04 - Editorial:

     José Tolentino Mendonça

06 - Foto da semana

07 - Citações

08 - Nacional

12 - A semana de...

       Luís Filipe Santos 

14- Entrevista

       D. José Cordeiro
28- Dossier

       Diocese de Bragança-Miranda

 

 

 

 

 

40- Internacional

44- Cinema

46 - Multimédia

48 - Estante

50 - Vaticano II

52 -  Agenda

54 - Liturgia

56 - Programação Religiosa

57 - Por estes dias

58 - Fundação AIS

60 - LusoFonias

 

 

 

 

 

 

Tema do dossier da próxima edição:

Francisco Ozanam - 200 anos da Sociedade de S. Vicente de Paulo

 

Foto da capa: Agência Ecclesia
Foto da contracapa:  Agência Ecclesia

 

 

AGÊNCIA ECCLESIA 
Diretor: Paulo Rocha  | Chefe de Redação: Octávio Carmo
Redação: José Carlos Patrício, Lígia Silveira, Luís Filipe Santos, Margarida Duarte, Sónia Neves, Carlos Borges, Catarina Pereira
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Opinião 

 

 

 

 

Dia de Todos os Santos

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Indissolubilidade do matrimónio
e divorciados

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Moçambique: Igreja mostra preocupação

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José Tolentino Mendonça | Alexandrina Fernandes | Francisco Cepeda | Tony Neves 

 

Deus, questão para crentes e não crentes

José Tolentino Mendonça

 

Aquela palavra de São João, “a Deus nunca ninguém O viu” (1 Jo 4,12), trazemo-la como uma ferida. Nenhum de nós viu a Deus. E contudo a Sua presença, o Seu Amor, dá sentido às nossas vidas. Este paradoxo, que constitui ao mesmo tempo uma fonte de esperança, não deixa de ser um espinho. A maior parte do tempo, experimentamos apenas o desencontro de Deus, o Seu extenso silêncio. Buscamos a Deus sem O ver, acreditamos Nele sem O experimentar, escutamos a Sua voz sem verdadeiramente O ouvir. Tateamos o Seu rosto na ausência e no silêncio. E contudo, ausência e silêncio são lugares que misteriosamente insinuam uma presença. No filme “Nostalgia” de André Tarkovski, há uma cena lancinante onde se vê um grupo humano que anda desencontrado, uma multidão que se move de um lado para o outro, numa demanda labiríntica. Ouve-se então uma voz, a voz de um narrador que rompe o silêncio com este grito: “mas diz alguma coisa Senhor, diz-lhes uma palavra, eles andam à procura, não vês que têm o desejo de Ti?”. A voz de Deus faz-se ouvir com esta resposta: “E se Eu disser uma palavra, achas que eles conseguem entender?” É, no fundo, este o drama, o drama do silêncio de Deus. A dificuldade de fazer convergir finito e infinito, Graça e liberdade, provisório e definitivo, o presente e o futuro.  

Porém, sabemos que o silêncio ainda não é Deus. O silêncio é lugar de luta, de procura

 

                                                                              

 

  

 

 e espera. Aos poucos vamos aderindo à possibilidade de dar espaço, de abrir a nossa vida ao Outro, deixando que a revelação do Outro nos habite. Somos em grande medida habitados pela possibilidade de Deus. Nesse sentido, a fé tem a forma de uma hipótese. A fé é expectativa. A fé vive do combate, pois nada nunca está feito, nada nunca está acabado, nada é completamente conhecido. Caminhamos às  

 

apalpadelas, como se víssemos o invisível, segundo a bela formulação da Carta aos Hebreus (Heb 11,7). A vizinhança de Deus da nossa história não anula a dimensão agónica e interrogativa da existência. O viver do crente está a fazer-se, a construir-se, é sempre inacabado, é sempre um lugar de turbulência, de agitação, de luta. E foi assim já a vida do próprio Jesus.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Soldados moçambicanos guardam militantes
da Renamo feitos prisioneiros na Gorongosa
 ©
AFP

 

 

“Eu sou o chefe democrático que a direita sempre quis ter.”

José Sócrates, ex-primeiro ministro de Portugal, em entrevista ao Expresso, 19-10-2013

 

 

“O nosso objetivo é começar a negociar um programa cautelar nos primeiros meses de 2014”

António Pires de Lima, em entrevista à agência Reuters, Londres, 21-10-2013

 

 

"Este momento é um teste, um exame à nossa convicção. Se, realmente, nós queremos a paz, temos que mostrar que queremos a paz, não queremos perturbação e queremos continuar a desenvolver."

Armando Guebuza, Presidente da República de Moçambique, Lusa, 22-10-2013

 

 

“Escutem-se uns aos outros e que escutem o apelo do povo acima de tudo.”

D. João Carlos Nunes, bispo auxiliar da arquidiocese de Maputo a apelar ao entendimento entre a Renamo e a Frelimo, em entrevista à Rádio Renascença, 23-10-2013

 

 

“A Igreja não é uma loja, a Igreja não é uma agência humanitária, a Igreja não é uma ONG, a Igreja é enviada a levar a todos Cristo e o seu Evangelho”.

Papa Francisco na audiência semanal, Vaticano, 23-10-2013

 

 

"Este Orçamento tem vários riscos, não é fácil de cumprir, mas necessário para fechar esta fase e partir para outra situação diferente, mas melhor"

Pedro Passos Coelho, primeiro ministro de Portugal, no debate quinzenal no Parlamento, Lisboa, 23-10-2013

 

 

“Quando é que se resolve isto?

Já adivinharam a resposta - nunca! Vamos vivendo assim, aguardando um programa cautelar (caso não se chegue ao segundo resgate) e esperando que o mau tempo passe. É como esperar que uma doença grave passe com o tempo. A outra hipótese é enlouquecer e deixarmos de nos preocupar com o país.”

Henrique Monteiro, em artigo de opinião “Chamem-me o que quiserem”, Expresso, 23-10-2013

 
 
 

 

Orientações para o dia de Todos os Santos

O arcebispo de Braga publicou um conjunto de “orientações pastorais” para a diocese a respeito das próximas celebrações da solenidade de Todos os Santos e da comemoração dos fiéis defuntos, a 1 e 2 de novembro.

Para D. Jorge Ortiga, a alteração do calendário civil, que levou à extinção temporária do feriado relativo ao dia 1 de novembro, pode ser uma “oportunidade pastoral” para distinguir liturgicamente as duas celebrações. “Reconheço que ainda há, por parte dos fiéis, uma certa ambiguidade entre as celebrações correspondentes ao dia 1 de novembro (Todos os Santos) e ao dia 2 de novembro (fiéis defuntos)”, assinala.

Segundo o arcebispo minhoto, na origem desta confusão estará, estará, entre outros motivos, a possibilidade que o até então feriado “oferecia às pessoas para participarem nas respetivas celebrações desse dia”. “Por conseguinte, gostaria de aproveitar esta alteração 

 

temporária do calendário civil para superar os equívocos provocados pelas referidas transferências das celebrações litúrgicas”, assume D. Jorge Ortiga.

O responsável propõe que se distingam “três momentos distintos”: a celebração eucarística do dia 1 de novembro, a(s) celebrações litúrgica(s) do dia 2 de novembro e a romagem ao cemitério.

Nos Açores, o bispo de Angra escreveu uma nota pastoral a respeito da celebração do dia de Todos os Santos, apelando à cooperação das escolas para manter tradição do 'Pão por Deus'.

“Como é um dia normal de trabalho isso vai dificultar a manutenção da linda tradição que é o Pão por Deus”, refere D. António de Sousa Braga, numa mensagem divulgada pela página da diocese na internet. O prelado açoriano convida todas as paróquias para, “em diálogo com as escolas”, não deixarem morrer esta tradição.

“Nada impede que essa tradição,

 

 

 

 muito sentida e vivida nos Açores, passe para o domingo seguinte. É só experimentar”, acrescenta.

A eliminação dos feriados de Corpo de Deus, de 5 de outubro, de 1 de novembro e de 1 de 

 

dezembro, resultante da alteração efetuada ao Código do Trabalho, produz efeitos desde 1 de janeiro e será obrigatoriamente objeto de reavaliação “num período não superior a cinco anos”, segundo o mesmo código.

 

 

Doutrina Social da Igreja

A Cáritas Portuguesa promoveu a formação ‘Doutrina Social da Igreja – Pensamento Cristão para a orientação do mundo’, inserida no programa ‘+Próximo’, com cerca de 50 pessoas que partilham a experiência de ação social no terreno, em Fátima. “Temos apostado na formação dos agentes da pastoral social para que não sejam pessoas que dão de comer ou roupa aos pobres mas tenham formação em eclesiologia, em atendimento de proximidade, e agora em Doutrina Social da Igreja, que é um grande património particularmente relevante nesta área”, explica à Agência ECCLESIA o padre José Manuel Pereira de Almeida, diretor do Secretariado Nacional da Pastoral Social.

Com o projeto ‘+Próximo’, a Cáritas pretende que em cada paróquia tenha organizada, “como existe a liturgia e a evangelização, a área da caridade, da atenção aos outros, na promoção humana, no desenvolvimento, no cuidado, particularmente dos mais frágeis, dos mais pobres mas no sentido verdadeiro ou seja de um amor 

 

 

que faz viver, de uma liberdade que torna mais livre a vida dos outros”, acrescenta o responsável.

Na formação sobre ‘Doutrina Social da Igreja – Pensamento Cristão para a orientação do mundo’, deste sábado, estiveram representadas diferentes Cáritas Diocesanas e grupos vicentinos, com experiência de ação social no terreno.

Segundo o padre José Manuel Pereira de Almeida, é fundamental formar as pessoas na área social porque se ganha “muito quando se faz de maneira mais eficaz e mais realizadora a transformação na sociedade”.

 

 

 

500 anos de Santa Teresa de Jesus

Os Institutos Religiosos de Espiritualidade Carmelita e Teresiana desejam assinalar o quinto centenário do nascimento de Santa Teresa de Jesus com iniciativas em todas as Dioceses de Portugal, três congressos e peregrinações a Ávila e a Fátima.

Em declarações à Agência ECCLESIA durante o primeiro congresso, os responsáveis das duas Ordens Carmelitas masculinas em Portugal, frei Agostinho Castro e frei Joaquim Teixeira, afirmaram que vão “propor” aos bispos uma “atividade de fim de semana” sobre Santa Teresa de Jesus e a sua mensagem.

O tema ‘A escola carmelitano-teresiana de oração’ esteve em estudo no primeiro congresso promovido pelos Institutos Religiosos de Espiritualidade Carmelita e Teresiana, nos dias 17 e 19, em Fátima.

Frei Joaquim Teixeira, superior provincial da Ordem dos Carmelitas Descalços, considera que Santa Teresa de Ávila apresenta a oração na “perspetiva da amizade” e que é necessário conhecê-la para falar sobre a 

 

 

dimensão orante na Igreja.

“Orar é tratar de amizade com Deus. Ora este tema da amizade é um tema que todos percebemos e cultivamos nas famílias, nas comunidades, na Igreja. Portanto, falando de oração a partir da perspetiva da amizade, captamos facilmente o ensinamento e a escola que Santa Teresa criou na Igreja ao definir assim a oração, como história de amizade”, afirmou o religioso.

Frei Agostinho Castro, superior provincial da Ordem do Carmo, considera que recordar Santa Teresa de Jesus é lembrar “sobretudo a sua espiritualidade” que “tanta falta faz no mundo de hoje” porque “é a raiz do ser humano”.

 

 

Calcorrear os caminhos
transmontanos com odores outonais
 

Luís Filipe Santos 

Agência ECCLESIA

 

O nordeste transmontano ganha uma tonalidade diferente na época outonal. Os silêncios da paisagem telúrica falam-nos ao ouvido. Não é preciso fechar os olhos, para que as cores esbatidas do verão transformem aquela decadência estacional numa autêntica procissão viva. Todas as viagens são lugares especiais, mas calcorrear as terras de Trás-os-Montes é sentir a raiz da árvore. É um estado de espírito muito especial onde a solidão da cidade dá lugar á libertação das sensações.

Durante três dias, tive o privilégio de caminhar e filtrar os odores de outono naquelas terras… Os sons da viagem colocaram em alerta os sentidos… A escuridão transformou-se em luz… Pela rua abaixo só o vento falava através do baloiçar ondulante das últimas pétalas outonais. Recordei o poeta português, Eugénio de Andrade (1923-2005), que dizia “O silêncio é a minha maior tentação”.

Apesar da desertificação humana, as aldeias – autênticas ilhas no oceano – vivem o sentido comunitário. Aprendi, com os últimos anciãos das localidades, autênticas pérolas de sabedoria. Saber acumulado porque esculpir a palavra é eternizar o conhecimento.

A experiência daquele povo é uma autêntica biblioteca sem folhas. A sonoridade da palavra tem a primazia sobre as letras cunhadas nos pergaminhos da história. Os olhos brilhavam… 

 

Não se sentiam composições poéticas consagradas ao luto ou à tristeza.
Nota-se que a vida daquele povo não acaba com a última pancada do coração. Uma riqueza infindável de património imaterial.

Em Trás-os-montes senti que os seus habitantes têm o dom de nunca automatizar a mão e os olhos. Cada acto é único, uma primavera que contrasta com o funeral do verão. Com um bispo novo, em idade e na diocese, que aprecia Fernando Pessoa (1888-1935) - “A memória é a consciência inserida no tempo” -, Sophia de Mello Breyner (1919-2004) - “As coisas que passam ficam para sempre numa história exata” – e Miguel Torga (1907-1995), -  

 

 

“Os homens são como as obras de arte: é preciso que se não entenda tudo delas duma só vez” – D. José Cordeiro vive com o povo e para o povo. Não tem palavras rodopiantes e enfrenta as questões com objectividade. Não olha para o rebanho no cimo do monte. Caminha com passos mais apressados com a juventude e arrasta os pés com os mais idosos.

Apesar do deserto humano que habita a região, o prelado do nordeste transmontano é profícuo em ideias exequíveis. Chegou, viu e trabalha em prol daquele povo. As potencialidades existem naquela região e acredito que na clareza do pastor para libertar aquele gigante adormecido.  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Bragança-Miranda:
Uma diocese em «revolução silenciosa»

 

De tenra idade ou «bispo bebé», como lhe chamou uma criança, D. José Cordeiro está a fazer uma «revolução silenciosa» na diocese de Bragança-Miranda. Com olhar vivo e próximo dos seus, o prelado revisitou ideias antigas, deu-lhes um toque pessoal e está a reorganizar a diocese do nordeste transmontano. 

Este «gigante adormecido» acorda lentamente e caminha com o pastor porque “a grande mudança na concretização das unidades pastorais é o paradigma pastoral que não é assente, única e exclusivamente, no clero, mas em todos os batizados”.

 

 

Agência ECCLESIA (AE) – É natural de Bragança e agora é bispo desta diocese. Recentemente, afirmou que esta diocese era um gigante adormecido, mas que vai acordando lentamente. Já acordou na totalidade?

D. José Cordeiro (JC) – Ela está a acordar e eu estou a crescer. Há dois anos que estou no exercício do ministério episcopal e quando celebrei o segundo aniversário (02 de outubro de 2013), uma criança de cinco anos disse que eu era um bispo bebé. Sinto-me ainda nessa condição e este território está a acordar e a crescer. Nestes dois anos, 

 

 

dá para confirmar isso mesmo. Já são alguns os frutos que podemos colher das três prioridades que lançámos, no início, a partir de uma assembleia do clero: reorganização da diocese, formação permanente do clero e a formação permanente dos leigos. Quando um gigante adormecido acorda, provoca alguns estragos. Primeiro que se adapte à luz, às novas realidades e às mudanças… É este processo lento, determinado e, ao mesmo tempo, humilde. É à luz das orientações conciliares e da comunhão que se gera a Igreja.

 

 

 

 

AE – Um gigante adormecido quando acorda, provoca alguns estragos. Já provocou alguns estragos?

JC – Acho que sim (risos), mas é normal. O provocar e o incomodar as pessoas… Já o referi, várias vezes, quando me questionaram sobre tal, que prefiro ser criticado por fazer, por incomodar (depois da tomada de consciência do que somos e de ter os pés bem assentes na terra) do que me acomodar. Não me quero acomodar… 

 

AE – Ainda é muito novo para se acomodar…

JC – Espero que não, mas isso da acomodação pode acontecer em todas as idades. A Palavra de Deus incomoda-nos todos os dias e o Evangelho exige, de nós, essa abertura à surpresa e à novidade. Não é mudar por mudar, mas para ser mais fiel e mais autêntico ao Evangelho. Alguns estragos aparecem porque se mexe com interesses e, se calhar, com negócios (usando as palavras do Papa Francisco). Às vezes, as pessoas usam os mesmos meios 

 

que usam na vida social e na vida política e depois aplicam-nos à Igreja e causam alguns estragos. Devemos estar muito atentos e essa é uma missão do bispo: ser vigilante e acompanhar como pai, pastor, amigo e irmão.

Os estragos são relativos às mudanças porque a conversão exige uma mudança do coração, mas exige, em simultâneo, o deixar estilos, pensamentos e modos de ser e viver que não são tão consentâneos com o Evangelho.  
 
AE – Está vigilante em relação a esses negócios e interesses?

JC – Claro que sim. No âmbito da própria Igreja, da acção social e ao nível interno… Recordo aquilo que dizia Bento XVI: «Os inimigos da Igreja não estão fora, mas estão cá dentro». Perante estas realidades é preciso purificar. Voltar às fontes. Mas se as pessoas não têm essas fontes é mais difícil esse processo porque algumas podem ser tão religiosas que não chegam a ser cristãs. Não basta ser religioso ou piedoso.

 

 

 

 

AE – A diocese já passou de um cristianismo sociológico, de uma religiosidade popular, para um cristianismo convicto e centrado na fé?

JC – Esse é um processo muito lento. Prefiro falar em piedade popular do que, propriamente, em religiosidade popular. A piedade popular assenta nas raízes da fé e tem alguma relação com a liturgia. Estamos a fazer esse esforço. O primeiro ano, à luz da proclamação do Ano da Fé, esteve muito voltado para a liturgia, como a primeira escola da fé.

 

AE – Não sentia as comunidades como escolas da fé?

JC – Em algumas comunidades isso já acontecia, mas no comum e de forma tão sistemática e continuada como estamos a fazer, vai acontecendo. Noto isso também nas visitas pastorais. Já visitei, até ao momento, mais de 90 paróquias e mais de trezentas comunidades. A liturgia começa a ser vivida e entendida como a melhor escola da fé.

Este ano estamos a viver o «ano da vocação», para que cada um tome consciência da sua vocação 
 

 

 

e missão na Igreja. De batizado e seguidor de Jesus Cristo. Neste ano pastoral, colocámos a conjugação de três verbos: rezar, chamar e testemunhar. Este caminho é lento, mas progressivo.

Naquilo que vou verificando na conversa com os colaboradores – os presbíteros – e na relação directa com os fiéis leigos, vou percebendo o desejo enorme de acertar o passo com Jesus Cristo e de fazer da oração essa alegria do coração. 

 

AE – Está neste território eclesial há dois anos como bispo, sente que está a fazer uma revolução silenciosa ou barulhenta?

JC – Já a apelidaram de revolução silenciosa, mas não tenho pretensão nenhuma disso. Apenas pretendemos construir juntos e estarmos abertos aos novos caminhos da missão. O que estamos a fazer é a renovação na continuidade. Isto não começou do nada, mesmo a reorganização. Mesmo as «Unidades Pastorais» era algo que já estava no papel, no ano 2000. Agora, depois de 

 

actualizado e revisitado, está no terreno com as dificuldades inerentes daquilo que é próprio à mudança e à novidade. Estamos a potenciar ao máximo todos aqueles meios que nos conduzam a sermos uma só e mesma Igreja. Temos de percorrer o caminho da união e da paz para que haja esta consciência de Igreja. Notei isso, depois de alguns anos fora, [esteve em Roma] que não há esta consciência de uma Igreja diocesana. Queremos trilhar esta eclesiologia de comunhão. 

 

AE – Apercebeu-se que tinha adultos com fé de criança?

JC – Refiro isso, constantemente, nas visitas pastorais, brincando um pouco com esse jogo de palavras. Alguma fé que existe no âmbito da piedade popular é de pessoas que tiveram alguma preparação e fundamentação da fé para a primeira comunhão, para o crisma ou, eventualmente, para o matrimónio, mas depois acharam que aquilo «vem do céu aos trambolhões» e desligaram. Por isso, temos adultos com fé infantil.

 

 

 

AE – Mesmo com o sacramento da Confirmação?

JC – Sim porque isso não é automático, nem mágico. É a conclusão da iniciação cristã, mas que exige um aprofundamento constante e permanente. Tal como as pessoas cultivam outros âmbitos da sua vida técnica, profissional e académica, na fé tem de acontecer o mesmo. A relação com Deus tem de ser continuada pela oração, pelos sacramentos, pela prática da caridade e pela formação. Felizmente que as propostas de formação que estamos a fazer na diocese estão a ser muito bem correspondidas.

 

 

AE – O envelhecimento do clero e da população na realidade diocesana é visível. Assiste-se a uma continuada desertificação humana?

JC – É preocupante e alarmante. Estamos na maior diocese do norte do país, em termos territoriais, com uma população à volta das 137 mil pessoas, mas com 326 paróquias e 634 comunidades. Ainda hoje para ir de Bragança a Freixo de Espada à Cinta preciso de duas horas. Tudo isto revela a nossa situação de interioridade. Nestas condições ainda se torna mais difícil a nossa missão. É com estas características e com estas 

 

 

 

 

pessoas que nós vivemos.

Nota-se, por um lado, o envelhecimento e, por outro, o não nascimento. Para além disto assistimos também à fuga do capital humano e do grande potencial para outros pontos do país e para o estrangeiro. Verifico isso nas comunidades que visito e, sobretudo, de casais novos. Este «boom» da emigração é semelhante aos anos 60 do século passado. 

 

AE – Um retrocesso na evolução…

JC – Claro que sim. Nos últimos 50 anos perdemos metade da população e isso é um retrocesso. Não é indicador positivo de um desenvolvimento integral desta região. Daquilo que vou conhecendo, cada vez mais se deve passar por uma aposta consistente na agricultura (não a de marcos e de divisão), mas aquela de quilómetros. Uma agricultura bem pensada 

 

 

 

 

e estruturada. Também na cultura, no património material e imaterial que é tão rico. Sem esquecer o turismo e, de modo especial, no turismo religioso. Assistimos ao encerramento de tantas realidades. É confrangedor deixar de ver os sinais de trânsito nalgumas aldeias.

 

AE – Qualquer dia colocam a sinalética de reserva de caça.

JC – Em muito lugares isso já acontece.

 

AE – Há cerca de 27 mil hectares de terra desaproveitada no distrito. O que fazer?

JC – Uma pergunta a devolver aos responsáveis ao nível autárquico e ao nível governamental. Creio que há muito a fazer e a fazer de uma maneira inteligente e responsável. Mas isso dá que fazer… Por isso não há tanta gente envolvida e a pensar de forma global e integrada este nordeste transmontano. Já se perderam muitas oportunidades desde há uns anos a esta parte e, sobretudo, com tantos incentivos da União Europeia. Estes foram demasiadamente localizados e não tiveram a perspectiva do todo.

 

 

 

AE – A solidão dos idosos é uma realidade preocupante. Chegou mesmo a escrever uma carta pastoral sobre este assunto.

JC – É uma realidade que me ocupa e preocupa. Faz parte dos programas das visitas pastorais o encontro com os mais idosos em casa ou nos centros sociais paroquiais. Tanto me ocupa que se criou em Bragança e noutros lugares da diocese um lugar de escuta, de atendimento e relação de ajuda. Começamos pela parte sacramental e espiritual - às quintas-feiras das 09.30 às 17.00 – onde estão oito sacerdotes no atendimento do sacramento da reconciliação, oração e adoração ao santíssimo. Temos o intuito de acolher as pessoas, justamente por causa da solidão. A par disto, estamos na criação de um gabinete inter-disciplinar que envolve psicólogos, psiquiatras, assistentes sociais e também alguns sacerdotes para o encaminhamento daqueles casos que ultrapassam o âmbito sacramental e espiritual. 

 

 

 

 

 

AE – Mas estamos numa sociedade onde impera o ruído…

JC – É possível que sim, mesmo no nordeste transmontano onde ainda pensamos que existe uma vida mais saudável. Aqui sentimos o positivo e, se calhar ainda mais acentuado o negativo, da globalização. Por isso, o ruído não deixa escutar o silêncio e não deixa escutar os outros. As pessoas não têm tempo, nem paciência... Muitos, só necessitam de ser ouvidos. O acompanhamento não deve ter a componente moralista, nem direcionista.

 

AE – Nestes diálogos que tipo de carências as pessoas apresentam?

JC – Até ao momento, as pessoas têm apresentado carências espirituais e afectivas, resultantes da própria solidão. Existem também as carências materiais e essas, felizmente, vamos tendo ainda respostas sociais para elas. A Igreja diocesana tem a responsabilidade de mais de 70% de acção social. O que tem incomodado mais, ultimamente, são as pessoas 

 

 

que começaram a sentir a privação daquilo que há uns meses não tinham. Esta situação tem incomodado muito e, especialmente, as pessoas que vêm pela primeira vez.

 

AE – Nem tudo é negro e lamuriento na diocese de Bragança. Existe sangue novo com a presença do Instituto Politécnico. Recentemente afirmou: “a juventude pode contar comigo”.

JC – Desde a minha nomeação para este serviço e ministério, dispus-me a ser colaborador da alegria e da esperança dos jovens. E assim temos feito. É com alegria que registamos um aumento dos jovens, não apenas nas celebrações litúrgicas, mas também nos movimentos e grupos juvenis.

Por outro lado, mesmo com a presença do Instituto Politécnico o futuro começa a ser algo preocupante. Este ano, já se notou uma diminuição de presença na cidade. Em simultâneo é um desafio, visto que estão a chegar à cidade, muitos jovens provenientes de vários países.

 

 


 

AE – O sentimento de angústia vive no meio dos brigantinos e dos bragançanos.

JC – Nota-se, infelizmente, não apenas nas pessoas mais idosas, mas também é muito preocupante junto dos mais novos. Gente sem perspectiva de futuro. Não é por acaso que em Portugal, o medicamento mais vendido é o anti-depressivo. Noto isso, infelizmente, nesta zona. Necessitamos de mais pessoas disponíveis para ouvir, estar e acolher. 

 

 

 

 

 
AE – A multiculturalidade chegou à cidade.

JC – Começamos a sentir isso, mas não sei se Bragança está preparada para responder a essa multiculturalidade e, nomeadamente, a Igreja. Estamos a tentar e a dar passos para que seja um acolhimento e resposta positiva. Mesmo em relação aos agrupamentos escolares estou um pouco pessimista, já fui mais optimista. As escolas que existiam espalhadas pelas aldeias estão a congregar-se nas sedes de concelho.

 

 

 

 

 

AE – O bispo da esperança com registos de pessimismo?

JC – Não… Isso nunca. A cultura da lamentação em mim, à minha volta e nesta igreja, não quero que «monte a sua tenda». É preciso olhar com esperança o presente e o futuro. É a cultura da esperança que nos anima. A fé não é uma ideologia… A lamentação de dizermos que estamos longe, somos periferia, 

 

 

 
somos interior, não tem lugar. Essas são as nossas características e não nos podemos comparar a ninguém. 
 
AE – Ao nível da pastoral juvenil e da pastoral universitária que projectos estão a decorrer na diocese. Que trabalhos específicos estão a fazer com esta camada populacional?

JC – Temos um serviço diocesano da pastoral do ensino superior, a 

 

 

 

 

capelania do Instituto Politécnico, o secretariado diocesano da pastoral juvenil e vocacional. Estes serviços estão a dar passos lentos, mas a construir algo sólido. Estão a envolver os jovens.

A par disso, nas unidades pastorais e a nível local – com os professores de Educação 

Moral e Religiosa Católica e as famílias – estamos a fazer com que os jovens se sintam protagonistas na acção pastoral da Igreja e no anúncio do Evangelho. Não fazemos para os jovens, mas fazemos com os jovens.

 

 

AE – Chegou a fazer uma caminhada com eles até Santiago de Compostela.

JC – Foi uma experiência singular de fé. Na conclusão estavam mais de 600 pessoas. As «lectio divinas» e as jornadas diocesanas da juventude têm sido experiências muito positivas.

 

AE – Como são as relações da diocese de Bragança-Miranda com as dioceses vizinhas espanholas?

JC – Positivas. Ainda não implementámos nada de concreto ao nível diocesano, mas ao nível local transfronteiriço estão mais 

 

 

do que consolidadas. Existem momentos comuns entre as várias localidades.

 

AE – Mais virados para Espanha do que para o litoral português?

JC – Não (risos). Sou membro do colégio episcopal, mas antes de mais da Conferência Episcopal Portuguesa. No entanto, o nosso território faz fronteira com 5 dioceses espanholas…

 

AE – Mas voltando à realidade do nordeste transmontano, D. José 

 

Cordeiro é o pastor que anda a bater nas portas das casas dos cristãos e perguntar se pode entrar?

 

JC – Mais do que bater nas portas das casas, bato nas portas do coração. Tenho aprendido muito e tem sido uma grande escola. Tem sido a parte mais bela do ministério episcopal nestes dois anos. As visitas pastorais são o coração do ministério episcopal, numa relação de proximidade e simplicidade. Procuro sempre dizer às pessoas que o centro

 

 

 

 da visita pastoral não é o bispo, mas é Cristo. Algumas pessoas, 

sobretudo as pessoas de mais idade, não estão à espera de um bispo tão novo.
 
AE – Como é que surgiu esta ideia de dividir a diocese em unidades pastorais?

JC – A diocese continua com as 326 paróquias e as 634 comunidades, mas agora articulada em 33 unidades pastorais. Destas, 25 já estão implementadas no terreno.

 

AE – Sentiu resistências do clero para esta inovação?

JC – Não senti tanto quanto pensava, mas senti algumas como é normal. A maior dificuldade não foi a 

 

implementação das unidades pastorais porque esse estudo já estava realizado no ano 2000, mas a redução dos arciprestados. Quando cheguei tínhamos 12 arciprestados e passar para 4 foi mais dura essa reorganização.

Nas unidades pastorais, no seu objectivo fundamental, não houve reacção. Houve reacção mas aos hábitos adquiridos e, sobretudo, porque era uma pastoral muito centrada na figura do pároco. A grande mudança na concretização das unidades pastorais é o paradigma pastoral que não é assente, única e exclusivamente, no clero, mas em todos os batizados. Com esta quantidade de paróquias só temos 60 padres no ativo.  

 

 

As potencialidades do Turismo Religioso
na Diocese de Bragança – Miranda

Alexandrina Fernandes

Pastoral do Turismo de Bragança-Miranda

 

O turismo, em geral, e o turismo religioso, em particular, é uma realidade em expansão em todo o mundo, e, Portugal, não foge a esta realidade. A OMT (Organização Mundial de Turismo) estima que em 2030, existam cerca de 1,8 biliões de turistas em todo o mundo.

A criação, em 2012, da Obra Nacional da Pastoral do Turismo, está a contribuir, para que as dioceses portuguesas, comecem a ficar cada vez mais sensibilizadas para a importância da pastoral do turismo.

Já o Pontifício Conselho para a Pastoral dos Migrantes e Itinerantes, refere que: “O turismo é uma dimensão que a pastoral diocesana deve considerar como sua componente quotidiana e, como tal, figurar entre os setores que são objeto de atenção regular da parte do Ordinário do lugar e dos seus Conselhos Consultivos”. 1

 

Também no campo político o turismo religioso é reconhecido, cada vez mais como estratégico para o país. Prova disso é que, já este ano, o turismo religioso, foi considerado, pelo governo, como produto estratégico no PENT (Plano Estratégico Nacional para o Turismo).

 

Atenta a estas realidades, e considerando que o turismo é uma realidade social à qual a Igreja deve prestar uma atenta solicitude, a Diocese de Bragança-Miranda, criou em maio de 2013 o Serviço da Pastoral do Turismo.

 

 

 

 

 

 

 

Este novo serviço, tem como principais objetivos:

- Fazer brilhar sobre o turismo a luz do Evangelho;

- Potenciar as motivações da fé e a procura do bem e da beleza inscrita no ser humano;

- Contribuir para o desenvolvimento integral do Nordeste Transmontano.

 

A Diocese de Bragança – Miranda, tem muitas manifestações e possibilidades de desenvolvimento, da atividade pastoral relacionada com o turismo.

 

Ao nível do  património edificado destacam-se magníficas igrejas como: Santa Maria do Castelo em Bragança, Igreja Matriz de Torre de Moncorvo (igreja renascentista dos Sécs. XVI / XVII), Igreja Matriz de Freixo de Espada à Cinta (Igreja Manuelina dos Sécs. XVI / XVII), Santo Cristo de Outeiro (Santuário religioso do Século XVIII e candidata ao título de Basílica menor), Algosinho, Castro de Avelãs (mosteiro beneditino dos Sécs. XII / XIII) e sobretudo a Concatedral de Miranda do Douro (Igreja maneirista 

 

 

 

dos Sécs. XVI / XVII).

Ainda dentro do património material, há interessantes roteiros a desenvolver como: Roteiro entre os vários santuários da diocese, rotas por estilos de construção, rota das catedrais (Catedral de Bragança e Concatedral de Miranda do Douro).

O património móvel da Diocese, é também um importante atrativo para trazer visitantes à região, pois, além de vasto, é riquíssimo, com interesse histórico, artístico e cultural. Neste momento, procede-se ao inventário do património da Diocese, estando já inventariadas mais do que 13000 peças.

 

Ao nível turístico, é, cada vez mais, valorizado o património imaterial como: festas, lendas, tendo em vista a preservação da memória local para as gerações vindouras. Também neste âmbito, a Diocese de Bragança-Miranda é riquíssima, com inúmeras romarias seculares, lendas, contos.

Veja-se o exemplo da lenda das sete irmãs, ou em Mirandês, Las Sîete Armanas: “Corre voz em todo o distrito de Bragança e em algumas terras fronteiriças espanholas que os

 
sete santuários marianos mais altos do distrito são habitação das Sete Senhoras irmãs2.

 

A lenda diz que, os santuários avistam-se todos uns dos outros, assim o povo diz que as Senhoras se vêem umas às outras, e que se falam todas as manhãs. Chamam-lhes as Sete Irmãs. Uma, pertence ao concelho de Bragança, Senhora da Serra (Serra de Nogueira); duas pertencem ao concelho de Miranda do Douro: a Senhora da Luz (Constantim), e a Senhora do Naso, uma ao concelho de Vinhais, Senhora da Saúde de Vale de Janeiro; uma ao concelho de Vila Flor, Senhora da Assunção (Vilas Boas); uma no concelho de Alfândega da Fé, Senhora das Neves.

A sétima irmã encontra-se em Prenha, Espanha, província de Salamanca, em frente a Peredo de Bemposta. É a Birge del Castielho.

O povo refere que foi encontrada por espanhóis ou mouros nas arribas do Douro, dentro de um seixo, que a levaram para a povoação e a colocaram virada para Espanha. A lenda diz ainda que cada vez que a viravam para Espanha, a Virgem se voltava para Portugal.

 

 

 

 

Outro fator que pode potenciar o turismo religioso nesta Diocese são os Caminhos de Santiago. Passam pelo Nordeste Transmontano, os caminhos que guiam os peregrinos a Santiago de Compostela. É importante criar condições de acolhimento aos peregrinos que por aqui passam, dinamizar estes caminhos, preservando-os e divulgando-os.
 
 

Como alguém diria: “por tudo isto e por muito mais”, vale a pena vir à Diocese de Bragança-Miranda, aquele reino a quem já chamaram de “Reino Maravilhoso”, conhecer as suas gentes, o seu belo património material e imaterial e sentir-se tocado pelo ar puro e tranquilidade que por aqui se respira.

1- Pontifício Conselho para a Pastoral dos Migrantes e Itinerantes – Orientações para a Pastoral do Turismo. Vaticano, 29 de Junho de 2001, nº 34  (Trad. de D. Manuel Quintas, Bispo do Algarve).

2- Padre Dr. António Mourinho em Nossa Alma I Nossa Tierra – Las Sîete Armanas

 

Diocese de Bragança-Miranda
Um espaço de oportunidades

 

Francisco José Terroso Cepeda

Presidente da Comissão Diocesana de Justiça e Paz,

 
Situada no Nordeste Interior Português a Diocese de Bragança – Miranda foi, durante demasiado tempo, uma terra distante dos grandes centros de decisão, esquecida, habituando-se à sucessão de verões e invernos sem vislumbrar grandes melhorias nas condições de vida dos seus habitantes.

Este isolamento marcou, indelevelmente, a forma de estar e sentir das suas gentes, que se viram confrontadas com a impossibilidade de acesso ao desenvolvimento a que tinham legitimamente direito, vendo-se na necessidade de procurar o pão noutras paragens.

Partiram os nordestinos.

Foram à procura da sorte noutras terras, conviver com outras gentes, sofrer a saudade da família, dos amigos, dos amores...

Que madrasta havia sido para eles a terra onde nasceram!

Depois do Brasil, a Europa.

O mar viu-se substituído pelas longas estradas, só a necessidade de sair se manteve... A população da Diocese escoava-se em  Nanterre, St. Denis, Aubervilliers, Champigny, Hamburg, Bayern, Berlin, Westfalen, Andorra, Leon ..., à procura da dignidade a que legitimamente tinham direito.

Trabalharam exemplarmente, sem grandes períodos de repouso, conquistando a admiração e o respeito de todos. Comeram

 
 

 

 

 

 

 o pão com sabor a lágrimas, ruídos de saudade por tudo e por todos que haviam deixado.

Venceram todas as provações! Triunfaram, para bem deles e orgulho de todos nós, os que ficámos.

Foi com estes e outros exemplos que se foi caldeando a personalidade destas gentes humildes e hospitaleiras, respeitadoras dos valores da honra, da dignidade, da justiça

 
 e da solidariedade, que continua a responder entre quem é quando lhe batem à porta. Sem que nada nem ninguém o fizesse prever, após anos de um certo desafogo económico e bem-estar social, voltou a crise a 
instalar-se no país e na região nordestina em particular, 

confrontada com a perda de empregos resultantes em boa parte da deslocalização dos serviços públicos aqui 

 

 

 

 

 

existentes, e da insolvência de muitas empresas, pequenas na maioria dos casos, ligadas principalmente à construção civil e ao pequeno comércio.
Hoje como ontem voltam a deixar a região muitos nordestinos, obrigados a procurar o sustento da família noutras terras mais ou menos distantes. Com uma única diferença em relação às últimas vagas do século passado: têm outra e bem melhor preparação para o triunfo na diáspora.

Apesar de tudo, a menos de duas horas do Porto, Braga, Viseu, Guarda, Viana do Castelo, Valladolid, Vigo, Santiago de Compostela, Lugo e Salamanca, a três de Madrid e a pouco mais de quatro de Lisboa, todo este espaço diocesano ganhou nova centralidade, tornando-se muito mais apelativo a um conjunto cada vez maior de pessoas ávidas de sossego e paz.

O ambiente despoluído, os rios selvagens onde se pesca a truta e a canoagem é uma aventura, o misticismo do Douro, as albufeiras das 

 

barragens convidativas à prática de desportos náuticos, os montes multicolores que convidam à contemplação, o espectáculo das amendoeiras e das cerejeiras em flor que se espraiam por montes e vales, a tranquilidade dum mundo rural e a sabedoria ancestral dos seus moradores, os parques naturais de Montesinho e das Arribas do Douro, as inúmeras áreas protegidas que um pouco por toda a parte tornam esta diocese num verdadeiro santuário de todo o tipo de espécies vivas, a gastronomia de excelência suportada por produtos igualmente de excelência da agricultura e das agro-indústrias da região e outras inúmeras potencialidades, tornam este espaço numa região atractiva, com uma oferta turística diversificada e de qualidade, capaz de satisfazer as inúmeras necessidades de quem a visita.

Os sete mil alunos que frequentam o Instituto Politécnico de Bragança, mais algumas centenas que estudam no 

 

 

 

 

 

Instituto Superior de Línguas e Administração de Bragança e no Instituto Piaget de Macedo de Cavaleiros e de Mirandela dão um colorido jovem a esta Diocese, tornando-a num espaço de oportunidade para as empresas 

 

que aqui se venham a fixar e que poderão encontrar a mão-de-obra qualificada para as suas actividades e aproveitar a investigação e a experimentação aplicadas que aquelas instituições levam à prática.

 

 

Diálogo entre Cultura e Fé
na Diocese de Bragança – Miranda

José Carlos Martins

 

A vida do Homem e da sua realidade envolvente está cheia de manifestações culturais. Por todo o lado se vem assistindo a programas que dinamizam eventos com o objetivo de serem e/ou fazerem “cultura”. É nas universidades, são conferências com figuras de top particularmente as que se vão destacando nas ciências humano-sociais. Pululam os festivais de música, de teatro de cinema, e.t.c.

Sobretudo na nossa era democrática, a atividade cultural converteu-se num bom investimento para o prestígio de muita gente, e é entendida como consumo para as pessoas, as quais encontram aí um mercado amplamente abastecido! Contudo e ainda que essas atividades todas sejam meritórias, será que são verdadeiramente cultura? Quando falamos de Fé e de Cultura, pensamos sinceramente na introdução da temática religiosa no circuito de todas essas atividades culturais? É certo que as atividades culturais têm que ver com a cultura. Mas entendemos a cultura num sentido mais profundo e radical. Tão profundo e tão radical que é inseparável da própria existência concreta do Homem. Não é possível falar do Homem no espaço e no tempo sem falar de Cultura.

entendido pelos homens de hoje. Para isso a Igreja tem que partilhar as suas inquietações

 

 

 

 

e as suas perguntas. Aceitar uma linguagem é ir mais longe hoje… 
A natureza do homem do existe “pura” em teoria. Natureza seria aquilo que o Homem recebe como dado e por isso se pode conceber 
  como comum a todo o género. Mas a partir do momento em que a existência do Homem se torna concreta e real, pela sua própria natureza começa aí um processo criador. Por isso mesmo dizemos 
 

 

 

que o Homem é e se faz… Assim, Cultura é tudo aquilo que os Homens vão construindo a partir do que lhes foi dado. É a sua obra pessoal e coletiva. Os Homens são capazes de configurar o  sentido das suas vidas atuando sobre as condições ambientais e cósmicas, organizando a sua convivência social, articulando o seu sistema de ideias e de valores. A Cultura não existe pois, isolada da realidade. Diz-nos Karl Rahner, que a “cultura é o que configura o âmbito existencial de cada homem e aquilo que o homem, aceitando e prolongando essa tradição, cria como especificamente humano mediante uma ação livre e consciente em si e no mundo circundante”. O Homem, portanto, empenha-se, num determinado momento da história, não só quanto à sua natureza, mas também quanto à riqueza de uma tradição cultural, que é o resultado da criação plasmada no esforço livre dos seus antepassados.

Mas, em que sentido a Fé tem relação com a Cultura? Não é o 

 
Evangelho um valor absoluto e permanente que vai pra além da Cultura? Entendendo a Cultura no sentido em que dela temos aqui falado, eis que o nº 53 da Gaudium et Spes nos responde, ou Paulo VI no nº 20 da E.N. quando nos diz:” a rutura entre Evangelho e Cultura é sem dúvida alguma, o drama do nosso tempo, como o foi também noutras épocas”.

Há razoes que podem tornar difícil o diálogo com as novas culturas criadas pelo Homem no seu devir histórico, mas nenhuma que invalide a necessidade de o tentar, buscando sempre o “martírio da paciência”. O Evangelho quer e deve ser Significa uma compreensão determinada do Homem e do mundo, um código de pensamento, uma Cultura. 

A Fé diz-nos que o Espírito vive em nós e trabalha a história. A Cultura do nosso povo pode ser um meio através do qual se manifesta o Espírito. Há momentos em que os sinais dos tempos nos ajudaram a redescobrir dimensões esquecidas do Evangelho, purificaram vários conceitos e expressões, 

 

 

 

e inclusive nos colocaram diante a necessidade de explorar, de buscar novos horizontes, para além duma compreensão rotineira da mensagem de Cristo.

Vivemos a dimensão religiosa imersos na sociedade, aqui e agora. As contradições culturais que existem no mundo atravessam também o crente e refletem-se na sua idiossincrasia e no seu agir. Por isso é inútil perguntar-se se o crente deve dialogar com a cultura. Está já confrontado com ela, alias desde sempre. O diálogo não é só uma ponte para fora mas também algo que surge no interior de cada crente.

Tendo em conta tudo isto, na nossa diocese de Bragança-Miranda particularmente, existem múltiplas manifestações em que o diálogo entre a Fé e a Cultura se estabelecem e como que se estreitam, valorizando-se, como que numa imagem de perfeita geminação.

É sobretudo ao nível da arte iconográfica, no culto devocionário, sobretudo, embora não só, no Mariano, onde este diálogo se explicita melhor: em frescos, em pinturas murais, em talha, em fabulosos retábulos, em caixotões pintados, nas imagens escultóricas, bem como na própria arquitetura

 

 religiosa; de Torre de Moncorvo e Adeganha a Miranda do Douro, de Freixo de Espada à Cinta a Vinhais, de Mirandela a Macedo de Cavaleiros, de Carrazeda de Ansiães a Bragança, tal como mais recentemente as descobertas no Santuário de Santo Antão da Barca, em Parada, Alfândega da Fé, em todas estas localidades e aldeias dos seus concelhos encontramos um diálogo permanente entre a Fé  e a Cultura que nos enriquece. Enobrece a alma de quem o comtempla, honra os antepassados que no-lo legaram e responsabiliza-nos a nós que o herdámos.

Importa por isso que estamos à altura de tão grandes valores, de tão importante riqueza. Importa que sejamos capazes de estabelecer a verdadeira ponte, que nos permita dialogar…

Isto implica preservar, em muitos casos recuperar e em todos eles continuar a desenvolver, sendo sempre fieis ao espírito de mútua cooperação, com o intuito de crescer e fazer crescer de forma integral em todas as dimensões.

A Igreja local presente em Bragança-Miranda quer continuar a ser no futuro como o foi no passado um elemento de referência a ter em conta. Podem contar connosco!

 

 

Indissolubilidade do matrimónio
e divorciados

O prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé (CDF) admitiu a necessidade de uma maior “verificação da validade” dos matrimónios e reafirmou a posição católica sobre divorciados que voltam a casar. “Os matrimónios são provavelmente inválidos com mais frequência nos nossos dias de quanto o eram no passado, porque é deficitária a vontade de se casar segundo o sentido da doutrina matrimonial católica e também a pertença a um contexto vital de fé é muito limitada”, escreve D. Gerhard Müller, num artigo publicado na edição de quarta-feira do jornal do Vaticano, ‘L’Osservatore Romano’.

O arcebispo alemão fala numa “mentalidade contemporânea” contrária à compreensão cristã do matrimónio, sobretudo “em relação à sua indissolubilidade e à abertura à vida”, considerando que muitos cristãos são influenciados por esse “contexto cultural”.

 
 

“Portanto, uma verificação da validade do matrimónio é importante e pode levar a uma solução dos problemas. Quando não é possível comprovar uma nulidade do matrimónio, é possível a absolvição e a Comunhão eucarística se for seguida a aprovada prática eclesial que estabelece que se viva juntos 'como amigos, como irmão e irmã»”, destaca o responsável pela CDF, em relação à situação de católicos divorciados que se voltaram a casar civilmente.

O prelado recorda aos padres que a decisão sobre a receção da comunhão não deve ser deixada à “consciência” dos fiéis divorciados e que se devem evitar as “bênçãos de vínculos irregulares”.

D. Gerhard Müller sustenta que Deus pode “conceder a sua proximidade e a sua salvação” às pessoas “por diversos caminhos, mesmo se elas vivem em 

 

 

 

situações contraditórias”. “Os pastores e as comunidades cristãs estão chamados a acolher com abertura e cordialidade as pessoas que vivem em situações irregulares, para estar ao seu lado com empatia, com a ajuda concreta”, acrescenta.

Para o arcebispo alemão, o ideal da fidelidade entre um homem e uma mulher, proposto pela Igreja Católica, “nada perdeu do seu fascínio”, porque corresponde 

 

a um anseio das pessoas e “à natureza espiritual e moral do homem”.

O texto foi publicado duas semanas após anúncio de uma assembleia extraordinária do Sínodo dos Bispos em outubro de 2014, sobre o tema da família, decisão que provocou “muitas intervenções, em particular sobre a delicada questão dos fiéis divorciados recasados”, explica o jornal do Vaticano.

 

 

Papa propõe justiça de portas abertas

O Papa Francisco recebeu esta quarta-feira no Vaticano uma delegação de capelães prisionais da Itália, perante os quais defendeu uma justiça de “portas abertas”. “Vós sois sinais da proximidade de Cristo para estes irmãos que têm necessidade de esperança. Recentemente, falastes de uma justiça de reconciliação, não? Também uma justiça de esperança, de portas abertas, de horizontes”, afirmou, durante um encontro que decorreu na sala Paulo VI.

Segundo o Papa, esta visão não é uma “utopia”, mas pode concretizar-se. “Não é fácil, porque as nossas fraquezas estão em todo o lado, também o diabo está, as tentações… mas procuremos sempre isso”, sustentou.

Francisco disse aos padres que acompanham os presos na Itália que Deus não fica fora das celas, porque nenhuma é “tão isolada que possa excluir o Senhor”. “O Senhor está dentro, com eles, também Ele é um preso, ainda hoje: por causa dos nossos 

 

 

egoísmos, dos nossos sistemas, de tantas injustiças que são fáceis para punir o mais fraco”, explicou.

O Papa recordou os contactos que manteve com presos, enquanto arcebispo de Buenos Aires, revelando que continua a receber cartas e que telefona a alguns deles, ao domingo. “As fraquezas que temos são as mesmas e para mim é um mistério que me faz rezar e aproximar-me deles”, confessou.

Francisco pediu aos capelães católicos que levam aos presos a sua oração, de “coração”, e disse que reza para que eles “possam superar de forma positiva este período difícil da sua vida”.

 

 

 

Moçambique: Igreja mostra preocupação

A crise política e militar que se vive em Moçambique está a ser seguida com preocupação pelos responsáveis católicos no país lusófonos, após o exército moçambicano ter desalojado o líder da Renamo, principal partido da oposição, Afonso Dhlakama.

A representante em Moçambique da Comunidade de Santo Egídio, que mediou as negociações para a assinatura do Acordo Geral de Paz (1992), disse à Agência ECCLESIA que o país já assiste há alguns meses a um “regresso à violência”, deixando votos de que se evite “algo pior”. “Estamos muito preocupados, porque perder uma oportunidade como esta de ter tido mais de 20 anos de paz é perigoso, vai custar caro às pessoas, vai ser uma grande perda”, declarou Maria Chiara Turrini.

Segundo esta responsável, “ainda há espaço” para que os responsáveis políticos no país se possam sentar para “dialogar”. “Penso que eles têm a capacidade de ultrapassar este momento de tensão, de dificuldades, que existe, não 

 

se pode negar”, conclui a representante da Comunidade de Santo Egídio.

Em declarações à Lusa, o porta-voz da Conferência Episcopal de Moçambique, D. João Carlos Nunes, disse que a comunidade católica acompanha com "bastante tristeza" os últimos desenvolvimentos no país, apelando a Afonso Dhlakama e ao chefe de Estado moçambicano, Armando Guebuza, para se reunirem, "por forma a devolver a esperança ao povo pela via do diálogo".

A Renamo acusa o Governo da Frelimo de quebrar o acordo de paz assinado em 1992, em Roma, o qual colocou um ponto final na guerra civil que provocou quase um milhão de mortos, cerca de dois milhões de refugiados e quatro milhões de deslocados internos.

 

 

Capitão Phillips 

 

 
Em Abril de 2009, o cargueiro Maersk Alabama é tomado de assalto por um grupo de piratas somalis a quinhentos kilómetros da costa da Somália. Apesar dos pedidos de socorro do comandante do navio, capitão Richard Phillips, inicialmente desvalorizados, a ajuda não chega a tempo de evitar a tomada de reféns entre os vinte membros da tripulação. Com o passar dos dias o ambiente adensa-se, exigindo de Phillips capacidades inesperadas de comando e altruísmo a fim de evitar o descontrolo total da situação e preservar a vida dos homens que tem a seu cargo. Por eles, dará a vida, se necessário.

Baseado num caso verídico que encheu as páginas dos jornais ao longo de quatro penosos dias e deu origem ao romance biográfico que o próprio comandante escreveu juntamente com o jornalista Stephan Talty, “A Captain’s Duty: Somali Pirates, Navy SEALs and Dangerous Days at Sea”, ‘Capitão Phillips’ é a versão cinematográfica  dos acontecimentos dirigida por Paul Greengrass.

Greengrass, que iniciou a sua carreira atrás das câmaras em séries TV e telefilmes, domina bem os ambientes de ação e tensão como bem tem provado ao longo de ‘Supremacia’, ‘Voo 93’ ou ‘Ultimato’. Aqui volta a demonstrar as suas capacidades, gerindo a tensão crescente da narrativa de modo seguro, num ritmo tantas vezes trepidante e com uma capacidade assinalável de ‘mergulhar’ o espetador no centro nevrálgico dos acontecimentos, contagiando-o com a ansiedade vivida a bordo.

Com uma interessante conjugação de  estilo documental, 

 


 

maioritariamente favorecido por uma câmara tão vibrante e tensa quanto o clima da ação, o realizador consegue tirar partido do óptimo desempenho de Tom Hanks, naquele que é já considerado um dos seus melhores trabalhos na já bem longa carreira de ator.

Pese embora o facto de este ser um olhar ocidental sobre a pirataria na costa africana, passível de levantar questões sobre os direitos e deveres de navegação, de exploração e circulação de bens a partir de um continente com índices de pobreza, injustiça e desigualdade significativos, sem evidentemente legitimar atos ilícitos, a abrangência do tema é no filme 

 
preterida em favor do, justamente, heróico papel do comandante que assume plenamente o seu papel de zelador do navio e dos seus homens. Colocando a sua própria vida em risco, Phillips é na verdade, no filme como na vida real, um notável exemplo de heroismo e entrega nos nossos dias: no seu firme e destemido compromisso de quase se ‘esquecer de si próprio’ para salvar os outros, e apenas sobreviver para garantir, com o seu discernimento, a redução significativa dos efeitos colaterais que uma situação limite deste género poderia facilmente ter produzido.

 

Margarida Ataíde 

 

 

Mãos unidas
contra a erradicação da pobreza

http://www.maos-unidas.pt/

 

Vivemos, no passado dia 17 de Outubro, mais um dia internacional para a erradicação da pobreza. Será que os problemas económicos e financeiros que assolam o nosso país e um pouco por todo o mundo ocidental, são a justificação para não se abordar seriamente esta problemática? Ou será que este dia foi mais uma data que avançou no calendário onde pouco ou nada se refletiu sobre esta tão importante temática. É com o intuito de alertar para este assunto, que esta semana sugerimos uma visita ao sítio da associação Mãos Unidas P. Damião. Esta Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS), reconhecida como pessoa de utilidade pública, “está no terreno para combater a fome e a pobreza em África, especialmente em Moçambique”. Mas para além da ajuda humanitária se dirigir além-fronteiras, a ação passa também por agir no nosso país, 

 

“lutando contra as situações de carência, exclusão social, sem abrigo, deficientes, doentes de SIDA, crianças da rua e crianças órfãs”.

Ao digitarmos o endereço www.maos-unidas.pt, encontramos um sítio eminentemente informativo. Na opção “quem somos”, podemos ler a apresentação, a missão, as linhas de ação, a história e alguns testemunhos sobre esta organização. Descobrimos ainda que o Pe. Damião de Veuster é o único cidadão não americano que possui uma estátua em Washington, na galeria dos heróis da América. S. Damião é apelidado de apóstolo dos leprosos na ilha "maldita" do Molokai. Em “campanhas”, conforme o nome indica, poderá ficar a saber sobre todas ações concretas que esta organização realiza indo de encontro aos seus objetivos. Caso pretenda colaborar de uma forma mais concreta com esta IPSS, deverá primeiramente clicar em “como ajudar”. Quer seja uma empresa, um(a) desportista,

 

 

  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

voluntário(a) ou estudante, uma escola ou uma associação, poderá de uma forma efetiva e bastante profícua cooperar com esta ONGD. Conforme referíamos no início, são vários os países que beneficiam da ajuda da associação mãos unidas. Se pretender saber quais são e acima de tudo o que lá está a ser feito, clique em “projetos”. Por 

 

último, existe uma loja virtual, na qual estão expostos diversos materiais (livros, postais, roupa, vídeos, blocos, etc), que podem ser adquiridos e assim contribuir também para o crescimento financeiro desta associação.

Acredite pois a sua ação está na sua Obra!

 

Fernando Cassola Marques

 

 

Vem conhecer o Papa Francisco

A ideologia comportamental – do bem viver e do bem fazer – do Papa Francisco pode ser sintetizada em três eixos, em torno dos quais se devem desenvolver os dinamismos da sãs vivências de relação: «Com licença», «Obrigado», «Perdão».

Neles deve assentar o autêntico «Compêndio de Virtudes».

Foi a partir da identificação destas práticas caraterizadoras 

 

da personalidade do Papa que os autores conceberam esta sua resumida biografia, vertida em texto simples para os mais novos e belamente ilustrada.

 

Vem conhecer o papa Francisco. Deus surpreende sempre!

Autor: Luís Seabra Duque

Ilustrações: Catarina Correia Marques

Paulinas Editora

Coleção Vidas com História

 

 

 

 

A nova Enciclopédia da Bíblia

Impõe-se dizer, em primeiro lugar, que estamos perante um livro para todos, mas, especialmente, para todos os «recém-chegados à Bíblia». Esta Enciclopédia «foi escrita na esperança de poder ajudar o leitor a tirar um bocadinho mais da Bíblia, ao colocar a história da Bíblia no contexto do seu tempo, mostrando o fluir da sua história, à medida que ela vai revelando cada vez mais o plano de Deus para desenvencilhar a confusão em que a raça humana se meteu». Pretende-se com este trabalho anular distanciamentos que ainda persistam na abordagem da Bíblia, tornando essa aproximação muito proveitosa, não só culturalmente, mas mais ainda, espiritualmente. Possibilitando a experiência única de um contacto com um texto, inexplicavelmente, vivo.

A organização deste livro foi criteriosamente planeada, para permitir encontrar respostas simples a questões que a tradição, por vezes, carregou de teológica nebulosidade. Esta 

 

 

será uma abordagem diacrónica e de respaldo na história comum das sociedades, através de um grafismo cheio de explicações pontuais e de remissões. O livro está enriquecido ainda com um extenso índice analítico e de pesquisa rápida.

 

Autor: Mike Beaumont

Paulinas Editora

Coleção História & Profecia

 

 

II Concílio do Vaticano:
«Igreja, o que dizes de ti mesma?»

 

Na inauguração da 2ª sessão do “acontecimento mais importante do século XX para os católicos: II Concílio do Vaticano”, o Papa Paulo VI fez um pedido, a 29 de setembro de 1963, que ficou célebre na história: «Igreja, o que dizes de ti mesma?».

Para D. Jorge Ortiga, um concílio surge como “uma porta aberta a uma nova forma de estar, pensar e agir, abrindo uma nova era de propostas, transformações e adaptações” (In: «Vaticano II – 50 anos, 50 olhares», Lisboa, Paulus Editora). De um modo muito sintético, se o Concílio de Trento reflectiu genericamente sobre os bispos e sacerdotes, e o Concílio Vaticano I sobre o Papa (primazia e infalibilidade papal), “pela lógica, faltava agora um concílio sobre o laicado”, escreveu o prelado de Braga na obra citada.

Na sessão do dia 23 de outubro de 1963, “singularmente viva”, (Henri Fesquet; «O Diário do Concílio», volume I, Lisboa, Publicações Europa-América). As intervenções foram “mais vigorosas e mais precisas” do que habitual e foi “incontestável que o tema dos leigos estimulava a atenção dos bispos.

Insistindo sobre as funções dos leigos, o II Concílio do Vaticano marca o “fim de uma longa época durante a qual a Igreja foi tentada a evadir-se da vida, a confundir a acção com exercícios escolásticos e as realidades com 

 

 

 

ficções jurídicas ou sistemas”, Henri Fesquet. Após o cardeal Caggiano, arcebispo de Buenos Aires (Argentina), o cardeal Suenens (Malines-Bruxelas) abriu “o fogo com uma intervenção enérgica e vivamente aplaudida” e visava, directamente, o cardeal Ruffini. A Igreja, retorquiu o prelado belga, é “o lugar dos carismas” e está “fundamentada” como disse São Paulo. E insistiu: “A Igreja tem uma estrutura carismática” e deve respeitar “a liberdade dos filhos de Deus”.

Ao terminar, o cardeal Suenens pede para que os auditores leigos do concílio “desempenhem um papel activo”, que “o seu número seja aumentado e que as mulheres, que constituem, 50% da humanidade, e as religiosas, cerca de um milhão e meio, não estejam ausentes do Vaticano II”, lê-se na obra citada.

Se o sonho gerou concretizações, passados 50 anos, este magno acontecimento convocado pelo Papa João XXIII e continuado pelo Papa Paulo VI, é um “projecto 

 

inacabado”, sublinha D. Jorge Ortiga. As resistências continuam “a ser imensas e a caracterização da sociedade hodierna dificulta uma maior ministerialidade, por causa da ausência de tempo e pelas exigências competitivas da consciência profissional, onde se confunde a verdadeira felicidade com a avidez do ter”, escreveu arcebispo de Braga em «Vaticano II – 50 anos, 50 olhares», Lisboa, Paulus Editora.

Nesta linha de ideias e num momento de repensar a pastoral, a Igreja, no mundo e em Portugal, o caminho percorrido até agora tem necessariamente de criar responsabilidades novas, “que passarão pela atitude de formação a fazer-se para que a novidade não tenha envelhecido passados 50 anos”.

Os documentos conciliares não se podem “fechar nas prateleiras de um passado recente ou ser usados parcialmente quando convém. “Só assim é que teremos crédito para dizer à Igreja o que ela pensa sobre si mesma”, conclui D. Jorge Ortiga.

 

 

outubro 2013

Dia 25

* Lisboa - Sé (19h00m) - Eucaristia de aniversário da dedicação da Sé Catedral. 

* Porto - Santa Maria da Feira (Seminário dos Passionistas) - Apresentação do projecto Voluntariado Passionista.  
* Coimbra - Instituto Português do Desporto e Juventude -Encerramento da exposição fotográfica «Pare, Olhe e Não Fique Indiferente» promovida pelo Centro Comunitário de Inserção da Cáritas da Diocese de Coimbra.
* Aveiro - Anadia (São Paio de Arcos) - Sessão sobre «Família, Casamento e Sexualidade»
* Lisboa - UCP - IV Jornada de Teologia Prática sobre «Quando me sinto forte é que sou fraco - para uma Teologia da Vulnerabilidade».  

 

 

* Vaticano - Encerramento (início a 06 de setembro) da iniciativa da abertura nocturna dos Museus do Vaticano.  
* Santarém -  Peregrinação da pastoral juvenil da diocese de Santarém ao Santuário de Fátima. (25 e 27)

 

Dia 26

* Porto - Campus Asprela da Católica Porto - Conferência sobre «Os Pilares do Desenvolvimento Sustentável» promovida pela Católica Porto Alumni – Biotecnologia e a Escola Superior de Biotecnologia da Católica Porto para assinalar o Dia das Nações Unidas
* Aveiro - CUFC - Sessão de esclarecimento sobre voluntariado missionário.
* Aveiro - Colégio do Calvão - Inter-escolas das escolas católicas.
* Viseu - São pedro do Sul - Apresentações públicas de criações artísticas multimédia sobre o património imaterial religioso da região do maciço da Gralheira (São Pedro do Sul) «DIVINA SONUS RURIS»

 

 

 

* Lisboa - Conselho Diocesano da Pastoral Juvenil.
* Lisboa - Centro Cultural de Belém - Debate sobre «Arte e fé» com D. Manuel Clemente
* Braga - Guimarães (Auditório da Universidade do Minho) - Festival de música cristã «Guimarães a cantar».
* Braga - Esposende - Celebração do Dia do Voluntariado Missionário.
* Évora - Seminário de Évora - Encontro anual das consagradas da diocese de Évora.
* Guarda - Centro Apostólico - Jornadas diocesanas da Mensagem de Fátima.
* Viana do Castelo - Barroselas - Apresentação do projeto Voluntariado Passionista
* Guarda - Seminário diocesano - Dia Diocesano do Catequista sobre o tema “Que catequistas somos, que catequistas queremos ser”
* Évora - Conselho Diocesano da Pastoral da Saúde
* Lisboa - Centro Ismaili (14h00m) - Entrega de prémios «Mutualismo e Solidariedade 2012« e «Inovar para melhorar 2013» integrado no Dia Nacional do Mutualismo.
* Setúbal - Sé - Encontro diocesano de directores de Coros Litúrgicos.

 

* Porto - Carvalhos (Seminário dos Claretianos) (21h00m) - Iniciativa «Conversas com Vida...» com a presença dos jovens que realizaram, no último mês de Agosto, voluntariado missionário em São Tomé e Príncipe.
* Bragança - Mirandela (Centro Juvenil São João Bosco) - Encontro de catequistas com o tema «O/A catequista como animador/a»
* Lisboa - Campo Grande (Casa das irmãs Vicentinas) - I Jornada Diocesana das Capelanias Hospitalares e de Voluntariado Pastoral
* Vaticano - Entrega do prémio Ratzinger ( espécie de ‘Nobel’ da Teologia), ao biblista anglicano Richard Burridge e ao teólogo leigo alemão Christian Schaller
* Vaticano - Simpósio «Os Evangelhos: história e cristologia. A investigação de Joseph Ratzinger» promovido Fundação do Vaticano "Joseph Ratzinger-Bento XVI"
* Porto - Gondomar (Auditório da Biblioteca Municipal de Gondomar)(21h30m) - Conferência sobre «A caridade não acaba nunca - A Igreja no Mundo de hoje, à luz da Gaudium et Spes» por D. Manuel Linda e integrada no ciclo de conferências sobre o Ano da Fé

 

 

Ano C - 30.º Domingo do Tempo Comum

 

 

 

 

 

 

 

Que atitude tomar face a Deus?
 
No Evangelho deste trigésimo domingo do tempo comum, Jesus apresenta-nos a parábola do fariseu e do publicano, apontando duas atitudes orantes que o crente deve assumir face a Deus. Recusa a atitude dos orgulhosos e autossuficientes, convencidos de que a salvação é o resultado natural dos seus méritos; e propõe a atitude humilde de um pecador, que se apresenta diante de Deus de mãos vazias, mas disposto a acolher o dom de Deus. É essa atitude de pobre que Lucas propõe aos crentes do seu tempo e de todos os tempos.

 

 

 

 

 

 

Este fariseu é vilão, nada simpático, olhando apenas os seus méritos, tomando-se por modelo de virtudes. Este publicano é um exemplo de humildade, que não se coloca à frente, baixa os olhos e reconhece-se pecador.

Mas não andemos demasiado depressa nos nossos juízos. O fariseu é um homem profundamente religioso, habitado pela preocupação em obedecer à Lei de Deus. Vai ao templo para rezar, a fé absorve toda a sua vida de ação de graças. Jesus não havia dito “aquele que violar um dos mais pequenos preceitos da Lei será tido como o mais pequeno no Reino”?

O publicano, ao contrário, é um homem a não frequentar. Fica à distância, porque lhe é proibido entrar no templo. É um colaborador dos romanos, contaminado pela impureza dos pagãos, é considerado pecador, como Zaqueu. O fariseu tem um sentimento de desprezo para com este publicano que todo o mundo detesta. O próprioJesus havia dito: “Se o teu irmão pecar e recusar escutar a comunidade, seja para ti como o pagão e o publicano”.

 

Sabendo isso, somos certamente provocados pela palavra de Jesus: “Quando o publicano voltou a casa, foi ele que se tornou justo e não o fariseu”.

Procuremos ler atentamente a parábola. O centro da mensagem não é o fariseu nem o publicano, mas Deus. Deus deu a Lei a Moisés, mas nunca disse que Se identificava pura e simplesmente com os preceitos jurídicos. Com os profetas, vemos que Deus só quer amar o seu povo. É esse traço do rosto de Deus Pai que Jesus veio não somente privilegiar, mas colocar à frente de todos os outros aspetos. 

A primeira leitura ajuda-nos a meditar no mesmo sentido, ao dizer que Deus não faz aceção de pessoas nem favorece ninguém, salvo se há prejuízo do pobre e oprimido, se há desprezo do órfão e da viúva. É um Deus que nunca desiste de nós. Seja também essa a nossa atitude face a Deus, à maneira do publicano, de humildes adoradores do Senhor, para que a oração nos purifique e atravesse as nuvens até Deus, derramado com amor nos nossos corações.

Manuel Barbosa, scj

www.dehonianos.org

 

 

Programação religiosa nos media

Antena 1, 8h00

RTP1, 10h00

Transmissão da missa dominical

 

11h00 - Transmissão missa

 

12h15 - Oitavo Dia

 

Domingo: 10h00 - O Dia do Senhor; 11h00 - Eucaristia; 23h30 - Ventos e Marés; segunda a sexta-feira: 6h57 - Sementes de reflexão; 7h55 - Oração da Manhã;  12h00 - Angelus; 18h30 - Terço; 23h57-Meditando; sábado: 23h30 - Terra Prometida.

 
RTP2, 11h30

Domingo, dia 27  - Diocese de Bragança-Miranda: 

processo de transformação na sua organização pastoral.

 

RTP2, 18h00

Segunda-feira, dia 28 - Entrevista a Helena Gata e Miguel Silva sobre os 10 anos da TESE.

Terça-feira, dia 29 - Informação e entrevista ao Pe. Querubim Silva sobre os cursos do ISCRA.

Quarta-feira, dia 30 - Informação e entrevista ao padre João Lourenço e Juan Ambrosio sobre os cursos da Faculdade de Teologia da UC.
Quinta-feira, dia 31 - Informação e entrevista ao conego António Janela sobre os cursos do Instituto Diocesano de Formação Cristã.
Sexta-feira, dia 01 - Apresentação da liturgia dominical pelos padres Robson Cruz e Vitor Gonçalves.
 

Antena 1

Domingo, dia 27 de outubro,  06h00 - Peregrinação Internacional das Famílias ao Vaticano.

 

Segunda a sexta-feira, dias 28 de outubro a 01 de novembro - Diocese de Bragança-Miranda: renovação pastoral e respostas sociais em curso na diocese.

 

 

 

 

 

 

A Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa promove esta sexta-feira, dia 25, a IV Jornada de Teologia Prática. Uma metodologia mais próxima para falar de temas aparentemente distantes. Como o que está agora em análise: "Quando me sinto fraco é que sou forte: para uma teologia da vulnerabilidade".

 

 

 

Famílias de todo o mundo peregrinam a Roma este sábado e domingo. Uma oportunidade para encontro e sobretudo para ouvir o Papa Francisco que, de forma perspicaz, enumera as circunstâncias da família na atualidade, os problemas que enfrenta e a fragilidade que também conhece. Mas não fica por aí: as suas sugestões, sobretudo para o contexto familiar, são muito pertinentes. E práticas.

 

 

 

Este domingo a Sociedade de São Vicente de Paulo assinala os 200 anos de nascimento do fundador, Frederico Ozanam. Uma oportunidade de recordar o trabalho de muitos vicentinos que combatem a pobreza de pessoas e famílias que vivem na pobreza. E mais do que deixar alimentos ou proteção para o frio, é sobretudo a presença do vicentino que ajuda as pessoas que precisam.

 

 

Islândia: Uma Igreja que cresce e precisa de ajuda

“O amor é contagioso”

De muito rico a país falido. A Islândia viveu, nos últimos anos, um pesadelo que parecia impensável para uma das nações mais prósperas do mundo. Mas, quando a crise se abateu, todos perceberam que havia muita coisa a mudar. E não era apenas a nível da economia…


“Não há bem que sempre dure, nem mal que nunca acabe”, diz o povo. A história recente da Islândia comprova este provérbio.
Em 2008, a Islândia foi atingida por uma profunda crise financeira. A falência do banco americano Lehman Brothers, em 2008, arrastou para o desastre os três maiores bancos islandeses e o país, no final desse ano, entrou em falência.
Para o bispo Pierre Bürcher, esta crise só podia ser um pesadelo. A Islândia a entrar em falência e, um ano antes, o Papa Bento XVI a promovê-lo de bispo auxiliar de Lausanne, na Suíça, a responsável pela diocese de Reiquiavique.
A crise veio mudar muita coisa. Onde antes havia abundância, onde a palavra “desemprego” 

 

era quase inexistente, de súbito tudo se alterou. As certezas deram lugar às mais perplexas interrogações.
Antes da crise, na Islândia ninguém temia o futuro. De tal maneira que, há alguns anos, quando as Missionárias da Caridade, da Madre Teresa de Calcutá, decidiram abrir um pequeno centro em Reiquiavique, todos repetiram a mesma expressão vezes sem conta: “não há pobres no país”. Mas elas insistiram e começaram por oferecer refeições aos mais necessitados. Hoje, mais de setenta pessoas dirigem-se todos os dias à modesta casa arrendada pelas Irmãs da Caridade para comer.

 

Igreja universal

A Islândia mudou. De país cheio de si, cheio de certezas, passou a ser uma nação mais solidária. Mas houve mais mudanças. Até ao nível da Igreja. De um total de 320 mil habitantes, apenas 10 mil 

 

 

 

 

são católicos, 3 % da população. E são de muitas nacionalidades, por causa imigrantes oriundos da Polónia, Filipinas, até de Portugal. “É uma Igreja católica, universal, no seu verdadeiro sentido”, diz o Bispo Bürcher.
São poucos, mas a comunidade católica quase que triplicou desde que a crise bateu à porta da Islândia e o Bispo de Reiquiavique não tem mãos a medir. Com ele trabalham apenas 17 padres. São poucos. Os católicos estão muitas vezes isolados enquanto comunidade. A maior parte das crianças só consegue ter aulas de

 

 catequese através da Internet. Mas o futuro mostra-se radioso.
A crise veio demostrar que tudo se pode desmoronar de um dia para o outro e que mais importante do que as riquezas acumuladas nos bancos são os sentimentos de afecto, solidariedade e compaixão, que nunca se desvalorizarão e que são gratuitos. “O amor é contagioso”, costuma dizer o Bispo Pierre Bürcher. E tem toda a razão!

 

Paulo Aido | Departamento de Informação da Fundação AIS | www.fundacao-ais.pt

 

 

LUSOFONIAS

Missão de todos para todos

Tony Neves

 

‘Uma Igreja terna, pobre e para os pobres’ é o lema do Dia Mundial das Missões, proposto pelo Papa Francisco. Devo confessar que, para mim, a eleição do Papa é, por si só, um grande empurrão à Missão, pois ele é filho da missionação, vindo da Argentina. Defende uma Igreja pobre, ao serviço dos mais pobres. Os seus gestos mostram a imagem de Igreja que traz no coração: terna, feliz, próxima, dedicada aos excluídos do nosso mundo. Escolheu a Ilha de Lampedusa para primeira viagem apostólica. Lá foi ‘chorar aqueles que ninguém chora’, engolidos pelo mar onde iniciaram uma aventura de chegar a uma Europa que lhes traria dinheiro e futuro, segundo lhes garantiram os traficantes humanos. Foi lá agradecer à população a sua enorme capacidade de acolher estes imigrantes clandestinos. Foi lá pedir ao mundo rico mais hospitalidade aos pobres.

No Brasil, durante as Jornadas Mundiais da Juventude, visitou uma favela, encontrou-se com reclusos e toxicodependentes em recuperação. A Assis, no dia do Santo, foi dar o pontapé de saída para a grande reforma que a Igreja precisa para ser mais fiel à Missão que Cristo lhe confia.

O Papa Francisco quer uma Igreja de cristãos na rua, comprometidos, sem medo nem vergonha de anunciar Cristo. Há uma focagem grande nas questões de justiça, paz e direitos humanos. Pede que os cristãos sejam pessoas de diálogo e construtores de pontes. 

 

 

 

Luso Fonias

 

 

 

Servir é uma palavra-chave do seu pontificado.

Na Mensagem para o Dia Mundial das Missões, o Papa Francisco repete a ideia de que a Igreja não é uma ‘ONG’ piedosa, mas uma comunidade de pessoas animadas e guiadas pelo Espírito Santo. Termina a elogiar a coragem dos missionários e cristãos que vivem em contextos de perseguição: ‘muitos arriscam a vida para permanecerem fiéis 

 
 
ao Evangelho de Cristo’.
Uma última palavra sobre a Missão no mundo dos leigos, focada na experiência do Voluntariado Missionário. Em Portugal começou há 25 anos. Até agora, já partiram 4901 leigos para missões fora de portas. Só este verão, foram 405 a partir, dando corpo a uma revolução silenciosa que se está a fazer, através deles, na Missão da Igreja.

 


 

“Pode ouvir o programa Luso Fonias na rádio SIM, sábados às 14h00, ou em www.fecongd.org. O programa Luso Fonias é produzido pela FEC – Fundação Fé e Cooperação, ONGD da Conferência Episcopal Portuguesa.”

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Vou falar-lhes dum Reino Maravilhoso.

Embora muitas pessoas digam que não, sempre houve e haverá reinos maravilhosos neste mundo. O que é preciso, para os ver, é que os olhos não percam a virgindade original diante da realidade e o coração, depois, não hesite.

Ora, o que pretendo mostrar, meu e de todos os que queiram merecê-lo, não só existe como é dos mais belos que se possam imaginar. Começa logo porque fica no cimo de Portugal, como os ninhos ficam no cimo das árvores para que a distância os torne mais impossíveis e apetecidos.

Miguel Torga (escrevendo sobre Trás-os-Montes)

 

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