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Paulo Rocha |
José Vera Jardim |
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Foto de capa: AE
Foto da contracapa: DR
AGÊNCIA ECCLESIA Diretor: Paulo Rocha | Chefe de Redação: Octávio Carmo Redação: Henrique Matos, José Carlos Patrício, Lígia Silveira, Luís Filipe Santos, Sónia Neves Grafismo: Manuel Costa | Secretariado: Ana Gomes Propriedade: Secretariado Nacional das Comunicações Sociais Diretor: Padre Américo Aguiar Pessoa Coletiva nº 500966575, NIB: 0018 0000 10124457001 82. Redação e Administração: Quinta do Cabeço, Porta D 1885-076 MOSCAVIDE. Tel.: 218855472; Fax: 218855473. agencia@ecclesia.pt; www.agencia.ecclesia.pt;
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Opinião |
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Liberdade e diálogo ecuménico
Paulo Rocha | José Luis Gonçalves | José Carlos Patrício |Manuel Barbosa | Paulo Aido | Tony Neves |
Abraços no lugar de cismas |
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Paulo Rocha |
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Os gestos e as palavras do Papa Francisco conquistam mediatismo crescente e geram popularidade em crentes e não-crentes. A economia, a defesa dos pobres, a preocupação por contextos periféricos, a sustentabilidade ambiental e a defesa da vida são temas que geram simpatia e empatia pelo antigo cardeal de Buenos Aires, agora bispo de Roma. Também quando se refere ao ecumenismo... Não só pela força das suas palavras, quando fala no “escândalo” da divisão entre os seguidores de Cristo, mas sobretudo pelos braços que estende para outros tantos abraços no esforço de aproximar lideranças de várias igrejas cristãs. Se o espaço mediático que Francisco conquistou é único, os gestos e as palavras que agora diz estão naturalmente em linha com imagens do passado e do presente, protagonizadas por outras lideranças da Igreja Católica, à escala universal ou local, que raramente merecem a mesma amplificação na opinião pública. Em janeiro de 1964, representantes da Igreja Católica e da Igreja Ortodoxa punham fim a quase um milénio de desencontros entre as respetivas lideranças com um abraço. O Papa Paulo VI e o patriarca Atenágoras, da Igreja Ortodoxa de Constantinopla, confirmavam publicamente determinações conjuntas de promover o encontro entre cristãos desavindos com um gesto que impulsionou o caminho ecuménico mesmo antes de ter terminado o Concílio Ecuménico Vaticano II. Em outubro de 2016, o presidente da Federação Luterana Mundial, Munib Yunan, e o Papa |
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Francisco selavam com um abraço a assinatura de uma declaração comum por ocasião da comemoração conjunta católico-luterana dos 500 anos da reforma protestante. Em mais de meio século, outras declarações e muitos mais abraços marcaram o diálogo ecuménico, não só com o protestantismo, e o encontro entre líderes de diferentes religiões, anotados pela relevância que decorre de visitas institucionais. De facto, a presença de vários pontífices em templos ortodoxos, sinagogas ou mesquitas, o encontro entre patriarcas de várias ortodoxias e o Papa, a presença de rabinos ou imãs em ambientes católicos e destes em templos de tradição judaica ou islâmica foram passos dados no diálogo inter-religioso e ecuménico, sobretudo pelo conhecimento pessoal que proporcionaram e pela proximidade que daí resultou. Na história dos abraços e da |
proximidade entre crentes, nomeadamente os seus líderes, tem de se incluir o que aconteceu na escala de uma viagem intercontinental, mas que representa uma etapa fundamental do percurso ecuménico. A caminho do México, o Papa encontrou-se com patriarca ortodoxo de Moscovo Cirilo para um abraço entre “irmãos” no “mesmo batismo” e dizer “finalmente”…! Falar hoje em aproximação entre cristãos significa tentar por fim a duas grandes separações, que infelizmente não são as únicas: a que começou no século XI, no cisma do oriente, que separou ortodoxos e católicos; e a que se seguiu às teses de Lutero, que distanciou católicos e protestantes. Um percurso que há de ser feito com debate de ideias, declarações conjuntas e sobretudo com a capacidade de replicar o espírito de Assis, marcado por abraços, muitos abraços! |
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Campo de Refugiados na Grécia @Lusa
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“O que há hoje de novo é uma sensibilidade para estes problemas [sem-abrigo], há estruturas, e a Câmara, a Santa Casa da Misericórdia, a Cruz Vermelha e o voluntariado estão com essas estruturas e põe-nas ao serviço do plano de emergência. Mas é evidente que a cobertura é parcial e é sempre insuficiente”. Marcelo Rebelo de Sousa, presidente da República, Pavilhão Municipal do Casal Vistoso, Lisboa, 18.01.2017
"Faremos a nossa digestão interna, claramente está em causa o acordo de concertação, não por iniciativa do PSD, mas quando votar contribuirá para isso. Resta esperar qual a alternativa que o governo irá apresentar [à descida da TSU]". Carlos Silva, secretário-geral da UGT, Lisboa, 19.01.2017
"É uma inversão absoluta das regras da democracia. Consideramos que é uma provocação o que o Governo está a fazer e está a tentar alimentar artificialmente esta situação para gerar um ambiente de conflitualidade política na sociedade portuguesa". Marco António Costa, vice-presidente do PSD, Lisboa, 19.01.2017
“Há um dado que devemos salvaguardar perante os portugueses: o Governo, com o apoio do PS, celebrou um acordo de concertação social, esse compromisso deve ser honrado, dessa ou doutra forma e esse acordo deve ser garantido e assegurada a sua continuidade”. Carlos César, líder parlamentar socialista, Lisboa, 18.01.2017
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Silêncio e as inquietações da fé
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O superior-geral da Sociedade Missionária da Boa Nova foi missionário no Japão durante quase 20 anos e fez uma tese de doutoramento sobre Shusaku Endo, o autor de ‘Silêncio’, obra de “fundo histórico” que é um “romance teológico”. “O livro poderíamos dizer que é quase um compendio de Teologia em forma de ficção com uma dramaticidade impressionante”, afirmou o padre Adelino Ascenso no programa 'Ecclesia' desta segunda-feira. |
Para o missionário, o livro ‘Silêncio’ “é um exemplo magistral” da busca de Shusaku Endo como “cristão e japonês”, é um “eixo axiológico da sua teologia”. O padre Adelino Ascenso que fez um trabalho de investigação a 10 obras de ficção de Shusaku Endo considera que ‘Silêncio’ “tem um miolo teológico impressionante”, uma obra onde o escritor usa como técnica o fundo histórico para “transmitir as suas inquietações”, principalmente sobre a “fé”. |
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Esta quinta-feira estreou em Portugal o filme baseado no romance homónimo do escritor nipónico que conta a história de dois padres da Companhia de Jesus do século XVII que foram para o Japão em busca do seu mentor, o jesuíta português Cristóvão Ferreira, e que são perseguidos e torturados durante a sua missão. Para o padre Adelino Ascenso, “um dos pontos fundamentais” da obra escrita é a valorização dos “cristãos escondidos” (em japonês, Kakure kirishitan) que transmitiram a fé “ao longo de 250 anos sem sacerdotes”. O superior-geral da Sociedade Missionária da Boa Nova explica que no título da obra estão presentes vários silêncios, “não só de Deus”, e que o protagonista começa por pensar que está “de braços cruzados” porque não defende os seus seguidores, “principalmente da instituição” (Igreja) relativamente aos que tinham apostatado. João Lopes, crítico de cinema, refere à Agência ECCLESIA que a obra ‘Silêncio’ - desejada por Scorsese desde 1989 - teve um resultado “esplendoroso e tocante”. O filme de Martin Scorsese evoca a perseguição de milhares de cristãos |
no território nipónico durante o Xogunato Tokugawa, que baniu o catolicismo e quase todo o contacto com o estrangeiro, com interpretações de Liam Neeson, Adam Driver, e Andrew Garfield. João Lopes sustenta que o filme foi pensado para “crentes e não-crentes”, colocando a questão da “relação” com o que transcende o ser humano. “O filme pergunta, sem dar respostas definitivas, até que ponto o exercício da fé pode pôr em causa a vida do nosso semelhante”, acrescenta. Uma questão abordada com “seriedade” e que, segundo o crítico de cinema, tem “ressonâncias atuais muito vivas”. “O Silêncio, de Martin Scorsese, é um filme que acredita do outro lado está ou pode estar um espetador que não desistiu de pensar”, realça João Lopes. |
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Cáritas de Viseu recebe refugiados |
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A Cáritas Diocesana de Viseu recebeu esta quarta-feira um casal de refugiados do Iraque, que vai viver na cidade com o apoio desta instituição da Igreja Católica. Este foi o segundo casal de refugiados que a Cáritas Diocesana de Viseu recebe esta semana: na segunda-feira chegou também ao aeroporto de Lisboa um casal sírio, disse à Agência ECCLESIA Manuela Alberto, responsável do atendimento social da Cáritas Diocesana de Viseu. Este organismo diocesano aderiu, há cerca de um ano à Plataforma de Apoio aos Refugiados (PAR) e mostrou-se disponível para receber estas pessoas que “chegam constantemente à Europa”, frisou. Com estas ações, a Cáritas de Viseu pretende ajudar “neste drama |
europeu”, mas o processo até à chegada destes refugiados foi “lento e burocrático”, salientou a responsável. A família síria é constituída por três elementos (os pais e um bebé de um ano) e está na comunidade paroquial de Pedrosas (Concelho do Sátão). Os cinco elementos que constituem a família iraquiana vão viver em Viseu e a cidade já “espera por eles”, referiu Manuela Alberto. A barreira linguística vai ser o “maior problema” porque destas duas famílias “só um elemento “é que fala inglês, afirmou à Agência ECCLESIA Patrícia Paiva, da Equipa de Rendimento Social de Inserção da Cáritas de Viseu. No início recorre-se “aos gestos e aos desenhos” e depois, numa segunda fase, “vão aprender a língua portuguesa”, acrescentou.
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Cáritas lança campanha de inverno a favor dos refugiados |
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A Cáritas Portuguesa lançou a campanha solidária ‘Levo Calor aos refugiados’, especialmente direcionada para os milhares de refugiados que estão a enfrentar os rigores do inverno, em países como a Grécia e a Sérvia. Em comunicado enviado à Agência ECCLESIA, o presidente daquele organismo católico recorda o drama que enfrentam aquelas pessoas, ao frio, à chuva e à neve, com os termómetros a baixarem muitas vezes aos “20 graus negativos” e não havendo nenhum abrigo sem ser “barracas feitas de pano”. “Porque são tantos que nem todos cabem nessas barracas, muitos vivem ao relento, outros em campos ou edifícios abandonados e muitos não resistem a estas duríssimas condições. E as crianças na fragilidade das suas condições físicas?”, escreve Eugénio Fonseca, incentivando os portugueses a participarem nesta campanha solidária. “Levemos aos refugiados o calor do nosso donativo que é a expressão do calor do nosso coração”, exorta aquele responsável. Esta nova recolha de apoios financeiros prevê também a ajuda às “populações mais vulneráveis que se encontram no Leste e Sul da Europa“. |
Para participar na campanha ‘Levo Calor aos Refugiados’, basta efetuar um donativo através da conta PT50 0033 0000 0109004015012. Sobre a situação dos refugiados na Grécia, a Cáritas Portuguesa apresenta o testemunho de Maristella Tsamatropoulou. Segundo esta representante da Cáritas Grécia, “as pessoas nem sequer podem beber água ou tomar um banho, porque a água está congelada”. Também “não há aquecimento”, pelo que “as comunidades locais estão a distribuir lenha e fornos elétricos”. Quanto ao contexto na Sérvia, outro país que acolheu um grande número de refugiados, Daniele Bombardi, coordenadora da Cáritas Italiana naquele país, sublinha que “os campos estão sobrelotados e em Belgrado milhares de pessoas dormem ao relento". |
A Agência ECCLESIA escolhe sete acontecimentos que marcaram a atualidade eclesial portuguesa nos últimos dias, sempre atualizados em www.agencia.ecclesia.pt
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Núncio apostólico espera ONU «revitalizada» sob a liderança de António Guterres |
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Refugiados: Quando a primeira paragem em Portugal é o Santuário de Fátima
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Vaticano quer conhecer expectativas e condições de vida dos jovens
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O Vaticano divulgou o documento preparatório para o Sínodo dos Bispos de 2018, dedicado aos jovens e ao “discernimento vocacional”, anunciando a realização de um inquérito online dirigido às novas gerações. “Está prevista uma |
consulta a todos os jovens, através da internet, com um questionário sobre as suas expectativas e a sua vida”, adianta o documento, disponibilizado pela sala de imprensa da Santa Sé. Os chamados ‘lineamenta’ incluem |
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já um questionário próprio, com 30 perguntas sobre a relação entre jovens, Igreja e sociedade; o acompanhamento espiritual e vocacional dos mais novos, por parte dos responsáveis católicos; a pastoral juvenil vocacional; e um conjunto de questões específicas para os vários continentes. O Papa Francisco decidiu convocar para outubro de 2018 a 15ª assembleia geral ordinária do Sínodo dos Bispos, dedicada ao tema ‘Os jovens, a fé e o discernimento vocacional’. A publicação do documento preparatório dá início a um processo de consulta que levará à redação do instrumento de trabalho para a assembleia sinodal. O Vaticano questiona os jovens e os responsáveis católicos sobre o descontentamento perante o atual sistema político, económico e social na Europa: “Como ouvem este potencial de protesto, para que se transforme em protesto e colaboração?”. O texto fala numa geração “(hiper)ligada”, para sublinhar que esta experiência de relacionamento através da tecnologia “estrutura a |
conceção do mundo, da realidade e das relações pessoais”. À Igreja, pode ler-se, compete ajudar os jovens a criar um itinerário “reflexivo” que os ajude na transição para a vida adulta num contexto de “fluidez e precariedade”. O documento preparatório propõe uma reflexão em três partes, começando pelas dinâmicas sociais e culturais antes de passar à abordagem do “discernimento”, como instrumento que a Igreja oferece aos mais novos para a descoberta da sua vocação. Em terceiro lugar, são colocados em relevo os elementos fundamentais da pastoral juvenil vocacional. O Sínodo dos Bispos pode ser definido, em termos gerais, como uma assembleia consultiva de representantes dos episcopados católicos de todo o mundo, a que se juntam peritos e outros convidados, com a tarefa ajudar o Papa no governo da Igreja. Até hoje houve 14 assembleias gerais ordinárias e três extraordinárias, as últimas das quais dedicadas à Família (2014 e 2015). |
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Papa escreve aos jovens
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O Papa Francisco escreveu aos jovens de todo o mundo, apresentando o Sínodo de 2018, para pedir-lhes que construam uma “nova terra”, rejeitando a “cultura do descartável” e a “globalização da indiferença”. “Qual é para nós hoje esta nova terra, a não ser uma sociedade mais justa e fraterna, à qual vós aspirais profundamente e que desejais construir até às periferias do mundo?”, refere a missiva. Francisco recorda que em outubro de 2018 se vai celebrar o Sínodo dos Bispos sobre o tema ‘Os jovens, a fé e o discernimento vocacional’. “Eu quis que vós estivésseis no centro da atenção, porque vos trago no coração”, explica. O Papa desafia os mais novos a “sair” |
em direção ao futuro e a “ouvir a voz de Deus”, sublinhando que, para muitos, a saída implica também a fuga da “injustiça e da guerra”. “Muitos estão submetidos à chantagem da violência e são forçados a fugir da sua terra natal”, lamenta. Francisco aborda depois as questões ligadas ao discernimento vocacional, aconselhando os jovens a procurar o “acompanhamento de guias especializados” para descobrir o projeto de Deus. “Um mundo melhor constrói-se também graças a vós, ao vosso desejo de mudança e à vossa generosidade. Não tenhais medo de ouvir o Espírito que vos sugere escolhas audazes, não hesiteis quando a consciência vos pedir que arrisqueis para seguir o Mestre”, escreve.
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O Papa desafia os mais novos a “sair” em direção ao futuro e a “ouvir a voz de Deus”, sublinhando que, para muitos, a saída implica também a fuga da “injustiça e da guerra”. “Muitos estão submetidos à chantagem da violência e são forçados a fugir da sua terra natal”, lamenta.
Francisco aborda depois as questões ligadas ao discernimento vocacional, aconselhando os jovens a procurar o “acompanhamento de guias especializados” para descobrir o projeto de Deus. “Um mundo melhor constrói-se também graças a vós, ao vosso desejo de mudança e à vossa generosidade. Não tenhais medo de ouvir o Espírito que vos sugere escolhas audazes, não hesiteis quando a consciência vos pedir que arrisqueis para seguir o Mestre”, escreve.
Francisco levou solidariedade
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O Papa visitou no último domingo a Paróquia de Santa Maria a Setteville, em Guidonia, periferia leste de Roma, e sublinhou aos membros da comunidade católica a importância da atenção ao outro. Francisco começou por encontrar-se com representantes de jovens, famílias, idosos e doentes, aos quais disse que quem se diz católico tem de dar testemunho da sua fé com “a palavra, o coração e as mãos”. “Eu posso falar do Senhor, mas se não falo com a minha vida, dando testemunho, não serve. 'Mas, padre, eu sou cristão e falo do Senhor'. Sim, mas tu és um cristão-papagaio, apenas de palavras", advertiu. Simbolicamente, o Papa quis levar uma palavra de conforto ao padre Giuseppe Berardino, de 47 anos, que se encontra acamado por causa de uma doença grave, a esclerose lateral amiotrófica. Falando aos jovens, Francisco falou de momentos na vida em que se vive uma “escuridão da alma”, dando como exemplo um pai, viúvo, com quem se encontrou este sábado na capela de Santa Marta, onde batizou 13 crianças que nasceram nas regiões atingidas pelos recentes sismos |
na Itália. “Percebia-se que há ali escuridão e é preciso respeitá-la”, observou. Já na homilia da Missa a que presidiu na igreja paroquial, o Papa sublinhou a necessidade de “testemunho” de Cristo para que outros acreditem, como fez São João Batista. A intervenção partiu do “testemunho e martírio” dos cristãos, evocando os que chegam a “dar a vida” por causa da sua fé. “Ser cristão, acima de tudo, é dar testemunho de Jesus”, prosseguiu Francisco. Numa homilia improvisada, o Papa referiu que os apóstolos também eram “pecadores”, fugiram quando Jesus foi preso e chegaram mesmo a traí-lo. Apesar das suas fraquezas, acrescentou, “eram testemunhas da salvação que Jesus traz”, que se “deixaram salvar”. |
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A Agência ECCLESIA escolhe sete acontecimentos que marcaram a atualidade eclesial internacional nos últimos dias, sempre atualizados em www.agencia.ecclesia.pt
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Papa batizou crianças nascidas nas zonas atingidas pelos terramotos na Itália |
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Papa denuncia «perigos» que ameaçam menores migrantes e refugiados
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Afirmar o primado da ética
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José Luís Gonçalves |
A pretexto da realização do Fórum Económico Mundial, em Davos, de 21 e 24 de janeiro, a ONG Oxfam divulgou um estudo sobre a concentração da riqueza mundial que apresenta resultados deveras escandalosos. Entre os vários dados disponibilizados, informa que, em 2016, as 37 milhões de pessoas que compõem o 1% mais rico da população mundial terá tido mais dinheiro do que os outros 99% juntos. Mais, que no interior deste grupo dos 99%, também existe uma desigualdade gritante: quase toda a riqueza está nas mãos dos 20% mais ricos, enquanto as outras pessoas dividem 5,5% dos bens. O 1% mais rico do mundo é maioritariamente da América do Norte e da Europa e dedica-se sobretudo a atividades nos setores das finanças, dos seguros e, crescentemente, da industria farmacêutica e da saúde. No atual sistema mundial, o verdadeiro sujeito histórico deste processo de acumulação de riqueza é o capital financeiro transnacional, detentor dos vários poderes fácticos instituídos, permitindo-se difundir abertamente as ideologias que pretendem justificar certas correntes economicistas desejosas de se desvincularem de quaisquer princípios éticos e, assim, legitimar a exploração e a injustiça. Esta ideologias espalham “a convicção de que o crescimento económico se deve conseguir mesmo à custa da erosão da função social do Estado e das redes de solidariedade da sociedade civil, bem |
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como dos direitos e deveres sociais” (Bento XVI, Dia Mundial da Paz 2013). Esta tendência para acumular riqueza por parte de alguns “à custa” da maioria foi abundantemente denunciada pela Igreja, especialmente a Latino Americana (Cf. Documento de Puebla, n.º 28). O nexo causal existente entre a acumulação de riqueza de uns poucos “à custa” do empobrecimento da maioria constitui não só uma evidência empírica, mas, acima de tudo, uma iniquidade moral. Constata-se, pois, que a economia mundial padece de uma “quebra ética” tornando-se imperativo restaurar o “primado do espiritual e da ética e, com ele, o primado da
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política – que é responsável pelo bem-comum – sobre a economia e a finança” (CNJP, fevereiro de 2013). A atual cultura pós-utópica, de pendor pragmatista e resignada “ao que é possível” – sinal maior de uma sociedade empobrecida nos seus horizontes e valores – esquece que a pessoa humana constitui o fundamento, a causa e o fim de todas as realidades, inclusive a realidade económica. Este compromisso ético assenta na esperança cristã, permanentemente revivificada pela força do Espirito do Ressuscitado, de que a recriação de qualquer presente não só é possível como necessária. |
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A herança que nos lega na sua Família e no imperativo de tudo fazermos ao serviço da vida e da dignidade da pessoa humana deve ser um desígnio de missão e um propósito de ação para todos nós.
Há pessoas a quem devemos uma imensa gratidão: as que nos fazem nascer; as que nos ajudam a ser felizes; as que nos ensinam a crescer na alegria, na verdade e na fé..
Essas pessoas, dotadas de uma inteligência brilhante, de um coração generoso, de uma vontade determinada e de uma fé esclarecida ajudam-nos a encontrar coragem nas horas de sofrimento, a escutar Deus em todos os acontecimentos e a trabalhar sem descanso e sem desânimo na construção de um mundo melhor.
Todos, na vida, temos perto de nós exemplos desta grandeza, que juntam à simplicidade de vida o heroísmo dos gestos corajosos, a sabedoria das decisões lúcidas, a grandeza dos testemunhos humildes. E o Professor Doutor Daniel Serrão é um desses exemplos maiores.
Num mundo marcado pela ansiedade diante do horizonte do futuro e preocupado por tantas razões, as válidas e as desnecessárias, vale a pena saber que há gente de inteligência lúcida, de coração largo e de generosidade ilimitada. Vale a pena saber que há homens e mulheres, médicos de vocação, profissionais competentes, cristãos comprometidos, que vislumbram horizontes de esperança e que dão uso ao ouvido do coração, constituindo um porto seguro de abrigo à vida humana.
Vale a pena saber que há homens e mulheres que não se cansam de “cuidar” da vida da pessoa humana, em todas as fases, sobretudo quando ela é doente, quando sofre, quando está frágil, quanto é indefesa. Vale a pena saber que há homens e mulheres que tudo fazem para que na Humanidade surjam oásis habitados pela esperança nos avanços da ciência médica e pelo valor sagrado e intocável da vida humana.
O Professor Doutor Daniel Serrão foi testemunho exemplar e voz profética em tantas frentes de missão a favor da vida e ao serviço da fé.
A Igreja do Porto tem o dever de lhe dizer esta palavra de gratidão e de lhe assegurar a certeza de que saberemos continuar este abençoado património que nos lega em herança e em compromisso de missão.
Porto, 9 de janeiro de 2016
António, Bispo do Porto
Não vale virar a cara e ignorar |
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José Carlos Patrício |
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Durante a última semana tive a oportunidade de conhecer e de escrever sobre várias famílias de refugiados que já se encontram em Portugal. Pessoas simples, que assim que abrem a porta fazem tudo para retribuir a hospitalidade que receberam, cujos rostos apenas se fecham quando falam da situação no seu país e nos motivos que as fizeram abandonar a pátria. Foi para mim um choque ouvir estes relatos, acerca da guerra, dos perigos que correram, de uma fuga que envolveu centenas de quilómetros a pé por entre as montanhas e milhares de milhas por mar em barcos de borracha, confiada à sorte e à ajuda incerta dos contrabandistas. Tudo apenas para enfrentar uma nova espera agonizante, em campos de refugiados, ao frio e à chuva. Homens e mulheres com filhos pequenos, um pai que teve de deixar para trás na fronteira a mulher grávida, uma criança que pouco mais conheceu na vida do que o som dos bombardeamentos. Às vezes precisamos de estar face a face com o drama para compreendermos que ele não é algo longínquo ou saído de um filme, que é muito real e que todos podemos fazer algo para ajudar. Por exemplo, a campanha ‘Levo calor aos refugiados’, que a Cáritas Portuguesa está a promover, é uma forma muito concreta de ajudar milhares e milhares de pessoas que ainda esperam por um destino em campos improvisados, que |
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podem não conseguir aguentar mais um inverno. Por cá, são também muitas as pessoas que precisam de ajuda e solidariedade, que vivem na rua sem qualquer tipo de condições, por terem perdido a sua casa, a sua família, o seu rumo. Tal como os refugiados, carregam consigo histórias que podiam ter acontecido a qualquer um, a mim
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e a ti, histórias de desânimo, de depressão, de dependência, de revolta. Seres humanos que não merecem que nós viremos a cara nas ruas, que os ignoremos, mas sim uma nova oportunidade, um sorriso, um ouvido que escuta ou simplesmente uma manta para os ajudar a passar melhor a noite. |
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O Semanário ECCLESIA apresenta esta semana uma entrevista ao presidente da Comissão da Liberdade Religiosa, José Vera Jardim, o qual rejeita qualquer “agenda laicista” e sublinha que não pretende uma revogação da Concordata entre a Santa Sé e a República Portuguesa. Em destaque estão, depois, textos e testemunhos sobre a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, que no hemisfério norte se celebra de 18 a 25 de janeiro, evocando em 2017 os 500 anos da reforma protestante, iniciada por Martinho Lutero.
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As principais divisões entre as Igrejas cristãs ocorreram no século V, depois dos Concílios de Éfeso e de Calcedónia (Igreja copta, do Egito, entre outras); no século XI com a cisão entre o Ocidente e o Oriente (Igrejas Ortodoxas); no século XVI, com a Reforma Protestante e, posteriormente, a separação da Igreja de Inglaterra (Anglicana).
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Liberdade religiosa
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Agência ECCLESIA - A presença de muitas comunidades religiosas aquando da tomada de posse, há quatro meses, mostrou que havia um desejo de que esta Comissão voltasse a ser uma referência de diálogo? José Vera Jardim (JVJ) - Sim, sim. Aliás, também na tomada de posse do senhor presidente da República, anteriormente, foi possível fazer uma oração em conjunto com as religiões que representam o fundamental da sociologia religiosa em Portugal. A Comissão da Liberdade Religiosa esteve numa situação de esquecimento, após a presidência do dr. Mário Soares, pelo que houve e há um tempo de esperança, para que a comissão possa ter um diálogo |
aberto, contínuo e próximo com as confissões religiosas. Participamos em eventos especiais, de todas as Igrejas, incluindo, obviamente, a Igreja Católica. Eu não entendo a comissão como uma comissão de defesa das confissões minoritárias, mas como uma comissão que está aqui para defender a liberdade religiosa em geral. Por isso, por exemplo, participei numa organização da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre, com muito gosto. Fazemos o possível por manter esta proximidade e, por outro lado, apresentamos à ministra da Justiça a ideia de fazer, pelo menos uma vez por ano, uma reunião com todas as Igrejas radicadas e outras que tenham |
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importância no espetro religioso em Portugal, além, naturalmente, da Igreja Católica, que tem outro estatuto, para análise da situação da liberdade religiosa. Tentamos ainda fazer renascer o prémio da Liberdade Religiosa e convidar personalidades estrangeiras, professores, deputados. A Comissão da Liberdade Religiosa tem limitações de meios, mas também é da sua missão estatutária o estudo da situação das religiões em Portugal e a apreciação da liberdade
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religiosa. Penso que é muito positiva, não temos, felizmente, problemas graves de restrição de liberdade religiosa, mas temos de estar sempre atentos aos direitos fundamentais.
AE - António Guterres, novo secretário-geral da ONU, disse sentir orgulho porque em Portugal não se procuram ganhar votos com o ódio. Sente que há um “modelo português” de convivência entre a sociedade e as religiões que pode inspirar outras |
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nações, neste momento de alguma tensão na Europa? JVJ - O modelo português tem sido reconhecido, a nossa Lei da Liberdade Religiosa, como exemplar. Há países que não têm lei, mas nos países de sistema mais parecido com o nosso, do sul da Europa - descontando a França, que é uma experiência muito especial, de laicidade muito dura, digamos -, a regulamentação da relação dos acordos entre Estado e Igrejas faz-se através de acordos, sobretudo. Em Portugal, fizemo-lo através de duas coisas: a Concordata com a Santa Sé, para a Igreja Católica, e a Lei da Liberdade Religiosa, que é aplicável a todos os outros. Todas as Igrejas têm os mesmos direitos, não precisam de acordos com o Estado. Temos sentido da parte dos nossos colegas espanhóis que eles acham que o nosso sistema é mais operacional, mais justo, até, porque a Lei da Liberdade Religiosa se aplica a todos por igual.
AE - Portugal tem aberto as suas portas aos refugiados e os novos fluxos migratórios têm um impacto nos movimentos religiosos. Isso vai implicar uma atenção particular? JVJ - Bem, espero que não. É evidente que isto depende da capacidade de |
integração que o país tenha. Eu estou sempre em contacto com o ministério, participei aliás num grande colóquio sobre a matéria da integração, porque a liberdade religiosa é uma parte importante de uma boa integração na sociedade. A pluralidade religiosa deu-se em Portugal, sobretudo, a partir do 25 de Abril, com a chegada de pessoas das antigas colónias, como se chamava, e da imigração vinda do Leste europeu. Isso é um fenómeno que se tem dado na Europa, com mais ou menos intensidade, nalguns países com uma grande predominância das comunidades islâmicas. As relações entre o Estado e as religiões, bem como entre as várias religiões, vivem-se, em Portugal, num clima de entendimento mútuo, de cooperação, poderíamos chamar-lhe quase de ecumenismo geral, de compreensão, de tolerância. Tudo faremos para que esse clima se mantenha, independentemente da chegada de novos imigrantes. O que é preciso é saber integrar bem essas pessoas e a integração passa não só pela convivência religiosa saudável, com tolerância, mútuo respeito, mas também por outras coisas: a parte social é muito importante. |
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AE - Portugal tem há 20 anos uma presença institucional das várias religiões na televisão pública, através do programa ‘Fé dos Homens’, agora também na rádio. É importante dar voz às religiões perante um clima de crescente desconfiança? JVJ - É óbvio. O ódio e o medo vêm muitas vezes do desconhecimento. Esse ódio, infelizmente, grassa em muitos países do mundo e também da Europa, é usado por movimentos xenófobos, como todos sabemos, radicais. Assenta muito no desconhecimento, no conhecimento inexato, na inverdade ou mesmo na mentira aberta. O contacto, o diálogo, tudo o que possamos fazer nesse sentido, é o melhor método que temos para combater esse ódio. Tem sido dito por todos os responsáveis governamentais que não estamos livres de acontecer em Portugal alguma coisa e não é disso que se trata. Não temos aqui um muro a separar-nos do resto do mundo. O que temos de fazer é o nosso trabalho, de respeito mútuo, de tolerância, de compreensão do outro, para lutar contra o medo e o ódio.
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AE - A existência de uma Concordata com a Santa Sé belisca de alguma forma a igualdade entre as religiões, aos olhos do Estado português? JVJ - Não. Eu tenho a minha opinião, que já exprimi - aliás várias figuras da Igreja Católica mostraram uma opinião parecida -, e penso que a solução ideal teria sido que a Lei da Liberdade Religiosa se aplicasse a todas as confissões, incluindo a Igreja Católica, e que as confissões pudessem ter acordos sobre matérias pontuais. Dou dois exemplos: a Igreja Católica tem o casamento como um sacramento, com todas as consequências que disso advém; tem um património que necessita de negociação constante. O património da Igreja confunde-se muitas vezes com o património do país - conventos, igrejas, sés, etc. Se nós compararmos a Lei da Liberdade Religiosa com a Concordata, as diferenças não são assim tão grandes. A terminologia, a linguagem, é própria dos acordos internacionais que a Igreja Católica celebra, mas se formos ver os direitos e a situação jurídica das confissões, sobretudo das radicadas, não é muito diferente. Naturalmente, a posição da Igreja |
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Católica em Portugal é dominante, as confissões minoritárias não negam isso e devo dizer que não temos tido posições a dizer que se sentiam mal por haver uma Concordata. A minha posição é tomada a título pessoal, não como presidente da comissão: preferia que tivesse havido uma lei para todos e depois se fizessem acordos com a Igreja Católica sobre várias matérias. As isenções fiscais são exatamente iguais, o ensino da religião também - quando se justifique - em condições de igualdade. É evidente que, como |
se costuma dizer, é preciso tratar por igual aquilo que é igual, não é possível tratar por igual aquilo que é profundamente desigual. Eu não tenho nada contra a existência da Concordata e a prova é que estive na cerimónia (18.05.2004), em visita a sua santidade o Papa [João Paulo II], na altura com o senhor primeiro-ministro, Durão Barroso, aquando da assinatura da Concordata. Estive presente, aceitei o convite. Foi assim e agora não se trata de revogar a Concordata. |
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AE - Seria desejável criar um canal de comunicação entre a Comissão da Liberdade Religiosa e a Comissão Paritária da Concordata, por exemplo? JVJ - A Comissão Paritária trata de assuntos muito específicos, de execução da Concordata. Eu uso um canal, mais informal: há dois representantes da Igreja Católica na Comissão da Liberdade Religiosa. E tenho contacto direto com o senhor cardeal-patriarca, mas por vezes nem o uso, peço a um dos representantes
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que pergunte ao cardeal-patriarca se acha que a comissão deveria intervir, ou se seria útil. Quando achamos que há restrições à liberdade religiosa, seja de que religião for, incluindo a Igreja Católica, temos o dever de atuar, é assim que eu entendo a missão da Comissão da Liberdade Religiosa. As confissões minoritárias, naturalmente, poderão ter mais queixas, de instalação, por exemplo: são pequenas comunidades que se querem instalar e os vizinhos |
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dizem que não querem. Já foram a tribunal, também, pessoas que não querem trabalhar nos dias festivos das suas confissões e têm problemas, que já foram resolvidos, pelo menos alguns. As confissões minoritárias têm este canal, da comissão. Podem recorrer ao provedor de Justiça, também, aos tribunais, como têm recorrido. A Igreja Católica tem esse canal, da Comissão Paritária, para resolver qualquer problema da execução da Concordata, mas isso não exclui que a Comissão da Liberdade Religiosa, repito, quando houver restrições que julgue inadequadas ao exercício da liberdade religiosa, também por católicos, possa atuar. E deva.
AE - O debate público ainda parece muito marcado por modelos e debates sobre a relação Igreja-Estado marcado por um passado de confrontação e crispação. O século XXI exige uma nova abordagem? JVJ - Sim. Eu disse na tomada de posse da comissão que não tenho uma agenda de laicidade. A laicidade é um valor do Estado, da sociedade portuguesa, mas eu não tenho uma
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agenda laicista. A minha agenda é a da não-discriminação, é uma coisa diferente. Não discriminar entre Igrejas precisamente para contribuir para o bom ambiente de convivência entre religiões. Noutros países há experiências diferentes, mais de separação, e não têm aquilo que nós temos, que é o princípio da cooperação entre o Estado e as Igrejas. Elas estão no mundo social, quer queiramos, quer não, e o problema da liberdade religiosa não é um problema do foro interno de cada um: é também um problema de presença social das Igrejas. Portanto, temos de respeitar isso e as Igrejas também têm de respeitar o princípio da separação. Há coisas que podem ser aperfeiçoadas nesta matéria, como é óbvio. Há problemas culturais que não devem ser tratados de forma menos cuidada. |
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JVJ - Há muito quem critique que na inauguração de um monumento vá o padre católico e o benza. Bem, se o povo da aldeia, da vila, da cidade, não se opõe a isso, eu não vejo… Não me agrada muito, acho que nem sequer é positivo para a Igreja Católica, mas é uma opinião minha. São os tais problemas de cultura que às vezes constituem uma agenda muito mediática: está o bispo e não estão os outros, e por isto e por aquilo… Julgo que não é positivo para a Igreja Católica ser olhada, sobretudo nos tempos que correm, como sendo |
beneficiada em relação às outras confissões, não ganha nada com isso. O fundamental é que há um princípio de separação, o Estado não tem uma religião oficial, isso é visível. Na educação, a Educação Moral e Religiosa só é organizada quando os pais o pedirem - e isso foi bom, porque antigamente os pais tinham de fazer uma declaração ao contrário. São caminhos que se vão fazendo e eu penso que todos têm colaborado nesta distensão. É natural que aqui e acolá aflore um discurso que pretendia ser mais |
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igualitário, entre aspas, ou até mesmo pessoas que não concordam que o Estado tenha o princípio de cooperação com as confissões religiosas. Mas eu penso que sim, que é favorável. Nós temos sido causticados, ultimamente, com muitas questões, que têm sido levados aos tribunais, ao Tribunal Europeu dos Direitos do Homem, sobre os símbolos religiosos, os crucifixos, os véus islâmicos, as burcas. São problemas que temos de tratar com pinças, porque muitas vezes são problemas de identidade das pessoas, que nem sempre têm a ver diretamente com a religião - não me refiro ao crucifixo -, como o usar |
ou não um véu. Eu já sou velho o suficiente para me lembrar que antigamente em Portugal as mulheres que viviam no campo usavam um lenço na cabeça. Eu penso que, nalguns países, se tem exagerado muito. Claro que há matérias relacionadas com a segurança, o que é diferente, como no caso da burca ou do véu islâmico integral, que levantam questões sérias. Nós nem sabemos quem lá está, o que é que leva, quem é, etc. Além disso, vivemos numa sociedade aberta, onde temos o direito de ver a face das pessoas. Mas isso não é um problema religioso, tem a ver com a convivialidade das pessoas na mesma comunidade. |
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AE - A opinião pública é particularmente sensível às matérias de financiamento e de isenções relativas às comunidades religiosas. Prevê mudanças, por exemplo, no regime do IVA? JVJ - Alerto para isso há muito tempo. A isenção do IVA está presente na Lei da Liberdade Religiosa por uma razão muito simples: sabíamos que existia para a Igreja Católica. Mas isso foi incluído com a consciência de que é uma matéria que, cedo ou tarde, vai ser posta em questão e já o tem sido no Parlamento Europeu. É uma matéria difícil, mas podemos ser confrontados com ela. A Lei da Liberdade Religiosa prevê a chamada consignação fiscal e eu esperava, sinceramente, que esta tivesse mais expansão. As Igrejas preferem manter a isenção do IVA. Vamos ver o que o futuro nos reserva, a consignação está lá e pode, a meu ver, servir, até com retoques, é questão de fazer os cálculos, como já foi feito noutros países para deixar de haver subsidiação indireta do Estado, se viermos a ter problemas com as autoridades europeias. |
Outra questão é a do IMI: a isenção dos edifícios com fins religiosos existe em toda a Europa, que eu conheça. Isso não me parece problemático.
AE - A Comissão pretende alargar o debate sobre o fenómeno religioso também a quem não pertencer a qualquer comunidade crente? JVJ - Sim, até com pessoas antirreligiosas, porque a liberdade religiosa não é apenas para os religiosos, é também para os que não têm religião. É evidente que não vamos fazer dos nossos colóquios manifestações antirreligiosas, porque estaríamos a negar a nossa razão de existir. A Comissão não tem, por si, meios para fazer grandes investigações, mas hoje, nas universidades portuguesas, há um interesse renovado por estas matérias, sob o aspeto histórico, filosófico, teológico, sociológico. Há gabinetes de estudos que se ocupam destas matérias, a Universidade Católica tem centros de estudos, vários, e não se ocupam apenas da religião católica, mas do fenómeno religioso em geral. Há universidades |
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que têm departamentos de Ciências das Religiões. A Comissão deve pôr estas pessoas em contacto, incentivá-las. O prémio pode ser uma forma de incentivo, modesta. Há pouco demos conhecimento a várias instituições e investigadores uma iniciativa que nasceu na Itália, com o objetivo de lançar uma Academia Europeia de Estudos Religiosos, e entendemos assim a nossa missão. |
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Ecumenismo: Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos de 2017 evoca 500 anos da reforma protestante
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A Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos de 2017, que no hemisfério norte se celebra de 18 a 25 de janeiro, vai evocar os 500 anos da reforma protestante, iniciada por Martinho Lutero. |
O documento de reflexão preparado e publicado em conjunto pelo Conselho Pontifício para a Promoção da Unidade dos Cristãos (Santa Sé) e a Comissão Fé e Constituição (Conselho Mundial de Igrejas) tem como tema |
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central a “reconciliação”. “Que pessoas e Igrejas possam ser impelidas pelo amor de Cristo a viver vidas reconciliadas e a derrubar as paredes da divisão”, pode ler-se. A proposta deste ano surgiu pela mão do Conselho de Igrejas na Alemanha (ACK), a convite do Conselho Mundial de Igrejas, o qual assinala que a reforma de Lutero “tem sido tema de controvérsia na história das relações intereclesiais”. Em 1517 Martinho Lutero publicou as suas “95 teses”, provocando uma rutura entre várias comunidades cristãs, até então ligadas à Igreja Católica, apresentada no documento como “dolorosa divisão”. As Igrejas cristãs na Alemanha propõem que, 500 anos depois, se reflita sobre a “reconciliação como centro da fé”. O tema da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos de 2017 inspira-se numa passagem da segunda carta de São Paulo aos Coríntios: ‘Reconciliação: é o amor de Cristo que nos impele’. “Como embaixadoras de reconciliação, as Igrejas ativamente prestaram assistência aos refugiados na busca de novos lares, enquanto, ao mesmo tempo, tentavam melhorar as |
condições de vida nos países que eles tinham deixado para trás”, refere o documento de reflexão. A 31 de outubro de 2016, o Papa e o presidente da Federação Luterana Mundial (LWF, siga em inglês), assinaram na Suécia uma declaração comum, por ocasião da comemoração conjunta católico-luterana dos 500 anos da reforma protestante. “Pedimos a Deus inspiração, ânimo e força para podermos continuar juntos no serviço, defendendo a dignidade e os direitos humanos, especialmente dos pobres, trabalhando pela justiça e rejeitando todas as formas de violência”, refere o texto, firmado por Francisco e por Munib Yunan na catedral luterana de Lund, após uma oração ecuménica. A Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos está em destaque nas emissões do Programa ECCLESIA na Antena 1 da rádio pública, até sexta-feira, pelas 22h45. |
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Ecumenismo como sinal de esperança
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As Igrejas estão a celebrar o momento mais significativo do diálogo ecuménico, com a semana de oração pela Unidade dos Cristãos. Em 2017, a iniciativa assinala os 500 anos da reforma protestante, iniciada por Martinho Lutero e apresenta como tema central a reconciliação, uma mensagem que o Papa repetiu no Vaticano “O Evangelho de Cristo está no centro |
da nossa vida e une pessoas que falam várias línguas, vivem em países diferentes e vivem a fé em comunidades diversas. Recordo com emoção a oração ecuménica em Lund, na Suécia, no último dia 31 de outubro. No espírito daquela comemoração comum da reforma, olhamos mais para o que nos une do que para aquilo que nos separa e continuamos juntos o caminho |
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para aprofundar a nossa comunhão e dar-lhe uma forma cada vez mais visível", referiu, na audiência pública semanal. O Papa quis assim assinalar o início desta semana de oração pela unidade dos cristãos. Um esforço ecuménico que, para Francisco, é um sinal de esperança para a Europa. “Na Europa, esta fé comum em Cristo é como um fio de esperança: pertencemos uns aos outros. Comunhão, reconciliação e unidade são possíveis. Como cristãos, temos a responsabilidade desta mensagem |
e devemos testemunha-la com a nossa vida. Que Deus abençoe esta vontade de união e guarde todas as pessoas que caminham pela estrada da unidade”. A audiência contou com saudações aos peregrinos lusófonos presentes no Vaticano, com um apelo à comunhão nas preces e na esperança: “O movimento ecuménico vai frutificando, com a graça de Deus. Que o Pai do Céu continue a derramar as suas bênçãos sobre os passos de todos os seus filhos. Irmãs e irmãos muito amados, servi a causa da unidade e da paz!”. |
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Europa: Igrejas cristãs assinalam 45 anos
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O Conselho das Conferências Episcopais da Europa (CCEE), emitiu uma mensagem dedicada à Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, que hoje se inicia, em conjunto com a Conferência das Igrejas Europeias (CEC). No documento, enviado à Agência ECCLESIA, os presidentes dos referidos organismos, o cardeal Angelo |
Bagnasco (CCEE) e o bispo Christopher Hill (CEC) sublinham a importância das Igrejas cristãs “curarem feridas antigas e ultrapassarem as suas divisões”. “A história do cristianismo na Europa é marcada por períodos de dolorosa divisão, de condenação mútua e mesmo de violência. Numa altura em que várias igrejas se preparam para comemorar cinco séculos da |
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Reforma Protestante”, é tempo de aproveitar essa “preciosa oportunidade” para “renovar o compromisso” rumo à “unidade”, frisam aqueles responsáveis. Para os líderes das Igrejas cristãs da Europa, é essencial “buscar a reconciliação através das palavras mas também dos gestos” O cardeal Angelo Bagnasco e o bispo Christopher Hill invocam os 45 anos de caminhada em conjunto entre os membros do CCEE e da CEC, que tem permitido alcançar um “diálogo teológico frutuoso”. “As múltiplas crises que caíram sobre a Europa e os territórios vizinhos têm-nos unido ainda mais”, realçam os dois responsáveis religiosos. Atualmente, o CCEE e a CEC trabalham e buscam soluções em conjunto para desafios como a guerra, as políticas |
internacionais, a ecologia, as migrações e a pobreza, tanto física como espiritual. “A par destas crises está a esperança. Juntos podemos dar testemunho do amor conciliador de Cristo através da salvaguarda da Criação, da solidariedade para com os mais pobres, da proteção da dignidade de todos os filhos de Deus”, sustentam D. Angelo Bagnasco e o reverendo Christopher Hill. O tema da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos de 2017 inspira-se numa passagem da segunda carta de São Paulo aos Coríntios: ‘Reconciliação: é o amor de Cristo que nos impele’. Uma iniciativa que está em destaque nas emissões do Programa ECCLESIA na Antena 1 da rádio pública, até sexta-feira, pelas 22h45. |
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Ecumenismo: Crise de refugiados é uma oportunidade para traduzir o diálogo cristão em «gestos concretos» |
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Está em marcha até à próxima quarta-feira a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, este ano marcada pela recente viagem do Papa Francisco à Suécia, por ocasião dos 500 anos da Reforma Protestante. Em entrevista à Agência ECCLESIA, João Luís Fontes, do Grupo Ecuménico Jovem, considera que o facto de o Papa “não ter enviado ninguém, ter ido ele próprio, é um sinal de que assume o diálogo ecuménico como uma urgência e sobretudo que é fundamental que os cristãos se unam no testemunho de dão em relação ao mundo”. “Não no sentido de dominarem mas de tornarem credível, pela sua comunhão, por serem reconciliados, a verdade desta reconciliação que Cristo traz”, acrescenta. Aquele responsável recorda que “o Papa não se tem cansado de repetir que áreas como a reconciliação, a paz, a justiça e a dignidade humana são áreas fundamentais do ser cristão no mundo, e que os cristãos as podem fazer ecumenicamente”. |
É também nesse sentido que o documento de reflexão da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos sugere este ano o envolvimento de todos os cristãos na assistência por exemplo aos refugiados na busca de novos lares. “Aqui o princípio é muito simples, se a fé for vivida na verdade, ela tem que necessariamente marcar a vida das pessoas e transformar a vida das pessoas. E isso não se situa apenas ao nível da cabeça, das ideias e teorias, mas situa-se em gestos concretos”, aponta João Luís Fontes. O membro do Grupo Ecuménico Jovem recorda que o Papa, durante a sua deslocação à Suécia, não só apontou “o ecumenismo como um caminho irreversível” mas “juntou à questão dos refugiados” outras interpelações “muito concretas”, como “o terrorismo, a questão ecológica e o cuidado pela Criação”. A Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, que se vai prolongar até à próxima quarta-feira, dia 25 de janeiro, tem como tema ‘Reconciliação – |
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É o amor de Cristo que nos impele”. João Luís Fontes destaca o facto de, “pela primeira vez, a Reforma ir ser celebrada ecumenicamente”. De acordo com aquele responsável, em Portugal “vão decorrer celebrações ecuménicas durante todo o Oitavário, em Lisboa, no Porto, em Aveiro, em Braga onde será a celebração nacional”. O guião das iniciativas, a nível internacional, esteve desta vez a cargo do Conselho de Igrejas na Alemanha (ACK), a convite do Conselho Mundial de Igrejas. |
Durante a celebração final do Oitavário, as pessoas serão convidas a trazerem “pedras a figurar elementos de divisão, com as quais se construirá um muro que será depois derrubado e com as mesmas pedras será construída uma cruz”. “Um gesto muito bonito” e que quer lembrar que “as separações que criamos são derrubadas por Cristo, que estabelece a ponte, que estabelece os laços e que cria a comunhão”, conclui João Luís Fontes. |
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Portugal: Diálogo de amizade entre confissões religiosas tem presença na televisão há 20 anos
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O padre António Rego, representante católico na Comissão do Tempo de Emissão das Confissões Religiosas, elogiou o percurso percorrido nos últimos anos em volta da presença dos vários credos na televisão e na rádio públicas em Portugal “No princípio olhávamos notando muito as nossas diferenças como uma espécie de defeito, deficiência. Com o tempo fomos descobrindo que era |
uma riqueza os católicos serem diferentes dos Ortodoxos, dos Evangélicos ou dos budistas, dos Bahai”, disse o sacerdote açoriano à Agência ECCLESIA. O antigo diretor do Secretariado Nacional das Comunicações Sociais recorda as reuniões à hora do jantar que incluem “uma pequena refeição” ecuménica, para “acalentar a fragilidade” e entrar em diálogo. |
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“A ementa é escolhida de maneira que seja ecuménica, que não fira a sensibilidade de nenhuma das confissões religiosas, nem judaica, nem muçulmana”, acrescentou, em declarações transmitidas esta terça-feira, no programa ECCLESIA, na Antena 1. O padre António Rego contextualiza que desde 1997, quando começou o tempo de emissão da Igreja Católica e das outras confissões na televisão, os diversos representantes passaram do “conhecimento reverencial, primeiro desconfiado” ao ser amigos. “Isto ultrapassou muito a dimensão convencional que as confissões religiosas vão juntar-se para travar uma grande batalha. É para travar grande momento de encontro”, sublinha. |
O Oitavário de oração de 2017 tem como tema central a “reconciliação”, no contexto dos 500 anos da reforma protestante, iniciada por Martinho Lutero, e inspira-se numa passagem da segunda carta de São Paulo aos Coríntios: ‘É o amor de Cristo que nos impele’. O sacerdote açoriano destaca que a amizade “é o mais simples” e não são precisas “fórmulas especiais”, nem “renúncias” religiosas. ‘Fé dos Homens’ é desde 1997 o nome do programa de televisão na RTP2 onde as diferentes confissões religiosas em Portugal têm a sua presença, atualmente a partir das 15h00 de segunda a sexta-feira; essa presença estendeu-se mais tarde à rádio pública. |
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Portugal: Igreja Cristãs sublinham importância do ecumenismo num mundo em conflito
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Dois responsáveis cristãos em Portugal, um presbiteriano da Igreja da Escócia e um Ortodoxo da Ucrânia, destacam a voz e ação ativa do Papa Francisco pelo ecumenismo e a importância da Semana de Oração |
pela unidade, este ano centrado na reconciliação.Norman Hutcheson, da St. Andrew’s Church of Scotland, disse à Agência ECCLESIA, que o tema da reconciliação “nunca foi tão importante do que agora”, |
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quando existem países “em tensão” uns com os outros. Neste contexto, o reverendo presbiteriano sublinha que o tema da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, que no hemisfério norte se celebra até 25 de janeiro, é sobre “construir pontes” e “mais importante” aprender com a “experiência” dos outros. A iniciativa, que começou esta quarta-feira, evoca este ano os 500 anos da reforma protestante, iniciada por Martinho Lutero e inspira-se numa passagem da segunda carta de São Paulo aos Coríntios: ‘É o amor de Cristo que nos impele’. O padre ucraniano Vasyl Bundazyak considera, por sua vez, que a Igreja Católica e as outras Igrejas Cristãs demonstram com as iniciativas ecuménicas que procuram “a paz”. O padre missionário ortodoxo sublinha que a semana ecuménica serve para “unir as várias confissões” e permite que se percebam uns aos outros. O reverendo Norman Hutcheson afirma que tem “muito respeito” pelo Papa Francisco e que, como cristão, vê em nele “um homem com grande preocupação” em construir pontes.
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“Talvez até em demolir algumas tradições criadas ao longo dos séculos e que nos dividiram”, acrescentou. O assistente espiritual da St. Andrew’s Church of Scotland sublinhou a importância de “construir pontes e frentes ecuménicas” juntando as Igrejas no “entendimento e reconhecimento” de todos como irmãos e irmãs em Jesus Cristo” e não como inimigos”. “Então, o Papa Francisco fez um grande serviço ao mundo e à Igreja”, observou Norman Hutcheson, que acompanha a comunidade em Lisboa desde 2013. Por sua vez, o padre da Igreja Ortodoxa Ucraniana do Patriarcado de Kiev, que está em Aveiro, também destaca o “grande trabalho” ecuménico do Papa Francisco, como a visita à Suécia, em 2016, na qual mostrou que Igreja Católica “está para curar, abrir portas” para o ecumenismo ser uma “realidade”. O padre Vasyl Bundazyak também assinala que é necessário que as Igrejas se ouçam, porque “a mensagem única”, o Evangelho, e têm “de mostrar que fazem o que está escrito”. |
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Ir de comboio à Igreja? Sim! |
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A proximidade da estação dos caminhos-de-ferro de Aveiro foi a razão que fez com que a Comunidade Ortodoxa Ucraniana pedisse a cedência da Igreja da Sra. da Alegria, na paróquia da Vera-Cruz, Aveiro, para o culto semanal. Foi celebrado um contrato entre a paróquia da Vera-Cruz e os padres do rito ortodoxo do Patriarcado de Kiev, no sentido desta paróquia se comprometer a emprestar esta Igreja, cito no bairro de Sá-Barrocas, à comunidade ortodoxa ucraniana para que, os membros acima mencionados, aí possam celebrar o culto sagrado segundo o seu rito e presidirem aos batismos que, porventura, tiverem necessidade de celebrar ao domingo, ou ocasionalmente ao sábado; outros dias serão combinados caso a caso. Assim se lê no protocolo assinado pelos representantes da comunidade ortodoxa ucraniana e o pároco da Vera Cruz, na diocese de Aveiro, Manuel Rocha. Uma capa azul em que as argolas unem as páginas de um processo que dura há cerca de oito anos. “Os ortodoxos vieram até Aveiro a partir do Departamento Arquidiocesano das Migrações |
e Turismo de Braga que fizeram o pedido de acolhimento; entre eles separaram-se e veio a comunidade ortodoxa ucraniana até esta paróquia para pedir um espaço para o culto, nomeadamente esta Igreja da Sra. da Alegria, mais pelo espaço geográfico do que por outras razões”, explica o pároco de forma simples. Foi assim que a Igreja da Sra. da Alegria, sem rito regular, abriu as portas a esta comunidade que chegava e que muitos dos seus membros vinham de fora de Aveiro usando o comboio como meio de transporte. “A referida Igreja fica perto da estação dos caminhos-de-ferro e esta é a razão da escolha”, explica. A comunidade ortodoxa ucraniana celebra o seu culto aos fins-de-semana e a cerca de 300m a comunidade católica tem outra igreja, a Igreja do Senhor das Barrocas, onde acontece a missa dominical. Mas a Igreja da Sra. da Alegria serve para aquela zona de capela mortuária e “quando é necessário, há mesmo uma cláusula no protocolo, na data dos funerais usamos esta Igreja”, diz o padre Manuel Rocha. “Naquela Igreja celebra-se a Senhora da Alegria, a 15 de agosto, e o Mártir São Sebastião, a 20 de janeiro; nas |
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duas datas há um entendimento entre católicos e ortodoxos: por exemplo na festa do Mártir há missa no domingo à tarde e depois uma pequena procissão. Neste dia acontece uma permuta: abrimos as portas da capela do Senhor das Barrocas aos ortodoxos e nós celebramos na Igreja da Sra. da Alegria”. Em vez de uma igreja católica fechada a Igreja da Sra. da Alegria, na paróquia da Vera Cruz, em Aveiro, passou a ser um espaço de acolhimento que a própria comunidade paroquial recebeu de forma simples. “No início houve muita gente a colocar questões, a defender |
património, tradições e memórias mas temos de nos habituar a viver assim. Vejamos que em Aveiro há a tradição bonita de, na semana do oitavário juntar em oração os protestantes, ortodoxos e católicos, representados com as altas instâncias, por isso é bom que, na prática, abramos as portas a esta gente cristã, como nós; passos pequenos que vamos dando rumo à unidade”, conclui o pároco da Vera-Cruz. Uma capela católica cedida ao culto de uma comunidade ortodoxa ucraniana, na diocese de Aveiro… Um exemplo prático trazido no âmbito da semana de oração pela unidade dos cristãos. |
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DR - Cruzeiro e Igreja de Nossa Senhora da Alegria, Aveiro
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Conselho Mundial de Igrejas online |
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Em plena semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, esta semana a minha proposta passa pelo sítio do Conselho Mundial de Igrejas (CMI). O CMI é a principal organização ecuménica internacional e pretende ser “uma comunhão global que busca a unidade, o testemunho comum e o serviço”. Foi fundada em 1948, na Holanda, tendo a sua sede na Suíça. Congrega mais de 340 igrejas e entre os seus membros encontramos protestantes e ortodoxos, além de algumas denominações evangélicas. A Igreja Católica não faz parte desta organização, mas possui um grupo de trabalho permanente e participa como membro pleno em algumas comissões de trabalho. Como é o caso da comissão de Fé e Ordem e a comissão Missão e Evangelho. Ao digitarmos o endereço www.oikoumene.org/pt encontramos um espaço eminentemente informativo onde a principal vocação passa, precisamente, pela disponibilização de documentos e textos referentes às diversas ações e reflexões por parte desta estrutura. Basicamente para a língua |
portuguesa temos apenas duas opções disponíveis. Em novidades, como o próprio nome o refere, encontramos todos os artigos que vão sendo disponibilizados no sítio, ordenados cronologicamente. No item “documentos”, dispomos de todos os escritos organizados em quatro grandes áreas (Assembleia do CMI, Secretário geral do CMI, Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, Programas do CMI). Especificamente na opção referente a esta semana, que agora estamos a viver, podemos aceder aos subsídios que foram preparados e publicados em conjunto pelo Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos e a Comissão Fé e Constituição do Conselho Mundial de Igrejas. A exortação apostólica do papa Francisco de 2013, Evangelii Gaudium, serviu de mote para o tema deste ano “O amor de Cristo nos impele” (nº 9). Assim essa frase, espelhada do capítulo cinco da segunda carta aos Coríntios, foi a base de reflexão que o Conselho de Igrejas da Alemanha (ACK), utilizou para criar todos os materiais para esta semana. Conforme refere a introdução a este |
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documento, existem dois grandes destaques que importa sublinhar. Por um lado, “deveria haver uma celebração do amor e da graça de Deus, a «justificação da humanidade somente pela graça», refletindo a ideia principal das Igrejas marcadas pela Reforma de Martinho Lutero. Por outro lado, deveria também ser reconhecida a dor das subsequentes profundas divisões que afligiram a Igreja, com menção aberta de culpa |
e oferta de uma oportunidade para dar passos na direção da reconciliação”. Aqui fica então a sugestão para que visitem e consultem os vários documentos que por aqui são publicados, pois todos eles nos ajudam cada vez mais a construir este caminho de união em torno de Cristo.
Fernando Cassola Marques |
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Teologia e Refugiados |
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O mais recente número da revista da Faculdade de Teologia – Porto versa sobre a questão dos refugiados. É um interessante exemplo de como uma questão de atualidade pode ser tratada com muito proveito pela teologia. Um amplo dossier trata o assunto dos migrantes e refugiados desde a perspetiva teológica e filosófica. Dos vários textos emerge a necessidade de pensar o movimento interminável de seres humanos que deixam a sua terra, onde domina a guerra ou a miséria, para buscarem outras condições em que a vida seja possível. O assunto é vista à luz da tradição bíblica, onde a existência humana aparece caracterizada pela mobilidade e pela hospitalidade. A história humana é uma história “em trânsito”, segunda a palavra de um dos textos. O ordenamento do mundo de hoje tem muito que aprender com a amplitude de horizontes que a teologia e filosofia podem abrir, de forma que todos os seres humanos podem encontrar pátria e cultura |
onde existir, para lá dos poderes e interesses que condicionam negativamente as condições de habitar o mundo em diversas lugares. |
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II Concílio do Vaticano: A sensibilidade ecuménica de João XXIII contagiou |
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A plena integração da Igreja católica no movimento ecuménico mais amplo aconteceu no II Concílio do Vaticano. A questão ecuménica esteve presente desde o início na caminhada conciliar, muito devido à experiência e à sensibilidade do Papa João XXIII. A experiência diplomática em França, Grécia e Turquia do cardeal Angelo Giuseppe Roncalli (futuro Papa João XXIII) moldou a personalidade deste homem que convocou o II Concílio do Vaticano (1962-65). É fundamental recordar que a assembleia magna foi convocada a 25 de janeiro de 1959, precisamente no último dia da celebração do Oitavário de Oração pela Unidade. E um dos objetivos do II Concílio do Vaticano passava pela restauração da unidade dos cristãos. Apesar da sensibilidade do Papa João XXIII, as sementes foram lançadas para o terreno nas décadas anteriores. Na encíclica «Mystici Corporis» (1943) e não obstante uma “visão renovada da Igreja à luz do princípio da encarnação, Pio XII mantém a posição tradicional de uma simples e total identificação entre Igreja de Jesus Cristo e Igreja católica” (In: «Ecumenismo – Situações e perspectivas»; José Eduardo Borges de Pinho; Lisboa; UCeditora). Mas no pontificado de Pio XII começam a dar frutos os movimentos “refontalização bíblica, patrística e litúrgica que impulsionaram a renovação da teologia católica na primeira metade do século XX” (obra citada anteriormente). Com o mesmo Pio XII, através da instrução «Ecclesia Catholica», datada de 20 de dezembro de 1949, mas só publicada a 1 de março
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de 1950, aparece “o primeiro pronunciamento oficial positivo”, ainda que “com muitas preocupações face ao movimento ecuménico”. Antes dos trabalhos conciliares se iniciarem, o Papa João XXIII criou o Secretariado para a Unidade dos Cristãos (15-06-60), um organismo que teve importância fulcral na orientação global do II Concílio do Vaticano e, em particular, nalguns dos seus documentos. Por decisão do mesmo Papa, este secretariado foi elevado, poucos dias depois do início dos trabalhos conciliares, ao nível de comissão conciliar. Deste modo, |
os seus membros foram colocados numa situação de igualdade de estatuto relativamente às outras comissões do concílio. Uma particularidade digna de registo é que os membros desta comissão foram designados pelo Papa, não escolhidos pelos padres conciliares. |
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janeiro 2017 |
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20 janeiro 2017. Encerramento da campanha solidária para a aquisição de um jipe para o Gungo (Angola) promovida Grupo Missionário Ondjoyetu, da Diocese de Leiria-Fátima.
. Fátima - Hotel Santo Amaro - Encontro nacional da Pastoral Penitenciária dedicado ao tema da misericórdia. (termina a 21 de janeiro)
. Lisboa – UCP - Início do curso de formação de voluntários em saúde
. Porto - Escola Secundária Clara de Resende, 10h20 - Sessão do ciclo sobre religião e economia no Projeto «Palavras no Tempo»
. Fátima, 15h00 - Reunião da Comissão Episcopal do Laicado e Família
. Braga - Igreja dos Congregados, 21h00 - Celebração Ecuménica a nível nacional na Igreja dos Congregados (Braga) com a participação dos hierarcas das Igrejas
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. Vila Real - Centro Católico de Cultura, 21h15 - Apresentação da obra «Quero acordar a Aurora» de D. Manuel Linda pelo bispo de Vila Real, D. Amândio Tomás.
21 de janeiro. Lisboa - Convento de São Domingos - Clausura oficial do Jubileu dos Dominicanos e Expo-OP com publicações e Canto dos Dominicanos em Portugal.
. Viana do Castelo - O encontro da Pastoral Litúrgica da Diocese de Viana do Castelo realiza-se nos dias 21 e 22 deste mês e tem como tema “O serviço da liturgia nos sacramentos do serviço”.
. Aveiro - Casa Diocesana de Albergaria - Ação de formação para catequistas de adolescentes
. Itália – Roma - Início do processo eletivo que vai nomear o novo prelado da Opus Dei
. Itália – Roma - Encerramento do congresso dos Dominicanos dedicado ao tema «Enviados a pregar o Evangelho».
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22 de janeiro. Aveiro - Ação de formação na animação da fé em Pastoral Operária promovida pela JOC
. Lisboa - Colégio de Santo Antão-o-Novo, 12h00 - Percurso pedestre pelos «caminhos de Cristóvão Ferreira», iniciativa promovida pelo Museu São Roque e apoiada pela revista Time Out Lisboa.
. Guarda, 15h00 - O Departamento do Património Cultural da Diocese da Guarda vai realizar, este domingo, uma visita guiada sobre «São Vicente, diácono e mártir».
. Porto - Vila Nova de Gaia, 16h30 - Celebração ecuménica na Paróquia do Senhor da Vera Cruz promovida pela Comissão Ecuménica do Porto
. Porto - Mosteiro de Bande (Paços de Ferreira), 16h30 - Celebração ecuménica no Mosteiro de Bande (Paços de Ferreira) promovida pela Comissão Ecuménica do Porto.
23 de janeiro. Itália – Roma - Início do congresso eletivo para escolher o novo prelado da Opus Dei
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. Marco de Canaveses - Convento de Avessadas - A Diocese de Viana do Castelo vai promover as Jornadas de Formação do Clero, em duas sessões, para permitir “oferecer a todos a possibilidade de participar”, no Convento de Avessadas, no Marco de Canaveses.
. Torres Vedras - Centro de Espiritualidade do Turcifal - O bispo de Leiria-Fátima vai participar nos encontros de formação permanente do clero este ano dedicado à história, à teologia e aos desafios pastorais desta Igreja, no Centro de Espiritualidade do Turcifal, em Torres Vedras. (termina a 27 de janeiro)
. Lisboa - Capela do Rato, 18h15 - Sessão do curso «grandes correntes da ética ocidental» na Capela do Rato . Lisboa - Auditório da Escola de Hotelaria e Turismo de Lisboa, 21h30 - Sessão dos Encontros de Santa Isabel «Sobre o capítulo 13 da Primeira Carta aos Coríntios no capítulo IV da Exortação Apostólica»
24 de janeiro. Lisboa - Seminário dos Olivais – O Patriarcado de Lisboa promove as suas Jornadas de Formação Permanente do Clero onde vão refletir sobre o tema ‘A vida sob o olhar de Deus’, entre 24 e 26 de janeiro, no Seminário dos Olivais. (até 27 de janeiro) |
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Na semana de oração pela unidade dos cristãos são várias as celebrações ecuménicas por todo o país, nomeadamente no domingo, em Vila Nova de Gaia, pelas 16h30, na Paróquia do Senhor da Vera Cruz e no Mosteiro de Bande (Paços de Ferreira), promovida pela Comissão Ecuménica do Porto.
Já na terça-feira, dia 24 janeiro, pelas 21h30, na Paróquia Lusitana do Redentor, acontece a Celebração Ecuménica do grande Porto com os hierarcas das diversas confissões cristãs.
Ainda no dia 24, celebração litúrgica de São Francisco Sales, acontece em Bragança - Casa Episcopal, às 09h30 o Encontro de D. José Cordeiro, bispo de Bragança-Miranda, com os jornalistas para evocar São Francisco de Sales, padroeiro dos profissionais da comunicação.
Também na terça-feira acontecem as Jornadas de Formação Permanente do Clero, no seminário dos Olivais, em Lisboa onde vão refletir sobre o tema ‘A vida sob o olhar de Deus’, até 26 de janeiro; e no Seminário do Funchal acontecem as jornadas de atualização para o clero, leigos e consagrados sobre o tema do ano pastoral «Viver, em Igreja, a alegria de ser cristão» e sobre o último documento do Papa Francisco «A alegria do Amor».
Já no dia 25 de janeiro Coimbrões, no Porto, pelas 21h15 recebe a Celebração ecuménica na Paróquia de Santa Bárbara também promovida pela Comissão Ecuménica do Porto. |
Programação religiosa nos media |
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Antena 1, 8h00 RTP1, 10h30 Transmissão da missa dominical
11h00 - Transmissão missa
Domingo: 10h00 - Porta Aberta; 11h00 - Eucaristia; 23h30 - Entrevista de Aura Miguel
Segunda-feira: 12h00 - Informação religiosa
Diariamente 18h30 - Terço
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RTP2, 13h00Domingo, 22 de janeiro, 13h30 - Silêncio: o simbolismo de um filme
Segunda-feira, dia 23, 15h00 - Entrevista a Carlos Fiolhais, físico da Universidade de Coimbra, sobre a globalização e os Jesuítas.
Terça-feira, dia 24, 15h00 - Informação e entrevista ao padre Américo Aguiar, sobre a Mensagem do Papa para o Dia Mundial das Comunicações Sociais
Quarta-feira, dia 25, 15h00 - Informação e entrevista a Luísa RIbeiro Ferreira, sobre o Curso de Ética, na Capela do Rato.
Quinta-feira, dia 26, 15h00 - Informação e entrevista a Maria José Vilaça, sobre o primeiro forum Wahou.
Sexta-feira, dia 27, 15h00 - Análise à liturgia de domingo com o padre Armindo Vaz e Nélio Pita.
Antena 1
Domingo, dia 22 - 06h00 - 800 anos dos Dominicanos, Ordem dos Pregadores Segunda a sexta-feira, dias 23 a 27 de janeiro- 22h45 - Silêncio: perspetivas e testemunhos sobre o filme que retrata a perseguição religiosa no Japão no século XVII |
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Ano A – 3.º Domingo do Tempo Comum |
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Irradiar a unidade em Cristo |
Neste terceiro domingo do tempo comum, a Palavra de Deus apresenta-nos o projeto do Reino de Deus, que nos quer oferecer a salvação e a vida plena. A primeira leitura indica-nos o profeta Isaías a anunciar uma luz que Deus irá fazer brilhar por cima das montanhas da Galileia e que provocará alegria naqueles que a acolherem. A segunda leitura apresenta a realização do Reino numa comunidade concreta de discípulos que esqueceram Jesus e a sua proposta. Paulo exorta-os a redescobrirem os fundamentos da sua fé e dos compromissos assumidos no Batismo, em particular a unidade em Cristo: «Falai todos a mesma linguagem e não haja divisões entre vós, permanecendo bem unidos, no mesmo pensar e no mesmo agir». A belíssima oração do salmo envolve-nos no dinamismo do Reino centrado em Jesus. Vale a pena saboreá-la: «o Senhor é minha luz e salvação, é o protetor da minha vida; confia no Senhor, sê forte». O Evangelho aponta Jesus como a luz que começa a brilhar na Galileia. Há discípulos que respondem ao apelo de Jesus e se comprometem com o Reino. Em Jesus, o Reino torna-se uma realidade em construção no mundo. O anúncio de Jesus toca e enche de júbilo o coração dos pobres e humilhados, daqueles cuja voz não chega ao trono dos poderosos, nem encontram lugar à mesa farta do consumismo, nem protagonizam as histórias balofas das colunas sociais. Deus quer oferecer-lhes a vida feliz que os grandes e poderosos insistem em negar-lhes. Para que o Reino seja possível, Jesus pede-nos a conversão: refazer a existência, de forma a que só Deus ocupe o primeiro lugar na nossa vida; despir-nos |
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do egoísmo que impede de estarmos atentos às necessidades dos irmãos; renunciar ao comodismo e à indiferença, que impedem o compromisso com os valores do Evangelho; sair do isolamento e da autossuficiência, para estabelecer relação e fazer da vida um dom ao serviço dos outros. A história do compromisso de Pedro e André, Tiago e João com Jesus e com o Reino é uma história que define os traços essenciais da caminhada de qualquer discípulo missionário: é chamado, aceita seguir Jesus, compromete-se na missão. Uma missão que passa por testemunhar a salvação que Deus tem para
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oferecer a todos, sem exceção. Vivamos esta semana na lógica do Reino, do amor, da doação da vida, da comunhão fraterna, da tolerância, do respeito pelos outros, da procura da unidade. Que a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos que estamos a viver seja assumida em oração e compromisso entre as várias confissões cristãs. Procuremos espalhar a luz do Reino que é Cristo. Deixemos de ser candeeiros opacos e passemos a ser focos que irradiam luz. A conversão passa por aí.
Manuel Barbosa, scj www.dehonianos.org |
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Visita centrada em Fátima
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O jesuíta italiano Antonio Spadaro, autor da primeira entrevista de fundo ao Papa, disse hoje à Agência ECCLESIA que a próxima visita de Francisco a Portugal, centrada em Fátima, está em linha com as escolhas do atual pontificado. “O Papa viaja às periferias, também da Europa. Se repararmos, as viagens europeias partiram de Lampedusa e seguiram |
pela Grécia, Turquia, Bósnia, Polónia, Suécia e depois virá aqui, a Portugal: está a circum-navegar a Europa”, assinalou o diretor da revista ‘La Civiltà Cattolica’ e consultor do Conselho Pontifício para a Cultura (Santa Sé). O sacerdote jesuíta tem acompanhado as visitas internacionais do Papa Francisco e fala em escolhas com “significado simbólico, profundo”. |
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“As viagens do Papa servem para tocar lugares em que há efervescência, onde existem estímulos, que possam ajudar a compreender melhor o centro e também os lugares onde se vivem feridas abertas, que se tocam para serem curadas”, precisou. Francisco já realizou 17 viagens internacionais e vai estar em Fátima nos dias 12 e 13 de maio, por ocasião do Centenário das Aparições. “O motivo pelo qual o Papa vem a Fátima é porque é um grande centro religioso, onde há uma forte religiosidade popular”, refere o padre Antonio Spadaro. O jesuíta italiano realça que a mensagem de Nossa Senhora de Fátima chegou através de “três criancinhas”. “No fundo, são os pequenos, as pessoas que, precisamente, não são consideradas pela sociedade, são pobres, mas têm
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uma mensagem para todo o mundo”, prossegue. O sacerdote esteve em Portugal como conferencista convidado das jornadas de atualização do clero das dioceses do Algarve, Beja, Évora e Setúbal. A intervenção inaugural, esta segunda-feira, teve como tema ‘As periferias geográficas e a misericórdia’. “O Papa sabe que, por vezes, a maior riqueza não vem do centro, onde as coisas são mais estáticas, mas dos lugares que crescem, que evoluem, mais expostos às fronteiras”, explicou à Agência ECCLESIA o padre Spadaro. O diretor da ‘Civiltà Cattolica’ assinala que a insistência na necessidade de “construir pontes” parte de um Papa “apaixonado” por tudo o que está “para lá da imaginação”. “É muito importante refletir sobre as periferias geográficas, as periferias existenciais, os lugares que colocam desafios à vida da Igreja”, explica. |
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A Escultura do Anjo
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O Santuário de Fátima assinalou o encerramento das celebrações do Centenário das Aparições do Anjo da Paz, no final de 2016, com a inauguração de uma escultura em bronze, da autoria de Clara Menéres, colocada sobre a porta de entrada da Capela do Anjo da Paz. |
Esta imagem do Anjo da Paz, realizada de forma tradicional, através da modelação em barro, passagem a gesso e execução final em bronze, apresenta um vulto de expressão jovem, embrulhado num manto branco, com uma pomba numa mão e o ramo da oliveira na outra, numa |
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clara referência ao Antigo Testamento. “Quisemos assinalar de forma permanente a passagem deste primeiro Centenário das Aparições Angélicas. Para isso, convidámos a escultora Clara Menéres a fazer uma escultura do Anjo da Paz, que hoje inauguramos e benzemos”, disse o reitor do Santuário de Fátima, padre Carlos Cabecinhas. A escultora, Clara Menéres, afirmou ser “difícil interpretar o transcendente”, considerando “uma honra e uma oportunidade trabalhar este tema tão fascinante do Anjo e da Paz” e deixou um desejo confesso: que a escultura do Anjo, colocada por cima da entrada da Porta da Capela do Anjo da Paz, na colunata sul do Recinto de Oração, “possa ser um convite permanente aos peregrinos para uma |
maior presença da oração pela Paz nas suas preces” Não se conhecem as datas exatas desta anunciação angélica há cem anos, mas sabe-se, a partir das memórias da Irmã Lúcia, que terá acontecido por três vezes, tendo a primeira ocorrido por altura da Primavera. E, ao anunciar-se três vezes aos videntes, o Anjo convoca-os para um aspeto central da mensagem de Fátima − a adoração − que se vê espelhada na oração que o Anjo ensina às três crianças: “Meu Deus, eu creio, adoro, espero e amo-vos”. Clara Menéres é professora emérita da Universidade de Évora, escultora e investigadora em Arte, diplomada em Escultura pelas Belas Artes do Porto e doutorada em Etnologia pela Universidade de Paris VII. |
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A história de dois cristãos sequestrados em Mossul, no IraqueA cruz escondida… |
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Foram dois anos de suplício. Uma mãe e um filho, ainda adolescente, ambos cristãos, foram levados para Mossul depois de a sua aldeia ter sido conquistada pelos jihadistas. Felizmente, Jandark Nassi e Ismail conseguiram escapar daquele verdadeiro inferno mas há feridas que nunca mais vão cicatrizar.
Ismail tinha apenas 14 anos quando ocorreu, em Agosto de 2014, a invasão da Planície de Nínive pelos jihadistas. Ismail vivia na cidade de Bartella com sua mãe, Jandark Nassi. De um dia para o outro, os sinos das igrejas emudeceram por completo e todos procuraram fugir do terror que se anunciava com a chegada dos homens de negro. Milhares de pessoas fugiram como puderam e levaram consigo apenas a roupa que traziam vestida. Mas nem todos foram capazes de partir antes da chegada dos terroristas. Ismail e a sua mãe, Nassi, recordam esse dia como algo de terrível. “Tentávamos sair da cidade quando nos levaram para Mossul.” Era o princípio de uma história que os vai agora perseguir até ao resto das |
suas vidas. “Tive tanto medo…” Nassi, viúva, apesar de ter apenas 55 anos, sentia que era sua obrigação proteger o filho. Caramba, ele era ainda uma criança. Levados para Mossul, a “capital” dos jihadistas, mãe e filho viveram os primeiros dias em pânico, desconhecendo o que lhes iria acontecer. Até que lhes disseram que seriam livres se renunciassem a Cristo. Recusaram. Foi o começo do pesadelo. “Levaram logo o meu filho para uma prisão. Tinha apenas 14 anos…” Imagine-se a aflição desta mãe ao ver o seu próprio filho a ser agarrado e conduzido para uma cadeia, sem poder socorrê-lo… Imagine-se também a aflição deste jovem colocado numa prisão. “Um dia – lembra ele agora – um homem foi assassinado mesmo à minha frente. E os terroristas viraram-se depois para mim e disseram: ‘se não te converteres ao islão, damos-te também um tiro.’” Nesse instante, a sua resistência acabou. “Foi então que lhes disse que me ‘convertia’ ao islão.” Não foi uma conversão, foi uma cedência, uma forma de se manter vivo. |
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A cruz escondidaMas o terror continuava. O filho de Jandark foi colocado num campo correccional, obrigado a deixar crescer o cabelo e a barba. Até que, um dia, um jihadista descobriu que ele usava uma cruz ao pescoço. Afinal, ele era ainda Cristão! Quando descobriram que Ismail usava uma cruz, podia ter sido logo morto. Mas era apenas uma criança. Preferiram torturá-lo por dentro. Convertê-lo à força. Obrigados a estudar o Corão, tanto ele como a sua mãe, passaram a ser agredidos sempre que davam respostas erradas. A violência parecia não ter fim quando começaram a ouvir-se os primeiros |
rumores de que o exército iraquiano estava a reconquistar a região. E os rumores passaram a certeza quando se verificaram os primeiros bombardeamentos. Foi na confusão de uma dessas batalhas que eles conseguiram fugir. Agitando uma bandeira branca, entregaram-se aos primeiros soldados que encontraram. Ismail e Nassi são apenas dois rostos da multidão de refugiados cristãos iraquianos que são apoiados diariamente pela Fundação AIS. São pessoas que perderam tudo o que tinham, que têm agora de reconstruir vidas, que têm de voltar a acreditar no futuro. São pessoas que precisam muito de nós. Paulo Aido www.fundacao-ais.pt |
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Reconciliação - um dom ou uma tarefa? |
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Tony Neves |
Não há alternativa à caminhada ecuménica: quem o disse foi o Concílio Vaticano II e, depois dele, todas as intervenções oficiais da Igreja católica o têm reafirmado. Se até ao Concílio, o ecumenismo era olhado com alguma suspeição e vivido apenas por alguns, a partir deste grande acontecimento, a opção deu lugar à obrigação. Os últimos tempos têm sido muito ricos em termos ecuménicos. Surgem documentos, realizam-se eventos, abrem-se debates, reza-se em comum, os membros de diversas Igrejas encontram-se. A nível mundial, registamos os encontros frequentes entre os Papas e líderes das grandes Igrejas Cristãs de tradição Ortodoxa ou nascidas da Reforma Protestante. Também ganhou direito de cidadania o Oitavário de Oração para a Unidade dos Cristãos que, na Europa, estamos a celebrar de 18 a 25 de Janeiro. A nível da Europa, saliento a realização de três Assembleias Ecuménicas: em Basileia (Suiça, em 1989), em Graz (Áustria, em 1997), em Sibiu (na Roménia, em 2007). Os temas escolhidos, debatidos e rezados tocam nas questões de justiça, paz, ecologia, reconciliação e comunhão. Trata-se de grandes temas gravados nas páginas dos Evangelhos que, quando vividos, tornam o mundo mais humano e mais fraterno. Portugal tem impresso já no seu ritmo eclesial uma caminhada ecuménica interessante. Vivemos com intensidade, a nível nacional, a Semana da Unidade, com encontros e celebrações um pouco por todo o país. Temos dioceses (como, por |
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exemplo, Porto, Lisboa e Coimbra) onde vão acontecendo, ao longo do ano, eventos que congregam diversas Igrejas cristãs. Mas é a nível dos jovens que o caminho parece mais palmilhado: desde 1999 que se realiza, sem interrupções, o Fórum Ecuménico Jovem, fruto de uma organização conjunta dos departamentos juvenis das Igrejas Católica, Lusitana, Metodista e Presbiteriana. Além destes fóruns, que têm percorrido o país, têm surgido outras iniciativas de que saliento a produção de dois CD’s Ecuménicos que reúnem cânticos nascidos no contexto das diferentes Igrejas. |
‘Reconciliação – é o amor de Cristo que nos impele’, eis o tema desta Semana da Unidade, relacionado com a celebração dos 500 anos da Reforma Protestante. Há que continuar a derrubar as paredes da divisão para dar lugar ao projeto de Cristo que quer ‘um só rebanho e um só Pastor’…que é Ele! Reconciliação: um dom ou uma tarefa? Certamente que um enorme dom de Deus à sua Igreja, que se torna tarefa para quantos sentem o peso do sonho bíblico: ‘oh como é bom e agradável viverem os irmãos em harmonia’! |
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