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Paulo Rocha Lígia Silveira 50 anos da morte de João XXIII
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Foto da capa: Agência Ecclesia
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Opinião |
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50 anos da morte
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Francisco e João |
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Paulo Rocha Agência ECCLESIA
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Quando o Papa Francisco foi eleito e saudou a Praça de S. Pedro e todo o mundo em tom franciscano mostrando grande proximidade na linguagem e nos gestos, imediatamente surgiram comparações com o João XXIII. Assinalar 50 anos do falecimento do Papa Roncalli tem oferecido a oportunidade de redescobrir o seu percurso biográfico e os intensos cinco anos de pontificado. Se pelos seus gestos se descobre a bondade e a ternura, pelo que afirmou e pelas decisões que tomou percebe-se a profundidade de pensamento, a competência, a vida espiritual e a religiosidade que o aproxima de todas as pessoas. Características também tão presentes no atual Papa. Entre outros, há dois aspetos, que expressam sintonias entre os dois sucessores de Pedro: a proximidade a todas as pessoas e a opção por uma Igreja pobre. Francisco saúda toda a gente, beija crianças e enfermos com quem se cruza, preside à missa em cada dia com quem deseja participar, no Vaticano, e partilha as refeições com quem está na Casa de Santa Marta. Há 50 anos, no pontificado de João XXIII, o isolamento do Papa seria maior. E mais restrito o contacto com outras pessoas no quotidiano pontifício. A tal ponto que as |
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histórias que rodeiam o seu pontificado, agradavelmente apresentadas nas “Fioretti do Bom Papa João”, falam por exemplo no desagrado que sentia ao ter de respeitar o protocolo e tomar as refeições sozinho: “pareço um seminarista de castigo”, terá desabafado. Para além dos aspetos mais anedóticos – que são muitos – as linhas de força do pontificado de Francisco e João estão muito |
próximas. Nomeadamente na opção pela simplicidade no seu exercício e na proposta de atitudes de pobreza para toda a Igreja. |
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Há cada vez mais portugueses na fila das cantinas sociais © LUSA |
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“O tráfico de pessoas é uma atividade ignóbil, uma vergonha para as nossas sociedades que se dizem civilizadas: exploradores e clientes, a todos os níveis, deveriam fazer um sério exame de consciência diante de si e diante de Deus”. Papa Francisco, 24.05.13
“É urgente que se mude a opção que tem sido seguida de austeridade, e passar para uma lógica de investimento na atividade económica e no desenvolvimento do emprego, com sobriedade. Hoje já é tarde mas amanhã provavelmente será demasiado tarde”. Padre Lino Maia, presidente da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade Social, 29.05.13
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“Reformar não é cortar, reformar é tornar o Estado melhor (…) O meu modelo de Estado é o que a Constituição permite, o modelo social europeu do qual nos devemos orgulhar tem de ser reformado para ser preservado”. Paulo Portas, ministro do Estado e dos Negócios Estrangeiros, Público, 29.05.13
“Nós em Portugal já estamos todos assim muito consonantes de que é dispensável a conjugação masculino-feminino quer no que diz respeito ao casamento quer no que diz respeito à adoção. Eu não vejo que haja consenso em relação a este ponto, isto não é um ponto acessório”, D. Manuel Clemente, novo patriarca de Lisboa, Rádio Renascença, 30.05.13 |
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Igreja atenta ao mundo da saúde |
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O coordenador nacional da Pastoral da Saúde, monsenhor Vítor Feytor Pinto, disse em Fátima que a Igreja Católica deve promover uma atitude de “proximidade” e atenção em relação aos doentes, no momento de crise que se vive em Portugal. “É fundamental dar atenção total à saúde dos cidadãos”, disse o responsável à Agência ECCLESIA, no início do 25.º Encontro Nacional da Pastoral da Saúde, que decorre até sexta-feira, para analisar o tema ‘A Arte de Cuidar’. O sacerdote sustenta que se tem vindo a dar “mais atenção à parte económica do que à salvação efetiva da pessoa humana”. Para monsenhor Feytor Pinto é necessário atender às “crises” que atingem as pessoas na sua doença, com competência “técnica, ética, de comunicação e de compaixão”. “Mesmo quando o doente tem uma doença crónica ou uma doença |
terminal, que já não pode curar-se, temos de o tratar com tanta ternura, com tanta atenção, que ele se sinta sereno, realizado, feliz”, precisa. O encontro é promovido pela Comissão Nacional da Pastoral da Saúde e contou com a presença do ministro da Saúde, Paulo Macedo, na sessão de abertura. O responsável afirmou que a Igreja Católica e o Estado têm mantido uma colaboração “importante” no setor, em todo o país. “Tem havido contributos muito concretos em ações muito específicas, como no apelo à dádiva de sangue, no trabalho junto dos idosos”, referiu Paulo Macedo. D. Jorge Ortiga, arcebispo de Braga e presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Humana, apelou à "corresponsabilidade" neste setor, que "torne viva a vida dos mais desamparados", numa ação "diária, concertada". A pastoral da saúde, acrescentou, |
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deve ser "uma verdadeira arte, que não aceita amadorismos". Maria Barroso, presidente do Conselho de Administração da ONGD Pro Dignitate - Fundação de Direitos Humanos, disse à Agência ECCLESIA que o cuidado com quem sofre é uma “obrigação”, sobretudo nos momentos “muito difíceis” que se vivem em Portugal e noutras partes do mundo. |
“Temos de cuidar dos outros”, apela. Médicos, enfermeiros, capelães hospitalares e responsáveis da pastoral da saúde são os conferencistas convidados para quatro dias de estudo e reflexão, anuncia o programa do encontro publicado na página da internet da Comissão Nacional da Pastoral da Saúde. |
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Escutismo, 90 anos de atualidade |
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O chefe nacional do escutismo católico em Portugal considera que o movimento mantém a capacidade de “dar respostas” com que nasceu, assinalando os 90 anos de presença no país com uma mensagem de esperança no futuro. “O movimento surgiu para dar respostas”, refere Carlos Alberto Pereira, responsável máximo pelo Corpo Nacional de Escutas (CNE) - Escutismo Católico Português, que esta segunda-feira celebrou o seu 90.º aniversário, em entrevista à Agência ECCLESIA e ao programa ‘Ser Igreja’, da Arquidiocese de Braga. Segundo este responsável, essa preocupação “ainda se justifica mais” atualmente, dado que a sociedade “está muito materializada, muito relativizada” e a enfrentar “uma mudança de paradigma muito grande”, por causa da globalização. Carlos Alberto Pereira aponta, entre as prioridades para o futuro o desenvolvimento de uma proposta educativa de “integração”, que inclua adultos com deficiência mental, projeto em fase “experimental”, |
na área de Guimarães. O atual chefe nacional destaca a importância do escutismo como “o maior movimento de educação não-formal” e lembra as suas ligações, em Portugal, à Igreja Católica, dado que visa “a construção da cidadania, à luz do Evangelho”. Esses valores cristãos são transmitidos na promoção de experiências, adequadas a cada idade, de “entreajuda, solidariedade, autonomia, responsabilidade, vivência e testemunho da fé”. O CNE nasceu em Braga a 27 de maio de 1923 pelas mãos do arcebispo local, D. Manuel Vieira de Matos, e do monsenhor Avelino Gonçalves. |
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Diocese de Coimbra viveu dias de festa |
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O bispo de Coimbra, D. Virgílio Antunes, disse aos finalistas da Universidade local para apostarem na “diferença”, rejeitando o que agora criticam. Na celebração de bênção das pastas dos universitários, na Sé local, mais de 2000 alunos das várias faculdades foram desafiados a rejeitarem a resignação, apesar das "dificuldades" em que terminam os cursos. “Enquanto futuros obreiros e construtores da sociedade portuguesa, não vos resigneis a prolongar aquilo que agora criticais e que, objetivamente, não serve o bem e a felicidade de todos”, disse o bispo diocesano. D. Virgílio Antunes reconheceu que os cursos dos universitários chegam ao fim em circunstâncias “portadoras de acrescidas dificuldades” e que os finalistas são “enviados para um mundo marcado por uma luta feroz pela conquista do trabalho”. “Apostais na diferença no que diz respeito à prática da justiça, à honestidade, ao serviço na atividade política”, disse o prelado. A bênção das pastas aconteceu na Sé Nova de Coimbra em duas |
celebrações: no domingo foram os finalistas das Faculdades da Universidade de Coimbra e este sábado os dos Politécnicos e Universidades Privadas. Nesta última celebração, D. Virgílio Antunes deixou uma palavra de esperança após a "etapa vencida com muito trabalho, algumas apreensões e porventura desilusões". O bispo de Coimbra desafiou ainda os católicos da diocese a prestarem maior atenção a quem está longe da Igreja para superar a distância “entre a multidão das cidades e a fé em Cristo”. “Há uma grande distância entre o que move o mundo e a mensagem do Evangelho”, disse D. Virgílio Antunes na homilia da missa a que presidiu na Sé Nova no Dia da Igreja Diocesana. |
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Fazer da cidadania na União Europeia
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A Europa é uma comunidade humana pluralista e admite uma grande diversidade do ponto de vista religioso e social. O seu perfil continental (do Atlântico aos Urais e do Mediterrâneo ao Mar do Norte), no entanto, apresenta uma marca religiosa e original que é muito distintiva. Dentro dos atuais confins naturais da Europa encontramos contributos civilizacionais, culturais e religiosos de várias origens: a herança greco-latina; os antigos mundos germânicos, celtas e eslavos; os contributos judaicos, árabes e islâmicos e outros legados mais recentes, vindos dos povos fora da Europa com os quais estivemos primeiro em contacto ou que entraram em contacto connosco num estádio posterior. É contudo inegável que esta geografia tem a sua base nas várias missões continentais que, após a queda do Império Romano do Ocidente (476), têm sucessivamente integrado os vários povos do continente na |
‘Cristandade’ medieval. Isto veio a acontecer desde a conversão dos Francos ao Cristianismo (século V) até à dos Russos (século X). Este Cristianismo não era uma realidade unívoca, tanto internamente (a cisão entre gregos e latinos no século X, entre católicos e protestantes no século XVI…) como nas relações com outras crenças, dentro e fora do continente e ao longo das várias eras. Na verdade, houve períodos de abertura e inclusão e houve outros períodos fechados e de exclusão. Não obstante, a fundação cristã da Europa tal como a conhecemos, deixou-nos com uma característica fundamental, tão inovadora que só gradualmente prevaleceu entre os próprios cristãos: a distinção entre os campos político e religioso, baseada na atitude e nas palavras do fundador do próprio Cristianismo, ‘Dai a César o que é de César e dai a Deus o que é de Deus’. Este princípio dá liberdade ao |
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Estado e liberdade à crença religiosa, ao mesmo tempo que reconhece a ordem específica de cada um e a desejável colaboração mútua em tudo o que diga respeito ao serviço da dignidade dos cidadãos, crentes ou não. Portanto, a coexistência democrática e pluralista sai fortalecida numa Europa a que todos pertençam, sem desvalorização do lugar de cada um, seja uma pessoa ou um grupo |
religioso ou sociocultural. Nisto reside um ‘espírito’ europeu que é importante reforçar, para benefício dos antigos e dos novos habitantes do continente. Mesmo aqueles cujas crenças não distinguem os dois domínios acima referidos irão beneficiar muito com isso.
D. Manuel Clemente Bruxelas, 30 de maio de 2013 |
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Gratuidade em tempos de crise |
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Lígia Silveira, Agência ECCLESIA |
A gratuidade faz parte da vida diária mesmo quando o olhar está distraído. Ocasionalmente esse sono é desperto por um encontrão que nos sacode em lugares inesperados.
- A fila para a caixa do supermercado está lenta. À minha frente um carro com compras mas sem dono parece demorar o que parecia simples. Finalmente chega o responsável pelo impasse para pagar e traz ainda uma embalagem de fraldas na mão. Pergunta se é esse o tamanho. Voltou atrás para trocar uma embalagem com a medida adequada para a criança que leva ao colo, penso. A fila parece retomar o seu ritmo normal. Reparo que ao seu lado está um homem de origem de leste com constantes «obrigado». Já a pôr as compras dentro dos sacos, fraldas incluídas, emociona-se. Pega na mão do senhor que continua com a criança ao colo e chora.O senhor paga as compras com o seu cartão de crédito e entrega-as na totalidade ao homem que emocionado não consegue dizer mais nada. |
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«Obrigada». «Não se preocupe, vá é para casa para pôr a carne no frigorífico se não estraga-se». - Em busca de silêncio e repouso rumo a Sortelha, aldeia histórica do concelho de Sabugal, numa estrada ladeada a verde com odores a urze e pinheiro. Quilómetros a subir, entre curvas e contra curvas, compensa a vista bela e descansada que se tem alcançando as muralhas desta localidade desenhada a granito e tons da natureza. Passeia-se pelas ruas estreitas, descobrem-se becos, imaginam-se pequenas divisões por detrás das casas de pedra que agora brilham ao sol. Tudo isto é um convite a descobrir.Diz quem ali mora que os cadernos de recenseamento estão errados – não são 444 habitantes mas sim metade a |
não deixar que a povoação se transforme em aldeia morta, recebendo turistas, mantendo vivas as tradições e o artesanato local. Quem sai do asfalto e entra pelas ruas de paralelos vai ao encontro de um Portugal que encontra a beleza dos dias nas conversas entre estranhos que se fazem amigos e no crescer de morangos à soleira da porta. «Esta tranquilidade não se paga». Sair do asfalto é também sair de dentro de nós e da rotina confortável para descobrir a gratuidade que se apresenta à frente sem hora marcada. |
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João XXIII |
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O Papa João XXIII nasceu no dia 25 de novembro de 1881 em Sotto il Monte, diocese e província de Bérgamo (Itália), e nesse mesmo dia foi batizado com o nome de Angelo Giuseppe; foi o quarto de 13 irmãos, nascidos numa família de camponeses. Entrou no Seminário de Bérgamo, onde estudou até ao segundo ano de teologia. Ali começou a redigir os seus escritos espirituais, que depois foram recolhidos no ‘Diário da alma’. No dia 1 de março de 1896, o seu diretor espiritual admitiu-o na ordem franciscana secular, cuja regra professou a 23 de maio de 1897. De 1901 a 1905 foi aluno do Pontifício Seminário Romano, graças a uma bolsa de estudos da diocese de Bérgamo. Neste tempo prestou, além disso, um ano de serviço militar. Recebeu a Ordenação sacerdotal a 10 de agosto de 1904, em Roma, e no ano seguinte foi nomeado secretário do novo Bispo de Bérgamo, D. Giacomo Maria R. Tedeschi. Em 1915, quando a Itália entrou em guerra, foi chamado |
como sargento sanitário e nomeado capelão militar dos soldados feridos que regressavam da linha de combate. No fim da guerra abriu a "Casa do estudante" e trabalhou na pastoral dos jovens estudantes. Em 1919 foi nomeado diretor espiritual do Seminário. Em 1921 teve início a segunda parte da sua vida, dedicada ao serviço da Igreja. Tendo sido chamado a Roma por Bento XV como presidente nacional do Conselho das Obras Pontifícias para a Propagação da Fé, percorreu muitas dioceses da Itália organizando círculos missionários. Em 1925, Pio XI nomeou-o Visitador Apostólico para a Bulgária e elevou-o à dignidade episcopal da Sede titular de Areopolis. Tendo recebido a ordenação episcopal a 19 de março de 1925, em Roma, iniciou o seu ministério na Bulgária, onde permaneceu até 1935, quando foi nomeado Delegado Apostólico na Turquia e Grécia. Quando irrompeu a II Guerra Mundial, encontrava-se na Grécia, que ficou |
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devastada pelos combates. Procurou dar notícias sobre os prisioneiros de guerra e salvou muitos judeus com a "permissão de trânsito" fornecida pela Delegação Apostólica. Em 1944 Pio XII nomeou-o Núncio Apostólico em Paris. Em 1953 foi criado cardeal e enviado para Veneza como patriarca; depois da morte de Pio XII, foi eleito Papa a 28 de outubro de 1958 e assumiu o nome de João XXIII. Convocou o Sínodo romano, instituiu uma Comissão para a revisão do Código de Direito Canónico e convocou o Concílio Ecuménico Vaticano II.
Faleceu na tarde do dia 3 de junho de 1963 e seria beatificado em setembro de 2000. “Do Papa João permanece na memória de todos a imagem de um rosto sorridente e de dois braços
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Passos da vida de João XXIII
O historiador António Matos Ferreira apresenta os principais momentos da vida do Papa João XXIII. Do sacerdócio aos cinco anos de pontificado, o testamento do Papa Roncalli aos olhos do diretor do Centro de Estudos de História Religiosa da Universidade católica Portuguesa. |
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Agência ECCLESIA – Onde encontramos os fundamentos da vocação sacerdotal de Angelo Roncalli? António Matos Ferreira – Angelo Roncalli nasce num quadro rural cujo quotidiano temos hoje dificuldade em imaginar como seria. No contexto de uma grande vivência religiosa, era normal que alguma das crianças de uma família numerosa entrasse no seminário. No entanto, do ponto de vista historiográfico, tem-se a ideia de que a experiência de ser padre foi para ele alguma coisa muito importante. |
A Itália de onde ele era proveniente, onde nasce em 1881, tinha acabado de ser reunificada politicamente e o processo de industrialização em curso e as grandes diferenças que existiam no mundo rural faziam com que as questões sociais marcassem a ida de muitos jovens como ele para a vida sacerdotal e depois como encaravam o ser padre. Estamos certamente diante de uma vocação que tem a ver com um todo: a sua vida, o seu ambiente familiar, etc. |
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AE – Com sacerdote, cedo se distinguiu, nomeadamente pelo facto de ter sido secretário do arcebispo de Bérgamo. AMF – Angelo Roncalli tinha uma grande formação, não era só uma pessoa simples. Desde cedo adquiriu uma característica que no final do séc. XIX é relevante: a importância que o clero e muitos bispos dão ao que designamos por Movimento Católico, a consciência de que havia de se formar uma identidade católica significativa e interveniente na sociedade. Não posso dizer que ele seja o exemplo típico do padre do Movimento Católico, mas desde cedo está ligado a essa ambiência.
AE – Como viveu os tempos em que foi capelão militar, durante a I Grande Guerra? AMF – Para toda a Europa, e nomeadamente para a Itália, a I Grande Guerra foi um grande traumatismo humano e existencial. Roncalli, como outros padres que foram para a frente da batalha não |
para lutar mas para assistir os feridos, ficou muito marcado pela experiência do sem sentido da guerra. Há uma perceção da guerra como uma carnificina que não tem sentido.
AE - Em 1921 é chamado ao Vaticano para presidir às Obras Pontifícias para a Propagação da Fé. Como se adaptou a um novo ambiente e a um novo serviço? AMF – Chamá-lo para Cúria para desempenhar esse tipo de funções significa que localmente era visto como uma pessoa com capacidades. Inaugura aí um percurso relevante, ocupando um dicastério que é muito importante. Nessa época, a Obras Pontifícias para a Propagação da Fé permitem-lhe tomar contacto com todos os problemas relacionados com a presença do catolicismo em muitas partes do mundo. Há outro aspeto a ter em conta: nessa época na América Latina está a fazer-se o trânsito das igrejas dependentes da Propaganda Fidei para a autonomia da Igreja Latino-americana. O que é formativo, educativo, para a pessoa. |
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AE – Que relevância teve o seu percurso diplomático? AMF – Ele tem uma experiência diplomática numa diversidade de países, no contexto do desencadear e o decorrer da II Guerra Mundial. E tem de gerir questões relacionadas com o surgimento das migrações judaicas para a Palestina, o problema do mundo muçulmano, das comunidades cristãs minoritárias e a necessidade de conhecer as comunidades ortodoxas. A aproximação a novas realidades mostra que a sua personalidade não pode ser vista apenas como uma pessoa boa. Roncalli tem experiências de vida e conhece o mundo dessa época. Era um homem do terreno, para além de ser de uma grande espiritualidade. O núncio Roncalli vai ser particularmente sensível ao problema de alcançar a paz, do desastre humano que a guerra cria, do problema judaico e do Holocausto e entra em contacto com uma zona que depois, em parte, irá fazer parte do bloco comunista. |
A aprendizagem que faz é grande, marcada pela relação entre situações duras e complexas e a sua espiritualidade.
AE – Como enquadrar a sua nomeação para Patriarca de Veneza? AMF – Ainda antes foi nomeado Núncio em França, onde desempenhou um papel importante, tendo estado no trabalho de pacificação e de reorganização da Igreja Católica em França após a II Guerra Mundial. Conhece figuras de grande relevo do mundo político da época e também do mundo católico, que terão grande protagonismo nomeadamente no II Concílio do Vaticano. Aí acompanha o surgimento da UNESCO, onde nessa época se fazem grandes debates sobre a problemática inter-religiosa. A experiência francesa e o facto de ter corrido bem dá-lhe um estatuto que o leva a patriarca de Veneza, que era um lugar de destaque na Igreja italiana.
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AE – Depois é eleito Papa para um pontificado que durou apenas cinco anos… AMF – Por isso costumamos dizer que é um curto pontificado, porque habituados a outros mais longos… Havia uma consciência de que era necessário lidar com realidades novas, como por exemplo a televisão. João XXIII é o Papa da televisão. É um homem que tem consciência desse novo mundo e é escolhido não tão gratuitamente como as pessoas pensam. É alguém que não tendo feito um percurso na Cúria não estava |
completamente fora. Acaba por ser uma eleição de consenso, após o longo pontificado de Pio XII. João XXIII encarna a necessidade de uma transição geracional, que depois se vai consolidar com Paulo VI. Foi um Papa que desencadeou processos de mudança importantes no interior do catolicismo.
AE – Porque terá escolhido o nome de João XXIII? AMF – João XXIII é o nome de um Papa que já tinha existido, considerado não |
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legítimo, eleito no Concílio de Pisa aquando da crise de Avinhão. Diz-se que João XXIII quis por fim a essa polémica: não contava com esse Papa e assumia esse nome. Eu creio que escolheu também porque era sensível ao cristianismo do Oriente e por isso bastante joanino. Evoca a dimensão apostólica da tradição joanina. |
AE – A convocação do Concílio Vaticano II é a grande marca do seu pontificado? AMF – Quando João XXIII convoca o Concílio, muito provavelmente considerava que facilmente se resolviam os problemas. Mas isso não aconteceu. O que torna João XXIII uma figura chave é que ele decide não concluir o Concílio, mas mantê-lo aberto. |
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Após a primeira sessão volta a convocar uma segunda sessão. Mantem o Concílio aberto, mostrando que aceitou o repto de fazer dos cinco anos do Concílio um intenso período de formação do episcopado, como consideram alguns historiadores. Muitos bispos chegaram ao Concílio sem saber o que deveriam fazer! O que aconteceu, sobretudo depois da morte de João XXIII, é que o Concílio foi uma oportunidade de renovação única do episcopado, pelos contactos, pelas conferências, as intervenções dos teólogos, o que tinham de fazer e o que se davam conta do que não sabiam fazer. Nesta época, tinham-se alterado profundamente os meios de comunicação. Hoje ainda se podem ver as imagens que mostram a emoção vivida no funeral de João XIII, que foi transmitido em direto pelas televisões.
AE – A bondade é a característica principal da personalidade de João XXIII? AMF – A bondade é o que sustenta o mundo. Mas a bondade sem |
competência não é suficiente. Como a competência sem bondade também não. João XXIII era um homem bom, com uma grande espiritualidade, uma grande confiança em Deus e sensível a uma religiosidade popular e mariana. Mas soube ao mesmo tempo ligar-se a bons colaboradores. Ele é o exemplo de um Papa que, apesar das circunstâncias da Cúria Romana em que viveu, soube mobilizar as pessoas, nomeadamente através do Concílio, que considerou como uma oportunidade de abrir as janelas da Igreja ao mundo. |
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D. Manuel Clemente
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O pontificado de João XXIII, Angelo Giuseppe Roncalli, é visto pelo novo patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, como “cinco anos marcantes”, que “resumiram e ofereceram à Igreja e ao mundo muitas décadas de uma vida providencial”. Em entrevista à ECCLESIA, o bispo e especialista em História da Igreja passa em revista alguns dos traços essenciais do Papa que convocou o Concílio Vaticano II.
Diplomacia Igreja Roncalli passou por todas as fronteiras onde tinha de passar. Começa como representante da Santa Sé na Bulgária, fronteira da ortodoxia e nunca mais vai largar a fronteira do Cristianismo oriental. Passa depois para a Turquia, encontra a fronteira com o Islão, durante o período difícil da II Guerra Mundial onde tem um papel importantíssimo, semelhante ao de Aristides de Sousa Mendes, na ajuda a |
muitos judeus a fugir através da Turquia para Israel. Segue depois para Paris e encontra a fronteira da modernidade nos anos 40 e 50. Roncalli absorve tudo o que é novo e vai prometendo, interrogando a sociedade e a Igreja que existia até aí. Surgem depois os anos felizes como patriarca de Veneza, nos anos 50, concretiza o contacto com a Igreja local a que tinha aspirado.
Papa e Concílio Entre 1958 e 1963 acontece o seu pontificado, onde ele tem a intuição de uma Igreja que tem de incorporar o que foi a sua própria vivência nas várias fronteiras da Cristandade, também com o mundo islâmico e, sobretudo, com um mundo diferente do pós-guerra, que ele tinha absorvido muito nos seus tempos da nunciatura em Paris. Ele vai agora proporcionar à Igreja esses reencontros consigo próprio e com o mundo contemporâneo. |
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Essa enorme intuição e inspiração é a base do Concílio. Ele esteve apenas na primeira parte, segue após a sua morte a 1963, mas com Paulo VI que captou a intuição de João XXIII, continuou até ao que temos hoje para cumprir que é a receção do Concílio Vaticano II.
Personalidade Quando foi publicado o seu diário, o ‘Diário da Alma’, as pessoas ficaram muito espantadas porque descobriram uma vida que, tendo passado por |
tantos lugares, e sempre muito prática para resolver problemas e encontrar ambientes inesperados, era uma vida que por dentro se mantinha uma só: muito densa, muito centrada na pessoa de Jesus Cristo, na devoção a Maria, a José, uma vida muito segura por dentro. E é isso que nos permite perceber depois como a segurança interior o abalança para colocar toda a Igreja numa atitude de mudança, de renovação e ‘aggiornamento’. |
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João XXIII:
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Ângelo Roncalli, Sacerdote, Diplomata, Bispo, Papa, evidencia-se pela humildade, amor ao diálogo, amor a Cristo, à Igreja e à humanidade inteira. Nasceu em 1881 em Sotto il Monte, Bergamo. Em 1904 iniciou a sua missão sacerdotal em Bérgamo, professor no Seminário, secretário do bispo e capelão do exército durante a primeira Guerra Mundial. Iniciou a sua carreira diplomática como Visitador Apostólico na Bulgária, de 1925 a 1935, como Delegado Apostólico na Grécia e Turquia, de 1935 a 1944, e como Núncio Apostólico na França, de 1944 a 1953. Sobressaiu pela sua capacidade conciliadora, pelo seu interesse ecuménico, sinceridade e coragem, manifestada em salvar a vida a judeus durante a Segunda Guerra Mundial. Em 1953 foi nomeado Patriarca da diocese de Veneza. No dia 28 de outubro de 1958 foi eleito Papa. Convocou o Concilio Vaticano II para explicar a doutrina da Igreja ao mundo atual e publicou oito encíclicas, de grande valor como a Mater et Magistra e a Pacem in Terris. A vida diplomática, em diversos países, enriqueceu naturalmente
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os dotes de Ângelo Roncalli e o seu modo de atuar. Sobre a humildade dizia: “o que se faz não é para causar bela figura, mas para obedecer a Deus”, somos todos filhos de Deus; sobre o amor ao diálogo: “abrir-se ao diálogo… risco para muitos inaceitável… alimenta a possibilidade da paz universal, da fraternidade entre os homens”; sobre o amor a Cristo, à Igreja e à humanidade inteira, defendia uma atuação não para fazer-se ver, mas para levar a todos a paz própria dos filhos de Deus. No dia 24 de junho de 2012 presidi a festa patronal da paróquia de São João Batista da arquidiocese de Bérgamo e, no dia seguinte, ao visitar a casa dos pais do Papa João XXIII, notei uma fotografia junto a uma carta escrita à mão. Aproximei-me e li: Queridos pais, celebrei 50 anos de sacerdote e não vos escrevi porque o tempo não me permitiu, mas quero dizer-vos que li muitos livros mas o melhor da minha vida foi o vosso, foi o que aprendi convosco em casa. A família é a melhor escola.
Cardeal Manuel Monteiro de Castro Penitenciário-Mor da Santa Sé |
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Diário de uma alma |
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Octávio Carmo Agência ECCLESIA |
“Nascido pobre, mas de gente honrada e humilde, fico particularmente feliz por morrer pobre, tendo distribuído segundo as várias exigências e circunstâncias da minha vida simples e modesta, ao serviço dos pobres e da santa Igreja que me alimentou, tudo quanto me chegou às mãos”. O testamento espiritual de João XXIII sintetiza o percurso do homem nascido numa pequena localidade italiana que viria a ser providencial para a Igreja Católica na delicada situação do pós-guerra e da Guerra Fria. Um diplomata sensível, aberto sobre o mundo, que transportou para a sua missão como patriarca de Veneza e depois como Papa tudo quanto observou, aprendeu e rezou. Um percurso que ficou registado para a posteridade no seu “Diário da Alma”, que começou a escrever ainda no seminário de Bérgamo e que documenta, passo a passo, o testemunho deste “servo dos servos de Deus”, cuja família era “o mundo inteiro”. O diário regista alegrias e tristezas, diálogos com Deus e com os homens, muito diferentes entre si. Recordo sempre a passagem em que o Papa, então ao serviço diplomático da Santa Sé na Turquia, se confessa comovido ao contemplar o Bósforo, onde os pescadores turcos juntavam os barcos durante toda a noite, com archotes, a trabalhar. O “espetáculo”, como lhe chamava, falava a quem tinha sido chamado por Jesus a ser “pescador de homens”, e era apresentado como exemplo |
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de zelo, de dedicação e de esforço. Era assim, das coisas mais simples, que Angelo Roncalli tirava as maiores lições. Após a sua eleição pontifícia, escrevia que tinha de “aceitar com simplicidade a honra e o peso do pontificado, com a alegria de nada ter feito para o provocar, mesmo nada”. O mesmo diário revela, por exemplo, que a ideia do Concílio Vaticano II surgiu como “a flor espontânea de uma primavera inesperada” e não como “fruto de uma meditação prolongada”. |
“O primeiro a ficar surpreendido com esta proposta fui eu mesmo, sem que ninguém me desse qualquer indicação a esse respeito. Depois, tudo me pareceu natural no seu imediato e contínuo desenvolvimento”, escreveu. O ‘Papa bom’ confiou à Igreja um verdadeiro testamento, no qual mostra o que sempre orientou a sua existência: "O que tem mais valor na vida é Jesus Cristo bendito, a sua Santa Igreja, o seu Evangelho, a verdade e a bondade". Uma lição que não se apaga. |
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Um Papa que rompeu fronteiras |
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Manuela Silva, economista e antiga presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz, recorda o Papa João XXIII como uma personalidade que deve ser recordada pela sua “bondade”, mas também “por outros atributos", por ter sido alguém que “rompeu fronteiras” e “rasgou horizontes”. Sendo alguém que vinha de um meio pobre, de uma pequena terra, apresentou-se ao mundo como um Papa “humilde” e uma pessoa “que dialogava muito bem com o povo”, o que lhe granjeou grande popularidade. |
“Era também uma pessoa que gostava de fazer pontes”, acrescenta. A experiência nas duas Guerras Mundiais, em particular no contacto com os judeus perseguidos pelo regime nazi, e o percurso diplomático ao serviço da Santa Sé, permitiram a Angelo Roncalli contactar “o mundo real” do seu tempo. Manuela Silva destaca, por isso, a “grande abertura” na relação da Igreja com a modernidade, “valorizando o mundo e as realidades terrenas” e vencendo “divisões religiosas”. A especialista observa ainda que o |
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Papa italiano foi alguém atento aos “problemas do subdesenvolvimento” e da clivagem Norte-Sul, pelo que apelou a uma “maior cooperação”. Para a economista, que integra o Grupo Economia e Sociedade – ‘ao serviço de um desenvolvimento humano e sustentável’ -, João XXIII contribuiu para a transformação da Igreja e da sociedade, num “contexto muito particular”, de Guerra Fria e outras tensões. Neste sentido, destaca os princípios orientadores do Papa na encíclica ‘Mater et Magistra’, onde procura “motivar as comunidades cristãs para olharem a realidade e procurarem respostas”, com incidência económica e política, tentando “colocar a Igreja |
em prontidão”. “Ele tem nos seus diários uma expressão muito interessante: importa estar sempre em sentido de prontidão face ao surpreendente. Isso mostra como ele era um homem de grande abertura de espírito, de grande espiritualidade”, assinala Manuel Silva. Outra encíclica, a ‘Pacem in Terris’, é publicada após o início do Concílio Vaticano II (1962-1965), “mostrando como a paz é um bem universal”, e dirige-se pela primeira vez não só para dentro da Igreja, mas também aos “homens de boa vontade”. “O próprio mundo começa a interessar-se pela palavra que vem do Papa”, recorda. |
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Catequese aproxima
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É com excitação que Leonor Rodrigues, de oito anos, recorda o momento em que vestiu o mesmo vestido que a sua irmã Cecília usou no dia da sua primeira comunhão. “Ela desde pequena que vem connosco às celebrações e participa no canto, nas orações mas não podia comungar”, explica à Agência ECCLESIA, Maria Fernanda Rodrigues, catequista há 31 anos na Paróquia de São Julião, Patriarcado de Lisboa, e mãe da Leonor que recentemente celebrou a primeira comunhão, celebração religiosa em que os participantes recebem pela primeira vez a hóstia consagrada que os cristãos acreditam ser o corpo de Jesus. A pequena Leonor, no terceiro ano da catequese, fala num momento de “grande alegria” pela consciência da “etapa muito grande na vida cristã” que estava a viver e recorda, após a comunhão, ter regressado ao seu lugar na igreja para “rezar e pedir por alguém que precise muito”. Semelhante sentimento |
teve Maria Viana Machado quando depois de receber a primeira comunhão, na paróquia de Oeiras, regressou ao seu lugar para “agradecer a Deus” por lhe ter dado uma “proteção que é ainda mais forte”. “A seguir à primeira comunhão quero continuar, porque quero conhecer mais Jesus e as suas histórias, indo à missa sentindo mais o que ele nos quer transmitir e também porque me sinto mais próxima dele”, explica perante o olhar dos pais Gonçalo e Alexandra Viana Machado que desde cedo procuraram que os seus filhos, Maria e António, recebessem valores cristãos na sua formação. A importância da vivência familiar na formação catequética das crianças é percetível também nas declarações do pároco de Moscavide, José Fernando Ferreira, que no próximo domingo vai dar a primeira comunhão a 30 crianças. “Muitos pais afastaram-se da Igreja em pequenos mas regressam para pedir a catequese |
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para os seus filhos e acabam por ser mesmo eles a receber formação”, traduz o sacerdote que nesta comunidade do patriarcado de Lisboa tem recebido pedidos de pais que se querem casar pela Igreja “porque acabam evangelizados pelos seus filhos”. O diácono permanente João Jerónimo, destacado para o apoio à Paróquia de Carcavelos e responsável pela equipa que coordena a catequese nesta comunidade diz que quem não investir na formação dos mais pequenos vai “envelhecer |
e ficar estéril”. O acolhimento é a palavra-chave no regresso de Raquel Dias à Igreja, depois de 20 anos afastada da fé. “Fui desafiada pela minha irmã para participar na celebração das bem-aventuranças da sobrinha, resolvi ir e, ao contrário do que eu me lembrava, a homilia do sacerdote era mais virada para o amor e para a esperança”, explica. Ao longo desta semana o programa ECCLESIA na Antena 1 da rádio pública (22h45) tem vindo a dar conta das dinâmicas paroquiais a partir das festas da Catequese. |
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Liberdade religiosa em risco |
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O representante da Santa Sé no Conselho dos Direitos Humanos da ONU denunciou na sede deste organismo a morte de mais de 100 mil cristãos, todos os anos, por causa da falta de liberdade religiosa no mundo. “Pesquisas credíveis chegaram à conclusão chocante de que mais de 100 mil cristãos são mortos violentamente todos os anos por causa da sua fé”, disse o arcebispo Silvano Tomasi em Genebra, Suíça, na 23.ª sessão do referido conselho, intervenção enviada à Agência ECCLESIA. O observador permanente da Santa Sé lembrou os cristãos e crentes de outras religiões “sujeitos a migrações forçadas, à destruição dos seus locais de culto, violações e sequestros dos seus líderes”, como aconteceu a 22 de abril na cidade síria de Alepo, com os bispos ortodoxos Yohanna Ibrahim e Boulos Yaziji. “As sérias violações do direito à liberdade religiosa, em geral, e a recente discriminação contínua e ataques sistemáticos contra |
comunidades cristãs preocupam seriamente a Santa Sé e muitos governos democráticos cuja população abrange várias culturas religiosas e culturais”, disse. O Vaticano publicou, por outro lado, a intervenção do bispo Mario Toso, secretário do Conselho Pontifício Justiça e Paz, numa conferência sobre tolerância e não discriminação promovida pela Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE). O prelado disse que “os episódios de intolerância e discriminação contra os cristãos” em vários estados da OSCE “não só não diminuíram como aumentaram, apesar de numerosas reuniões e conferências sobre o tema”. O jornalista e investigador em Ciência das Religiões Joaquim Franco recebeu em Lisboa o prémio “Consciência e Liberdade” 2013, promovido pela Associação Internacional para a Defesa da Liberdade Religiosa. Em entrevista à Agência ECCLESIA, o autor sustenta |
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que o “elevado potencial” da religião, não só em termos espirituais mas também relacionais e comunitários, em ordem ao bem comum, está a ser hoje posto em causa das mais diversas formas. Já o prémio da Comissão da Liberdade Religiosa, atribuído a Rui Pedro Rodrigues Vasconcelos, vai ser entregue esta sexta-feira, na Fundação Calouste |
Gulbenkian, em Lisboa, pelo seu trabalho «A Declaração Dignitatis Humanae: A visão católica da Liberdade Religiosa no II Concílio Vaticano». Considerando a relevância do tema e a qualidade do texto como reflexão filosófica, o júri decidiu ainda fazer menção honrosa ao trabalho «Como distinguir o uso e abuso da Liberdade Religiosa» da autoria de Jorge Teixeira da Cunha. |
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Cáritas pede futuro sem fome |
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A Cáritas Portuguesa e as suas congéneres da Europa lançaram um apelo conjunto em favor de uma agenda comunitária contra a fome e a pobreza, tendo em vista o quadro pós-Objetivos de Desenvolvimento do Milénio, estabelecidos pela ONU. “Representantes e responsáveis de 49 organizações da Cáritas na Europa, entre elas a Cáritas Portuguesa, solicitam ao Conselho Europeu que mostre um compromisso claro no combate a pobreza em todo o mundo”, assinala a instituição católica, em comunicado. O apelo foi lançado por ocasião da reunião do Conselho de Relações Externas do Conselho Europeu, pedindo um “futuro sem fome”. Os responsáveis da Cáritas insistem para que a União Europeia “mostre responsabilidade no combate à pobreza”. "A fome e a má nutrição são as manifestações mais reais e cruéis da pobreza. Portanto, a Cáritas Europa apela à União Europeia para que defenda uma alimentação adequada para todos, como um objetivo |
superior no futuro Quadro de Desenvolvimento”, pode ler-se. A Cáritas Europa propõe uma mudança de paradigma “onde a dignidade humana e o desenvolvimento humano integral, dentro dos limites ambientais, permita aos mais pobres e aos mais desprotegidos e marginalizados participar e viver em sociedade”. A organização católica sublinha ainda que “este é o momento para se definir um reforço da dimensão social” da mesma forma que está a ser feito para outras dimensões, como “a política, económica e financeira”. Com o fim dos Objetivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM) em 2015, defende a Cáritas, “uma nova agenda tem de ser concebida". |
O mártir da Mafia
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O Papa prestou homenagem ao padre Giuseppe Puglisi, sacerdote assassinado pela Mafia siciliana e que no último sábado foi beatificado, perante dezenas de milhares de fiéis, lembrando as redes mafiosas que escravizam e exploram seres humanos. “Penso nas muitas dores, de homens e mulheres, também crianças, que são explorados por tantas máfias, que os exploram obrigando-os a trabalhos que os tornam escravos”, como a prostituição, disse perante os peregrinos reunidos na Praça de São Pedro para a recitação dominical do Angelus, no Vaticano. Segundo Francisco, "por trás destas explorações, |
destas escravidões, estão máfias”, pedindo orações para que Deus “converta o coração destas pessoas”. “Não podem fazer isto, não podem transformar os nossos irmãos em escravos”, advertiu. O Papa falou do padre Puglisi, novo beato da Igreja Católica, como um “sacerdote e mártir”, “exemplar”, particularmente na sua dedicação à “pastoral juvenil”. O padre Pino Puglisi foi um sacerdote diocesano conhecido pelo seu combate à criminalidade organizada, tendo fundado um centro para jovens e meninos da rua, o ‘Centro Padre Nostro’. O novo beato foi assassinado pela mafia a 15 de setembro de 1993, dia do seu 56.º aniversário. |
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Epic - O reino secreto |
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Mary Katherine está empenhada em aprofundar o estudo sobre a lendária existência de um minúsculo povo guerreiro na floresta que rodeia a casa do Pai. IIustre professor, este tenta no entanto demovê-la, argumentando a ausência de prova científica de tal existência até então. O fascínio de Mary Katherine nem assim esmorece e é precisamente ao passear pela floresta que algo extraordinário acontece: ao tocar numa folha, aparentemente simples, um inesperado poder mágico reduz a rapariga a uma escala minúscula. Assim começa uma extraordinária aventura que levará Mary Katherine a
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comprovar a verdadeira existência dos bravos homens-folha, cuja missão é proteger o mundo contra o mal. No caso, contra as investidas de Mandrake e a sua determinação em extinguir a vida na floresta. Uma aventura recheada de peripécias e grandes riscos, em que a amizade, uma esperança inabalável e um forte compromisso com a preservação da natureza se provarão as melhores defesas a estancar o ímpeto de Mandrake. ‘Epic – o Reino Secreto’ é a nova proposta cinematográfica para crianças a povoar as salas de cinema do país. Baseado na obra do escritor, ilustrador e ainda realizador William |
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Joyce, ‘Leaf Men & the Brave Good Bugs’, o filme promete expandir em ampla escala o sucesso já alcançado com o livro. Dotado de uma assinalável qualidade visual, é a ela que o realizador Chris Wedge e restante equipa técnica emprestam a sua experiência, ganha com ‘Idade do Gelo’ e ‘Robôs’. De resto, ‘Epic – o Reino Secreto’ segue a linha dos contos/filmes populares infanto-juvenis, com uma estrutura narrativa próxima da tradicional: de forma linear, com os seus heróis, vilões e adjuvantes; a presença do sobrenatural e da magia; a apresentação de um elemento perturbador da ordem natural que constitui o obstáculo a ser vencido e uma motivação - no caso o imaginário, o fascínio pelo desconhecido e pela, comprovação de uma lenda, para que |
a heroína saia da sua área de conforto primeiro à descoberta, depois numa missão de valor; a presença de valores, ecológicos, a amizade, a cooperação, a defesa do bem comum, a esperança, entre outros, como sustento do objetivo, fim e estratégias para superar o(s) obstáculo(s) ; e, finalmente a superação do grande obstáculo, pela eliminação do elemento perturbador inicialmente exposto. Ainda que no seu argumento ‘Epic – o Reino Secreto’ não traga nada de realmente novo ao muito que o cinema tem dado ao público mais novo, não deixa de ser uma simpática proposta, com muitas pistas para se pensar e trabalhar, em família ou em comunidade (escolar, paroquial ou outra) valores universais. Margarida Ataíde |
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Menos Jovens no Facebook? |
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Recentemente veio a público um estudo elaborado pelo Pew Research Center e por investigadores da Universidade de Harvard, onde as conclusões indicam que “embora o facebook ainda esteja profundamente integrado na vida quotidiana dos adolescentes, é às vezes visto como algo utilitário e como uma obrigação, em vez de uma plataforma nova e entusiasmante”. Mas nos espaços públicos de lazer mais conhecidos tais como cafés, praças, bares, etc. não acontece a mesma coisa? onde estão os adultos, normalmente não estão os jovens!... |
Como defendem alguns especialistas, a internet não é mais do que uma extensão natural do nosso quotidiano, portanto o fenómeno das redes sociais, não é novidade na medida em que as pessoas já se reuniam para falar, partilhar e refletir nos mais diversos ambientes físicos. Agora simplesmente, essa abordagem passou para um ambiente virtual. Assim, temos que entender este fenómeno como sendo um processo normal onde basicamente existe uma recusa de partilha de ambientes entre diferentes gerações. O que nos permite afirmar que: |
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1 - Não é verdade que haja menos pessoas nesta rede. A análise aos dados do número de pessoas presentes no facebook indicam-nos que os números continuam a crescer a um nível não tão forte como anteriormente, mas nos mercados ditos emergentes, do ponto de vista desta rede social, isso não acontece. Isto é, onde há mais potencial de evolução é nos países onde esta rede ainda não se afirmou, o que rebate esta ideia de decréscimo de utilizadores. 2- Rede social démodé. O facebook atualmente para os jovens pode ser visto como uma rede “old-fashion”, visto que os seus pais, avós, tios, professores, claramente mais velhos do que eles, já possuem uma presença nesta rede social. O que a torna num espaço de partilha nada “cool” e muito menos apetecível para os seus posts! 3- Mas realmente os jovens abandonaram o facebook? Ao olharmos para os dados publicados, percebemos que esse abandono não é efetivo. Os jovens continuam a estar nesta rede mas utilizam-na já com |
algum sentido crítico. Isto é, as camadas mais novas utilizam cada vez mais o twitter, o flickr e o instagram, partilhando para o facebook apenas o que querem que seja visto, mantendo o que realmente partilham com os seus colegas dentro das outras redes. Afastando assim da sua vida os olhares da “malta mais velha”! Podemos concluir que o facebook não está em declínio, apenas está a ser utilizado cada vez mais como uma plataforma abrangente, quer ao nível do alargamento das faixas etárias dos seus utilizadores, bem como, do tipo de aplicações que vai suportando (outras redes sociais). Tornando-se numa ferramenta mainstream que consegue agregar apenas numa plataforma o maior repositório de conteúdos pessoais (fotos, vídeos, textos, partilhas, etc.), respondendo às diferentes redes sociais (instagram, twitter, scoop.it, vine, pinrest, etc.). A pergunta que se impõe é: até quando o facebook vai conseguir ser o “Google” das redes sociais?
Fernando Cassola Marques |
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Fontes utilizadas: http://www.internetworldstats.com/facebook.htm |
São Francisco de Assis |
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«Posso dizer (o que significa muito pouco) que São Francisco estava à frente do seu tempo. Haveria muito a dizer sobre o homem que tentou acabar com as Cruzadas, falando com os sarracenos, ou que intercedeu pelos pássaros junto do Imperador. Ou posso tentar fazê-lo, como outros fizeram, quase sem levantar qualquer questão religiosa. Em suma, posso tentar contar a história de um santo sem Deus, o que é como dizer escrever a vida de Fridtjof Nansen (explorador norueguês que chegou primeiro à Gronelândia) e estar proibido de mencionar o Pólo Norte.»
G. K. Chesterton sobre São Francisco Gilbert Keith Chesterton, conhecido como G. K. Chesterton (1874-1936) foi um escritor, poeta, narrador, ensaísta, jornalista, historiador, biógrafo, filósofo, desenhista e conferencista britânico. Depois de O Homem Eterno, Ortodoxia, Tremendas Trivialidades, A Inocência do Padre Brown, O Homem que era Quinta-Feira |
e Disparates do Mundo, já editados pela Alêtheia Editores com grande sucesso, dá-se agora à estampa a biografia de São Francisco de Assis, depois também de já ter publicado recentemente a biografia de São Tomás de Aquino pelo mesmo autor. |
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Francisco: O Papa de todos nós |
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A 13 de março, depois de um Conclave de apenas cinco escrutínios, o mundo conheceu um novo pontífice. Jorge Mário Bergoglio. O primeiro bispo de Roma jesuíta, o primeiro latino-americano, o primeiro a escolher um nome para si, que ao longo da história, nenhum outro papa jamais se atrevera a impor a si próprio: Francisco. A profundidade do seu olhar, a forma como saudou a todos na Praça de São Pedro com um espontâneo «boa noite», o permanecer igual a si próprio, simples, preferindo a sua cruz de ferro ao ouro, recusando a murça e os sapatos vermelhos, passando por cima de protocolos oficiais e o facto de iniciar de forma firme e surpreendente um conjunto de reformas necessárias, tocaram o coração de milhões de fiéis. Na primeira biografia do Papa Francisco, o vaticanista Andrea Tornielli, que teve a oportunidade de, por diversas vezes, privar com Bergoglio, esboça a personalidade de um homem de Deus, filho de imigrantes, humilde e cordial, que fez da radicalidade evangélica e da mensagem da misericórdia os pilares da sua ação pastoral, num país como a Argentina, atormentado por |
desequilíbrios sociais e económicos. No relato de uma vida, das suas palavras e das ideias, dos testemunhos e das recordações pessoais do Papa Francisco, emergem as chaves para a compreensão da novidade de um pastor capaz de encarnar as necessidades de renovação desde há muito presentes na Igreja universal.
Francisco: O Papa de Todos Nós de Andrea Tornielli Edição/reimpressão: 2013 Páginas: 184 Editor: A Esfera dos Livros |
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João XXIII: Um Papa que sacudiu
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Quando se completam os 50 anos da morte do Papa que convocou o II Concílio do Vaticano, João XXIII, é oportuno recordar alguns pensamentos/frases dos últimos dias de vida terrena do Papa Roncalli. A 31 de maio de 1963 (3 dias antes de falecer), João XXIII confessa que nas suas vigílias nocturnas tem “sempre” diante dele “Jesus crucificado, com os braços estendidos para abarcar o mundo inteiro” e acrescenta: “Estou pronto a ir onde o Senhor me chamar. Desejo desaparecer e encontrar-me em Cristo” (Cf. Fesquet, Henri – Fioretti do Bom Papa João. Lisboa: Livraria Morais Editora, 1964). No primeiro dia de junho do mesmo ano, João XXIII solicita que lhe recitem o Magnificat. Aos mais próximos, o Papa diz-lhes: “Então, coragem! Não é momento de chorar, é um momento de alegria e glória”. Depois, de recitado o Magnificat, o Papa que convocou o II Concílio do Vaticano pede ao cardeal Gustavo Testa que “fique um pouco mais” e ao professor Gasparrini roga para que não fique inquieto porque “as malas estão sempre feitas. Quando soar o momento da partida”, não perderá tempo. Estas palavras significativas e vivenciais de João XXIII mostram que sentia os últimos momentos da sua vida terrena. No dia de Pentecostes de 1963 (02 de junho), o Papa Roncalli dá a última bênção ao mundo e, às 19h45 do dia seguinte, depois de dizer «Mater mea, fiducia
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mea» (Minha mãe, minha confiança) João XXIII fechou os olhos. (Cf. Fesquet, Henri – Fioretti do Bom Papa João. Lisboa: Livraria Morais Editora, 1964, Pág 164). Nascido no dia 25 de novembro de 1881 em Sotto il Monte, diocese e província de Bérgamo (Itália), e nesse mesmo dia foi battizado com o nome de Angelo Giuseppe; foi o quarto de treze irmãos, nascidos numa família de camponeses e de tipo patriarcal. Ao seu tio Xavier, ele mesmo atribuirá a sua primeira e fundamental formação religiosa. O clima religioso da família e a fervorosa vida paroquial foram a primeira escola de vida cristã, que marcou a sua fisionomia espiritual. Depois da morte de Pio XII, foi eleito Papa a 28 de outubro de 1958 e assumiu o nome de João XXIII. O seu pontificado, que durou menos de cinco anos, apresentou-o ao mundo como uma autêntica imagem de bom Pastor. Manso e atento, empreendedor e corajoso, simples e cordial, praticou cristãmente as obras de misericórdia corporais e espirituais, visitando os encarcerados e os doentes, recebendo homens de todas as nações e crenças e cultivando um |
extraordinário sentimento de paternidade para com todos. O seu magistério foi muito apreciado, sobretudo com as Encíclicas «Pacem in terris» e «Mater et magistra». Convocou o Sínodo romano, instituiu uma Comissão para a revisão do Código de Direito Canónico e convocou o Concílio Ecuménico Vaticano II. A ideia do concílio não amadureceu nele como “o fruto de uma demorada meditação, mas como a flor espontânea de uma inesperada Primavera”, referiu um dia. Numa conversa com um embaixador, o Papa João XXIII disse-lhe o que esperava desta assembleia magna que teve o seu início em outubro de 1962: “Espero que traga um pouco de ar puro… Há que sacudir a poeira que, desde Constantino, se vem acumulando no trono de São Pedro”. |
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junho 2013 |
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Dia 01
* Lisboa - CUPAV (17h00m) - Iniciativa «Solta o arraial que há em ti» promovida pelos Leigos para o Desenvolvimento.
* Guarda - Centro Apostólico - Encontro de D. Manuel Felício com responsáveis dos secretariados diocesanos de pastoral e movimentos. |
* Beja - Vidigueira (igreja matriz de São Cucufate) - Concerto dedicado à obra de Joseph Haydn «As Estações» e integrado no «Festival Terras Sem Sombra». |
Ano C – Solenidade do Santíssimo
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A Eucaristia é verdadeiramente vital para nós? |
No centro da Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo de hoje está a celebração de Deus que alimenta o seu povo e que, na Eucaristia, nos dá o alimento supremo e eterno que é o seu Filho. A Escritura emprega duas palavras para exprimir esta oração de louvor e de agradecimento ao Senhor, no acolhimento do seu amor: a bênção, na primeira leitura, e a ação de graças, na segunda. O Evangelho, assumindo estas duas dimensões da oração intimamente ligadas, indica-nos que devem habitar a nossa vida para além da missa, para testemunhar todo o amor com o qual Cristo nos ama. A fé da Igreja na presença do Senhor ressuscitado no mistério da Eucaristia remonta à origem da comunidade cristã. São Paulo transmite o que recebeu da tradição, cerca de 25 anos depois da morte de Jesus. É a narração mais antiga da Eucaristia. A Igreja nunca abandonou esta centralidade. Nem poderia, por ser elemento constitutivo da sua identidade. A Festa do Corpo de Deus foi instituída em meados do século XIII, numa época em que se comungava muito pouco e onde se levantavam dúvidas sobre a presença real de Jesus na hóstia consagrada depois da celebração da Eucaristia. A Igreja respondeu, não com longos discursos, mas com um ato de fé: Sim, Jesus está verdadeiramente presente mesmo depois do fim da missa. E para provar esta fé, criou-se o hábito |
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de organizar procissões com a hóstia consagrada pelas ruas, fora das igrejas. «Este é o meu Corpo… Este cálice é a nova Aliança no meu sangue». Estas afirmações de Jesus, na noite de quinta-feira santa, não dependiam nem da fé nem da compreensão dos apóstolos. É Jesus que se compromete, que dá o pão como sendo o seu corpo, o cálice de vinho como sendo o cálice da nova Aliança no seu sangue. Só Ele pode ter influência neste pão e neste vinho. Hoje, é o sacerdote ordenado que pronuncia as palavras de Jesus, mas não é ele que lhes dá sentido e realidade. Celebramos a festa da Pessoa de Cristo. Ao levantarmos os olhos para o Pão e o Vinho consagrados, só podemos dizer: «É mesmo Ele! Meu Senhor e meu Deus!» Comungar é ser alimentado pela vida de Jesus. Comemos para viver, comungamos na Eucaristia para viver como discípulos de Jesus. Mas devemos sempre questionar as nossas atitudes eucarísticas. A Eucaristia é verdadeiramente vital para nós? As nossas comunhões fazem-nos crescer na fé? Que a Solenidade do Sagrado Coração |
de Jesus, na próxima sexta-feira, nos ajude a recentrar o nosso coração no Coração de Jesus, de modo essencial na Eucaristia celebrada e adorada!
Manuel Barbosa, scj |
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Programação religiosa nos media |
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Antena 1, 8h00 RTP1, 10h00 Transmissão da missa dominical
11h00 - Transmissão missa
12h15 - Oitavo Dia
Domingo: 10h00 - O Dia do Senhor; 11h00 - Eucaristia; 23h30 - Ventos e Marés; segunda a sexta-feira: 6h57 - Sementes de reflexão; 7h55 - Oração da Manhã; 12h00 - Angelus; 18h30 - Terço; 23h57-Meditando; sábado: 23h30 - Terra Prometida. |
RTP2, 11h30Domingo, dia 02 - João XXIII: o pontificado e a pessoa.
RTP2, 18h00Segunda-feira, dia 03 - Entrevista. Análise ao pontificado e ao percurso biográfico do Papa João XXIII por Manuela Silva e António Matos Ferreira. Terça-feira, dia 04 - Informação e rubrica sobre o Concílio Vaticano II com Manuel Braga da Cruz;
Quarta-feira, dia 05 - Informação e rubrica sobre Doutrina Social da Igreja, com Acácio Catarino;
Quinta-feira, dia 06 - Nuno André apresenta a "Magia da Vida", no Coliseu de Lisboa. Rubrica "O Passado do Presente", com D. Manuel Clemente
Sexta-feira, dia 07 - Apresentação da liturgia dominical pelo padre João Lourenço e Juan Ambrosio.
Antena 1 Domingo, dia 2 de junho, 06h00 - Vida e testamento de João XXIII nos 50 anos da sua morte.
Segunda a sexta-feira, dias 03 a 07 de junho, 22h45 - O Meio Ambiente: perspetivas de quem vive a fé relacionada com a natureza
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Assinala-se este sábado, dia 1 de junho, mais um dia dedicado a todas as crianças.
Também este sábado começa a 55ª edição da Bienal de Arte de Veneza, na Itália. A Santa Sé estará representada com o primeiro pavilhão próprio neste evento, inspirado no livro do Génesis.
Este fim-de-semana decorre mais uma campanha de recolha de alimentos para o Banco Alimentar contra a Fome.
Este domingo, dia 2 celebra-se a solenidade do Corpo de Deus. Em Portugal, este ano pela primeira vez, a um domingo e não num dia feriado. |
Turquia: O sonho desfeito de PascalA tragédia do tráfico de pessoas |
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Todos os dias alguém é iludido nos seus sonhos. Todos os dias se conhece uma nova história miserável de exploração de pessoas. Muitos são jovens. Como é o caso de Pascal, que, dizem, podia muito bem ter sido um Cristiano Ronaldo… |
Desde menino que sonha tornar-se jogador de futebol. Se lhe derem uma bola, agarra-a com as mãos, afagando-a, sentindo-lhe a pele. Ajeita-a no chão, recua dois, três passos, pernas afastadas, olha em frente para uma imaginária baliza e dispara um chuto. Tal e qual Cristiano Ronaldo. Tem jeito, ninguém o pode negar. Mas, ao contrário de Ronaldo, um ídolo planetário, Pascal – assim se chama este jovem – não joga em nenhum clube. Está desempregado. Pascal é nigeriano e cristão. O seu talento era conhecido na aldeia onde vivia e, nas redondezas, todos |
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apontavam para ele quando dançava com uma bola de trapos, pés descalços, fintando os amigos e marcando golos. Um manager apareceu com palavras de sonho: tinha tudo tratado. Um clube turco estava pronto a contratá-lo.
4 mil dólares Havia, porém, uma dificuldade. Para conseguir que o clube, o Izmir, o contratasse, era preciso muito dinheiro. Toda a família se uniu e, num esforço tremendo, conseguiu-se juntar a verba necessária. Pascal não escondeu as lágrimas da emoção. Ao contrário da esmagadora maioria dos outros jovens da Nigéria, ia ter um futuro, ia sair da miséria. Mal chegou à Turquia percebeu, porém, que tudo não passava de um logro. O manager telefonou e disse-lhe que o clube, o Izmir, já não estava interessado nele. Até ameaçou que, se regressasse à Nigéria, iria transformar a sua vida num inferno. Mas, mesmo que quisesse, Pascal não podia regressar. Faltava-lhe dinheiro e coragem para enfrentar a família. E foi assim, já desesperado, que um dia conheceu o Padre Julius Ohnele, também ele oriundo da Nigéria. |
O isco do futebol Este sacerdote ajuda os jovens que caem nas redes de imigração clandestina, que são vítimas de extorsão e de ameaças. “O futebol é o isco”, diz este padre. “São tantos os jovens que caem nestes esquemas que já organizo entre eles um campeonato, para que eles possam ir treinando, mantendo-se em boa forma física e possam manter vivo o sonho de se profissionalizarem.” O padre chega a convidar dirigentes de alguns clubes para assistirem aos jogos que organiza, como se fossem uma montra de talentos. Às vezes resulta. O padre Julius, um dos responsáveis pelo apoio aos imigrantes católicos na Turquia, não tem mãos a medir. Como Pascal, há histórias terríveis de jovens oriundos da Somália, Eritreia, Congo. O padre é tudo o que eles têm, é o seu porto de abrigo. O Padre Julius precisa da nossa ajuda para continuar a sua missão. Pascal ainda acredita, mas a cada dia que passa o sonho está mais longe…
Saiba mais em www.fundacao-ais.pt |
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LusofoniasDia Mundial da Criança |
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Tony Neves
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A Ministra da Justiça de Portugal assustou o país ao revelar que estão a desaparecer mais de quatro mil crianças por ano…Neste país de brandos costumes, é difícil de engolir este número que não pode ser olhado apenas como estatística pois, como escreveu Fernando Pessoa, ‘o melhor do mundo são as crianças’. De facto, a sua simplicidade, a sua ternura, a capacidade de amar e de crescer, a alegria sem preconceitos, a falta de filtros que lhes permite ser verdadeiras... são valores que nós, os adultos, por vezes, vamos perdendo ao longo dos anos. Mas, esta e outras notícias que vão circulando por aí mostram que elas, em muitos contextos, são maltratadas e sentem os seus direitos espezinhados, como denunciam os relatórios da UNICEF. E não estou em falar na situação limite e degradante que tem a ver com os abusos sexuais, nem me refiro ao drama inqualificável do trabalho infantil. Refiro-me, sim, a situações mais simples que se prendem com as consequências dramáticas da pobreza. Um dos objectivos do Milénio para o Desenvolvimento refere a escolaridade mínima. Outro refere a saúde materno-infantil. Ora, os números falam alto acerca da quantidade de crianças que não vão á escola, que não têm acesso aos cuidados mais elementares de saúde, que não vivem numa habitação condigna, que passam fome, que |
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vivem em contexto de guerra ou violência mais ou menos generalizada... e continuamos a falar daquelas que Fernando Pessoa definiu como ‘o melhor do mundo’, ou seja, as Crianças. O Dia Mundial da Criança, que celebramos a 1 de Junho, deve permitir uma focagem especial neste mundo da infância. Que bom que seria perceber que a expressão feliz do nosso Poeta Pessoa não é letra morta gravada em livro mas se transformou em prática quotidiana em todo o mundo! O futuro, desta forma, |
estaria mais que garantido, para todos. Já que citei várias o grande escritor lusófono Fernando Pessoa, queria dar os mais sinceros parabéns ao romancista moçambicano Mia Couto que acaba de vencer o Prémio Camões, o mais importante que é atribuído no mundo da cultura no espaço lusófono. E já agora, para terminar, saúdo os milhares e milhares de crianças que no dia 1 de junho participam em Fátima na Peregrinação Anual das Crianças. |
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“Pode ouvir o programa Luso Fonias na rádio SIM, sábados às 14h00, ou em www.fecongd.org. O programa Luso Fonias é produzido pela FEC – Fundação Fé e Cooperação, ONGD da Conferência Episcopal Portuguesa.” |
Apostolado de oraçãoIrreligião e violência |
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Para que prevaleça entre os povos uma cultura de diálogo, escuta e respeito mútuo. [Intenção do Papa para o mês de Junho]
Nos últimos tempos, tornou-se comum afirmar que na origem da maior parte dos conflitos violentos está a religião, de modo particular, as religiões monoteístas. Despidos do preconceito anti-religioso, porém, é fácil perceber que a maior parte dos conflitos violentos obedece a motivações não religiosas – embora a religião sirva de bandeira a alguns dos grupos em confronto. Tais motivações radicam na incapacidade de reconhecer a humanidade do outro, a sua dignidade, anterior a qualquer pertença tribal ou religiosa. As sociedades liberais inventadas no Ocidente cristão perceberam isso – não por serem detentoras de uma sabedoria particular mas porque nelas agia, desde há séculos, uma revelação que plasmou a cultura, o conhecimento, as relações individuais e colectivas. Por isso, lentamente e com muitos erros à mistura, conseguiram elaborar as condições de uma convivência pacífica, baseada nos direitos humanos – não como direitos que o homem se atribui a si mesmo ou que o Estado lhe outorga, mas originários de um Outro transcendente, Deus, fundamento do valor perene e universal de tais direitos. Entenda-se: não um Deus qualquer, mas o Deus que Se dá a conhecer na revelação bíblica. |
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Infelizmente, o Ocidente está a tornar-se cada vez mais estranho a si e às suas raízes. E esse fenómeno torna duvidoso que mesmo aqui sobreviva durante muito mais tempo o modelo de sociedade antes referido. Talvez o Ocidente ainda vá a tempo de recuperar a fé em si e na alma que fez dele um espaço único de liberdade e respeito pelo primado da lei – espaço de onde |
tais valores irradiaram para outras culturas. Mas não é certo que assim seja, tendo em conta as forças poderosas empenhadas em erradicar a identidade do Ocidente. Se estas forças conseguirem os seus objectivos, o futuro próximo será bem menos habitável do que o nosso já precário presente. Elias Couto |
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"Corresponde perfeitamente ao plano da Providência que se aperfeiçoe cada um pelo trabalho quotidiano; e este, para a quase totalidade dos homens, é trabalho de natureza e finalidade temporal. A Igreja vê-se hoje empenhada com uma missão gigantesca: a de imprimir caráter humano e cristão à civilização moderna; caráter que esta pede, e quase reclama, para deveras progredir e se conservar".
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