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Sandra Costa Saldanha D. José Cordeiro Paulo Rocha Guilherme d'Oliveira Martins
26-35 - Dossier - Papa Francisco
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Foto da capa: Radio Vatican
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Modelo duradouro
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Uma nova etapa para o património
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Sandra Costa Saldanha |
Na data em que se celebra o Dia Internacional dos Monumentos e Sítios, retomamos o tema do inventário, assunto eminente, que constitui entre nós um dos aspetos mais relevantes na abordagem aos Bens Culturais da Igreja. Ferramenta insubstituível para a sua proteção, valorização e tão almejada fruição, pese embora a consciência de tudo isso, prevalecem os procedimentos avulsos. Apenas uma pequena percentagem, na ordem dos 15% dos locais de culto afetos à Igreja Católica em Portugal, possui os seus inventários elaborados com qualidade. Identificados alguns problemas técnicos concretos, uma das grandes dificuldades reside na manifesta desigualdade de procedimentos, traduzida na ausência de uma atuação concertada. E é assim que, no quadro das suas competências, o SNBCI tem procurado encontrar caminhos que potenciem e operacionalizem os esforços de cada diocese. Empenhado na implementação de um projeto nesta área, que proporcione uma atuação continuada e fomente a cooperação institucional, um primeiro passo foi dado, com a criação de um Grupo de Trabalho. Com a missão de definir estratégias e dinamizar iniciativas, prevê o |
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apetrechamento dos serviços mais carenciados com meios técnicos adequados, numa acão que conta com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian. Objetivos estruturados em várias fases, em ordem a agilizar os trabalhos, promover a sua divulgação, uniformizar procedimentos e otimizar a relação entre dioceses, prevê também várias iniciativas nos domínios da normalização, disponibilização e |
formação, adequadas à realidade específica do património eclesial. Processo longo, que obrigará a um empenhamento responsável e consequente de todos os intervenientes, não se trata apenas de conhecer e registar este legado, mas de o devolver, com dignidade e apreço, à sua primordial função pastoral, estimando-o, valorizando e dotando das condições necessárias ao cumprimento dessa missão. |
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Pastor guia o seu rebanho Ierissos, Grécia, 12.04.2013 Dimitri Messinis/Associated Press |
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Só agora percebo o ter paciência. As pessoas têm de estar preparadas para serem surpreendidas. Até para amarem, serem amadas ou para serem felizes durante um tempo. A paciência é uma forma de risco - das mais perigosas que se podem correr. Miguel Esteves Cardoso, 16.04, (Público)
Não podemos e não devemos reduzir o Papa às nossas interpretações nem às nossas visões parcelares do que deve ser a Igreja. Se assim for, podemos correr o risco de passar ao lado da riqueza e da novidade das suas interpelações. Pedro Leal, 15.04, (Renascença)
Não é difícil compreender que os nossos sentimentos e gestos são determinantes, não só para a nossa felicidade neste mundo, como também para a da outra vida, de que esta faz parte. Repousa em nós, calma e firme, a certeza de que a vida não se mede pela quantidade dos dias... mas pelo amor de que se foi autor e herói. José Luís Nunes Martins, 13.04, (i)
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Quando (…) para alguns escritores se começam a fechar as portas de editoras cujos interesses e objetivos se concentram cada vez mais só no lucro, impõe-se destacar a relevância e o significado do início da saída das “Obras Completas” do Padre António Vieira, numa edição bem sistematizada e organizada, rigorosa, excelente (…). José Carlos de Vasconcelos, 17.04, (Jornal de Letras)
Nós hoje somos gente contemporânea e estamos integrados numa sociedade liberal cuja principal apetência não é tanto a segurança, mas a liberdade de cada um. Quando trocamos facilmente a liberdade pela segurança, as inquisições estão à porta. D. Manuel Clemente, 12.04, Ipsilon (Público)
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Papa disponível para visitar Portugal |
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O Papa recebeu hoje o novo embaixador de Portugal junto da Santa Sé, António Almeida Ribeiro, e mostrou-se disponível para visitar o país, tendo em vista o centenário das aparições de Fátima, em 2017. “Ele (Francisco) manifestou a sua total disponibilidade” para participar nas celebrações, disse o diplomata à Agência ECCLESIA, após a audiência privada para apresentação das cartas credenciais, a primeira do atual pontificado. “Manifestei, em nome de Portugal, enorme respeito e enorme gratidão pelo facto de o Papa Francisco ter decidido consagrar o pontificado a Nossa Senhora de Fátima”, declara. Segundo António Almeida Ribeiro, o Papa teve “palavras de extrema simpatia para com Portugal” e evocou a importância de Fátima. “Gostaríamos de recordar o centenário das aparições”, precisa o embaixador,
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para quem, “uma visita (papal) a Portugal seria, naturalmente, o corolário dessas comemorações”. O embaixador de Portugal realça a “excelência” das relações com a Santa Sé e diz ter encontrado um Papa “extremamente simpático e simples”. No encontro aludiu-se também ao 500.º aniversário da embaixada que o rei D. Manuel enviou ao Papa Leão X. Esse foi "um marco muito significativo das relações entre Portugal e a Santa Sé”, refere o diplomata.
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António Almeida Ribeiro encontrou-se ainda com o secretário de Estado do Vaticano, cardeal Tarcisio Bertone, com quem falou sobre as relações bilaterais “no quadro da Concordata que foi revista e assinada em 2004”. “Também da parte do cardeal Bertone foi reconhecido que não existem problemas graves, pelo contrário”, conclui o embaixador. António Almeida Ribeiro substituiu Manuel Tomás Fernandes Pereira, que passou à disponibilidade no dia 2 de abril de 2012, quando completou 65 anos. |
Durante a apresentação das cartas credenciais, no Vaticano, o Papa recebeu uma caixa com um ‘decanter’ especial e uma garrafa de vinho do Porto 20 anos, oferta do Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto (IVDP), como homenagem pela sua eleição como bispo de Roma. Para Manuel de Novaes Cabral, presidente do IVDP, “com esta iniciativa pretende-se marcar um momento muito especial de uma instituição milenar, a Igreja Católica, para a qual o vinho tem um significado litúrgico muito particular”. |
Bispos apelam à oração pelas vocações |
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O bispo de Santarém, D. Manuel Pelino, considera que as comunidades cristãs precisam de padres "e reclamam quando estes faltam”, embora “nem sempre” tratem “com verdadeiro zelo de rezar e chamar para que haja pastores suficientes”. “Todos sentimos que, nalgumas zonas, são verdadeiramente necessários mais alguns padres a exercer o ministério para que o trabalho pastoral não sobrecarregue tanto os que estão no ativo”, refere a mensagem enviada à Agência ECCLESIA sobre o 50.º Dia Mundial de Orações pelas Vocações, que a Igreja Católica assinala este domingo. “Quem chama os possíveis candidatos? Quem os faz refletir, rezar e escutar a voz de Deus neste ambiente ruidoso e disperso? Quem os acompanha e apoia no discernimento e na decisão de entrar no Seminário? Serão os animadores diocesanos ou os que vivem no terreno em contacto com os possíveis vocacionados?”, questiona. Já o bispo de Beja, D. António Vitalino, pede aos católicos para rezarem pelo
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“surgimento de novas vocações” ao sacerdócio e à vida religiosa que sejam “fermento, sal e luz para a sociedade humana e politica”. Na sua nota semanal, enviada à Agência ECCLESIA, o prelado observa que “o fundamento da esperança cristã e as respostas daí provenientes nem sempre são aquilo que a maioria das pessoas deseja”, embora a Igreja possa contribuir “indiretamente” para concretizar essas aspirações. A Igreja Católica em Portugal está a assinalar a Semana de Oração pelas Vocações, que adota o mote do Dia Mundial de Orações pelas Vocações, dedicado em 2013 ao tema ‘As vocações, sinal da esperança fundada na fé’, escolhido pelo Papa emérito Bento XVI. |
Igreja atenta à pobreza e desemprego |
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O presidente da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade (CNIS) disse à Agência ECCLESIA que o desemprego, “o grande drama de Portugal”, diminui a esperança e aumenta a depressão, o vício e a marginalização. Com a falta de trabalho “as pessoas ficam mais deprimidas, mais sujeitas a criarem vícios e também mais marginalizadas, dado que uma pessoa desempregada perde um grupo de relações e não está em condições de criar novos laços”, sublinhou o padre Lino Maia. Quem não tem ocupação profissional “perde a esperança porque um desempregado é alguém que, provavelmente, não encontrará trabalho nos próximos anos”, acrescentou o responsável à margem do seminário ‘Pobreza e Direitos Humanos’ que decorreu na Assembleia da República, em Lisboa. Para o padre Lino Maia as soluções para atenuar a pobreza passam por “insistir muito no apoio à família, assim como na cooperação entre o Estado e as organizações de apoio social, que estão a fazer muito mas que podem fazer mais”. O responsável sugeriu igualmente a “promoção de atividades de |
proximidade nas zonas mais deprimidas do país, aproveitando os vários equipamentos devolutos”, a par da disseminação em várias localidades de serviços do Estado, como escolas e centros de saúde, em vez de optar pela concentração. O seminário ‘Pobreza e Direitos Humanos’, promovido pela Plataforma Portuguesa das Organizações Não Governamentais para o Desenvolvimento, foi aberto pelo deputado Alberto Martins. O bastonário da Ordem dos Advogados, António Marinho Pinto, o presidente da Amnistia Internacional, Victor Nogueira, o diretor da revista CAIS, Henrique Pinto, e o investigador José Manuel Pureza, do Centro de Estudos da Universidade de Coimbra, foram alguns dos intervenientes no encontro.
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IDE a JOSÉ |
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D. José Cordeiro Bispo de Bragança-Miranda |
O Papa Francisco inaugurou, providencialmente, o seu ministério petrino na solenidade de S. José. O Bispo de Roma, primeiro na caridade, surpreende constantemente pelos gestos e palavras e convida desde o início a não termos medo da bondade e da ternura. Um dia, durante um retiro em Itália, Pedro Arrupe exortou aos sacerdotes: «sede bons! Parece que a maldade se está a apoderar do mundo; A maledicência e a malevolência ocupam cada vez maiores espaços e penetram cada vez mais profundamente». Na Liturgia da Igreja, José de Nazaré é o «servo fiel, humilde e silencioso», homem justo e prudente, «patriarca do silêncio e do trabalho». S. José é um facilitador da vida em Cristo. De facto, a liturgia, ao celebrar os mistérios da vida do Salvador, sobretudo os do nascimento e da infância, comemora frequentemente a figura e o papel de São José: no tempo do Advento; no tempo de Natal, em particular na festa da Sagrada Família; na solenidade do dia 19 de Março; na memória do 1º de Maio. O nome de São José ocorre no Communicantes do Missal Romano e na Ladainha dos Santos...». Evocando o texto do Génesis: «quando a fome começou a manifestar-se no Egipto, o povo clamou por pão ao Faraó; mas o Faraó respondeu aos egípcios: “ide ter com José; |
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fazei o que ele vos disser”» (Gn 41,55). «Fazei o que Ele vos disser», são também as últimas palavras de Maria no IV Evangelho, às quais podemos chamar de testamento de Maria. No Sinai, ao terceiro dia, o Deus revelou a sua glória a Moisés. Em Caná, ao terceiro dia Jesus revelou a sua glória, dando o vinho novo. Por outro lado, no Sinai Israel promete: «quanto o Senhor disse, nós o faremos» (Ex 19,8;24,3.7); em Caná, Maria exorta os servos da mesa: «fazei o que Ele vos disser» (Jo 2,5). Há muitos exegetas que ligam estas palavras, àquelas que Faraó disse aos egípcios quando lhe pediram pão nos anos de carestia: «ide a José. Fazei o que ele vos disser». Os servos das bodas são chamados diáconos, os amigos de Jesus. Na verdade, Ele próprio disse no mesmo Evangelho: «vós sereis meus amigos se fizerdes o que vos mando» (Jo 15, 14). É também notável o traço teológico e espiritual que o Papa emérito faz de José. O anjo a José só aparece em sonho «mas num sonho que é |
realidade e revela realidade. Mais uma vez é-nos apresentado um traço essencial da figura de São José: a sua perceção do divino e a sua capacidade de discernimento». José é «aquele que escuta e é capaz de discernimento, como aquele que é obediente e ao mesmo tempo decidido e criteriosamente pragmático» (Jesus de Nazaré. A infância de Jesus, 39.96). O nome José significa Deus acrescenta, provindo do verbo iasàf – acrescentar. Que S. José acrescente à Igreja em Portugal mais chamados para serem enviados a acrescentar o Evangelho da Esperança. Não tenhamos medo de ir a José e ser como ele, recebendo Deus no coração e na inteligência e de O comunicar na alegria da fé, da esperança e da caridade. Acima de tudo, «não tenhamos medo da bondade e da ternura» (Papa Francisco). |
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Consensos |
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Paulo Rocha Agência Ecclesia |
Desejaria que existisse um verbo capaz de transferir ação para a palavra “consenso”. Como existe para caminho, por exemplo. |
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Mesmo que não se expresse, sente-se a necessidade de consensos. Todos os cidadãos desejam que o poder de decisão política e económica seja exercido apenas e exclusivamente para oferecer o melhor a Portugal e aos portugueses. E terá de ser assim! Por muitas voltas que se possam dar… |
Infelizmente, há muitas provas de que, quando não se procura o melhor para a sociedade, cai-se com facilidade no pior. Os atentados em Boston comprovam-no! Só mesmo quem abunda em ódio e não encontra sentido para a vida é capaz de provocar a morte aos outros!
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Modelo duradouro de paz ainda está por implementar
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Há 50 anos, o Papa João XXIII publicou um documento sobre a paz na Terra (Pacem in Terris) onde convidava povos e nações a procurarem caminhos de harmonia na confiança mútua. |
Guilherme d’Oliveira Martins, presidente do Centro Nacional de Cultura, deixa a sua análise sobre um texto que surpreendeu a comunidade internacional. |
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Agência Ecclesia (AE) – Como recebeu este documento, na década de 60, este “folar de Páscoa” como lhe chamou o Papa João XXIII?
AE - O que significa isso, qual é o alcance?
GOM – As encíclicas papais, desde Leão XIII, eram dirigidas aos cristãos, |
ao interior da Igreja Católica, e João XXIII ao tratar de vários temas, já lá vamos porque é preciso justificar por que razão é que o Concílio ficou surpreendido com esta encíclica, que foi longamente preparada e é um documento notabilíssimo. Devo dizer que é, com a encíclica Caritas in Veritate de Bento XVI, um dos documentos mais importantes da Doutrina Social da Igreja, ao lado naturalmente do documento que veio a ser aprovado, a Constituição Pastoral sobre a relação entre a Igreja e o Mundo Contemporâneo, Gaudium et Spes. Porque é que ela é surpreendente, esta encíclica? Porque vem tratar de um dos temas que estava sobre a mesa no Concílio e sobre o qual havia resistências, o tema da relação ligada aos sinais dos tempos.Os sinais dos tempos tinham duas aceções, em primeiro lugar a relação entre Deus e o mundo e, por outro lado, a compreensão da evolução da história contemporânea, e era essa que João XXIII tinha em mente.
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AE – Não tanto a questão da paz e do desarmamento? GOM – Primeiro a encíclica tem uma preocupação: relacionar os direitos e os deveres das pessoas. E depois propor, em termos muito audaciosos, um modelo relativamente à organização da sociedade internacional para prevenir e realizar a paz. É preciso ver que 1963 ainda é um momento em que os ecos da Grande Guerra estão bem presentes. Esses ecos obrigavam a compreender que afinal o modelo das Nações Unidas saído da guerra em 1945 começava a ser um modelo que carecia de reformas. Estamos de pleno na Guerra Fria, na bipolaridade entre duas superpotências, os Estados Unidos e a União Soviética, e o Papa considera ser fundamental propor um modelo durável de paz. É muito interessante porque hoje, já finalizada desde 1989 a Guerra Fria, finalizada essa bipolaridade com um sistema de polaridades difusas, em que não há já duas superpotências,
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hoje este documento é mais atual do que nunca e infelizmente não está realizado, uma vez que o Papa propõe uma alteração relativamente ao sistema das Nações Unidas de modo a que haja uma gestão preventiva das condições de paz.
AE –Que receção teve a proposta deste critério nos anos 60? GOM – A recetividade dos homens e mulheres de boa vontade foi positiva, mas a grande questão e a grande preocupação do Papa - que morreria poucos meses depois, esta é a ultima encíclica do Papa João XXIII – era, de uma forma durável, lançar o tema e dizer que não é possível realizar a paz se não houver de facto trabalho, designadamente no âmbito do desenvolvimento. Nesse sentido, a Populorum Progressio que será a encíclica marcante do Papa Paulo VI, vai dar uma sequência natural à Pacem in Terris, dizer afinal que o desenvolvimento é o novo nome da paz. |
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Ou seja, seria indispensável contrariar as desigualdades e garantir que a cultura de paz fosse baseada nessa perspetiva de equilíbrio entre os povos mas sobretudo a compreensão de que direitos e deveres são faces da mesma moeda. Eu ater-me-ia neste ponto rapidamente dizendo o seguinte: o Papa, na primeira parte da encíclica, vai-nos demonstrar que
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a cada direito corresponde um dever. Aliás, as Nações Unidas mais tarde ao comemorarem a Declaração Universal dos Direitos Humanos vieram fazer esse exercício, fazendo no fundo a outra coisa que é sempre necessária quando analisamos um documento de declaração de diretos, que é ver justamente como é que esses direitos são garantidos. | |
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AE – Os deveres que implicam… GOM – Às vezes na opinião pública há uma certa tendência a valorizar mais os direitos do que os deveres, porque os deveres de que muitas vezes se fala são os deveres dos súbditos, não os deveres das pessoas e dos cidadãos. Os deveres de que fala João XXIII, de que falam as Nações Unidas, são os deveres dos cidadãos, daí o apelo à participação ativa, o apelo à responsabilidade. Não há cultura de paz se não houver essa responsabilidade, essa participação, esse empenhamento. Paz não quer dizer pacifismo, no sentido de baixar as mãos, de indiferença, não! Paz é construir permanentemente, através dos direitos e dos deveres, do desenvolvimento humano, do combate das desigualdades e da exclusão, as condições de melhoria e de salvaguarda da dignidade da pessoa humana.
AE – E foi o não assumir essa proximidade ou relação direta entre direitos e deveres que levou à situação humana, social, politica e económica em que estamos hoje?
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Paz não quer dizer pacifismo, no sentido de baixar as mãos, de indiferença, não!
GOM – A crise económica, financeira e de valores que hoje temos decorre da indiferença e da cegueira perante reflexões tão sérias quantas as do Papa João XXIII. Eu devo dizer que o Papa João XXIII tem um prestígio intelectual e moral extraordinário. Eu conheço pessoas de todos os quadrantes, de todos os horizontes, todas as confissões religiosas, que reconhecem o papel insubstituível do Papa. Permita-me aliás referir este primeiro mês do pontificado do Papa Francisco em que há sinais muito semelhantes que nós desejamos que sejam aprofundados, de uma recetividade extraordinariamente positiva da parte dos mais diferentes quadrantes.
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AE – Foi esta encíclica de João XXIII, Pacem in Terris, que motivou os padres conciliares a assumirem esse ‘Esquema XIII’? GOM – Não tenho dúvidas, a história está feita. Aliás, a tese de doutoramento de D. José da Cruz Policarpo, cardeal-patriarca de Lisboa, demonstra-o claramente. É um estudo sobre os sinais dos tempos, onde se dá nota justamente das resistências iniciais e do facto de, a partir desta encíclica, o Concílio não teve outra hipótese se não clara e inequivocamente aprovar em termos extraordinariamente importantes, essa constituição pastoral.
AE – E na linha do que afirmara nesta encíclica João XXIII.
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GOM – Completamente, aliás hoje em 2013 diria que a Doutrina Social da Igreja se tornou mais atual do que nunca, uma vez que ela não é ideológica. A última Semana Social do Porto, que tive a honra de coordenar, disse muito claramente, que a Doutrina Social é para as várias famílias políticas, é para a sociedade toda. Há três documentos fundamentais à luz dos quais deve ser lida a crise contemporânea e encontradas as saídas para a crise: Pacem in Terris, Gaudium et Spes e Caritas in Veritate, que é um documento notabilíssimo e que tem paralelismos com a Pacem in Terris, uma vez que também foi dirigido a todos os homens e mulheres de boa vontade. |
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AE – A segunda parte do documento fala na relação entre seres humanos e poderes públicos, nas comunidades políticas, e aqui introduz a noção do bem comum. Permanece aí com muita atualidade e é a novidade que traz o documento? GOM – Muita atualidade. Devo dizer que aquilo que encontrámos nos mercados financeiros nas últimas décadas foi exatamente a surdez relativamente a esse conceito de bem comum. Assumiu-se a ideia de que o que importava era viver o dia imediato e obter o maior ganho possível, mesmo que isso fosse à custa da dignidade humana. Aconteceu algo que felizmente hoje há sinais de que está a deixar de acontecer, o continente africano não cresceu durante 20 anos. Foi o único continente do mundo, numa lógica de globalização, que não teve crescimento e houve sinais extraordinariamente preocupantes de exclusão, de subdesenvolvimento, de desigualdade. Devo dizer que lemos a Populorum Progressio, onde há pistas extraordinariamente importantes para contrariar as desigualdades, |
e no entanto 20, 30 anos depois, tivemos mais desigualdade.
AE – Permanece por isso atual este conceito de solidariedade dinâmica entre povos e comunidades políticas? GOM – Mais atual do que nunca e sobretudo há a tomada de consciência de que a crise financeira que hoje vivemos não pode ser respondida através dos egoísmos nacionais, de uma lógica de curto prazo, obriga a entender-se que questões tão importantes quanto a proteção do meio ambiente de que fala Bento XVI. Devo dizer que quer na Pacem in Terris quer na Gaudium et Spes, esse tema não estava na altura tanto em cima da mesa, hoje está muito mais pelo que conhecemos, pelos desastres ambientais que tivemos, pelas ameaças que existem.
... aquilo que encontrámos nos mercados financeiros nas últimas décadas foi exatamente a surdez relativamente a esse conceito de bem comum. |
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Hoje temos de dar as mãos uma vez que falar da superação da crise é falar da criação de condições para a paz. Veja-se o caso do Chipre, veja-se o caso do Mediterrâneo oriental, hoje a crise financeira se não for ultrapassada com medidas de justiça, levará à ameaça à paz.
AE – Já na quarta parte deste documento, fala-se diretamente sobre as Nações Unidas, na sua opinião, a partir desta encíclica e das décadas que se seguiram à publicação
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desta encíclica, que reformas é necessário fazer para que as Nações Unidas possam ser de facto uma entidade reguladora da paz. GOM – É um tema muito difícil uma vez que as Nações Unidas hoje estão construídas à imagem e semelhança do fim da Segunda Guerra Mundial. Já tivemos muitos acontecimentos depois, designadamente o sistema do Conselho de Segurança é um sistema defeituoso. |
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AE – Pelo poder de veto de alguns países? GOM – O mal não está no direito de veto, o direito de veto cria situações de equilíbrio, não estou contrário à ideia de haver situações de veto por uma razão simples: não estou a dizer que o veto seja positivo, o indispensável é haver uma busca efetiva de soluções que seja aceites, este ponto é particularmente importante. Considero mais grave o facto de não haver a representação do Brasil, da Índia, e por exemplo a União Europeia não ter uma representação adequada nas Nações Unidas. Não podemos regressar ao sistema da Sociedade das Nações, um sistema precário que não funcionou. O sistema das Nações Unidas não está a funcionar bem, precisa de ser aperfeiçoado. Eu devo dizer que as pistas que João XXIII lançou são as pistas corretas.
AE – No sentido da reforma?
GOM – Temos que regressar à Pacem in Terris e centrar nas preocupações da Pacem in Terris
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O sistema das Nações Unidas não está a funcionar bem, precisa de ser aperfeiçoado. Eu devo dizer que as pistas que João XXIII lançou são as pistas corretas.
a ideia de reforma da Organização das Nações Unidas. AE - E orientar-se por que princípios? GOM – Certamente e sobretudo, considerando aquilo que por exemplo a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura propõe, a partir do diretor-geral Frederico Maior, que é justamente uma ideia de cultura da paz. Essa ideia envolve uma cidadania universal que João XXIII profeticamente nos propõe, é extraordinariamente importante olhar para esta lição do beato João XXIII, que é justamente uma referência universal e cada vez mais atual. |
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"A 11 de abril de 1963, o Papa João XXIII publicava a sua Carta encíclica «Pacem in terris» sobre a paz na comunidade internacional. Foi um gesto profético que teve grande aceitação, realizado pelo Papa que convocou o Concílio Vaticano II, o maior acontecimento eclesial do século XX. |
Mais do que olharmos para o passado, esta efeméride é ocasião para apelar à urgência da paz nos conflitos e guerras em diversos países do mundo e para recordar a importância do conhecimento e prática da doutrina social da Igreja".
Conferência Episcopal Portuguesa
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A Encíclica-Testamento |
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P. Roque Cabral SJ |
«Eco humilde do testamento de Cristo», chamou João XXIII à Pacem in Terris. A sua morte, dois meses mais tarde (03.06.), fez da encíclica como que o seu testamento, dirigido «a todas as pessoas de boa vontade». Diferentemente dos escritos congéneres, em vez de partir das relações entre os estados, João XXIII parte da consideração das pessoas. Pouco fala da guerra, e sempre de um modo positivo. Sublinha, como particularmente importante, o caráter global da paz. A enumeração que faz dos direitos humanos[1] é a mais completa até hoje proposta por qualquer papa. «É absolutamente indispensável que se constitua uma vasta rede de agremiações ou organismos intermediários. Semelhantes agremiações e organismos são elementos muito necessários para salvaguardar a dignidade e a liberdade da pessoa humana, sem lhe comprometer o sentido de responsabilidade» e “tornam mais orgânica e fecunda a vida social»[2]. A maior «novidade» (relativa, aliás), e até «revolucionária», de toda a PT foi provavelmente a relativa à colaboração com os não-católicos. Novidade sobretudo na fundamentação apresentada. Ela consiste, em distinguir teorias de movimentos históricos: «cumpre não identificar falsas ideias filosóficas (...) com movimentos históricos de finalidade económica, social, cultural ou política, embora tais movimentos encontrem nessas |
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ideias filosóficas a sua origem. A doutrina, uma vez formulada, é aquilo que é; mas um movimento, mergulhado como está em situações históricas em contínuo devir, não pode deixar de lhes sofrer o influxo e, portanto, é suscetível de alterações profundas. Aliás, quem ousará negar que nesses movimentos, na medida em que concordam com as normas da reta razão e interpretam as justas aspirações humanas, não possa haver elementos positivos dignos de |
aprovação?». Conclusão prática : «pode, por conseguinte, acontecer que encontros de ordem prática[3], considerados até agora inúteis para ambos os lados, sejam hoje, ou possam vir a ser amanhã, verdadeiramente frutuosos”. A referência, no final de cada uma das partes, a factos em que João XXIII “lia” uma confirmação e garantia de efetivação da doutrina exposta na PT[4] está na origem da expressão Sinais dos Tempos, que fez fortuna. |
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[1] Com referência explícita aos deveres. [2] A repetida referência aos corpos intermédios chamou a atenção, sobretudo depois de certas conclusões tiradas por alguns da comparação entre a Quadragessimo Anno e a Mater et Magistra. [3] No original: congressiones de rerum usu. A passagem parece referir-se aos socialistas e não aos comunistas. Estes, se forem ortodoxos, nunca admitirão a distinção entre o movimento operário e o Parido Comunista: cf. Gilbert Murray, France Nouvelle 17.04.1963. |
50 anos da Pacem in TerrisO arrojo da paz positiva |
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José Manuel Pureza |
Em 11 de abril de 1963, em pleno Concílio Vaticano II, o bom Papa João XXIII tornou pública a Pacem in Terris, dirigindo-a não apenas “ao clero e aos fiéis de todo o mundo católico” – como havia sido feito até então pelos seus predecessores – mas também “a todos os homens de boa vontade”. Arrojada na forma, foi uma encíclica arrojada sobretudo no conteúdo. A Pacem in Terris foi um texto precursor na fixação do conceito de paz positiva no coração da Doutrina Social da Igreja. Toda a estrutura da encíclica é uma exposição dessa noção de paz positiva, ou seja, da noção de que a paz não é “uma coisa de Estados” e é muito mais que o silêncio das armas. Antecipando o que haveria de ser o caminho da peace research desenvolvida em universidades e centros de investigação, João XXIII rompe com as escalas únicas até então consideradas para falar de paz e fá-la atravessar a relação entre indivíduos e comunidades políticas, a relação das comunidades políticas entre si e a relação entre as comunidades políticas singulares e a comunidade mundial. Por outro lado, assume como requisitos indeclináveis da paz o respeito pelos direitos humanos – incluindo quer direitos civis e políticos quer direitos económicos, sociais e culturais, numa lógica de indivisibilidade – e a assunção do bem comum |
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como critério da boa ação política: “a realização do bem comum constitui a própria razão de ser dos poderes públicos, que se encontram, portanto, obrigados a promove-lo, reconhecendo a sua natureza e tendo em conta as respetivas situações históricas” (nº 54). Essa atenção à História concreta traduziu-a a Pacem in Terris na identificação dos ”sinais dos tempos”: à época, o avanço social e económico das classes trabalhadoras, o ingresso da mulher na vida pública e a emancipação dos povos do jugo colonial (nº 40, 41 e 42). Uma construção assim ambiciosa da paz abriu a doutrina da Igreja para a complexidade de problemas como os dos direitos das minorias, da proteção dos refugiados ou da corrida aos armamentos. Arrojada na forma e na análise, a Pacem in Terris foi enfim arrojada no caderno de encargos deixado aos cristãos: “exortamos os Nossos filhos a que participem ativamente na administração pública e cooperem no fomento da prosperidade de todo o género humano” (nº 146); sendo que, para isso, “não basta que estes |
nossos filhos gozem da luz celestial da fé e que se movam pelo desejo de fazer o bem, é necessário que entrem nas instituições da vida civil e possam desenvolver dentro delas a sua ação eficaz” (nº 147). |
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A verdade sobre o homem |
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Estão a cumprir-se 50 anos sobre a publicação da encíclica Pacem in terris, do Papa João XXIII. O aniversário deve proporcionar uma reflexão sobre um documento vindo a lume meses depois da crise dos mísseis em Cuba, em plena guerra fria. Considerada por muitos como um dos mais completos tratados de moral política saídos da doutrina social da Igreja, a Pacem in terris teve a visão profética de um mundo a globalizar-se. João XXIII escreveu, por isso, que nenhum país pode, apenas por si mesmo, proteger a paz ou evitar a guerra, tal a interdependência entre todos. Consequentemente, ousou propor uma organização capaz de definir o bem comum universal – sem esquecer |
que as mudanças individuais potenciam as transformações coletivas. Cinquenta anos depois, o mundo está de facto globalizado. Entretanto, a crise económica e os conflitos que por estes dias se desenham mostram a urgência de não se perder de vista a verdade sobre o homem; e de continuar a afirmar o bem comum como alicerce da vida social. Os 50 anos da Pacem in terris coincidem com os 76 anos da Rádio Renascença, emissora católica portuguesa: uma rádio da Igreja que, como a Igreja, faz do serviço aos homens e mulheres deste tempo o seu caminho.
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Paz na Terra |
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A paz na terra, anseio profundo de todos os homens de todos os tempos, não se pode estabelecer nem consolidar senão no pleno respeito da ordem instituída por Deus.
O progresso da ciência e as invenções da técnica evidenciam que reina uma ordem maravilhosa nos seres vivos e nas forças da natureza. Testemunham outrossim a dignidade do homem capaz de desvendar essa ordem e de produzir os meios adequados para dominar essas forças, canalizando-as em seu proveito.
Mas o avanço da ciência e os inventos da técnica demonstram, antes de tudo, a infinita grandeza de Deus, criador do universo e do homem. Foi ele quem tirou do nada o universo, infundindo-lhe os tesouros de sua sabedoria e bondade. Por isso, o salmista enaltece a Deus com estas palavras: "Senhor, Senhor, quão admirável é o teu nome em toda a terra" (Sl 8, 1). "Quão numerosas são as tuas obras, Senhor! Fizeste com |
sabedoria todas as coisas" (Sl 103, 24). Foi igualmente Deus quem criou o homem à sua imagem e semelhança (cf. Gn 1, 26), dotado de inteligência e liberdade, e o constituiu senhor do universo, como exclama ainda o Salmista: "Tu o fizeste pouco menos do que um deus, coroando-o de glória e beleza. Para que domine as obras de tuas mãos sob seus pés tudo colocaste" (Sl 8,5-6).
Contrasta clamorosamente com essa perfeita ordem universal a desordem que reina entre indivíduos e povos, como se as suas mútuas relações não pudessem ser reguladas senão pela força.
João XXIII, introdução da encíclica Pacem in terris, 11.04.1963 |
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«Pacem in terris»:
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A deputada Maria de Belém Roseira afirmou que a encíclica Pacem in Terris consagra a “opção da Igreja pelos pobres”, discurso retomado pelo Papa Francisco num momento de “igual desigualdade, desemprego e incapacidade de sustento”. O texto escrito por João XXIII descodifica e nega o discurso assente “numa visão da solidariedade como caridade e não numa visão da solidariedade como direitos para além da caridade”, sustenta a presidente da mesa da Assembleia Geral da União das Misericórdias Portuguesas numa conferência sobre os 50 anos da encíclica. “A caridade sendo uma virtude para os cristãos é um ato individual e os direitos pressupõem uma organização coletiva e política da cidade” para “garantir que a solidariedade se faz não através da arbitrariedade mas do respeito”, sendo que a diferença entre a caridade e os direitos situa-se no “agradecimento da caridade” e na “exigência dos direitos”. Esta é para Maria de Belém Roseira a “diferença entre a relação de subserviência e a relação de igualdade”. Para a deputada, os documentos que são “marcas” e que revolucionam “a Igreja e o mundo em geral”, como é o caso da encíclica escrita em 1963, são normalmente alvo de análise no momento do impacto mas posteriormente votados ao esquecimento; anos mais tarde revela-se a sua atualidade quando aproximam a população “de tragédias tão semelhantes que deram origem à sua elaboração”. “Vivemos esta época”. |
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O texto de João XXIII “dirigido a todos os homens de boa vontade” quis, “contrariando o que muitas vezes é o discurso da Igreja assente na Ressurreição que ninguém vê”, dar visibilidade aos “evangelhos naquilo que eles trazem de ensinamentos práticos para a vida de todos os dias”, propondo “orientações dadas de igual forma a homens e mulheres” para a inserção na vida pública. A deputada assinala que a Pacem in Terris é a primeira das encíclicas que “sufraga e incorpora” os Direitos Humanos na Doutrina Social da Igreja (DSI). “A encíclica integra na DSI os Direitos Humanos entendidos como dons da criação, não podem ser ofendidos pois são inerentes à dignidade da pessoa |
humana” coincidindo nos seus cinco pontos principais com os temas da Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948). Maria de Belém Roseira sublinha a reflexão feita por João XXIII sobre as relações entre comunidades políticas e a diplomacia como o caminho para a resolução de conflitos. “A confiança mútua” refere, assente na “verdade como fundamento” para que exista uma “paz duradoura e não haja guerra” é um “marco” proposto pela Igreja que, mais tarde “a legitima e lhe dá força para, por exemplo, se opor à guerra do Iraque” (2003). A intervenção de Maria de Belém Roseira vai estar em destaque no programa de domingo da Ecclesia na Antena 1, dedicado à Pacem in Terris. |
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Pacem in Terris: 50 anos |
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Assinalam-se os 50 anos da publicação da Encíclica ‘Pacem in Terris’. Exercício de memória, obrigatório para salvaguarda do passado, é obrigatório mas que o presente seja efetivamente “dádiva” da oportunidade vivida e o futuro caminho que se quer trilhar na senda da transformação. Celebrar 50 anos de “Pacem in Terris” é lembrar o muito que já caminhámos enquanto Igreja e enquanto homens e mulheres empenhados em ser contributo para o Mundo Novo. Deste texto, escrito a 11 de abril de 1963, por João XXIII, evidenciam-se três linhas de reflexão: a afirmação dos Direitos Humanos e a conjugação entre direitos e deveres; a solidariedade entre todos os povos, criando-se inclusive uma autoridade mundial para este efeito (ONU); compromisso dos cristãos para com as questões “terrestres”. A partir destes três pontos de leitura, que não esgotam a importância do documento no seu todos, percebemos que este foi um marco na história da humanidade e também na história da Igreja, como instituição, e na vivência pessoal dos cristãos. “Quando as relações de convivência se colocam em termos de direito e dever, os homens abrem-se ao mundo dos valores culturais e espirituais, quais os de verdade, justiça, caridade, liberdade, tornando-se cientes de pertencerem àquele mundo.” (Pacem in Terris,39). |
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O momento que vivemos dá-nos a oportunidade de olhar para este texto e a partir dele fazer a “refundação” daquilo que é hoje a sociedade, a política e económica e, também, a própria Igreja. O Papa Francisco colocou-nos, ele próprio, nesse caminho de renovação de identidade. Hoje, como há cinquenta anos, levantam-se aos países e aos povos questões graves de cisão e de conflito. São questões de âmbito político mas também de origem económica, financeira e de justiça. Hoje, como há 50 anos, continuam a existir povos sem acesso aos direitos básicos e, em muitos casos, aos direitos políticos. Também a própria ONU deverá fazer a avaliação da sua |
missão à luz daquilo que foi escrito há 50 anos. Continua a haver sinais de predomínio de um sistema que privilegia a riqueza e os próprios cristãos deverão ser capazes de agarrar este momento social, mais até do que político e económico-financeiro, para verdadeiramente se envolver nas questões sociais mas de uma forma que deverá ser de estreita colaboração, cooperação e articulação. Formulamos votos para que, ao assinalar este aniversário e vivendo o mundo e a Igreja um período tão forte de “recomeço”, se retomem as orientações que emanam desta Encíclica que mudou o pensamento da Igreja e a sua forma de estar no mundo na leitura dos “sinais do tempo”. |
Festa nos 250 anos dos Clérigos
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O Porto vai assinalar entre sábado e domingo os 250 anos da Torre dos Clérigos, um dos ex-libris da cidade, com um programa de concertos de carrilhão e atuações musicais «non stop» (sem parar). A iniciativa, promovida pela Irmandade dos Clérigos, inclui espetáculos de música barroca e contemporânea à construção do edifício, do século XVIII, na igreja dos Clérigos, por parte dos alunos da Escola Superior de Música do Porto. Depois a inauguração das obras de conservação e restauro da capela de Nossa Senhora da Lapa, a igreja dos Clérigos tem obras “de intervenção e restauro das caixilharias e ferragens dos janelões da frontaria”, disse à Agência ECCLESIA o padre Américo Aguiar, juiz da Irmandade dos Clérigos. A Irmandade dos Clérigos aguarda também “a aprovação do projeto de requalificação total do edifício” por parte da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte, mas existe “a esperança que se possa concretizar o projeto”. O sacerdote revelou que na terça-feira vai decorrer o relançamento do livro ‘Uma aventura no Porto’, de Isabel Alçada e de Ana Maria Magalhães, que terá um capítulo novo relacionado com os 250 anos dos Clérigos, com “a presença de alunos das escolas e colégios da cidade”. Aquele que foi “durante muitos anos o ponto mais elevado do Porto” é para Germano Silva, historiador da cidade, “uma varanda virada para o Rio Douro”. A Torre dos Clérigos chegou a ser aproveitada como “marca para os navios que vinham do alto mar”, salientou. |
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O monumento, projetado pelo arquiteto italiano Nicolau Nasoni (1691-1773), começou a ser construído em 1732 e ficou concluído em 1763; tem 76 metros de altura que podem ser subidos pelos visitantes através de uma escada em espiral com 240 degraus, num edifício que já foi o mais alto de Portugal. O edifício é um monumento nacional desde 1910 e está inserido na zona classificada como Património da Humanidade. |
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O G8 de Francisco |
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O Papa nomeou um grupo de oito cardeais dos cinco continentes para o aconselharem, revelou o Vaticano. "O Santo Padre Francisco, retomando uma sugestão surgida no decurso das Congregações Gerais [reuniões com membros do Colégio Cardinalício] que precederam o Conclave, constituiu um grupo de cardeais para o aconselharem no governo da Igreja universal e para estudar um projeto de revisão da Constituição Apostólica 'Pastor bonus' sobre a Cúria Romana", lê-se no comunicado. O grupo, coordenado por D. Oscar Andrés Rodríguez Maradiaga, arcebispo de Tegucigalpa, Honduras, e presidente da Cáritas Internacional, inclui D. Giuseppe Bertello, presidente do Governatorato do Estado da Cidade do Vaticano, D. Francisco Javier Errázuriz Ossa, arcebispo emérito de Santiago do Chile, e D. Oswald Gracias, arcebispo de Bombaím, na Índia. D. Reinhard Marx, arcebispo de Munique e Freising (Alemanha), D. Laurent Monsengwo Pasinya, |
arcebispo de Kinshasa, na República Democrática do Congo, D. Sean Patrick O’Malley, arcebispo de Boston, nos EUA, e D. George Pell arcebispo de Sidney, na Austrália, completam o elenco do conselho que terá como secretário D. Marcello Semeraro, bispo da diocese italiana de Albano. A primeira reunião está marcada para os dias 1 a 3 de outubro de 2013, revela a nota, acrescentando que o Papa está desde já em contacto com os prelados nomeados. A Constituição Apostólica 'Pastor bonus' (O bom pastor) foi publicada pelo Papa João Paulo II (1920-2005) a 28 de junho de 1988. O texto define a identidade e funções da Secretaria de Estado do Vaticano, congregações, tribunais, e conselhos pontifícios, além das instituições ligadas à Santa Sé e outros organismos da Cúria. O porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi, emitiu uma nota explicativa na qual sublinha que a escolha do mês de outubro para a |
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primeira reunião do grupo visa que o “próprio Papa possa conhecer bem a realidade do Vaticano, os seus problemas, como está a fazer através de audiências com os responsáveis dos dicastérios”. “Naturalmente, o trabalho e a vida da Cúria continuam com total |
regularidade e intensidade”, acrescentou, recordando a visita do Papa à Secretaria de Estado, na qual manifestou “a sua gratidão e proximidade” a todos os colaboradores. |
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Venezuela: Conferência Episcopal
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A presidência da Conferência Episcopal da Venezuela (CEV) manifestou o seu apoio a uma recontagem de todos os votos das eleições presidenciais do último domingo, oficialmente ganhas por Nicolás Maduro, para devolver a “paz social”. “A oposição solicitou ao Conselho Nacional Eleitoral (CNE) uma auditoria de cem por cento dos votos”, recordam os bispos, para quem o pedido não “desmerece o labor” do CNE, antes “reforçaria a sua autoridade moral e daria tranquilidade à população”. As eleições presidenciais de domingo deram a vitória a Maduro, com 50,75% dos votos, seguido pelo líder da oposição, Henrique Capriles, com 48,98%, segundo dados do CNE. A diferença inferior a dois pontos percentuais levou Capriles a exigir uma recontagem voto a voto que tem sido recusada até agora pelas autoridades.
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Os bispos recordam que o pedido da
oposição foi aceite publicamente, num primeiro momento, pelo presidente eleito, e sublinham que a “margem muito estreita de diferença de votos” mantém a “aguda polarização política que afeta a sociedade venezuelana”.
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Bento XVI celebrou 86.º aniversário |
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O Papa emérito Bento XVI completou 86 anos de idade no dia 16 de abril, data assinalada no Vaticano pelo seu sucessor, Francisco. “Ofereçamos a missa por ele (Bento XVI), para que o Senhor esteja com ele, o conforte e lhe dê muita consolação”, declarou o novo Papa, na homilia da celebração a que presidiu na capela da Casa de Santa Marta. O Papa Francisco telefonou depois ao seu antecessor, para lhe desejar os parabéns, revelou o Vaticano. Joseph Ratzinger, Papa emérito, encontra-se na residência pontifícia de Castel Gandolfo, a cerca de 30 quilómetros do Vaticano, desde o final do seu pontificado, a 28 de fevereiro. O Papa Francisco falou também com o |
irmão mais velho de Bento XVI, monsenhor Georg Ratzinger, que se encontra há “alguns dias” no palácio dos arredores da capital italiana. Segundo o Vaticano, o Papa emérito quis festejar o aniversário de forma “familiar e fraterna”. Joseph Ratzinger nasceu em Marktl am Inn (Alemanha), no dia 16 de abril de 1927, e passou a sua infância e adolescência em Traunstein, uma pequena localidade perto da Áustria. No dia 19 de abril de 2005 foi eleito como o 265.º Papa, sucedendo a João Paulo II; a 11 de fevereiro de 2013, Dia Mundial do Doente e memória litúrgica de Nossa Senhora de Lourdes, anunciou a renúncia ao pontificado.
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Professor Lazhar |
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Numa escola do Quebeque, Canadá, uma turma de alunos perde a professora quando esta se suicida. Para a substituir, apresenta-se à direção o Sr. Lazhar, um professor afável com quase vinte anos de experiência, de origem argelina, a quem a diretora informa do sucedido e da necessidade de uma atenção especial aos meninos que lidam com uma perda irreparável. Aceite, o professor enceta a sua relação com a turma de forma simpática e assertiva, enfrentando a distância, a desconfiança e a curiosidade dos alunos. Aos poucos, ajudando-os a ultrapassar a perda sofrida, quer pela sua atitude quer pelos conteúdos que escolhe para lecionar – e que incluem a literatura, a distância entre Lazhard e as crianças vai-se dissipando. Lazhar, refugiado por motivos políticos, que perdeu a sua família na Argélia e teme pela sua situação de cidadão canadiano de pleno direito, conhece bem o sentimento dos alunos... |
Nomeado para o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2011 (que ‘perdeu’ em favor do belíssimo ‘Uma Separação’, de Asghar Farhadi) e galardoado com o Prémio SIGNIS (Asssociação Católica Mundial para a Comunicação) no Festival Internacional de Cinema de Hong Kong 2012, ‘Professor Lazhar’ é a primeira estreia da recém-criada distribuidora Vendetta Filmes. Além da boa |
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notícia que é a entrada de mais um agente no mercado audiovisual nacional, contando com uma equipa jovem apostada no valor do cinema, é a qualidade da obra escolhida para encetar atividade e a opção por um produto ‘diferenciado’ num mercado que não vive os seus melhores dias, que constituem a sua maior surpresa e mais-valia. Primeira obra do realizador e argumentista canadiano Philippe Falardeau, o filme promete, desde a sequência de abertura, um olhar atento e sensível na forma como revela a essência de uma escola: com o cuidado de, simultaneamente a |
abranger como comunidade, observando o movimento coletivo próprio de um tempo de recreio e, atender à individualidade dos alunos que a povoam, focando uma ou outra dinâmica de relação que facilmente se perderia se não fosse esse olhar atento da camara. E o que promete cumpre. ‘Professor Lazhar’ aprofunda de forma simples, tocante e escorreita o tema da morte e a gestão do sentimento de perda e incompreensão, tratando-se das mortes e perdas que são (por motivos políticos e por suicídio), bem enquadrado no quotidiano de uma escola e muito adequado ao universo da infância: sem ceder a excessos dramáticos na abordagem, nem em forma nem em conteúdo; com umbelíssimo trabalho de montagem que não desperdiça nem utiliza nada que não seja essencial ao ritmo, entendimento e envolvência da história; fazendo prevalecer na história e nas personagens, a capacidade de resiliência, a qualidade da relação entre professor e alunos e o contributo de ambas para que uns e outros recuperem a esperança e um sentido para a vida. Margarida Ataíde |
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Semana das Vocações online |
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Em cada ano na terceira semana da Páscoa, celebramos a semana nacional das vocações, este ano sob o tema “As vocações, sinal de esperança fundada na fé”. Tendo em conta a temática em causa, optamos por realizar uma pesquisa num motor de busca pela palavra «vocações». Após uma breve análise dos resultados obtidos, apresentamos neste espaço aqueles sítios que nos pareceram mais bem conseguidos. O nosso primeiro olhar vai para o blogue do sector de animação vocacional do Patriarcado de Lisboa (http://vocacoesxpto.blogspot.pt/), que claramente se destaca pela fantástica capacidade de se posicionar em primeiro através da pesquisa realizada no Google. Apesar de não ser um espaço com grande cuidado em termos de apresentação gráfica, prima essencialmente por congregar um conjunto de propostas (ligações) que claramente estão relacionadas com a pastoral vocacional. De seguida, “viramos a página” e passamos para o espaço virtual dedicado às vocações dos jesuítas portugueses (http://www.jesuitas.pt/vocacoes). |
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Aqui podemos encontrar “ alguns traços que definem o seu "modo de proceder", uma descrição breve das linhas e das etapas de formação, algumas dicas importantes sobre o que é o "discernimento vocacional", e ainda as histórias de vida de vários jesuítas do presente”. Um sítio bastante rico ao nível dos conteúdos que disponibiliza. Posteriormente passamos para o sítio das vocações dos irmãos Carmelitas (http://vocacoes.carmelitas.pt), um espaço virtual eminentemente informativo e com bastantes conteúdos disponíveis. A diocese de Viseu também possui um sítio nos patamares cimeiros ao nível da pastoral vocacional, que se encontra disponível em http://vocacoes.diocesedeviseu.pt . Aí podemos encontrar um espaço com bastantes recursos, nomeadamente com os materiais disponíveis para a |
vivência da 50ª semana nacional das vocações e ainda com outras informações todas elas dedicadas às questões vocacionais. Por último sugerimos um sítio muito bem conseguido da responsabilidade do secretariado diocesano da pastoral das vocações (SDPV) da diocese de Coimbra. Ao digitarmos o endereço http://www.comvocacao.net/ somos presenteados com um espaço virtual riquíssimo, quer ao nível do design bem como dos recursos inteiramente direcionados para a temática vocacional. Fica aqui a sugestão, seja como forma de aprofundar e descobrir o sentido vocacional ou como forma de preparar momentos relacionadas com as vocações, estes são espaços que merecem ser visitados.
Fernando Cassola Marques |
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Obras do Papa nas livrarias portuguesas |
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O livro ‘O verdadeiro poder é servir’, que recolhe textos do atual Papa quando era arcebispo de Buenos Aires, na Argentina, chega hoje a Portugal pela mão das Edições Nascente. “Este é o primeiro livro escrito por Sua Santidade o Papa Francisco que é publicado em Portugal, e a melhor fonte para conhecer a mensagem e os princípios que orientarão o seu pontificado”, refere a editora, em nota enviada à Agência ECCLESIA. O prefácio da obra, assinado pelo sacerdote e jornalista António Rego, sublinha que o livro “expõe escritos inéditos que parecem profecias do Papa Francisco, na transparência de alma que acompanha todos os percursos pastorais, sendo ao mesmo tempo, como ele pede aos catequistas, alguém que ensina e testemunha, nunca separando este dois elementos na comunicação da fé”. O padre açoriano, antigo diretor do Secretariado Nacional das Comunicações Sociais da Igreja, fala do sucessor de Bento XVI como um “homem invulgar”. |
Nesse sentido, a obra hoje lançada é vista como “um manual do pastor de alma lavada, com o Evangelho e o Homem na mesma balança com o ponto de equilíbrio na estonteante misericórdia de Deus”. “É disso que se não tem cansado de falar o Papa Francisco”, complementa o cónego António Rego. O volume está dividido em oito capítulos que mostram «o pensamento e os ensinamentos de Jorge Bergoglio”, como explica Gustavo Larrazábal, diretor da Claretiana, editora argentina que publicou originalmente a obra, em 2007. |
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O cardeal Jorge Mario Bergoglio, hoje Papa Francisco, defendeu a necessidade de uma “cultura do trabalho” para superar as consequências da crise económica, sustentando que a “dádiva” é insuficiente. “É muito importante que os governos dos diferentes países, através dos ministérios competentes, fomentem uma cultura do trabalho e não da dádiva”, declarou, num livro-entrevista agora disponível em Portugal, com edição das Paulinas. O então arcebispo de Buenos Aires, eleito sucessor de Bento XVI a 13 de março, evocava a crise que os argentinos viveram no início deste século e admitia que há momentos em que é necessário “recorrer à dádiva para sair da emergência”. |
“Mas depois é preciso ir fomentando fontes de trabalho porque, não me canso de o repetir, o trabalho oferece dignidade”, disse Jorge Bergoglio aos jornalistas Sergio Rubin e Francesca Ambrogetti, com quem conversou ao longo de mais de dois anos sobre vários temas. ‘Papa Francisco. Conversas com Jorge Bergoglio’ aborda questões relacionadas com as origens, crescimento e vocação do primeiro pontífice do continente americano na história da Igreja Católica. O Papa explica, por exemplo, porque é que sabe cozinhar e como a sua mãe mostrou resistência à decisão de entrar para o seminário por achar que “tudo tinha acontecido demasiado depressa”. |
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João XXIII alerta os jovens portugueses
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O Papa que convocou e presidiu à primeira sessão do II Concílio do Vaticano (outubro a dezembro de 1962) escreveu uma mensagem aos jovens portugueses onde os alerta para os “graves perigos” dos homens, a ponto de esquecerem “a sua origem e o seu fim”. A mensagem lida no dia 21 de abril de 1963, no antigo Estádio José Alvalade (Lisboa), no grande encontro da juventude que reuniu mais de 50 mil jovens católicos, referia também que existia um sentimento de alegria “pelo interesse” dos jovens “aprofundar o estudo da doutrina social da Igreja” e pela solicitude em fazê-la “penetrar, como fermento vivificante, nas estruturas da sociedade”. Na celebração do encontro de jovens, presidida pelo cardeal patriarca de Lisboa, D. Manuel Gonçalves Cerejeira, o prelado afirma que “juventude que escolhe Deus é promessa de ideal heroico na fidelidade à verdade, ao bem, à justiça, ao amor” (Revista «Estudos», órgão do C.A.D.C, maio 1963, Nº 417). O cardeal Cerejeira revelou também aos milhares de jovens que a Igreja e Portugal reviam-se na juventude “com orgulho” porque ambos [Portugal e a Igreja] a formaram, “um na sua ascendência histórica, outra na sua alma”. E acrescenta: “Ao contemplar esta juventude nova, os dois repetem: como é bela”.
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Quando o episcopado português convocou os jovens para o encontro, convidando-os “à aventura heroica” da construção dum Portugal “mais rico, mais humano, mais cristão”, a juventude respondeu afirmativamente o que levou D. Manuel Gonçalves Cerejeira a declarar: “E vós, ó nova Ala dos Namorados, puseste-vos em marcha, enchendo todos os caminhos de Portugal, para vir responder… os novos escolhem Deus”. No encontro magno da juventude portuguesa, o cardeal patriarca pediu também aos jovens para bendizerem a ciência que “repensa o pensamento de Deus, tudo o que foi criado é imagem do Verbo”. Se o mundo “fosse absurdo, obra do acaso cego e arbitrário, sem inteligência criadora e ordenadora, como poderia a própria ciência existir?”, questionou e acrescentou de seguida: “a ciência, ainda quando não afirma Deus, supõe-no”. Ao fazer referência ao pensamento moderno que se foi “afastando progressivamente de Deus”, desde |
“Kant a Karl Marx, acabando no niilismo intelectual e moral do materialismo”, o bispo de Lisboa Em relação ao mundo do trabalho, o prelado português disse aos jovens que “não vos bastará ser cristãos fervorosos; será preciso que sejais também cientificamente competentes, tecnicamente capazes e profissionalmente peritos”. A “maior parte” da juventude de “todos os países do mundo” procura “em Deus luz de orientação, segurança de doutrina, paz de consciência, justiça e caridade difundidas em qualquer ordem e setor da convivência humana”, escreveu o Papa que convocou o II Concílio do Vaticano aos jovens portugueses. Por sua vez, D. Manuel Gonçalves Cerejeira, um dos padres conciliares, disse à juventude, presente no antigo Estádio de Alvalade, que esta, ao escolher Deus, “salva ao mesmo tempo, a razão, a esperança e a liberdade”. |
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abril 2013 |
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Dia 20
* Faro - Seminário (21h00m) - Vigília de oração pelas vocações promovida pelo Secretariado da Pastoral Vocacional.
* Aveiro - D. António Francisco Santos reúne-se com os secretariados de EMRC
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* Leiria - Marrazes - Salão da Junta de Freguesia - Noite de fados para ajudar a financiar a ida à Jornada Mundial da Juventude promovida pelo grupo de jovens do Caminho Neocatecumenal da Paróquia de Marrazes. * Guimarães - Basílica São Pedro do Toural (21h30m) - Concerto-oração pelo grupo EFFATHA que apresenta o albúm «Chama de Graça». |
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* Coimbra - Arganil (Igreja matriz) - Recital de órgão |
* Fátima - Encontro nacional das Reparadoras Missionárias da Santa Face. |
Ano C - 4º Domingo do Tempo Pascal |
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Escutar a voz do Pastor é seguir Cristo |
No Evangelho deste quarto domingo do tempo pascal, Jesus é apresentado como Bom Pastor. Por isso se chama o Domingo do Bom Pastor, que coincide com o Dia Mundial de Oração pelas Vocações. A missão de Cristo é trazer a vida plena às ovelhas do seu rebanho, convidadas a escutar, acolher e seguir o Pastor. A primeira leitura dos Atos dos Apóstolos propõe duas atitudes diferentes diante da proposta que o Pastor Cristo nos apresenta: ou somos ovelhas cheias de autossuficiência, satisfeitas e comodamente instaladas nas nossas certezas; ou somos ovelhas sempre atentas à voz do Pastor, dispostas a arriscar tudo para O seguir até às pastagens de vida abundante, de vida total, de felicidade sem fim. A leitura do Apocalipse insiste também nesta meta final para todo aquele que segue Cristo. «Sou eu». Quem de nós não exclamou tantas vezes esta expressão? Nem se torna necessário dizer o nome. «Sou eu» não se diz a um desconhecido.
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Para entrar na intimidade de alguém, é preciso uma relação longa, um “viver-com”, uma familiaridade, no sentido pleno da palavra. Isso só se pode viver na duração, na fidelidade, na paciência. «Eu sou o Bom Pastor». Jesus coloca-Se num registo de intimidade para falar da sua ligação com os discípulos, vivida durante três anos. Tornaram-se seus amigos. Várias vezes, Jesus só precisou deste grito para Se fazer reconhecer: “Sou Eu!” Os discípulos não podiam enganar-se: esta voz era a do Mestre, única no mundo. Com Jesus, não é o meu nervo auditivo que vibra à sua voz, mas a audição do coração que me torna atento quando a sua Palavra é proclamada em Igreja, quando a leio e medito. É ela que vem fazer vibrar o |
meu ser profundo, que me toca o coração. Torno-me então capaz de integrar, na minha vida e na minha maneira de pensar e de agir, a maneira própria de ser, falar e agir de Jesus. A minha vida vai ganhando cor evangélica e a minha consciência vai-se afinando à vontade do Pastor, torno-me discípulo de Jesus e reconheço a sua presença na minha vida. Aí está um trabalho de longo alcance, para toda a vida. Escutar a voz do Pastor é seguir Cristo. Não é essa a vocação própria de todo o batizado: fazer-se eco da voz do Bom Pastor no coração do mundo? Que este Dia Mundial de Oração pelas Vocações nos leve a uma renovada atitude de oração e de empenho pelas vocações na Igreja, sinal de esperança fundada na fé, sempre no seguimento de Cristo. Manuel Barbosa, scj |
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Programação religiosa nos media |
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Antena 1, 8h00 RTP1, 10h00 Transmissão da missa dominical
11h00 - Transmissão missa da igreja de Nossa Senhora-a-Branca, Braga
12h15 - Oitavo Dia
Domingo: 10h00 - O Dia do Senhor; 11h00 - Eucaristia; 23h30 - Ventos e Marés; segunda a sexta-feira: 6h57 - Sementes de reflexão; 7h55 - Oração da Manhã; 12h00 - Angelus; 18h30 - Terço; 23h57-Meditando; sábado: 23h30 - Terra Prometida. |
RTP2, 11h30Domingo, dia 21 - Cinema: a arte de dizer o real.
RTP2, 18h00Segunda-feira, dia 22 - Entrevista a José António Falcão. Apresentação do Festival Terras sem Sombra.
Terça-feira, dia 23 - Informação e rubrica sobre o Concílio Vaticano II com Teresa Messias;
Quarta-feira, dia 24 - Informação e rubrica sobre Doutrina Social da Igreja, com Alfredo Bruto da Costa;
Quinta-feira, dia 25 - Memórias do 25 de abril. Entrevista a D. Manuel Martins. Rubrica "O Passado do Presente", com D. Manuel Clemente
Sexta-feira, dia 26 - Apresentação da liturgia dominical pelos padres Robson Cruz e Vitor Gonçalves.
Antena 1 Domingo, dia 21, 06h00 - No Dia Mundial de Oração pelas Vocações, conheça testemunhos de quem escutou a voz de Deus na descoberta vocacional.
Segunda a sexta-feira, dias 22 a 26 de abril, 22h45 - Procura de liberdade: testemunhos de quem quer ser livre de variadas formas
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- Nesta quinta-feira ao final da tarde, em Lisboa, o Centro de Reflexão Cristã acolhe o Colóquio «É Possível Construir a Felicidade Pública?» A partir das 18h30 a investigadora em Psicologia positiva Helena Marujo e o mestre em Filosofia Porfírio Silva participam na reflexão aberta ao público e com entrada gratuita.
- Também hoje é inaugurada a 10.ª edição do festival internacional de cinema IndieLisboa. «Hollywood está a ficar sem ideias. Vem ao IndieLisboa ver algo novo» é o tema dos 10 dias que conta, pelo quarto ano consecutivo, com um júri da Igreja Católica, que atribui o prémio ‘Árvore da Vida’, resultante de uma parceria entre os Secretariados Nacionais das Comunicações Sociais e da Pastoral da Cultura. O Festival encerra na noite de 28.
- Braga acolhe no dia 20 uma jornada de sensibilização organizada pelo Serviço Pastoral a Pessoas com Deficiência, organismo católico, que tem como objetivos ajudar as pessoas diretamente afetadas pela deficiência a refletirem como é que a Igreja as acolhe e fomentar dentro das estruturas eclesiais soluções de integração e plena participação.
- Desde há 50 anos que a Igreja católica assinala o Dia Mundial de Oração pelas Vocações. A entrega incondicional da vontade própria a Deus, oração, fé e esperança constituem alguns dos apelos incluídos na mensagem escrita pelo Papa emérito Bento XVI para este dia, este ano a 21 de abril. |
A REPÚBLICA CENTRO AFRICANA ESTÁ A SAQUE“As pessoas fogem com medo…” |
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É um cenário quase apocalíptico que nos chega da República Centro Africana. O Bispo de Bangassou, Juan José Aguirre – conhecido como “o bispo dos pobres de África" –, descreve-nos um mundo quase surreal, cenário de ataques, pilhagens e anarquia.
D. Juan José Aguirre, comboniano e Bispo de Bangassou, descreve à Fundação AIS os tristes acontecimentos que ocorreram no país após o golpe de Estado de 24 de março e a chegada dos rebeldes à sua diocese. As suas palavras desvendam um cenário de horror. “Há roubos a toda a hora. As pessoas fogem com medo, procurando, em desespero, conservar o pouco que têm”, escreveu o bispo. Há como que uma sombra tenebrosa que parece querer esconder a República Centro Africana dos olhares do mundo. Ninguém vê, ninguém quer ver. As palavras do bispo Aguirre são quase uma raridade. Este “bispo |
dos pobres de África”, como é conhecido, descreve-nos um cenário de violência, de pilhagens e de medo. “Os Espiritanos tiveram de mudar-se, pois durante duas noites seguidas quiseram atacá-los com facas e machados. Nas casas das religiosas, chegaram a querer levar uma das irmãs à força”, diz-nos o missionário descrevendo a situação que se vive no país e que se agravou substancialmente na sua diocese desde março com a chegada a Bangassou dos “Selekas”.
Cenário de violência Segundo D. Aguirre, “os Selekas são um grupo rebelde que inclui gente do Chade e do Sudão. Trata-se de jovens |
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recrutados à força para engrossarem as fileiras armadas. Só estão interessados nos despojos, no saque”. D. Aguirre recorda os acontecimentos em Bangui: "Enquanto estávamos na Missa de Domingo de Ramos, começámos a ouvir os disparos de metralhadoras e de armas pesadas durante três horas. Então, rebeldes armados entraram na Catedral de Bangui. Estávamos no final da missa. De repente, começaram a disparar para o teto. Todas as pessoas se deitaram no chão, com medo das balas. Obrigaram a entregar as chaves dos carros... enquanto iam disparando rajadas de metralhadora. As crianças choravam de terror." Desde 2002, que a Fundação AIS tem apoiado a Igreja desta antiga colónia francesa que vive há mais de vinte anos em guerra civil e que, dizem as estatísticas, é o 2º país mais pobre do mundo. A ajuda, materializada em cerca de 240 projetos, num valor de 2,5 milhões de euros, destinou-se a garantir a sobrevivência dos sacerdotes, apoio a seminaristas, bem como para diversas atividades de construção e de educação. Saiba mais em www.fundacao-ais.pt |
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«(…) exige o bem comum que os poderes públicos operem positivamente no intuito de criar condições sociais que possibilitem e favoreçam o exercício dos direitos e o cumprimento dos deveres por parte de todos os cidadãos. Atesta a experiência que, faltando por parte dos poderes públicos uma atuação apropriada com "respeito à economia, à administração pública, à instrução", (…) as desigualdades entre os cidadãos tendem a exasperar-se cada vez mais, os direitos da pessoa tendem a perder todo seu conteúdo e compromete-se, ainda por cima, o cumprimento do dever». Pacem in terris, 63 |
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