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Octávio Carmo D. Pio Alves António Rego Miguel Oliveira Panão José Carlos Patrício Diocese de Beja
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D. António Vitalino |
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Foto da capa: DR Foto da contracapa: DR
AGÊNCIA ECCLESIA Diretor: Paulo Rocha | Chefe de Redação: Octávio Carmo Redação: Henrique Matos, José Carlos Patrício, Lígia Silveira, Luís Filipe Santos, Sónia Neves Grafismo: Manuel Costa | Secretariado: Ana Gomes Propriedade: Secretariado Nacional das Comunicações Sociais Diretor: Padre Américo Aguiar Pessoa Coletiva nº 500966575, NIB: 0018 0000 10124457001 82. Redação e Administração: Quinta do Cabeço, Porta D 1885-076 MOSCAVIDE. Tel.: 218855472; Fax: 218855473. agencia@ecclesia.pt; www.agencia.ecclesia.pt;
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Opinião |
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Mudança episcopal em Beja
D. Pio Alves | António Rego | Miguel Oliveira Panão | Octávio Carmo| José Carlos Patrício |Fernando Cassola Marques | Manuel Barbosa Paulo Aido | Tony Neves |
Ajustes de contas |
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Octávio Carmo |
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Jesus, é sabido pelos relatos dos Evangelhos, costumava ir ao encontro de gente pouco recomendável para os padrões da época. Os seus críticos usavam repetidas vezes como argumento a proximidade de Cristo com “pecadores e publicanos” - porque o verdadeiro Messias nunca poderia entrar em contacto com gente impura. A ‘revolução da ternura’ de que o Papa Francisco tantas vezes fala não é uma invenção piedosa, mas uma consequência prática da fé cristã, quando se inspira nas palavras e gestos do próprio Jesus Cristo, que nunca deixou de ir ao encontro de quem era excluído da sociedade, muitas vezes em nome de preceitos religiosos. A respeito do famoso episódio de Zaqueu, um “explorador” do seu povo que Jesus chama pelo |
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nome, para entrar em sua casa, o Papa argentino traçou um retrato do que muitos julgam que teria sido a atitude correta: ‘Desce, tu, explorador, traidor do povo! Vem falar comigo, para acertarmos contas!’. Como a opção cristã é outra, lembra Francisco, muitos começam a “murmurar”. Ser católico é, necessariamente, ir ao encontro de quem é diferente, de quem vive de outra forma, porque só assim é possível testemunhar a própria fé. Com a convicção de que também é possível aprender e não apenas ensinar.
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O pontificado de Francisco, que acaba de realizar uma viagem à Suécia nos 500 anos da reforma protestante - mais preocupado em apontar ao futuro do que em ‘acertar contas’ -, tem sido pródigo em gestos e palavras que apontam nesse sentido, sublinhando a necessidade de levar à Igreja Católica para junto das “periferias” existenciais e geográficas do mundo de hoje. Porque, como o próprio disse esta quinta-feira, a humanidade “tem sede de misericórdia” e não há tecnologia que a possa matar. Só o amor. |
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Francisco abraça Antje Kackelén, líder da Igreja Luterana na Suécia |
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“Não podemos resignar-nos com a divisão e o distanciamento que a separação gerou entre nós. Temos a possibilidade de reparar um momento crucial da nossa história, superando controvérsias e mal-entendidos que nos impediram frequentemente de nos compreendermos uns aos outros”. Papa Francisco, na oração ecuménica na Catedral Luterana de Lund, Suécia
Hollande fez um “acordo secreto” com a União Europeia para não cumprir as metas do défice, apresentando sempre previsões orçamentais falsas. O acordo acontece desde que Hollande foi eleito, em 2012, e segundo os autores vigora até 2017. Livro “Un président ne devrait pas dire ça…”, dos jornalistas do Le Monde, Gérard Davet e Fabrice Lhomme
Atribuir ambiguidade ao Papa leva a perguntar: seria Jesus a favor da prostituição? Do abuso fiscal? Da violência e ladroagem? Em dois mil anos de história, nunca ninguém sensato deduziu, dos encontros misericordiosos de Cristo com pessoas em flagrante transgressão, uma conivência com esses males. João César das Neves, Diário de Notícias 3.11.2016
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UCP quer apostar na Medicina,
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A nova reitora da Universidade Católica Portuguesa (UCP) disse à Agência Ecclesia que tem “garantias muito sólidas” para conclui o processo de abertura de um curso de Medicina, com um “projeto académico diferenciador” e centrado na “defesa inabalável da vida”. Isabel Capeloa Gil não diz que o processo esteja “concluído dentro de um ano”, mas afirmou estar determinada em |
concretizar o projeto, que “tem 30 anos”, de abrir um curso de Medicina na UCP, o primeiro numa universidade não estatal. “A defesa de um modelo de medicina católico, centrado na defesa inabalável da vida é algo que é essencial ao desenvolvimento das grandes universidades católicas”, sublinhou a reitora da UCP. Isabel Capeloa Gil adiantou que |
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o “projeto académico teria de ser diferenciador” e é necessário garantir o suporte financeiro que o curso de Medicina exige. “O modelo que está agora a ser implementado consegue conciliar estas duas dimensões e em breve daremos notícias felizes para todos os que desejam ver um curso de Medicina católico em Portugal”, acrescentou. Numa entrevista emitida no programa ‘70x7’, Isabel Capeloa Gil adiantou as prioridades para o mandato que agora inicia como reitora da UCP e disse que o curso de Teologia é “nodal” para a Universidade Católica Para a responsável pela UCP, a Teologia “é uma área viva”, que a universidade vai “cultivar e desenvolver na intercessão com outras Faculdades” e, como noutras áreas do saber, é “absolutamente internacionalizável e há passos que estão a ser dados de forma muito ambiciosa nesse sentido”. Isabel Capeloa Gil disse que a Teologia “não é só uma área para a formação de sacerdotes” e recordou o trabalho que desenvolveu, enquanto vice-reitora da UCP no mandato que agora terminou para que fosse reconhecida como “ciência” pelas fundações de fomento à investigação. “Portugal e França eram |
- agora é só a França - os únicos países europeus onde a teologia não era considerada nas fundações de fomento à investigação. Os projetos teológicos eram apresentados em Filosofia. E essa situação alterou-se”, lembrou. Isabel Capeloa Gil referiu uma das “lutas” que travou junto da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) foi pelo reconhecimento da Teologia “avaliáveis e mensuráveis” pela fundação, o que conseguiu. A reitora da UCP explica também a internacionalização em curso na academia, onde 13% dos alunos são estrangeiros, de 90 nacionalidades, referindo que “tem de ser um processo integrado”, o que passa antes de mais pela estruturação interna. Nesta entrevista, gravada no dia da tomada de posse [25 de outubro], a reitora da UCP explica os projetos que vai tentar implementar durante o mandato de quatro anos que agora inicia, nomeadamente a iniciativa ‘Católica I&I’ (Católica Investigação e Inovação), ‘Católica Talentos’ (que propõe uma nova abordagem à gestão de talentos e à sua promoção) e ‘Católica 4.0’ (para digitalizar e simplificar as estruturas). |
Reforçar papel dos pais na transmissão da fé |
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D. Manuel Pelino afirmou que a educação "deve abranger todas as dimensões da pessoa humana" e que os pais devem ser os responsáveis por "conhecer e experimentar Jesus" com os seus filhos. "A grande preocupação dos catequistas é conseguir encontrar respostas válidas que permitam aos pais um redescobrir a fé e serem, eles próprios, portadores desta alegria de conhecer e experimentar Jesus aos seus filhos", afirmou o prelado, Presidente da Comissão Episcopal da Educação Cristã e Doutrina da Fé (CEECDF) no início das Jornadas Nacionais de Catequistas, que decorreram entre 29 e 31 de outubro, em Fátima. Segundo o responsável, a educação "deve ter em consideração não apenas a questão intelectual mas abranger todas as dimensões da pessoa humana". De acordo com o portal Educris, os catequistas apresentam a preocupação de "ligar família e catequese", expressa "nas respostas dos catequistas das dioceses" ao documento «A catequese: A alegria do Encontro com Jesus Cristo». D. Manuel Pelino sublinhou que "família e catequese estão unidas pela alegria da fé" e que a "verdadeira |
alegria vem do encontro com Cristo que liberta e ilumina", conduzindo à formação de "uma comunidade e a ser fermento do mundo novo". Já no domingo, o bispo de Santarém encerrou, na Sé desta diocese, a Semana Nacional da Educação Cristã, promovida pela Igreja Católica, e aludiu à “emergência atual da Educação”. “Educar é ajudar a sair do seu mundo e abrir-se ao acolhimento e à fraternidade”, declarou D. Manuel Pelino, na homilia da Missa a que presidiu. O prelado começou por saudar todos os que têm a responsabilidade de “cuidar do crescimento harmonioso” de crianças e adolescentes, da escola à catequese. A reflexão partiu da nota pastoral ‘Educar – propor caminho para uma vida plena’. |
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Evitar a escolarização da catequese |
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O bispo de Leiria Fátima, D. António Marto, alertou este sábado para o perigo da "escolarização da catequese" afirmando ser necessário "distinguir" a etapa própria das crianças da dos adolescentes. "Há o grande perigo da escolarização da catequese: de olharmos para a catequese da mesma forma como se olha para escola, onde se vai aprender e onde se entregam os filhos ao cuidado dos professores, neste caso ao cuidado dos catequistas", alertou o responsável em declarações à Agência ECCLESIA, a propósito das Jornadas Nacionais de Catequese. Segundo o prelado é necessário "distinguir a etapa da catequese das crianças e dos adolescentes", que, afirma, "requer outra pedagogia e método sobretudo para não ser uma doutrinação e escolarização". O diretor do setor da Catequese do patriarcado de Lisboa, o padre Tiago Neto, afirmou por sua vez que há necessidade de ajudar os pais na sua "realidade concreta" e "acolher as suas vivências humanas". "Temos muito para perceber a relação da vida concreta da família, nos seus problemas e a fé é um desafio que temos pela frente, nem sempre compreensível na mentalidade |
corrente", afirmou o responsável à Agência ECCLESIA. O sacerdote do Patriarcado de Lisboa alertava para uma "visão negativa" que se tem dos pais "como se fossem culpados de tudo", quando na realidade "eles assumem imensas responsabilidades". "Tantas vezes as pessoas não estão despertas porque e não foram educadas para isso. Devemos ajudá-los na sua realidade de vida, acolhendo as suas vivências humanas". Este alerta é partilhado por Maria Luísa Boléo, catequista com décadas de experiência no patriarcado de Lisboa. "Temos de aprender a valorizar o que já existe nas famílias. Pode não ser uma família educadora cristã, mas há valores que existem de amor, respeito, honestidade que são uma base humana extraordinária”. |
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A Agência ECCLESIA escolhe sete acontecimentos que marcaram a atualidade eclesial portuguesa nos últimos dias, sempre atualizados emwww.agencia.ecclesia.pt
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Comemoração dos 20 anos da igreja de Santa Maria, no Marco de Canavezes |
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Entrevista à nova reitora da UCP |
500 anos depois, católicos e luteranos apontam ao futuro
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Uma viagem histórica levou o Papa à Suécia, entre 31 de outubro e 1 de novembro, para assinalar com os luteranos os 500 anos da reforma protestante. Francisco disse que católicos e luteranos devem “caminhar juntos pela senda da reconciliação” e rejeitar a resignação perante séculos de divisão, numa celebração que assinalou os 500 anos da reforma protestante. “Não podemos resignar-nos com a divisão e o distanciamento que a
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separação gerou entre nós. Temos a possibilidade de reparar um momento crucial da nossa história, superando controvérsias e mal-entendidos que nos impediram frequentemente de nos compreendermos uns aos outros”, sustentou. O Papa e o presidente da Federação Luterana Mundial, assinaram na Suécia uma declaração comum, na qual se pede perdão por divergências e conflitos históricos, ao mesmo tempo que saúda os 50 anos de constante |
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e frutuoso diálogo oficial entre católicos e luteranos, bem como o seu serviço comum ao próximo, muitas vezes em situações de sofrimento e de perseguição. Francisco sublinhou os pontos em que católicos e luteranos coincidem: “Dou graças a Deus por esta comemoração conjunta dos quinhentos anos da Reforma, que estamos a viver com espírito renovado e conscientes de que a unidade entre os cristãos é uma prioridade, porque reconhecemos que, entre nós, é muito mais o que nos une do que aquilo que nos separa”. Os participantes ouviram histórias marcadas pelo compromisso em favor da solidariedade, da defesa da dignidade humana e do meio ambiente: uma jovem indiana, um sacerdote colombiano, uma mulher do Burundi e uma refugiada do Sudão do Sul, a porta-estandarte da primeira equipa olímpica de refugiados, no Rio de Janeiro. “Para nós, cristãos, é uma prioridade sair ao encontro dos descartados – porque são descartados pela sua pátria – e marginalizados do nosso mundo, tornando palpável a ternura e o amor misericordioso de Deus, que não descarta ninguém, mas acolhe a todos. Hoje pede-se-nos, a nós |
cristãos, que sejamos protagonistas da revolução da ternura”, defendeu Francisco. O Papa concluiu a sua primeira visita à Suécia com uma Missa para a comunidade católica, na solenidade de Todos os Santos, elogiando a santidade de quem se entrega aos outros, de forma discreta e humilde. “Celebramos, pois, a festa da santidade. Aquela santidade que, às vezes, não se manifesta em grandes obras nem em sucessos extraordinários, mas que sabe viver, fiel e diariamente, as exigências do Batismo. Uma santidade feita de amor a Deus e aos irmãos”. Já no voo de regresso a Roma, o Papa recordou a posição da Igreja Católica, que rejeita a ordenação sacerdotal de mulheres, após citando a carta apostólica ‘Ordinatio Sacerdotalis’, de João Paulo II. |
É terrível justificar morte e violência
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O Papa recebeu no Vaticano duas centenas de representantes de várias religiões, comprometidos no campo da solidariedade, aos quais pediu que rejeitem qualquer violência em nome de Deus. “É terrível que, para justificar barbáries, seja por vezes invocado o nome de uma religião ou do próprio Deus”, declarou Francisco. O encontro de quinta-feira, na Sala Clementina do palácio apostólico, aconteceu no contexto do Jubileu da Misericórdia que a Igreja Católica está a viver até ao próximo dia 20, por iniciativa do Papa. O pontífice argentino deixou votos de que “nunca mais aconteça” que as religiões, por causa do comportamento de alguns dos seus membros, transmitam uma mensagem que não seja conforme à “misericórdia”. “Infelizmente, não passa um dia sem que se ouça falar de violência, conflitos, raptos, ataques terroristas, vítimas e destruições”, lamentou. Francisco defendeu que as religiões se devem unir para condenar “de forma clara” todos estes comportamentos, que “profanam o nome de Deus” e “inquinam a busca religiosa”.
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O Papa apelou a um “encontro pacífico entre crentes” e a uma “real liberdade religiosa”, para que as várias confissões possam ajudar a humanidade a derrubar os “muros erguidos pelo orgulho e o medo”. A intervenção sublinhou a importância de viver a misericórdia com ações concretas, no “serviço fraterno” ao próximo, indo ao encontro das situações que precisam de maior cuidado, como “a doença, a deficiência, a pobreza, a injustiça”, os conflitos e as migrações. “O homem tem sede de misericórdia e não há tecnologia que o possa dessedentar: procura um afeto que vá para lá da consolação do momento, um porto seguro onde possa atracar o seu navegar inquieto, um abraço infinito que perdoa e reconcilia”, declarou. |
Papa celebrou Missa em cemitério de Roma
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O Papa presidiu à Missa pelos fiéis defuntos no cemitério romano de ‘Prima Porta’, onde falou da importância de preservar a “memória” de quem morreu e viver com a “esperança” da ressurreição. “Voltemos para casa, hoje, com esta dupla memória: a memória do passado, dos nossos que já partiram, e a memória do futuro, o caminho que nós seguiremos, com a certeza, a convicção, a certeza que saiu dos lábios de Jesus: Eu o ressuscitarei no último dia”, pediu às centenas de pessoas que participaram na celebração. Francisco quis depositar, simbolicamente, um ramo de flores junto a um dos túmulos. A homilia |
começou por evocar o livro bíblico de Job, que no momento da morte optou por deixar uma mensagem de “esperança” na vida eterna. “Um cemitério é triste, lembra-nos os nossos que já partiram, lembra-nos também o futuro, a morte, mas a esta tristeza trazemos flores, como sinal de esperança. Posso dizer mesmo de festa”, assinalou o Papa. Francisco falou em “flores da esperança”, que simbolizam, para os cristãos, a “esperança da ressurreição. No final da Missa, Francisco deslocou-se às grutas da Basílica do Vaticano para um momento de oração, em privado, "pelos Papas ali sepultados e por todos os defuntos". |
Francisco quis depositar, simbolicamente, um ramo de flores junto a um dos túmulos. A homilia começou por evocar o livro bíblico de Job, que no momento da morte optou por deixar uma mensagem de “esperança” na vida eterna.
“Um cemitério é triste, lembra-nos os nossos que já partiram, lembra-nos também o futuro, a morte, mas a esta tristeza trazemos flores, como sinal de esperança. Posso dizer mesmo de festa”, assinalou o Papa. Francisco falou em “flores da esperança”, que simbolizam, para os cristãos, a “esperança da ressurreição.
No final da Missa, Francisco deslocou-se às grutas da Basílica do Vaticano para um momento de oração, em privado, "pelos Papas ali sepultados e por todos os defuntos", informou a sala de imprensa da Santa Sé.
A Agência ECCLESIA escolhe sete acontecimentos que marcaram a atualidade eclesial internacional nos últimos dias, sempre atualizados em www.agencia.ecclesia.pt
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Papa reafirma posição da Igreja Católica sobre ordenação de mulheres |
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Esperança na ressurreição
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Obrigado, Papa Francisco! |
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D. Pio Alves Presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais |
Caminhamos para o final do Ano da Misericórdia (20 de novembro). Não para o fim da misericórdia. Pode dar jeito olhar para o que foram estes meses de maior atenção para mais uma surpresa proposta pelo Papa Francisco. Num mundo, que todos nós fazemos todos os dias, em que dominam: os extremos do império da lei ou da vida sem lei; o fabrico de leis à medida de objetivos preconcebidos; o recurso hábil às inevitáveis (ou intencionais) lacunas legais; a condenação legal do ladrão de uma caixa de fósforos e a absolvição legal do desvio de milhões; o uso (a manipulação) da justiça para esmagar os pobres de todas as pobrezas; neste mundo, que é o nosso, basta-nos a justiça? Faz falta, é imprescindível, a justiça: verdadeira, humana, reflexo da justiça divina. Mas só com a justiça: seca, implacável, que desconhece as circunstâncias, isto é, as pessoas, não construiremos um mundo para todos. E o mundo que Deus quis é todo para todos. Sem teorizar, com o recurso sempre limitado a imagens: Misericórdia é a letra pequena da lei, que explica, que aplica, que excetua, que amplia. Letra pequena, imprescindível para ler corretamente a letra grande. Misericórdia é o cimento que cola os cacos de um qualquer desastre que parece condenação à morte. Misericórdia é o olhar do pai, da mãe que vê, sem ver, o disparate do filho, pequeno ou grande. Sem ver, mas, oportunamente, de modo adequado,
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sabe voltar aí, não para se desafogar a ira, mas para ajudar a endireitar e a crescer bem. Sem inventar e copiando o Mestre: Misericórdia é “fazer o bem sem saber a quem”. É olhar para a margem do caminho e tratar quem aí está maltratado e abandonado. E gastar cuidados, e gastar tempo, e gastar dinheiro, e não passar fatura (cfr Lc 10, 30ss). Maltrato e abandonado de qualquer mau trato, de qualquer abandono. Misericórdia é abrir o coração e as portas àquele filho, irmão, amigo, colega, que abandonou a casa, foi para longe e aí dissipou toda |
a herança (cfr Lc 15, 11ss). E reentra, arrependido, mas dispensado de fazer discursos de arrependimento. O Ano da Misericórdia reconduziu-nos, serenamente, a tudo isto, e muito mais. Recordou-nos que a nossa relação com Deus é a do filho pródigo e que Deus supera o Bom Samaritano. Recordou-nos também que, à nossa medida, somos mediadores de misericórdia. Que existe o compêndio das chamadas “obras de misericórdia” e que, além das “corporais”, existem também as “espirituais”. Termina o Ano da Misericórdia, não termina a misericórdia. Obrigado, Papa Francisco! |
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Requiem |
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Cónego António Rego |
Lembro-me daquele fumador que perguntava se podia rezar enquanto fumava. Sem objeção, perguntava de seguida, se podia fumar enquanto rezava. Um bom sorriso era a resposta mais certa. Gosto sempre de ouvir música enquanto escrevo. A música é um excelente instrumento de diálogo para todas as situações. Lembro-me da enorme tristeza que me invadia quando cantava ou ouvia o Requiem - fosse o Gregoriano ou o de Mozart, ou o Dies irae de Verdi que nos faz estremecer, tal como a letra a certa altura refere. Desde o século V que a Igreja celebra a chamada Missa dos defuntos, de sufrágio pelos mortos. Mas com o olhar de ressurreição que vence o pranto. Coloca-nos no lugar certo da nossa fraqueza face ao infinito puro de Deus. E faz-nos tremer quando medimos a distância a que dEle nos encontramos. E implora para nós e para todos os que partiram a grande Misericórdia, única saída para a nossa travessia de fronteira do tempo para a eternidade. Mas também porque fomos descobrindo mais serenamente a misericórdia de Deus até no juízo que de nós faz e no acolhimento da nossa fragilidade. A misericórdia não é uma invenção do papa Francisco, com a celebração do Jubileu, mas uma nova dimensão do olhar de Deus sobre nós e sobretudo uma atitude de acolhimento da sua paternal bondade face à nossa miséria. E da abertura do nosso coração aos outros. Não é nova. Já vinha mencionada na história da ovelha perdida, no abraço do filho mais novo, no olhar para Zaqueu meio perdido no sicómoro, na prostração da |
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mulher adúltera, no setenta vezes sete do perdão, afinal no modo como Jesus recebia quantos, de dentro ou de fora, o quiseram ver e ouvir e d’Ele se aproximaram. Quase a fechar, este Jubileu da misericórdia,(não obstante a palavra muitas vezes ter sido dita a propósito e despropósito) deixou em nós uma marca mais profunda da bondade de Deus face a todos os nossos erros e insuficiências. E aumentou em nós a confiança para dEle nos aproximarmos na certeza de que não somos rejeitados. E uma nova exigência de acolher os outros. O Requiem já se calou e neste Novembro, amarelecido pelo outono, com a morte na natureza, desce sobre nós o repouso que pedimos para os que partiram. A própria morte parece ganhar outra dimensão porque |
também a colocamos nas mãos do Senhor da vida. E sabemos que nem um segundo da nossa respiração acontece sem que Ele o permita. Visitar um cemitério é entrar numa cidade pacífica e silenciosa onde se calam as trombetas da arrogância e da condenação, e o Dies Irae sabe a uma sequência doce de misericórdia. E podemos aproximar-nos dos nossos mortos, ajustar uma flor na campa e compreender em poucos momentos que visitar uma sepultura é um gesto belo que nos une àqueles que amámos e cuja lembrança não foi reduzida a cinzas. |
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Transformar o Cosmos |
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Miguel Oliveira Panão Professor Universitário |
Celebrámos esta semana dois dias muito especiais. O dia de Todos os Santos (1 de novembro) e o dia dos Fiéis Defuntos (2 de novembro). Os Santos testemunham-nos a felicidade e realização de uma vida orientada para a Vontade de Deus em cada momento. Os Fiéis Defuntos recordam-nos vidas que influenciaram profundamente a nossa por serem familiares, amigos, ensinando-nos algo mais. É isso que gostaria de vos partilhar. Fiéis Defuntos. Fiéis porquê? Muito provavelmente porque durante a sua vida procuraram aderir em cada gesto, sorriso, palavra ao modo como Jesus agia, sorria e falava. Defuntos porque a sua vida transformou-se. Nós somos na Terra a semente que florescerá no Paraíso em plena comunhão com Deus. Porém, essa fidelidade manifesta-se de um modo particular na Eucaristia. Ao recebermos Jesus durante a vida, apesar das nossas limitações, falhanços, recomeços, na humildade da nossa condição de filhos procurámos ser transformados por Ele. Na Eucaristia não somos nós que consumimos Cristo, mas somos antes consumidos por Ele. "Cristificados" - por assim dizer. Alguma vez se aperceberam das implicações dessa realidade mística para com o Universo? Recorro às palavras de Chiara Lubich, fundadora do Movimento dos Focolares para me fazer entender:
Jesus, que morre e ressuscita, é com certeza a verdadeira causa da transformação também do cosmos. Mas, dado que São Paulo nos revelou que a nossa humanidade completa a paixão de Cristo |
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e que a natureza aguarda a revelação dos filhos de Deus, é provável que Jesus também aguarde o contributo dos seres humanos, cristificados pela Sua Eucaristia, para realizar a renovação do cosmos.
A Eucaristia desafia mais a nossa fé do que o ateísmo. Se cremos verdadeiramente na realidade que encerra, teríamos maior consciência daquilo que Deus está a fazer ao cosmos através do nosso processo de “Cristificação”. Mas Chiara continua, e aqui vem a “bomba relógio”,
Se a Eucaristia é causa da ressurreição do homem, não poderá o corpo humano, divinizado pela Eucaristia, estar destinado a desfazer-se debaixo da terra para contribuir para a ressurreição do cosmos? Poderíamos então dizer que, em virtude do pão eucarístico, o homem se torna “Eucaristia” para o universo, no sentido de que é, com Cristo, semente da transfiguração do universo.
Em linguagem jovem, isto é “brutal!” Se acreditamos realmente na potência do amor de Deus através da Eucaristia, e naquilo que em nós faz durante a |
vida, um cemitério não será mais um local de morte, mas um jardim onde Jesus entra no mais íntimo do cosmos para o renovar através dos nossos corpos cristificados. Mas também a Eucaristia não será a mesma se realmente nos damos conta da importância da missão que Deus nos confia de transformar a natureza “por dentro”. A questão que muitos poderão colocar, e coloco também, é qual o significado prático desta transformação do cosmos. Que tipo de transformação quer Deus fazer? O que significa esta renovação que transforma o nosso universo em “novos céus e nova terra” (Is 65, 17)? Não sei. Por isso, por agora, basta fazer a minha parte. Chiara Lubich, “Caminho Novo, a espiritualidade da unidade”, Cidade Nova, Abrigada, 2004, 119-121. |
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O que dizem os Santos à volta da igreja |
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José Carlos Patrício
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Esta semana foi de festa rija na minha terra, com a Feira dos Santos, um dos momentos mais significativos para a comunidade ao longo do ano, não só pela vivência cristã mas pelo espírito de comunhão e entreajuda que se gera entre as pessoas. A Feira dos Santos, que tem por base a solenidade de Todos os Santos, é um exemplo de como o calendário religioso continua a marcar a vida das populações, de como a fé cristã se mantém como motor essencial de coesão e dinamização social, de desenvolvimento humano. Dentro da igreja, duas palavras de ordem: primeiro um convite a fazer da santidade ‘caminho’ de vida, porque os santos não foram extraterrestres nem pessoas fora do normal, mas sim homens e mulheres simples, com as suas forças e fraquezas, que souberam colocar-se de forma extraordinária ao serviço dos outros. Depois um desafio às pessoas para olharem para o ‘exemplo’ dos santos que apesar dos erros e das quedas procuraram sempre levantar-se, melhorar e seguir em frente, e foram capazes de deixar a sua marca no mundo. À volta da igreja, aglomeram-se as bancas dos feirantes, os carroceis e carrinhos de choque, as roulottes das farturas e doces. Mas também os espaços dedicados às instituições, ao centro social e paroquial, aos escuteiros, à escola e associação de pais, ao clube de futebol, às coletividades culturais e recreativas. Projetos que representam a verdadeira |
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essência da comunidade, como ela vive, o que ela faz, onde procura integrar as pessoas, quando é que cuida dos que mais necessitam. Pequenos e graúdos, avós, pais e netos, trabalharam dias e dias na preparação destas bancas, deram do seu tempo, ofereceram o que tinham. Olhando para este quadro, eu só pensava no tesouro que ele representa para as novas gerações, num mundo tão necessitado de união e de paz. Eu posso esforçar-me muito por educar as minhas filhas para estes e outros valores, mas nada bate a riqueza deste cenário à volta da igreja, a força dos seus argumentos. |
É bom que nós hoje nos lembremos disto, que podemos pensar em muitos projetos para melhorar a sociedade, para transformar a realidade, para ir ao encontro daquilo que as pessoas procuram. Mas há ‘cenários’ que dizem muito mais do que as palavras e têm de ser preservados a todo o custo para o bem da humanidade, e aqui estou a falar de uma tradição cristã mas podia estar a recordar outros quadros como a família, a escola ou mesmo a vida como um bem e um direito a preservar, hoje cada vez mais em risco. Estes são bens que têm de estar acima de qualquer suposto avanço social e cultural. |
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A Diocese de Beja viveu esta quinta-feira um dia histórico, com a passagem de testemunho entre D. António Vitalino, no seu 75.º aniversário, e D. João Marcos, na diocese alentejana desde 2014, como coadjutor. O Semanário ECCLESIA apresenta uma entrevista de fundo a D. António Vitalino, na diocese alentejana desde 1999, que encara com “muita naturalidade” a transição. D. João Marcos, por sua vez, fala dos desafios que se lhe apresentam e dirige-se à Diocese de Beja pela primeira vez como seu bispo. Apresentam-se ainda três textos de diversos setores da ação eclesial, procurando traçar um retrato da realidade diocesana e dos seus desafios.
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Aqui, não vemos as nossas pertenças
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Agência ECCLESIA (AE) – Com a celebração dos 75 anos, a sua vida ganha um novo rumo. D. António Vitalino (AV) – Como o Direito Canónico prescreve, aos 75 anos os bispos devem pedir ao Papa a sua resignação. Depois, conforme a situação, Roma decide: fica mais tempo, passa para administrador ou então para emérito. Eu providenciei, em tempos, primeiro para ter um coadjutor com direito a sucessão e depois, quando chegasse a idade (75 anos) passasse a responsabilidade da Diocese de Beja para o bispo coadjutor.
AE – Fez o mesmo que o seu antecessor, D. Manuel Falcão, que o ajudou a integrar-se nesta diocese. AV – Fiz de maneira diferente, porque pedi um coadjutor. Fi-lo para que ele |
tivesse tempo de ver as necessidades e como era o trabalho. A partir deste momento ele fará os seus planos e os seus projetos. Irá decidir o que é mais importante para esta diocese. Espero que, através da minha maneira de ser e pelas conversas que tivemos à mesa, o tenha ajudado neste caminho. Nos últimos tempos, todas as solicitações que recebia reencaminhava por mail ou fazia uma cópia para o meu sucessor.
AE – Já arrumou as suas coisas? AV – Não. Arrumo depressa as minhas coisas. Só os livros… E o melhor é deixá-los porque já não tenho tempo de os ler e também já não utilizo muito os livros em formato de papel porque a maior parte deles estão informatizados. |
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AE – Com quase duas décadas na diocese de Beja, que legado deixou a estes cristãos do Alentejo? AV – Eu, simplesmente, limitei-me a continuar o trabalho próprio de um bispo e que é a missão da Igreja. Acho que ajudei as pessoas a relacionarem-se com Deus e umas com as outras. O meu legado é mais da atenção real às pessoas concretas que nos abordam. Sejam elas mais ou menos cultas. Sejam elas pobres ou ricas. Sejam elas jovens ou adultos. A atenção às pessoas é uma forma que me caracteriza, embora o tempo e as forças comecem a faltar.
AE – Deixou a sua marca também noutras áreas. AV – Há um legado que todos dizem, não sei se é verdade, que a nível da comunicação as pessoas estavam mais informadas. Enviava muitos emails para o clero, consagrados e leigos. Realizámos também um sínodo, foi o primeiro da Diocese de Beja, e espero que as conclusões a que chegámos nas assembleias tenha servido para organizar os planos dos próximos anos. No entanto, há um trabalho que não se vê muito, mas é essencial: cuidar da administração da diocese. É um |
aspeto, às vezes, um pouco ingrato porque toca na carteira, na vida e nos hábitos das pessoas. Muitos estavam habituados a levar a sua vida e a não partilhar. Organizei uma administração diocesana onde quem tem partilha com quem não tem. Criámos também o Estatuto Económico do Clero.
AE – Normas e orientações onde a partilha está no centro AV – Sim. Acontece que, num caso ou outro alguém quer esconder algo, mas depois quando aparecem os problemas mostra-se a verdade. Como se diz: «O diabo deixa sempre o rabo à solta».
AE – Aconteceram-lhe casos desses? AV – Vários. Além de procurarmos ajudar, também chamamos a atenção para que sirva de exemplo. Há normas da Igreja para a administração extraordinária. Ninguém pode perante uma entidade bancária ter uma obra, até pode ser muito meritória, mas contrair empréstimos que vão endividar a paróquia. É necessário sempre uma credencial do bispo e dos diferentes órgãos colegiais. Muitas vezes, as pessoas não estavam habituadas a isso. Acho que deixei um clero e colaboradores que |
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perceberam que é importante partilhar. Mesmo sendo uma diocese pobre devemos partilhar com todos e corresponder aos grandes apelos que se fazem. O meu antecessor também o fez, mas muitas vezes do seu património pessoal e da sua família. Eu como sou de família de trabalhadores e relativamente pobre tentei incutir isso nas próprias famílias.
AE – Numa região com algumas carências, a autossustentabilidade das instituições é uma necessidade fundamental. AV – Tentei ajudar e incutir esse espírito para que as instituições sejam autossustentáveis. Se não o são têm
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de explicar as razões. Às vezes não se sabe fazer projetos, contas e orçamentos. Qualquer obra exige um orçamento e quais os recursos que se podem libertar. Acho que nesta área fiz algo, que nem todas as dioceses têm feito e têm muita dificuldade em fazê-lo.
AE – Sem esquecer a informatização da diocese de Beja. AV – Creio que foi a primeira diocese, embora com meios artesanais, mas funcionava. A partir do ano 2000 posso recolher os dados, muito rapidamente, sejam económicos sejam pastorais. Tenho tudo em base de dados. |
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AE – Foi o primeiro bispo a divulgar uma mensagem em vídeo aos seus diocesanos… AV – Sim. Sem grande experiência coloquei uma mensagem no YouTube quase com meios artesanais. Não tínhamos aqui, na diocese, esses meios e em Beja não existe uma televisão regional. O YouTube aceita tudo…
AE – Uma forma de chegar mais longe… Utilizou outro púlpito. AV - Hoje em dia, as redes sociais, sobretudo o facebook, são muito usadas. Mesmo por pessoas que |
consideramos meio analfabetas. Estive, recentemente, numas jornadas da emigração – aproveitei também para visitar algumas missões – e vi pessoas reformadas com o tablet e a fazerem-me pedidos de amizade através do facebook. Fico admirado como pessoas tão simples utilizam esses meios. Temos de saber utilizar estes meios na evangelização.
AE – Utiliza com frequência as redes sociais? AV – Sim, mas não coloco lá quando me levanto ou quando me apetece comer. Partilho mensagens e |
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fotografias. Uso muito por causa da minha família e dos padres. Temos muitas paróquias e padres que estão nas redes sociais e assim é fácil comunicar. Quando algum faz anos envio a minha mensagem. Isso alegra as pessoas…
AE – É também uma forma de controlar o clero… sabe o que colocam nas redes sociais? AV – (Risos). Alguns com a mania das selfies… Estão aqui e acolá… Andam a viajar, em vez de estarem nas suas paróquias. Mas não ando a controlar… Vejo também se há queixas das paróquias.
AE – Apostou nas relações humanas. Essa proximidade com as pessoas leva-o até uma taberna alentejana para dialogar? AV – Sim. Infelizmente, o tempo é pouco, mas nas visitas pastorais é uma coisa que procurava fazer. Ainda, recentemente, o meu sucessor (D. João Marcos) me contou que numa visita pastoral teve um grande diálogo, com muitos homens, num café. Disse que foi a coisa mais interessante que ele fez… Porque os homens vão pouco à Igreja. Ao contrário das mulheres. |
Os alentejanos gostam de conviver e partilhar, mas tem de ser no seu ambiente.
AE – Acompanhados com um copo de vinho e um petisco… AV – Verdade. Com um copo de vinho. Com perguntas e respostas. Temos de estar próximos e escutá-los. Isso é a coisa mais interessante que podemos fazer aqui no Alentejo. No entanto, temos de ter cuidado e não exagerar. Se tal não acontece dizem logo: “o bispo também gosta da pinga”. A moderação é o melhor.
AE – As mulheres vão à Igreja e os homens ficam na taberna. AV – Também temos homens que vão à Igreja, mas são poucos. Costumo dizer que a maior celebração e o maior encontro que tive com homens alentejanos foi nas migrações. Uma vez, perto de Bona (Alemanha) estive com a comunidade e encontrei mais de 200 alentejanos. Tivemos uma longa conversa e muitos esclarecimentos. Depois passámos para o religioso e até cantaram cânticos alentejanos. Foi uma oração sentida e vi muitos alentejanos a verterem lágrimas. |
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AE – Sendo natural do Minho, é mais adepto do «vira minhoto» ou do «cante alentejano»? AV – Gosto mais do cante alentejano. É mais calmo, mais sentido… Costuma-se dizer que os alentejanos cantam com o ventre e não apenas com o céu-da-boca. O vira minhoto é mais da garganta para cima. Exprime alegria, mas não é tão sentida como o cante. O cantar típico do Alentejo tem um ritmo próprio. Em qualquer taberna ou rua os alentejanos cantam… Antigamente, as mulheres cantavam também na ceifa.
AE – Outrora o Alentejo era considerado o celeiro de Portugal. |
Hoje, a paisagem está substancialmente alterada. AV – O Alentejo mudou muito… Tanto a nível económico como na agricultura. Atualmente, deixou de ter um cultivo de sequeiro e passou a ter um cultivo intensivo e extensivo de vinha, oliveiras e hortícolas. Isto aconteceu após 2003 com o Alqueva. Temos o maior lago artificial da Europa. Em pouco tempo, aquela bacia encheu e alterou a paisagem. Dizem que as reservas de água da barragem do Alqueva dão para cinco anos, mesmo que não chova. Aquela barragem tem fins múltiplos porque produz também energia. No entanto, infelizmente a ligação com todas as albufeiras do Alentejo central ainda não está terminada.
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AE – Com a barragem do Alqueva as expetativas no Alentejo subiram com a hipotética imagem de uma região verdejante. Um autêntico oásis… AV – Um pouco. Mas temos um cultivo intensivo e extensivo de olival e vinha. Esta região tem a maior mancha de sobreiros do mundo e temos também muitas azinheiras. Outra especificidade é a carne do porco alentejano que se alimenta de bolotas e é muito diferente de outras carnes. Muitos espanhóis compram aqui os porcos alentejanos para fazer o célebre presunto «pata negra». Ourique e Barrancos produzem muito porco alentejano. Temos algumas indústrias ligadas a este setor.
AE – Apesar destas marcas que levam o Alentejo ao mundo, a desertificação ainda predomina. AV – Com as albufeiras que se fizeram – temos a maior percentagem no país |
- esse problema foi-se diluindo. Com as albufeiras, a água vai-se infiltrando na terra e vai alterando a paisagem. Existem projetos de comunidades estrangeiras, alguns deles vegetarianos, que querem lutar contra a desertificação. A vegetação está a modificar o Alentejo…
AE – E a outra desertificação, a humana… AV – A pior desertificação que pode haver é a humana e a espiritual. Infelizmente, aqui no centro alentejano, ela continua a existir. Temos muitos concelhos a perder população. Desde que estou em Beja, perdemos mais de 20 mil habitantes. Embora, o litoral alentejano continue mais ou menos com a mesma população. No entanto, muitos deles são estrangeiros, desde a Ásia ao leste europeu. Temos famílias reduzidas e envelhecidas. Muitas das famílias têm medo de procriar porque os recursos económicos não chegam. Apesar dos cultivos serem intensivos, ela é muito mecanizada e utiliza pouca mão-de-obra. Os serviços e as autarquias são os setores que utilizam mais mão-de-obra. |
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AE – Ao longo destes anos, criticou com alguma frequência o poder político. Acusando-o de se esquecer do Alentejo. Acha que os políticos ouviram a sua voz? AV – Não critiquei por criticar. Só quando havia problemas com a população. Todavia, evitava fazer críticas partidárias. Falei com frequência sobre a falta de investimentos na região e a escravatura na mão-de-obra. Notei que as autoridades ficaram mais atentas e atuaram. Os intermediários que exploravam ao nível de mão-de-obra começaram a desaparecer embora, ainda existam. Tivemos também projetos que foram muito apregoados e onde se investiu muito dinheiro, mas não têm futuro.
AE – Por exemplo? AV – O Aeroporto de Beja não tem tido muito uso… E o complexo de Sines. É o
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maior porto petrolífero, mas emprega poucas pessoas. Estes projetos não vieram desenvolver o Alentejo humanamente, mas vieram enriquecer alguns monopólios cujas sedes estão em Lisboa ou no estrangeiro. Sabemos que na Comunidade Europeia, cada um paga impostos onde achar que é mais favorável.
AE – Tinha uma crónica semanal na Rádio Pax. Naquele microfone denunciou várias vezes a exploração do homem pelo homem. AV – Esta realidade existe em todo o lado. Mas cada um deve falar da realidade que conhece. Aqui, aproveitava para denunciar estes casos porque não via empenho da sociedade
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civil e política para resolver estes problemas. As minhas crónicas eram um bocadinho nesse sentido. Mas sempre com o cuidado de não ferir esta ou aquela pessoa, este ou aquele partido.
AE – Sendo o Alentejo um bastião do partido comunista, como era o seu relacionamento com os partidos políticos. AV – Desde os meus tempos de pároco, em Santo António dos Cavaleiros (Loures-Lisboa) sempre me relacionei bem com os comunistas. Nessa altura, o presidente da Câmara Municipal de Loures era comunista e era muito meu amigo. Sempre soube distinguir as coisas. Os comunistas – como se diz – não comem pessoas ao pequeno-almoço. Eles são pessoas e têm sentimentos. Recordo-me bem da primeira visita «ad Limina» que fiz, em 1999, já como bispo de Beja, e apresentei ao Papa João Paulo II a nossa diocese. Disse-lhe que as autarquias e que o povo alentejanoquase sempre escolhe o partido |
comunista. Mas que tinha bom relacionamento com eles e são todos boa gente. O Papa João Paulo II admirou-se e perguntou-me: “Os comunistas são boa gente?». Ele vinha de uma situação diferente da Polónia. Aqui, no Alentejo, como dizia o meu antecessor «os comunistas deram voz a este povo que estava oprimido». Têm o seu mérito devemos colaborar com eles, enquanto forem escolhidos democraticamente.
AE – Às vezes as ideias pré-concebidas não correspondem à realidade. AV – Nunca me esquece que um dia estava na feira Ovibeja e estava numa conversa amiga com o presidente da câmara daqui, que era da CDU, e passou lá o primeiro- ministro e perguntou-me: «então a Igreja e o partido comunista em diálogo?». Eu apenas disse: «Aqui, não vemos as nossas pertenças mas as pessoas». E o primeiro-ministro encaixou… Temos de ver as pessoas e não as suas ideologias. |
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AE – A sua diocese recebe muitos turistas, tanto na costa vicentina como barragem do Alqueva. A pastoral do Turismo foi uma aposta no seu múnus episcopal? AV – Infelizmente, não trabalhamos muito essa área porque temos pouca gente. Fala-se muito que o Alentejo aumentou muito a sua população turística, mas isso não corresponde muito à realidade. A costa vicentina é parque natural e não se pode construir alojamentos, como se fez noutras regiões. Mas quem gosta de praias calmas e a beleza natural escolhe esta zona. Na altura do festival sudoeste, na Zambujeira do Mar, está muita juventude.
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AE – Nesses festivais musicais, a Igreja tem o seu espaço? AV – Depende dos párocos. Alguns vão lá e organizam celebrações para esses jovens. Alguns não querem apenas música. Na costa alentejana procuramos adaptar os horários das celebrações para horas mais próprias. Algumas são de noite. Já disse aos párocos que estão no litoral, que não podem fazer nesse tempo as suas férias.
AE – O património da Diocese de Beja é uma mais-valia. Polos que atraem também muitos turistas. AV – A parte do património artístico e cultural é bom e está preservado. |
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Isso nem sempre acontece noutras regiões do país. O departamento veio dar visibilidade a este setor. No entanto, não podemos esquecer que aqui as distâncias são grandes e para se poder visitar esses monumentos temos de andar muitos quilómetros. As distâncias impedem que os turistas visitem muitos desses locais emblemáticos.
AE – Há uma classe operária que muitas vezes é esquecida, os mineiros. Fez algum trabalho específico com esses homens que andam nas profundezas da terra? AV – Logo no princípio, fiz algum apostolado junto deles. Até servi de intermediário entre os sindicatos e os patrões. Era tudo por causa da padroeira, Santa Bárbara. Cheguei a celebrar com os mineiros.
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AE – Durante estes anos arrependeu-se de algo que fez e não devia ter ou feito e também o inverso? AV – Temos de confiar nos colaboradores, desde da área social até à área da evangelização. Algumas coisas passaram-me ao lado e só vi quando já era tarde. É quase impossível sabermos de tudo. Temos que nos rodear de bons colaboradores e pessoas de confiança, para que não se cometam ilegalidades e monstruosidades. Temos de evitar a megalomanias. Nestes pontos, num caso ou outro, devia estar mais atento. |
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AE – Apesar destas contingências deixou obras feitas. AV – Restaurámos a antiga casa episcopal, o seminário e o centro pastoral, a sé de Beja. Isso é a parte das estruturas. Na evangelização tentei, mas nem sempre consegui, fazer dos alentejanos, missionários. Criei a escola de ministérios e uma formação ambulante de missionários.
AE – Lançou essas sementes… E a nível da pastoral vocacional? AV – Aí é o grande problema da diocese. É a terceira vez que mudámos de equipa formadora. Espero que a nova equipa dê mais resultado. É um trabalho difícil porque há poucos jovens. Se calhar temos de aproveitar mais os ministérios laicais. Muitas coisas que os padres e os diáconos fazem, os leigos podem fazer. Mas é preciso remunerá-los e haver meios. Ainda há um grande caminho a percorrer… Mas já temos instituições orientadas por leigos.
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AE – Podemos dizer que tem um coração alentejano, mas as veias são minhotas? AV – O meu sotaque continua a ser minhoto, embora tenha saído da minha terra aos 10 anos. Estive pouco tempo no Minho, apenas nas férias. Estive em Lisboa e na Alemanha. Depois vim para o Alentejo. Tentei não me alentejanar no sotaque, mas o meu coração está com este povo. Mesmo não continuando a residir aqui, tentarei estar e acompanhar a vida deste povo.
AE – Deixa a cidade de Beja e vai residir onde? AV – Vou para uma comunidade carmelita. Posso escolher, mas propor aos superiores. Apesar de termos uma comunidade carmelita em Beja, aqui não vou ficar de certeza. Perto da família, em Braga, também existe uma comunidade mas também não quero ficar. Restam duas comunidades: Lisboa ou Fátima.
AE – Quantos quilómetros é que fez nesta diocese? AV – (Risos)… Não sei, mas mais de um milhão… E, sobretudo, a conduzir. |
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Beja: Novo bispo apostado em contrariar «uma vivência cristã débil e rotineira» |
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O bispo de Beja, D. João Marcos, reagiu hoje à sua nova missão “com confiança e serenidade” e traçou como meta na diocese a renovação da vida cristã, com base na dinamização das comunidades e na busca de vocações. “Estamos num tempo de mudança e mais do que tentar remendar o tecido eclesial que herdámos é fundamental fazer uma sementeira nova”, salientou o responsável católico em entrevista à Agência ECCLESIA, que apontou como objetivo contrariar “uma vivência cristã débil e rotineira”. “Aqui, tal como em outras dioceses, há zonas onde há bastante vida cristã e há outras em que quase não há. O que temos devemos dar graças a Deus por isso mas os tempos que vivemos pedem-nos uma refundação da Igreja Católica, capaz de enfrentar os desafios que este século XXI nos coloca”, reforçou. D. João Marcos sucedeu esta quinta-feira a D. António Vitalino como bispo da Diocese de Beja, depois do Papa Francisco ter aceitado a renúncia deste último no dia em que completou 75 anos de idade.
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Este procedimento vai ao encontro do que está estabelecido no cânone 401 do Código de Direito Canónico, o qual determina o pedido de resignação do bispo diocesano que atinja essa idade. O novo bispo de Beja, de 67 anos, exercia até agora a missão de coadjutor, para a qual foi nomeado pelo Papa Francisco a 10 de outubro de 2014. Em relação ao seu antecessor, D. João Marcos deixa “uma mensagem de muita gratidão” pelo “acolhimento” que lhe fez e pela “paciência” que teve consigo ao longo destes dois anos. “D. António Vitalino foi quem me ensinou a exercer o ministério episcopal e quero desejar que, neste tempo mais sossegado que ele irá usufruir, assim o pensamos, que o Senhor o abençoe e o ajude a viver sempre numa intimidade sempre maior com Deus”, completou. D. João Marcos é natural da Diocese da Guarda; frequentou os seminários do Patriarcado de Lisboa, sendo ordenado sacerdote a 23 de junho de 1974 por D. António Ribeiro; a ordenação episcopal aconteceu a 23 de novembro de 2014, |
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sob a presidência de D. Manuel Clemente, cardeal-patriarca. Seguiu depois como bispo coadjutor para a Diocese de Beja, a pedido de D. António Vitalino, que em diversas ocasiões se manifestou sobre a necessidade de contar com um bispo coadjutor a quem possa confiar a sua missão quando atingisse os 75 anos. |
Um bispo coadjutor é nomeado por iniciativa da Santa Sé e, ao contrário dos bispos auxiliares, goza do direito de suceder ao bispo diocesano quando este cessa as suas funções. A mudança aconteceu hoje de forma automática, de acordo com o cânone 409 do Código de Direito Canónico. |
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Mensagem à Diocese de Beja |
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Caríssimos irmãos e irmãs, filhos e filhas no Senhor
Como foi noticiado, Sua Santidade o Papa Francisco aceitou o pedido de resignação do Senhor D. António Vitalino, pelo que sou eu agora, por vontade de Deus, o vosso pastor. Quero agradecer publicamente ao Santo Padre a confiança que deposita na minha pessoa, ao colocar-me à vossa frente como bispo diocesano. Agradeço também ao Senhor D. António Vitalino que durante os dois últimos anos me foi introduzindo na realidade desta diocese e me ensinou a exercer o ministério episcopal. Desejo, do fundo do coração, que o Senhor o recompense por todo o bem que me fez neste tempo, e, sobretudo, pela sua dedicação à diocese de Beja ao longo de todo o seu pontificado. Saúdo, antes de mais, os sacerdotes e os diáconos, meus colaboradores mais próximos, e os religiosos e religiosas que vivem e trabalham na diocese, enriquecendo-a com a diversidade dos seus carismas. Dirijo também a minha saudação a todos e a cada um dos católicos praticantes e não praticantes, às famílias, aos jovens, aos idosos, aos doentes e, sobretudo, às pessoas |
que vivem sós e isoladas: desejo ser para todos vós a presença amiga do nosso Bom Pastor, Jesus Cristo, que nos ama com o mesmo amor divino que recebe do Pai. Saúdo ainda as autoridades civis e militares dos concelhos do Distrito de Beja e dos concelhos de Santiago do Cacém, Sines e Grândola, do Distrito de Setúbal, que integram a diocese de Beja. Porque servimos as mesmas populações, conto com a ajuda de todos e a todos ofereço também a minha colaboração, dentro daquilo que é normal esperar de um bispo da Igreja Católica. Àqueles que me perguntam quais são os meus projetos, apenas posso responder que venho para edificar convosco a comunhão eclesial, a Igreja, por meio da evangelização, da liturgia e da ação pastoral. Nesta hora de grandes mudanças, todos sentimos a urgência de uma evangelização básica que, em vez de procurar remendar o tecido eclesial quase desfeito que herdámos dos tempos da cristandade, proporcione aquela renovação profunda preconizada e preparada pelo Vaticano II, pela qual os últimos Papas têm
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pugnado, e que tanto nos tem sido recomendada por eles. A única riqueza que vos trago e vos quero dar abundantemente é o |
Evangelho de Jesus Cristo Filho de Deus e da Virgem Maria, desprezado e morto na Cruz, ressuscitado e glorificado à direita do Pai para |
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interceder por nós e nos dar o Espírito Santo. Quando há dois anos cheguei a Beja desejei, e ainda agora continuo a desejar, não ter no meio de vós outra sabedoria a não ser Jesus Cristo, e Jesus Cristo crucificado. (1Cor2,2) Eu acredito no Evangelho e sei que o futuro da humanidade está esboçado no Sermão da Montanha que o resume. Como São Paulo, também eu quero afirmar perante vós neste momento, com a firmeza de que sou capaz, que não me envergonho do Evangelho (Rm 1, 16). Tenho experiência de que nele se manifesta o poder de Deus que conduz da fé para a fé (Rm 1, 17), de uma fé infantil, muito ao nível da religiosidade natural, para aquela fé adulta que frutifica pela caridade (Gal 5, 6), fé que se cultiva e testemunha na comunhão da Igreja. Quero ser para todos um sinal vivo da esperança cristã, sobretudo para tantos de vós que atravessais momentos difíceis porque estais desempregados, doentes ou tendes desfeita a vossa vida familiar e sofreis a solidão e carências de ordem material e espiritual, e peço a Deus a graça de ser manifestador da Sua misericórdia para quantos habitam e trabalham no Baixo Alentejo e no Alentejo Litoral. Vamos dar continuidade ao trabalho do Senhor D. António Vitalino, procurando traduzir na vida da diocese |
as proposições do Sínodo Diocesano recentemente celebrado. Vamos também preparar-nos para comemorar festivamente em 2020, com a ajuda do Senhor, os 250 anos da restauração da diocese. Quanto ao mais, vamos trabalhar humildemente na consolidação dos fundamentos do edifício eclesial que o Senhor quer levantar connosco para podermos enfrentar as grandes tempestades que se desenham no horizonte deste século XXI. Acredito que não nos faltará a ajuda do Senhor, porque ao longo da minha vida sempre experimentei e confirmei que Ele é fiel e acompanha, por meio do seu Espírito, aqueles que envia. Confio o meu ministério à frente desta diocese a Nossa Senhora, de cujas aparições em Fátima vamos celebrar o centenário, a São José, padroeiro da nossa diocese, a São João XXIII e a São João Paulo II, que tomei como protetores no dia da minha ordenação episcopal, e ao mártir pacense São Sesinando. Conto com a vossa colaboração e oração para poder apascentar-vos com aquele amor e sabedoria que tornarão suave o jugo que hoje é colocado sobre os meus ombros. Acreditai que é grande o lugar que tendes no meu coração de pastor. O Senhor vos abençoe!
Beja, 3 de novembro de 2016 D. João Marcos |
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Mensagem ao Clero da Diocese de Beja |
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Queridos Padres e Diáconos,
Por vontade de Deus, não por minha vontade, sou posto à vossa frente como Cabeça, Pastor e Esposo da Igreja de Beja pelo nosso amado Papa Francisco. Saúdo-vos a todos na caridade de Cristo, que nos amou, que Se entregou a Si mesmo por cada um de nós e nos constituiu como Apóstolos à frente das comunidades cristãs da nossa Diocese. Agradeço-vos a amizade com que me acolhestes desde o primeiro momento da minha nomeação como bispo coadjutor, amizade que se foi consolidando ao longo destes dois anos. Saúdo-vos agora com redobrado afeto, consciente de que sem vós, sem uma comunhão autêntica e cultivada entre nós todos, o meu ministério episcopal pouco ou nada será. Sendo eu, ainda que muito indignamente, a cabeça e os olhos da Igreja diocesana, vós sois as minhas mãos e os meus pés: pés calçados com o zelo para procurar as muitas ovelhas perdidas e para levar a todos o Evangelho da salvação, e mãos para acolher e abençoar, para trabalhar e servir os irmãos. Como prometestes no dia da vossa ordenação, sois cooperadores |
da Ordem dos Bispos para apascentardes a grei do Senhor sob a ação do Espírito Santo, anunciando o Evangelho, celebrando os sacramentos, orando, configurando-vos com Cristo. As palavras que neste momento me ocorrem e me parecem mais adequadas para mim e para vós são estas da Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios: Não pode o olho dizer à mão: Não preciso de ti. Nem tão pouco pode a cabeça dizer aos pés: Não preciso de vós. Pelo contrário, os membros do corpo que parecem mais fracos são os mais necessários, e aqueles que parecem menos dignos de honra no corpo são os que cercamos de maior honra e os nossos membros menos decorosos nós os tratamos com maior decoro. Deus dispôs o corpo de forma a conceder maior honra ao que é menos nobre, a fim de que não haja divisão no corpo, mas todos os membros tenham igual solicitude uns pelos outros. Se um membro sofre, todos os membros partilham o seu sofrimento. Se um membro é honrado, todos os membros compartilham a sua alegria (1Cor 12, 21-24.26). Lembram-me estas palavras que eu, agora revestido de honra e de poder |
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no meio de vós, sou o mais fraco de todos, o menos digno de honra e o menos decoroso. Não digo isto por uma oportuna e falsa humildade, mas para que não deixe de ser claro para mim e para vós que obedecendo-me, é ao próprio Senhor que obedeceis. Sois as minhas mãos e os meus pés, sede meus cooperadores, na verdade e na caridade. E se vedes que a cabeça está coroada de espinhos, não estranheis que também as mãos e os pés sejam cravados. Rezai por mim, para que as minhas debilidades e deficiências não sejam impedimento para a ação do Espírito. Sejamos solícitos e próximos uns dos outros, para que o Senhor, com a nossa colaboração, possa transformar esta Igreja Diocesana e cada |
Paróquia numa Casa e Escola da Comunhão, verdadeiros oásis de Misericórdia, como nos pede o Papa Francisco na Bula Misericordiae Vultus. Renovo o convite para que no dia 13 de Novembro nos reunamos todos em Beja para encerrarmos solenemente o Ano Jubilar da Misericórdia e agradecermos ao Senhor o pontificado do Senhor D. António Vitalino que, como vós próprios testemunhastes, apascentou esta Diocese com tanto amor e dedicação. O Senhor vos abençoe, vos fortaleça e vos guarde no Seu santo serviço, assim como às comunidades a que presidis.
Beja, 3 de novembro de 2016 D. João Marcos |
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O Acto e o Destino |
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2016 foi, em certa medida, um annus horribilis na vida do património religioso na Diocese de Beja. Circunstâncias de diversa ordem impuseram-se ao trabalho já consolidado e fizeram eclodir problemas imprevistos: intervenções efectuadas sem supervisão técnica em diversas igrejas e obras de arte, algumas das quais classificadas; |
suspensão de projectos e candidaturas a fundos comunitários para a reabilitação de monumentos e museus, com todos os impedimentos daí resultantes; e uma vaga sem precedentes de furtos nas paróquias, que causou, entre outros prejuízos, o desaparecimento de bens culturais significativos para a identidade das comunidades. Com discernimento e serenidade, há que retirar ensinamentos da conjuntura que esteve na génese de tal situação, |
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mas, acima de tudo, há que recuperar o tempo perdido, encarando o porvir de forma coerente. Prestes a iniciar um novo ciclo de três anos, a equipa do Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja voltou à actividade no terreno e dirige o olhar, agora, para uma data que se situa um pouco mais além desta meta: 2020. Perfar-se-ão, então, 250 anos sobre a (re)fundação da Diocese, criada em 10 de Julho de 1770 pelo papa Clemente XIV, com a Bula “Agrum Universalis Ecclesiae". A celebração de uma efeméride com a magnitude da que consideramos não se pode esgotar na amnese nostálgica de fastos pretéritos. Pelo contrário, ela oferece uma oportunidade privilegiada para se avaliar, com profundidade, a situação da Igreja na região. Mais: coloca um repto sério ao conhecimento (e reconhecimento) de todo um conjunto de valores |
culturais e espirituais, à luz de uma pastoral esclarecida, projectada sobre o nosso tempo. Como figuras tutelares desta revisitação, perfilam-se os vultos de três bispos: D. Fr. Manuel do Cenáculo, o primeiro titular da cátedra bejense; D. José do Patrocínio Dias, o “reconstrutor” da vida diocesana após uma longa agonia; e D. Manuel Franco Falcão, um dos agentes essenciais da sua contemporaneidade, qual fíbula viva entre o passado e o presente. Na óptica do património diocesano, aproxima-se indubitavelmente um triénio de intenso trabalho, em que aos tradicionais desafios do sector – inventariar, defender e valorizar os bens culturais – se impõem, cada vez com maior força, duas outras prioridades. Uma consiste em dar voz a esse património, seja ele imóvel, integrado, móvel ou imaterial, abrindo-o à sociedade, para que transmita, sem pechas, a sua |
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mensagem de fundo, quantas vezes escamoteada ou silenciada, numa “aldeia global”, atenta às razões da fé, mas com crescente dificuldade em “lê-las”. A outra, complementar desta, reside em incrementar a ligação de tal herança a um desenvolvimento sustentável da região que ela serve (e que nela se revê). Sem a firme aportação das comunidades locais, não existe futuro, a médio e a longo prazo, para muitos dos nossos monumentos e respectivos acervos. Isto obriga a apostar no diálogo, a trabalhar em rede, a viabilizar complementaridades. Deixou de haver lugar a “capelinhas” na gestão de um património colectivo cujo desenlace está vinculado, claramente, à capacidade de interagir com o Estado, as autarquias e as “forças vivas” da região. Daí a importância de projectos como o Festival Terras sem Sombra de Música Sacra, uma iniciativa da sociedade civil que une o património cultural, a música religiosa e a biodiversidade; a rede diocesana de museus, hoje com oito unidades; ou o Centro UNESCO para a Arquitectura e a Arte Religiosas, sediado em Santiago do Cacém. Em cima da mesa continua a magna |
questão: num território em que cresce sensivelmente o número de visitantes, continua a ser difícil aceder às igrejas e a outras referências do “parque monumental”, tal como continua a faltar informação de qualidade, em diversas línguas. Fala-se muito na retaguarda da hotelaria e da restauração, mas a vanguarda do acolhimento permanece obsoleta, mesmo quando são cada vez mais os voluntários disponíveis para colaborar. Eis um campo em que vai ser necessário terçar armas, até porque algumas entidades responsáveis pelo seu enquadramento tropeçam sistematicamente nas próprias pernas. A temática mariana oferece, em 2017, um notável fio condutor para a redescoberta diocesana de tão extraordinário legado espiritual, muito arreigado entre nós. Constituirá também, decerto, excelente oportunidade para nos aproximarmos de 2018, o Ano Europeu do Património Cultural, em cuja celebração o Departamento do Património da Diocese de Beja está, desde os primórdios da iniciativa, assaz empenhado. Quanto a 2019, será uma preciosa rampa de lançamento para o ambicioso programa de 2020. José António Falcão Diretor Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja |
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Beja, uma diocese em caminho |
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O presente precisa sempre de uma incursão na história para a sua compreensão. Assim é com a diocese de Beja restaurada em 1770. Quem quiser encontrar uma explicação objetiva da situação atual da diocese, não pode passar por cima das vicissitudes por que passou nesses longos anos, em que os bispos se sucediam quase anualmente, ou residiam fora ou nem sequer chegavam a tomar posse. Este dado histórico prestou-se a muitos desvarios de toda a ordem, inclusive à instalação de um clero sem bases sólidas na teologia e com deficiente formação espiritual. Só a partir de 1922, com a entrada de D. José do Patrocínio Dias, a diocese teve estabilidade episcopal, formação adequada do clero, organização administrativa eficaz e evangelização sistemática. A sua ação fundada numa fé profunda, numa confiança ardente no poder do Espirito santificador e num intenso programa de ação pastoral, transformou o panorama desolador de uma Igreja sem rumo. A partir e na sequência desse grande obreiro, D. José do patrocínio Dias, restaurador de uma diocese carente de tudo, tem a diocese beneficiado da inteligência |
discreta e do ardor missionário de bispos como D. Manuel Falcão e D. António Vitalino que acaba de entregar esta Igreja diocesana ao cuidado pastoral de D. João Marcos. Mas o tempo também faz parte da dinâmica de desenvolvimento e do progresso na fé dos povos. Nestas circunstâncias, restaurar é, quase sempre, começar de novo como aconteceu ao longo da história da diocese. As alterações políticas por que passou o país, tiveram também forte repercussão no Alentejo e naturalmente na vida da diocese. Alguns leigos inseridos em atividades pastorais abandonaram o seu campo de trabalho e foi necessário um tempo de adaptação às novas realidades sociais e políticas, até se restabelecer a confiança no desejo comum de fazer caminho no respeito mútuo e na colaboração ativa. Neste ano corrente, a diocese de Beja, a segunda em extensão territorial, dispõe de cinquenta e cinco padres no ativo, dos quais treze religiosos, com uma média etária, no total, de 58.8 anos. |
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As distâncias que é preciso percorrer para chegar às periferias territoriais da diocese, sendo penosas a muitos títulos, são bem mais fáceis de ganhar do que chegar àqueles muitos que ou não ouviram falar de Jesus ou, se ouviram, não chegaram a deixar-se enamorar por Ele. Por outro lado, as populações da diocese não são uma exceção àqueles que, por esse país fora, vivem uma religião sem prática, uma fé sem Cristo, uma vida sem valores. Como fazer-lhes um anúncio que tenha escuta e resposta, é a pergunta que nos colocamos? A desertificação humana persistente, perante o manifesto desinteresse ou a incapacidade dos poderes políticos, nacionais ou locais, de encontrar formas de valorizar o território com meios que permitam a fixação e respondam aos interesses de realização pessoal, torna difícil a evangelização. Os núcleos populacionais são cada vez mais reduzidos, o envelhecimento crescente reduz a capacidade típica de uma população jovem para responder aos desafios da fé. Novas formas de trabalho são precisas para responder a uma situação social que tende a agravar-se.
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No fim do passado ano pastoral encerrou-se o primeiro Sínodo diocesano. Foram três anos de trabalho intenso com grupos de reflexão pela diocese inteira. Durante a sua realização foi claro o desejo de uma maior participação dos leigos na construção de uma Igreja viva, mistério da salvação de Deus para os povos do Alentejo. Muito se contestou, muito se desejou em ordem à mudança para uma fé cristã viva, esclarecida e adulta. Dele ficaram propostas exequíveis que poderão inspirar projetos para uma pastoral de renovação da diocese. Mais uma vez, será um começar de novo sem perder o caminho já feito. Este é mais um ano para defrontar novos desafios, percorrer novos caminhos. A celebração do centenário das aparições de Nossa Senhora em Fátima, é ocasião para a realização de um ano pastoral em que «Com Maria seremos Igreja Viva», grande desafio para um ano pastoral na descoberta e construção da Igreja, tomando Maria como modelo.
Padre António Domingos Pereira Vigário-geral da Diocese de Beja
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A Diocese de Beja em tempos de mudança |
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No dia três do corrente mês de novembro, D. António Vitalino Dantas completa 75 anos, as Bodas de Diamante. Ordenado Bispo a três de Julho de 1996, com o título de Flos e Bispo auxiliar de Lisboa é nomeado Bispo de Beja, pelo Papa S. João Paulo II, a vinte e cinco de Janeiro de 1999, onde entra solenemente a onze de Abril. Depois de dezassete anos à frente dos destinos da diocese, pediu ao Papa Francisco a sua renúncia, por limite de idade, a qual foi aceite, sucedendo-lhe o seu Bispo Coadjutor, D. João Marcos. O novo Bispo de Beja foi ordenado na Igreja de Santa Maria de Belém, a vinte e três de novembro de 2014, tendo entrado solenemente na diocese oito dias depois. Os dois Bispos, na mensagem dirigida à diocese, falam assim da mudança: - «Mudam os pastores, mas permanece o único Pastor. Parafraseando S. Paulo: “nós não olhamos para os pastores visíveis mas para o Invisível: os visíveis são passageiros, ao passo que o Invisível é eterno”. Jesus Cristo Nosso Senhor é o Pastor eterno, o Bom e o Belo Pastor que vos apascenta, cheio de amor e de sabedoria, por meio dos pastores da Igreja».Por limite de idade, D. António Vitalino cessa as |
funções de Bispo titular a três de novembro. A treze, no termo do Ano Jubilar da Misericórdia, a diocese vai dar graças e manifestar ao Aniversariante a sua profunda gratidão pelos dedicados serviços prestados à frente dos seus destinos. O Programa é como segue: 15h00 – Sessão no Auditório do Seminário de Beja, com intervenção de uma leiga, uma jovem, uma religiosa e um sacerdote. Duas peças musicais do Coro do Carmo e do Coro de Câmara de Beja. Um diaporama sobre a vida do Senhor D. António e uma palavra final do homenageado. 16.30 – Cortejo litúrgico da Igreja de Santa Maria para a Sé e solene concelebração eucarística, presidida por D. João Marcos, novo Bispo Titular da Diocese. No termo da celebração será entregue ao Bispo Emérito de Beja uma lembrança, preito de gratidão dos seus diocesanos.
O SEU ZELO DE PASTORQuero lembrar que o essencial na vida da Igreja não são os meios ricos da contabilidade e da estatística, mas a atitude de quem dá a vida por amor, |
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à semelhança de Jesus. Na verdade, a Diocese de Beja reveste-se de grande complexidade. Com 12.300 Km2, as distâncias são enormes: de Beja a Barrancos são 112 Kms; de Beja a Sines são 100 e 90 de Beja à fronteira do Algarve. A desertificação humana é um grande imponderável que se abate instintivamente sobre as povoações, roubando-lhes esperança e alegria. Na década de sessenta do século passado a Diocese tinha 350.000 habitantes, hoje são 211.496. No último quartel do mesmo século, o concelho de Mértola perdeu mais de metade dos |
seus residentes, o que faz lembrar uma catástrofe social. Por outro lado, apesar de Bispos ilustres terem pastoreado a diocese, a herança liberal, maçónica e anticristã deixou raízes que perduram. Gerações e gerações de alentejanos nasceram, cresceram e construíram as suas vidas, sem referência a Cristo e à Igreja. Isto repercute-se, em especial, no desinteresse que têm pela educação cristã dos filhos. Há uma forte religiosidade natural e uma devoção a Nossa Senhora, a “Santinha”, que se alimenta com a festa anual |
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e alguma superstição. Foi nesta terra de“sequeiro” que o Senhor D. António procurou “regar” com a sua oração e ação. Tomou a peito arrumar a casa nos aspetos organizativos e administrativos, informatizando a Cúria e serviços diocesanos. Pôs todo o seu empenho nas chamadas missões populares e nas visitas pastorais. Quando em Abril de 2008 fez a visita pastoral à paróquia do |
Carmo, Beja, fiquei impressionado com a dinâmica imprimida e com o diálogo estabelecido com as instituições civis sediadas na área da paróquia, escutando anseios e aplaudindo êxitos, partilhando problemas e a todos deixando palavras de apreço, estímulo e gratidão. Na paróquia conviveu com todos os grupos, escutando e apontando caminhos. O Sínodo Diocesano, o primeiro da Diocese, deve-se ao seu inconformismo perante a apatia reinante. Por ele pretendeu acordar, sensibilizar e lançar a Diocese para uma pastoral mais dinâmica e responsável, menos clerical e mais eclesial. O início foi a convocação de cerca de quinhentos e cinquenta padres e leigos. As propostas |
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apresentadas e aprovadas na sessão de encerramento no dia quatro de Junho do ano corrente irão alimentar os programas pastorais diocesanos dos próximos anos.
D. JOÃO MARCOS, NOVO BISPO DE BEJAO Alentejo vive, atualmente, a maior revolução da sua história. A água do Alqueva vem transformar o alentejano de criatura em criador, pela ferramenta da água que tem à sua disposição. São 120.000 ha, dos quais 80.000 já irrigados e 40.000 em vias de irrigação. O sistema apanha 66% dos agricultores. Olivais, vinhas, pomares, milho, papoila para fins terapêuticos, mudam o visual do Alentejo e o ritmo de vida das pessoas ligadas ao campo. Este dinamismo |
revolucionário do Alentejo Verde, não pode deixar de ser um grande desafio para a Igreja que tem a água viva do Espírito Santo. Como pintor, a missão do novo Bispo é pintar Jesus no coração de cada crente, pelo pincel da Palavra de Deus. Com o vasto e apaixonante horizonte do mundo da arte e a mais-valia da sua experiência como pároco, catequista itinerante do Caminho Neo-catecumenal em Portugal e no Brasil, e Diretor Espiritual dos Seminários dos Olivais e Redemptoris Mater, o novo Bispo está firmemente convencido que o futuro da Igreja Diocesana depende da qualidade da pedagogia da Iniciação Cristã que se conseguir implantar. Por isso se faz catequista semanal desta experiência piloto.
Padre António Aparício Diocese de Beja |
EMRC online |
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Encerrou no passado dia 30 de outubro a semana nacional da Educação Cristã onde se propunha uma educação “integral” para o “desenvolvimento harmonioso das pessoas”. Assim a sugestão para esta semana passa por uma visita virtual ao sítio da Comissão Episcopal responsável por este sector, que tem a responsabilidade de coordenar toda a área da educação cristã, sejam as catequeses, as escolas católicas e a educação moral e religiosa católica. Ao digitarmos o endereço www.educris.com encontramos um espaço interessante, com uma apresentação gráfica bastante atual e onde as quatro grandes áreas (EMRC, Catequese, Escolas Católicas e Comissão Episcopal) se encontram em destaque. Surgem depois oito opções complementares o que torna a navegação e a disposição dos conteúdos bastante simples. Ao clicarmos em “notícias”, encontramos os apontamentos noticiosos que são publicados nesta plataforma, ordenados |
cronologicamente. Existindo ainda a opção de pesquisarmos notícias por determinada data e/ou título. Em “Centro de Recursos”, encontramos um conjunto bastante alargado de conteúdos, nos mais variados formatos (texto, áudio, vídeo, apresentações, imagens, flipchart, aulas interativas), suportados por um motor de busca que facilita a pesquisa. Uma área em completa evolução e onde cada vez mais é importante a sua existência – TV Online - é aquela que dispõe de registos em formato de vídeo das muitas conferências, debates e outros encontros que vão sendo organizados por este secretariado. Na opção “Galeria”, encontra devidamente catalogadas, um conjunto enorme de registos fotográficos dos diversos eventos nacionais. O espaço “agenda”, procura manter informadas todas as pessoas que visitam este sítio, por forma a ficarem a conhecer as datas e os locais dos eventos relacionados com a área de atuação do SNEC. Por último em “edições SNEC”, pode consultar todas as publicações |
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realizadas por este secretariado e em algumas delas, com a possibilidade de aceder a partes do seu conteúdo. Aqui fica a sugestão de visita constante a este espaço virtual, por parte de crianças, adolescentes, jovens e adultos, sejam eles catequistas, |
professores, educadores ou encarregados de educação, pois este sítio dispõe de conteúdos bastante relevantes para todo o sector da educação cristã.
Fernando Cassola Marques |
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A Pastoral das grandes cidades |
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O cardeal-patriarca de Lisboa vai apresentar o livro ‘A Pastoral das grandes cidades’ pelas 15h00 do dia 8 de novembro, na Casa Nossa Senhora das Dores, em Fátima. Num comunicado enviado à Agência ECCLESIA, a Paulus Editora informa que o arcebispo emérito de Barcelona, cardeal Lluís Martínez Sistach, responsável pela organização da nova publicação também vai estar em Fátima, aquando a apresentação do livro. “Atualmente, 52% da população mundial vive nas grandes cidades e o processo está em crescimento. Estas grandes concentrações urbanas interpelam a pastoral aí desenvolvida, muitas vezes com critérios rurais herdados de um período anterior à explosão urbana atual”, refere o arcebispo emérito de Barcelona. ‘A Pastoral das grandes cidades’ reúne as intervenções e debates realizados no primeiro Congresso Internacional sobre pastoral das grandes cidades que se realizou em duas sessões, Barcelona, de 20 a 22 de maio de 2014, e no Vaticano entre 24 a 26 de novembro do mesmo ano. A Paulus Editora contextualiza |
que na primeira fase foram ouvidos especialistas e na segunda fase os pastores analisaram e debateram a pastoral das grandes cidades, onde também esteve presente D. Manuel Clemente. As conclusões do encontro foram apresentadas ao Papa Francisco que |
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disse que a pastoral “é mais do que uma ação, é também presença, conteúdo, atitudes e gestos”. O Papa Francisco disse aos participantes deste encontro: «O Papa Francisco disse aos participantes deste encontro: «Na minha opinião, a pastoral é mais do que uma ação, é também presença, conteúdo, atitudes e gestos. Uma primeira proposta: sair e facilitar. Trata-se de uma verdadeira transformação eclesial. E tudo ponderado em chave de missão. Uma mudança de mentalidade: do receber |
ao sair, do esperar que venham ao ir à sua procura. E para mim, esta é a chave! […] Tornar acessível o sacramento do Batismo. Igrejas abertas. Secretarias com horários para as pessoas que trabalham. Catequeses adequadas nos conteúdos e nos horários da cidade. […] Uma segunda proposta: a Igreja samaritana. Estar presente. Trata-se de uma mudança, no sentido do testemunho. Na pastoral urbana, a qualidade será conferida pela capacidade de testemunhar por parte da Igreja e de cada cristão». |
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II Concílio do Vaticano:
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Para além dos trabalhos nas sessões conciliares, os participantes no II Concílio do Vaticano – assembleia magna convocada pelo Papa João XXIII – também tinham momentos mais lúdicos. Um dos bispos portugueses presentes no II Concílio do Vaticano foi D. Júlio Tavares Rebimbas, falecido em 2010, que – num texto escrito para a agência ECCLESIA – recordou alguns episódios com alguma dose de humor. No seu texto relata uma “peripécia” ocorrida num autocarro entre Roma e Florença por ocasião do centenário de nascimento de Dante Alighieri (Florença, 1 de junho de 1265- Ravena, 13 ou 14 de setembro de 1321). Com a presença de várias centenas de padres conciliares na cidade de Florença, D. Agostinho de Moura, na altura bispo de Portalegre-Castelo Branco, no trajecto entre as duas cidades italianas resolve dar uma aula de história. “Falava, como de costume, muito e alto. Sabia muito de História e meteu-se a contar a história dos Papas. Tudo bem. Acompanhavam-nos universitários da Universidade de Florença. Ia na contagem dos Papas Pios, precisamente no segundo. Eis senão quando, um dos bispos gregos, ortodoxos, fartou-se do barulho da contagem e desata: Irra!... diz o grego. Eles são doze e você ainda vai no segundo!”, escreveu D. Júlio Tavares Rebimbas e acrescenta: “Uma gargalhada geral no autocarro. Bispos e alunos universitários”. A vida é “um segredo e um mistério” e o II Concílio do Vaticano foi para o prelado português, natural da Diocese de Aveiro, “uma riqueza de dons gratuitos e também |
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um mistério”. “Podia contar muitas coisas mas é melhor ficarem guardadas na alma”, sublinhou no seu comentário. A aprendizagem era frequente nas “conversas particulares”, mas a boa disposição também reinava. Um dos padres conciliares era um bispo australiano que, por sinal era “muito alto, logo lhe puseram o nome de «altíssimo»”. “Uma vez dei com ele a tirar uma prova para uma batina, mas, como era muito alto, as freiras andavam com um escadote para lhe chegar à altura!!!”, contou. “Os bispos também se riam e é bom”, completou. D. Júlio Tavares Rebimbas foi um dos bispos portugueses que participou no II Concílio Ecuménico Vaticano II (1962-1965). Aos 43 anos, em 27 de Setembro de 1965, foi eleito por Paulo VI como bispo do Algarve e, ainda antes da ordenação, tomou parte na última sessão do Concílio. Este acontecimento marcou-o “profundamente”. A convivência com o Papa Paulo VI, os outros bispos e o Espírito Santo, nas sessões diárias daqueles últimos meses, “a densidade e uma pressa de aprovar constituições, decretos e declarações fizeram-me participar nos votos e aprovações da maior parte dos documentos conciliares”. |
Certamente que o “Espírito Santo não estava à espera de mim para aprovação da maior parte dos documentos conciliares”. O caso é que, indo só no fim, na última hora, “votei quase todos, evangelicamente, como os que tinham ido na primeira hora”, escreveu. D. Júlio Tavares Rebimbas, antigo bispo do Algarve, auxiliar do Patriarca de Lisboa, primeiro prelado de Viana do Castelo e arcebispo-bispo do Porto, faleceu a 6 de Dezembro de 2010, com 88 anos.
LFS |
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novembro 2016 |
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05 de novembro. Lisboa – UCP - Congresso das Associações de Profissionais Católicos sobre «Cuidar da Casa Comum».
. Vaticano - Jubileu dos Reclusos (termina a 06 de novembro)
. Lisboa - Queijas (CONFHIC), 09h30 - Encontro «Escutar para viver» sobre «Enviados em Missão - Vivendo as bens-aventuranças» com José António Santos e o padre Jorge Anselmo
. Seminário Maior de Lamego, 09h30 - Os catequistas do Arciprestado de Lamego, e de “outros espaços pastorais”, vão ter uma ação de formação intitulada ‘A Eucaristia centro da vida (comunidade) cristã’, entre as 09h30 e as 12h30, no Seminário Maior.
. Coimbra - Cineteatro do Colégio de São Teotónio, 10h00 - O jornal católico «O Amigo do Povo», da Diocese de Coimbra, celebra o seu centenário com uma sessão comemorativa no cineteatro do Colégio de São Teotónio, naquela cidade.
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. Porto - Casa de Vilar, 10h00 - Jornadas Diocesanas do Apostolado da Oração orientadas pelo padre Dário Pedroso que aborda o tema «Com Maria, renovai-vos nas fontes da alegria».
. Braga – Barcelos, 15h00 - Homenagem a D. António Barroso, bispo do Porto (1899-1918) com a presença do bispo emérito de Díli, D. Carlos Ximenes Belo.
. Aveiro - Bairro de Santiago, 19h30 - O voluntariado Teresa Saldanha (Movimento juvenil ligado às Irmãs Dominicanas) promove um festival de sopas
. Lisboa - Igreja Matriz de Oeiras, 21h30 - Recital «Misericordiae Domini» integrado no ciclo de concertos de misericórdia
06 de novembro. Fátima - Encerramento das comemorações dos 50 anos da presença do Movimento dos Focolares em Portugal
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. Açores - Dia da Igreja Diocesana
. Açores - Semana dos Seminários na Diocese de Angra (termina a 13 de novembro)
. Semana dos Seminários (termina a 13 de novembro)
. Porto - Vila do Conde (Vilar do Pinheiro), 15h00 - Assembleia diocesana da Sociedade São Vicente de Paulo (Vicentinos) com cerimónia de tomada de posse do presidente do Conselho Central do Porto, Manuel Carvas Guedes.
. Bragança, 16h00 - Celebrações conclusivas nas quatro «Portas da Misericórdia» nas igrejas jubilares
07 de novembro. Fátima - Casa de Nossa Senhora das Dores - 190.ª Assembleia plenária da CEP (Conferência Episcopal Portuguesa) – termina a 10 de novembro
. Itália - A Obra Nacional da Pastoral do Turismo promove peregrinação a Roma e Assis. – termina a 10 de novembro |
. Viana do Castelo - Semana de estudos teológicos «Ajuda-me a morrer bem. A Eutanásia em questão» promovida pela Escola Superior de Teologia do Instituto Católico da Diocese de Viana do Castelo. (termina a 10 de novembro)
08 de novembro. Setúbal – Almada - Assembleia dos Institutos Missionários «Ad Gentes». – 11 de novembro
. Fátima - Casa de Nossa Senhora das Dores, 21h15 - Conselho permanente da CEP (Conferência Episcopal Portuguesa)
09 de novembro. Coimbra - Instituto Justiça e Paz, 18h00 - Apresentação do «DOCAT» (Compêndio de Doutrina Social da Igreja para jovens)
. Viana do Castelo - Salão da junta da união de freguesias de Barroselas e Carvoeiro, 21h00 - D. Carlos Ximenes Belo, bispo emérito de Díli (Timor) profere conferência sobre «Diálogo entre religiões, um caminho para a Paz» que será moderada por Álvaro Campelo. |
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05 de novembro Coimbra: O jornal católico «O Amigo do Povo», da Diocese de Coimbra, celebra o seu centenário com uma sessão comemorativa, no cineteatro do Colégio de São Teotónio, que conta com a presença do bispo diocesano, D. Virgílio Antunes.
Aveiro: O voluntariado Teresa Saldanha, movimento juvenil ligado às Irmãs Dominicanas, promove um festival de sopas, a partir das 19h30, no Bairro de Santiago.
06 a 13 de novembro Portugal: Igreja Católica vai viver a Semana dos Seminários com o tema ‘Movidos pela Misericórdia de Deus’, que destaca vocação sacerdotal que nasce da misericórdia.
09 de novembro Viana do Castelo: D. Carlos Ximenes Belo, bispo emérito de Díli, Timor-Leste, profere a conferência «Diálogo entre religiões, um caminho para a Paz», às 21h00, no salão da Junta da União de Freguesias de Barroselas e Carvoeiro.
10 a 12 de novembro Fátima e Ourém: Congresso Internacional das Cidades-Santuário com o objetivo de encontrar “novos caminhos” para o seu desenvolvimento.
10 de novembro – 12 de maio 2017 Algarve: Começa na igreja do Carmo o projeto ‘Video Lucem’, proposta que aborda temas relacionados com a espiritualidade numa igreja, e vai projetar 22 filmes em 22 igrejas da diocese. |
Programação religiosa nos media |
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Antena 1, 8h00 RTP1, 10h00 Transmissão da missa dominical
11h00 - Transmissão missa
Domingo: 10h00 - O Dia do Senhor; 11h00 - Eucaristia; 23h30 - Ventos e Marés; segunda a sexta-feira: 6h57 - Sementes de reflexão; 7h55 - Oração da Manhã; 12h00 - Angelus; 18h30 - Terço; 23h57-Meditando; sábado: 23h30 - Terra Prometida. |
RTP2, 13h00Domingo, 06 de novembro - Clérigos: mais do que um símbolo da cidade do Porto
Segunda-feira, dia 07, 15h00 - Entrevista ao presidente da Cáritas Portuguesa, Eugénio Fonseca, sobre o Jubileu dos marginalizados
Terça-feira, dia 08, 15h00 - Informação e entrevista ao padre Tony Neves sobre os 150 anos dos Espiritanos em Portugal
Quarta-feira, dia 09, 15h00 - Informação e entrevista ao padre José Alves sobre os 300 anos dos padres vicentinos em Portugal
Quinta-feira, dia 10, 15h00 -Informação e entrevista a José Luís Fontes, sobre o Fórum Ecuménico Jovem
Sexta-feira, dia 11, 15h00 - Análise à liturgia de domingo com o padre João Lourenço e Juan Ambrosio
Antena 1 Domingo, dia 06 de novembro - 06h00 - Entrevista à nova reitora da Universidade Católica Portuguesa, Isabel Capeloa Gil
Segunda a sexta-feira, dias 07 a 11 de novembro - 22h45 - Os Bens Culturais da Igreja: Do inventário à conservação preventiva |
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Ano C – 32.º Domingo do Tempo Comum |
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Creio em Deus, não de mortos mas de vivos! |
A questão central do Evangelho deste trigésimo segundo domingo do tempo comum gira à volta da ressurreição. Percebendo que a perspetiva de Jesus estava próxima da dos fariseus, alguns saduceus apresentaram uma hipótese académica, com o objetivo de ridicularizar a crença na ressurreição: uma mulher casou sucessivamente com sete irmãos, cumprindo a lei do levirato; segundo esta lei, o irmão de um defunto que morria sem filhos devia casar com a viúva, a fim de dar descendência ao falecido e impedir que os bens da família fossem parar a mãos estranhas. E perguntam a Jesus: quando ressuscitarem, a viúva será mulher de qual dos irmãos? Através desta história ridícula, os saduceus, que não acreditavam na ressurreição, querem ridicularizar Jesus e a crença na ressurreição. Claro que a ideia da ressurreição não é evidente para todos. Já os gregos encontrados por São Paulo não acreditavam nisso. E hoje há cristãos, alguns mesmo praticantes, que aderem à teoria da reincarnação, que não tem nada a ver com a ressurreição. Não faltam testemunhos de pessoas que dizem ter recordações de uma vida anterior. Afinal, os saduceus são seriam tão estranhos entre nós, hoje. Contudo, a ressurreição é uma realidade de mistério acolhido na fé. Quando Jesus ressuscitado apareceu aos seus discípulos, teve que usar muita pedagogia para os convencer de que era verdadeiramente Ele. Eles não acreditaram imediatamente. Basta ver o exemplo de Tomé. O cerne do ensinamento de Jesus é a sua palavra: «E que os mortos ressuscitam, até Moisés o deu a entender no episódio da sarça-ardente, quando chama ao Senhor o |
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Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacob. Não é um Deus de mortos, mas de vivos, porque para Ele todos estão vivos». Deus Criador está para além do tempo. É por um ato infinito e eterno de amor criador que Ele ressuscita cada ser humano, que vem ao mundo como um pedaço de eternidade. Pela sua ressurreição, Jesus abre-nos o caminho da nossa própria vida de plenitude em Deus. Acreditamos mesmo nisto, quando professamos o credo e o pomos em prática? Recordemos ainda Paulo que nos lembra que, se Cristo não ressuscitou, |
a nossa fé é vazia de sentido. A fé acontece sobretudo na essência da ressurreição, uma realidade que nos espera. Não vale a pena estar a julgar e a imaginar essa realidade à luz das categorias que marcam a nossa existência finita neste mundo. Pela fé, sabemos que a nossa existência de ressuscitados será uma existência plena, total, nova. Pela fé, acolhemos a ressurreição como certeza absoluta, a ser já assumida no nosso peregrinar de fiéis discípulos de Cristo.
Manuel Barbosa, scj www.dehonianos.org |
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Jubileu dos Reclusos
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O coordenador da Pastoral Penitenciária em Portugal informou que um recluso e quatro ex-reclusos vão participar num encontro com o Papa, pelo Jubileu da Misericórdia deste setor, nos dias 5 e 6 de novembro, no Vaticano. Numa nota enviada à Agência ECCLESIA, a Pastoral Penitenciária de Portugal informa que a comitiva |
nacional integra “aproximadamente 80 pessoas” onde para além de um recluso e quatro ex-reclusos contam-se visitadores, acompanhantes e familiares. O Vaticano apresentou em conferência de imprensa a celebração do jubileu dos reclusos, um tema particularmente querido do Papa, que tem telefonado a condenados à |
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morte em vários países. “Muitas vezes, o Papa Francisco esteve em contacto telefónico nos últimos meses com condenados à morte”, revelou o arcebispo Rino Fisichella, presidente do Conselho Pontifício para a Nova Evangelização (Santa Sé), organismo responsável pela organização dos eventos do Jubileu da Misericórdia. Em resposta aos jornalistas, o responsável precisou que Francisco esteve em contacto e se “interessou” por pessoas que foram condenadas à morte. “Não conseguiu salvar um que foi condenado à morte e sofreu a pena”, relatou o presidente do Conselho Pontifício para a Nova Evangelização - caso que terá acontecido nos EUA. Em fevereiro deste ano, o Papa tinha proposto a “abolição” da pena de morte em todo o mundo, por ocasião da celebração do ano santo extraordinário, o Jubileu da Misericórdia (dezembro 2015-novembro 2016), em defesa de uma cultura de “respeito da vida”. D. Rino Fisichella sublinhou que o interesse em relação aos reclusos “vai para lá” da celebração do Jubileu, |
como tem sido visível nas suas viagens internacionais e nas deslocações a prisões italianas. A celebração com presos e ex-reclusos de 12 países, incluindo Portugal, vai incluir a presença de condenados a prisão perpétua. O Vaticano não prevê qualquer “medida especial” de reforço de segurança, adiantou o arcebispo italiano. No sábado, os participantes - reclusos e seus familiares, funcionários penitenciários, capelães e voluntários da pastoral prisional e membros de associações católicas - vão ter a oportunidade de confessar-se, nas igrejas jubilares de Roma, seguindo em peregrinação para a porta santa da Basílica de São Pedro. Segundo D. Rino Fisichella, desde dezembro de 2015 cerca de 20 milhões passaram por esta porta santa, no Vaticano, assinalando o ano santo extraordinário. A Missa conclusiva do jubileu dos reclusos vai ser presidida pelo Papa Francisco, no domingo, pelas 10h00 (hora local, menos uma em Lisboa). |
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Construir-se como pessoaResponsáveis da Pastoral Juvenil debatem novos desafios à luz da antropologia cristã |
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Decorreram, no passado dia 15 de Outubro, em Fátima, as V Jornadas Nacionais da Pastoral Juvenil. Com cerca de uma centena de participantes, a iniciativa procurou reflectir sobre os desafios hoje colocados à pastoral juvenil pelas novas visões antropológicas e de família, tendo em conta as perspectivas e linhas de força sobre a pessoa humana lançadas pela tradição bíblica e pela teologia cristã. Coube ao bispo de Lamego e biblista, D. António Couto, abrir a reflexão, tomando como ponto de partida o capítulo segundo do Livro de Daniel. |
Do inesperado sonho de Nabucodonosor, acontecido no contexto do cativeiro do povo de Israel da Babilónia, D. António Couto explorou os sentidos dos materiais associados à imagem referida no sonho (um homem com cabeça de ouro, peito de prata, ventre e pernas de bronze e ferro e os pés de barro) para mostrar a fragilidade da construção fundada em (contra)valores que fecham à relação, evocando sobretudo sentimentos de posse, de domínio, de poder, a busca incessante do ter e da satisfação do prazer imediato. |
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A reconstrução da pessoa – na realidade, a sua conversão – foi proposta a partir dos sentimentos e atitudes associados pela tradição bíblica às diversas partes do corpo: a sensatez, a inteligência, a opção por ideais, um olhar límpido e atento ao bem, a escuta da Palavra, um coração sensível e atento, braços para levantar e acolher, entranhas de misericórdia, capazes de gerar vida, pés ágeis no anúncio e na alegria de amar. Relembrou, contudo, como esta construção não é nada se não é fundada em Deus, o primeiro grande construtor. O padre, professor e médico, José Manuel Pereira de Almeida, diretor Nacional da Pastoral Social, trouxe o olhar da doutrina social da Igreja sobre a pessoa, que se descobre como ser de relação, com os outros e para os outros. Na perspectiva cristã, o eu exige o outro, e só se realiza no risco da vida entregue: só se vive plenamente quando se faz viver. O outro tem sempre um nome e é sempre um irmão. Face à radicalização do presente, o grande desafio é o do acolhimento, do respeito da pluralidade, do olhar o outro como igual, como irmão. Relembrou como a Doutrina Social da Igreja se funda |
na dignidade de toda a pessoa humana, afirmada como imagem de Deus e como ser em e para a comunhão. A terceira intervenção foi proposta pelo Prof. Doutor Diogo da Costa Gonçalves, professor auxiliar na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. A sua intervenção centrou-se nos desafios lançados à visão antropológica cristã pelo que, na sequência de Nota Pastoral da Conferência Episcopal Portuguesa de 2013, se designou como “ideologia de género”. As questões levantadas, como o conferencista demonstrou, revelam o emergir de novas concepções antropológicas concorrentes, a seu ver, com a cristã, ao questionar a associação tradicional entre sexo e género, as configurações do masculino e do feminino e, por consequência, a própria visão de família, de pessoa, dos processos educativos e do próprio ordenamento jurídico da família e do seu papel na sociedade. Se corremos o risco de “ideologizar” o debate, enfraquecendo-o e desfigurando-o, o tema merece a atenção pelos problemas que levanta, desde a precisão dos conceitos envolvidos(natureza / construção cultural, género e papéis sociais, sexo / sexualidade…) ao discernimento |
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entre o que em muitos movimentos são, na sua origem, aspirações legítimas (ou não) e questionamentos dos modelos de pessoa e de família. D. Joaquim Mendes, bispo auxiliar de Lisboa e vogal da Comissão Episcopal Laicado e Família, presente no |
decurso de todos os trabalhos, lembrou a importância destas questões, em ordem à formação da consciência dos jovens, por ele evocada a propósito das palavras dirigidas pelo Papa Francisco aos |
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bispos portuguesas na sua última visita ad limina. O padre Eduardo Novo, diretor do Departamento Nacional da Pastoral Juvenil, nas suas intervenções, evidenciou que a Igreja continua a olhar para os jovens com confiança e amor e o sínodo dos Bispos de 2018 |
é sinal disso mesmo. Os jovens são o presente e o futuro da sociedade e da vida da igreja e por isso é tão pertinente esta preocupação e necessidade de formação permanente, para que possamos compreender as sua inquietações e problemas e saibamos no diálogo, descobrir como falar de Deus aos jovens, que métodos, que linguagens. No decurso das Jornadas, decorreu a apresentação oficial do DOCAT, o compêndio para os jovens sobre a Doutrina Social da Igreja, e neste contexto, foi comunicada a continuidade do projeto conjunto da Paulus e do DNPJ - o YOUthTRAVEL. Foi também apresentado o itinerário catequético proposto pelo Departamento Nacional da Pastoral Juvenil para o ano 2017, baseado na figura de Maria como modelo do discipulado cristão, inserido no centenário das aparições de Fátima 2017, com vista ao jubileu dos jovens 2017. Departamento Nacional da Pastoral Juvenil Lisboa, 20 outubro 2016 |
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A libertação de Qaraqosh, ao fim de dois anos de violência“Já sofremos o suficiente…” |
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Os sinos voltaram a tocar nas igrejas. Logo depois de os primeiros soldados iraquianos e curdos terem entrado na cidade, correram mundo as primeiras imagens de Qaraqosh, a cidade cristã iraquiana após dois anos, dois meses e alguns dias de ocupação jihadista.
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apressada de quem apenas teve tempo de salvar a própria vida deixando o resto para trás. Foram dois anos, dois meses e doze dias de sofrimento para milhares de pessoas que perderam tudo menos a fé. Agora, todos só pensam em voltar. A família Mateh vive numa casa pré-fabricada. Tal como eles, também Raeda seguiu com toda a atenção a reconquista de Qaraqosh. Numa das imagens que viu na “Internet”, Raeda reconheceu a sua igreja, onde ia aos domingos, onde rezava as orações que por aqueles lados sempre foram murmuradas a Deus desde o princípio do cristianismo. “Olha, a nossa igreja…” Dar graças a Deus Raeda, tal como os Mateh, vivem em Erbil, no Curdistão Iraquiano, mas sonham com o dia em que poderão voltar para casa, regressar às suas coisas, à vida que levavam. Por ali, por Erbil, naquela cidade provisória erguida graças à solidariedade dos benfeitores da Fundação AIS, já ninguém pensa noutra coisa, mas ninguém esconde também o medo. Diz Raeda: “Se Deus quiser, iremos todos regressar a casa. Já sofremos |
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o suficiente.” A Planície de Nínive foi libertada, é certo, mas ninguém se sente ainda em segurança. Sem ninguém para os proteger de futuros ataques, quem arriscará regressar? Martin era seminarista quando teve que fugir para Erbil. Há semanas, foi ordenado sacerdote. Estava em Bagdade quando viu na TV a notícia, tão ansiada, da libertação de Qaraqosh. “A primeira coisa que quero fazer é dar graças a Deus. Estou tão feliz. Sempre acreditei que isto |
aconteceria um dia... O bem triunfou sobre o mal.” Foram dois anos, dois meses e doze dias de sofrimento para milhares de pessoas que perderam tudo menos a fé, e que hoje, também por causa do que passaram, a guardam como o seu bem mais precioso, como um tesouro inacessível impossível de roubar.
Paulo Aido |
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Francisco nos caminhos da Unidade |
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Tony Neves |
O Papa visitou a Suécia. E mais: participou nas celebrações solenes dos 500 anos da Reforma Protestante, ligada á figura de Martinho Lutero. Foi um acto de enorme coragem profética, pelos muros que derrubou e pelas pontes que construiu. A unidade dos cristãos é uma vontade de Deus: ‘que todos sejam um. Que haja um só rebanho e um só Pastor’. Mas os caminhos são muitos, como a história o prova. O século XX é um século profundamente ecuménico, com passos dados por todas as Igrejas para que houvesse mais encontro, mais partilha, mais caminho feito em comum. O Concilio Vaticano II já propôs uma Igreja em saída, em diálogo. J. Paulo II e Bento XVI deram passos de gigante nesta estrada que há-de um dia levar á comunhão perfeita. A ida do Papa Francisco à Suécia resultou na necessidade das Igrejas darem mais um passo e serem gratas a Deus pelos progressos ecuménicos realizados ao longo dos últimos tempos. Também era urgente que todos, lado a lado, pedissem desculpas a Deus e ao mundo pelas rupturas acontecidas e pelas consequências desastrosas para as Igrejas e para o mundo destas divisões entre cristãos. Esta histórica visita e o que lá aconteceu deixam marcas para sempre em todos os cristãos e nos espaços fora das Igrejas. O Papa Francisco repetiu várias vezes a importância de estar juntos, rezar juntos, praticar a caridade juntos, derramar o sangue juntos. Esta tem sido a história dos cristãos nos últimos tempos. Aliás, |
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em muitos pontos da terra, os cristãos são hoje perseguidos e até mortos pelo simples facto de serem cristãos. A quem persegue e mata não interessa saber se são católicos, protestantes ou ortodoxos. Neste martírio ecuménico há um testemunho enorme de unidade dos cristãos que o Papa Francisco referiu na Suécia. Tive a oportunidade, juntamente com a Pastora Eva Michel, de comentar em directo, nos estúdios da Rádio Renascença, alguns momentos desta visita. Falamos da importância desta celebração na Suécia. Partilhamos a alegria de ser mais aquilo que nos une que aquilo que nos separa. E falamos do ecumenismo que se vive em Portugal, sobretudo entre os mais jovens. Assim, dia 12,em Aveiro, teremos mais uma edição do Fórum Ecuménico Jovem. Estamos longe do ponto de chegada, mas também nos afastamos já muito |
do ponto de partida. A unidade é um projecto que tem de ser construído com calma, mas com encontro, partilha e fé. Concluímos que a unidade é obra do Espírito Santo e, por isso, vai acontecer quando e como Ele quiser. Compete-nos a nós ser dóceis e comprometidos. A unidade dos cristãos vai acontecer um dia, mas será a unidade que Deus quer e não a unidade que nós queremos.
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