04 - Editorial:

       José Tolentino Mendonça

06 - Foto da semana

07 - Citações

08 - Nacional

12 - A semana de...

       Lígia Silveira

14- Entrevista

    Adriano Moreira
28- Dossier

      Papa Francisco

40 - Espaço DPNJ

 

42- Internacional

46 - Cinema

48 - Multimédia

50 - Estante

52 - Vaticano II

54 -  Agenda

56 - Por estes dias

58 - Programação Religiosa

59 - Minuto YouCat

60 - Liturgia

62 - Fundação AIS

64 - LusoFonias

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Tema do dossier da próxima edição:

Natal 2013

Foto da capa: D.R
Foto da contracapa:  Agência Ecclesia

 

 

AGÊNCIA ECCLESIA 
Diretor: Paulo Rocha  | Chefe de Redação: Octávio Carmo
Redação: Henrique Matos, José Carlos Patrício, Lígia Silveira, Luís Filipe Santos, Margarida Duarte, Sónia Neves, Carlos Borges, Catarina Pereira
Grafismo: Manuel Costa | Secretariado: Ana Gomes
Propriedade: Secretariado Nacional das Comunicações Sociais 
Diretor: Cónego João Aguiar Campos
Pessoa Coletiva nº 500966575, NIB: 0018 0000 10124457001 82.
Redação e Administração: Quinta do Cabeço, Porta D - 1885-076 MOSCAVIDE. Tel.: 218855472; Fax: 218855473. agencia@ecclesia.pt; www.agencia.ecclesia.pt;

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Opinião 

 

 

 

 

Nove meses de pontificado

[ver+]

 

 

 

 

 

Fraternidade, segredo da Paz

[ver+]

 

 

 

 

 

 

 

Aveiro concluiu Missão Jubilar

[ver+]

 

 

 

 

 

Guilherme d'Oliveira Martins |Jorge Wemans | Jorge Teixeira da Cunha | Tony Neves

 

Natal: uma Alegria que vem de dentro

José Tolentino Mendonça

 
 

Não recorras ao que já sabes do Natal,

mas coloca-te à espera

daquilo que de repente em teu coração

se pode revelar

 

Não  reduzas o Natal ao enredo dos símbolos

tornando-o um fragmento trémulo sem lugar

no concreto da vida
 

Não repitas apenas as frases que te sentes obrigado a dizer

como se o Natal devesse preencher um vazio

em vez de o desocultar

 

Não confundas os embrulhos com o dom

nem a acumulação de coisas com a possibilidade da festa:

o que recebes de graça

só gratuitamente poderás partilhar

 

Cuida do exterior sabendo que ele é verdadeiro

quando movido por uma alegria que vem de dentro

 

Uma só coisa merece ser buscada e celebrada, uma só:

o despertar de  uma Presença no fundo da alma

 

Por isso o Natal que é teu não te pertence

Só a outro o poderás pedir.

 

José Tolentino Mendonça

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

"A fraternidade gera paz social, porque cria um equilíbrio entre liberdade e justiça, entre responsabilidade pessoal e solidariedade"

(Papa Francisco, Mensagem para o Dia Mundial da Paz)

 

“As novas ideologias, caraterizadas por generalizado individualismo, egocentrismo e consumismo materialista, debilitam os laços sociais, alimentando aquela mentalidade do ‘descartável’ que induz ao desprezo e abandono dos mais fracos, daqueles que são considerados ‘inúteis’”

(Papa Francisco, Mensagem para o Dia Mundial da Paz)

 

 “Hoje a cultura é um arquipélago de periferias, de solidões. O cristianismo pode ser esse lugar utópico para a polifonia dos encontros mais diversos e inesperados”

(José Tolentino Mendonça, Jornal de Letras nº 1127)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

“Deixemos que Mandela continue a mostrar-nos que o impossível só é impossível até ser concretizado. Ele ensinou-nos que podemos escolher o mundo em que vivemos.”

(Barack Obama, na cerimónia oficial em memória de Nelson Mandela)

 

"São chocantes as cenas de brigas entre torcedores no jogo Atlético-PR-Vasco. Esta violência vai contra tudo o que acreditamos ser o futebol, um desporto de paixão, mas também de tolerância".

(Dilma Rousseff, presidente do Brasil, 9 de dezembro)

 

“Não há nenhum D. Sebastião e não há em Portugal super-homens que podem fazer milagres"

(Rui Rio, ex-presidente da Câmara Municipal do Porto, 11 de dezembro)

 

“Faz muito tempo, anos até, que os nossos governantes não são capazes de tomar uma medida capaz de aliviar o sofrimento de milhares de famílias”

(Mensagem de Natal da LOC/MTC)

 

 

 

Missão Jubilar em Aveiro
terminou em festa

A Diocese de Aveiro promoveu este domingo um «Dia da Missão» com o qual encerrou a Missão Jubilar, nos 75 anos da sua restauração, a que se associou o Papa Francisco, com uma mensagem. O texto foi lido durante a missa pelo vigário geral, monsenhor João Gaspar, e deixou um apelo para que a Igreja Católica em Aveiro "entre decididamente num processo de discernimento, renovação e reforma, sem impedimentos e sem receios".

A celebração conclusiva reuniu cerca de oito mil pessoas no Parque Aveiro-Expo, segundo comunicado da diocese enviado à Agência ECCLESIA.

 

 
D. António Francisco dos Santos, bispo de Aveiro, presidiu à Eucaristia e disse aos presentes que “as bem-aventuranças são para a Igreja de Aveiro critério de vida, programa de ação a inspirar o futuro”. “São impulso evangelizador de serviço aos pobres e aos frágeis e de valorização dos simples e humildes, dos puros de coração, dos misericordiosos, dos construtores da justiça, da solidariedade e da paz. A nossa arma é o amor", acrescentou o prelado.

O bispo de Aveiro, que assinalava o 7.º aniversário de tomada de posse, disse que a "Missão Jubilar não termina" porque se “multiplica agora em vidas disponíveis que Deus tocou e transformou, em comunidades vivas e dinâmicas que Deus modelou".

De manhã, quatro mil pessoas reuniram-se em diferentes pontos da cidade e aí fizeram uma oração, antes de convergirem 

 

 

 

junto de D. António Francisco dos Santos e do presidente da Câmara de Aveiro, Ribau Esteves, os quais descerraram uma placa evocativa dos 75 anos da restauração da Diocese junto ao barco composto por 101 pedaços representando cada uma das suas paróquias.

Durante a tarde, os participantes visitaram as exposições que cada um dos arciprestados (conjunto de paróquias) preparou, mostrando o caminho feito ao longo da Missão Jubilar.

D. António Francisco dos Santos convidou toda a diocese a "olhar o

 

futuro com confiança", continuando e aprofundando "o bem que Deus fez pela Missão Jubilar à Igreja de Aveiro", com "paixão pela evangelização".

O encerramento oficial da programação da Missão Jubilar incluiu um concerto comemorativo, na Sé, esta terça-feira, e um ‘Dia da Memória’, na quarta-feira, também na Catedral de Aveiro.

No dia 11 de dezembro completaram-se os 75 anos da restauração da Diocese, pela execução da bula ‘Omnium Ecclesiarum’, de Pio XI.

 

 

Mensagem de Natal
da Liga Operária Católica

A Liga Operária Católica/Movimento de Trabalhadores Cristãos (LOC/MTC) publicou uma mensagem de Natal na qual admite “a dificuldade em descobrir sinais” de esperança em Portugal perante a atual crise económica e apela à mudança de políticas. “Faz muito tempo, anos até, que os nossos governantes não são capazes de tomar uma medida capaz de aliviar o sofrimento de milhares de famílias, pelo contrário, agravam ainda mais a sua já aflita situação de vida”, denuncia a LOC/MTC.

Na mensagem, enviada hoje à Agência ECCLESIA, o Movimento de Trabalhadores Cristãos destaca a “altíssima” taxa de desemprego agravada pelo facto de “metade dos desempregados não terem direito ao subsídio de desemprego e mais de metade estarem em situação de desemprego de longa duração”.

A LOC/MTC constata que no meio de “tantos sinais de morte”, Deus convida à surpresa da vida para

 

 que a “esperança continue a habitar” em cada um, como é referido no livro do profeta Isaías -"Eis que vou realizar uma obra nova” [Is 43,19-20].

Às notícias sobre o aumento do número de milionários em Portugal e ao facto destes estarem cada vez “mais ricos”, a mensagem cita o Papa Francisco e diz que as desigualdades representam uma “traição ao bem comum”. “Todos os dias batem à nossa porta notícias e imagens de homens e mulheres a quem é retirada a possibilidade de contribuir com o seu trabalho e a sua criatividade na obra da criação”, desenvolve a organização cristã.

 

 

  

Mobilizar a sociedade na luta contra a fome

O presidente da Cáritas Portuguesa disse à Agência ECCLESIA que é necessário uma maior “vontade política” para erradicar o problema da fome em todo o mundo, porque “os recursos existem”, apelando ao empenho da sociedade neste objetivo.

“Queremos vincar nos próximos anos este direito à alimentação, para que possamos acabar com este flagelo que ainda paira sobre o mundo”, afirmou Eugénio Fonseca, a respeito da apresentação da campanha global contra a fome, intitulada ‘Uma só família humana, alimento para todos’, promovida pela confederação internacional da Cáritas.

O responsável lamentou a existência de “desperdícios escandalosos” e de “medidas de controlo de preços” que limitam a produção. Entre os objetivos assumidos pela Cáritas está a inclusão, nas legislações nacionais, do “direito à alimentação”.

Falando sobre o caso português, Eugénio Fonseca lembrou os casos de pessoas que "só fazem uma refeição por dia" e outros casos de "gente que se deita sem comer".

 

"Vivemos em Portugal este estigma da pobreza encoberta, da pobreza envergonhada, e muitas destas realidades vivem-se no silêncio da pessoa", acrescenta.

A campanha apela à erradicação da fome no mundo até ao ano de 2025 e começou com uma “onda de oração”.

O Papa Francisco associou-se à iniciativa com uma mensagem na qual afirma que a fome representa um “escândalo” e apela à ação dos católicos, dos governos e da sociedade para a erradicação deste problema. “Estamos perante um escândalo mundial que afeta quase mil milhões. Mil milhões de pessoas que ainda hoje passam fome: não podemos virar a cara para o lado e fingir que esta realidade não existe”, refere.

 

 

Palavras que não são Palavra

Lígia Silveira

Agência Ecclesia

 

Dou por mim a pensar quantas vezes as palavras nos atropelam os sentidos. Quando num normal cumprimento dos dias me dirigem «Bom dia, como estás?», a resposta esperada é «olá, está tudo bem». Mas, e se não está? E se, como resposta, houvesse uma tristeza, a pessoa iria parar à minha frente para ouvir ou o «como estás?» é um olhar que se troca e para ocupar o espaço, se quebra o silêncio, mesmo não querendo saber do estado.

Por estes dias fui confrontada com a afirmação de haver palavras que não calam a verdade do que se sente. Palavras que dizem tão pouco perante uma situação de fragilidade mas que impeliam o interlocutor a uma necessidade de reconforto incipiente que nada altera a situação, não traz conforto nem verdade.

Dou por mim a pensar no peso que as palavras têm, quando falamos de acolhimento e de escuta, quando se fala de uma Igreja para todos mas que através dos seus procedimentos deixa de fora quem não cabe na norma.

Escreve Francisco na exortação apostólica «A Alegria do Evangelho» que “a Palavra possui, em si mesma, uma tal potencialidade, que não a podemos prever. O Evangelho fala da semente que, uma vez lançada à terra, cresce por si mesma, inclusive quando o agricultor dorme. A Igreja deve aceitar esta liberdade incontrolável da Palavra, que é eficaz a seu 

 

 

 

modo e sob formas tão variadas que muitas vezes nos escapam, superando as nossas previsões e quebrando os nossos esquemas”.

Os nossos esquemas, os meus esquemas, tantas vezes postos à prova quando o testemunho me chega real, pessoal, sincero, impregnado de procura, cheio de Deus.

“Muitas vezes agimos como controladores de graça e não facilitadores, mas a Igreja é casa paterna onde há lugar para todos para a sua vida fatigante”, escreve ainda o Papa; e mais à frente: “As portas dos sacramentos não se deveriam fechar por uma razão qualquer (…) A eucaristia não é prémio para os prefeitos, mas remédio generoso e alimento para os fracos”.

Sempre achei que Deus me falava através das pessoas. Como jornalista, tenho tido o privilégio de ouvir muitas histórias e, melhor, conhecer pessoas que são, para mim, pontes para Deus.

 

 

 

Vidas que na sua invisibilidade, mais ou menos próximas da doutrina, põem a descoberto a melhor arte humana, a melhor catequese, o gesto mais claro.

«Discernimento, purificação e reforma» pede Francisco neste seu ou nosso programa apresentado na exortação. Discernimento, purificação e reforma de palavras para chegar à palavra ou ao silêncio.

 

 

«A autenticidade é o remédio
e a autenticidade é o que está
nas palavras do Papa»

 

Adriano Moreira comenta primeiros nove meses de pontificado de Francisco

 

Agência Ecclesia (AE) - Ficou muito agradavelmente surpreendido pela eleição deste Papa, pela escolha do nome Francisco. Esse fascínio perdurou nestes meses de pontificado?

Adriano Moreira (AM) – Sem dúvida nenhuma. Fiquei mais do que satisfeito, fiquei emocionado porque nunca tinha acontecido na história da Igreja e o São Francisco [de Assis] é uma boa inspiração para a época que estamos a viver. E depois está muito de acordo certamente, se não ele não escolheria o nome, com a sua experiência de pastor e de bispo, depois de cardeal porque cresceu e certamente foi apurando, apoiado na sua fé, a compreensão do mundo em que vivia. Ele viveu num dos mundos pobres que nós temos.

 

 

 

 

 

AE – A interpretação das palavras que o Papa diz nos seus discursos e documentos rapidamente chega a uma dupla perspetiva sobre elas. Ou são o essencial do Evangelho, a doutrina da Igreja de sempre, ou uma novidade muito grande que agora, o sucessor de São Pedro está a proclamar. Estaremos perante duas perspetivas que se opõem?

AM – Eu acho que não. Aquilo que está a acontecer é que o Papa Francisco está a compreender, e já compreendeu, que o mundo mudou. Grande parte das instituições que têm responsabilidades públicas ainda não assumiu a necessidade de rever a sua visão do mundo e da vida e acontece o mesmo com os partidos políticos.

 
 

 

 

 

 

 

 

 

 

AE – É desde logo curioso como vindo do “fim do mundo”, como Francisco disse, as mensagens estão a chegar a todo o mundo. Esse fascínio inicial perdurou, o Papa foi comprovando nas mensagens, nos gestos…

AM – Até agora com certeza e espero que se acrescente mas gostava de insistir que ele cresceu num meio onde compreendeu a necessidade que há de dar efetividade a um principio que foi o Concílio que era a proeminência dos pobres. Recordo-me muito bem de ter até adotado isso como doutrina da democracia cristã em Portugal e na altura não foi considerado uma afirmação que merecesse grande atenção. Nós estávamos a caminho do neorriquismo que nos levou às circunstâncias em que estamos hoje mas naturalmente ele é da região onde nasceu a geografia da fome, que teve tanta importância. A região que criou tantas inquietações à Igreja com a teologia da libertação, por exemplo. Tudo expressões que chegaram a levar ao risco de haver uma dissidência. E ele foi criticado, atacado pelo país onde vive e manteve uma serenidade 
 

total perante a deturpação e até a invenção perante a imagem que criam atribuir-lhe. Recentemente foi traduzido para português o livro sobre a lista das pessoas que salvou ("A Lista de Bergoglio") e ele nunca fez referência a isso e nunca respondeu à deturpação.

É um homem que tem muita convicção e certeza da hierarquia dos valores e também da vocação que o chamou. Depois, ele faz uma coisa que é muito franciscana que é rezar pela conduta, os exemplos, proceder e mostrar-se de certa maneira que era um talento do São Francisco, o exemplo da simplicidade e da união das necessidades da população. Ele está a dar esse exemplo num período naturalmente muito difícil, em que a diminuição dos fiéis é enorme, há mesmo o risco de se tornar minoria na Europa em que vivemos e sobretudo numa época em que região que foi considerada a mais rica do mundo, influente, consumista, substituiu o credo dos valores pelo credo do mercado. Este é o combate que ele levantou e é um dos aspetos em que vai ser

 

 

 mais uma vez objeto, como é costume, de alguma reinterpretação do que diz e que não corresponde ao que efetivamente queria dizer. Mas ele é suficientemente experiente e com autoridade e visão suficiente para enfrentar esse risco também que as palavras porventura sejam deturpadas 

 

e hoje o risco é muito grande porque se os meios de comunicação decidem interpretar alguma afirmação, sobretudo original ou nova, que tenha sido feita o risco que se multipliquem os sentidos é muito grande. As palavras têm esta duplicidade, umas vezes são submissas e outras vezes são subversivas.

 

 

 

AE – A Igreja Católica não tinha até este pontificado feito essa revisão?

AM – De algum modo já tinha feito, embora em algumas vezes com muita dificuldade, sobretudo com aqueles movimentos da América Latina em que passou grandes dificuldades para evitar a cisão que chegou a esperar-se mas progressivamente tem que enfrentar a mudança do mundo e não pensar que pode recolher-se a um convento a meditar em si própria e não na sociedade que espera por ela. Eu creio que temos neste momento, mesmo em Portugal, bispos com uma juventude e uma capacidade da visão da mudança do mundo que podem acompanhar com autenticidade a doutrinação do Papa Francisco. E, sobretudo dar valoração ao imperativo do Concílio da proeminência dos pobres em relação à Igreja.

Uma das coisas importantes que [o Papa] já se pronunciou diz respeito a um caso, tema fundamental em Portugal neste momento que é o Estado Social (ES). Há alguns intérpretes apressados que julgam que o ES é caridade do Governo. O ES

 

 são direitos que completam aquilo que foram as grandes declarações de direitos. Eu costumo dar como exemplo aos estudantes que a Declaração dos Direitos de Filadelfia, com as famosas palavras do Thomas Jefferson [terceiro presidente dos Estados Unidos da América], “todos os Homens nascem iguais e com igual direito à felicidade” mas as mulheres não, os índios não, os escravos não, os trabalhadores não, etc. Uma série de “nãos” que era necessário apagar e foi a Doutrina Social da Igreja, em convergência com o socialismo democrático, que criou aquilo que os franceses chamam “Le droit prestation”. É necessário a quem não tem mesmo ponto de partida satisfazer de alguma maneira o ponto de partida, é para isso que são os direitos prestação às pessoas e depois disso existe também a caridade e o amor ao próximo.

A preservação de uma coisa que considero fundamental é que a comunidade nacional seja de afetos porque sem eu ser comunidade de afetos que torna útil, exequível e obrigatório o exercício do amor ao próximo.

 

 

 

 

AE – O que dizer neste problema do Estado Social ao argumento que se repete muitas vezes “não há dinheiro”?

AM – Isso não impede que haja princípios. O ES na Constituição Portuguesa é uma principiologia porque temos disposições que são imperativas mas têm princípios e que neste momento parecem ser uma das dificuldades do Executivo lidar com o Tribunal Constitucional (TC). Parece que algumas vezes têm dificuldade em compreender que o TC invoca princípios em vez de invocar uma disposição literal que esteja escrita. A principiologia que está na Constituição Portuguesa do ES diz respeito às possibilidades do 

 

Estado e por consequência podem as possibilidades diminuir mas os princípios não diminuem e, por isso, é completamente errado, a meu ver, crer entre outras coisas que se anunciam para a Constituição, a refundação do Estado que parece uma expressão exageradíssima mas é bom que apareça gente com ambição, é preciso que isto não desapareça da Constituição porque faz parte das conquistas ocidentais, das declarações de direitos ocidentais. E ai, espero que a doutrinação do Papa traga um grande fortalecimento a estes princípios, à manutenção dos princípios.

 

 

 

AE – Também numa afirmação que o Papa foi repetindo, na rejeição de uma economia de exclusão, nessa afirmação forte – “a economia mata”?

AM – Não sou economista mas em todo o caso a ‘Escola de Chicago’ está sempre mais em vista. E não há dúvida que prestamos muita atenção às políticas inclusivas e exclusivas. As políticas exclusivas foram aconselhadas em países como o Chile, Argentina, Sri Lanka, etc, em lugares onde o exagero 

 

que leva ao cansaço, à fadiga tributária que destrói a classe média, que aumenta a pobreza, não concentre reação porque os regimes são organizados em termos tão autoritários que facilmente dominam essa situação e não podemos consentir nisso. Infelizmente a situação de Portugal neste momento dá impressão que essa política está ser desenvolvida e tem limites. 

 

 

 

 

Eu acho que é uma ocasião em que a doutrina da Igreja é fundamental e sobretudo porque começamos a ter manifestações da sociedade civil não enquadradas, nem por partidos nem por sindicatos, espontâneas. Não acredito em juízos de certeza nem de probabilidade, que acho uma audácia, mas este conjunto de manifestações leva-nos a pensar que a alternativa está à espera de uma oportunidade e a sociedade não vai ser a mesma.

Não se pode com segurança e até por respeito pelo direitos das pessoas estar a incitar à violência ou a imaginar que se tem um modelo para a sociedade civil que vai aparecer. Agora, não temos dúvidas que os sinais indicam que alguma coisa vai acontecer. A nossa incapacidade de saber obriga-nos a imaginar que o imprevisto está à espera de uma oportunidade e a esperança é que a mobilização da sociedade civil faça com que essa oportunidade corresponda a valores. E, ai está o problema da intervenção do Papa.

O que aconteceu é que neste 

 

nosso Ocidente apareceu uma espécie de credo do mercado, põe os valores absolutamente de lado e esse credo é apontado como dando superioridade a valores instrumentais, como à eficácia porque Deus recompensará os melhores. Uma economia desta mata, como diz o Papa, e por consequência o que ele está a pedir é uma ética para a vida económica, mesmo para o mercado. Não é preciso ser revolucionário ou entender isso num sentido de apelo ou intervenção revolucionária para compreender que o mercado sem regras faz com o credo do mercado ponha de lado a escala dos valores. Julgo que essa é uma das debilidades muito grandes do Ocidente, é certamente uma razão a considerar na diminuição da influência da Igreja curiosamente numa época em que as estatísticas revelam o apelo crescente à transcendência.

A autenticidade é o remédio e a autenticidade é o que está nas palavras do Papa.

 

 

 

 

AE – O que é que se pode esperar do Papa Francisco nessa desejável mudança?

AM - Penso que ele vai lutar intransigentemente para que o mercado seja condicionado por uma ética. A ética da parte da Igreja Católica não precisa de grandes discussões e explicações mas há um efeito mesmo na ordem política internacional que é importante. A ordem política internacional teve em suspenso com a guerra fria porque vivemos um ordem de pactos militares e isso acabou mas temos ainda a Organização das Nações Unidas e um Conselho Económico e Social que não foi chamado a avaliar a situação que é global e devia ser chamado. A própria Igreja tem uma grande importância porque é a primeira vez no mundo, na história conhecida, em que todas as áreas culturais falam livremente e a busca de paradigmas que abranjam essa globalidade é fundamental.

Penso que a palavra de Francisco faz falta para encontrar esse paradigma global que ainda não encontramos.

 

 

 

 

AE – Do que percebe e interpreta das análises sociais, a palavra do Papa é global?

AM – Ele ainda tem passos para dar porque neste momento, usando a linguagem dos juristas, recebeu uma herança e não foi a benefício de inventário e não vem só o ativo mas o passivo também. Ele está a dar grandes exemplos, no sentido de reformar o Vaticano e isso vai levar tempo.

 

AE – É o desafio maior do pontificado?

AM – Não sei se é o maior ou não mas se temos um Papa emérito [Bento XVI] que dá o exemplo de declarar a sua fraqueza, que não é capaz, que o cargo e o encargo ultrapassam a sua capacidade é uma grande demonstração de coragem, dedicação mas ao mesmo tempo dá-nos sinal que a herança é pesada. Não vou sequer tentar determinar ou definir mas basta isto para ter a certeza que ele está a enfrentar uma herança pesadíssima dando o exemplo franciscano da simplicidade, da compreensão do povo, da pobreza que está a envolver tantas regiões do mundo e espero que a sua 

 

 

 

 

ação vá conseguindo repor uma escala de valores que consiga dominar o credo do mercado que está a ser dominante no mundo em que vivemos.

 

AE – Como analisa as possíveis tensões que possam existir entre quem desejaria uma reforma imediata, feita com grandes sinais, com grandes tomadas de posição e essa forma de anunciar e transformar do Papa?

AM – Aquilo que ele está a fazer, 

 

acreditando no poder da palavra, é o método a seguir porque no fundo é aplicar o mesmo que se faz com o pecador. Procura-se chamar, que ele readote os seus valores e é o que o Papa está a fazer. Não espero que ele faça coisas revolucionárias, incitamentos. Ele vai continuar como São Francisco [de Assis] se for possível até sem palavra, só o exemplo já serve de pregação.

 

 

 

AE – Diante dessa necessidade de reforma, as palavras do Papa desafiam a uma desinstalação, ir às periferias. Podíamos pensar que se é para reformar vamos ao centro, ao Vaticano mas as ordens do Papa são outras. Começa por aí, pelas periferias?

AM – Ele não esquece que a sua palavra é dirigida ao Logos e que a prega a todas as criaturas. Ele não pode abandonar isso e basta o exemplo do antecessor, a fadiga, para pensar no fardo que ele assumiu e não se pode ter a certeza que a simples intervenção dele vai ser suficiente para repor os valores como desejaria. Os poucos meses de exercício fazem crescer a esperança de que as coisas possam voltar a subordinar-se aos valores, identificar não apenas o Ocidente mas que para além de tudo aquilo que erradamente também o Ocidente fez e praticou que possa ter influência. É por isso que as reuniões entre todas as religiões, a procura do paradigma comum é uma tarefa da maior importância e que não deve ser abandonada mas apoiada e aceitando a afirmação, que se 

 

vulgarizou, que se não houver paz entre as religiões não haverá paz no mundo.

 

AE – Numa metodologia jesuítica, e deste Papa Francisco, a centralidade de Jesus Cristo, a desinstalação, o anúncio, o ir às periferias e a rejeição da economia de exclusão serão as três ideias chave deste pontificado?

AM – Acho que sim mas, neste momento para mim, a última é a mais importante de todas. Nós estamos de facto num capitalismo explosivo.

 

AE – Será também a mais importante para o Papa?

AM – Nas frases dele é evidente. Sobretudo deve ter peso no espírito dele o ambiente em que nasceu, cresceu e exerceu a sua função de pastor porque são regiões que foram submetidas à exploração económica onde as políticas exclusivas foram dominantes. Com regimes políticos que fazem lembrar as brutalidades da própria colonização naquela época e isso não deve levar ninguém a surpreender-se que o Papa considere esse ponto fundamental.

 

 

 

 

 

 

AE – Essa circunstância de vir da América do Sul, a mensagem do Papa está a ser cada vez mais global e está a impor-se?

AM – Penso que sim. Claro que ele não tem exercício de meses suficiente para que se observe imediatamente resultados embora sendo a intervenção do Papa um milagre que não seja 

 

 

surpreendente mas para a vida normal não há tempo suficiente. Se bem me recordo, o padre António Vieira diz que uma das características do milagre é dispensar o tempo que seria necessário. Não sei se aqui podemos dispensar o tempo.

 

 

 

AE –. A própria expetativa de revolução não poderá ser prejudicial ao pontificado do Papa Francisco?

AM – Nós nunca sabemos, porque o processo social é cada vez mais complexo. Todos falamos em globalismo, porque fica bem para mostrar a nossa cultura, mas conhecer as variáveis, as redes, as interdependências e o consequencialismo de tudo isto no globalismo sabemos pouco. Ignoramos muito e fazer prognósticos acho uma audácia. Mas não é uma audácia ver se aquele homem está a agir de acordo com os seus valores, a autenticidade, e isso é o fundamental. E ele está a agir com autenticidade porque o comportamento está a ser como Francisco.

Há aqui uma coisa que também se aplica aos governos e muitas vezes parece que não gostam que se diga isso ou não entendem que a autenticidade é a coincidência entre o que se anuncia e o que se faz. A falta de coincidência dá origem à falta de autenticidade e da legitimidade do exercício. Não é o caso nem o esperável deste Papa. Ele vai 

 

dar o exemplo de autenticidade enfrentando todos os riscos e segundo alguns comentaristas anunciam-se riscos grandes para esta autenticidade que o Papa está a mostrar. Mas ele não via desviar-se disso. A fé dele é suficiente para não se desviar.

 

AE – O professor Adriano Moreira está a apresentar o novo livro “Memórias do outono ocidental. Um século sem bússola”. O Papa Francisco poderia ser ou está a ser a bússola que o Ocidente não tinha?

AM – Ele está a procurar que se torne a usar a bússola porque no que respeita à doutrina propriamente e aos princípios são os mesmos. Ele está a combater o abandono dos princípios e isso é a tarefa dele. Espero quê se consiga inverter esta marcha e se consiga pôr o diálogo no lugar do confronto, o respeito no lugar da tolerância, que é absolutamente necessário, e a paz no lugar do combate.

Uma das razões que me leva a isto é o facto de termos feito isso em algumas ocasiões, como nas cruzadas e na reconquista, trazer Deus para o campo da batalha. 

 

 

 

Não é para o campo de batalha que é preciso chamar pelos valores mas para a paz e penso que intervenção dele vai ser importante.

 

AE – A exortação apostólica «Evangelii Gaudium» do Papa Francisco. Está aqui uma bússola?

AM – Está. Eu estou a ler com a 

 

maior atenção, não quero desde já fazer opiniões do documento que considero da maior importância mas ai já se começa é a repor a bússola. Eu julgo que é assim que ele está a agir.

 

 

Uma Exortação ao cuidado de todos

“Evangelii Gaudium” é um documento profundamente inovador, pelo registo direto e pela linguagem acessível que contém, mas também pelo modo como abre pistas novas para a reflexão e para o espírito crítico dos cristãos. Torna-se necessária uma evangelização que ilumine os novos modos de nos relacionarmos com Deus, com os outros e com o ambiente, e que suscite os valores fundamentais. Daí a necessidade de uma espiritualidade missionária que se demarque do pessimismo estéril e abra caminho às novas relações geradas por Jesus Cristo. «O mundanismo espiritual que se esconde por detrás de aparências de religiosidade» (E.G.,93) tem de dar lugar ao reconhecimento de um protagonismo responsável que ponha os leigos num lugar em que assumam maiores e mais efetivas responsabilidades, enquanto a mulher tem de ocupar um lugar mais interveniente. «A Igreja reconhece a indispensável contribuição da mulher na sociedade, com uma sensibilidade, uma intuição e certas capacidades peculiares, 

 

que habitualmente são mais próprias das mulheres que dos homens» (E.G.,103). Daí «as reivindicações dos legítimos direitos das mulheres, a partir da firme convicção de que homens e mulheres têm a mesma dignidade e colocam à Igreja questões profundas que a desafiam e não se podem iludir superficialmente» (E.G.,104). Afinal, todo o povo de Deus anuncia o Evangelho, como povo de muitos rostos, em que todos somos missionários. «A diversidade deve ser sempre conciliada com a ajuda do Espírito Santo; só Ele pode suscitar a diversidade, a pluralidade, a multiplicidade e, ao mesmo tempo, realizar a unidade» (E.G.,131).

Há nesta «Exortação» do Papa Francisco um forte apelo ao compromisso e à compreensão dos novos sinais dos tempos e da dignidade da pessoa humana e, por isso, relembra com especial ênfase: «Acreditamos no Evangelho que diz que o Reino de Deus já está presente no mundo, e vai-se desenvolvendo, aqui e além de várias maneiras: 

 

 

 

 

como a pequena semente que pode chegar a transformar-se numa grande árvore (cf. Mt 13,31-32), como o punhado de fermento que leveda uma grande massa (cf. Mt 13,33), e como a boa semente que cresce no meio do joio (cf. Mt 13,24-30) e sempre nos pode surpreender positivamente: ei-la que aparece, vem outra vez, luta para florescer de novo. A

 

 ressurreição de Cristo produz por toda a parte rebentos deste mundo novo; e, ainda que os cortem, voltam a despontar, porque a ressurreição do Senhor já penetrou a trama oculta desta história; porque Jesus não ressuscitou em vão. Não fiquemos à margem deste caminho da esperança viva!» (E.G.,278).

 

Guilherme d’Oliveira Martins

 

 

 

A radical novidade de Francisco

A novidade que a Evangelli Guadium representa no magistério papal só tem paralelo com a sua radicalidade. Por estas duas razões ela está a ser silenciada pelos que querem manter as coisas como estão e não desejam confrontar-se com o radical desafio de Deus: “Caim, Caim, onde está o teu irmão?”

Vivemos submersos por um pensamento pseudo-racionalista que procura tudo reduzir a equações e números de curto prazo, iludindo o facto de nos destruírem, a médio prazo, a vida e as sociedades. Contra tal dominação o Papa Francisco escolheu começar a primeira exortação do seu papado referindo-se a um sentimento. Não a uma razão, nem a uma sensação, mas à alegria que enche o coração daqueles que escutam a Boa Nova de Jesus. Um sentimento que não é contra a razão, mas que envolve todo o ser do homem e da mulher muito para além do que qualquer verdade (ou mentira) construída pela razão os poderá alguma vez envolver. Ser cristão, viver em 

 

 

Cristo, é isto mesmo: sentir renascer “sem cessar a alegria”, não sucumbindo à tristeza de falsos racionalismos que nos impedem de cumprir o mandamento da inclusão dos pobres – esses preferidos do nosso Deus.

Tudo nesta exortação é novo. Incluindo o seu caracter pessoal e testemunhal. Francisco escreve várias vezes na primeira pessoa, partilha episódios de vida, encontros e rostos que conheceu, sonhos que tem para a Igreja e para a humanidade. Mais do que uma reflexão doutrinária, o Papa oferece-nos uma longa comunicação que brota da espiritualidade que o habita. Espiritualidade densa como só é a de quem interroga a realidade e a sua própria vida a partir de uma relação comunitária lúcida, intensa e íntima com Jesus.

Nova é também a forma como o Papa atualiza a dimensão social da Boa Nova. Os que nela nada de novo encontram, enganam-se, ou querem-nos enganar. Francisco não acrescenta doutrina, mas pronuncia-se com toda

 

 

 

 

 a clareza sobre estes seis anos de crise financeira e acusa os processos desencadeados pela ideologia neoliberal (e os seus resultados) como sendo portadores de morte e, portanto, incompatíveis com o Evangelho.

Radical é o modo como o Papa nos faz sentir que tudo – o que fazemos, aquilo que pensamos, o modo como acolhemos os outros, como nos organizamos em Igreja, as prioridades que nos damos 

 

 

e o que calamos –, tudo, tudo mesmo, tem de ser visto e repensado em função da verdadeira novidade que nós cristãos transportamos: anunciamos a infinita misericórdia de Deus que a todos acolhe e liberta. E rejubilamos por sermos portadores de tão grande Boa Nova!

 

Jorge Wemans

 

Depois dos gestos,
as palavras do Papa Francisco

O Papa Francisco é um homem do gesto. Ou melhor, é um homem de ação em que o gesto tem precedência sobre a palavra. Todos o lembram, depois de papa, por manter os seus sapatos usados, por ir pagar a conta do albergue, por depor a insígnia do poder, por identificar, no meio da multidão, a pessoa que necessita do seu abraço, por chamar, por telefone o diretor anticlerical do “Repubblica”, por escolher o alojamento comum do Vaticano. Conhecíamos-lhe as palavras da homilia quotidiana, da entrevista à “Civiltà Cattolica” e agora chega-nos este longo texto pastoral, a “Evangelii gaudium”. Por mim, após a leitura, confesso que continuo a vê-lo como um homem do gesto. Ou melhor, preciso do gesto para contextuar as palavras. Há, no texto, apesar de tudo, a mesma espontaneidade do gesto, mas continuo a preferir o vislumbre presente na pessoa do que o longo plano de ação do pontificado que aí está na exortação.

 

 

 
O que mais desafia o leitor neste texto é a caracterização do lugar desde onde ele fala. Há uma lógica nova no modo de pensar de Francisco. Ele não fala desde um lugar comum, desde um diagnóstico feito com mestria científica, para conduzir a Igreja e a sua pastoral por um programa definido com objetivos e com meios para lá chegar. Ele fala e pensa desde o lugar da consumação do mundo que é Cristo morto, ressuscitado, escondido e aparecido.

Essa lógica dá-lhe a possibilidade de ver a Igreja como um carisma em contínuo movimento, como uma instituição sempre vocacionada para o único porvir real, mas imperfeito no tempo presente. Daí, os ministros, papa, bispos, padres serem vistos como poetas cuja criatividade vem de uma vida haurida na imanência do mistério que visibilizam. E ficarem tão aquém...

É também esse ponto de partida que lhe dá uma visão da sociedade global de hoje, 

 

 

  

caracterizada pelo esplendor das conquistas humanas e pelo sofrimento das multidões. Todos os que o vêm Francisco como um simples repetidor ou como um perigoso marxista estão completamente desfocados no seu ângulo de visão. O ponto de vista do Papa é anterior à ideologia política ou económica, mesmo a daqueles que o vêm como um teólogo da libertação que fala desde o horizonte dos pobres, o que, de resto já não seria fora de propósito.

Este é também o sentido da sua insistência na necessária modificação da proposta moral. Não tendo ainda mudado 

 

qualquer norma, o seu caminho leva na direção de instituir de outro modo o que for necessário no mundo moral para que corresponda melhor com realidade dada em Cristo.

A exortação pós-sinodal é, pois, um texto um tanto problemático, não porque seja imperfeito, mas porque vem de um lugar que intaura de outro modo os nossos lugares comuns. O que a Igreja tem como tarefa não é insistir num programa rígido, mas abrir-se à novidade inesgotável do Espírito Santo que conduz a história humana por caminhos inéditos.

 

Jorge Teixeira da Cunha

 

 

Um pontificado esperançoso

O pontificado do Papa Francisco é para todos nós muito esperançoso, no sentido mais ativo da palavra. O Papa Bento XVI, na sua encíclica sobre a esperança diz que ela é uma virtude preformativa, não apenas enuncia mas vai realizando aquilo que anuncia. A atividade do Papa Francisco tem sido para nós muito esperançosa, no sentido em que alimenta a esperança e também vai abrindo caminho.

Não podemos resumir facilmente a exortação apostólica ‘Evangelii Gaudium’ (A alegria do Evangelho), porque é longa e muito substancial, também muito clara na sua exposição, mas insiste-se num ponto: temos de nos refazer evangelicamente como cristãos e como comunidades cristãs para alimentar a própria esperança do mundo e ultrapassar uma crise que é muito mais profunda do que só o aspeto financeiro ou económico, embora esses sejam muito complexos e gravosos.

É uma crise de entendimento do que é que nós somos. Nós não somos indivíduos para o consumo, no sentido mais 

 

materialista do termo, nós somos pessoas que só nos realizamos com outras pessoas e não devemos ficar descansados enquanto os outros não forem também reconhecidos como pessoas. Que as nossas comunidades cristãs e que o cristão que cada um de nós quer ser insista e invista aqui, num relacionamento positivo, justo e solidário com todos para nos podermos fazer como humanidade comum.

Isto também é para nós cristãos uma atitude profundamente religiosa por isso é que o Papa que escreve a exortação e ela se chama apostólica. Isto é o nosso Deus como Ele se revelou em Jesus Cristo, é o Deus que está connosco e que quando nasceu, nasceu pobre para nos enriquecer com a sua presença e viveu de uma maneira empenhada, solidária, constantemente preocupado com os outros, com a realização dos outros, plena, corpo e espírito: a isso é que se chama salvação.

Nós cristãos temos de a ver da mesma maneira nas famílias, nas comunidades cristãs para sermos ao vivo não apenas 

 

 

 

 

hipoteticamente um sinal de esperança e futuro para uma humanidade que se tem de reencontrar.

O Papa Francisco é esse exemplo, e de uma maneira tão sugestiva. Ele já era assim na Argentina e quando passa de bispo de Buenos Aires a bispo de Roma, a Papa, com esta outra responsabilidade pelo catolicismo mundial, continua 

 

na mesma esteira. Aquilo que já se tem sublinhado e eu sublinho também é a autenticidade. Este Papa convence muito porque é muito autêntico, as pessoas nem precisam de grandes discursos para ver que é tal e qual assim, não é só dizer, é ser!

 

D. Manuel Clemente, patriarca de Lisboa, em declarações à Agência ECCLESIA

 

 

 

Francisco e o seu contexto
no mundo mediático

O mediatismo em torno do Papa Francisco deve-se, segundo a investigadora na área dos media e da sociologia Rita Figueiras, a um cruzamento entre caraterísticas e “sensibilidades” pessoais e a um “contexto” social que atravessamos.

“É o homem e o seu contexto. Há características e sensibilidades do próprio mas há momentos em que determinados atributos são melhor acolhidos. O discurso de alertar para o ser humano, levantar dúvidas sobre a economia e as opções políticas que se desviam das pessoas, está a cair muito bem na sociedade atual”, admite a investigadora e docente da Universidade Católica Portuguesa.

Segundo Rita Figueiras as “pessoas não se sentem representadas” nas “instituições de referência na sociedade ocidental”.

“Quando aparece um Papa tão disponível para estar próximo, para falar em nome de, para alertar para as condições de vida de quem tem menos, 

 

naturalmente que as suas palavras ganham muito eco nos media”, reforça.

A curiosidade em torno da figura papal “sempre existiu” e os media sempre demostraram “grande interesse pelas particularidades de cada um”.

Fator acrescido aponta a investigadora, foi o contexto de resignação de Bento XVI que terá contribuído para a “entrada de Francisco na agenda jornalística e da vontade de exercer o papado de forma diferente”.

O “fenómeno” sublinha a docente, reside no facto de ele chegar a “católicos e não católicos”.

“Não são apenas os católicos que fazem circular as suas mensagens e a reforçam, mas também entre os católicos menos participativos ou nos não católicos que se revêm nas suas palavras. É interessante perceber a forma como ele coloca o discurso que é acolhido numa comunidade mais ampla. Quanto mais houver capacidade de projetar esta mensagem positiva nos media, mais ela vai perdurar”.

O reforço e amplitude da 

 

 

 

 

 

 

mensagem têm colocado as palavras do Papa também na “agenda política, nomeadamente na nacional”, aponta a investigadora na área dos media e da sociologia e da comunicação política.

Rita Figueiras lembra a proximidade de Francisco com a população no Brasil, durante a Jornada Mundial da Juventude, em julho, ou o gesto na noite de Quinta-feira Santa, a 28 de março, quando o Papa lavou os pés a 

 

adolescentes detidos.

“São imagens fortes que condensam narrativas e são ricos para serem interpretados de múltiplas maneiras. Sem precisar de ter um texto escrito e oral, a narrativa será construída pelo olhar de quem observa”.

São gestos e palavras que mostram “coerência”, um sinal “bem acolhido na sociedade”, e que fazem de Francisco umas das personalidades mais influentes deste ano.

 

 

Rótulos de «Papa engraçado» limitam perceção do pontificado

O bispo emérito de Setúbal, D. Manuel Martins, teme que atual o Papa fique na história “como um Papa engraçado” e “não como um instrumento de Deus”. Ao fazer uma avaliação de nove meses de pontificado, o prelado referiu à Agência ECCLESIA que havia “uma Igreja muito parada” e que, tal como diz Francisco, é preferível “uma Igreja acidentada no meio do mundo” do que “uma Igreja muito bonita e arranjadinha”, mas arrumada “num canto qualquer”.

“É uma provocação fantástica que ele faz à Igreja”, acrescentou o bispo emérito de Setúbal.

Ao ver as notícias, o prelado tem “muito medo” de que o Papa Francisco passe à história como um “Papa engraçado” e não como um homem para “modificar por completo a sua Igreja que bem precisa de ser modificada”.

Já Eugénio Fonseca, presidente da Cáritas Portuguesa, fala da eleição de Francisco como “uma

 

 graça” e um dos “melhores frutos do Ano da Fé”, proclamado pelo Papa emérito, Bento XVI.

O responsável espera que a “Igreja seja digna deste pastor que o Espírito Santo lhe colocou nos destinos da barca de Pedro” e que esteja “recetiva aos apelos claros” e numa “linguagem bem audível por todos” do Papa argentino.

A Igreja não tem de alterar a Boa Nova, mas adaptar esta mensagem “às alegrias e anseios” dos cristãos da sociedade atual, frisou Eugénio da Fonseca, para quem os cristãos devem acompanhar o ritmo do Papa Francisco e fazer com ele “uma Igreja renovada e que não tem medo de se abrir à força do Espírito Santo”.

 

 

 


 

 

Nós, cidadãos do mundo, vemos o Papa Francisco como um novo símbolo de esperança por muitos motivos. Creio que, obviamente, para a Igreja Católica representa uma enorme lufada de ar fresco, que está a fazer com que as pessoas se sintam também fortemente envolvidas.

Mas, para o mundo em geral, tem uma enorme influência num momento em que os conflitos se multiplicam, em que a comunidade internacional perdeu grande parte de prevenir e resolver os conflitos. Vemos como o mundo é incapaz de enfrentar alguns dos desafios chave do nosso tempo: veja-se, por exemplo, as mudanças climáticas. Assistimos a uma ausência global de liderança.

Por isso, penso que é um exemplo fantástico para o mundo ver este tipo de envolvimento, de empenho, e também esta orientação profundamente humana na Igreja Católica. É natural, portanto, que todos sintam esta enorme força e energia que vem do Papa. Todos, estou certo, queremos estar com ele para entrar em contacto com esta energia e este compromisso, porque todos temos necessidade disso nos momentos difíceis que estamos a enfrentar.

 

(António Guterres, Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados, em declarações à Rádio Vaticano)

 

 

 

 

 

 

 

PAPA FRANCISCO:’A ALEGRIA DO EVANGELHO’

A arte de ‘primeirear’

A 'Alegria do Evangelho' é uma festa da Missão. Dá gosto ler de fio e pavio...e li duas vezes de enfiada. Quando damos conta, reparamos que estamos a sorrir, felizes, mesmo a ler capítulos sobre a pobreza extrema, a fome ou a injustiça que torna descartáveis muitos dos humanos. Dizia Francisco em Assis que não quer ver nos rostos dos cristãos sorrisos de hospedeiras de bordo, ou seja, quer sorrisos verdadeiros, que reflitam o que se passa na alma de um crente que sabe que todas as quaresmas desembocam na manhã da Páscoa.

‘Primeirear’, ou seja, ‘tomar a iniciativa’ deve ser uma das imagens de marca dos missionários hoje (nº24). Nós somos convidados por Francisco (e, antes dele, por Cristo) a sermos ‘Igreja em saída’, na rua, a partilhar a sorte a má sorte de todos, sobretudo dos pobres, mesmo sujando as mãos (nº20).

No meio de tantas preocupações missionárias, Francisco propôs-se refletir sobre apenas sete temas: 

 

1.a reforma da Igreja, em saída missionária; 2.as tentações dos agentes pastorais; 3.a Igreja vista como a totalidade do povo de Deus que evangeliza; 4.a homilia e a sua preparação; 5. A inclusão social dos pobres; 6.a paz e o diálogo social; 7. As motivações espirituais para o compromisso missionário (nº.17).

Ao percorrer, uma por uma, as páginas desta 'Exortação Apostólica' somos confrontados com a humildade de um Papa que se sente frágil, sem palavras que fechem a reflexão. Apresenta-se como um que caminha com todos, sempre á procura dos sinais inspiradores do Espírito Santo e com uma atenção redobrada aos pequenos e aos pobres. Sim, ele quer uma Igreja pobre e para os pobres, uma família onde todos tenham lugar, vez e voz, uma Comunidade sempre em conversão (reforma), um 'governo' da Igreja mais descentralizado e com mais lugar para a mulher, o jovem e os leigos em geral.

 
 

 

 

Francisco aposta ainda em temas grandes como a inclusão social dos pobres, o combate aos sistemas políticos e económicos que matam mais do que salvam as pessoas, o compromisso pela paz e pelo diálogo social. Insiste na dimensão espiritual da nossa vida e da nossa Missão...

A mim e a todos os agentes 'qualificados ' da pastoral relembra que somos apenas 'servos' e não senhores das comunidades e responsabilidades que nos são confiadas.

 

O Papa dá ainda algumas orientações para as 'pregações' e homilias, pondo lá uma pitadinha de humor fantástico: 'sabemos que os fiéis lhe dão muita importância; e, muitas vezes, tanto eles como os próprios ministros ordenados sofrem: uns a ouvir e os outros a pregar!'(nº135).
Sobretudo, Francisco quer-nos alegres, felizes, otimistas e abertos ao mundo. 

Prometo, querido Papa, que vou tentar viver o que propõe este grande documento da Igreja.

 

 

Fraternidade, o segredo da paz

O Papa Francisco destacou hoje a importância de uma “paternidade” comum na humanidade para travar a “globalização da indiferença”, na mensagem para o Dia Mundial da Paz 2014, dedicada ao tema ‘Fraternidade, fundamento e caminho para a paz’. “As próprias éticas contemporâneas mostram-se incapazes de produzir autênticos vínculos de fraternidade, porque uma fraternidade privada da referência a um Pai comum como seu fundamento último não consegue subsistir”, refere o documento, divulgado pela Santa Sé.

Francisco sublinha que o número cada vez mais maior de ligações e comunicações que envolvem o planeta “torna mais palpável a consciência da unidade e partilha dum destino comum entre as nações da terra”. Esta realidade mostra a “a vocação” da humanidade a “formar uma comunidade feita de irmãos que se acolhem mutuamente e cuidam uns dos outros”.

O texto defende uma 

 

“redescoberta da fraternidade” na economia e a mudança de “estilos de vida”. “As sucessivas crises económicas devem levar a repensar adequadamente os modelos de desenvolvimento económico e a mudar os estilos de vida”, pode ler-se.

O Papa considera que as “graves crises financeiras e económicas” da atualidade têm a sua origem no “progressivo afastamento do homem de Deus e do próximo, com a ambição desmedida de bens materiais” e o “empobrecimento das relações interpessoais e comunitárias”.

Nesse sentido, Francisco denunciou a “tragédia da exploração do trabalho” e as “guerras" económico-financeiras. “Penso nos tráficos ilícitos de dinheiro como também na especulação financeira que, muitas vezes, assume expressões predadoras e nocivas para sistemas económicos e sociais inteiros, lançando na pobreza milhões de homens e mulheres”, escreve.

 

 

 

 

 

O Papa defendeu a necessidade de um desarmamento “nuclear e químico”, frisando que uma circulação de armamentos em “quantidade tão grande como a atual” serve para que se encontrem “novos pretextos para iniciar as hostilidades”.

Francisco sublinha que a fraternidade é o “fundamento principal” da paz e apela a uma atitude de “serviço às pessoas,

 

incluindo as mais distantes e desconhecidas”. “O serviço é a alma da fraternidade que edifica a paz”, acrescenta.

O Dia Mundial da Paz começou a ser celebrado anualmente a 1 de janeiro durante o pontificado do Papa Paulo VI, em 1968, e a mensagem para esta jornada é enviada às dioceses e às embaixadas de todo o mundo.

 

 

Tráfico de pessoas é crime
contra humanidade

O Papa Francisco afirmou hoje no Vaticano que o tráfico de pessoas é um “crime contra a humanidade” que exige vontade política e o empenho da comunidade internacional para pôr fim a este “horrível comércio”. “O tráfico de pessoas é um crime contra a humanidade: temos de unir forças para libertar as vítimas e travar este crime cada vez mais agressivo, que ameaça – para lá dos indivíduos – os valores que fundam as sociedades”, declarou, perante os novos embaixadores de 17 países, entre os quais se contavam os de Cabo Verde e da Palestina.

O discurso papal destacou os efeitos deste tráfico, uma “ameaça” à dignidade humana sobre a “segurança e a justiça” internacional, a economia, as famílias e a “própria vida social”. “O tráfico de seres humanos é uma verdadeira forma de escravidão, infelizmente cada vez mais difundida, que diz respeito a cada país, mesmo os mais desenvolvidos, e que toca pessoalmente os mais 

 

 

vulneráveis da sociedade”, disse.

Em causa, observou Francisco, estão milhões de vítimas que são sujeitas a “trabalhos forçados” ou à “exploração sexual”. “Isto não pode continuar: constitui uma grave violação dos Direitos Humanos das vítimas e uma ofensa à sua dignidade, para além de ser uma derrota para a comunidade mundial”, alertou.

O Papa convoca todas as comunidades religiosas e às pessoas de boa vontade a um esforço conjunto para que estas mulheres, homens e crianças “não sejam tratados como objetos, enganados, violentados, vendidos mais do que uma vez” e mesmo “assassinados”.

 

 

 

Francisco, «personalidade do ano» da Time

A revista norte-americana ‘Time’ elegeu o Papa Francisco como “Personalidade do Ano” em 2013 "por arrancar o papado do palácio e o levar para as ruas" e por "dosear julgamento e misericórdia". "No espaço de nove meses, desde que assumiu funções, ocupou exatamente o centro das conversas fulcrais dos nossos tempos: sobre a riqueza e a pobreza, a equidade e a justiça, a transparência, a modernidade, a globalização, o papel das mulheres, a natureza do casamento, as tentações do poder", acrescenta a publicação.

Após o anúncio desta quarta-feira, o porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi, afirmou que esta decisão “não surpreende, tendo em conta a ressonância e a grande atenção que a eleição do Papa Francisco e o início do novo pontificado despertaram”.

Segundo a Time, “o líder da Igreja Católica tornou-se na nova voz da consciência, com a atenção centrada na compaixão", apresentando Francisco como "o Papa do Povo".

 

 

 

Para o padre Lombardi, esta escolha – na qual participam também os leitores – é “um sinal positivo”, representando “um dos reconhecimentos mais prestigiados no âmbito da imprensa internacional”.

O Papa, primeiro sul-americano a ser eleito como bispo de Roma, escolheu chamar-se Francisco, uma decisão inédita até então.

A Time destaca a escolha do nome, inspirado em Francisco de Assis, um “santo humilde”, e o apelo do Papa a uma Igreja “de cura”.

O padre Lombardi referiu, numa nota divulgada pelo Vaticano, que Francisco “não procura fama nem sucesso, porque cumpre o seu serviço anunciando o Evangelho do amor de Deus por todos”.

 

 

Mandela: longo caminho para a liberdade

A 18 de Julho de 1918, Nelson Rolihlahla Mandela nasce em Mvezo, aldeia situada nas margens do rio Mbashe província do Cabo Oriental, na jovem União Sul Africana (1910-1961) e no seio de uma família nobre de etnia Xhosa. Décimo terceiro filho do chefe da aldeia, foi desde cedo preparado para a liderança.

Revelando desde cedo um espírito desacomodado e um obstinado sentido de justiça, aliado a um gosto particular pelas artes, Mandela será expulso por ativismo político (na defesa de direitos da população negra) da universidade de Fort Hare (a primeira universidade sul africana para negros), dois anos após iniciar a licenciatura em Artes em 1939.

Em Joanesburgo, aceita diversos trabalhos, incluindo no escritório de advocacia do futuro primeiro presidente do Botswana e estuda de noite, até se formar em direito. Em 1944 casa-se e enceta carreira política juntando-se ao Congresso Nacional Africano, dentro do qual funda, com Sisulu e Oliver Tambo, a liga juvenil com o fim de mudar o que consideravam ser a postura subserviente do partido face ao 

 

 

domínio branco. Não obstante, mantém-se defensor da não violência.

Com a vitória do Partido Nacional, de extrema-direita branca, nas eleições de 1948 e sequente instauração do Apartheid, regime segregacionista que perdurará até 1994, Mandela enceta uma longa e acirrada caminhada política na liderança da luta pelos direitos da população negra. Nesta longa caminhada, será presidente do Congresso Nacional Africano, enfrentará acusações de traição e a perseguição das autoridades e do governo enquanto percorre o país, o continente e o mundo, procurando apoios e estabelecendo alianças. Em 1961, em resposta à repressão crescente de um governo ameaçado pelo seu carisma, lidera o braço armado do CNA, MK (Umkhonto we Sizwe. Lança da Nação) colocando do lado do governo a responsabilidade de dar o primeiro passo para uma convivência pacífica.

Em 1964 é capturado, julgado e condenado a prisão perpétua. Em cativeiro, nunca abandona, por mais escassos os meios, a luta. Com a crescente força do 

 

 

 

movimento, recusa tentativas de negociação que, permitindo a sua liberdade individual, não confiram direitos, liberdades e garantias aos demais.

Em 1990, a libertação de Nelson Mandela torna-se inevitável e a luta continua, contra o radicalismo branco e o radicalismo negro.

A uma semana da sua morte, estreia nas salas de cinema portuguesas o primeiro filme baseado na sua autobiografia: ‘Mandela. Longo caminho para a liberdade’. Um ‘timming’ que tem tanto de pertinente como de arriscado, tendo em conta a envergadura do líder africano – também física mas sobretudo psicológica, espiritual e moral, a emoção geral provocada pela sua perda e a multiplicidade de informação que circula sobre a sua vida e obra, o que garantirá um público mais atento e crítico a esta versão.

Razoavelmente protagonizado por Idris Elba (papéis secundários em Thor e Prometheus, entre outros), o argumento cumpre um relato pouco aprofundado dos episódios mais significativos do percurso de Mandela. A figura está lá e no entanto falta-lhe dimensão e identidade. A força interior, o ímpeto, o seu carisma, a qualidade das suas relações, 

 

com os outros, com as geografias e a profundidade do seu pensamento, alicerces fundamentais para o entendimento de quem foi, são ténues.

Uma espécie de ‘panorâmica’, útil e cativante para quem procure uma ilustração cinematográfica do que está já sobejamente disponível nos media e redes sociais, ou para os mais novos que ficarão com uma ideia geral de quem foi Nelson Mandela. Mais pela matéria que pela essência.

Para todos os efeitos, uma figura política fortemente empenhada no bem comum e apostada na defesa da paz, mesmo em modo panorâmico e nos tempos que correm, sobretudo para os mais novos, não será pouco…

Margarida Ataíde

 

 

@Pontifex de parabéns!

https://twitter.com/Pontifex

 

Decorria o ano de 2012 e numa quarta-feira, 12 de dezembro, por volta das 11 horas e 30 minutos, no Vaticano, o então Papa Bento XVI lançava o seu primeiro “tweet” dizendo: “Queridos amigos, é com alegria que entro em contacto convosco via twitter. Obrigado pela resposta generosa. De coração vos abençoo a todos”. Ainda durante esse dia, a conta @pontifex colocava mais três mensagens como resposta a algumas questões que tinham sido lançadas por utilizadores do twitter, através do marcador (hashtag) #askpontifex.

D. Claudio Maria Celli, presidente do Conselho Pontifício das Comunicações Sociais da Santa Sé, referiu que o gesto do Papa emérito pode ser comparável ao primeiro discurso radiofónico de Pio XI.

Depois de trinta e sete mensagens do Papa originário da Baviera a conta encerrava, a 28 de fevereiro, após o anúncio da sua resignação dizendo: “Obrigado pelo vosso amor e o vosso apoio! Possais viver sempre na alegria 

 

 

que se experimenta quando se põe Cristo no centro da vida”. Todas essas mensagens foram arquivadas e atualmente podem ser consultadas no sítio www.news.va/pt/ twitter_archive.

Depois da eleição do Papa Francisco as contas no twitter voltaram a ser ativadas, e a 17 de março de 2013, o sucessor de Pedro escreveu assim a sua primeira mensagem em português na conta @Pontifex_pt: “Queridos amigos, de coração vos agradeço e peço para continuardes a rezar por mim”. Atualmente o Papa utiliza esta rede para resumir catequeses, homilias e outras intervenções públicas.

Passado um ano sobre a primeira mensagem, a conta @pontifex possui mais de 10,7 milhões de seguidores em nove línguas (Inglês, Latim, Alemão, Espanhol, Português, Polaco, Italiano, Francês e Árabe) dos quais quase 900 mil são da conta da língua de Camões. No entanto as mensagens que atualmente são colocadas nesta rede social, conforme afirmou o responsável do Vaticano para o setor 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

das comunicações sociais, atingem 60 milhões de pessoas graças aos reenvios (“retweet’”) que são feitos.

Como sabemos, o twitter é a ferramenta de micro-blogging mais difundida no mundo das comunicações virtuais, com mais de 500 milhões de utilizadores, permitindo a distribuição de pequenos textos contendo no máximo 140 carateres. Em termos de redes sociais, apesar de não ser das mais utilizadas em Portugal, esta ocupa o pódio, sendo destronada somente pelo facebook.

 

Fernando Cassola Marques

 

 

 

 

Crianças escrevem ao Papa

O livro ‘As crianças da Europa falam ao Papa Francisco’ foi apresentado em Lisboa pelo padre Duarte da Cunha, secretário-geral do Conselho das Conferências Episcopais da Europa (CCEE), na Fundação Maria Ulrich.

Entre os testemunhos recolhidos está uma mensagem de Leonor Vieira, que tem onze anos, vive em Braga e frequenta a Paróquia de Santa Maria de Ferreiros. “Caro Papa Francisco, chamo-me Leonor e quero escrever-te porque admiro muito o teu trabalho! Senti-me muito feliz quando soube que tínhamos um novo Papa. Pareces-me muito generoso, responsável, cheio de fé e muito bom. Espero que te mantenhas assim como és! Beijinhos, Leonor”, escreve.

A obra contém desenhos e mensagens enviadas por crianças que vivem nas periferias de cidades europeias, pertencentes a cada um dos 38 membros do CCEE. “Ainda que se dirijam diretamente ao seu Papa, estas crianças têm ao mesmo tempo algo a dizer a cada fiel.

 

A sua simplicidade e alegria - contemplada através destes desenhos - é surpreendente e maravilhosa”, assinala o padre Duro Hranic, presidente da Secção de Catequese na Comissão do CCEE para a Catequese.

“Muitas destas crianças são acompanhadas por histórias familiares muito défices e complexas, que apesar de tudo levam em frente com confiança e esperança em relação ao futuro, porque reconhecem estar a ser observadas por um olhar de amor”, acrescentou na introdução do livro, editado em Portugal pela Paulus.

Segundo o padre Duro Hranic, com o livro oferecido ao Papa Francisco, a 4 de setembro de 2013, que assinou a primeira página com uma bênção para as crianças europeias, o CCEE quer prestar-lhe homenagem “com uma saudação dos mais pequeninos do continente europeu, que agora tanto necessita de uma mensagem positiva e cheia de esperança especialmente neste tempo de crise que arrasta consigo muitas

 

 

 

 

 

dificuldades e desafios”.

A publicação foi promovida pela secção de Catequese da Comissão Catequética, Escola e Universidade do CCEE, organismo no qual se englobam 33 conferências episcopais e cinco membros

 

individuais que representam 42 países do continente europeu.

A Paulus Editora informa ainda que “estabeleceu uma parceria com o Instituto de Apoio à Criança”, para o qual vai reverter um euro por cada exemplar vendido.

 

 

II Concílio do Vaticano: Será a liturgia a dimensão que mais se esbanja na Igreja?

 

O primeiro documento conciliar foi a Constituição «Sacrosanctum Concilium», publicado a 04 de dezembro de 1963 no encerramento da segunda sessão do II Concílio do Vaticano (1962-65). Segundo o bispo de Bragança-Miranda, D. José Cordeiro, a liturgia é a primeira “grande escola permanente da fé e da vida espiritual”.

Para o prelado que é também professor de liturgia na Universidade Católica Portuguesa (UCP) a «Sacrosanctum Concilium» é, “indiscutivelmente”, o fruto maduro de uma história mais que centenária, que “viu convergir as insistências provenientes do mundo da investigação teológica, histórica, bíblica e litúrgica, assim como da antropologia e da arqueologia, da experiência litúrgica da tradição monástica e da paciente ação pastoral de muitos responsáveis no ministério” (In: «Liturgia, a primeira escola da fé»; Carta Pastoral por ocasião do Ano da Fé)

Apesar desta consideração, D. José Cordeiro realça que às vezes chega a pensar que a liturgia “é a dimensão que mais se esbanja na Igreja”. “Para muitos, a liturgia deixou de ser uma fonte da qual se bebe a água pura e bela do mistério e um vértice que se deseja alcançar e passou a ser um problema que se deve resolver”, acrescentou.

O sucessor de João XXIII - o Papa que convocou o II Concílio do Vaticano – afirmou, no discurso de clausura da 2ª sessão conciliar (04 de dezembro 

 

 

 

 

 

 

de 1963), que “não ficou sem fruto a discussão difícil e intrincada, pois um dos temas – o primeiro a ser examinado e o primeiro, em certo sentido, na excelência intrínseca e na importância para a vida da Igreja – o da sagrada liturgia, foi felizmente concluído”.

O aprofundamento teológico da natureza da liturgia cristã é apresentado pela Constituição «Sacrosanctum Concilium», que se articula em 7 capítulos com 130 números. Até se chegar ao resultado final o documento sofreu grandes alterações. A comissão preparatória da Sagrada Liturgia presidida a princípio pelo cardeal G. Cicognani e depois pelo cardeal A. Larraona, preparou um esquema de constituição, com um proémio e oito capítulos. Este esquema, elaborado nos princípios de 1962, foi examinado pela Comissão Central do Concílio durante a quinta reunião (28 de março a 3 de abril) e enviado aos padres 

 

 

 

 

conciliares em junho seguinte.

O texto foi apresentado ao Concílio a 20 de outubro de 1962, debatido da 3ª à 18ª Congregação Geral, corrigido pela Comissão Litúrgica, sujeito por capítulos à votação, modificado segundo as propostas dos padres, e votado pela primeira vez em 22 de novembro de 1963, na 73ª Congregação Geral. Dos 2178 votantes, 2158 votaram «placet» (Sim). No dia 25 do mesmo mês foi anunciada a promulgação para o dia 04 de dezembro, dia do encerramento da segunda sessão conciliar. A votação realizada na presença do Papa Paulo VI teve o seguinte resultado: 2151 votantes; 2147 «placet»; 04 «non placet». Fica na história como o primeiro documento nascido do II Concílio do Vaticano, uma assembleia magna convocada pelo agora beato João XXIII. Voltarei a escrever sobre este documento chave da história da Igreja.

 

 

Dezembro 2013

Dia 13

* Lisboa - UCP (17h00m) - Lançamento e apresentação de dois livros de Sérgio Bastianel com apresentação do padre José Manuel Pereira d´ Almeida e Eugénio da Fonseca.
* Lisboa - Sé (11h00m) - Eucaristia por intenção de todos os professores, funcionários e alunos falecidos da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa que será presidida por D. Manuel Clemente.
* Porto - Sé - Concerto de Natal «Christmas Concert» pela Orquestra do Norte.
* Beja - Castro Verde - Igreja da aldeia de A-do-Corvo (21h00m) - Sessão do ciclo de cante e música para o Natal com três grupos corais.

 

* Setúbal - Fórum Municipal Luísa Todi (21h30m) - Concerto de Natal pela Orquestra Clássica do Sul. 
* Lisboa - Livraria Ferin (Rua Nova do Almada) - Programa «Ensaio Geral» da RR com D. Manuel Clemente e Gonçalo M. Tavares
* Évora - Reguengos de Monsaraz (Igreja de São pedro do Corval) (21h30m) - Concerto de Natal com Rão Kyao. 
* Portalegre - Idanha-a-Nova - Colóquio com o padre Tolentino Mendonça e o compositor João Madureira na segunda edição do «Fora do Lugar», festival internacional de músicas antigas organizado pela Câmara Municipal de Idanha-a-Nova
* Guarda - Casa da Cultura de Figueira de Castelo Rodrigo - Entrega dos presépios para o concurso «Em cada natal há um presépio» promovido pela Câmara Municipal de Figueira de Castelo Rodrigo. 
* Açores - Ponta Delgada - Jornadas para discutir novas estratégias para a erradicação da pobreza promovidas pelo Serviço de Apoio à Pastoral Social e Mobilidade Humana da Diocese de Angra

 
 

 

 

 

* Açores - Ribeira Grande - Encerramento para as candidaturas para o concurso de Presépios «Prior Evaristo Carreiro Gouveia»
* Braga - Sé - Cerimónia de apresentação do livro «Estórias e pensamentos - Volume II» da autoria de Paulo Abreu com apresentação de D. Manuel Linda.
* Bragança - Escola Secundária Emídio Garcia - Café concerto «Natal Solidário» promovido pelo Secretariado Diocesano de Educação Moral e Religiosa Católica.
* Lamego - Casa de São José - Reunião do Conselho Presbiteral. 
* Leiria - Marinha Grande (Escola Calazans Duarte) (21h30m) - Conferência «Familia, comunidade de fé, de amor e de vida» por frei Fernando Ventura.
* Fátima - Retiro de jovens promovido pelo Instituto Secular das Cooperadoras da Família. (13 a 15)

 

Dia 14

* Lisboa - Basílica dos Mártires - Investidura de novos membros na Assembleia dos Cavaleiros Portugueses da Ordem Soberana Militar de Malta
 

 

* Lisboa - Estoril (Igreja de S.Pedro/S. João do Estoril) - Concerto do I Ciclo Adventus - Solidário
* Setúbal - Festa de Natal da Cáritas Diocesana de Setúbal.
* Braga - Senhora-a-Branca (21h30m) - Concerto com a soprano Ana Paula Matos integrado na operação dez milhões de Estrelas promovida pela Cáritas.
* Santarém - Encontro de Natal da LOC/MTC. 
* Fátima - Reunião da Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa.
* Braga - Sé (21h30m) - XVIII edição do Concerto de Natal «Puer Natus Est», este ano inserido no início das festividades da comemoração dos 25 anos do Coro Académico da Universidade do Minho.
* Setúbal - Arrentela (Igreja de Nossa Senhora de Fátima) (21h30m) - Concerto solidário de Cristina Loureiro com o objectivo de recolha de fundos para obras da nova Igreja de Nossa Senhora de Fátima.
* Évora - Monsaraz (Igreja de Nossa Senhora da Lagoa) (21h30m) - Concerto de Natal com Rão Kyao e o grupo coral da freguesia de Monsaraz. 

 

 

 

 

 

O Serviço de Apoio à Pastoral Social e Mobilidade Humana da Diocese de Angra (Açores) promove esta sexta-feira umas jornadas para discutir novas estratégias para a erradicação da pobreza. Alfredo Bruto da Costa e José Manuel Pureza são os dois oradores que vão dialogar sobre “as políticas públicas de combate à pobreza e exclusão social”, informa o site da diocese de Angra.

 

 

No próximo sábado, às 21h30, na Catedral de Lisboa, terá lugar o Concerto de Natal “Canções de Natal Portuguesas”, com o Coro de Pequenos Cantores do Conservatório de Lisboa, dirigido pela maestrina Joana Carneiro.

 

 

D. Manuel Felício, Bispo da Guarda, vai fazer a apresentação da Mensagem de Natal, no dia 16 de dezembro, às 11h00, no Paço Episcopal. No final da Leitura da Mensagem, prelado fará uma declaração sobre o processo que envolve o padre Luís Mendes.

 

 

A pintura "Pentecostes" é o tema de um encontro organizado pela Sociedade Nacional de Belas Artes (SNBA) entre Ilda David', autora da obra, e o padre José Tolentino Mendonça, responsável pela Capela do Rato, onde a mesma está exposta. A iniciativa decorre a 19 de dezembro, às 18h30, no auditório da SNBA, em Lisboa, com entrada livre.

 

Programação religiosa nos media

Antena 1, 8h00

RTP1, 10h00

Transmissão da missa dominical

 

11h00 - Transmissão missa

 

12h15 - Oitavo Dia

 

Domingo: 10h00 - O Dia do Senhor; 11h00 - Eucaristia; 23h30 - Ventos e Marés; segunda a sexta-feira: 6h57 - Sementes de reflexão; 7h55 - Oração da Manhã;  12h00 - Angelus; 18h30 - Terço; 23h57-Meditando; sábado: 23h30 - Terra Prometida.

 
RTP2, 11h22

Domingo, dia 15 - O Pontificado do Papa Francisco: Análise de Adriano Moreira.

 

RTP2, 18h00

Segunda-feira, dia 16 - Entrevista a D. Nuno Brás sobre a Exortação Apostólica "A Alegria do Evangelho".

Terça-feira, dia 17 - Informação e apresentação da campanha de advento do Colégio de Santa Doroteia.

Quarta-feira, dia 18 -Informação e apresentação da campanha de advento da FEC
Quinta-feira, dia 19 - Informação e apresentação da Festa de Natal da Comunidade Vida e Paz.
Sexta-feira, dia 20 - Apresentação da liturgia dominical pelos  padres Robson Cruz e Vitor Gonçalves.
 

Antena 1

Domingo, dia 15 de dezembro,  06h00 - Nove meses de pontificado de Bergoglio visto por Adriano Moreira, Nello Scavo e Rita Figueiras.

 

Segunda a sexta-feira, dias 16 a 20 de dezembro - Projetos e dinâmica de Coros: Santo Inácio, Gregoriano de Lisboa, Seminário Maior do Cristo-Rei dos Olivais, São Domingos de Benfica e Academia de Música de Santa Cecília.

 


MINUTO YOUCAT

 

O que significa "Deus é Amor"?

 

 

 

 

 

 

 

 

Ano A - 3º Domingo do Advento

 

 

 

 

 

 

 

 

Viver o Evangelho
na alegria
 

O Evangelho deste terceiro domingo de Advento descreve-nos, de forma bem sugestiva, a ação de Jesus, o Messias: Ele irá dar vista aos cegos, fazer com que os coxos recuperem o movimento, curar os leprosos, fazer com que os surdos ouçam, ressuscitar os mortos, anunciar aos pobres que o Reino da justiça e da paz chegou. É este quadro de vida nova e de esperança que Jesus nos oferece.

O texto evangélico divide-se em duas partes.

Na primeira, Jesus responde à pergunta de João e dá a entender que Ele é o Messias, enviado por Deus para libertar os homens e para lhes trazer o Reino.

Na segunda, temos a apreciação que o próprio Jesus faz da figura e da ação profética de João. João é um profeta e mais do que um profeta, é aquele que tinha de vir antes, para preparar o caminho para o Messias.

Neste tempo de espera, que já é presença salvadora e libertadora de Deus no meio dos homens, somos convidados a aguardar a sua chegada.

Os sinais que Jesus realizou enquanto esteve entre nós têm de continuar a acontecer na história. Agora, são os discípulos de Jesus que têm de continuar a sua missão e de perpetuar no mundo, em nome de Jesus, a ação libertadora de Deus.

Questionemo-nos com clareza e radicalidade.

Os que vivem amarrados ao desespero de uma doença incurável encontram em nós um sinal vivo do Cristo libertador que lhes traz a salvação?

Os surdos, fechados num mundo sem comunicação e sem diálogo, encontram em nós a Palavra viva 

 

 

 

 

 

de Deus que os desperta para a comunhão e para o amor?

Os cegos, encerrados nas trevas do egoísmo ou da violência, encontram em nós o desafio que Deus lhes apresenta de abrir os olhos à luz?

Os coxos, privados de movimento e de liberdade, escondidos atrás das grades em que a sociedade os encerra, encontram em nós a Boa Nova da liberdade?

Os pobres, marginalizados, sem voz nem dignidade, sentem em nós o amor de Deus?

A espera do Messias vive-se na alegria, palavra tão utilizada na liturgia deste domingo. O Evangelho dá-nos as razões 

 
profundas da alegria, atitude celebrada na Eucaristia e vivida no quotidiano das nossas existências. Renovemos, reajustemos o nosso olhar de fé e redescubramos o Senhor bem presente, e em ação, em lugares onde tantas vezes não esperávamos encontrá-l’O!

Sempre em atitude de esperança e de alegria, como nos convida o Papa Francisco na recente exortação apostólica, levemos o Evangelho nos caminhos que vamos percorrer nesta terceira semana do Advento.

 

Manuel Barbosa, scj

www.dehonianos.org

 

 

 

O medo do futuro nas palavras do arcebispo de Damasco

“Vivemos numa tempestade”

D. Samir Nassar esteve em Portugal e consagrou o povo sírio a Nossa Senhora de Fátima. Pediu as nossas orações pela paz, mas não disfarçou o enorme receio pelos tempos apocalípticos que se vivem no Médio Oriente.

 “Cheguei a Damasco em 2006, havia lá um milhão de iraquianos, enchiam as nossas igrejas, as nossas escolas. Os cristãos sírios ouviam os iraquianos: ‘Hoje somos nós, amanhã serão vocês’. Eu não acreditava nisso, mas eles tinham uma intuição.” Uma intuição que, infelizmente, o tempo se encarregou de confirmar.
D. Samir Nassar, arcebispo maronita de Damasco, esteve em Portugal a convite da Fundação AIS. Deu uma conferência na Universidade Católica de Lisboa, diversas entrevistas, participou numa vigília de oração pela paz na Síria e Médio Oriente, nos Jerónimos, e foi à Capelinha das Aparições para consagrar o povo sírio a Nossa Senhora de Fátima. Em todas as ocasiões falou da 

 

necessidade de haver paz, pediu as nossas orações pelo fim da guerra civil que está a destruir o seu país, mas não disfarçou o enorme receio de que se está a viver o fim de uma era. “Se a guerra continuar”, disse, “pode ser o fim dos Cristãos no Oriente”. E falou em cidades mortas, abandonadas, em escombros. “Um dia vai ser assim, vamos passear pelo país e dizer: ‘ali havia Cristãos’”.

As lágrimas dos Cristãos

As palavras de D. Samir estiveram sempre embrulhadas em lágrimas. Há uma estatística perversa em todas as guerras mas que choca, pelo seu horror, quando se olha para a Síria. Dois anos e meio de guerra civil; mais de 125 mil mortos; cerca de 7 milhões de pessoas afectadas; 3 milhões de refugiados nos países da região, dos quais, cerca de metade são jovens e crianças; 4,25 milhões de deslocados no próprio país. A ONU já classificou este conflito como tendo causado a “pior crise humanitária nos 

 

 

 

últimos 20 anos”.
De novo a intuição que ouviu há alguns anos e que parece estar a confirmar-se. “Ontem foi a igreja do Iraque, hoje é a da Síria e amanhã será a do Líbano. Se a igreja do Líbano desaparece é o fim dos cristãos no Oriente. É a igreja do Líbano que suporta todas as outras, nós nem temos seminários. Se esta guerra chega ao Líbano acaba a igreja no Médio Oriente.”
“Vivemos numa tempestade”, disse D. Samir Nassar.

 

Mas é preciso acreditar que há sempre um caminho que contrarie a lógica da guerra. “Vim consagrar o povo da Síria a Nossa Senhora de Fátima e solicitar as vossas orações pela paz: pela paz na Síria e pela paz no mundo inteiro. “Somos peregrinos nesta terra para o reino de Deus. Nunca devemos esquecer isso. Peço muito a vossa oração pela paz do povo da Síria”.

 

Paulo Aido | Departamento de Informação | www.fundacao-ais.pt | info@fundacao-ais.pt

 

 

     Apoie os refugiados da SÍRIA |LIGUE AGORA 760 450 190 (0,60€ + IVA)      

 

LUSOFONIAS

Muito mais que dar a duplicar

Tony Neves

 

Apoio a Campanha dos Presentes Solidários desde o início. Sempre os considerei uma forma ótima de dar sem receber, mas ficar rico. Isto até parece estranho, mas é a verdade pura e dura. Como Padrinho que sou, tentei explicar assim aos que consultam o site oficial: ‘Os Presentes Solidários são uma invenção que enriquece quem dá e quem recebe. Não é fácil inventar coisas assim. Mas a verdade é que quem dá está a ativar um mecanismo de solidariedade sem fronteiras. Quem recebe o 'Presente', embora pareça que só recebe um postal, está a ganhar sensibilidade a grandes causas e a apoiar, indiretamente, projetos que envolvem pessoas e instituições excluídas. Quem recebe o apoio, não fica apenas mais rico porque tem algo que lhe faz falta: mas cresce na alegria de perceber que o mundo é um espaço onde se criam cadeias de solidariedade e fraternidade. Todos ganham, e todos ganham em 'campeonatos' diferentes’.

Um olhar sobre os Presentes deste ano de 2013, atiram-nos para todo o espaço lusófono, permitindo uma escolha muito diversificada. Sabemos que as nossas sintonias e afinidades são muito diversas. Por isso, para muita gente, o Presente será direcionado para um determinado país, ou porque viveu lá, ou porque tem por essa terra uma especial atração. Para outras pessoas, o critério das escolhas do Presente obedece a uma lógica de sensibilidade profissional:

 

 

 

Luso Fonias

 

 saúde, educação, desenvolvimento… Finalmente, para outros, há um critério de seleção que liga mais a idades e situações concretas: crianças, pobres, gente que não vai á escola, famintos, sem abrigo, portadores de deficiência… Há ainda a possibilidade de dar mais ou menos dinheiro, comprando presentes ‘normais’ ou ‘XL’.

Já referi que sou Padrinho. É uma honra, um privilégio enorme, fazer parte desta equipa, participar neste projeto 

 

solidário. Devo confessar que a minha Comunidade, a dos Espiritanos da Estrela, em Lisboa, só tem direito no Natal a Presentes Solidários. Este ano, temos duas coleções completas, para que todos sintam um pouco do nosso apoio, pois consideramos todos os projetos de grande importância.

Tudo somado, há razões de todas as qualidades e feitios para escolher este ou aquele presente, só não há razões para não se ser solidário.

 
 

“Pode ouvir o programa Luso Fonias na rádio SIM, sábados às 14h00, ou em www.fecongd.org. O programa Luso Fonias é produzido pela FEC – Fundação Fé e Cooperação, ONGD da Conferência Episcopal Portuguesa.”

 

 

 

 

 

 

 

 

Os desafios existem para ser superados. Sejamos realistas, mas sem perder a alegria, a audácia e a dedicação cheia de esperança. Não deixemos que nos roubem a força missionária!

(Evangelii gaudium,109)

 

sair