar e as condicionar. Isto é válido para todas as pessoas, mas tem mais pertinência nos jovens devido à sua apetência natural para as inovações tecnológicas. Têm por isso necessidade de serem educados para o uso responsável e crítico dos novos meios tecnológicos. Por outro lado, no âmbito da participação co-responsável que é necessário existir na gestão do acesso aos meios de comunicação social há um longo caminho a percorrer. Se as comunicações são um bem para toda a humanidade, devem ser encontradas formas de disponibilização massiva e uma ampla participação na sua gestão de maneira co-responsável. Por último e não menos importante, deve-se favorecer o diálogo, fazendo das enormes potencialidades dos meios de comunicação social um veículo de transmissão de conhecimento, de solidariedade e de paz. “Eles constituem um recurso positivo e poderoso, se forem postos ao serviço da compreensão entre os povos; se forem usados para alimentar injustiças e conflitos, tornam-se ao contrário uma "arma" destruidora. Concluindo |
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com uma reflexão espantosa de João Paulo II, “Não tenhais medo das novas tecnologias! Elas incluem-se "entre as coisas maravilhosas" "inter mirifica" que Deus pôs à nossa disposição para as descobrirmos, |
usarmos, fazer conhecer a verdade, também a verdade acerca do nosso destino de filhos seus, e herdeiros do seu Reino eterno.”. Fernando Cassola Marques fernandocassola@gmail.com |
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Proteger a Criação: Reflexões sobre o Estado do Mundo«O grau de progresso de uma civilização mede-se precisamente pela capacidade de salvaguardar a vida, sobretudo nas suas fases mais frágeis, mais do que pela difusão de instrumentos tecnológicos.» - Papa Francisco |
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Fez, no dia 13 de março, três anos que Jorge Mário Bergoglio foi eleito Papa. Três anos de pontificado marcado por inúmeras reformas e ideias inéditas, nem todas bem aceites pela ala mais conservadora da Igreja. Através do seu carisma, simpatia, intimidade e afabilidade paterna — unidos à desarmante normalidade das suas palavras e dos seus gestos, nada calculistas, livres de toda a formalidade e por vezes até de toda a prudência diplomática, o Papa Francisco quer sensibilizar os crentes e todos os homens de boa vontade
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sobre as dramáticas condições atuais do planeta; um apelo para que a criação volte a ser uma bela casa e uma família fraternal capaz de gerar um futuro de justiça e de paz para todos. A pergunta-chave é esta: como se deve agir, a nível político e económico, ético e espiritual, para corrigir os desvios de um desenvolvimento que não ameaça apenas prejudicar a Terra, mas também empobrecer e degradar o Homem que a habita? A sua advertência e o seu apelo são dirigidos às responsabilidades
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individuais e coletivas no uso racional dos recursos naturais, que a todos pertencem e que devem, portanto, ser distribuídos e utilizados em proveito de todos. É este o humanismo que Francisco tem vindo a traçar com toda a lucidez como projeto de civilização para a casa comum, apelando ao empenho e contributo de cada um, para que o mesmo se torne possível.
Proteger a Criação: Reflexões sobre o Estado do Mundo (Nascente l 208 pp l 14,39€), já à venda em todo o país, é um livro que nos fala precisamente das ideias de Papa Francisco.
A Nascente disponibiliza os primeiros capítulos para leitura imediata, aqui. |
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II Concílio do Vaticano: Quando os seminaristas eram «estorninhos»
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Cinquenta anos depois do II Concílio Vaticano II (1962-65), a realidade dos seminários em Portugal alterou-se radicalmente. Foram intensas as transformações que muito contribuíram para uma renovação da Igreja. O Papa João XXIII quando anunciou (1959) a intenção de convocar um concílio marcou o início de uma nova era na vida da Igreja. Com a realização desta assembleia magna, na Basílica de São Pedro, durante o pontificado de João XXIII e do Papa Paulo VI, e os documentos conciliares nascidos neste período, a realidade posterior tinha, indubitavelmente, de ser diferente. Ora, a renovação traz sempre consigo uma dinâmica que se contrapõe “dolorosamente ao imobilismo e à estagnação das ideias e dos costumes assentes num conservadorismo estagnado e perpétuo” (In: MENDES, João Maria Borges da Costa de Sousa; «O Seminário de Angra – 150 anos de formação»). Na referida obra, o professor do Seminário Episcopal de Angra (Açores) realça que este confronto entre o estável e conservador e o inovador e progressista provocou, sem dúvidas, “transformações que uns aceitaram e acarinharam de bom grado enquanto outros opuseram sérias resistências a tudo o que era novo”. Este debate de ideias marcou a vida daquele seminário, naqueles anos da segunda metade do século passado, no entanto, aos poucos e poucos, “foi-se adaptando aos ensinamentos e à dinâmica conciliar”. Para o padre João Maria Borges da Costa de Sousa |
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Mendes, esta dinâmica conciliar começou a ganhar raízes, tanto na vertente exterior como na vivência eclesial. Os seminaristas ficaram cada vez “mais arredados das tradicionais vestes talares e dos passeios em numeroso grupo pelas ruas da cidade, ao ponto de serem jocosa e carinhosamente tratados por «estorninhos» ou «melros pretos»” (lê-se na página 70 da obra citada). Por outro lado, a sua formação pós-conciliar começou a abordar uma .
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vivência eclesial completamente diferente”.
Sem querer fazer juízos de valor, o sacerdote açoriano revela que estas transformações trazidas pela riqueza e diversidade dos documentos conciliares tiveram “um tremendo impacto” na vida do Seminário de Angra a partir de 1965, “gerando mesmo diversas controvérsias pessoais e institucionais que só o decorrer do tempo e os futuros historiadores poderão analisar com a frieza científica”.
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Março 2016 |
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19 de março. Portalegre – Sardoal - Procissão do Enterro do Senhor integrada nas celebrações da Semana Santa do Sardoal
. Viseu, 21h00 - Procissão do Enterro do Senhor no centro histórico da cidade. O percurso tem início na Igreja dos Terceiros e termina na Sé Catedral
. Algarve, Faro, 21h00 - Procissão do Enterro do Senhor promovida pela Santa Casa da Misericórdia de Faro e presidida por D. Manuel Quintas, bispo do Algarve
. Lisboa – Óbidos, 21h30 - Procissão do Enterro do Senhor integrada nas celebrações da Semana Santa de Óbidos
. Coimbra - Estádio Municipal, 21h30 - Via sacra na cidade promovida pelo Arciprestado de Coimbra Urbana que vai circundar o estádio municipal . Guarda – Pinhel, 21h30 - Encenação da Paixão e Morte de Jesus nas ruas de Pinhel e o elenco conta com jovens portadores de deficiência |
26 de março. Santarém - Museu diocesano - Encerramento (início a 08 de dezembro) da exposição sobre São frei Gil de Santarém integrada nas comemorações dos 750 anos da sua morte
. Lisboa – Óbidos, 15h00 - Concerto «Sinos da Terra - piano e sinos» por Fernando António dos Santos e integrado nas celebrações da Semana Santa de Óbidos
. Guarda - Pousade (Anfiteatro), 21h00 - Encenação do «Drama da Paixão de Cristo» integrada nas celebrações da Semana Santa
27 de março. Portalegre – Sardoal - Procissão da Ressurreição integrada nas celebrações da Semana Santa do Sardoal
. Braga – Guimarães - Encerramento da exposição «A Paixão em Guimarães» |
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. Guarda – Fundão – Encerramento da Edição da Quadragésima, um ciclo de turismo religioso dedicado às tradições da Quaresma e da Páscoa, com o tema «Rostos da Paixão».
. Setúbal - Casa da Baía – Encerramento da Exposição «Via da Misericórdia» que retrata o percurso de «Cristo com a Cruz até ao Calvário», com 15 trabalhos de diversos artistas plásticos
28 de março. Porto - Valongo (Espaço paroquial) - Encerramento da exposição sobre Maria Madalena promovida pela Confraria do Senhor dos Passos e da Paróquia de Valongo
30 de março. Fátima - Centro Pastoral Paulo VI - Congresso da Misericórdia organizado pela Congregação dos Padres Marianos da Imaculada Conceição (termina a 03 de abril) . Terra Santa - Peregrinação à Terra Santa inserida no curso «O Mundo da Bíblia» (termina a 11 de abril) |
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Ao longo do tríduo Pascal, de norte a sul do país, existem várias formas de viver os últimos dias de Jesus até à Ressurreição.
- O Papa Francisco escolheu o cardeal Gualtiero Bassetti, da diocese italiana de Perugia, para criar as reflexões da tradicional Via Sacra do Coliseu de Roma, 25 de março, na Sexta-feira Santa. Os textos propõem meditações sobre as perseguições e a violência que atingem a humanidade.
- A encenação da Paixão e Morte de Jesus volta às ruas de Pinhel, dia 25 deste mês, Sexta-Feira Santa, e o elenco conta com jovens portadores de deficiência. Este ano, enquadrada no ano jubilar, o texto e a encenação vão questionar sobre a Misericórdia e sobre o papel da paixão e da morte de Jesus.
- Diversas instituições religiosas e civis no Concelho da Guarda promovem um roteiro que celebra a Semana Santa com iniciativas culturais e de fé como procissões, exposições, teatro comunitário, música e tertúlias, até 26 de março.
- A Semana Santa da Arquidiocese de Braga privilegia a força das imagens e da encenação bíblica, nas celebrações, procissões e exposições que compõem o programa, para ajudar as pessoas a entrarem no espirito deste tempo pascal.
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Programação religiosa nos media |
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Antena 1, 8h00 RTP1, 10h00 Transmissão da missa dominical
10h30 - Oitavo Dia
11h00 - Transmissão missa
Domingo: 10h00 - O Dia do Senhor; 11h00 - Eucaristia; 23h30 - Ventos e Marés; segunda a sexta-feira: 6h57 - Sementes de reflexão; 7h55 - Oração da Manhã; 12h00 - Angelus; 18h30 - Terço; 23h57-Meditando; sábado: 23h30 - Terra Prometida. |
RTP2, 20h30
RTP2, 15h00 ![]() Segunda-feira, dia 28 - Entrevista sobre Sílvia Cardoso, com o cónego Ângelo Alves e padre Samuel Guedes
Terça-feira, dia 29 - Informação e entrevista a Maria José Vilaça e Vanessa Machado sobre a Teologia do Corpo
Quarta-feira, dia 30- Informação e entrevista ao padre António Valério sobre as II Jornadas Práticas de Comunicação Digital
Quinta-feira, dia 31 - Informação e entrevista Thereza Ameal e Pedro Rocha e Mello sobre o livro "Lúcia, a vida da pastorinha de Fátima".
Sexta-feira, dia 01 - Análise à liturgia de domingo pelo padre João Lourenço e Juan Ambrosio.
Antena 1 Domingo, dia 27 de março - 06h00 - A música de Páscoa
Segunda a sexta-feira, 28 de março a 01 de abril - 22h45 Páscoa: os lugares de Ressurreição na Terra Santa |
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Ano C – Domingo da Páscoa
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Ver e acreditar que Cristo está vivo |
“Levaram o Senhor do sepulcro e não sabemos onde O puseram”. No Evangelho deste domingo de Páscoa, Maria Madalena experimenta o vazio: não há nada, nem mesmo o cadáver do seu Senhor bem-amado. Ela não tinha nada a que se agarrar para fazer o luto. Sabemos bem como é mais dolorosa a morte de um ente querido quando o seu corpo desapareceu, quando não há túmulo onde se possa ir em recolhimento. A Igreja não cessa de repetir que Jesus está vivo, vencedor da morte para sempre. Todos os anos se multiplicam aleluias. Mas ressoa em nós a constatação dos discípulos de Emaús, ao dizerem ao desconhecido, que se lhes juntou no caminho, que não tinham visto o Senhor. Paulo grita: «Onde está, ó morte, a tua vitória?» A nossa experiência poderá perguntar: «Ressurreição de Cristo, onde está a tua vitória?» Apesar do primeiro anúncio «Jesus não está aqui, ressuscitou!», a morte continuou obstinadamente a sua ação de trevas, com os seus fiéis acólitos: doenças, lágrimas, desesperos, violências, injustiças, atentados, guerras… Continuamos a entoar nas nossas igrejas: «Aleluia! É primavera! Cristo veio de novo!» Vemos a primavera, mas nem sempre vemos Jesus. Aqui está a dificuldade e a pedra angular da nossa fé. Dificuldade, porque a Ressurreição de Jesus não faz parte da ordem da demonstração científica. Ficamos encerrados nos limites do tempo, mas Jesus saiu desses limites, Ele está para além do nosso olhar visível. A Ressurreição é, ao mesmo tempo, a pedra angular |
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da nossa fé porque, como o discípulo que Jesus amava, somos convidados a entrar no túmulo, a fazer primeiro a experiência do vazio, para podermos ir mais longe, como o discípulo que viu e acreditou. Daí a importância do sábado santo, tempo de passagem para a vida nova no Ressuscitado. Podemos apoiar-nos e confiar no testemunho das mulheres e dos discípulos. Também eles tiveram que acreditar. A sua fé é essencial para enraizarmos a nossa fé em Cristo Ressuscitado. Como os discípulos, procuremos ver e acreditar que Cristo está vivo, sem correr atrás do maravilhoso que |
sempre nos escapa e dececiona. Durante o tempo pascal, a exemplo de João, exercitemos o nosso olhar para descobrir o Ressuscitado através dos sinais humildes da vida quotidiana. Com os discípulos de Emaús, procuremos descobri-lo a caminhar perto de nós na peregrinação da vida e a abrir os nossos espíritos à compreensão das Escrituras. Que a Páscoa de Jesus Cristo ressuscitado seja a nossa alegria! Sejamos felizes em tempo pascal, intensamente vivido em jubilar ano da misericórdia! Manuel Barbosa, scj |
O lava-pés da Misericórdia
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O Papa Francisco decidiu celebrar o rito do lava-pés na próxima Quinta-feira Santa, com 12 refugiados e refugiadas de vários países, anunciou hoje a Santa Sé. A celebração da tarde de Quinta-feira Santa, início do Tríduo Pascal, vai decorrer no centro de requerentes de asilo de Castelnuovo di Porto, cerca de 30 quilómetros a norte do Vaticano, que recebe sobretudo jovens refugiados. |
O gesto quer ser "um sinal simples, mas eloquente" de atenção pela condição dos refugiados, explica ao jornal do Vaticano o arcebispo Rino Fisichella, responsável pela organização dos vários eventos do Jubileu da Misericórdia. "O Papa vai ajoelhar-se para lavar os pés a 12 refugiados, como sinal de serviço e atenção à sua situação", acrescentou.
A decisão de celebrar esta cerimónia |
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fora do Vaticano é já uma tradição no atual pontificado: em 2015, Francisco foi ao complexo de Rebibbia, onde o Papa lavou os pés a alguns detidos e a detidas de uma prisão feminina vizinha; em 2014, o pontífice argentino deslocou-se ao Centro ‘Santa Maria della Provvidenza’, da Fundação Don Carlo Gnocchi, destinado à reabilitação de pessoas com deficiência e idosos, em Roma; em 2013 esteve numa prisão juvenil da capital italiana. Uma das mudanças promovidas pelo Papa Francisco, a nível litúrgico,
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foi a decisão anunciada este ano de modificar a rubrica do Missal Romano relativa ao lava-pés de Quinta-feira Santa, estabelecendo que a participação no rito não seja limitada só aos homens e rapazes. O Missa Romano passa a deixar de fazer referência aos “homens escolhidos”, passando a falar nos “escolhidos entre o povo de Deus”, de maneira que os responsáveis pelas comunidades católicas “possam escolher um grupo de fiéis que representem a variedade e a unidade de cada porção do povo de Deus”. |
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Confissão: «Uma prenda extraordinária»
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A viver o ano da Misericórdia, proposto pelo Papa Francisco trazemos o tema do perdão. A Ecclesia foi ao encontro do padre monfortino Rui Valério, Diocese de Lisboa. Ele é Missionário da Misericórdia e confessa várias horas por semana. De voz calma e olhar intenso o sacerdote explica que as pessoas ainda não perceberam a força |
impeditiva do pecado.
“Ainda não aprendemos a descobrir que na origem e a montante de tantos comportamentos que não aceitamos e ate condenamos mas está a presença e toda a força do pecado, aquela que impede e não deixa ser”.
“O tempo de arrependimento serve para o Homem rasgar as suas noites e olhar com esperança porque restitui |
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e resgata o Homem das suas prisões e limitações”.
O sacerdote consagrado antes de se sentar para confessar não necessita de grande preparação porque acredita que “a preparação é contínua”
“A melhor preparação que um sacerdote confessor faz é habilitar-se e treinar-se na escuta da voz de Deus. Quando faço espaço em mim, disponibilidade para ouvir Deus e o seu apelo, estou habilitado a ouvir o grito sofredor do meu irmão que se sente esmagado pelas suas culpas e faltas”. O sacerdote rui Valério é também ele neste ano Missionário da Misericórdia enviado pelo Papa Francisco, tem a faculdade de perdoar pecados “reservados”, ou seja, que só podem ser perdoados pela Santa Sé. Na conversa com a Ecclesia o sacerdote mostrou-se feliz pela nomeação e olha para o sacramento da reconciliação como um espaço de luz. “Eu quando entro numa sala e está às escuras, pode estar suja ou desarrumada mas como está às escuras nem vejo a sujidade, nem manchas, nem desarrumação. Mas, pelo contrário, se abrir janelas, deixar entrar luz, então começo |
a ver que tudo precisa de limpeza. Na vida do ser humano é o mesmo, quando mais me aproximar da luz de Deus mais eu enxergo a vida pecaminosa que me caracteriza”, refere. Em jeito de convite o Missionário da Misericórdia, padre Rui Valério, deixa a mensagem para todos os que andam a pensar aproximarem-se de um sacerdote para se confessarem nestes dias que antecedem a Páscoa. “Não tenham medo de Deus, o sacerdote é apenas um meio para receber algo que o próprio Deus te quer dar, o bálsamo, o medicamento e uma cura”. “Há esperança em cada vida, mas isso só é possível quando desfrutarmos, quando estivermos ‘empapados’ da força do amor que Deus quer transmitir e comunicar. Há uma prenda extraordinária através da reconciliação”, conclui. |
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Sudão do Sul: No meio do horror, uma história felizA rapariga escrava |
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Desde Dezembro de 2013 que o Sudão do Sul está a ferro e fogo. É uma guerra civil que já causou dezenas de milhares de mortos e mais de dois milhões de refugiados. No meio deste ódio à solta, descobrem-se as maiores atrocidades. Há até pessoas, rapazes e raparigas, escravizadas. Adut, teve sorte. Um padre resgatou-a quando já estava meio moribunda
No Sudão do Sul vive-se uma das mais tenebrosas guerras da actualidade. Tudo começou poucos dias antes do Natal de 2013. Esta guerra não chega a ser ideológica ou religiosa. É meramente tribal e isso explica, em parte, todo o ódio à solta, a violência descontrolada. Para além de tudo isto, há ainda um ambiente de violência, na região fronteiriça com o vizinho do norte, o Sudão, país islâmico cada vez mais radicalizado. Essa região, com centenas de quilómetros, é terra de ninguém. Esse vazio tem sido terreno fértil para grupos mercenários |
actuarem na maior das impunidades. A tal ponto que por lá é possível, hoje em dia, comprar e vender pessoas fazendo com que a escravatura continue actual. No meio da indiferença com que tudo isto acontece, há pessoas que lutam contra este estado de coisas. O Padre Aurélio Fernandez assumiu a missão de resgatar o maior número possível destes condenados a uma vida de escravidão. Uma das jovens que salvou é Adut. Aurélio encontrou-a num mercado à espera de comprador.
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“Um animal”Adut tinha as pernas ensanguentadas e infectadas. O Padre Aurélio perguntou quanto custava. A resposta veio fria e seca: “Ninguém compra um animal em mau estado”. Por estar em “mau estado”, o Padre Aurélio conseguiu até resgatar todo o grupo por um preço mais baixo. Normalmente, um rapaz custa cerca de 300 euros. As raparigas ficam por “apenas” 250… Hoje estão todos em liberdade e a reaprender a viver sem grilhões. Adut era uma rapariga normal que vivia na sua aldeia quando ocorreu uma rusga de militares sudaneses. Todos fugiram em |
alvoroço. Por ali ninguém confia nos militares. Adut também fugiu. Um soldado, a cavalo, viu-a, foi ao seu encalço, lançou-lhe uma corda e arrastou-a, pelo chão, durante vários quilómetros. Depois, como se não bastasse toda essa violência, violou-a. Era apenas “um animal em mau estado”, terá pensado. O Padre Aurélio chegou a tempo ao mercado de escravos. Mais uns dias e, provavelmente, não sobreviveria. A Fundação AIS lançou uma campanha de apoio à Igreja do Sudão do Sul. Sem os holofotes das rádios e das TV´s, há, neste país mergulhado em guerra, muitos padres Aurélio que todos os dias procuram salvar alguém das garras dos mercenários, do ódio tribal, da pobreza extrema. No Sudão do Sul há pelo menos dois milhões de homens, mulheres e crianças que estão de mãos estendidas e que precisam de nós. Estamos no Ano da Misericórdia. Eles precisam da nossa ajuda e das nossas orações. Todos eles contam consigo.
Paulo Aido |
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Páscoa em Angola |
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Tony Neves |
Há terras, por esse mundo além, onde as palavras podem dizer mais. É talvez o que acontece com a Páscoa em Angola. O povo viveu uma longa quaresma de sofrimento, desde o início da guerra colonial até ao fim da guerra civil. Foram quarenta anos! As marcas são ainda muitas, embora o fim dos combates tenha acontecido há 14 anos, após a morte do Dr. Jonas Savimbi em 2002. Um longo caminho de morte deixa sempre muito rasto que é difícil de apagar. Até porque as sequelas de uma guerra tão longa e tão cruel fazem ainda parte da vida de muitos angolanos. Assim, o acesso a um trabalho bem remunerado, tudo quanto diz respeito a saúde, educação, habitação, segurança, distribuição e terras… isto deixa ainda muito a desejar. O país continua a pertencer a poucos e a muita riqueza de Angola está nas mãos de uma minoria. As pessoas, regra geral, não confiam nos políticos, não consideram a justiça independente, acham que falta competência em muitas instituições. E é pena, pois Angola deveria ser hoje uma referência mundial de cidadania responsável, uma vez que possui tem meios e gente competente para tal. Angola é um país onde a Fé cristã ganhou raízes. A maioria da população diz-se cristã, com prática dominical muito elevada. Olhando ao período crítico do pós-independência (1975), em que o combate à Religião foi visceral, não era previsível que tanta gente se mantivesse fiel aos seus princípios e convicções religiosas. Mas a verdade |
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é que as Igrejas estão cheias e as celebrações são grandes e longas festas. Esta Semana Santa encherá todas as medidas de Fé do povo. A Quinta-feira Santa celebra a instituição da Eucaristia. A sexta-feira é de longo silêncio, jejum e abstinência para sintonizar com a paixão e morte de Cristo. A Vigília Pascal será uma festa de luz e de baptismos. A manhã de Páscoa amplificará o grito de Ressurreição de Cristo e espalhará pelo país inteiro a vitória da vida sobre todas as formas de morte. |
Sabe bem mudar de continente e cultura para viver, de forma diferente, estas celebrações maiores do calendário cristão. Precisamos de ver crianças e jovens às centenas a dizer-nos que a Fé está viva e que a Igreja tem futuro. É esta a experiência que estou a fazer numa visita que me permitiu passar pelo Dundo, Lucapa, Saurimo, Malanje, Kalandula, Golungo Alto, Luanda, Huambo, Chinguar, Benguela, Lobito…
Uma Santa e Feliz Páscoa para todos.
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