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Paulo Rocha |
Marco Daniel Duarte |
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Foto de capa: DR
Foto da contracapa: DR
AGÊNCIA ECCLESIA Diretor: Paulo Rocha | Chefe de Redação: Octávio Carmo Redação: Henrique Matos, José Carlos Patrício, Lígia Silveira, Luís Filipe Santos, Sónia Neves Grafismo: Manuel Costa | Secretariado: Ana Gomes Propriedade: Secretariado Nacional das Comunicações Sociais Diretor: Padre Américo Aguiar Pessoa Coletiva nº 500966575, NIB: 0018 0000 10124457001 82. Redação e Administração: Quinta do Cabeço, Porta D 1885-076 MOSCAVIDE. Tel.: 218855472; Fax: 218855473. agencia@ecclesia.pt; www.agencia.ecclesia.pt;
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Opinião |
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Fátima, história e memória
António Rego | Miguel Oliveira Panão | Paulo Rocha|Octávio Carmo | Manuel Barbosa | Paulo Aido | Tony Neves |
A rua e a lei |
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![]() Paulo Rocha Agência ECCLESIA |
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Eutanásia. O tema é o debate em torno da legalização da eutanásia, sem eufemismos que caraterizam formulação de questões civilizacionais, por iniciativa do movimento cívico ‘Direito a Morrer com Dignidade’. Aconteceu no plenário da Assembleia da República após discussões em várias comissões, como sucede na generalidade das petições apresentadas aos deputados. O mesmo tratamento terá um outro pedido de cidadãos, a petição ‘Toda a Vida Tem Dignidade’, que rejeita qualquer incursão legislativa que não defenda a vida humana em todas as ocasiões, tanto as melhores como as más. Mais do que questão fraturante, trata-se de uma questão civilizacional. Assim, ver um movimento cívico apresentar uma petição para despenalizar o ato de provocar a morte, mesmo que a pedido do próprio, parece contraditório. Também porque diz respeito apenas um momentos do itinerário de vida e, diante do limite humano, opta pela desistência, por apagar circunstâncias de sofrimento e, com elas, toda a vida! Enquanto cada grupo parlamentar usava os três minutos regimentais para se pronunciar num debate “alargado”, como todos querem, sobre a eutanásia, chegavam a público as imagens do presidente da República num exemplar exercício de voluntariado em ambiente hospitalar. O contacto era predominantemente com idosos, aliás repetido no dia seguinte no encontro com os que vivem sós na baixa da capital, e mostraram aos |
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portugueses Marcelo Rebelo de Sousa na atenção a quem experimenta o limite, a dor, numa clara alusão ao exemplo como a melhor forma de instruir e ao desafio a todos os setores da sociedades no sentido de aí apostarem nas opções civilizacionais. Dois factos que provocam duas apreciações: primeiro, não é em três minutos que é possível participar num debate qualificado sobre a vida e a morte e muito menos deixar a 230 deputados a faculdade de decidir |
sobre uma questão que é de toda a população portuguesa, sobretudo numa ocasião em que se contorcem todos os dias no hemiciclo para acordos que garantam a estabilidade mínima para a continuidade governativa; por outro lado, os gestos nobres e modelares da primeira figura do Estado não se podem tornar demagógicos quando chegar o momento de cunhar qualquer diploma legal, porque tem de haver, em todas as circunstânicas, coerência entre a rua e a lei. |
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No dia em que o Parlamento debatia a petição “Pela despenalização da morte assistida”, Marcelo concretizava a primeira de quatro visitas a idosos do centro de Lisboa, cumprindo uma promessa feita à Associação Mais Proximidade Melhor Vida (AMPMV), uma IPSS que dá afetos e assistência a 120 idosos que vivem sozinhos ou com dificuldades numa das zonas degradadas da cidade. Uma coincidência de datas? @ Lusa/António Pedro Santos |
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As coisas abjetas que Trump está a fazer são as coisas abjectas que ele prometeu que iria fazer e pelas quais foi eleito. Claro que todos devemos resistir a elas, e a Europa pode ter uma oportunidade de ouro para renovar o seu papel como espaço de decência no mundo, e dar algum sentido à sua tremelicante existência. Mas repito: importa tanto combatê-lo como percebê-lo. Tirem-lhe lá o bigodinho, se faz favor. João Miguel Tavares – Público 2.2.2017
A inclusão do ato suicida na esfera da actuação médica colocaria a profissão numa posição ambígua naturalmente incompatível com a coerência que a prevenção do suicídio exige. O fim da vida como solução médica para o sofrimento empurra o sofrimento do suicida para o ato e afasta-o de uma ajuda médica dessa forma descredibilizada e morbidamente concordante. Miguel Jara - Médico psiquiatra do Serviço de Psiquiatria de Ligação do Centro Hospitalar de Lisboa Central – Diário de Notícias 30.1.2017
“Hoje há mais [mártires] do que nos primeiros séculos, os media não o dizem porque não dá notícia, mas muitos cristãos no mundo de hoje são bem-aventurados porque são perseguidos, insultados, presos” Papa Francisco na homilia da Missa na capela da Casa de Santa Marta – 30.1.2017
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Eutanásia, cultura de morte
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O bispo de Leiria-Fátima denunciou a “eutanásia cultural”, que leva a uma cultura do descarte, e apelou ao testemunho dos consagrados na luta em prol da dignidade da vida humana. “Este testemunho torna-se cada vez mais premente e atual hoje, sobretudo no momento em que |
a vida humana é atingida pela fragilidade e cuja dignidade hoje é posta em causa através da revindicação da Eutanásia. Toda a gente tem direito a uma morte digna, mas que não mate ninguém”, disse D. António Marto, na homilia da Missa que assinalou o Dia do Consagrado, |
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no Santuário de Fátima. Na intervenção, divulgada pela sala de imprensa da instituição, o vice-presidente da Conferência Episcopal Portuguesa sustentou que a revindicação da eutanásia surge do “isolamento, da solidão” a que são votados aqueles que já não servem a sociedade. Para D. António Marto, a alternativa à eutanásia são os cuidados paliativos, “no sentido mais abrangente da palavra”. “É preciso resistir a uma mentalidade que se vai generalizando que se poderia chamar de eutanásia cultural, antes da eutanásia física, está uma eutanásia cultural de quem vota ao isolamento, à solidão, ao abandono, ao descarte as pessoas frágeis pelo sofrimento ou pelos limites da idade, levando-os a considerar como um peso, um fardo intolerável para a sociedade”, salientou. Já o jurista José Maria Seabra Duque, um dos mandatários da petição ‘Toda a vida tem dignidade’, diz que o debate à volta da eutanásia é decisivo sobretudo ao nível do tipo de sociedade que hoje “queremos construir”. |
“O que está em discussão é saber que resposta tem a sociedade a oferecer aos doentes, aos idosos, aos que sofrem. Oferecemos cuidados médicos, cuidados sociais, oferecemos o nosso amor e a nossa compaixão ou a morte?”, questiona aquele responsável, num texto enviado à Agência ECCLESIA. A eutanásia tem estado em debate no Parlamento português, que já recebeu duas petições, a já referida ‘Toda a Vida tem dignidade’, e outra que defende a “despenalização da morte assistida”. Dois partidos com assento na Assembleia da República, o Bloco de Esquerda e o PAN – Pessoas Animais Natureza, deverão apresentar projetos-lei relacionados com esta questão. José Maria Seabra Duque considera que, “ao contrário do que tem vindo a ser afirmado”, não está em cima da mesa uma questão de “autonomia pessoal”, ou seja, “a possibilidade de as pessoas decidirem o que fazer com a sua vida”. Até porque “na eutanásia é a pessoa que pede para morrer mas sãos os médicos que decidem se ela pode ou não”. |
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Terras Sem Sombra
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O diretor-geral do Festival ‘Terras Sem Sombra’, José António Falcão, destacou à Agência ECCLESIA a importância de levar esta iniciativa a novos públicos, como acontece até sábado em Sevilha, “Capital anímica” do sul da Península. O evento que alia música sacra, património e biodiversidade, no Baixo Alentejo, vai decorrer entre fevereiro e julho, tendo este ano a Espanha como país convidado. José António Falcão refere que a escolha de Sevilha para lançar a edição 2017 do ‘Terras Sem Sombra’ deriva do facto de esta cidade da Andaluzia ser um “grande destino cultural e turístico e um grande emissor de turistas”. Esta região do sul de Espanha tem muitas pessoas “que se interessam pela música, cultura, património, biodiversidade, turismo religioso e peregrinações”, frisou o diretor do Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja, que organiza o festival. Na região da Andaluzia há projetos que “estão a ser catapultados à escala mundial” e “é importante que o sul de Portugal se integre nesta dinâmica”, realçou José António Falcão. |
“chegar de uma forma muito direta ao coração do Alentejo, e em simultâneo ao coração de Portugal”, salientou o diretor-geral do evento. Nas tardes que antecedem os concertos, o festival vai proporcionar este ano visitas ao património das localidades, “com guias das próprias terras”. As ações de biodiversidade e o contacto “direto com a gastronomia alentejana” também fazem parte do programa, anunciou o diretor-geral. A “embaixada cultural” do Alentejo prevê o encontro de dois géneros musicais que são Património Imaterial da Humanidade, o Cante Alentejano e o Flamenco. |
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11 mil euros para refugiados
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A Cáritas Portuguesa vai enviar mais de 11 mil euros para os refugiados da Europa de Leste, em campos na Grécia e Sérvia, da campanha ‘Levo Calor aos Refugiados’ e apela às empresas para aumentar o montante. Num comunicado enviado à Agência ECCLESIA, a Cáritas Portuguesa informa que campanha de angariação de donativos encerra com um saldo de 11 717,75 euros. A instituição católica com a ação de solidariedade ‘Levo calor aos refugiados’ pretendia recolher 32 500 euros, por isso, está ainda aberta à “receção de donativos empresariais”. A ajuda dos portugueses o objetivo é apoiar 250 famílias mais vulneráveis com distribuição de lenha, apoio no pagamento de fatura de eletricidade, comida e artigos de higiene e distribuir roupas quentes e cobertores a 200 refugiados dentro e fora dos campos. ‘Levo calor aos refugiados’ foi uma campanha nacional de curto prazo dinamizada devido à “urgência” da situação vivida pelos refugiados no leste e sul da Europa provocada pelo frio extremo com temperaturas de 20 graus negativos que agravou as |
“difíceis situações de vida daquela população”. O presidente da Cáritas Portuguesa sobre a campanha explicou que perante o “apelo de ajuda” que chegou a partir das congéneres locais não quiseram “ficar indiferentes”. “Confiámos, como sempre, na generosidade do povo português que, mais uma vez, respondeu dentro das suas possibilidades”, observou Eugénio Fonseca. A Cáritas Portuguesa destaca ainda o apoio aos refugiados em invernos anteriores, como ao Líbano no valor de 25 mil euros que proporcionou “aquecimento durante seis meses para 120 refugiados”, ou à Síria onde com 13 600 euros distribuíram roupas de inverno a 335 crianças refugiadas. |
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A Agência ECCLESIA escolhe sete acontecimentos que marcaram a atualidade eclesial portuguesa nos últimos dias, sempre atualizados em www.agencia.ecclesia.pt
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Encontro de jornalistas com o bispo de Bragança-Miranda
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Papa rejeita atalhos para fugir a problemas na Vida Consagrada
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O Papa presidiu no Vaticano à Jornada Mundial da Vida Consagrada, na festa da apresentação do Senhor, com membros das várias congregações religiosas. Na homilia da Eucaristia, na Basílica de São Pedro, Francisco |
alertou para a tentação de encarar a vida consagrada apenas na perspetiva da “sobrevivência”, uma visão que “pode tornar estéril” todo e qualquer tipo de missão. Para o Papa, quem vive a sua |
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entrega a Deus dessa forma acaba por cair na rotina, acomoda-se aos seus horizontes e perde de vista “a criatividade profética” que é indispensável para enfrentar os problemas, mais do que isso, “procura atalhos para escapar” aos desafios. “A atitude de sobrevivência faz-nos tornar reacionários, temerosos, faz-nos fechar lenta e silenciosamente nas nossas casas e nos nossos esquemas”, alertou Francisco, recordando que mais do que “profissionais do sagrado”, os membros da Vida Consagrada são chamados a ser “pais, mães ou irmãos da esperança”. Contrariar a “hemorragia” que hoje afeta a Vida Consagrada, com mais de 2 mil abandonos por ano entre religiosos e religiosas, implica reencontrar e voltar a ter presente o objetivo de cada carisma, o apelo fundador que a ele deu origem. “Faz-nos bem acolher o sonho dos nossos pais, para podermos profetizar hoje e encontrar novamente aquilo que um dia inflamou o nosso coração”, apontou o Papa. Se os consagrados não encararem a sua vida para lá da sobrevivência e não tiverem sempre presente a raiz
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da sua vocação, qualquer “oportunidade para a missão” poderá passar a ser encarada como “perigo, ameaça, tragédia”, complementou. Na sua reflexão, enquadrada também no final da Semana da Vida Consagrada, Francisco desafiou os consagrados a tornarem a sua vida “fecunda” colocando Cristo no meio da sociedade, tal como Maria e Simeão no dia em que apresentaram Jesus ao povo, no templo de Jerusalém. Sobretudo num tempo marcado por uma “transformação multicultural”, onde cada consagrado e consagrada deve ser “fermento” no meio da massa, é “convidado a levedar aqui e agora, com os desafios que aparecem”. “Colocar Jesus no meio do seu povo significa ter um coração contemplativo, capaz de discernir como é que Deus caminha pelas ruas das nossas cidades, das nossas terras, dos nossos bairros, significa querer ajudar a levar a cruz dos nossos irmãos. É querer tocar as chagas de Jesus nas chagas do mundo, que está ferido e pede para ressuscitar”, concluiu o Papa. |
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Papa critica silêncio dos media
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O Papa Francisco criticou no Vaticano o silêncio dos media sobre os “mártires” cristãos da atualidade e elogiou a força espiritual das pequenas Igrejas perseguidas. “Hoje há mais [mártires] do que nos primeiros séculos, os media não o dizem porque não dá notícia, mas muitos cristãos no mundo de hoje são bem-aventurados porque são perseguidos, insultados, presos”, disse, na capela da Casa de Santa Marta. O Papa sublinhou que há “muitos” cristãos na cadeia “apenas por trazer um crucifixo” ou professar a sua fé em Jesus Cristo. “Pensemos nestes irmãos e irmãs que hoje, num número ainda maior do que nos primeiros séculos, sofrem o martírio”, insistiu. Francisco convidou os cristãos a fazer “memória dos mártires”, dando como exemplo a experiência que viveu em Tirana, em setembro de 2014, ao ouvir testemunhos de quem foi perseguido pelo regime comunista na Albânia. O Papa sustentou que a maior força da Igreja Católica está hoje nas “pequenas Igrejas perseguidas”. |
“Esta é a nossa glória hoje. Esta é a nossa glória e a nossa força hoje”, acrescentou. No final da sua intervenção, Francisco convidou todos a rezar pelos mártires, que “sofrem muito” e pelas Igrejas que “não são livres de se expressar”. “Eles, com o seu martírio, o seu testemunho, com o seu sofrimento, doando a vida, oferecendo a vida, semeiam cristãos para o futuro e noutras Igrejas. Ofereçamos esta Missa pelos nossos mártires, por aqueles que agora sofrem, pelas Igrejas que sofrem, que não têm liberdade”, concluiu. |
Despertar consciências para o valor da vida |
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O Papa Francisco destacou a necessidade de “despertar consciências” para a defesa da vida em qualquer circunstância, numa carta enviada aos participantes numa marcha pela vida em Washington promovida a27 de janeiro, nos Estados Unidos da América. Na missiva, enviada ao núncio apostólico da Santa Sé nos EUA, o Papa defende a necessidade de “medidas eficazes” que previnam os atentados à vida. Francisco escreve que “o valor de uma vida é tão grande e tão inalienável”, que ele “jamais pode ser objeto de domínio por parte de outro ser humano” ou por um alegado “direito sobre o próprio corpo”. A marcha pela vida em Washington, que congregou milhares de pessoas, acontece todos os anos no aniversário da sentença do Supremo Tribunal norte-americano que legalizou o aborto, em 1973. A este respeito, a Conferência Episcopal dos Estados Unidos da América (USCBB) saudou a aprovação, pela Câmara dos |
Representantes, de legislação que proíbe o financiamento, com fundos federais, de planos de saúde que incluam o recurso ao aborto. A porta-voz da USCCB para o tema do aborto, Deirdre McQuade, considera que a aprovação desta medida é “um passo decisivo para o respeito pela vida humana por nascer, refletindo a vontade do povo americano”. Antes, o presidente dos EUA, Donald J. Trump, assinou um decreto que proíbe o financiamento público de organizações não-governamentais internacionais que realizem ou promovam o aborto. |
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A Agência ECCLESIA escolhe sete acontecimentos que marcaram a atualidade eclesial internacional nos últimos dias, sempre atualizados em www.agencia.ecclesia.pt
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Vaticano emite novas moedas de euro em março sem o rosto do Papa |
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«Vídeo do Papa» convida a superar indiferença no apoio aos marginalizados e refugiados
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Apenas uma Ceia |
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Cónego António Rego |
Acabei de presidir a uma Eucaristia com deficientes mentais, alguns membros das suas famílias, colaboradores e voluntários da Associação. Dia da Apresentação do Senhor, ou da Senhora das Candeias. A Igreja de Nossa Senhora de Fátima, nas Avenidas Novas, estava praticamente repleta. Havia uma viola que puxava os acordes possíveis e um pequeno grupo fazia a animação musical. Fui, antes da celebração, ver, olhar e tocar alguns. Pensava na alegria que Jesus teria em celebrar a Ceia com elas e com eles. Percebi, deste o início, que olhos diferentes me fixavam como quem olha um mistério. Mas, mesmo paramentado, senti-me insignificante. Partilhei o deslumbramento com o vitral de Almada Negreiros que envolve todo o fundo do presbitério. O sol não era muito, nem muito se precisa para um vitral com noventa Anjos, cada qual à sua maneira, em adoração, voltados para um trono com a figura de destaque do pelicano que tira sangue do seu peito para alimentar os filhos. Senti o pasmo de todos. Também pedi que num breve momento se voltassem para trás e contemplassem o outro vitral de fundo com a Santíssima Trindade ladeada de santos e membros da Igreja. Silêncio total. E fiquei surpreendido com a participação. Eram vozes fortes ainda que algumas descoordenadas.Com todos os ritos prescritos, fui fugindo em pequenos pormenores para |
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a Última Ceia - na Mesa, na Palavra, no Pão e Vinho, no Corpo e Sangue do Senhor. Expliquei quanto o mistério permitia. Sei que não partia do nada mas não queria pressupor o que não existia. Era preciso que a comunidade percebesse bem o lugar onde se encontrava e o mistério que estava a acontecer. Que imagens usar para que todos sentissem que estavam na Ceia, no Calvário, no Sepulcro, na alegria do Ressuscitado? Foi para mim uma espécie de Missa Nova que tive de saborear rito a rito sem considerar que tudo isto era mais que rito ou gesto ou palavra inscritos na rubrica. Solene foi o primeiro momento. Começou pelo canto de entrada. E depois perguntei pelo dia de hoje,40 dias depois do Natal e apresentei logo de entrada o velho Simeão, Maria, José e a maravilha que foi um ancião tomar nos braços uma Criança e delirar de alegria por o Filho de Deus e de Maria passar pelos seus braços. Todos fomos crianças e idosos naquele momento, invejosos do privilégio de |
Simeão. Mas ali até tínhamos mais. Celebrando na Última Ceia, iríamos receber esse Menino em Pessoa, parte da nossa carne. Aí não sei se fui muito ortodoxo. Chegado o momento da Comunhão arrisquei e disse: “os que se sentem preparados venham comungar. Venham todos. Os que não comungarem inclinem a cabeça que tenho uma bênção para cada um”. Assim aconteceu. E correu admiravelmente com a ajuda de familiares e voluntários. Senti-me mesmo Sacerdote por inteiro na minha missão de presidir à Ceia rodeado de discípulos muito especiais. Era uma assembleia celebrante. No cântico final eu próprio – coisa que não costumo fazer – incitei à marcação dos ritmos com palmas. E despedi-me com votos que esta refeição fraterna, iluminada por Nossa Senhora das Candeias, marcasse os nossos gestos e as nossas vidas. E que se não apagasse a candeia que se acendeu no nosso coração.
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Namorar Depois De Casar |
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Miguel Oliveira Panão Professor Universitário |
O mês de fevereiro possui uma data muito particular, celebrada em todo o mundo, o Dia dos Namorados a 14 de fevereiro. E quem casou? Já não namora? Seguramente que o primeiro pensamento na mente das pessoas casadas que estão a ler este artigo será "claro que namoramos!" Ou então, "quem me dera, mas os filhos...", ou ainda "não há tempo para essas coisas quando temos tantas responsabilidades.” Cada experiência é única. Costumo dizer que o namoro acaba sempre. Em casamento ou cada um segue o seu caminho. Mas namorar deveríamos fazê-lo sempre. Não do mesmo modo que namorávamos antes de casar porque o namoro deve evoluir. Mas porquê? Há uns anos eu e a minha esposa encontrámos a razão numa escola de casais. É uma razão de tal modo profunda e real que não deixará ninguém casado indiferente. Tudo começa com uma pergunta. Há casais inférteis? A infertilidade é um drama sério na vida de um casal porque os filhos são uma forma visível de um amor invisível, profundo e duradoiro. Por isso, quando não se pode ter filhos, a dor que daí advém não é fácil de suportar e pode mesmo levar a uma separação impensada. Pois bem. Tenho uma novidade para vos dar. Não há casais inférteis. No dia do nosso matrimónio nasce o primeiro filho. O primeiro filho de um casal é o amor entre os dois. Porém, com a azáfama da vida, as responsabilidades e outros filhos que vêm a seguir, acontece que esse primeiro filho "berra" por vezes, "tem a fralda suja", "tem fome", "sono" e se não |
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lhe dermos a mesma atenção que damos aos outros, o desfecho não é nada agradável. Como é importante cuidar do nosso primeiro filho. É por ele que namorar depois de casar torna-se essencial, pois, é a forma de ajudar o nosso primeiro filho - o amor entre nós - a crescer. Mas, como disse anteriormente, não é fácil. Daí que faça todo o sentido desenvolver instrumentos que
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reforcem em cada dia a vida de casal, cientes de estarmos a cuidar do amor entre nós. Existem seis passos essenciais que nos podem ajudar neste caminho a dois e a evoluir o nosso namoro. Seis passos lembram seis faces. Um Dado. É o que poderíamos chamar de Dado do Afecto. Quais são, então, as faces deste dado? |
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Escuta sincera
Aquela que implica pôr de lado os nossos pensamentos, ideias, respostas para nos focarmos totalmente no outro, como se fosse a única pessoa no planeta além de nós próprios.
Atenção ao que o outro está a viver.
Por vezes dizemos "eu já o conheço!" Mas esse pensamento esquece que mudamos todos os dias e a cada minuto. O relacionamento com o outro transforma-nos sempre. Por isso, qualquer modo de conhecer o outro transforma-o, levando-me a encetar novo caminho para o conhecer. Daí a importância desta face do Dado.
Capacidade de oferecer segurança
Menos lamento, mais confiança. Menos vitimologia, mais segurança de que o outro pode contar connosco em tudo.
Ser sensível aos sentimentos do outro
Não dissemos naquele dia que mudou para sempre a nossa vida… “na alegria e na tristeza”? Como é importante traduzir estas palavras em gestos concretos.
Contacto físico
Parece evidente que este passo seja essencial, mas quando foi a última vez que o tempo parou perante um gesto simples de carícia?
Estar atento ao tom de voz
Quantos dias não dependem das primeiras frases que dizemos ao outro…
Experimentem!
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Escuta sinceraAquela que implica pôr de lado os nossos pensamentos, ideias, respostas para nos focarmos totalmente no outro, como se fosse a única pessoa no planeta além de nós próprios.
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Atenção ao que o outro está a viver.Por vezes dizemos "eu já o conheço!" Mas esse pensamento esquece que mudamos todos os dias e a cada minuto. O relacionamento com o outro transforma-nos sempre. Por isso, qualquer modo de conhecer o outro transforma-o, levando-me a encetar novo caminho para o conhecer. Daí a importância desta face do Dado.
Capacidade de oferecer segurançaMenos lamento, mais confiança. Menos vitimologia, mais segurança de que o outro pode contar connosco em tudo.
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Ser sensível aos sentimentos do outro Não dissemos naquele dia que mudou para sempre a nossa vida… “na alegria e na tristeza”? Como é importante traduzir estas palavras em gestos concretos.
Contacto físicoParece evidente que este passo seja essencial, mas quando foi a última vez que o tempo parou perante um gesto simples de carícia?
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Estar atento ao tom de vozQuantos dias não dependem das primeiras frases que dizemos ao outro… Experimentem!
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Eutanásia: Que Estado desejamos? Que sociedade queremos construir? |
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José Maria Seabra Duque Jurista Promotor da petição Toda a Vida Tem Dignidade |
O tema da eutanásia, que tem vindo a ser cada vez mais debatido em Portugal, chegou à Assembleia da República. Neste momento encontram-se no Parlamento duas petições, uma a favor e outra contra (esta com quase o dobro das assinaturas da primeira). Para além disso o Bloco de Esquerda e o PAN já anunciaram a sua intenção de apresentar propostas de lei sobre o tema. Por isso, queiramos ou não, é hora de reflectirmos sobre que Sociedade e que Estado desejamos. É talvez a única vantagem deste debate é obrigar-nos a ajuizar claramente sobre a posição que nós, enquanto país, enquanto sociedade, temos diante da Vida Humana. Porque, ao contrário do que tem vindo a ser afirmado, não se está a discutir a autonomia pessoal, não estamos a debater a possibilidade de as pessoas decidirem o que fazer com a sua vida. Na eutanásia é a pessoa que pede para morrer mas sãos os médicos que decidem se ela pode ou não. Não há autonomia pessoal quando são precisos três médicos (como é proposto pelo PAN) para decidir se uma pessoa pode ou não ser morta. O que está em discussão é saber que resposta tem a sociedade a oferecer aos doentes, aos idosos, aos que sofrem. Oferecemos cuidados médicos, cuidados sociais, oferecemos o nosso amor e a nossa compaixão ou a morte? |
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A sociedade em que vivemos está baseado no valor da Vida Humana. A Democracia assenta na ideia de que cada pessoa tem um tal valor que não pode haver, aos olhos da lei, cidadãos de primeira e cidadãos de segunda. Esta conquista do reconhecimento que toda a Vida é digna, que toda a Vida tem igual importância para a Sociedade, demorou séculos e é um bem que tem que ser protegido. Com a eutanásia a sociedade afirma que há Vidas que valem menos. Que há Vidas menos dignas. Que há circunstâncias onde o Estado já não protege a Vida mas antes a elimina. A legalização da Eutanásia seria a vitória da cultura do descarte. De uma cultura individualista e egoísta, onde o outro não me interessa, onde o outro só tem valor enquanto é saudável e capaz de produzir. A morte termina não o sofrimento, mas a Vida. Ou seja, acaba o sofrimento, mas acaba também a felicidade, o amor e toda a beleza que existe na Vida de cada homem, até daqueles que estão doentes ou envelhecidos. "Só uma palavra nos liberta de todo o |
peso e da dor da vida: essa palavra é o Amor." dizia Sófocles. Uma sociedade que oferece a morte aos que sofrem é uma sociedade que desistiu de amar o próximo. Que se rendeu a uma mentalidade utilitarista, onde o valor do outro depende daquilo que ele tem para nos oferecer! A questão da morte a pedido é por isso uma batalha civilizacional. Uma batalha que cada um que acredita que Toda a Vida Tem Dignidade deve travar! E pode fazê-lo de maneira muito simples: escrevendo aos deputados do seus distrito, escrevendo às estruturas partidárias da sua região, pedindo-lhes para que, no Parlamento, recusem esta sociedade da morte e do descarte e promovam antes uma sociedade solidária, onde cada Vida Humana tem valor, independentemente das suas circunstâncias. Nenhum daqueles que acredita no Valor da Vida está dispensado de, nesta hora fulcral, dar o seu contributo, por mais modesto que seja, para (re)construir uma sociedade assente no Valor e na Dignidade da Vida Humana. |
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Não tão depressa |
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Octávio Carmo |
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“Os homens, agora, já não têm tempo para conhecer nada. Compram as coisas já feitas nos vendedores. Mas como não há vendedores de amigos, os homens já não têm amigos” (O Principezinho)
Esta semana, deparei-me com duas reflexões sobre a velocidade das redes sociais e a aceleração do quotidiano. Valter Hugo Mãe falava da polémica em que se viu envolvido, afirmando que “opinar passou a ser uma espécie de chelique imediato, em que a maioria dos opinantes não sabe o que está em causa”. Mia Couto, por sua vez, refletia sobre a velocidade característica do mundo contemporâneo: “Não precisamos de mais tempo. Precisamos de um tempo que seja nosso”. Cada vez mais se percebe que as redes sociais são um novo meio, não paralelo à realidade, mas um genuíno lugar de vida, onde as pessoas se encontram, discutem, partilham e constroem juntas. Sim, claro que há mais espaço para a "imbecilidade", como dizia o Umberto Eco, mas compete a cada um escolher o seu lado e concentrar energias no que vale a pena. Sem a preocupação de ser sempre o primeiro, o mais popular, o mais bonito, de humilhar o diferente, mas apenas de ser quem se é, nesta descoberta constante de si que é a vida. Penso muitas vezes no que terá acontecido para tornar as pessoas estranhamente mais crédulas, |
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aceitando sem questionar os maiores disparates que lhes são propostos como “verdade”. Talvez, na fé como na arte, seja preciso percorrer muitos caminhos na vida para chegar à substância, ao que não é um produto de consumo, ao que nos questiona, consome ou ilumina, mas nunca nos deixa igual ao que éramos.
Uma nota final para o Jornal de Barcelos, que se recusou a funcionar |
como mero altifalante numa “conferência de imprensa” convocada por um partido político que, afinal, não previa perguntas. Sem respostas, o jornal não publicou notícia. A questão tinha sido abordada no mais recente Congresso de Jornalistas e a atitude tomada (independentemente do partido em causa, que fique claro) merece a minha saudação. |
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O Semanário ECCLESIA assinala nesta edição um momento especial: faltam menos de 100 dias para o Centenário das Aparições em Fátima (1917-2017), no qual o Papa Francisco vai visitar Portugal. O destaque vai para a primeira de um ciclo de entrevistas sobre os acontecimentos de 1917, na Cova da Iria: Marco Daniel Duarte, diretor do Serviço de Estudos e Difusão do Santuário de Fátima. Entre os temas abordados estão as figuras de Fátima, a arquitetura, a história da Cova da Iria, a evolução de Fátima ao longo do último século, o testemunho pessoal, complementado pelo encontro consigo mesmo, a pastoral junto das crianças e a visita do Papa Francisco.
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Derrubar tabus
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Agência ECCLESIA (AE) - A Cova da Iria é um espaço que transformou a história da Igreja Católica em Portugal e também um pouco por todo o mundo. Como é que ao longo deste século de Fátima se chegou a definir a história daquilo que três pequenas crianças viveram aqui, entre maio e outubro de 1917? Marco Daniel Duarte (MDD) - É mesmo em 1917 que essa história começa a ser contada. Podemos dizer que as fontes primárias que temos são desse ano. Há diferentes tipologias de fontes. As primeiras são os registos escritos do testemunho de três crianças. Tenho defendido, em relação a Fátima, que seja observado, analisado e estudado como qualquer fenómeno da história, e que sejam tidos em conta todos |
os tipos de testemunhos, de fontes. Em primeiro lugar, a oralidade, aquilo que passa daquelas crianças para os seus primeiros interlocutores. Depois, o registo que esses interlocutores fazem dessa memória que lhes é passada, desses testemunhos; em seguida, as outras fontes que podemos chamar complementares, mas que ao olharmos para trás - e já são 100 anos de história - podem ser consideradas primárias, que são as fontes jornalísticas.
AE - Quando é que se começam a ter as primeiras notícias sobre Fátima? MDD - Logo a partir de agosto de 1917, estamos no âmago do que é o acontecimento de Fátima, sabemos que circula a notícia em todo o país, em todos os jornais se sabe que há. |
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um fenómeno extraordinário aqui na Cova da Iria, esse fenómeno é palpável, porque se percebe que há pessoas que vêm a este lugar, atraídas por uma mensagem que entendem ser digna de crédito. Aliás, se nós quisermos dizer desta forma, a Igreja quando afirma que as aparições de Fátima são dignas de crédito, diz claramente que aquelas três crianças são dignas de serem acreditadas. Esta é a primeira fonte de Fátima, a partir daqui temos interrogatórios, todas as reflexões que são feitas, os depoimentos, servem para se atestar a credibilidade do testemunho daquelas três crianças
AE - Muitas publicações questionam Fátima e defendem a ideia de uma “construção” das aparições. Essa ideia deriva dos primeiros relatos jornalísticos? MDD - Sim, se nos basearmos apenas nas fontes jornalísticas. A historiografia que tem defendido que Fátima é uma construção - construção subjetiva das crianças, que decidiram inventar, ou porque foram sugestionadas -, essa historiografia assenta, normalmente, nas fontes jornalísticas. E as fontes de 1917 são todas contra Fátima, não há |
um jornal que faça a apologia de Fátima. Desde logo, a imprensa católica não se posiciona com Fátima, em 1917, porque é um fenómeno que ainda não está dado como digno de crédito: a Igreja não se pronuncia, não sabe o que vai acontecer, não iniciou ainda os interrogatórios oficiais, e por isso está muito longe de dar as aparições como dignas de crédito. Toda a imprensa que fala de Fátima é uma imprensa que alinha pelo ideário daquilo que é a construção da I República em Portugal, que tem como programa muito claro, em relação à religião, afastar a ideia de Deus da vida quotidiana das pessoas. O Republicanismo português, a ideia republicana, é eminentemente intelectualizada, os patriarcas da I República beberam do positivismo que vem do século das luzes, da revolução francesa. Temos uma elite intelectual a fazer política, nessa altura, muito instruída. Quando os jornais dão conta de que há uma multidão imensa a aproximar-se da Cova da Iria, as expressões, os títulos dos tabloides, dos jornais da época são, exatamente, “como se |
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pretende desvairar o povo”, “como se pretende enganar o povo”. O que estava a acontecer em Fátima, de facto, era levar as pessoas ao arrepio do ideário político que está em mente na segunda década do século XX em Portugal. Portanto, ler Fátima a partir
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destas fontes leva, obviamente, à conclusão de que Fátima é uma construção religiosa e de que há uma interferência da hierarquia junto daquelas crianças para virem dizer que a Senhora mais brilhante do que o sol está a aparecer… |
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AE - A historiografia tem vindo a valorizar cada vez mais o contributo de pessoas que eram tidas como ‘anónimas’, a sua história, retratos, objetos, e não só dos documentos oficiais. Como é que o Santuário de Fátima preserva a memória dos milhares de peregrinos que vieram até aqui logo desde 1917 e todas as histórias que elas levaram daqui? MDD - É exatamente essa a crítica que eu deixo à historiografia que tem sido feita sobre Fátima. Por um lado, |
se nós temos hoje nas cátedras universitárias uma revolução epistemológica à volta da história, do fazer história, porque é preciso cruzar todas as fontes. Para Fátima, essas fontes não têm sido cruzadas, não se dá conta da importância do laicado inicial, por exemplo, que está por estudar. Não sabemos o nome da maior parte das pessoas que vieram aqui, mas há nomes que nós conhecemos. No dia 13 de outubro de 1917, |
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estavam na Cova da Iria 70 mil pessoas, pelo menos - há jornais que dão muito mais. No mês de agosto, estavam 5 mil pessoas, e este número cruza fontes anticlericais e fontes do interior da Igreja. Como é que nós chegamos à chamada pequena história, que nos ajuda a entender o fenómeno? Dou um exemplo, uma figura muito interessante, chamada Gilberto Fernandes dos Santos. Vem a Fátima e, no dia 13 de outubro de 1917, está a distribuir pagelas, nas quais o título que se dá à Virgem de Fátima é ‘Nossa Senhora da Paz’ (Regina Pacis, ora pro nobis). Sabemos que isto é uma influência da introdução deste título na ladainha lauretana, que tinha sido pedida em maio pelo Papa Bento XV, estamos na I Guerra Mundial. Estas pessoas que vêm a Fátima, vêm claramente à procura da Senhora que lhes traz a paz, portanto, há claramente esta intenção junto delas. Eu gostaria de sublinhar o papel desta pessoa [Gilberto Fernandes dos Santos] junto dos clérigos da altura. O Gilberto Fernandes dos Santos desespera para ter respostas, por exemplo, de Manuel Nunes Formigão, que é, numa determinada linha da |
historiografia, acusado de ser o construtor, o inventor de Fátima, porque passa por Lurdes e tem um desejo enorme de fazer uma ‘Lurdes portuguesa’. Manuel Nunes Formigão não responde ao Gilberto Fernandes dos Santos, às várias perguntas que ele lhe faz. O bispo de Leiria [D. José Alves Correia da Silva] tenta deixar muitas respostas por dar, precisamente porque ainda não se pode pronunciar sobre Fátima. Há uma pressão muito clara junto da hierarquia para que esta se pronuncie. Os presbíteros estão nesse momento a analisar os interrogatórios, têm muita dificuldade em dar respostas concretas. Gilberto Fernandes dos Santos vai encomendar a imagem de Nossa Senhora de Fátima para o lugar. Encomendar uma imagem é constituir um polo muito forte para dar resposta àqueles que vêm à Cova da Iria. Pretende saber se a imagem deve ter um terço ou um rosário e manda muitas cartas ao padre Formigão a pedir esclarecimentos, mas o padre Formigão furta-se a dar essas respostas. O mesmo acontece com o bispo. |
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AE - As abordagens mais críticas de Fátima têm apresentado documentação nova? MDD - Normalmente, não. O Santuário, ao longo de todo este tempo, procurou ter consigo o registo e reunir as diversas fontes sobre Fátima. E quando falamos de fontes, estamos a fala das chamadas fontes escritas, mas também das fontes materiais: um objeto que tenha pertencido aos videntes, à casa onde nasceram, também ajuda a entender a história de Fátima; as primeiras ofertas dos peregrinos à Virgem de Fátima, as ofertas que continuam a chegar, as mensagens da guerra colonial… Estamos habituados a ouvir que Fátima e o Estado Novo são legitimadores um do outro. Nada de mais errado para os anos 60 e 70, Fátima é nesta altura um altar, se quisermos, que mostra a toda a gente a grande fragilidade do Estado Novo, que era a questão do Ultramar: é aqui que as mães dos soldados, as noivas dos soldados, as filhas dos soldados vêm chorar os que morrem na guerra. É aqui que os soldados, quando regressam, vêm agradecer à Virgem de Fátima o facto de terem saído de uma guerra que não entendem, que acham injusta. Há um protesto coletivo aqui em |
Fátima que precisa de ser analisado a partir das fotografias que temos dessa data, onde podemos ver os soldados na passadeira, de joelhos ou a arrastar-se. São fotografias violentas, ainda aos olhos contemporâneos. E também a partir das mensagens, guardadas nos nossos arquivos, que chegam de escolas, nessa altura a fazer campanhas de oração para que a guerra termine; de mulheres que escrevem à Virgem de Fátima. Até à data, não tivemos nenhum investigador interessado neste tipo de fonte.
AE - E porque é que isso acontece? MDD - Não há investigadores interessados neste tipo de fontes porque as conclusões que se tiram, ao analisá-las, vão certamente pôr em causa uma determinada linha historiográfica que tem sido vendida, para usar uma expressão menos bonita, sobre Fátima. Mais uma vez, estamos perante a reação de leigos, do laicado em Fátima. Também é muito comum dizer-se que a Fátima só vêm aqueles que não têm nada a perder, que as elites sociais não estão cá. Analisando as fontes desde a primeira hora, no entanto, encontramos elites ligadas a uma aristocracia que vê em Fátima, |
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obviamente, uma forma de reabilitar a ideia monárquica não há dúvida; também uma elite burguesa, que inclui médicos, advogados, pessoas que têm estabelecimentos comerciais, está a atuar em Fátimadesde a primeira hora.Todas estas fontes foram guardadas pelo Santuário de Fátima e as que não são custodiadas pelo nosso arquivo estão referenciadas desde há muito tempo.
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AE - Há quem valorize muito as contradições que existem nas várias fontes sobre Fátima… MDD - Nada melhor para conhecer com cientificidade e profundidade o que aconteceu em Fátima do que regressar às fontes. Mesmo que elas sejam contraditórias ao serem analisadas segundo as ferramentas de cada época. Há um exemplo típico, no qual normalmente se pega para |
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desacreditar Fátima: nos interrogatórios de 1917, a saia de Nossa Senhora ora é mais curta, ora mais comprida, conforme o interrogador ou até a testemunha que está a ser interrogada. Enfim, a mesma problemática se coloca hoje para os Evangelhos da Paixão, por exemplo, sobrepondo as narrativas que a Igreja entende como as fontes mais próximas do acontecimento. O que é que temos de fazer? Colocar as fontes no seu universo primevo e perceber como é que elas nos chegam, a subjetividade que está em quem escreve e em quem diz. Isso deve ser assumido. O Santuário teve o desígnio de transcrever esta documentação e colocá-la ao serviço da comunidade científica. Nos anos 90, aparecem pela primeira vez os interrogatórios, transcritos, acessíveis a todos os investigadores; em seguida, surge o inquérito ligado ao processo que há de levar ao decreto de 1930, em que o bispo de Leiria diz que as aparições são dignas de crédito. A partir daí, o Santuário publicou - já vamos com 16 tomos - uma série de documentação, cuja tipologia passa por fontes jornalísticas, depoimentos, entrevistas, interrogatórios, testemunhos diversos, material |
fotográfico e iconográfico, de variados arquivos. Pelo menos até 1930, tudo o que conhecemos está ali publicado. A maioria dos investigadores cita os dois primeiros volumes e ignora todos os outros.
AE - Um dos escritos fundamentais, ‘As Memórias’ da Irmã Lúcia, teve uma edição crítica publicada pela primeira vez. Que motivos levaram a esta publicação? MDD - Tal outras fontes que consideramos primárias, as Memórias estavam editadas naquilo que chamamos uma edição de divulgação, popular, feita com intuito apologético. A primeira edição é da responsabilidade de um homem importantíssimo em Fátima, padre Luis Kondor, quem tem como função dentro da Igreja levar as pessoas a perceber a santidade dos Pastorinhos. O que o Santuário entendeu fazer foi colocar, a partir da documentação que Lúcia escreve - não omitindo as hesitações, rasuras, entrelinhados -, todas das informações necessárias para que o investigador possa, a partir dali, fazer história. Esta é, sem dúvida, uma fonte primária de Fátima. Há também, dentro de quem analisa o fenómeno, uma cisão, que coloca uma Fátima primeira |
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e uma Fátima segunda, construída pela irmã Lúcia nos anos 40, sobre as suas Memórias. Aquilo que eu defendo é exatamente o contrário, as memórias são fonte primária, porque são escritas por uma protagonista do fenómeno, devem ser analisadas criticamente, tal como as primeiras fontes o devem ser. Também se deve encontrar a subjetividade da autora, analisando no registo que o próprio registo nos merece, ao ser um registo memorialista.
AE - O Santuário espera que todo este material inspire investigação mais especializada? MDD - Há especialistas de Fátima espalhados um pouco por todo o mundo, mas Portugal nãos os tem como deveria ter. Fátima tem sofrido com alguns tabus: em primeiro lugar, um tabu académico, que fica muito mal às academias, a negação da importância de um acontecimento histórico. É como não querer estudar a I Guerra Mundial, mesmo que ela possa causar sofrimento; ou não gostarmos de determinada rainha da história de Portugal e, por isso, não a estudamos. Não faz sentido. O que tem sentido |
é entender o fenómeno e estudá-lo. Há um requinte nas academias, todos nós sabemos que é assim: quando não se estuda, não existe. Fátima tem sofrido com este tabu, não tem merecido a atenção dos académicos, num posicionamento que, muitas das vezes, está relacionado com isto: não vale a pena estudar, porque se se estudar, passa a existir. Depois, podemos dizer que Fátima aparece nas academias naquilo que não coloca dificuldade, do ponto de vista religioso - porque também não têm estudado o fenómeno religioso. A primeira ciência a levar Fátima para as universidades é a Geografia Humana: contam-se pessoas que vêm, pessoas que saem, aí não há dificuldades. Vemos também as ciências ligadas ao Turismo, mas falta a Sociologia, a Antropologia, inclusivamente a Teologia. É muito mais fácil encontrar pessoas interessadas pela Teologia que se pode fazer, a partir da mensagem de Fátima, no estrangeiro do que em Portugal. Penso que isto estará a mudar, que o centenário das aparições coloca uma barreira psicológica, um antes e um depois: há um determinado tempo histórico que se fecha e deixa já |
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de ser o tempo da história do quotidiano, do presente, para passar a ser analisado pelas ciências que se ocupam do acontecimento em longa duração, se quisermos.
AE - O que é que o Santuário está a fazer para que isso aconteça? MDD - Está a promover cursos para investigadores, apresentando as fontes sobre Fátima; está a promover cursos não só no Santuário mas também fora, para fazer a ponte com as universidades e com o mundo académico. Sabemos que os divulgadores de Fátima estarão sempre disponíveis. No Serviço de Estudos, a nossa grande
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preocupação é levar as pessoas a entender o fenómeno de Fátima, proporcionar o acesso às fontes, mesmo sabendo que estamos a falar de uma realidade com 100 anos que ainda está protegida, numa parte dessa diacronia, pelas leis dos arquivos. Há informação que ainda não está disponível, mas o reitor do Santuário há muito pouco tempo despachou favoravelmente uma petição que o Serviço de Estudos lhe dirigiu, no sentido de libertar a documentação até ao cinquentenário [1967]. Estamos a falar de milhares e milhares de documentos, no arquivo do Santuário de Fátima. |
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AE - Francisco vai tornar-se este ano o quarto Papa a visitar a Cova da Iria, durante o seu pontificado. Ainda faz sentido olhar para estas viagens numa lógica de validação do acontecimento de Fátima? MDD - Eu penso que isso é extemporâneo e fora de prazo. Aquilo que interessa é analisar porque é que isto acontece e porque é que se traz para o debate ainda uma questão que está completamente ultrapassada. O Papado valida Fátima desde muito cedo, em 1929 já temos Pio XI, no Pontifício Colégio Português [Roma] a benzer uma imagem de Nossa Senhora de Fátima e a distribuir pagelas com a imagem aos alunos, na sede da Cristandade. Antes disso, já tinha havido a presença do núncio apostólico em Fátima, mas se não quisermos recuar a esta década de 20, pelo menos que se olhe para ação de Pio XII, que foi considerado o Papa de Fátima. Ele não veio a Fátima porque Pio XII não saía do Vaticano, mas se uma das estratégias do Papa fosse sair em viagens apostólicas, teria vindo a Fátima. Em 1951, temos |
o Ano Santo extraordinário a encerrar em Fátima, temos várias mensagens do Papa Pio XII, temos a coroação da imagem, aqui na Cova da Iria, por um legado pontifício, o que quer dizer exatamente a mesma coisa, na lógica de atuação dos Papas. Fátima é a única aparição, revelação privada, se quisermos usar a linguagem da Teologia, que está citada nos documentos do Concílio Vaticano II: no encerramento da terceira sessão [21.11.1964], o Papa Paulo VI envia a Rosa de Ouro a este santuário, o reconhecimento por parte da Santa Sé que este é um lugar importantíssimo para o catolicismo. Não vejo necessidade de trazer para o debate atual que o Papa Francisco venha validar Fátima. O que é interessante perceber é que o Papa Francisco está a servir para anular as razões com que um determinado número de pessoas justificava o facto de não pertencer à Igreja. Esta vinda do Papa a Fátima é também para elas um sinal importante de que Fátima é um fenómeno a levar em conta. |
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Cónego Manuel Nunes Formigão: O quarto «pastorinho» de Fátima
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Há nomes que são um programa de vida, o de Manuel Nunes Formigão é um deles. Este tomarense, nascido no primeiro dia de 1883, foi – nas palavras de D. Manuel Mendes da Conceição – “uma trombeta de Deus”. Depois de batizado na Igreja de João Baptista, na cidade do Nabão, no mesmo ano de nascimento, Manuel Nunes Formigão faz os estudos superiores, em Roma, e é ordenado presbítero naquela cidade italiana a 4 de Abril de 1908. É laureado em Teologia e Direito Canónico pela Universidade Gregoriana e regressa a Portugal em agosto do ano seguinte à ordenação. Na viagem para a sua pátria natal faz uma paragem em Lourdes (França) e, aos pés da Virgem compromete-se a divulgar a devoção mariana, em Portugal. No mês de outubro de 1910 caía o Antigo Regime e implantava-se a República no nosso país. Durante anos, em virtude dos movimentos revolucionários e da perseguição |
desencadeada contra a Igreja, não se puderam realizar peregrinações aos Santuários estrangeiros. Só volta ao Santuário francês em 1914 para participar no Congresso Eucarístico Internacional. Com as aparições de Fátima (em 1917) recebe o convite do arcebispo de Mitilene para investigar a ocorrência e está presente na 5ª aparição (setembro) de Nossa Senhora. Nesse mesmo ano é nomeado professor de Teologia do Seminário de Santarém. “Mais que admirado pelos seus alunos, o jovem professor era por eles muito estimado. Não era o professor que arrastava sem convencer. Era o pedagogo que convencia pela clareza com que expunha os temas, pela ponderação e pelo método que utilizava” (1). Em 1918 exerce a docência de várias disciplinas no Liceu Sá da Bandeira, em Santarém, onde funda a «Associação Nun´Álvares» e efectua vários interrogatórios aos videntes que |
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são a primeira fonte com que de imediato divulga o acontecimento de Fátima. Desse ano a 1956, a sua pena veloz e mestria literária não param ao serviço de Nossa Senhora e da sua Mensagem. Faleceu a 30 de Janeiro de 1958.
Estudar os acontecimentos de FátimaDas várias vezes que esteve no Santuário de Lourdes, o cónego Nunes Formigão prometeu consagrar a sua vida a espalhar a devoção a Nossa Senhora na sua pátria. Quando ouviu falar das aparições na Cova da Iria a três crianças tomou duas atitudes continuadas: a de não ligar |
importância ao assunto, mas que o facto deveria ser estudado, dado verificar-se uma afluência sempre crescente ao local das aparições. A imprensa liberal - «O Século» e o «Diário de Notícias» - relatavam os acontecimentos de Fátima. No entanto, ao saber da prisão dos pequenos pastores (agosto de 1917), falou do assunto ao cardeal patriarca de então e chegou à conclusão que deveria observar o fenómeno no local. O desejo de ir ao local no mês de setembro estava generalizado em quase todo o país e o mesmo acontecia com o cónego Formigão. Numa crónica de 11 de Outubro de 1917, o jovem padre relata no jornal «A Guarda» o que presenciou: |
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“Cedendo a um sentimento de curiosidade, justificada por factos tão extraordinários, embora sem lograr vencer de todo a repugnância que sentia em fazê-lo, pelo receio de parecer dar importância excessiva ao que talvez não passasse duma ridícula superstição, resolvi partir para Fátima, juntamente com alguns amigos”. Não se aproximou muito do local das aparições e “apenas constatei a diminuição da luz solar” (2). Ele próprio confessa: “regressei de Fátima mais céptico, apesar de me ter comovido bastante ao testemunhar a |
fé ardente e a piedade sincera dos peregrinos” (3). Apesar do ceticismo inicial, o cónego Formigão voltou novamente a Fátima para conhecer pessoalmente os videntes, interrogá-los e ouvir das testemunhas fidedignas a narração verídica dos episódios que se tinham verificado nos cinco meses precedentes. Feitos os primeiros interrogatórios, o cónego Nunes Formigão fica com uma impressão completamente diferente da que tinha antes. Sem chegar ainda à sobrenaturalidade dos factos, algo |
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lhe fica indelevelmente na alma: a sinceridade dos videntes. De 1918 a 1922, o cónego Formigão colabora com frequência nos periódicos «A Guarda»; «Novidades» e «A.B.C.». Nas crónicas descreve muitos episódios sobre as aparições de Fátima e o seu relacionamento com os pastorinhos. Durante este período escreve o livro «Os episódios maravilhosos de Fátima»; faz diligências e remove obstáculos na aquisição de terrenos para a construção da capelinha e ampliação de espaço para a celebração dos actos de culto. Na década de 20, colabora e põe de pé o periódico «Voz de Fátima» e escreve a obra «As grandes maravilhas de Fátima». Para ajudar na construção da Basílica escreve o livro «Fátima, o Paraíso na terra». Em 1931 sai a «A Pérola de Portugal» e cinco anos depois «Fé e Pátria». “Através da sua acção e da sua pena ao serviço da Igreja e dos acontecimentos de Fátima, o cónego Formigão antecipou-se à Igreja que bem serviu. Depois dos Pastorinhos, o Sr. Formigão foi o instrumento escolhido por Nossa Senhora para garantir a autenticidade desses acontecimentos” – escreveu D. João Pereira Venâncio, 2º bispo de Leiria. |
Reparadoras de Fátima Como resposta ao pedido que Nossa Senhora fez a Jacinta Marto em Lisboa - “Reparar os pecados da humanidade” -, O padre Manuel Nunes Formigão fundou (6 de janeiro de 1926) a Congregação das Irmãs Reparadoras de Nossa Senhora das Dores de Fátima. Devido à fama de santidade, a Conferência Episcopal Portuguesa concedeu a anuência (a 16 de novembro de 2000) para a introdução da causa de beatificação e canonização deste apóstolo de Fátima. A clausura do processo diocesano de canonização realizou-se a 16 de abril de 2005. Depois de lidas as actas de encerramento do processo, foram fechadas e lacradas as 20 caixas que contêm as provas recolhidas durante esta fase instrutória, num total de mais de seis mil páginas. No passado dia 28 de janeiro deste ano decorreu a cerimónia de trasladação dos restos mortais do padre Manuel Nunes Formigão, conhecido como «o apóstolo de Fátima», do cemitério local para um mausoléu construído na Casa de Nossa Senhora das Dores.
1 – Esteves, Maria da Encarnação Vieira; Apóstolo de Fátima – Cón. Manuel Nunes Formigão; Braga; Editorial A.O; 1993 2 – Ibidem 3 – Ibidem |
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Renovação da arquitetura religiosa sob o signo de Fátima |
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De Fátima a Fátima: o percurso da renovação da arquitetura religiosa em Portugal ao longo das últimas décadas decorreu sob o signo do maior acontecimento religioso do século XX no nosso país. A Basílica da Santíssima Trindade, obra do arquiteto greco-ortodoxo Alexandros N. Tombazis, atinge uma notoriedade que só Fátima lhe poderia dar e coroa um ciclo de edificações da Igreja Católica que ficam para a história da arquitetura em Portugal, na linha do que tem sido tradição ao longo dos séculos. |
A novidade das igrejas contemporâneas, que choca muitas vezes com definições preconcebidas do que seja uma construção religiosa, explica-se pelas tendências da própria arquitetura dos nossos dias, em particular pela utilização de novos materiais como o betão ou o vidro, com primazia para o aspeto funcional. A acentuação do carácter de serviço comunitário da comunidade cristã, a valorização da participação dos fiéis, a preponderância da reunião da assembleia, tudo isto leva ao ensaio de novos esquemas e conceitos na construção religiosa. A utilização de materiais |
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tradicionalmente considerados como menos nobres (o betão, o vidro) e o primado da funcionalidade nas edificações são apenas a face visível de um fenómeno de renovação que em Portugal deu os primeiros passos com o trabalho de Pardal Monteiro e a sua igreja de Nossa Senhora de Fátima, em Lisboa, edificada entre 1934 e 1938: primeira a desafiar os códigos tradicionais revivalistas, baseando-se nos projetos franceses do género, (onde se destaca a igreja de Notre Dame du Raincy, do Arq. Auguste Perret, 1922, utilizando o betão armado e simplificando as formas). Esta igreja conseguiu atrair os mais destacados nomes dos artistas plásticos modernistas, como Almada |
Negreiros e Francisco Franco. Obras como esta ou a sua homónima, no Porto (1935, a cargo do grupo A.R.S. – Cunha Leão, Fortunato Cabral e Morais Soares) e os seus opostos revivalistas e regionalmente estilizados de São João de Deus, Santo Condestável e São João de Brito, em Lisboa, lançaram uma viva discussão e originam as tomadas de posição muito antagónicas, entre o conservadorismo e o desejo de renovação. No caso de Fátima, as exigências contemporâneas de singeleza, limpidez e funcionalidade da igreja parecem ter sido asseguradas, dado que a Basílica da Santíssima Trindade aparece como um elemento capaz de unir num mundo fragmentário, suprimindo o supérfluo e fazendo do interior a referência principal. |
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Do monte ao santuário altar do mundo |
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A Cova da Iria é um lugar que fica na Freguesia de Fátima, no concelho de Ourém. A dois quilómetros a oeste do centro da freguesia que há 100 anos caracterizava-se por ser um monte com árvores, terras de cultivo, entre outras atividades. O terreno onde está agora o santuário mariana pertencia à família de Lúcia dos Santos e era onde a pequena vidente, com os seus primos – Francisco e Jacinta Marto – dedicavam-se, por exemplo, à pastorícia.
“Dia 13 de Maio (de) 1917 – Andando a brincar com a Jacinta e o Francisco, no cimo da encosta da Cova da Iria, a fazer uma paredita em volta duma moita, vimos, de repente, como que um relâmpago. |
tocando as ovelhas em direcção à estrada. Ao chegar, mais ou menos a meio da encosta, quase junto duma azinheira grande que aí havia, vimos outro relâmpago e, dados alguns passos mais adiante, vimos, sobre uma carrasqueira, uma Senhora, vestida toda de branco, mais brilhante que o Sol, espargindo luz, mais clara e intensa que um copo de cristal, cheio d’água cristalina, atravessado pelos raios do sol mais ardente. Parámos surpreendidos pela aparição” – Irmã Lúcia, em Memórias da Irmã Lúcia I Compilação do P.e Luís Kondor. Foi na Cova da Iria que Nossa Senhora apareceu por cinco vezes aos três pastorinhos em 1917 e onde posteriormente foi construída a Capelinha das Aparições em 1919. “Uma das primeiras realidades urbanísticas no local que viria centralizar um rápido processo de urbanização”, destaca Ana Cláudia Pereira da Silva na sua dissertação |
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de Mestrado Integrado em Arquitetura. Na tese ‘À margem da identidade: contributos para a valorização da identidade de Aljustrel, Fátima. Espaço público e acessos’ assinala a realidade que é visível atualmente e foi-se desenvolvendo ao longo destes 100 anos: “A enorme afluência de peregrinos ao local tornou necessária a construção de inúmeros imóveis, como hotéis e edifícios de apoio ao peregrino.” Com várias propostas de ordenamento urbano, o primeiro plano em 1929 é de Luís Cristino da Silva, um dos pioneiros do movimento
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moderno na arquitetura portuguesa, e Ernesto Korrodi, suíço que se naturalizou português. Já existiam edifícios de âmbito religioso na zona santuário. A Basílica de Nossa Senhora do Rosário começou a ser construída um ano antes, até 1953. “A par do comércio expande-se também a hotelaria a um ritmo bastante acelerado. Desde os anos 70 que se observa esta rápida expansão das unidades hoteleiras. Entre 1987 e 1997 regista-se um aumento de 80% em estabelecimentos hoteleiros e unidades semelhantes”, acrescenta Ana Cláudia Pereira da Silva. |
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A 100 dias da visita do Papa…100 anos depois de Fátima: quem ainda se interessa?
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É com este mote que se inaugura a rubrica “100 anos depois de Fátima”. Uma centena de anos depois de três crianças afirmar terem visto, na Cova da Iria, uma senhora vestida de luz. Há quem ainda queira descobrir Fátima, por razões pessoais ou profissionais, justificar a sua fé, encontrar respostas ou simplesmente deixar-se levar pelo fenómeno que ali se tornou realidade entre a “graça e a misericórdia”. Às terças-feiras, até dia 27 de fevereiro, na Universidade Católica Portuguesa, em Lisboa, está a decorrer o curso interdisciplinar “Acontecimento: Fátima”, promovido pelo Santuário de Fátima. Num anfiteatro cheio os interesses dos alunos são muito diversificados. Maria José Almeida é guia intérprete e precisa de “respostas prontas quando encaminha grupos de peregrinos e turistas pelos locais da Cova da Iria”. Partilhou com a ECCLESIA que “percorrer a via crucis é uma |
experiência que a toca e quando é com um grupo das Filipinas, através da sua vivência e religiosidade inquestionável aceitam o fenómeno de ‘peito aberto’, o que me faz pensar e questionar”. Por seu lado André Pereira, um jovem funcionário do Santuário de Fátima, quer saber mais sobre todo o “acontecimento e a sua atualidade” e inscreveu-se no curso. Recordou os primeiros contactos que teve “levado pela experiência e vivência dos meus pais e da minha família em Fátima”. Mas os cabelos brancos de Rui Madeira não enganam na sabedoria… Aposentado da Faculdade de Direito de Coimbra decidiu inscrever-se para esclarecer “tantas coisas que se ouve falar sobre Fátima e todas as suas vertentes. Tenho agora mais tempo e quero aprofundar alguns assuntos, Fátima é um deles”, remata. O olhar brilhante de Teresa Mendes de Almeida ao falar sobre Fátima |
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não esconde a ligação especial que tem há mais de 30 anos. É servita no Santuário e os simples silêncios de um olhar no acolhimento falam-lhe ao coração. “Faz sentido todas estas iniciativas; saber mais, mesmo depois do centenário, faz sempre sentido, dar a conhecer a mensagem de Fátima, é nacional, internacional, é para o Mundo inteiro”, contou. Num auditório atento destaca-se uma jornalista que tira alguns apontamentos. Maria José Garrido, com vasta experiência de jornalismo, faz parte do grupo de alunos. Tendo ido poucas vezes a Fátima, o seu interesse foca-se na dimensão social do acontecimento. |
“Fátima foi um grande fenómeno e continua a ser e eu quero explorar mais, não para saber se foi verdade ou mentira, mas para ter mais informações deste fenómeno que perdura há 100 anos. (…) o que faz as pessoas estarem lá, andarem de joelhos, o que até me choca, e terem uma fé imensa”. Partilhas e perspetivas diferentes, formas de olhar a Cova da Iria, com mais ou menos fé… ou com nenhuma! É uma pluralidade de rostos e convicções que preenchem o auditório do curso interdisciplinar “Acontecimento: Fátima” e que são garantia de que, após 100 anos, há ainda coisas a descobrir sobre Fátima. |
Para além de Fátima |
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O acontecimento das Aparições de Nossa Senhora de Fátima é um marco que, 100 anos depois, continua a conquistar comunidades cristãs um pouco por todo o mundo. A Agência ECCLESIA falou com o arcebispo de Lahore, no Paquistão, onde também a mensagem de Fátima cala fundo nos fiéis. O Paquistão é um país de maioria muçulmana e conta atualmente com cerca de 1,2 milhões de cristãos (2 por cento da população total), metade dos quais está radicada na Arquidiocese de Lahore. Numa nação onde os cristãos têm sido alvo de perseguição feroz, existe ainda assim pelo menos uma igreja dedicada a Nossa Senhora de Fátima. É na cidade de Karachi, que é também um dos pontos mais importantes do Paquistão, em termos sociais e comerciais, junto à costa do Mar da Arábia. |
“Quando eu era uma criança, estudei numa escola que tinha como nome Nossa Senhora de Fátima e era também membro da Legião de Maria”, conta D. Sebastian Shaw, acrescentando que “a reflexão e o estudo” sobre Fátima têm marcado a sua vida e a vivência da Igreja Católica no seu país. Para o prelado, a mensagem de Fátima é sobretudo “uma mensagem de paz, de harmonia, de conversão, de perdão”, como que um resumo do desafio que é feito a cada cristão, que teve oportunidade de revisitar nos últimos dias, durante uma deslocação a Portugal e ao Santuário, a convite da Fundação Ajuda a Igreja que Sofre. “Foi uma oportunidade muito boa. Eu estava muito agradecido e disse às pessoas que antes apenas pensava em vir, agora estava ali”, salientou D. Sebastian Shaw. Durante a sua deslocação a Fátima, |
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o arcebispo de Lahore celebrou missa e convidou as pessoas a rezarem por quem mais precisa e também pelo Papa Francisco, que estará presente nas comemorações em maio deste ano. “Para que ele continue com força e convicção a missão que Deus lhe confiou”, referiu o prelado. D. Sebastian Shaw disse depois esperar poder levar de volta ao seu país a força de Fátima, a uma |
comunidade cristã que, apesar de perseguida, continua muito viva na sua fé. “Há muito sofrimento, mas todos os domingos as igrejas estão cheias, na minha catedral, que é muito grande, tenho quase sempre 1800 pessoas, 2000 pessoas nas celebrações, e temos cinco missas na catedral. Muitas crianças, muitos jovens”, sublinhou o arcebispo paquistanês. |
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Os protagonistas
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O fenómeno de fé que hoje se concentra na Cova da Iria e que envolve comunidades cristãs de todo o mundo, não é uma complexidade teológica nem um desafio que só os estudiosos alcançam. O acontecimento da Cova da Iria é um encontro com os mais pequenos. Com três crianças pastores, que nada sabiam das opções políticas de um mundo em guerra nem das motivações anticlericais republicanas da época. Francisco, Jacinta e Lúcia, são os escolhidos para um encontro inesperado que propunha um itinerário para alcançar a paz. A “senhora de branco” não lhes pede que, no mês seguinte, voltem àquele lugar com teólogos, clero ou intelectuais... pede-lhes que sejam eles, ali presentes em cada dia 13. Aquelas crianças simples e com pouca instrução escolar bastavam para que a mensagem fosse acolhida. As crianças não foram apenas os |
videntes em 1917, elas são também a simplicidade e a humildade essenciais para a manifestação de Deus no meio do mundo. Por isso, Fátima é um grande catecismo para os mais novos, é uma escola de fé para aqueles que compreendem as coisas grandes sem as reservas e a complexidade dos preconceitos dos adultos. Lúcia nas memórias, narra a sua infância e a dos primos, marcada pela presença central da família e da oração em comum. Francisco, descreve a vontade de estar junto do Jesus “escondido” no sacrário da igreja paroquial de Fátima. Jacinta quer resgatar almas para que não se percam no inferno. O terço é a oração que as crianças conhecem e que a senhora lhes apresenta como ferramenta espiritual capaz de mudar o mundo e converter nações. Hoje, os Papas vieram a Fátima, multiplicaram-se os congressos teológicos e aprofunda-se
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a investigação em torno dos acontecimentos ocorridos há 100 anos, mas as crianças continuam a ser os protagonistas deste mistério. Todos os meses, no terceiro sábado, o Santuário prepara-lhes um momento celebrativo e catequético. Mas, será nas comunidades cristãs, a muitos quilómetros da Cova da Iria, que o acontecimento de Fátima inspirará certamente, o trabalhado de catequistas e animadores pastorais que encontram na mensagem de Fátima a pedagogia da simplicidade que cativa e envolve os mais pequenos. A prova disso salta à vista naquele que é o “13 de Maio dos pequeninos” em que se transformou |
a Peregrinação Nacional das Crianças a Fátima. Uma enchente de pequenos peregrinos que ali chegam disparando perguntas não muito diferentes das dos pastorinhos... quem é vossemecê? O que quer de nós? Como chegamos ao céu?... Este centenário não nos pode afastar dos pastorinhos, ainda que um deles tenha crescido e vivido até aos 97 anos. Os beatos Francisco e Jacinta são uma oportunidade para os mais pequenos entenderem a santidade, o que a fé lhes propõe e que caminho devem fazer na Igreja. Este é um desafio pastoral rico e interpelante, que deve ser aprofundado neste centenário das aparições. |
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«Venho à Senhora de Fátima e rezo»
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Maria do Rosário é da Quinta do Conde, na Diocese de Setúbal, e peregrina de Fátima há muitos anos. "Sinto-me muito bem aqui, sinto-me muito leve e gosto muito daqui vir e não me canso de vir à Senhora de Fátima", disse à Agência ECCLESIA. A Igreja Católica em Portugal e os fiéis estão mobilizados para viver o Centenário das Aparições de Nossa Senhora aos pastorinhos (1917-2017) ao logo do ano e em especial nos dias 12 e 13 de maio com a presença do Papa Francisco que vem como peregrino e a quem Maria do Rosário "gostava só de lhe apertar a mão". "Se puder venho, gostava muito de estar com o Papa", acrescenta, destacando que Francisco "é muito amoroso".
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A entrevistada sublinha ainda que gosta muito de ir ao Santuário de Fátima: "Não tenho palavras, este recinto para mim..." Antes do marido de Maria do Rosário falecer iam muitas vezes ao santuário mariano da Cova da Iria que era lugar de visita frequente, "quase todos os fins-de-semana". "Quando estávamos a sair já tínhamos destino para virmos aqui. Gostávamos. Sinto-me bem aqui. Pedi e não foi aceite mas a vida continuar. Com muita pena minha mas a vida tem de continuar, ele está no céu, ajuda-me à mesma", desenvolveu a peregrina. A "vida continua", frisa Maria do Rosário que continua a visitar o santuário com frequência: "venho aqui à Senhora de Fátima e rezo." |
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Sozinho
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Solidão com sentidoTodo o ambiente de Fátima, no recinto ou nos diferentes espaços de oração e culto, convida à interioridade. São lugares para estar sozinho. E mesmo quando se habita aquele altar |
do mundo com um grupo, uma peregrinação, há sempre momentos em que cada um, cada peregrino, experimenta o “estar sozinho em Fátima”.
AdoraçãoDesde o dia 1 de janeiro de 1960 que há um lugar que convida especialmente à interioridade: a capela do Santíssimo Sacramento, ambiente de adoração permanente a Jesus Cristo Eucaristia: “Lausperene” Ao pensar numa rubrica sobre Fátima em torno da possibilidade que o Santuário oferece para permanecer numa solidão fortemente preenchida, habitada por Deus, por uma experiência espiritual, chega-se com naturalidade a este espaço de adoração permanente. É no Lausperene que muitos peregrinos experimentam momentos de oração intensos, |
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percorrem itinerários de vida voltados para o seu interior. Cada peregrino está sozinho, mas fortemente preenchido por percursos pelos seus percursos de vida, aqueles e aquelas que com ele se cruzam e sobretudo alertados para os desafios que Deus propõe, em determinada fase das suas vidas.
LauspereneA adoração e a Eucaristia são dois temas marcantes da Mensagem de Fátima, tanto pelas memórias das Aparições do Anjo, em 1916, como pelas revelações de Nossa Senhora aos três pastorinhos, entre maio e outubro de 1917. Referência principal desse convite que emerge da Mensagem de Fátima é Francisco Marto e o seu “o jeito contemplativo” com “procurava o recolhimento e o silêncio para ‘pensar em Deus’ e para o consolar” o “Jesus escondido”. Em 1959, D. João Pereira Venâncio, bispo de Leiria, quis traduzir esta marca da Mensagem de Fátima numa proposta que o Santuário oferecesse aos peregrinos, criando um espaço para a adoração ao Santíssimo |
Sacramento e dando especial relevo à Eucaristia no ambiente do Santuário. Esse espaço de culto e adoração inicia no dia 1 de janeiro de 1960, com o compromisso assumido pelas Irmãs Reparadoras de Nossa Senhora de Fátima de adorarem, dia e noite o Santíssimo Sacramento exposto na Capela do Lausperene. Primeiro, a Capela do Lausperene situou-se na Casa de Nossa Senhora do Carmo; em 1964, mudou para a Capela do Milagre do Sol, na colunata norte, onde permaneceu até 1987; nessa ocasião, voltou para a primeira capela, após obras de restauro, e enriquecida com um Ostensório do escultor Zulmiro de Carvalho; no dia 13 de julho de 2008, a Capela do Lausperene foi transferida para a Capela do Santíssimo Sacramento, localizada na Galilé de S. Pedro e S. Paulo da Basílica da Santíssima Trindade. |
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Pórtico inspirado no arco que assinalou o lugar das aparições em 1917 é início do «Itinerário do Peregrino» |
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O Ano Jubilar do Primeiro Centenário das Aparições inclui um itinerário do peregrino, que se inicia no ‘Pórtico do Jubileu’. “O centro do ano jubilar é sem dúvida a celebração da peregrinação internacional aniversária de 12 e 13 de maio, que contará coma presença do Papa Francisco”, disse o reitor do Santuário de Fátima na sessão de apresentação do Ano Jubilar, indicando alguns “sinais e gestos” que o assinalam. O Padre Carlos Cabecinhas disse que o ‘Pórtico do Jubileu’, o ‘Itinerário Jubilar do Peregrino’ e a Oração Jubilar de Consagr«ção a Nossa Senhora’ são propostas para que os peregrinos vivam o Ano Jubilar do Centenário das Aparições, em Fátima. O ‘Pórtico do Jubileu’ é “inspirado no arco festico que, em 1917 assinalou o lugar das aparições, e sob o qual foram fotografados Francisco, Jacinta e Lúcia”. |
“O Pórtico pretende assinalar o Centenário e marcar a ritualidade da peregrinação a este Santuário ao longo do ano do Centenário. O pórtico evoca a porta santa ou porta jubilar: é passagem que nos permite aceder ao Santuário e às graças que Deus aí nos dispensa”, afirmou. O ‘Itinerário Jubilar do Peregrino’ tem início no ‘Pórtico do Jubileu’ e propõe um “itinerário espiritual” a quem visita o Santuário, convidando-os a passar pelos seus “lugares mais significativos”, nomeadamente a Capelinha das Aparições, o Túmulo dos Pastorinhos e a Capela do Santíssimo Sacramento. O reitor do Santuário de Fátima referiu também que a ‘Oração Jubilar de Consagração a Nossa Senhora’ é a “oração oficial deste jubilar” e vai ser |
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rezada “no final de cada celebração, ao longo deste ano festivo”. Para o padre Carlos Cabecinhas, o Ano Jubilar é um “ano de compromisso” e um “ano festivo”, durante o qual serão as celebrações a “marcar o ritmo” da vivência do Jubileu do Primeiro Centenário das Aparições. “Ao celebrarmos o grande acontecimento de Fátima, damos graças a Deus por todas as bênçãos que Ele derrama sobre nós em Fátima, através da mensagem transmitida neste lugar e dos seus protagonistas”, sublinhou o reitor do Santuário de Fátima. Na sessão de apresentação do Ano Jubilar, o padre Carlos Cabecinhas indicou alguns projetos que assinalam o Centenário, nomeadamente o Congresso Internacional do Centenário das Aparições, que vai decorrer entre os dias 21 e 24 de junho; |
e o concerto de encerramento do Centenário das Aparições, a 13 de outubro de 2017. O Jubileu das Aparições está a ser assinalado também com depoimentos de 100 personalidades sobre Fátima, com emissão na Rádio Renascença e disponibilizadas online, além da criação de uma plataforma na internet onde cada peregrino pode deixar “uma breve declaração”, em vídeo, para ser partilhado nas redes sociais. |
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Fátima 2017: 98 dias para a chegada do Papa |
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O Papa vai chegar a Fátima dentro de menos de 100 dias, para tornar-se o quarto pontífice a visitar Portugal, depois de Paulo VI (1967), João Paulo II (1982, 1991 e 2000) e Bento XVI (2010). A visita de Francisco, no centenário das aparições, confirma a ligação do papado ao santuário português, que começa a definir-se já em 1929, com a bênção de uma imagem de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, pelo Papa Pio XI, para a capela do Pontifício Colégio Português de Roma. No pontificado seguinte, Pio XII assumiu Fátima como um acontecimento de toda a Igreja e, a 31 de outubro de 1942, consagrou o mundo ao Imaculado Coração de Maria, em plena II Guerra Mundial; o Santuário assinala, ainda hoje, o encerramento do Ano Santo, a 13 de outubro de 1951, neste pontificado. São João XXIII visitou Fátima no dia 13 de maio de 1956, quando era ainda patriarca de Veneza, mas as |
viagens internacionais dos Papas modernos são uma novidade que remonta à segunda metade do século XX, com o pontificado de Paulo VI (1897-1978). Portugal entraria na rota dessas visitas apostólicas logo na quinta viagem deste pontífice italiano, a 13 de maio de 1967, por ocasião do 50.º aniversário das aparições marianas, reconhecidas pela Igreja Católica, na Cova da Iria. Paulo VI quis vir pessoalmente a Fátima, como peregrino, a 13 de maio de 1967, tendo decidido que o avião que o transportou desde Roma aterrasse em Monte Real, ficando alojado na então Diocese de Leiria (hoje Leiria-Fátima); além da homilia na Missa do 13 de maio, no 50.º aniversário das Aparições, Paulo VI teve outras seis intervenções. João Paulo I esteve em Portugal como patriarca de Veneza, em julho de 1977, passando por Fátima e |
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encontrando-se com a Irmã Lúcia. João Paulo II, que a 13 de maio de 1981 tinha sido atingido a tiro na Praça de São Pedro, num atentado contra a sua vida, veio à Cova da Iria um ano depois, agradecer publicamente a intercessão de Nossa Senhora de Fátima na sua recuperação. Em maio de 1982, no aniversário desse primeiro atentado contra a sua vida, Karol Wojtyla (1920-2005) chegava a Fátima para "agradecer à Divina Providência neste lugar que a mãe de Deus parece ter escolhido de modo tão particular"; passou ainda por Lisboa, Vila Viçosa, Coimbra, Braga e Porto, ao longo de quatro dias (12-15 de maio), proferindo um total de 22 intervenções. O Papa polaco voltou a Portugal nove anos depois: a 10 maio de 1991, João Paulo II celebrou Missa no Estádio do Restelo e viajaria depois para os Açores e Madeira, antes de centrar-se no Santuário de Fátima, nos dias 12 e 13 maio. Durante quatro dias, São João Paulo II proferiu 12 intervenções e enviou |
ainda uma carta, desde a Cova da Iria, aos bispos católicos da Europa, que preparavam uma assembleia especial do Sínodo dos Bispos, dedicada ao Velho Continente. A 12 e 13 maio de 2000, já com a saúde debilitada, João Paulo II regressou a Portugal, para presidir à beatificação dos pastorinhos Francisco e Jacinta Marto; proferiu um discurso à chegada, no aeroporto internacional de Lisboa, a homilia na Missa do 13 de maio e uma saudação aos doentes reunidos na Cova da Iria. Na mesma ocasião deu-se o anúncio da publicação da terceira parte do chamado “Segredo de Fátima”. Bento XVI visitou Portugal de 11 a 14 de maio de 2010, para assinalar o décimo aniversário da beatificação de Francisco e Jacinta Marto, com passagens por Lisboa, Fátima e Porto. Em 2017, a visita de Francisco centra-se na Cova da Iria, onde a 13 de maio de 2013 o então cardeal-patriarca de Lisboa, D. José Policarpo, consagrou pontificado do Papa argentino à Virgem Maria. |
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Mãos unidas |
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No passado, dia 19 de Janeiro, celebramos o 64.º Dia Mundial de Luta contra a Lepra. Nesse mesmo domingo, o Papa Francisco durante a recitação do ângelus, na Praça de São Pedro, afirmou que “esta doença, apesar de estar a diminuir, ainda está entre as mais temidas e atinge os mais pobres e marginalizados”. É com o intuito de alertar para esta problemática, que esta semana sugerimos uma visita ao sítio da associação Mãos Unidas P. Damião. Esta Instituição Particular de Solidariedade Social, reconhecida como pessoa de utilidade pública, tem como missão “ajudar no combate às doenças endémicas tropicais, através de ações de iniciativa própria ou de iniciativa conjunta, com Instituições de elevada credibilidade, as quais merecem o nosso apoio e o nosso mérito”. Ao digitarmos o endereço www.maos-unidas.pt, encontramos um sítio eminentemente informativo com uma apresentação gráfica bastante apelativa, respondendo às novas |
orientações para a produção de páginas da internet. Na opção “quem somos”, podemos ler todas as informações institucionais relativas a esta ONGD. Nomeadamente percebemos que o objetivo social principal passa por apoiar os cidadãos com doenças endémicas (Tuberculose, Lepra, Malária, Cólera, Poliomielite, Sarampo, Rubéola, Hepatites e Meningites e ainda outras doenças infeciosas do nosso tempo, tal como a Sida e o Ébola). Em P. Damião, ficamos a conhecer melhor esta figura que nasceu em Janeiro de 1840, em Veuster, uma pequena aldeia da Bélgica. Canonizado por Bento XVI em 2009, S. Damião é apelidado de apóstolo dos leprosos na ilha "maldita" do Molokai. Em projetos percebemos claramente o esforço que está a ser realizado “no sentido de aumentar substancialmente a intervenção social e humanitária” desta IPSS. Levando “às populações do Interior um maior conhecimento e a possibilidade de usufruírem de serviços que de uma outra forma não seriam viáveis ter”. Caso pretenda colaborar de |
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uma forma mais concreta com esta organização, deverá clicar em “como ajudar”. Poderá faze-lo divulgando as suas campanhas de solidariedade (redes sociais, cartazes, folhetos, jornais, etc.), oferecendo-se como voluntário, ou mesmo motivando a sua comunidade para os objetivos nobres desta associação. Por último, existe uma loja virtual, na qual estão expostos diversos materiais (livros, postais, vídeos, blocos, etc.), |
que podem ser adquiridos e assim contribuir também para a sustentabilidade financeira desta associação. Fica então lançado o repto para que visitem este espaço, dando assim as mãos a esta organização que trabalha em prol dos mais carenciados.
Fernando Cassola Marques |
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Salesianos lançam CD
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As Edições Salesianas vão lançar Porto um novo CD com salmos para os tempos litúrgicos da Quaresma e da Páscoa. Num comunicado enviado à Agência ECCLESIA, os Salesianos adiantam que este projeto, intitulado “Saboreai e vede”, tem uma |
“sonoridade que pretende ser mais atrativa para os jovens”. “Os arranjos conjugam o estilo clássico, presente nos violinos, com o jazz que se adivinha no saxofone. Algumas composições apresentam uma percussão discreta que |
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acompanha o ritmo da guitarra folk e a melodia do piano”, salientam. Neste novo CD, coordenado pelo duo DBCanto, participam vários artistas católicos como a Banda Jota e Claudine Pinheiro. O concerto de lançamento deste novo trabalho está marcado para dia 04 de fevereiro, no pavilhão dos Salesianos no Porto, com a particularidade de incluir a participação do padre e missionário redentorista Rui Santiago, “que fará o enquadramento litúrgico |
dos salmos interpretados ao vivo”. Por cada CD adquirido (preço de um euro) durante o espetáculo, as pessoas estarão a contribuir para “a reconstrução do dormitório do lar juvenil dos Salesianos em Mirandela, mediante o projeto solidário ‘Reconstruir sorrisos’. Este evento tem entrada livre e gratuita, mediante o levantamento dos bilhetes disponíveis na loja das Edições Salesianas do Porto, com transmissão em direto no YouTube. |
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II Concílio do Vaticano: A inteligência e o carácter de D. Domingos Pinho de Brandão |
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Quando se celebram os 50 anos de ordenação episcopal de D. Domingos Pinho de Brandão convém recordar algumas facetas deste bispo português, professor universitário, arqueólogo e historiador de arte. Não foi padre conciliar, mas foi um pastor que viveu intensamente o II Concílio do Vaticano (1962-65). Nascido em 1920 em Arouca e falecido no Porto em 1988, D. Domingos Pinho de Brandão foi uma destacada figura da Igreja e da cultura, nomeado bispo auxiliar de Leiria em 1966 e, mais tarde, bispo auxiliar do Porto (1972-88). Frequentou o Seminário Maior do Porto, terminando o seu curso de Teologia na Universidade Gregoriana. Foi ordenado sacerdote em Roma, na Basílica de S. João de Latrão (1943). Depois de ter paroquiado na sua terra natal, foi escolhido para o exercício da Reitoria do Seminário Maior do Porto pelo então bispo do Porto, D. António Ferreira Gomes, que apostou no seu «carácter firme e transparente, inteligência lúcida, dúctil e ativa…» (António Ferreira Gomes, «D. Domingos de Pinho Brandão», in Lucerna, 1984). Com os problemas levantados na diocese do Porto pelo exílio do bispo D. António Ferreira Gomes, a quem se manteve sempre fiel, viu-se obrigado a abandonar a orientação do Seminário. O padre Alexandrino Brochado que foi colega de curso deste bispo português escreveu, no jornal «Voz Portucalense» de 02 setembro de 2015, que nos domínios da História, da Arte Sacra e da Arqueologia “ninguém o igualou e, muito menos, o excedeu”. |
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Os grandes mestres da Universidade do Porto, “com muita acuidade e invulgar interesse, procuravam o contato permanente e assíduo do grande cientista que foi D. Domingos Pinho de Brandão”. No mesmo texto, o sacerdote que faleceu em 2006, realça que a sua sabedoria nestas matérias era fruto “dum intenso trabalho de pedagogia e de estudo aturado que não tinham limites de espécie alguma”. No seu depoimento sobre este bispo que viveu intensamente os acontecimentos conciliares, monsenhor Alexandrino Brochado refere que “muitas vezes, a altas |
horas da noite, pelas 2 e 3 horas da madrugada, eu via, com grande espanto, a luz acesa do seu quarto, o que quer dizer que, a essa hora, D. Domingos Pinho de Brandão ainda estava debruçado sobre a sua ferramenta literária, isto é, os livros de cultura que nunca deixaram de ser os seus companheiros prediletos”. Investigador notável e plurifacetado no campo da história de arte, arqueologia, epigrafia, numismática, museologia, deixou inúmeros escritos nestas áreas. Um homem que absorveu os ensinamentos emanados do II Concílio do Vaticano. |
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fevereiro 2017 |
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04 de fevereiro. Portalegre - Conselho Diocesano de Pastoral
. Braga – Centro Cívico de Famalicão - As equipas da pastoral familiar de Brufe e de Santo Adrião (Famalicão) organizam umas jornadas sobre «Não há famílias perfeitas», que contam com a presença do professor da Universidade Católica, Juan Ambrosio, e é moderada por Sofia Fernandes, vereadora para a Saúde Pública, Família e Mobilidade, da Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão.
. Bragança - Macedo de Cavaleiros - Seminário intitulado «Do cuidar ao curar: a Fé como ato curativo» e promovido pela Unidade Pastoral de Santo António (UPSA), na Diocese de Bragança-Miranda.
. Porto - As Edições Salesianas lançam um novo CD com salmos para os tempos litúrgicos da Quaresma e da Páscoa.
. Lisboa - Alfragide (Seminário Nossa Senhora de Fátima) -Fórum «Wahou!» para refletir sobre a «Teologia do Corpo» - termina a 05 de fevereiro
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. Porto - Casa de Vilar - A jornada da pastoral familiar da Diocese do Porto vai realizar-se na Casa de Vilar e tem como centro de reflexão Exortação Apostólica «Amoris Laetitia».
. Algarve - Portimão (Ferragudo), 09h30 - Diocese do Algarve promove formação sobre os Salmos e os Livros Sapienciais
. Centro Missionário Allamano, 10h00 - O Centro Missionário Allamano, dos Missionários da Consolata em Fátima, promove o retiro centrado na mensagem mariana das aparições na Cova da Iria, das 10h00 às 18h00.
. Guarda, 10h00 - Ação de formação para os professores de Educação Moral e Religiosa Católica da Diocese da Guarda
. Santarém, 10h00 - Encontro anual de grupos sociocaritativos orientado pelo diácono Paulo Campino
. Lamego - Seminário Maior de Lamego, 10h00 - Encontro de formação bíblica para jovens promovido pelo Secretariado da Pastoral Juvenil da Diocese de Lamego.
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. Guarda – Sé, 11h00 - Bênção dos finalistas da Escola Superior de Saúde da Guarda presidida por D. Manuel Felício
. Funchal - Salão Paroquial da Nazaré, 17h00 - Conferência sobre «A vivência do namoro e da sexualidade» por Teresa Carvalho e promovida pelo Secretariado da Família da Diocese do Funchal
05 de fevereiro. Guarda – Covilhã - Exposição biográfica sobre D. Manuel Damasceno da Costa (Bispo de Angra) nos 150 do seu nascimento – até 05 de março
. Setúbal - Dia diocesano do catequista subordinado ao tema «Eu sou para o meu amado e o meu amado é para mim»
. Celebração do Dia Nacional da Universidade Católica Portuguesa
. Coimbra - Sé Nova, 11h00 - Bênção das crianças na Sé Nova (Coimbra) promovido pelo Secretariado Diocesano da Pastoral Familiar.
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. Lisboa - Igreja de São Tomás de Aquino, 14h00 - O Dia dos Pequenos Cantores da Diocese de Lisboa realiza-se na Igreja de São Tomás de Aquino, em Lisboa.
. Bragança, 14h30 - Passeio de comboio turístico pelas casas das congregações religiosas da cidade de Bragança integrado na celebração do Dia do Consagrado.
. Aveiro - Salão paroquial da Glória, 15h30 - Assembleia diocesana dos consagrados
06 de fevereiro. Lisboa - Igreja e Museu de São Roque - Visita temática dedicada às peças da coleção do Museu de São Roque que testemunham a presença cristã no Japão e a experiência do martírio.
. Lisboa - Capela do Rato, 18h15 - Sessão do curso «grandes correntes da ética ocidental» na Capela do Rato
. Porto - Matosinhos (Escola Secundária João Gonçalves Zarco), 21h30 - Assunção Cristas e Zita Seabra vão estar em diálogo com o diretor da Agência ECCLESIA, Paulo Rocha, na Escola Secundária João Gonçalves Zarco (Matosinhos - Porto). |
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- Este mês de fevereiro começa na Diocese do Algarve um ciclo de cinema nas igrejas, intitulado ‘Video Lucem’, que inclui filmes antigos e contemporâneos, de realizadores nacionais e estrangeiros, com destaque para obras como a ‘Ascensão’, do cineasta Pedro Peralta.
- Jovens católicos universitários integrados na ‘Missão País’, vão promover na localidade de Castro Marim, em Faro, três iniciativas abertas à população: um teatro esta sexta-feira, pelas 17h00, na Biblioteca Municipal; um arraial no sábado às 15h30 no Pavilhão Municipal, e uma vigília de oração, ainda no dia 4 de fevereiro, na igreja Matriz de Castro Marim.
- O padre José Toletino Mendonça é a figura de destaque na sessão ‘Clube dos Poetas Vivos’, que decorre esta terça-feira dia 07 de fevereiro no Teatro Nacional D. Maria II em Lisboa, a partir das 19h00, integrada na Semana Mundial de Harmonia Inter-religiosa.
- O Convento dos Remédios, em Évora, acolhe no dia 11 a partir das 18h00 um ‘Requiem Ibérico’, um concerto do Grupo Vocal Olisipo, com direção do maestro Armando Possante |
Programação religiosa nos media |
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Antena 1, 8h00 RTP1, 10h30 Transmissão da missa dominical
11h00 - Transmissão missa
Domingo: 10h00 - Porta Aberta; 11h00 - Eucaristia; 23h30 - Entrevista de Aura Miguel
Segunda-feira: 12h00 - Informação religiosa
Diariamente 18h30 - Terço
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RTP2, 13h00
Segunda-feira, dia 06, 15h00 - Entrevista a Isilda Pegado, presidente da Federação Portuguesa pela Vida
Terça-feira, dia 07, 15h00 - Informação e entrevista a Inês Leitão, sobre o documentário "Este é o meu corpo"
Quarta-feira, dia 08, 15h00 - Informação e entrevista a José Victor Adragão e Maria Ana Jaillet, sobre o Fórum "Reencontrar Deus", promovido pela Comunidade Emanuel
Quinta-feira, dia 09, 15h00 - Informação e entrevista ao padre José Manuel Pereira de Almeida, sobre o Dia Mundial do Doente.
Sexta-feira, dia 10, 15h00 - Análise à liturgia de domingo com o padre João Lourenço e Juan Ambrosio.
Antena 1 Domingo, dia 05 de fevereiro - 06h00 - A luta contra o cancro na primeira pessoa
Segunda a sexta-feira, dias 06 a 10 de fevereiro - 22h45 - O "Acontecimento Fátima"- perspetivas e interesses dos alunos inscritos neste curso interdisciplinar |
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Ano A – 5.º Domingo do Tempo Comum |
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Iluminar com o sabor de Cristo |
A Palavra de Deus deste Quinto Domingo do Tempo Comum convida-nos a refletir sobre o compromisso cristão para a transformação do mundo, de ser luz que brilha na noite do mundo e que aponta no sentido da plenitude de Deus entre nós. No Evangelho, Jesus exorta os seus discípulos a não se instalarem na mediocridade, no comodismo, no «deixa andar»; e pede-lhes que sejam o sal que dá sabor ao mundo e que testemunha a perenidade e a eternidade do projeto salvador de Deus; também os exorta a serem uma luz que aponta no sentido das realidades eternas, que vence a escuridão do sofrimento, do egoísmo, do medo e que conduz ao encontro de um Reino de liberdade e de esperança. A segunda leitura avisa que ser luz não é colocar a esperança de salvação em esquemas humanos de sabedoria, mas é identificar-se com Cristo e interiorizar a loucura da cruz que é dom da vida. A primeira leitura apresenta as condições necessárias para sermos luz. Vale a pena reler Isaías: «reparte o teu pão com o faminto, dá pousada aos pobres sem abrigo, leva roupa ao que não tem que vestir e não voltes as costas ao teu semelhante». Seremos autêntica luz da paixão do meio-dia, luz a brilhar nas trevas, luz a iluminar o mundo, se levarmos a peito estes apelos tão exigentes e atuais do profeta Isaías. O profeta dá-nos indicações muito práticas para responder à questão essencial: como é que podemos ser uma luz que acende a esperança no mundo e aponta no sentido de uma nova terra, plena de felicidade? Não é com liturgias solenes ou com vistosos ritos litúrgicos, muitas vezes estéreis e vazios; mas é com |
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uma vida onde o amor a Deus se traduz no amor ao irmão e se manifesta em gestos de partilha e fraternidade, de libertação e esperança, de justiça e paz. Não se diz aqui que os momentos de oração e de encontro pessoal com Deus sejam supérfluos, inúteis e desnecessários; o que se diz aqui é que os ritos em si nada significam se não correspondem a uma vivência interior que se traduz em gestos concretos de compromisso com Deus e com os seus valores. De nada vale multiplicar ritos, orações solenes e celebrações se não tiverem a devida |
correspondência na vida de relação com os irmãos. Em mais uma semana, como vamos dar sabor e iluminar as nossas vidas partilhadas com os irmãos e os próximos do nosso caminhar? O gosto da partilha, do acolhimento, da misericórdia e da caridade, como nos convida Isaías, têm o sabor de Cristo ressuscitado? Oxalá que sim, para que nos tornemos “luz diante dos homens” e iluminemos a vida com o sabor de Cristo em nós.
Manuel Barbosa, scj www.dehonianos.org |
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Índia: Igreja defende os direitos de milhões de “dalits”Os insignificantes |
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Não têm direitos. Na Índia, há milhões de crianças, mulheres e homens que são vistos como indignos. São os “dalits”, os intocáveis. São milhões e, no entanto, é como se não existissem, como se fossem invisíveis, insignificantes. Muitos destes “dalits” são cristãos. É raro o dia em que não ocorrem incidentes graves contra os cristãos na Índia. Infelizmente, nem sempre são notícia, pois quase ninguém quer saber do que se passa com os “dalits”, os intocáveis, aqueles que estão na base do complexo sistema de castas do país. A sociedade considera-os indignos, e por isso, ignora-os. São insignificantes. Completamente marginalizados, apesar de serem mais de 165 milhões, os “dalits” são um exemplo cruel do que a humanidade pode fazer quando se torna insensível. Quando fecha os olhos. Calcula-se que, a cada 18 minutos, é cometido algum tipo de crime contra os “dalits”. Todos os dias, cerca de três mulheres são violentadas, 11 pessoas agredidas, duas casas queimadas… Ser “dalit” na Índia é sinónimo de fome, de lágrimas, de miséria. |
Com a ascensão ao poder, em 2014, de Narendra Modi, passaram a registar-se cada vez mais ataques por parte de grupos radicais contra os cristãos e os “dalits”. A Igreja está muito preocupada com esta onda de violência, estando presente, na memória de todos, os terríveis incidentes em Orissa, em 2008, em que uma centena de cristãos perderam a vida, além de que foram destruídas quase 6 mil casas, igrejas e capelas. D. John Barwa Arcebispo de Cuttack-Bhubaneswar, esteve recentemente na Alemanha, na sede internacional da AIS, onde foi pedir apoio para a sua comunidade. Ele precisa de ajuda pois a Igreja, no Estado de Orissa, é muito pobre e, por ali, os cristãos confundem-se quase sempre com os “intocáveis”, os dalits”. Combater o extremismo Mas se há cada vez mais “dalits” a pedirem para serem baptizados, isso é também testemunho de que permanece bem vivo o exemplo da Santa Madre Teresa de Calcutá, que acolheu os moribundos, os desvalidos, os sem-abrigo, destruindo com os seus gestos de amor a intolerância de |
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uma sociedade que olha para as pessoas discriminando-as por castas, pela cor da pele, pela religião… As palavras de D. John Barwa são particularmente escutadas com atenção na Índia. Por lá todos sabem como ele tanto sofreu nos dias de tumulto em Orissa. A sua própria sobrinha, a freira Meena Lalita Barwa, hoje com 39 anos, estava em Kandhamal quando a multidão enfurecida a arrastou, assim como ao padre Thomas Chellen, para a rua, aos gritos de “matem os cristãos”, “matem os cristãos”… Depois, rasgaram-lhe as |
roupas e violaram-na, ali, em plena rua. O padre foi espancado quase até à morte. Hoje, a irmã Meena Barwa quer ajudar os cristãos, especialmente os “dalits”, que continuam a ser espezinhados e ignorados por uma sociedade que se recusa a olhar para eles e a vê-los como como homens, mulheres e crianças com direitos mas também com necessidades. Uma sociedade que se recusa a olhar para estes cristãos como seres humanos. Apenas isso.
Paulo Aido | www.fundacao-ais.pt |
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Todos contra o cancro |
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Tony Neves |
Há males que tomam conta de vidas. Aparecem na escuridão da noite, vão percorrendo o corpo de mansinho e, quando damos por eles, é tarde demais! Conhecemos tantas vidas assim vitimadas por cancros. Para muitos é a doença dos nossos tempos. Outros dirão que se trata de um nome genérico atribuído às doenças que resultam de alterações de células que se tornam invasoras e destroem os outros tecidos. Enfim, digam lá o que disserem os entendidos, esta doença mete medo só ao pronunciarmos o seu nome. São milhares e milhares as pessoas que estão neste momento numa luta que ninguém sabe qual vai ser o vencedor. E este drama também faz as suas vítimas. Nos tempos que correm, a palavra-chave tem de ser ‘prevenção’. Há, felizmente, muitos meios de diagnóstico que permitem detectar os tumores à nascença (ou quase) permitindo o combate imediato antes que haja metástases e seja tarde demais o início da luta. Tal como tudo na vida, mais vale prevenir do que remediar. Aqui o provérbio português assenta que nem uma luva! Por isso, há que fazer com regularidade análises e exames, intensificados quando há sintomas suspeitos ou foram já algumas as vítimas na família. Depois, há que enfrentar com coragem, sempre que os diagnósticos provem a existência de tumores malignos. As quimio e radioterapias são tratamentos de choque que rompem muitos órgãos e tecidos, provocando dores e mal estar, mas ainda são os mais indicados para atacar tumores |
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cancerosos. A presença constante e estimulante da família e dos amigos ajudam ao sucesso da terapia, dando força e coragem aos pacientes. Nestas horas, há que investir tudo numa guerra de vencedor imprevisível. Todas as pessoas já fizeram a experiência do padecimento por um cancro. Ou em primeira pessoa ou num ente mais ou menos querido. É duro receber a notícia, aguentar a dureza dos tratamentos, sentir cada dia como provavelmente o último da vida. É igualmente doloroso ser ombro de quem sofre, acompanhar e partilhar os passos de quem vê a vida a fugir cada dia que passa. Mas também é uma enorme alegria ver |
o tumor a regredir e a vida a voltar a uma relativa normalidade. As sociedades têm que melhorar a sua capacidade de prevenir e combater os cancros. Tudo o que se puder fazer deve ser feito. Queremos mais qualidade de prevenção, melhor tratamento, mais acompanhamento de familiares e amigos. Os inimigos da nossa saúde não podem ter a única palavra a dizer. Encaremos os problemas, façamos a guerra que for preciso e saiamos vitoriosos neste combate, mesmo quando a doença é mais forte que as pessoas. Quando tudo é feito com competência e amor, a vitória estará sempre do nosso lado. Sempre! |
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