04 - Editorial

      Paulo Rocha

06 - Foto da semana

07 - Citações

08 - Nacional

14 - Internacional

20 - Semana de...
       Luis Filipe Santos
       D. Manuel Martins

24 - Entrevista

       D. José Ornelas

      

 


 

 

62 - Estante

64 - Agenda

66 - Vaticano II

68 - Por estes dias

70 - Programação Religiosa

71 - Minuto Positivo

72 - Liturgia

74 - Fátima 2017

78 - Fundação AIS

80 - LusoFonias

Foto de capa: DR

Foto da contracapa:  DR

 

 

AGÊNCIA ECCLESIA 
Diretor: Paulo Rocha  | Chefe de Redação: Octávio Carmo
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Opinião

 

 

 

Campanha global pelos refugiados

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Votar nas Autárquicas

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Adeus a D. Manuel Martins

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Paulo Rocha | Luis Filipe Santos | Manuel Barbosa | Tony Neves | Paulo Aido

 

Na catedral, no bairro ou na fábrica

  Paulo Rocha    

  Agência ECCLESIA   

 
 

 

O báculo ou a mitra têm tanto lugar na catedral como no bairro, na fábrica, junto de quem passam fome ou está desempregado. Era a certeza de D. Manuel Martins, tantas vezes repetida e sobretudo vivida. Não como visitante, mas como residente.

De facto, o primeiro bispo de Setúbal não passava e andava junto dos pobres, das famílias sem trabalho e da fome que marcou os anos 70 e 80 na Península de Setúbal. Esses eram os ambientes para ser bispo, para percorrer com o báculo do pastor e para denunciar pela força da palavra, que deram cor ao perfil de um bispo.

O falecimento de D. Manuel Martins não exige apenas homenagens e evocações do passado. É necessário recordar o seu trabalho nos fundamentos de uma diocese, as suas presenças em todos os contextos dos seus diocesanos e a sua capacidade de cuidar de todos e a todas as horas. 

A despedida do primeiro bispo de Setúbal foi digna! Mas notaram-se muitas ausências: os que de perto conviveram com D. Manuel Martins, sobretudo os seus diocesanos,nomeadamente o clero, lá estavam, carregando-o até ao túmulo e mostrando que, neste tempo, é necessário continuar a sua missão na Península de Setúbal; as lideranças da sociedade não se notaram. E tanto teriam a agradecer a um homem que transformou uma região e tanto contribuiu para a construção da democracia! Ficam as memórias e sobretudo os exemplos.

Obrigado D. Manuel Martins! 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

   

 

 

 

Angela Merkel vence eleições na Alemanha
@Lusa

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

"A ovação de hoje, claramente superior a todas às outras na cerimónia, não foi dirigida à pessoa do Presidente, fosse o Presidente qualquer um, teria sido dirigida à Portugal e aos portugueses e eu só estranho o facto de haver portugueses que não gostam de ser aplaudidos por povos irmãos"

Marcelo Rebelo de Sousa, presidente da República Portuguesa, Luanda, 27.09.2017

 

“Saudamos a vitória da chanceler Angela Merkel, saudamos a força vencedora [União Democrata-Cristã (CDU)]”

Augusto Santos Silva, ministro dos Negócios Estrangeiros português, Lisboa, 25.09.2017

 

"Porque se sacrifica tanto nos serviços que se prestam às pessoas? Isso acontece quando os políticos só estão preocupados com a sua sobrevivência política no dia a dia"

Pedro Passos Coelho, presidente do PSD, Coimbra, 27.09.2017

 

"Quem está a tentar colmatar as falhas são as equipas médicas que estão extenuadas e exaustas”

Miguel Guimarães, bastonário da Ordem dos Médicos, 27.09.2017

 

"Quando se está no caminho certo, a escolha é muito simples: seguir em frente, prosseguir o mesmo caminho, sem mudar de direção. A oposição que fique onde ela se quis colocar: no passado"

António Costa, secretário-geral do PS, Lisboa, 26.09.2017

 

Compromisso cristão no voto autárquico

 

O presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz espera que os portugueses se mostrem nestas eleições autárquicas, de 1 de outubro, comprometidos com o futuro do país e das suas regiões, indo às urnas e votando.

Em entrevista à Agência ECCLESIA, Pedro Vaz Patto recorda a importância deste ato eleitoral, uma vez que “foi sobretudo através do poder local” que o “progresso” chegou aos vários territórios, como expressão de um poder político mais “próximo das pessoas”. “Nós muitas vezes vemos

 

 

o negativo e o que ainda está por fazer e esquecemos o positivo”, salienta aquele responsável católico, apontando que “participar significa também saber analisar, saber fazer propostas, não dizer mal sistematicamente de tudo e de todos”.

“Denunciar o que é negativo mas também pôr em evidência o que é positivo, e contribuir de uma forma positiva, não apenas com críticas”, realça Pedro Vaz Patto, para quem o poder político também tem de fazer a sua parte.

O clima de “indiferença” que tem

 

 

 

 marcado os últimos atos eleitorais, com elevadas taxas de abstenção, tem de ser encarado como uma resposta das pessoas aos “vícios” que ainda marcam o poder local. Vícios que, de acordo com o presidente da CNJP, vêm desde o topo da pirâmide, desde “a administração central”, e que muitas vezes fazem com que os cidadãos pensem que o seu voto não tem qualquer peso, “não conta”.

Como a distância que frequentemente se verifica entre “o que se prometeu” e o que depois na prática “se cumpre”.

Pedro Vaz Patto considera que perante este contexto é natural que haja “desconfiança” e “descontentamento”, mas realça que só através da “participação” ativa nas eleições é que se podem mudar as “injustiças”. Que em Portugal o voto foi “um direito conquistado” com o sacrifício de muitos, há mais de 40 anos, com a revolução do 25 de abril de 1974.

“As primeiras eleições depois do 25 de abril, para a assembleia constituinte, tiveram um nível de participação que nunca mais foi atingido. E era bom que voltasse a acontecer isso. As pessoas valorizam mais aquilo de que foram 

 

privados durante tanto tempo do que depois de se tornar uma coisa acessível. Não deveria ser assim”, sustenta.

Aquele responsável lembra ainda que existem hoje “muitos países onde as pessoas gostariam” de ter esse direito ao voto, e muitas delas sofrem “graves consequências quando lutam por isso”.

O presidente da CNJP, organismo laical ligado à Conferência Episcopal Portuguesa, fala mais especificamente sobre a situação dos jovens, que parecem hoje muito afastados da sua responsabilidade cívica, algo que seria “importante” também ser trabalhado pela Igreja Católica.

Sobre a responsabilidade dos cristãos, em relação às eleições e às questões políticas, Pedro Vaz Patto recorda princípios como a “solidariedade e o bem-comum”. “Aquilo que deve mover o cristão na sua ação política é que não interessa o bem pessoal mas sim o bem-comum”, que o “bem pessoal passa pelo bem da comunidade”, complementa.

 

 

Refugiados: Cáritas Portuguesa associa-se a campanha global de sensibilização

O selecionador nacional de futebol associou-se ao lançamento da campanha ‘Partilhar a Viagem’, da Cáritas Internacional, e apresentou Portugal como um país “que sabe acolher”. Fernando Santos recordou o seu percurso de emigrante na Grécia e disse que Portugal “vive em segurança e em paz”, fatores fundamentais, como sublinhou à Agência ECCLESIA.

A campanha global da Cáritas foi lançada esta quarta-feira, no Vaticano, pelo Papa Francisco e pretende promover a cultura do encontro em comunidades onde migrantes e refugiados partem e regressam, por onde viajam e onde escolhem ficar.

Num mundo onde “existe muita indiferença e uma cultura do individualismo”, esta campanha tem como objetivo a “consciencialização pública que promove oportunidades e espaços para que migrantes e comunidades se juntem e partilhem histórias e experiências com o objetivo de fortalecer vínculos”, disse à Agência ECCLESIA D. José Traquina,

 

 

vogal da Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Humana.

A campanha ‘Partilhar a Viagem’ tem a duração de dois anos e, segundo D. José Traquina, apela a “gestos, iniciativas e sessões” para uma “cultura de encontro”. “Qualquer pessoa interessada” pode participar no projeto, e a Cáritas Portuguesa convida as pessoas com “experiência de migração a partilhar a sua viagem”, sublinhou por sua vez João Pereira, secretário-geral da Cáritas Portuguesa.

Uma viagem de descoberta que dá “espaço ao outro”, através de experiências de migrantes e refugiados.

 

 

 

Não se faz uma pastoral sem as famílias

O bispo do Algarve apresentou este sábado na Quarteira o programa pastoral da diocese até 2020, subordinado ao tema ‘Anunciar o Evangelho da Família’ e que tem como grandes pilares “a família, os jovens e as vocações”. Em entrevista à Agência ECCLESIA, durante o evento, D. Manuel Quintas salientou que estes temas correspondem à “ação missionária da Igreja” e àquilo que o Papa Francisco tem privilegiado “com insistência” ao longo do seu pontificado.

Como meios para alcançar uma maior aproximação às famílias, aos mais novos, ao desenvolvimento de novas vocações, o prelado realça a evangelização, a Palavra de Deus, como a grande “técnica”, embora a Igreja Católica deva “encontrar outros meios de o tornar conhecido”. “Têm de ser as próprias famílias a anunciar a pessoa de Cristo às famílias, não se faz uma pastoral para olhar para as famílias sem as próprias familias”, acrescentou.

Neste sentido, o programa pastoral até 2020 desafia as comunidades a terem uma atitude tanto de “discípulo” como de “missionário”, e que as famílias anunciem Cristo e os seus valores através “do testemunho

 

 do seu amor e da sua vida em casal” e da capacidade de enfrentar as dificuldades”.

“As famílias não podem ver a primeira dificuldade como uma derrota à partida, que faz cair os braços e o casal parecer que não tem em si a energia e a capacidade de a ultrapassar”, sustentou D. Manuel Quintas, embora reconhecendo que as dificuldades existem e que cabe à Igreja Católica saber estar próxima e apoiar os casais.

“A Igreja não pode viver abstraída do mundo e da realidade que é o mundo, com todas as suas convulsões, com todas as propostas que são apresentadas a diferentes níveis”, alertou.

Sobre a questão dos jovens e das vocações, o bispo do Algarve apontou que, à semelhança do setor da família, não se tratam de pastorais estanques, separadas.

 

 

 

A Agência ECCLESIA escolhe sete acontecimentos que marcaram a atualidade eclesial portuguesa nos últimos dias, sempre atualizados em www.agencia.ecclesia.pt

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Faleceu o sacerdote mais idoso de Portugal

 

Pedrógão Grande: Vidas que renascem graças à «generosidade» dos portugueses

 

Papa lançou campanha internacional da Cáritas pelo acolhimento dos refugiados

 

O Papa Francisco lançou no Vaticano a campanha global da Cáritas ‘Partilhar a Viagem’, que visa promover o encontro e o acolhimento dos migrantes e os refugiados. “O próprio Cristo nos pede que acolhamos os nossos irmãos e irmãs migrantes e refugiados com os braços bem abertos. Acolher”, disse, na audiência pública semanal que decorreu na Praça de São Pedro.

O Papa mostrou-se "feliz" por acolher os representantes da Cáritas, que 

 

 

 

para dar início oficial à campanha, que quis "fazer coincidir" com esta audiência. "Dou as boas-vindas aos migrantes, requerentes de asilo e refugiados, juntamente com os trabalhadores da Cáritas Italiana e de outras organizações católicas”, observou.

Francisco sublinhou que estas pessoas são sinal de “uma Igreja que procura ser aberta, inclusiva e acolhedora”. “Obrigado a todos vós pelo vosso incansável serviço”, acrescentou, 

 

 

 

 

 

pedindo um “grande aplauso” para os promotores da campanha.

O Papa desejou que os católicos levem aos migrantes e refugiados “um abraço sincero, um abraço afetuoso, um abraço envolvente”. Neste contexto, apresentou a Colunata da Praça de São Pedro como um símbolo da "Igreja mãe que abraça todos na partilha da viagem comum”.

O pontífice deu as boas-vindas a representantes de organizações da sociedade civil empenhadas na assistência aos migrantes e refugiados, que apoiaram a Cáritas na recolha de assinaturas em favor de uma nova lei migratória, na Itália, "mais adequada ao contexto atual".

O Papa sublinhou que é a esperança que leva todos a “partilhar a viagem da vida”, sem medo. “A esperança é a virtude do pobre, do camponês, do trabalhador e do emigrante que se coloca a caminho, procurando um futuro melhor, bem como a de quem está aberto ao acolhimento, ao diálogo e ao conhecimento mútuo”, declarou.

A iniciativa da Cáritas Internacional, com a ajuda dos membros das suas organizações nacionais e regionais, incluindo em Portugal, vai decorrer

 

 nos próximos 2 anos, procurando que se “desmitifiquem preconceitos” e se promova a aproximação dos migrantes às comunidades locais.

Em declarações publicadas no site online da organização católica, o presidente da Cáritas Internationalis, o cardeal filipino Luis Antonio Tagle, também ele descendente de migrantes, desafia paróquias, organizações diocesanas e nacionais a “unirem-se ao Papa”. O responsável mostra-se convicto de que através de iniciativas deste género será possível dissipar os receios que marcam a sociedade, perante os migrantes e refugiados, e mostrar o drama que está por trás de tantas pessoas estão a deixar as suas casas.

“Entrem em contacto com um verdadeiro migrante. Olhem-no nos olhos, escutem a sua história, como foi a sua viagem, vejam as pessoas reais por trás dos números e das histórias”, desafia D. Luis António Tagle.

 

 

 

 

Francisco associa-se à celebração dos 400 anos dos Vicentinos

O Papa Francisco associou-se à celebração dos 400 anos dos Vicentinos (1617-2017), defendendo uma ação de caridade que seja capaz de “transformar o presente”. “Isto é ainda mais necessário hoje, na complexidade em mudança da sociedade globalizada, onde certas formas de esmola e de ajuda, ainda que motivadas generosas intenções, se arriscam a alimentar formas de exploração e de ilegalidade, sem trazer benefícios reais e duradouras”, refere, numa mensagem divulgada pela sala de imprensa da Santa Sé.

O texto sublinha a “atualidade” do carisma de São Vicente de Paulo (1581-1660), que procurou Jesus “na pessoa dos pobres”.

São Vicente de Paulo para além da congregação religiosa masculina também fundou a Companhia das Filhas da Caridade, com Santa Luísa de Marillac, que nasceu para colaborar nas caridades paroquiais. Já no século XIX, Frederico Ozanam atualiza o carisma vicentino com a criação das Conferências de São Vicente de Paulo, constituídas por leigos. 

Francisco refere-se ao compromisso dos Vicentinos nas chamadas missões

 

populares e na formação dos sacerdotes, com acento na “simplicidade”. “Desejo que este ano de agradecimento ao Senhor e de aprofundamento do carisma seja ocasião para matar a sede na fonte, para refrescar-se na nascente do espírito originário”, escreve.

O Papa desafia os membros da família vicentina a chegar às “periferias da condição humana”. “Jesus é pobre, pede para ser reconhecido em quem é pobre e não tem voz, porque Ele está ali”, assinala.

A mensagem convida religiosos e leigos a “dar voz aos pobres”, para que a sua presença não seja “silenciada pela cultura do efémero”, projetando já a celebração do primeiro Dia Mundial dos Pobres, na Igreja Católica, a 19 de novembro.

 

 

Movimentos cristãos alertam para o agravamento das crises sociais e laborais

O Movimento Mundial de Trabalhadores Cristãos antecipou a Jornada Mundial pelo Trabalho Digno (07 de outubro) com uma mensagem onde expressa a sua “indignação” contra a forma como estão a ser geridas as atuais “crises sociais e laborais”.

Numa carta subscrita e enviada hoje à Agência ECCLESIA pela Liga Operária Católica em Portugal, o MMTC lamenta que as decisões políticas e económicas não estejam a contribuir para a resolução dos problemas.

Aquele organismo dá como exemplos as “altas taxas de desemprego” que se verificam em vários países, a par dos “empregos cada vez mais precários” e da perda dos “direitos laborais e de proteção social”.

Apostada em ser “voz de denúncia e de compromisso no combate à desvalorização do trabalho humano e ao descarte de trabalhadores e trabalhadoras”, o MMTC considera fundamental garantir uma realidade laboral que vá ao encontro das “necessidades das pessoas e comunidades”. Ao mesmo tempo, a organização pede que se respeite “o ambiente e os recursos naturais” e seja “fator de coesão, integração e justa distribuição da riqueza”. 

 

“A desigualdade socioeconómica, nos últimos anos, tem-se agravado significativamente. Trabalhadores que em parte haviam superado a miséria e a pobreza, hoje estão a regressar aos apoios sociais”, alerta o MMTC, que frisa também a sua preocupação pelas consequências desta conjuntura social e económica.

Desde a “violência” à “corrupção” passando por realidades que crescem e se aproveitam do desespero das pessoas, como o “tráfico de drogas” ou situações de “abuso de poder económico e político” e “manipulação por parte dos meios de comunicação”. “São necessárias mudanças que se legitimam quando obedecem à lógica do diálogo com toda a sociedade, tendo em vista o bem comum”, aponta o organismo mundial dos Trabalhadores Cristãos.

 

 

 

 

A Agência ECCLESIA escolhe sete acontecimentos que marcaram a atualidade eclesial internacional nos últimos dias, sempre atualizados em www.agencia.ecclesia.pt

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 «Nobel da Teologia» para o compositor estónio Arvo Pärt

 

 

 

Cardeal Tagle | Partilhar a Viagem

 

 

D. Manuel Martins:
Um bispo que não tinha medo 

  Luis Filipe Santos   
  Agência ECCLESIA   

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

 

 

Nasceu no Dia de São Sebastião (20 de janeiro) de 1927. Do ponto de vista iconográfico, este mártir é representado com setas espetadas no corpo. D. Manuel Martins, falecido a 24 deste mês de setembro, também recebeu muitas flechas ao longo da sua vida. Apesar das cicatrizes e da dor causada, o bispo emérito de Setúbal nunca desistiu dos ideais evangélicos. Acredito que alguns desses objetos dolorosos enviados pelos adversários – mesmo no seio da Igreja – lhe deixaram o coração ferido. Todavia, este bispo natural de Leça do Balio (Diocese do Porto) nunca desistiu e posicionou-se sempre ao lado dos mais frágeis.

D. Manuel Martins sempre foi conhecido como homem da inclusão e enfrentou – apesar do seu porte franzino – os exploradores e empresários sem escrúpulos. Era um homem de ação, mas também um bispo do coração. Denunciava com as palavras e atuava com gestos concretos. Era capaz de liderar uma manifestação em prol dos explorados, o que lhe valeu o cognome de bispo vermelho. Mas essa faceta cromática não se identifica com as cores políticas. As cores de D. Manuel Martins têm raízes nas páginas do Evangelho.

O bispo emérito de Setúbal (1975-1998) não se limitava a denunciar e agir em prol dos frágeis. Os seus olhos vivos e empáticos reconheciam também quem defende os valores que seguem as diretivas evangélicas. No leito onde esteve internado, na semana anterior ao seu falecimento, disse 

 

 

 

sobre um bispo, ainda cheio de vitalidade, que era a “maior cabeça do episcopado português”. Não tinha medo de expressar a sua opinião… Não se escondia nem era um jogador episcopal.

No início da década de noventa, D. Manuel Martins deu-me um livro do cardeal Carlo Martini… Foi um presente por ter deixado de fumar. Desculpai-me. Duas semanas depois, voltei a pegar no cigarro. Já passaram tantos anos… Mas recordo-me bem.

No final da década de noventa, já depois de ter resignado da Diocese de Setúbal, estive uma tarde a conversar com ele na Ilha da Madeira. Um momento marcante e cheio de pureza… Estava ferido. Desabafou.

 

O caso de Timor-Leste estava vivo… Não compreendia algumas críticas que sofreu – de vários quadrantes da sociedade - sobre a defesa de um povo oprimido. Escutei-o atentamente… Horas ricas… e ainda recebi um livro: «Homilias da paz (1917-1982)» de D. António Ferreira Gomes. O célebre bispo do Porto que condenava os tachos da ditadura.

D. Manuel Martins criticava os bafientos e dizia com frequência: “A Igreja deve ser a voz incómoda para chamar a atenção para as injustiças”. Talvez fosse essa a razão porque não frequentava algumas casas que lhe “cheiravam a mofo”.

Obrigado D. Manuel Martins… Foi um bispo sem medo apesar das flechas. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


 

 

 

 

 

 

D. Manuel Martins, primeiro bispo de Setúbal, faleceu este domingo, aos 90 anos de idade. Uma notícia que gerou uma onda de comoção e inúmeras reações que estão no centro desta edição do Semanário ECCLESIA.

D. Manuel Martins foi o primeiro bispo nomeado para a então recém-criada Diocese de Setúbal, onde iniciou o seu ministério episcopal no dia 26 de outubro de 1975.

O falecido bispo nasceu a 20 de janeiro de 1927, em Leça do Balio, concelho de Matosinhos; foi ordenado sacerdote em 1951, após a formação nos seminários do Porto, seguindo-se a frequência do curso de Direito Canónico na Universidade Gregoriana, em Roma.

Pároco da Cedofeita, no Porto, entre 1960 e 1969, D. Manuel Martins foi nomeado vigário-geral da diocese nortenha em 1969, antes de seguir para Setúbal.

D. Manuel Martins foi presidente da Comissão Episcopal da Ação Social e Caritativa, bem como da Comissão Episcopal das Migrações e Turismo, na Conferência Episcopal Portuguesa; foi ainda presidente da Secção Portuguesa da Pax Christi e da Fundação SPES.

No dia 23 de abril de 1998, o Papa João Paulo II aceitou o seu pedido de resignação ao cargo de bispo de Setúbal.

O bispo emérito foi agraciado com a grã-cruz da Ordem de Cristo, durante as comemorações do 10 de junho de 2007, em Setúbal, e com o galardão dos Direitos Humanos da Assembleia da República, a 10 de dezembro de 2008.

 

 

 

 

 

 

 

Evangelho é caminho de afirmação da justiça, da dignidade, da esperança

 

“Cada vez que me recordo dele sinto nova energia e nova inspiração”, afirma o atual bispo de Setúbal no final da entrevista em que recorda o legado e o serviço de D. Manuel Martins à Igreja e à sociedade na península.

D. José Ornelas lembra que o primeiro bispo sadino é uma “figura incontornável” e em 1975 foi recebido com gritos contra a sua presença mas depois essas pessoas foram “dos seus maiores admiradores e colaboradores”.

Entrevista realizada por Paulo Rocha

 

Agência Ecclesia (AE) – De que forma a Diocese de Setúbal deve perpetuar a memória de D. Manuel Martins?

D. José Ornelas (JO) – A memória de D. Manuel Martins começou a ser memória desde que deixou a diocese

 

como bispo mas está constantemente presente, basta falar com pessoas e não só simplesmente da Igreja das de todos os quadrantes da vida social, económica, desta terra para se dar conta da herança que D. Manuel aqui deixou.

Vanessa Alves 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Disso fala-se a todos os níveis mas sobretudo na memória interna da Igreja é uma figura incontornável antes de mais porque foi o primeiro bispo. O primeiro bispo é um só, é e será sempre D. Martins e é muito bom e muito grato que tenhamos tido uma figura tão inspiradora nas origens da diocese.

É também uma figura que marcou já e que se encontra bem presente não só no coração das pessoas, e isso é o fundamental, mas também na memória coletiva. Basta ver as ruas, praças, instituições que têm o seu nome. Em Setúbal uma das escolas significativas que aqui temos é a Escola Manuel Martins.

 

AE – Tudo porque foi a voz dos mais desprotegidos…

JO – Essa foi, certamente, uma dimensão de um bispo que chegou em tempos muito conturbados, problemáticos. Foi o arranque da experiência democrática em Portugal depois da revolução do 24 de abril e D. Manuel Martins representa dentro da Igreja uma das vozes que ajudaram a consolidar valores e ao mesmo tempo levantar questões muito importantes para a democracia com um rosto humano e com um rosto de justiça e dignidade para todos.

 

AE – Por essa via também D. Manuel Martins está na história do Portugal Democrático pós-25 de abril?

JO – Não tenho a mínima dúvida. É uma figura incontornável dentro deste período porque vindo, precisamente do seio da Igreja, fazendo um discurso que se alimenta particularmente do Evangelho mas que sabe fazer as contas com a realidade dramática que se viva aqui.

Depois de todos os problemas da industrialização, das grandes indústrias, particularmente no norte da Península de Setúbal face a Lisboa que levou milhares e milhares de famílias à miséria, D. Manuel Martins foi uma voz incontornável também perante os governos mais à direita, mais à esquerda, que faziam disto um discurso muito morninho e que sempre recusou porque com a dor das pessoas não de pode brincar.

 

AE – Por isso, vemo-lo no meio de fábricas, no meio de manifestações, nas ruas onde a pobreza era a marca e a fome estava de porta em porta. Esses gestos foram proféticos, de que forma é necessário recriar nos tempos atuais?

JO – Foram gestos que ainda toda a gente se recorda, gestos que chamaram a atenção. D. Manuel 

 

 

 

 

não era um homem que fazia a figura de si próprio, ele trazia à ribalta das notícias e da atenção nacional a realidade dramáticas das pessoas e isso é o seu mérito. Isso tem de ser uma atitude constante, não só de denúncia e tantas vezes é preciso ser denuncia.

Aliás, ele ajudou a criar uma mentalidade, desde as mais altas estruturas do Estado, às mais próximas da população, ele ajudou a criar essa mentalidade e essa atenção. De tal maneira, que hoje, aqui, nesta península isso é um dogma. Não se pode fazer política à custa dos mais frágeis.

 

AE – Isso é uma herança de D. Manuel Martins?

JO – Ele colaborou imenso para isso. E deu-lhe cidadania, não só deu essa voz, deu-lhe uma cidadania especial no seio da sociedade e no seio da Igreja.

 

AE – Foi pela força da palavra que o conseguiu?

JO – A palavra e o exemplo. Porque D. Manuel não foi um homem simplesmente de discursos, foi um homem de ação. Aquilo que ele criou, por exemplo, a importância que deu à Cáritas Diocesana, à criação de estruturas de apoio aos mais frágeis, das pessoas que foram assistidas por essas estruturas. 

 

De tal maneira que, ainda hoje, grande parte das estruturas sociais, os equipamentos sociais que temos nesta península de Setúbal a maior parte estão ainda ligadas à Igreja e é fruto desse compromisso com os mais pobres que faz parte integrante da mensagem do Evangelho e era em nome do Evangelho que assim operava e dizia-o, claramente. Mesmo quando queriam fazer disso outras interpretações. “Não, isto é o Evangelho.”

Que essa bandeira tenha sido tomada por todos só nos dá gosto, mas é importante que se crie, e hoje é fundamental ter-se isto. Vai-se perdendo o discurso de uma justiça universal que não deixa ninguém à beira da estrada.

Os problemas com que a humanidade hoje de debate – refugiados, miséria, de doenças e do clima – não podemos ignorar porque nos batem depois à porta de uma forma dramática com o terrorismo, com as vagas de emigrantes e senão se tem um discurso claro e uma vontade política para ir ao encontro destas situações não pode ser.

Eu preciso despertar as consciências até porque os movimentos que hoje estão profilando como, cada vez mais, populistas a nível mundial e das grandes potências não têm minimamente em conta.

 

 

 

JO – É preciso e o Papa Francisco é uma voz incontornável neste nosso mundo para chamar a atenção que assim caminhamos todos para o suicídio e para a confrontação 

 

 

mundial. O que vai acontecer está bem à vista com os problemas com a Coreia do Norte, os problemas com os “rohingya” [minoria muçulmana em Mianmar], nos problemas da África

 

 

 

 

 

esquecida. Completamente esquecida, onde milhares e milhões todos os anos morrem vítimas de violência, miséria, doenças, etc.

Isto não pode passar escondido, isso tem de estar presente no nosso discurso e a Igreja tem sido parte dessa voz mas é importante que continue a insistir.

É preciso virar esta tendência populista que no fundo só pretende fazer grande cada um o seu país, cada um fazer grande o seu grupo mas essa grandeza vai acabar por cair-nos em cima da cabeça. Assim, não se constrói mundo nenhum.

Nestes dias, a última vez que falei, D. Manuel disse-me andamos muito caladinhos, demasiado caladinhos e é preciso acordar o mundo.

 

AE – Sentiu isso como um desafio pessoal?

JO – É um desafio. Aliás, isso sempre tem sido parte de um discurso. Hoje, há muitas vozes felizmente que se levantam, que dizem e que propõem discursos diferentes. É só ver a reação que face ao avanço de uma direita revivalista e que só vai trazer desgraças, se se afirmar, é ver o que aconteceu em França, os protestos também nos Estados Unidos (da América) contra algo que só nos pode levar a desastres.

 

Não pode ser assim. Esse era o discurso de D. Manuel Martins, esse era o discurso do Papa Francisco mas esse é o discurso do Evangelho desde sempre.

 

AE – É, por isso, também o discurso do atual bispo de Setúbal?

JO – Não. Isso tem de ser a nossa luta. Encontrar caminhos de justiça porque sem justiça e sem dignidade não se constrói um mundo que possa durar, uma paz que possa ser efetiva para os povos e, concretamente, para os mais pobres.

 

AE – A fome, felizmente, não é a mesma de há 20 ou 30 anos nesta Península de Setúbal, os problemas sociais são outros. Tem-nos identificados?

JO – Tenho. Os problemas é verdade que não temos o mesmo tipo tão agudo mas os dados recentes desta última crise continuam a bater à porta de muitas famílias, muitas famílias.

 

AE – O desemprego sobretudo?

JO – O desemprego parece estar a melhor mas há muita gente com problemas de desemprego. Com problemas de saúde malo resolvidos. Há, sobretudo, grupos que estão ficando bastante mais fragilizados no contexto da sociedade. Por outro 

 

 

 

 

lado, há também uma sensibilidade que se pode medir em termos seja de busca mesmo com as entidades públicas de encontrar caminhos de maior integração e solidariedade dentro da sociedade. Porque o preço que se vai pagar em termos depois de violência social, e basta olhar para a nossa Europa, resolvemos isto deste modo ou vai sair muito mais caro.

As tentativas, uma visão economicista das coisas, acaba por redundar no fracasso económico, social, e, particularmente, dos valores que queremos para a nossa sociedade.

 

AE – O protagonismo de D. Manuel Martins no interior da Igreja Católica em Portugal, nomeadamente, aqui em Setúbal. E quando recordamos o início temos a imagem da rejeição no dia que chegou aqui.

JO – Posso dizer que quando cheguei e estava no meu quarto chegaram os jovens que me iam acompanhar à Sé para a ordenação. Começaram a gritar: “Viva D. José, bem-vindo D. José.”

E eu pensava: “Há 40 anos os gritos eram outros”. Encontrei pessoas aqui que estavam de facto lá a gritar contra D. Manuel. Hoje, e sempre foram depois, dos seus maiores admiradores e colaboradores.

 

O D. Manuel saiu da procissão hierática e foi ao encontro destas pessoas. Isso é outra caraterística. Fala-se de D. Manuel o homem do grito dos oprimidos, o homem que deu voz aos que não a tinham, o homem que lutou e intransigentemente pelos valores da dignidade e da democracia.

Esquece-se tantas vezes, D. Manuel o homem das pontas, o homem do diálogo, o homem que passa fronteiras. Aquele que não tem medo de se sentar à mesa com ninguém e de falar com ninguém. Aquele que escuta e que, por isso mesmo, pode ter alguma palavra a dizer porque antes escutou. Aquele que procura convergências.

E isto tanto no interior da Igreja como fora dela, sem intransigir naquilo que são os valores fundamentais e aquilo que se tem de defender mas, que ao mesmo tempo, sabendo que estas coisas não se resolvem simplesmente pela via do decreto, muito menos pela via da violência mas que se resolve buscando convergências.

Aqui uma das coisas que sinto tantas vezes com a entidades públicas, de qualquer quadrante, a Igreja em Setúbal tem uma relação muito correta, muito aberta e também é reconhecida e não encontramos dificuldades em encontrar

 

 

 

linhas de convergência.

Digo sempre, quando temos por objetivo servir o povo, cada um do seu modo de estar no mundo, dos seus valores, mas se as pessoas concretas são o nosso objetivo vamos sempre encontrar convergências.

Se estamos numa linha de poder e saber quem é mais importante ou quem ganha mais e ganha menos entornamos o caldo todo e depois ninguém aproveita dele. Isto foi sempre o que D. Manuel me disse.

Quando cheguei D. Manuel foi dos primeiros que me telefonaram 

 

quando a notícia se tornou pública. Começou por dizer que “Deus gosta muito de Setúbal porque lhe deu um bispo” e depois disse: “Deus gosta muito Setúbal e gosta de si porque o mandou para uma linda diocese.”

Depois nunca mais se calava de falar dos dons da sua amada e disse leve fósforos porque naquela terra basta chegar um fósforo que arde. É gente com generosidade, gente capaz de participar.

D. Manuel sempre foi um enamorado de Setúbal, passava por cá, conhecia 


 

 

 

as pessoas. Disse-me, veja os padres que tem, as pessoas que vai encontrar na vida pública, nos organismos de solidariedade social, a todo o género da Igreja e outros, e vai ver que esta é uma terra onde dá gosto trabalhar.

Não tenho a mínima dúvida que me pegou também o bichinho e o gosto de Setúbal. É um homem que criou um sonho, ajudou a criar um sonho. Não é só ele mas sem dúvida que ajudou a criar um sonho. Um sonho dos que estamos juntos, um sonho de que se pode mudar as coisas.

Um sonho que o Evangelho é o caminho fundamental de afirmação da justiça, da dignidade, da esperança que as pessoas precisam. É por esse Evangelho que muita gente não está tantas vezes na Igreja mas é gente que participa em comum com D. Manuel Martins ajudou a semear e nos compete agora, recebendo a tradição dele, alimentar, cuidar, e desenvolver.

Os tempos avançam, novos desafios nos colocam mas a verdade é sempre a mesma. É precisamente a 

 

solidariedade, o amor e, particularmente, a atenção aos mais frágeis que caracteriza a dignidade de uma sociedade. Com as origens que temos havemos de continuar a lutar por isso.

 

AE – D. Manuel Martins tem essa marca de intervenção social muito forte na sua história e sempre que tinha ao seu alcance o poder da palavra e do exemplo, como referiu. Essa marca faz parte também da 

 

 

 

 

identidade de Setúbal, dos seus líderes, dos párocos e outros responsáveis?

JO – Antes de mais, na nossa diocese temos bem presente D. Manuel como nosso bispo, foi e será sempre o primeiro bispo de Setúbal e dá-nos um gosto muito grande vê-lo assim. E ver que nas nossas origens temos um bispo com coração de pastor.

D. Manuel não foi uma estrela politica, foi antes de mais e sobretudo bispo. Era um bispo que estava nas paróquias.

Quando cheguei perguntando aos padres e também publicamente com eles todos que traços de bispo gostariam de ver e uma das coisas fundamentais foi “seja um pai para a gente”. Um pai e davam o exemplo de D. Manuel estar próximo dos padres, foi esse homem próximo, pastoral, das paróquias, das visitas, do estar por detrás das coisas e fazê-las andar.

 

 

 

 
 

AE – Conseguiu criar um estilo do ser pastor…

JO – Aqui estamos habituados, mesmo essa informalidade com que vivia sem estar com grandes apanágios. De manhã costumava passear a pé ou de bicicleta pela cidade, de ir ao encontro das pessoas sem formalismo. Isso marcou.

D Gilberto [Canavarro, segundo bispo da diocese sadina] continuou o mesmo estilo e as pessoas estão habituadas a ver o bispo pelas ruas e a vê-lo assim de uma forma simples e isso dá-me muito gosto.

Quando vim uma das coisas que dizia esta é uma diocese quem tem uma história curta mas já muito rica e essa informalidade e proximidade do ser bispo na diocese está-nos no sangue desde o início.

 

 

 

AE – Do paço episcopal vemos a cidade, as ruas, a bonita paisagem para o Sado e a serra. Por todos estes ambientes da diocese como é que o atual bispo, D. José Ornelas, gostaria que as pessoas recordassem D. Manuel, Martins?

JO – As pessoas já o recordam como o homem que encarna o Evangelho de uma forma atraente e de uma forma que mostra aquilo que Deus é. Um Deus de misericórdia, que não se esconde dos problemas, que está presente sobretudo onde as pessoas precisam. Isto foi sempre a linha do D. Manuel porque, isto é, aquilo que constitui o centro da nossa fé.

Evidente que é a partir destes valores que se entende que Deus estando presente no meio desta realidade os levanta também da fraqueza absoluta que somos nós para nos dar outra esperança muito mais abrangente, e 

 

 

que supera a radical incapacidade nossa de viver.

Esses sinais concretos da vida nos levam a descobrir a grandeza de Deus e a grandeza de um Deus que não tem medo de se colocar ao lado dos dramas da humanidade para procurar infundir dinamismo, coragem e esperança.

Essa esperança que também celebrando as exéquias de D. Manuel nós celebramos. Celebramos um homem que gastou a sua vida, não a perdeu, ofereceu-a para criar vida. Essa vida vai continuar e continua.

Ele é um dos tantos que ao longo da Igreja foram dando esse testemunho de que vale a pena empregar a vida, gastar a vida ao serviço de um sonho de vida melhor e de vida que transcende mesmo tudo aquilo que a gente conhece.

Cada vez que me recordo dele sinto nova energia e nova inspiração.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Último adeus em Leça do Balio

O bispo de Setúbal recordou na Missa exequial de D. Manuel Martins, primeiro responsável pela diocese sadina, o “sonho de uma sociedade fraterna e solidária” do seu antecessor. “Ergueu a voz em denúncia das atitudes, políticas e economias que se esquecem dos milhões de pessoas – sobretudo dos mais frágeis e indefesos”, disse D. José Ornelas, na homilia da celebração

 

 que decorreu no Mosteiro de Leça do Balio, esta terça-feira.

D. Manuel Martins foi recordado como uma voz que denunciou injustiças e deu “voz de indignação” contra os que “exploram ou se demitem de denunciar e reverter as situações de injustiça e de exploração”.

D. José Ornelas quis evocar, neste contexto, os emigrantes e refugiados que encontram “muros de rejeição

 

 

 

e de preconceitos” ou os que estão sem trabalho e se deparam com “pessoas e sistemas que os exploram ou tornam impossível a dignidade”

O bispo de Setúbal falou do primeiro responsável da diocese como “um homem solidariamente criativo, para apoiar e cuidar dos que eram deixados à margem das grandes manobras económicas, para congregar pessoas de boa vontade e promover obras que servissem os que mais precisavam”. “Por isso se tornou homem de pontes e de diálogo, buscando consensos

 

 

e colaborações, para que, com todas as pessoas de boa vontade, possamos criar juntos um mundo mais humano e justo”, acrescentou.

D. José Ornelas elogiou a dimensão de interioridade e de oração do falecido bispo, que deixou como herança “o bem que fez a tanta gente, as dores que aliviou, as esperanças que criou, a fé que testemunhou, com a palavra e com a vida”.

O responsável deixou uma palavra de gratidão aos familiares de D. Manuel Martins e à Diocese do Porto, onde

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

  

 

aprendeu com “outras vozes proféticas”, como a de D. António Ferreira Gomes, a erguer-se para “denunciar injustiças e apontar caminhos”. “Agradecemos a Deus e a todos pelo dom precioso, aqui nascido e que floresceu em Setúbal, deixando Igreja em Portugal uma preciosa herança de humanismo, de fraternidade, de coragem e de fé”, prosseguiu.

A homilia concluiu-se com uma oração de agradecimento por esta “figura tão inspiradora” para a Igreja, o país e o mundo.

Fora do mosteiro foram instalados ecrãs gigantes, para as pessoas que não puderam entrar no local de culto.

Na celebração foi lida uma mensagem do Papa que evocou o “grande generosidade e dinamismo apostólico” de D. Manuel Martins. Francisco manifesta os seus pêsames aos familiares de D. Manuel Martins e a todos os que beneficiaram dos seus “largos e fecundos anos do seu ministério episcopal”.

O texto, transmitido através do secretário de Estado do Vaticano, cardeal Pietro Parolin, o Papa despede-se com a sua “bênção apostólica” para os familiares do 

 

falecido bispo e os diocesanos do Porto e de Setúbal.

D. Gilberto Reis, que sucedeu a D. Manuel Martins como bispo de Setúbal em 1998, recordou uma figura que “conquistou o coração” das pessoas, com “grande amor à Igreja e a Jesus Cristo”. Em declarações à Agência ECCLESIA, o bispo emérito de Setúbal disse ter sido “uma graça” ser sucessor do primeiro responsável pela diocese sadina, falecido este domingo aos 90 anos de idade.

D. Manuel Martins tinha uma “grande lucidez de pensamento ao ver as situações humanas, sociais e políticas”, sublinhou D. Gilberto Reis.

Para este responsável, o falecido bispo foi um homem de “grande sensibilidade e afeto” que encontro na península sadina uma situação “difícil”.

Os cristãos de Setúbal viam em D. Manuel Martins uma voz que “os representava”, uma voz que ecoou “em todo o país e mesmo fora dele”, como aconteceu no caso de Timor-Leste, acrescentou. “A voz dele multiplicou-se porque continua a perdurar no coração das pessoas”, frisou D. Gilberto Reis.

 

 

Episcopado unido na homenagem
a D. Manuel Martins

O porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), padre Manuel Barbosa, lembrou a “profunda humanidade” do bispo emérito de Setúbal, D. Manuel Martins. “A profunda humanidade, a atenção permanente às pessoas, a intransigente defesa dos direitos humanos e dos valores evangélicos, a extrema dedicação às gentes de Setúbal durante os seus 23 anos como Pastor da Diocese, os serviços que prestou a toda a Igreja em Portugal permanecem entre nós como intenso testemunho da sua fecunda vida de Pastor”, refere o secretário da CEP em comunicado enviado à Agência ECCLESIA.

O padre Manuel Barbosa manifesta a “comunhão de oração amiga para com D. Manuel e a solidariedade para com os seus familiares”.

O cardeal-patriarca de Lisboa prestou homenagem a D. Manuel Martins, considerando que a sua vida foi um "estímulo" para a Igreja em Portugal. "D. Manuel Martins foi um estímulo e um alerta para o que devemos ser como sociedade e como Igreja. 

 

Saudação fraterna à Diocese de Setúbal", escreve D. Manuel Clemente na sua conta da rede social Twitter.

Já em declarações à Renascença, o cardeal português recordou alguém capaz de apresentar “uma palavra sempre muito oportuna”. “Para todos nós foi um estímulo e um alerta para aquilo que devemos ser como sociedade e como Igreja. Estamos todos muito agradecidos à figura, à pessoa ao protagonismo evangélico e pastoral de D. Manuel Martins”, disse D. Manuel Clemente.

O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa deixa uma “palavra de muito reconhecimento e veneração pela figura, pelo pastor que foi D. Manuel Martins como padre, como bispo de Setúbal, depois como bispo emérito”.

O Administrador Diocesano do Porto, D. António Bessa Taipa, recordou o falecido bispo emérito de Setúbal, D. Manuel Martins, como um homem de Igreja “apaixonado” pelo Evangelho e pelas pessoas. “Era um homem apaixonado pelo Evangelho, por Jesus Cristo, que era capaz de ler a vida, 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

a vida dos outros e a sua, à luz da Palavra de Deus e ler esta Palavra à luz das situações existenciais”, referiu à Agência ECCLESIA na terra natal do primeiro bispo de Setúbal.

D. António Taipa sublinha a capacidade de denúncia da injustiça, “com a força que era própria dele”, e a “sensibilidade à pobreza, às situações que foi vivendo” em Setúbal. “Era um homem muito pobre”, que “deu tudo”, acrescenta o responsável, recordando episódios em que o bispo emérito 

 

se prontificava a partilhar “o pouco dinheiro que tinha” com quem vivia situações mais dramáticas.

Para o Administrador Diocesano do Porto, a memória do “bispo de Setúbal”, como D. Manuel Martins tinha orgulho em ser recordado, representa um “desafio” e sublinha a “necessidade de uma presença da Igreja, cada vez mais forte, junto daqueles que são os deserdados”, abrindo “caminhos de esperança para muita gente”.

 

 

 

O primeiro bispo da diocese sadina deixa a todos uma palavra de “atualização, de verdade, de liberdade, de intervenção”, conclui D. António Taipa.

Ouvido pela Renascença, D. Joaquim Mendes, bispo auxiliar de Lisboa e presidente da Comissão Episcopal do Laicado e Família, lembra D. Manuel Martins como “um bispo próximo, próximo à realidade do povo da sua diocese que na altura se debatia com uma situação de precariedade e de 

 
 

pobreza”. “D. Manuel Martins foi um defensor dos direitos dos trabalhadores e dos mais pobres e por isso entrou no seu coração. Era um bispo das causas sociais, um bispo da caridade cristã, um bispo respeitado e escutado por todos, crentes e não crentes”, acrescentou.

O arcebispo de Braga disse que D. Manuel Martins, bispo emérito de Setúbal, deixou como legado à Igreja Católica em Portugal a capacidade de intervenção e de “mostrar a verdade”, sem medo das consequências. “Sempre o vi nessa perspetiva, um homem que não se calou perante aquilo que era necessário dizer e creio que isto é um legado que a Igreja não pode perder”, realçou D. Jorge Ortiga à Agência ECCLESIA.

Para o arcebispo de Braga, a Igreja “tem de ser mais corajosa” e, nos “tempos que correm”, dar um 

 

 

 

testemunho “mais eloquente daquilo que é a Doutrina do Evangelho” sem ter “receio”. “Por vezes, acomodamo-nos à nossa situação, verificamosque os outros estão a construir uma sociedade alheia aos valores evangélicos e permitimos que tudo naturalmente vá acontecendo”, desenvolveu.

Com a morte de D. Manuel Martins, Portugal perdeu “um grande homem” que se identificou com “a causa dos mais pobres, dos mais necessitados,” e “lutou” por ela sendo que o seu trabalho foi em favor dos católicos, dos cristãos mas de qualquer pessoa, “de muita gente que nem sequer 

 

frequentava a Igreja”. “Soube viver para todos na vertente de doação e entrega sem fronteiras e sem ideologias ou coisa parecida”, destacou D. Jorge Ortiga.

O arcebispo primaz recorda que quando D. Manuel Martins chegou à recém-criada Diocese de Setúbal, em 1975, encontrou uma região “martirizada” e foi um bispo “muito atento a essas situações sociais, alguns graves”, onde procurou responder, em termos pessoais e em termos das estruturas da Igreja, e “alertar a sociedade para essas situações”.

 

 

 

 

 

D. Jorge Ortiga tinha reagido este domingo à notícia da morte do bispo emérito com uma mensagem na sua conta na rede social Twitter: “D. Manuel Martins, descanse em paz. Os pobres e os trabalhadores têm um intercessor no céu”.

O arcebispo de Braga explica que caracterizou o bispo emérito como “um advogado dos pobres e dos 

 

trabalhadores” porque ele “olhou para as condições de trabalho em que eles viviam” mas também para os que “não podiam usufruir do direito ao trabalho”, os desempregados que “eram muitos que traziam consigo a pobreza”.

Na Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) D. Manuel Martins foi presidente da Comissão Episcopal da Ação Social

 

 

 

 e Caritativa, bem como da Comissão Episcopal das Migrações e Turismo. “Deixa ficar esse legado à CEP, e diversas comissões, que poderemos intervir e devemos falar. Que não devemos ter medo e devemos mostrar a verdade ainda que, por ventura, custa em consequências”, assinala D. Jorge Ortiga.

O responsável recorda também um bispo “muito interventivo” que “não procurava estar em concordância com todos”.

“Se fosse necessário discordar, com certeza que o fazia e muitas vezes para ousar, mostrar o que era verdade e lutar por essa mesma verdade”, acrescenta, lembrando ainda D. Manuel Martins como “um amigo, um conselheiro”.

O bispo emérito de Setúbal era também “um homem de profunda fé”, com uma “convicção interior muito grande e de intimidade com Deus”, porque era “a partir de dentro que agia com coragem”. “Os profetas não conseguem ser profetas sem vida interior. A força vem sempre de dentro e ele sendo homem de coragem para anunciar e denunciar a força vinha da intimidade com Deus”, observa D. Jorge Ortiga.

O bispo da Diocese de Angra recordou hoje D. Manuel Martins como um

 

“profeta e apóstolo” ao serviço dos mais frágeis da sociedade. “Agradeço ao Senhor Dom Manuel Martins a sua vida inspiradora de uma ação pastoral norteada pela defesa da dignidade humana, privilegiando os mais frágeis e excluídos e pelo diálogo lúcido e coerente com o mundo do nosso tempo”, escreve D. João Lavrador, numa mensagem enviada à Agência ECCLESIA.

O responsável pela comunidade católica nos Açores confessa “surpresa” pela morte de um bispo que, apesar da sua idade, esteve sempre “perto” desta diocese insular. “Fica-me uma palavra de muita gratidão em nome da Diocese de Angra pela amizade e carinho que demonstrou por palavras elogiosas para este bom povo dos Açores, mas sobretudo pela sua presença regular e empenhada em diversas situações da vida desta Igreja diocesana, seja na presidência, seja na substituição de alguns párocos que deste modo poderiam usufruir de algum tempo de descanso”, refere D. João Lavrador.

O bispo de Angra apresenta as “condolências fraternas” e a promessa de oração à Diocese de Setúbal e ao seu bispo, D. José Ornelas, bem como à diocese de origem de D. Manuel Martins, o Porto, e ao seu 

 

 

 

 

administrador diocesano, D. António Taipa.

O delegado do Conselho Pontifício da Cultura (Santa Sé), D. Carlos Azevedo, prestou homenagem à coragem de D. Manuel Martins. “Não se resigna, intervém. Não implora auxílio do poder, exige o que os direitos requerem. Não adormece as consciências, desperta-as para se darem ao respeito. Não se contenta com reprovar, acusa e denuncia as injustiças. Não fala da pobreza, combate-a”, escreve o responsável português, numa nota divulgada através da sua página no Facebook.

Recordando a “profunda amizade” que o uniu a D. Manuel Martins, a quem sucedeu na presidência da Fundação Spes, sediada no Porto, D. Carlos Azevedo salienta “a fidelidade a si mesmo, ao Evangelho de Cristo e ao concreto das situações” como marcas da vida do falecido bispo.

Perante a realidade, "sem crivos ou filtros", D. Manuel Martins assumiu “com coragem a sua missão episcopal”.

A Fundação SPES foi criada, por testamento, pelo bispo do Porto D. António Ferreira Gomes, aquando da sua morte, ocorrida em 13 de abril 

 

de 1989, tendo nomeado como um dos seus administradores vitalícios D. Manuel Martins.

O atual presidente da fundação, José Ferreira Gomes, disse hoje à Agência ECCLESIA que também a Diocese do Porto ficou com a “marca” de D. Manuel Martins, como pároco e vigário-geral.

Já como primeiro bispo de Setúbal, chegou à região “numa altura muito difícil”, em 1975, de grave crise económica e instabilidade política, com “enormes dramas sociais”. “A sua intervenção foi importante para a Diocese de Setúbal, para o país, e tornou-o uma enorme referência da Igreja, como bispo, e como cidadão preocupado com os mais frágeis, com as desigualdades e injustiças sociais”, refere José Ferreira Gomes.

 

 

Classe política homenageia intervenção em nome dos mais indefesos

O presidente da República Portuguesa lamentou a morte de D. Manuel Martins, bispo emérito de Setúbal, recordando-o como um homem “sempre atento à luta pela liberdade”. “O senhor Dom Manuel Martins, representou, para a Igreja Portuguesa, a projeção da linhagem do senhor Dom António Ferreira Gomes no mundo do trabalho, em áreas sociais particularmente complexas, sempre atento à luta pela liberdade contra a opressão e pela igualdade contra a injustiça. Em homenagem ao princípio da dignidade da pessoa”, escreve Marcelo Rebelo de Sousa, numa mensagem divulgada pela Presidência da República.

“Ao dar vida aos princípios evangélicos, em tempos de crise e de enormes desafios comunitários, não serviu apenas a Igreja Católica, serviu Portugal”, defende o chefe de Estado.

Rebelo de Sousa evoca a mensagem por ocasião do 90.º aniversário do prelado, na qual se elogiava um testemunho “particularmente impressivo à frente da Diocese de Setúbal”. “O Presidente da República evoca, com saudosa e respeitosa 

 

amizade, uma personalidade singular, que tudo fez na sua vida para contribuir para um Portugal mais livre e mais justo, e, por isso, mais democrático”, conclui a mensagem de condolências.

O primeiro-ministro português também lamentou a morte de D. Manuel Martins, bispo emérito de Setúbal, que considerou uma “grande referência da consciência social”.

António Costa sustenta que a “melhor homenagem à sua memória é a ação pela erradicação da pobreza”. "É com grande tristeza que recebo a notícia do falecimento de D. Manuel Martins, grande referência da consciência social", afirmou o chefe de Governo.

O presidente da Assembleia da República manifestou “enorme tristeza” pelo falecimento de D. Manuel Martins, saudando o seu compromisso nas causas sociais. “Conheci Dom Manuel Martins e pude comprovar as preocupações sociais que sempre exprimiu, 

 

 


 

 

 

 

 

 

 

o seu inconformismo permanente na luta contra a pobreza e a sua solidariedade”, refere Eduardo Ferro Rodrigues, numa mensagem de pesar publicada no site do Parlamento português.

O responsável fala em particular da entrega, pessoal, do projeto do que mais tarde viria a ser o Rendimento Mínimo Garantido. “À família e amigos de Dom Manuel Martins quero expressar os meus profundos sentimentos e a minha solidariedade a um homem bom que sempre foi solidário”, conclui Ferro Rodrigues.

A Câmara Municipal de Setúbal decretou dois dias de luto municipal, pelo falecimento de D. Manuel Martins, primeiro bispo sadino. “O bispo de Setúbal D. Manuel Martins fica para sempre na memória de todos os setubalenses e de todos os portugueses como o homem justo que sempre soube de que lado deveria estar: do lado dos mais desfavorecidos, do lado daqueles por quem sempre lutou, por quem sempre levantou a voz e por quem sempre estava disposto a sacrificar-se”, assinala a presidente da Câmara Municipal de Setúbal, em nota divulgada pela autarquia.

 

A presidente da Câmara de Setúbal elogiou a marca deixada na região por D. Manuel Martins, primeiro bispo da diocese sadina, que faleceu no último domingo. “Deixou uma marca muito, muito forte, como humanista, preocupado com as questões sociais, muito próximo do povo e dos seus problemas”, disse Maria das Dores Meira à Agência ECCLESIA.

A autarca deslocou-se a Leça do Balio, terra natal do falecido bispo, para prestar uma última homenagem a “uma personalidade muito marcante em Setúbal”. “Era um homem que tocava todos”, assinala Maria das Dores Meira, realçando que D. Manuel Martins “passou maus momentos” sem nunca abandonar o seu povo.

A Câmara Municipal de Matosinhos decretou três dias de luto municipal em homenagem a D. Manuel Martins, natural de Leça do Bailo, território da autarquia. “A Câmara Municipal de Matosinhos lamenta profundamente o falecimento de D. Manuel Martins, nascido e criado em Leça do Balio e para onde regressou após 23 anos a exercer funções como Bispo de Setúbal, endereçando as mais sentidas condolências a toda a família, amigos, e a toda a comunidade matosinhense 

 

 

 

 

 

 

 

pela triste perda de um dos mais ilustres filhos da terra”, assinala um comunicado publicado na página do município.

Após a renúncia ao cargo de bispo de Setúbal, o prelado regressou à sua terra natal, Leça do Balio, “continuando a percorrer o País em intervenções na área do social, realizando conferências e ações de orientação para o clero”.

A Câmara Municipal de Matosinhos atribuiu a D. Manuel Martins a Medalha de Honra da autarquia (Dourada) e o Titulo de Cidadão de Matosinhos, em maio de 1993; no ano 2000, o município homenageou o bispo emérito de Setúbal com a colocação de um busto de bronze e granito, da autoria de Anabela Paiva, junto ao Mosteiro de Leça do Balio.

A Câmara Municipal de Almada homenageou a “defesa corajosa, assumida e permanente” dos mais pobres por parte de D. Manuel Martins, bispo emérito de Setúbal, falecido esta tarde aos 90 anos. “Crentes e não crentes reconhecem na figura de D. Manuel Martins a extraordinária importância e significado da sua ação na defesa corajosa, assumida e permanente dos mais carenciados”, refere uma nota de pesar assinada pelo presidente da 

 

autarquia, Joaquim Estêvão Miguel Judas.

O edil realça, em particular, o papel do então bispo de Setúbal junto dos que sofreram “os efeitos mais negativos da grande crise social e económica” que atingiu o distrito de na década de 80 do século XX. Almada atribuiu a Manuel Martins o estatuto de cidadão honorário e condecorou o bispo emérito de Setúbal em 1994 com a Medalha de Ouro da Cidade.

O general Ramalho Eanes, ex-presidente da República Portuguesa, prestou homenagem a D. Manuel Martins, recordando em particular pela sua defesa dos “mais desfavorecidos”. Falando aos jornalistas antes da Missa exequial, celebrada no Mosteiro de Leça do Balio, terra natal do bispo emérito de Setúbal, Ramalho Eanes sublinhou que D. Manuel Martins utilizava a “sua voz vigorosa e o desassombro da denúncia”.

Na Diocese de Setúbal, D. Manuel Martins deixou um “trabalho notável e muitas foram as obras que ele desenvolveu para apoiar os pobres”, afirmou o general Ramalho Eanes.

O antigo chefe de Estado evocou o bispo emérito de Setúbal como um amigo e uma “voz profética”.

 

 

Memórias de quem viveu e aprendeu com D. Manuel Martins

A Cáritas Portuguesa lamentou a morte de D. Manuel Martins, um homem que segundo a organização católica, “esteve sempre ao lado dos mais pobres, amplificando a sua voz, em todas as circunstâncias que comprometiam os Direitos Humanos”. Num comunicado publicado esta segunda-feira, a Cáritas Portuguesa salienta que o desaparecimento de D. Manuel Martins, o primeiro bispo de Setúbal, deixa “uma dor imensa para todos e particularmente para os que partilharam momentos da vida com ele”.

A nota acrescenta que a Igreja Católica em Portugal recebeu “uma herança de acolhimento ao outro que sofre”. “A sua vida foi um Dom para todos e estamos certos que, pela comunhão dos Santos, continuará a acompanhar a missão da Igreja e a interceder pelos que se encontram em situação de maior fragilidade”, pode ler-se.

A Cáritas Diocesana de Setúbal, instituição fundada por D. Manuel Martins em 1976, também reagiu à morte do bispo, através do seu presidente, Domingos de Sousa. 

 

Numa nota publicada online, aquele responsável realça um momento “doloroso” para todos os elementos da organização e frisa que a partida de D. Manuel Martins já é causa de “uma saudade profunda” e de “um vazio enorme para tantas e tantos que encontravam nele o alento para as suas vidas muito difíceis”.

“Nas suas palavras havia sempre uma mensagem de esperança. Os pobres, os deserdados da vida, todos aqueles não tinham vez nem voz, viam nele o seu defensor”, sublinha Domingos de Sousa.

O presidente da Cáritas de Setúbal termina a sua mensagem fazendo votos de “que, da varanda do céu”, D. Manuel Martins “olhe por todos” e que continue a ser junto de Deus o que foi em vida, “intercede junto do Pai eterno para que todos sejam dignos seguidores de Jesus, na vida pública e privada”.

O diretor do Secretariado Nacional das Comunicações Sociais (SNCS) recordou o apostolado de D. Manuel Martins, que se “afirmou pela voz daqueles que não têm voz”, nas questões “da 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

pobreza, do desemprego, da dignidade da pessoa humana, do bem-comum”.

Em declarações à Agência ECCLESIA, o padre Américo Aguiar disse que “ecoa”, ainda hoje, “no coração de todos os portugueses” os gritos de D. Manuel Martins na luta por “valores profundamente evangélicos” e que levaram a apelidá-lo de “bispo vermelho”.

O diretor do SNCS recorda que o D. Manuel Martins, falecido este domingo, dizia que “se ser bispo vermelho é gritar contra” a pobreza, o desemprego, a falta de dignidade humana, os valores essenciais da humanidade, “por aqueles que não têm voz”. “É um apostolado enraizado profundamente no Evangelho, em Jesus Cristo”, observa o padre Américo Aguiar.

O legado de D. Manuel Martins “continua, continuará e terá de continuar” enquanto existirem últimos na sociedade e a quem “não sejam respeitados” a dignidade, o direito ao trabalho, o pagamento devido, o direito à habitação, à saúde. “Sempre que estes direitos não estiverem garantidos, seja onde favor, temos de ser o grito da dor e da incompreensão dos irmãos e das 

 

irmãs em qualquer porto do mundo porque isso é o Evangelho, é Jesus Cristo, é a Igreja”, desenvolveu.

A Misericórdia do Porto recordou, por sua vez, o “importante papel como cidadão e homem da Igreja”, na vida coletiva do país. “Verdadeiro Príncipe do Povo junto da Igreja, D. Manuel Martins acompanhou D. António Ferreira Gomes no seu difícil mandato de Bispo do Porto, foi Bispo de Setúbal em tempos conturbados de afirmação do regime democrático e regressou ao Porto para terminar o seu magistério pastoral”, refere uma nota da instituição católica enviada À Agência ECCLESIA.

Após a morte do bispo do Porto, D. António Francisco dos Santos, a 11 de setembro, a Santa Casa da Misericórdia do Porto sublinha o “desaparecimento de mais um grande Bispo”. “Com grande humildade aceitou ser nosso Capelão e o seu nome fica ligado ao último projeto da Misericórdia do Porto - o Centro de Alojamento Social, assinala a instituição, a respeito de D. Manuel Martins.

“O seu exemplo ficará na nossa memória. A sua ação pastoral e cívica ficará na nossa história”, acrescenta a nota oficial.

 

 

 

 

A Rede Europeia Anti-Pobreza/Portugal (EAPN Portugal) prestou uma “sentida homenagem” a D. Manuel Martins, bispo emérito de Setúbal. “Fica para a história como bispo que lutou sempre contra a pobreza e a exclusão social, dignificando os mais desprotegidos, trabalhando na defesa dos direitos humanos”, refere uma nota da instituição.

Já o presidente da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade (CNIS) afirmou que D. Manuel Martins vai fazer falta à sociedade porque “amava aqueles com quem estava” e queria vê-los “dignificados”.

“D. Manuel Martins como pessoa, como bispo, como padre, amava aqueles com que estava. Amar é estar interessado a dar-se”, disse hoje o padre Lino Maia em declarações à Agência ECCLESIA.

O sacerdote considera que “toda a ação” do primeiro bispo de Setúbal se “caraterizou” por dar-se “aqueles com quem estava, que queria ver dignificados” e felizes.

O presidente da CNIS realça que a “atenção especial para as carências sociais, à necessidade da solidariedade entre gerações, os povos, as 

 

comunidades” de D. Manuel Martins não começou na diocese sadina, nem terminou quando passou a bispo emérito, mas já as manifestava na Igreja-natal do Porto. Neste âmbito, recorda a “especial atenção aos pobres e desempregados” era uma preocupação permanente do bispo emérito para quem essa situação era “manifestação de muitas injustiças” e “erradicar a pobreza uma tarefa de todos, crentes e não crentes”.

“Como crente empenhou-se. Para ele o desempregado era alguém que não via a sua dignidade de pessoa respeitada”, observou.

O padre Lino Maia considera que o prelado “faz falta” à sociedade e espera que a Igreja “não abandone” a sua missão essencial de que “ele era sinal”. “Tornar Deus visível nas pessoas, de estar ao serviço das pessoas, de todas as pessoas, e pugnar pela dignificação de cada um e de todos”, exemplificou, realçando que os bispos “têm estado atentos” e espero que a partir do exemplo de D. Manuel Martins “ainda ergam mais a sua voz e ação”.

A Pax Christi em Portugal recordou o bispo emérito de Setúbal como anunciador do “Evangelho da justiça, da paz e do amor”. Num comunicado enviado à Agência ECCLESIA, a 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

direção da organização católica realça que o bispo emérito foi um “testemunho de coragem, firmeza e serenidade empenhada, enraizada na certeza de que o projeto de Deus para o Homem passa pela construção da Paz com Justiça e Fraternidade”.

D. Manuel Martins, primeiro presidente da secção portuguesa da ‘Pax Christi’, acompanhou, com “entusiasmo e carinho, a criação e desenvolvimento”, deste organismo “tendo sido um grande impulsionador” do “trabalho e compromisso com a Paz”. “Tinha sempre uma palavra de incentivo e atenção que não nos deixava desistir ou esmorecer, acompanhando e participando no trabalho desenvolvido, nomeadamente, na defesa dos Direitos Humanos, na luta pela paz em Timor Leste, nas ações de educação a favor da paz e da justiça, no desenvolvimento do diálogo ecuménico e inter-religioso”, lê-se no comunicado.

O povo de Timor-Leste tem D. Manuel Martins no “coração”, disse à Agência ECCLESIA D. Carlos Ximenes Belo, bispo emérito de Díli. Foi com a ajuda do então bispo de Setúbal, falecido este domingo, que D. Carlos Ximenes Belo enviou “uma carta Pérez de 

 

Cuéllar, secretário-geral das Nações Unidas de 1982 a 1991, pedindo a sua intervenção na causa do povo timorense”, revelou o prelado, Prémio Nobel da Paz.

“Ele teve também a amabilidade de escrever a várias conferências episcopais sobre o sofrimento do povo de Timor”, acrescentou D. Carlos Ximenes Belo.

Homem de causas, D. Manuel Martins “nunca se cansou de despertar as pessoas” para a causa de Timor-Leste.

Ultimamente, D. Carlos Ximenes Belo encontrava-se com frequência com o bispo emérito de Setúbal, a residir nos arredores do Porto, para colocar a conversa em dia sobre a “situação do mundo e da nação timorense”, referiu.

Na diocese sadina, onde D. Manuel Martins foi bispo de 1975 a 1998 havia uma “grande comunidade timorense”, que foi “muito bem acolhida pelo povo e pela Cáritas local”

Já a embaixadora de Timor-Leste em Portugal, Maria Paixão da Costa, sublinhou à Agência ECCLESIA que D. Manuel Martins será “sempre recordado” pelo povo timorense. “Foi um grande exemplo para todos os timorenses” porque “lutava constantemente pela justiça e pelos direitos dos povos”, disse.

 

 

 

O padre Constantino Alves, pároco da igreja de Nossa Senhora da Conceição, na Diocese de Setúbal, recordou hoje o seu antigo bispo D. Manuel Martins como um “defensor intransigente” da “dignidade” de cada pessoa. O sacerdote foi o primeiro padre a ser ordenado por D. Manuel Martins, que evoca como um bispo “extraordinário”, que não queria distrações com “coisas superficiais”, falando com uma “clareza impressionante”.

O padre-operário contou com o apoio do seu bispo, a quem foi dedicado um Centro Social, considerando como uma inspiração a sua “capacidade de discernir as situações e a frontalidade” de um bispo que, perante o despedimento coletivo de trabalhadores, era capaz de dizer “o capitalismo é um monstro”.

O pároco da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição, com vasto serviço social que serve atualmente o bairro da Bela Vista, fala à Agência ECCLESIA num “bispo do povo”, capaz do “dom de si mesmo” e de ser “bispo para os pobres”.

Maria de Fátima era vizinha do falecido bispo na sua terra natal, Leça do Balio, e lembra-se de ver D. Manuel Martins levar para Setúbal “carradas de roupas, batatas e 

 

couves” nos tempos mais graves da crise que atingiu a região. Com uma “forte consciência social”, D. Manuel Martins era “um amigo” e “amigo dos mais necessitados”, acrescenta.

O filho da terra era “muito estimado” e ajudou na “construção das escolas novas” que existem na localidade, sublinha Maria de Fátima.

O pároco de Leça do Balio (Matosinhos), terra natal de D. Manuel Martins como alguém que “não tinha cores, nem partidos”. O padre Pedro Gradim faz questão de lembrar que quando D. Manuel Martins chegou à Diocese de Setúbal, em 1975, alguns lhe chamavam “bispo fascista”, por ser natural do norte de Portugal, mas devido ao seu modo de ser pastor depressa passou a ser designado “bispo vermelho”.

O pároco de Leça do Balio, que ali se encontra há 51 anos, realça que a terra natal “esteve sempre no coração de D. Manuel Martins, mesmo quando foi para Setúbal”, como primeiro bispo da diocese sadina, de 1975 a 1998.

A paróquia também estava representada na entrada solene de D. Manuel Martins na diocese setubalense e os presentes sentiram “que a missão era difícil” naquele território, visto que algumas “até apuparam” o novo bispo. “Foi um 

 

 

 

bispo com uma intervenção muito forte”, numa área de pobreza e de conflitos sociais, acrescenta o padre Pedro Gradim, que foi aluno do falecido bispo e recorda uma figura que se impunha com “muita frontalidade e amor”.

O responsável marcou “um estilo de fazer pastoral” e foi a “voz forte da Igreja” no pós-25 de abril, tal como o fez D. António Ferreira Gomes, de quem ele “era amicíssimo”, realça o padre Pedro Gradim.

O Corpo Nacional de Escutas (CNE) 

 

publicou uma manifestação de pesar pelo falecimento do bispo emérito de Setúbal, D. Manuel Martins, que lembra como “um pastor próximo do povo e do escutismo”. Na mensagem enviada à Agência ECCLESIA, o CNE associa-se “à dor de quantos choram a partida” de D. Manuel Martins “para o acampamento eterno”.

Neste contexto, à dor do falecimento do primeiro bispo da Diocese de Setúbal, que faleceu no domingo, o movimento católico junta “a imensa gratidão por tudo quanto ofereceu”.

 

 

D. Manuel Martins
fez-me “nascer de novo”

Antes de mais peço desculpa aos colaboradores dos órgãos de comunicação social por não ter acedido ao pedido para exprimir a minha reação à partida deste mundo de D. Manuel Martins. Não o fiz por ter perdido a capacidade de reação – que ainda se mantém muito fragilizada – e por saber que tudo o que pudesse dizer naqueles dias seria envolto numa descontrolada emoção. Por outro lado, só o silêncio total me preenchia a alma.

A morte é uma realidade intransponível e, para nós cristãos, a única porta de entrada na Vida onde não mais haverá “luto nem dor”. Eu creio, firmemente, que assim é. Mas isso não impede que a partida deste mundo, de quem amamos, não nos traga sofrimento e nos inunde os olhos de lágrimas de saudade. O mesmo aconteceu ao próprio Cristo.

No próximo dia 26 de outubro completam-se 42 anos de uma relação humana que começou por ser, simplesmente, eclesial, ou seja, de um bispo com um, entre muito outros, diocesanos para ir crescendo na 

 

amizade até chegar à condição equiparada à de amor filial.

A minha vida biológica, a educação alicerçada nos conhecimentos académicos e nos valores humanos, a iniciação na prática da religião católica, devo tudo isto aos meus pais que trabalharam muito e honradamente para ser quem tenho sido até agora. Mas D. Manuel, no plano religioso, fez- me nascer de novo. Deixei de ser, meramente, religioso e passei a trilhar os caminhos que os cristãos devem esforçar-se por seguir. Quando esta transformação se deu, tudo se tornou mais difícil, mas a fé que professo encontrou o seu verdadeiro sentido; a esperança deixou de ser uma atitude de "braços cruzados" à espera que do “céu tudo caia”, mas o dinamismo de quem tem um ideal "faz a hora, não espera acontecer"; a prática da caridade passou a ser um combate pela justiça e não uma forma de anestesiar a má consciência de um viver egocêntrico e egoísta. Acima de tudo, foi D. Manuel que me deu a conhecer o significado autêntico e 

 

 

 

 

o valor incomensurável da dignidade de cada ser humano.

Foram anos de uma relação humana fortíssima e muito verdadeira. Nunca teve receios do meu "protagonismo" social e eclesial, porque tinha a plena convicção de que era "maior" do que eu.  Ficam na minha memória e no meu coração os bons e maus momentos vividos juntos ou narrados mutuamente e que tanto me enriqueceram.

A minha amizade com D. Manuel tornou-se num autêntico 

 

relacionamento familiar, em toda a sua profundidade, que uniu estreitamente a sua e a minha família. Tenho evidências claríssimas desta verdade. Por isso, nem a morte jamais quebrará esta ligação que, agora, passou a ter o tamanho da distância do Céu à Terra, até ao dia em que Deus nos fundir aos dois, e a todos os que nos amaram e amámos neste mundo, a Ele no seu Eterno Abraço.

 

Eugénio Fonseca

Presidente da Cáritas Portuguesa

 

 

A igreja das Palhotas

 

 

O Centro de Reflexão Cristã vai apresentar a 3 de outubro o livro “A igreja das Palhotas”, uma obra que evidencia o papel dos Animadores Leigos na Igreja, nos primórdios da Independência de Moçambique. A obra retoma e aprofunda a matéria que tinha sido publicada há alguns 

 

 

anos na revista Reflexão Cristã, assinala uma nota enviada hoje à Agência ECCLESIA.

A apresentação vai estar a cargo de João Miguel Almeida, Junito Batista, José Luzia e José Leitão e vai ter lugar na sede do CRC-Centro de Reflexão Cristã, em Lisboa, pelas 18h00.

 

 

Prevenir, não reprimir

A apresentação pormenorizada do sistema preventivo de S. João Bosco.

O título sintetiza o método educativo de Dom Bosco: Prevenir, não reprimir.

Ao longo das suas 400 páginas, o livro oferece uma excecional síntese e atualização do sistema educativo salesiano. A pedagogia do coração que Dom Bosco desenvolveu junto da juventude fica agora acessível a todos aqueles que se interessam pela educação.

Educadores, salesianos, professores, estudantes universitários, pais, coordenadores pastorais, encontrarão nestas páginas as "raízes" das intuições educativas salesianas.

 

Edições Salesianas

 

 

 

II

Prevenir, não reprimir

A apresentação pormenorizada do sistema preventivo de S. João Bosco.

O título sintetiza o método educativo de Dom Bosco: Prevenir, não reprimir.

Ao longo das suas 400 páginas, o livro oferece uma excecional síntese e atualização do sistema educativo salesiano. A pedagogia do coração que Dom Bosco desenvolveu junto da juventude fica agora acessível a todos aqueles que se interessam pela educação.

Educadores, salesianos, professores, estudantes universitários, pais, coordenadores pastorais, encontrarão nestas páginas as "raízes" das intuições educativas salesianas.

Edições Salesianas - http://www.edisal.salesianos.pt/index.php/loja/suporte-509d251eafff4/livros-509d252c391f8/prevenir,-n%C3%A3o-reprimir-detalhe

setembro/outubro 2017

Dia 29 de Setembro

Algarve
Apresentação do programa, nas várias vigarias, de atividades para a Pastoral Juvenil.

 

Funchal
Apresentação da obra «O Pequeno Caminho das Grandes Perguntas» da autoria do padre Tolentino Mendonça.

 

Coimbra
Sessão do Projeto «Palavras no Tempo» com o tema “Religião e pobreza” com Eugénio Fonseca, presidente da Cáritas Portuguesa, e Pedro Espanha, às 15h00 na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra.

 

Cascais
O Festival Internacional de Cultura – FIC receber a conversa sobre ‘As artes contemporâneas no centenário das aparições de Fátima’ com o padre e poeta José Tolentino Mendonça e os professores universitários Mário Avelar e Alfredo Teixeira, às 21h30, na Casa das Histórias Paula Rego, em Cascais.

 
30 setembro

Portalegre-Castelo Branco 
Assembleia Diocesana da Pastoral no Arciprestado de Ponte de Sor

 

Leiria-Fátima
Encontro diocesano de catequistas em Fátima

 

Coimbra
Conselho Nacional da Pastoral Operária

 

Algarve
O bispo do Algarve, D. Manuel Quintas, preside à reunião geral dos professores da disciplina Educação Moral e Religiosa Católica - EMRC com celebração de envio.

 

Funchal
O bispo do Funchal, D. António Carrilho, vai reunir em assembleia as direções dos secretariados, movimentos e obras laicais no Convento de Santa Clara, tendo como pano de fundo o tema do ano pastoral 2017/2018 na diocese ‘Igreja jovem com os jovens’.

 

 

 

01 de outubro

Itália

O Papa Francisco vai visitar as cidades italianas de Bolonha e Cesena e no programa há encontros com clero, jovens, famílias, migrantes e celebração.

 

Lisboa
D. Joaquim Mendes, bispo auxiliar de Lisboa, preside à celebração de início do novo ano da Escola Diocesana de Música Sacra

 

01 a 07 de outubro

Taiwan
Vaticano promove o congresso internacional ‘Apanhados na Rede’ para debater as violações dos direitos dos pescadores e a ação de redes de tráfico humano neste campo. Uma iniciativa do Apostolado do Mar na cidade de Kaohsiung, Taiwan, com o tema, 

 

02 de outubro

Lisboa

Apresentação da obra «O Pequeno Caminho das Grandes Perguntas» do padre Tolentino Mendonça, às 18h30, na Fundação Calouste Gulbenkian.

 

 

 
03 de outubro

Porto

Documentário «São Tomás de Aquino - O teólogo» no Centro de Cultura Católica, na Casa da Torre da Marca

 

Leiria-Fátima
Bispo diocesano, D. António Marto, preside à reunião de vigários;

 

Lisboa
Lançamento da obra «A igreja das Palhotas», da autoria do padre José Luzia, às 18h00, no Centro de Reflexão Cristã.

 

Algarve
Lançamento da obra «Um “santo” surfista. O servo de Deus Guido Schäffer», do padre Ricardo Figueiredo do Patriarcado de Lisboa, com apresentação de Maria Luísa Francisco, a partir das 18h00, em Sagres, no Memmo Baleeira Hotel.

 

05 de outubro

Porto

A Fundação Salesianos e as Edições Salesianas promovem o evento de formação pastoral ‘E-vangelizar’ com o lema ‘Ir ao encontro, dentro e fora do redil’, entre as 09h30 e as 17h45, no Colégio dos Órfãos, na Diocese do Porto.

 

 

II Concílio do Vaticano - As dores de parto do Decreto «Inter Mirifica»

 

Aprovado a 04 de dezembro de 1963, o Decreto «Inter Mirifica, sobre os Meios de Comunicação Social, é o segundo entre os dezasseis documentos publicados pelo II Concílio Vaticano.

Este documento apresenta uma peculiaridade marcante, visto que foi aquele que teve maior dificuldade na sua aprovação em razão da influência que os padres conciliares «sofreram pela resistência de uma parcela do clero e de jornalistas franceses, alemães e americanos, que “consideravam o texto fraco, vago e indigno de ser um Decreto Conciliar”».

Com este decreto, o concílio convocado pelo Papa João XXIII reconhece que os “Instrumentos da Comunicação Social” estão “entre as maravilhas” (Inter Mirifica) da tecnologia, que, até então, contava com a imprensa escrita, o cinema, a rádio e a televisão, pois a internet ainda não figurava entre estes “instrumentos”.

É a primeira vez que um documento conciliar apresenta esta questão dos meios de comunicação social como “um dever e um direito” de uso pela Igreja. Anteriormente, outros documentos trataram do assunto, mas de forma incipiente e até mesmo negativa. A sinalização para a valorização dos novos meios de comunicação surge em 1938, com a Encíclica «Vigilanti Cura», de Pio XI, que reconhece o cinema como um importante meio para divulgar a proposta cristã e o Evangelho, e, em 1957, com a Encíclica «Miranda Prorsus», de Pio XII, que acrescenta a importância da rádio e da televisão.

A partir destas encíclicas, a Igreja passa a compreender a comunicação como linguagem, como cultura, 

 

 

como uma grande articuladora da sociedade, e como uma aliada à sua missão de evangelização no mundo contemporâneo, vindo de encontro com a sua necessidade.

O texto do decreto conciliar foi apresentado ao concílio na 25ª congregação geral e debatido durante três congregações. Contava então com 114 parágrafos e ocupava 40 páginas, dividia-se em duas partes, e cada uma delas era formada de vários capítulos.

Na 28ª congregação geral foi decidido por 2138 votos contra 15 que fosse confiado à comissão competente o encargo de formular mais concisamente os princípios doutrinais e as directrizes pastorais.

Quase um ano depois, a 14 de Novembro de 1963, durante a 67ª congregação geral, a comissão 

 

apresentou aos padres conciliares o novo texto, emendado e reduzido a 24 parágrafos e a 2 capítulos. Depois de consideradas as emendas propostas pelos padres conciliares, o texto foi sujeito à votação geral na 74ª congregação com o seguinte resultado: 2112 votantes; 1598 placet (concordo) e 503 non placet (não concordo). Não obstante o número elevado de padres a quem o texto não agradou, o Papa que sucedeu a João XXIII, Paulo VI, decidiu promulgar o decreto no dia 04 de dezembro de 1963.

A votação final realizada na presença do Papa que iniciou o seu pontificado meses antes teve o seguinte resultado: 2124 votantes; 1960 placet e 164 non placet. (Cf. II Concílio do Vaticano).

 

 

 

 

   

 

- O Teatro Municipal Baltazar Dias, no Funchal, vai receber no dia 29 de setembro pelas 18h30 a apresentação do novo livro do padre madeirense José Tolentino Mendonça, intitulado ‘O pequeno livro das grandes perguntas’. Uma obra sobre as questões que nos aproximam da fé, no quotidiano.

 

- Em Lisboa, no concelho da Amadora, os jovens do Grupo de Teatro da Paróquia da Brandoa vão estrear no dia 30 de setembro a peca ‘O feiticeiro de Oz’, numa sessão prevista para o palco do salão local, a partir das 21h15.

 

- A Igreja de S. Paulo do Seminário Conciliar de Braga vai acolher, no dia 4 de outubro pelas 21h30, um concerto de órgão do mestre holandês Sietz De Vries, um artista premiado a nível internacional.

 

- O Convento dos Remédios e a Sé de Évora vão acolher entre 5 e 8 de outubro as XX jornadas internacionais da ‘Escola de Música da Sé de Évora’, uma iniciativa que congrega conferências, workshops e concertos tendentes a divulgar a herança da referida escola alentejana católica, sobretudo entre os séculos XVI e XVII.

 

- “Jesus Entre os Doutores”, “S. João Baptista Criança Servido por Dois Anjos”, “S. Jerónimo Penitente”, “As Bodas de Caná” e “Instituição da Eucaristia” são alguns dos quadros que podem ser admirados no Museu Municipal de Faro, numa exposição de nível ibérico que conta com várias peças pertencentes ao espólio artístico da Diocese do Algarve.

 

 

 

 

 

 

 

Programação religiosa nos media

Antena 1, 8h00

RTP1, 10h30

Transmissão da missa dominical

 

 

11h00 - Transmissão missa

 

 

 

Domingo:

10h00 - Porta Aberta; 11h00 - Eucaristia; 23h30 - Entrevista de Aura Miguel

 

Segunda-feira:

12h00 - Informação religiosa

 

Diariamente

18h30 - Terço

 

 

 
RTP2, 13h00

Domingo, 24 de setembro - Vidas em reconstrução em Pedrógão Grande.

 

Segunda-feira, dia 25 de setembro, 15h00 -  Entrevista Pedro Vaz Patto : Eleições autárquicas.

 

Terça-feira, dia 26 de setembro, 15h00 - Informação e entrevista Joana Marques, voluntária dos Leigos para o Desenvolvimento.

 

Quarta-feira, dia 27 de setembro, 15h00 - Informção e entrevista a José Manuel Pimenta, sobre o Dia Mundial do Turismo.

 

Quinta-feira, dia 28 de setembro, 15h00 - Informação e análise à atualidade.

 

Sexta-feira, dia 29 de setembro, 15h00  -  Entrevista. Comentário à liturgia do domingo com o cónego António Rego e o padre João Lourenço.

 

Antena 1

Domingo, 24 de setembro, 06h00 -  Percurso e memória de D. Manuel Martins

 

Segunda a sexta, 25 a 29 de setembro, 22h45 - Sacerdotes estranegiros na pastoral portuguesa: Pe Jan Pietrus, Pe. Samuel Pulikhal, Pe Miguel Hernandez, Pe. Raimundo Mangens e Pe. Christopher James Hogg.

 

  

 

 

     

 

 

 

 

 

 

Ano A – 26.º Domingo do Tempo Comum 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 
 
Que Significa Sim A Deus?
 
 

A liturgia do 26.º Domingo do Tempo Comum deixa claro que Deus chama todos os homens e mulheres a empenhar-se na construção do mundo novo de justiça e de paz sonhado por Deus para nós. Diante dessa proposta podemos assumir duas atitudes: ou dizer sim a Deus e colaborar com Ele, ou escolher caminhos de egoísmo, de comodismo, de isolamento e demitirmo-nos do compromisso que Deus nos pede.

Olhemos mais de perto o Evangelho de hoje. A parábola dos dois filhos ilustra duas atitudes diversas diante dos desafios e das propostas de Deus.

O primeiro filho foi convidado pelo pai a trabalhar na vinha. A sua primeira resposta foi negativa: não quero. Mas acabou por reconsiderar e por ir trabalhar na vinha. O segundo filho respondeu: vou, sim, senhor. Mas acabou por não ir trabalhar na vinha. E segue-se a questão posta por Jesus: “qual dos dois fez a vontade do pai?”

Diante do chamamento de Deus, há dois tipos de resposta. Há aqueles que escutam o chamamento de Deus, mas não são capazes de vencer o imobilismo, a preguiça, o comodismo, o egoísmo, a autossuficiência e não vão trabalhar para a vinha, mesmo que tenham dito sim a Deus e tenham sido batizados); e há aqueles que acolhem o chamamento de Deus e que lhe respondem de forma generosa.

O que é que significa, exatamente, dizer sim a Deus? É ser batizado ou crismado? É casar na Igreja? É fazer parte de uma confraria qualquer da paróquia? É fazer parte da equipa que gere a fábrica da Igreja? É ter feito votos num qualquer instituto religioso? É ir todos os dias à missa e rezar diariamente a liturgia das horas?

 

 

 

 

Na parábola apresentada por Jesus, não chega dizer um sim inicial a Deus; mas é preciso que esse sim inicial se confirme, depois, num verdadeiro empenho na vinha do Senhor. Ou seja: não bastam palavras e declarações de boas intenções; é preciso viver, dia a dia, os valores do Evangelho, seguir Jesus nesse caminho de amor e de entrega que Ele percorreu, construir, com gestos concretos, um mundo de justiça, de bondade, de solidariedade, de perdão, de paz.

É sempre fácil fazer belas promessas e proferir belas declarações. O que

 

 

conta são os atos. Muitas vezes exprimimos a Deus a nossa confiança através de uma bela profissão de fé, muitas vezes reafirmamos-Lhe o nosso amor através de belas orações, mas Ele espera que Lhe manifestemos esta confiança e este amor. Não basta dizer os atos de fé, de esperança e de caridade. É preciso pôr em ação a nossa fé, a nossa esperança e a nossa caridade. Então, seremos verdadeiros praticantes, pondo em prática o que ouvimos na Palavra e vivemos na Eucaristia.

Manuel Barbosa, scj

www.dehonianos.org 

 

 

Angola recebe visita da Imagem Peregrina

 

A imagem Peregrina de Nossa Senhora de Fátima vai visitar algumas paróquias de Luanda e Uíge, em Angola, entre o dia 13 e 24 de outubro, uma iniciativa histórica porque é a primeira vez desde a independência. Numa nota enviada à Agência ECCLESIA, o servita António Mucharreira, que está a preparar a peregrinação há três anos, informa que a visita vai começar na Paróquia de Fátima, na capital do país africano.

 

 

O “grande evento”, revela, “está a deixar as comunidades por onde vai passar em delírio”, afinal há cerca de 70 anos que a Imagem Peregrina de Nossa Senhora de Fátima “não visita” o país lusófono, ou seja, é “a primeira vez depois da independência”.

Neste contexto, o comunicado recorda o relato do padre Luciano Cristino, diretor do Serviço de Estudos e Difusão do Santuário de Fátima entre 1976 e 2013, sobre a viagem da 

 

 

 

 

 

 

imagem peregrina que rumou do porto de Lisboa com destino ao continente africano a 20 de julho de 1948.

Nessa viagem, desenvolve, a imagem de Nossa Senhora de Fátima passou pelo Funchal a caminho de São Tomé e Príncipe e Angola, onde chegou a 30 de julho, depois foi para Moçambique, e ainda esteve na África do Sul de onde foi, numa “longa viagem por 

 

 

terra”, até ao Cairo passando por Rodésia do Sul, Transval, Rodésia do Norte, Eritreia, Zanzibar, Tanzânia, Uganda, Etiópia, Eritreia e Líbia.

O servita António Mucharreira lembra ainda que há cerca de 40 anos aterrou em Angola “com uma arma de guerra nas mãos” e agora vai ser uma “emoção extrema voltar com outra arma, desta vez, de paz, amor e de oração”.

 

Peregrinação jubilar de sacerdotes idosos e doentes

O Santuário de Fátima promove até sábado uma peregrinação jubilar para sacerdotes idosos e doentes, englobada nas comemorações do Centenário das Aparições. “Ao longo de cem anos, muitos foram os corações tocados pela mensagem de Nossa Senhora”, mas “há uma categoria de testemunhas privilegiadas deste toque da misericórdia e dos seus frutos de conversão: os sacerdotes”, refere uma nota do Santuário, enviada à Agência ECCLESIA.

Com esta iniciativa, o local de culto mariano espera também homenagear os “muitos milhares” de padres que “ano após ano, década após década, aqui exerceram o ministério da reconciliação, como confessores das multidões que ouviram e quiseram corresponder ao apelo à penitência que a Virgem Mãe aqui fez soar”.

A peregrinação jubilar para sacerdotes idosos e doentes, ao Santuário de Fátima, vai ser acolhida pela Casa de Retiros de Nossa Senhora das Dores.

 

 

 

Fátima em fotografias

 

O Santuário de Fátima expõe desde esta semana os trabalhos vencedores do Prémio Fotografia Centenário das Aparições de Fátima, no Nártex da Basílica da Santíssima Trindade. A mostra, dividida em quatro partes, conforme as categorias a concurso, dá a conhecer os trabalhos de Rui Duarte Silva, de Mindelo, e de Javier 

 

 

Arcenillas, de Madrid, vencedores da categoria ‘Fotonarrativa’ pela “grande qualidade” dos portefólios, refere um comunicado enviado hoje à Agência ECCLESIA.

Em ‘Retrato humano’ foi distinguido João Torcato de Sousa, de Espite, e na categoria ‘Paisagem’ o prémio foi atribuído ao trabalho de José 

 

 

 

 

António Freitas Guimarães, de Vizela. A “notável qualidade” de outros quatro trabalhos nesta categoria fez com que o júri atribuísse menções honrosas 

a António Carlos Pereira da Costa, de Vila Nova de Gaia; a Ricardo Perna, da Charneca da Caparica; e ao já galardoado Rui Duarte Silva.

“São estes trabalhos que agora se expõem ao público, na certeza de que decorridos 100 anos sobre a inicial data em que surge a primeira fotografia na Cova da Iria, Fátima continua a ser lugar de eleição para que a arte fotográfica revele o

 

 

 retrato humano, fixe a paisagem, capte as práticas e a ritualidade que configuram a Espiritualidade e a Mensagem do Lugar e narre, com a sua peculiar linguagem, este especial acontecimento que se prolonga tempo além”, pode ler-se numa nota do Museu do Santuário de Fátima, que coordena a exposição.

A exposição reúne os dez melhores trabalhos fotográficos, está aberta a todos os peregrinos das 9h00 às 19h00, e pode ser visitada até ao dia 31 de janeiro de 2018 no Nártex da Basílica da Santíssima Trindade.

 

Património imaterial dos peregrinos de Fátima

Realiza-se no próximo dia 4 de outubro, no Convivium de Santo Agostinho, na Basílica da Santíssima Trindade, pelas 21h15, a última visita temática à exposição temporária `As cores do Sol: a luz de Fátima no mundo contemporâneo”.

A visita será orientada pelo reitor do Santuário de Fátima, Pe. Carlos Cabecinhas, que irá refletir sobre o património imaterial dos peregrinos de Fátima, nomeadamente a procissão das velas e a procissão do adeus, dois dos momentos mais emocionantes para os peregrinos que se deslocam à Cova da Iria.

Esta visita temática será a última de um conjunto de seis visitas que se realizaram nas primeiras quartas-feiras de cada mês, entre maio e outubro.

A exposição temporária ‘As cores do Sol: a luz de Fátima no mundo contemporâneo’ está patente ao público no Convivium de Santo Agostinho, até 31 de outubro de 2018.

 

 

 

Histórias de pobreza e solidariedade de mãos dadas na Venezuela

Já pediu esmola?

Quando as prateleiras das lojas estão vazias, quando a violência irrompe pelas ruas, o que se pode fazer? O que se deve fazer? O Bispo da diocese de La Guaira esteve em Fátima, a convite da Fundação AIS, para contar como têm sido tremendos os dias dos venezuelanos. Como, no meio da tragédia da fome, tantas pessoas têm mostrado que a generosidade não é apenas uma palavra…

 

A ditadura de Nicolás Maduro conduziu a Venezuela para o colapso económico que se reflecte na pobreza extrema da população. D. Raúl Castillo, Bispo de La Guaira, esteve em Portugal a convite da Fundação AIS. O seu testemunho sobre os dias de cólera e fome que se vivem na Venezuela não deixou ninguém indiferente. La Guaira é uma diocese pobre com cerca de meio milhão de pessoas junto a Caracas, a capital. Vista ao longe, La Guaira é muito bonita. Altas montanhas verdejantes junto ao mar são a moldura de uma terra salpicada, porém, de casebres, 

 

de bairros de lata. Se vista ao longe La Guaira é bonita, quando nos aproximamos desses casebres e das pessoas que aí moram depressa se percebe que a miséria é profunda e que a fome não é uma metáfora. Nem a solidariedade. Como explicou em Fátima D. Raúl, “os pobres ajudam os pobres” e têm gestos que são a expressão viva das palavras de Jesus. ”Recordo uma vez – disse D. Raúl – quando uma velhinha pobre e mal vestida apareceu na casa episcopal e bateu à porta. Eu pensava que me vinha pedir esmola… mas não! Vinha trazer-me 1 quilo de arroz, porque sabia que não se conseguia arranjar isso nas lojas.”

 

Cuspir na cara

D. Raúl veio a Portugal contar histórias comoventes e corajosas de padres e irmãs que tudo fazem para ajudar as populações mais empobrecidas. “Uma jovem ingressou na congregação das Irmãzinhas dos Pobres de Maiquetía para viver essa vida religiosa. Saiu a pedir esmola para os pobres. Não 

 

 

é fácil pedir esmola, nem mesmo quando não se pede para si, mas para os outros…” A irmãzinha entrou numa loja e começou a pedir quando se deparou com um homem a que se chamaria de anticlerical. “Ele olhou para a irmã com desdém e com uma raiva mal dissimulada. A irmã suplicava esmola para os pobres. Em resposta, em vez da esmola, o homem cuspiu-lhe na cara. Imaginem a humilhação da irmã! Ela limpou-se e respondeu: ‘isto foi para mim. Agora, dá-me uma esmola para os pobres?’” D. Raúl Castillo disse que estas palavras da irmã comoveram tanto o homem que este lhe pediu perdão, tendo começado aí, nesse encontro improvável, a sua aproximação a Deus. A pobreza extrema que se vive na Venezuela é difícil de explicar e de compreender. O país é extremamente rico, mas as prateleiras das lojas e dos supermercados estão vazias. Não há medicamentos. Não há nada. Todos os dias, porém, D. Raúl conhece histórias novas de solidariedade. “Consola-me o facto de pedir para os pobres – disse o prelado – e, neste momento, entre os pobres da minha diocese, contam-se sacerdotes, diáconos, religiosas e seminaristas.” Quando a pobreza é extrema, tudo falta, tudo faz falta. O Bispo de La Guaira esteve connosco

 

D. Raúl Castillo

 

e não poupou nas palavras. Há fome na Venezuela. O que pudermos fazer por este país que se tornou também na segunda pátria para milhares de famílias portuguesas, é sempre bem-vindo. O que não fizermos será sempre um embaraço para as nossas consciências. Da Venezuela chega-nos também um muito obrigado pela ajuda que tem sido disponibilizada através da Fundação AIS. Na Venezuela, as irmãs e os sacerdotes pedem esmola para ajudarem os mais pobres dos pobres da sociedade. Muitos deles serão até portugueses. Já alguma vez pediu esmola?

Paulo Aido | www.fundacao-ais.pt

 

 

A lição final de um ‘mais velho’

  Tony Neves   
  Espiritano   

 
 

D. Manuel Martins deixou-nos aos 90 anos. Deixou-nos uma lição enorme de atenção aos pequeninos e pobres, às periferias e margens, como tanto pede o Papa Francisco.

Tudo começou nos tempos do exílio de D. António Ferreira Gomes. Ficou sempre do lado deste Bispo profeta de tempos de democracia e liberdade. Nomeado para ser o primeiro Bispo de Setúbal, desceu 300 kms no mapa, mas não perdeu nada da sua ousadia e coragem de dizer o que era preciso dizer e fazer o que o tempo exigia que fosse feito. Esta coerência gerou amigos de peito e ódios de estimação, com que ele convivia serenamente.

Chegou a Setúbal em tempos duros, marcados pelo desemprego de muitos, de uma pobreza que criava nichos de fome envergonhada. Denunciou estes dramas e pôs as questões sociais no mapa da governação.

Muito antes dos 75 anos canónicos, pediu ao Papa para deixar a Missão de Bispo titular, ganhando tempo para se dedicar de alma e coração às questões dos pobres, através da Fundação Spes e múltiplas intervenções por este país acima e abaixo e através dos media que sempre amplificaram muito a sua voz desempoeirada.

Quando se deu início ao Programa Ecclesia, na RTP 2, assumi um tempo de entrevista semanal e D. Manuel Martins foi o meu primeiro convidado. Que maravilha escutar a sua voz, convencido de que a 

 

 

 

 

 

 

 

 

Igreja tem de ser a casa dos mais pobres, sem fechar, claro está, as portas a ninguém. Deu-me a alegria de prefaciar um dos meus livros e deslocou-se a Gondomar para a apresentação pública desta obra. Tinha sempre direito a um grande abraço e a dois dedos de simpática conversa quando nos encontrávamos, fosse lá na Sé do Porto, em Fátima ou noutro evento qualquer. Prezava por ser meu amigo e eu sinto que a sua morte é uma grande perda para a Igreja e para a sociedade portuguesa.

Políticos de todos os quadrantes, autoridades eclesiásticas de todas as dioceses, líderes de muitas instituições não poupam elogios 

 

a este homem da Igreja tão empenhado nas causas de uma cidadania responsável. Fico feliz por perceber quanto a sua postura profética foi e é reconhecida por todos…ou quase. Para mim, a sua vida é um grito por mais justiça, fé e liberdade e a sua morte traz uma responsabilidade acrescida no assumir destes valores humanos e cristãos.

Obrigado D. Manuel Martins, por ser um ‘mais velho’, de acordo com as culturas africanas: um sábio que deixa uma herança enorme às gerações seguintes. É, para todos, inspiração e incentivo na construção de um mundo mais humano, mais fraterno e mais cristão.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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