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Foto da capa: D.R. Foto da contracapa: Agência Ecclesia
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Novo bispo do Porto[ver+]
Papa criou novos cardeais
Quaresma 2014
D. Manuel Linda|Fátima Magalhães|Joaquim Cadete|Elias Couto|Tony Neves| D. Javier Echevarría
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Renascer das Cinzas |
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Octávio Carmo Agência ECCLESIA |
O início da Quaresma convida à reflexão e à ação, pela mão do Papa Francisco, relativamente aos temas da pobreza, da miséria, da construção da sociedade e da relação com Deus e entre pessoas. Iniciado simbolicamente sob as cinzas, este tempo de preparação para a Páscoa convida a um renascimento, uma mensagem particularmente importante no momento que se vive, a nível nacional. O debate sobre o magistério social e económico do Papa argentino tem padecido, em muitos casos, do mesmo mal que dimensionou avassaladoramente a atual crise: qualquer questão pessoal, humana, ética e transcendente é colocada em segundo plano face às estruturas, ao discurso centrado no mundo financeiro, à guerra político-partidária. Discutir a pobreza, pela mão do primeiro Papa sul-americano, é falar de uma cultura de desperdício, é questionar os fatores que, dentro da mesma sociedade, fazem aumentar as desigualdades e o sofrimento humano, sem direito a uma vida digna. Mas discutir a pobreza, segundo Francisco, não é apenas contestar uma condição socioeconómica que limita o horizonte da existência humana: a pobreza é também uma atitude de discernimento, uma hierarquia de valores interna e social que leva a utilizar os recursos em função dos outros, promovendo os desfavorecidos e respeitando as gerações futuras. |
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Esta Igreja «pobre para os pobres» que o Papa quer levar os católicos a formar exige uma conversão profunda, que é mais do que uma mera transformação administrativa ou estrutural. Contra a corrente, cada cristão é chamado a aprender a ser pobre, a projetar a sua existência para lá das contingências quotidianas, sacudindo o pó sem deixar-se agarrar pela terra do presente, com a certeza do futuro que a fé lhe oferece.
A pobreza é uma marca do cristão e, sem qualquer dúvida, uma exigência fundamental para a credibilidade da mensagem que procura transmitir. Muitos são os que lhe pedem este |
testemunho de sobriedade, centrado no essencial, condenando quaisquer sinais de luxo ou exibicionismo. A esses, é preciso dar a conhecer os fundamentos do valioso património espiritual que a Igreja transporta consigo. É importante, por isso, repetir com Francisco que a pobreza se transforma em miséria(s) quando cada pessoa perde um horizonte de esperança, de confiança e de solidariedade. Não se pode esperar que sejam quem queimou a sociedade a promover a sua recuperação. Só um mundo verdadeiramente novo, que na fé católica nasce do Alto, poderá ajudar todos a renascer das cinzas. |
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Angela Merkel é recebida em Jerusalém pelo primeiro ministro de Israel, Benjamin Netanyahu © Créditos: Agência France Presse |
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“Os sinais da retoma económica de que o governo fala ainda não chegaram às instituições de solidariedade social, pelo contrário cada vez há mais pessoas a pedir ajuda e apoio junto das instituições.” Pe. Lino Maia, presidente da CNIS, Agência ECCLESIA, 25.02.2014
“Não há dúvidas sobre a validade da minha renúncia ao ministério petrino. A única condição para a validade é uma liberdade plena da decisão. As especulações sobre a invalidade da renúncia são simplesmente absurdas.” Papa Emérito Bento XVI em carta publicada pelo jornal italiano ‘La Stampa’, 26.02.2014
“Vamos eleger o Governo por democracia direta, como em Esparta.” Andrei Parubi, líder da revolução ucraniana, jornal Público, 26.02.2014
“Recomenda-se que Frasquilho, quando reúne com a troika, conheça com exatidão o que o PSD e o Governo querem que ele diga ou, caso Frasquilho persista em pensar pela sua cabeça, deixe de ir às reuniões”. Henrique Monteiro, crónica ‘Chamem-me o que quiserem’, jornal Expresso, 27.02.2014 |
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Novo bispo do Porto |
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D. António Francisco dos Santos foi nomeado pelo Papa Francisco como bispo do Porto no último dia 21 e disse à Agência ECCLESIA que parte para esta missão com o objetivo de estar próximo de toda a população, de uma maneira “simples, próxima e fraterna”. “Levo a minha entrega, a alegria de anunciar o Evangelho, a certeza da proximidade com todos, a disponibilidade para que todos encontrem em mim um pastor e um irmão”, declarou o prelado. A entrada solene de D. António Francisco dos Santos na Diocese do Porto vai decorrer no dia 6 de abril numa celebração na catedral portuense às 16h00, anunciou a diocese. O prelado preside à missa de entrada solene na tarde do primeiro domingo de abril, depois de ter tomado posse perante o Colégio de Consultores da Diocese do Porto, no Paço Episcopal, numa cerimónia privada, no sábado anterior, dia 5 de abril. D. António Francisco dos Santos, de 65 anos, era bispo de Aveiro desde 2006, cargo para o qual foi nomeado por Bento XVI. |
O prelado foi ordenado bispo em março de 2005, na Sé de Lamego, diocese da qual é natural, depois de João Paulo II o ter nomeado como auxiliar de Braga em dezembro de 2004. “Quero ser porta-voz do amor de Deus, de um Deus que ama cada um em cada situação e em cada circunstância. Vou para agradecer a Deus a Igreja do Porto e para semear esperança”, afirmou. A Diocese do Porto tem mais de 2 milhões de habitantes e uma área de 3010 quilómetros quadrados, a qual engloba 26 concelhos, 17 dos quais pertencem ao Distrito do Porto, oito ao Distrito de Aveiro e um ao Distrito de Braga. A Igreja Católica em Aveiro vai promover um conjunto de iniciativas de agradecimento a D. António Francisco dos Santos, na diocese desde 2006, que em abril vai assumir a missão de bispo do Porto. A “ação de graças pelo ministério episcopal” começa a ser celebrada a 9 de março, com uma Missa na Sé de Aveiro, às 17h00. A 19 de março, pelas 21h00, vai decorrer a sessão pública de agradecimento com apresentação |
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do livro ‘Diocese de Aveiro - Subsídios para a sua história’, da autoria de Monsenhor João Gaspar, no Auditório da reitoria da Universidade de Aveiro D. António Francisco dos Santos dirigiu uma mensagem de despedida à Diocese de Aveiro, agradecendo a “amizade” que recebeu nestes anos.
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“Agora é tempo de partir. Sem vos deixar. Parto de amarras soltas, agradecido por esta Igreja de Aveiro que sirvo e tanto amo. Sei que vou acompanhado pela amizade, oração e dedicação de todos os aveirenses”, refere o prelado, num texto enviado à Agência ECCLESIA. |
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SIMPLUS, música com vida e fé |
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A banda musical SIMPLUS apresenta esta noite às 21h00, no Teatro Gil Vicente em Cascais, o seu novo álbum intitulado ‘Cada vez mais tu’, com músicas sobre a vida e a fé. “Fazemos letras que têm a ver com a vida das pessoas, com a experiência que qualquer pessoa vive: tristezas, alegrias, a experiência de se perguntar se Deus existe ou não, de se querer ser mais quem se é”, revela Maria Durão, em declarações à Agência ECCLESIA. Os SIMPLUS são um grupo musical formado em 2001 por dois primos: Maria Durão e Luís Roquette, naturais e residentes no Estoril. A Luís coube musicar os poemas escritos pela prima, textos que encontrou “meio às escondidas no blogue em que ela todos os domingos colocava um poema”. “Houve letras que tiveram algumas alterações, porque a Maria mudou em algumas coisas a sua forma de pensar com o tempo”, revela o compositor. Considerados por muitos como uma banda de evangelização, Maria acredita que essa conotação é algo que pode verificar-se por “acréscimo”, |
uma vez que são “duas pessoas com fé”, o que transparece depois “naturalmente nas músicas”. “O mundo comercial da música gira um pouco ao contrário disto, as pessoas não querem evidenciar-se ou dar a cara como católicos ou algo do género e esse é o nosso trunfo: a nossa grande identidade enquanto músicos é poder fazê-lo de acordo com aquilo que somos, nada é falso, tudo é coerente com a nossa forma de viver em plenitude”, explica Luís Roquette. |
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20 anos de missão em prisão de França |
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A irmã Elisa das Candeias Borges, da Congregação de Nossa Senhora da Caridade, foi distinguida em França com o grau de ‘cavaleiro’ da Ordem Nacional do Mérito pelo seu trabalho junto dos presos da cadeia de Fresnes, nos arredores de Paris. A religiosa portuguesa disse à Agência ECCLESIA que esta missão na pastoral prisional é a sua “paixão” há mais de 20 anos, num contexto muitas vezes marcado pela “miséria humana”. “Para mim, a pessoa é sagrada”, sublinha. Enquanto visitadora prisional, acompanha reclusos que lhes são “sinalizados” pelos serviços prisionais, muitas vezes com penas superiores a 15 anos. “Eu digo-lhes: há Alguém que te ama mais do que aquilo que tu fizeste e nunca te deixará só”, revela. A religiosa passa “todo o dia” na prisão e diz nunca ter tido problemas, mesmo com quem é apresentado como alguém “perigoso”. “Venho visitar uma pessoa, nada mais. Sei e creio que cada pessoa é habitada por Deus”, explica. A irmã Elisa das Candeias Borges procura que cada recluso a sinta como “alguém que o |
compreende”, num contexto “duro”, que leva alguns ao suicídio. “A minha alegria e a minha paixão passam por ver alguém que chegou caído, sem esperança, levantar-se, pouco a pouco”, relata. A ajuda passa por tentar que o recluso comece a trabalhar, procurando retirá-lo do espaço limitado da cela. “Ninguém pode dizer que está livre de fazer isto, ninguém. Somos todos capazes de fazer a maior asneira do mundo”, observa. A religiosa tinha sido distinguida em Portugal com o ‘Prémio Talento 2008’, atribuído pela Secretaria de Estado das Comunidades, na categoria Humanidades. A distinção na Ordem Nacional do Mérito de França, onde a irmã Elisa reside há mais de 50 anos, foi publicada a 14 de novembro de 2013. |
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A Agência ECCLESIA escolhe sete acontecimentos que marcaram a atualidade eclesial portuguesa nos últimos dias, sempre atualizados em www.agencia.ecclesia.pt
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Diocese de Beja lembrou D. Manuel Falcão
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A reforma litúrgica no Concílio Vaticano II |
O Estado favorece a Igreja |
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D. Manuel Linda Bispo das Forças Armadas e de Segurança |
Há dias, um amigo meu, homem culto, sem dúvida, mas que dos assuntos da fé e da Igreja pouco mais conhece que as notícias sensacionalistas que uma certa comunicação social de massas teima em propalar, pretendia convencer-me de que, sem o Estado, “a Igreja não é nada”. Em defesa da sua tese, invocava “as enormes quantias que o Governo transfere para a Igreja, especialmente para o pagamento dos salários”. Perguntei-lhe quem é que recebe esses salários, se os bispos ou os padres, excluindo uns poucos que, como simples cidadãos, prestam serviço ao Estado, mormente no ensino. “Todos. Uns e outros” – respondeu-me com uma convicção que me espantou. Pedi-lhe, por caridade, que me arranjasse uma folha de vencimentos para confirmar se há, entre o clero, qualquer salário público e qual o seu valor. Mas ele declinou o pedido com o pretexto de que, para além de mim, não tinha muita confiança com padres e bispos. No dia seguinte, por coincidência, realizei a visita pastoral a uma unidade constituída por duas Paróquias do centro histórico de uma cidade de dimensão média. Aí vivem cerca de 8000 pessoas, na sua maioria idosas. É uma zona em acentuado processo de desertificação. O Pároco acompanhou-me a todas as instituições de educação e de assistência. E anotou dados curiosos. Dou exemplos: são nove IPSS da Igreja que servem bem mais |
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de 2000 pessoas em cerca de vinte valências; cobrem os principais leques etários e os setores mais débeis, tais como infância, adolescência e juventude, oriundos de famílias desestruturadas, setor da saúde física e mental, apoio domiciliário, centros de dia e lares de idosos; dão emprego, a tempo pleno, a 672 funcionários, para além de vários a tempo parcial; e todas se caracterizam por Direções que trabalham gratuitamente. Mais: todas se queixam dos organismos e das inspeções da Tutela. Mas isso fica para outra vez… Alguns dias após esta visita pastoral, procurei o meu amigo para tomarmos um café e lhe referir estes dados. Confrontei-o com instituições similares estatais e convidei-o a referir-me quais as que funcionam com Direções em regime de voluntariado, quais as que aproveitam melhor os recursos e quais as que lhe parecem prestar um serviço mais humanizado. E inquiri se já tinha conseguido o tal recibo de vencimento com o qual me provasse que o Estado paga “balúrdios” ao pessoal eclesiástico. Mas o meu amigo respondeu-me com um prudente silêncio. Então, aproveitei para lhe garantir que dizer que os bispos e os |
padres recebem do Estado é uma enormidade tão grande como situar o Minho a sul do Algarve. Pelo contrário, em função dos estatutos, os Párocos, os Provedores das Misericórdias e os Ministros das Ordens Terceiras e todos quantos constituem as Direções dos Centros Sociais Paroquiais e similares fazem imenso trabalho de coordenação de forma absolutamente gratuita. Não recebem nem podem receber salário. Muito menos do Estado. Se este tivesse de o pagar, iria mesmo à falência, tal é o conjunto dos cristãos que está no terreno apenas por… caridade cristã. O Estado paga, per capita, a alguns utentes, e nem sequer a todos. E paga, por vezes, uma ridicularia. Mas jamais às Direções.
Confesso que, nesse momento, me aproveitei da situação e não cedi a um certo triunfalismo. É que «encostei o meu amigo à parede» e obriguei-o a render-se: “Afinal quem depende de quem? A Igreja do Estado ou a Nação da Igreja? E se esta, de um momento para o outro, fechasse estas instituições, não seria o colapso social, quer pelo desemprego, quer pela falta de prestação de cuidados? Então, quem depende de quem?”. O meu amigo nem deu nem tinha que me dar resposta. Porque esta é evidente. |
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Retoma? Afinal vem aí mais austeridade |
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José Carlos Patrício Agência Ecclesia |
Os últimos dias foram marcados pelo relatório da “troika” a defender mais austeridade para Portugal e mais cortes nas despesas do Estado relacionadas com apoios sociais. Afinal, o país não estava a recuperar tão bem como o discurso mais entusiasmado do Governo, quiçá mais eleitoralista, queria fazer crer. O ministro da Economia, António Pires de Lima, referiu na recente conferência “The Lisbon Summit”, organizada pela revista “The Economist”, que Portugal estava a dar “sinais de uma progressão assinalável, insistindo em superar as expetativas mais otimistas e defraudando os que acenavam com futuros de desgraça”. Disse ainda que “pela primeira vez em muitas décadas” o país “é financiador do exterior”, já não tendo “défice externo”. No relatório do Fundo Monetário Internacional, que em conjunto com o Banco Central Europeu e a Comissão Europeia está a coordenar o resgate financeiro português, pode constatar-se que Portugal continua muito vulnerável aos mercados, devido ao elevado endividamento e às grandes necessidades de financiamento. E no meio deste “ping-pong”, destes avanços e recuos, está um país em suspenso, com milhões de pessoas que viram os seus salários cortados, com idosos que têm as suas pensões em risco, com jovens que lutam por um emprego, com crianças cujos pais |
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já não têm condições para lhes dar uma vida digna. Na terça-feira falava com o secretário-geral da UGT, Carlos Silva, depois de uma audiência deste com o patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, e o líder da central sindical sublinhava que tinha de haver uma alternativa ao garrote da austeridade. E há, o Papa Francisco deu-a recentemente na sua mensagem para a Quaresma – é que cada pessoa, cada ator social seja capaz de abandonar os “ídolos” do “poder, do luxo e do dinheiro”; que quem tem poder de decisão converta a sua consciência “à justiça, à igualdade, à sobriedade e à partilha”. Que se crie uma cultura nova, mais social e menos económica, em que todos, a começar pelos cristãos, sejam capazes de “ver |
as misérias dos irmãos e de trabalhar concretamente para as aliviar”. A Igreja Católica, através das suas instituições sociais e dos seus organismos solidários, tem-se mostrado à altura do desafio. A atual conjuntura económica tem deixado atrás de si um rasto de vidas destruídas e de sonhos adiados, mas ao mesmo tempo tem mostrado à sociedade a força da solidariedade, da doação gratuita em prol dos outros, da partilha de esforços. É essencial que as plantas de fraternidade que têm brotado por entre os espinhos da crise continuem a ser regadas e acalentadas para não murcharem no futuro, só porque a crise passou e se acha que elas já não precisam de ser cuidadas. |
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Uma proposta de «interioridade,
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Agência ECCLESIA (AE) – Quarta-feira de cinzas, início do tempo da Quaresma, que dia é este, que sinais são característicos deste dia? José Manuel Pereira de Almeida (JMPA) – É de facto a rutura em relação ao Tempo Comum, a rutura para uma preparação da festa central do ano litúrgico que é a Páscoa. Tudo gira à volta da ressurreição de Jesus e dessa celebração, que não é só memória de um passado, é atual exatamente porque rompe a História, e é o hoje da nossa possibilidade de configuração com Jesus. Uma festa tem sempre uma preparação, e na liturgia essas preparações têm sempre um lugar mais desenvolvido, desde que o ano litúrgico decorre deste modo: Há uma preparação para o Natal que se chama Advento, na |
expetativa, na espera, na esperança, e esta Quaresma, 40 dias, referência também aos 40 dias referidos nos Evangelhos, de preparação para o anúncio do Evangelho que Jesus faz ele próprio, ecos dos 40 anos no deserto até à chegada à Terra Prometida, desde a terra da opressão à terra da liberdade. De algum modo, esses 40 dias, ao começarem hoje, é um dia particularmente solene a esse propósito, ou seja, os sinais que são comuns a toda a Quaresma, hoje têm particular relevância.
AE – E quais são esses sinais? JMPA – A oração, o jejum e a esmola. |
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AE – Que pedagogia está subjacente à proposta desses sinais? JMPA – No fundo é assumir, não na exterioridade, mas a partir dos sinais que são de facto exteriores, uma interioridade de conversão e mudança de vida. E portanto a sobriedade no dia a dia e o dar atenção ao que é mais importante, que é a nossa pessoal relação com Deus em Jesus Cristo, a que chamamos oração, isso de algum modo toma como sublinhados, como chamadas de atenção, importância hoje. Digo hoje especialmente por causa do jejum. A Igreja foi reduzindo muito os tempos de jejum e agora temos dois dias, que é hoje Quarta-feira de Cinzas e depois Sexta-feira Santa. Jejum é de facto tomar um alimento pobre, um alimento frugal, mas depois não é amealhar as poupanças daquilo que não gastámos com o alimento deste dia. Se me é permitido, há mesmo uma proposta que eu aqui aconselharia que é fazer canalizar para as paróquias, para o grupo de ação social da paróquia, à parte da renúncia |
quaresmal, a renúncia de Quarta-feira de Cinzas e de Sexta-feira Santa, para ser dada para aqueles que de facto necessitam, os pobres.
AE – Hoje há o sinal das Cinzas, que está presente em todas as celebrações JMPA – E ao mesmo tempo é um sinal exterior que apela à interioridade. Que não se confunda, à maneira farisaica, os ritos exteriores e isso basta. As cinzas só por elas não dizem nada. A frase que se diz na imposição das cinzas é “Arrependei-vos e acreditai no Evangelho”, que no fundo é, de acordo com os textos originários da nossa tradição no Novo Testamento, o apelo inicial que Jesus faz no anúncio do reino. O reino está próximo, o reino aproximou-se em Jesus, esse reino novo de fraternidade, de justiça, de verdade, então há que mudar de vida, fazer essa conversão para que essa fé, esse acreditar, nos possa fazer participar dessa vida nova. |
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AE – Para este tempo da Quaresma o Papa Francisco escreveu-nos uma mensagem – que itinerário é aqui proposto? JMPA – “Fez-se pobre para nos enriquecer com a sua pobreza”, é o título da mensagem retirado da segunda carta de Paulo aos Coríntios, e diz o Papa logo quase ao início: “Tais palavras dizem-nos antes de mais nada qual é o estilo de Deus. Deus não se revela através dos meios do poder e da riqueza do mundo, mas com os da fragilidade e da pobreza. Sendo rico, fez-se pobre por vós”. Depois mais à frente, interroga: Então e o que é isto desta pobreza? “Em que consiste esta pobreza com a qual Jesus nos liberta e torna ricos? É precisamente o seu modo de amar, o seu aproximar-se de nós como fez o Bom Samaritano, com o homem abandonado, meio morto à berma da estrada”, a parábola de Lucas, capítulo 10. Esta maneira de Deus se revelar, aproximando-se, é também a possibilidade que nos é dada, como discípulos de Jesus, de fazer o mesmo tipo de movimento, |
portanto aprender com Jesus, viver como ele sobre a Terra, aproximando-nos daqueles que estão à margem do caminho, que estão necessitados, que precisam de nós.
AE – E o Papa aponta as dependências, a miséria moral, um conjunto de pobrezas que é necessário atender. JMPA – Ele depois distingue, diz que uma coisa é a pobreza, outra coisa é a miséria e fala de três misérias. Diz que “a miséria não coincide com a pobreza. A miséria é a pobreza sem confiança, sem solidariedade, sem esperança, miséria material, miséria moral, miséria espiritual”. O Papa diz que a grande riqueza de Jesus, que se torna pobre, é a confiança no Pai, absoluta, ele é o Filho e vive nessa filial confiança, como as crianças. O Papa tem um estilo de escrita muito acessível, como já o encontramos na exortação “Alegria do Evangelho” e eu creio que é muito bom de se seguir e muito acessível a todos, sem necessidade de grandes |
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hermenêuticas, de grandes interpretações. E o Papa diz: bem, (Jesus) é como uma criança, a sua relação com o Pai é a prerrogativa deste Messias pobre. “Quando Jesus convida a tomarmos sobre nós o seu jugo suave, convida-nos a enriquecer-nos com esta sua rica pobreza e |
pobre riqueza, a partilharmos com ele o seu espírito filial e fraterno, a tornarmo-nos filhos no Filho, irmãos no Irmão primogénito”. No fundo, é sentarmo-nos também ao colo do Pai como crianças, citação mais ou menos do Salmo 130. |
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AE – Uma proposta também a sugerir mudanças de atitudes, diante daquilo que pode ser um consumo de todos os dias. Relacionando esta questão com a campanha que a Cáritas leva por diante ao longo destes meses, até 2025, “Uma só família humana, alimento para todos”. É um tempo propício para se pensar nesta questão? JMPA – É um tempo particularmente oportuno para perceber que se de facto levarmos a sério o destino universal dos bens, ou seja, tudo o que está por trás da Teologia da Criação – Deus não fez a Terra para depois nós a dividirmos mal, fez a Terra para todos e os bens da Terra são para todos, sem excluir ninguém. Por isso esse despojamento a que estamos convidados continuamente pelo Papa, como Igreja, faz-nos questionar acerca de nos podermos privar a fim de ajudar a enriquecer os outros com a nossa pobreza. E depois acrescenta: “Não
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esqueçamos que a verdadeira pobreza dói”. E mais à frente: “Desconfio da esmola que não custa nem dói”.
E eu queria também com o Papa desconfiar desta esmola, porque quando damos o que nos sobeja, ao contrário da viúva pobre do Evangelho, de facto damos as sobras. Ora, não é isso que constrói a comunhão a que somos chamados. E o escândalo da fome, e é para aí que a campanha da Cáritas Internacional chama a atenção, o escândalo da fome é claramente uma estrutura de pecado existente no mundo, no sistema em que vivemos. O Papa, na exortação “A Alegria do Evangelho” diz no número 59 que o sistema social e económico é injusto na sua raiz. É uma afirmação que vai à radicalidade propondo a quem decide e a quem estuda estas questões da economia e da sociedade, um outro sistema social e económico. |
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AE - Também nos comportamentos de cada um? JMPA – Nos comportamentos quotidianos, de todos os dias, |
mesmo que não tenhamos grande poder de decisão temos a possibilidade que é dada, a nossa, e aí somos complemente responsáveis. |
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Papa denuncia misérias
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O Papa dedica a sua primeira mensagem da Quaresma ao tema da pobreza, apresentando a luta contra a miséria “material, moral e espiritual” como campo prioritário da ação da Igreja Católica, para curar as “chagas que deturpam o rosto da humanidade”. “Quando o poder, o luxo e o dinheiro se tornam ídolos, acabam por se antepor à exigência duma distribuição equitativa das riquezas. Portanto, é necessário que as consciências se convertam à justiça, à igualdade, à sobriedade e à partilha”, refere o texto, divulgado hoje pelo Vaticano, com o título ‘Fez-Se pobre, para nos enriquecer com a sua pobreza’, inspirado numa passagem da segunda carta de São Paulo aos Coríntios. O documento sublinha que a miséria “não coincide com a pobreza”, mas é “a pobreza sem confiança, sem solidariedade, sem esperança”. “Quantas pessoas se veem constrangidas a tal miséria por condições sociais injustas, por falta de trabalho |
que as priva da dignidade de poderem trazer o pão para casa, por falta de igualdade nos direitos à educação e à saúde”, lamenta o Papa. Francisco recorda todos os que vivem “numa condição indigna da pessoa”, privados de direitos fundamentais e bens de primeira necessidade como “o alimento, a água, as condições higiénicas, o trabalho, a possibilidade de progresso e de crescimento cultural”. “O nosso compromisso orienta-se também para fazer com que cessem no mundo as violações da dignidade humana, as discriminações e os abusos, que, em muitos casos, estão na origem da miséria”, acrescenta Francisco. A mensagem observa que “não menos preocupante” é a miséria moral, apresentada como uma escravatura “do vício e do pecado”. “Quantas famílias vivem na angústia, porque algum dos seus membros – frequentemente jovem – se deixou subjugar pelo álcool, pela droga, pelo jogo, pela pornografia”, alerta. O Papa mostra-se próximo
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das pessoas que “perderam o sentido da vida” e “perderam a esperança”. “Nós, cristãos, somos chamados a ver as misérias dos irmãos, a tocá-las, a ocupar-nos delas e a trabalhar concretamente para as aliviar”, apela. Francisco liga a miséria moral à espiritual, que define como afastamento de Deus e recusa do seu amor, convidando a Igreja a enfrentá-la “corajosamente”, com “novas vias de evangelização e promoção humana”. “O Evangelho é o verdadeiro antídoto contra a |
miséria espiritual”, prossegue. O Papa questiona os católicos sobre o sentido atual do “convite à pobreza, a uma vida pobre em sentido evangélico”, que não consiste numa opção pela “pobreza em si mesma”, mas num “modo” de amar o outro, à imagem de Jesus. “Poder-se-ia dizer que só há uma verdadeira miséria: é não viver como filhos de Deus e irmãos de Cristo”, sublinha. Francisco fala na Igreja como “um povo de pobres” e diz que deve |
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estar “pronta e solícita para testemunhar, a quantos vivem na miséria material, moral e espiritual, a mensagem evangélica, que se resume no anúncio do amor do Pai misericordioso, pronto a abraçar em Cristo toda a pessoa”. A Quaresma, que este ano se inicia a 5 de março, com a celebração de Quarta-feira de Cinzas, é um período de 40 dias,
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excetuando os domingos, marcado por apelos ao jejum, partilha e penitência, que serve de preparação para a Páscoa, a principal festa do calendário cristão. “Não esqueçamos que a verdadeira pobreza dói: não seria válido um despojamento sem esta dimensão penitencial. Desconfio da esmola que não custa nem dói”, escreve o Papa. |
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Quaresma – Testemunhar o Amor
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Numa linguagem acessível a todos o Papa convida-nos, a caminhar pela vida ao “estilo de Deus” que não é senão o do Amor que se torna visível em Cristo que “se fez pobre para nos enriquecer com a sua pobreza” A mensagem é um apelo do Espírito à conversão “à lógica do Amor da encarnação e da Cruz”. Deixar-nos enriquecer com a ”pobreza” de Cristo é viver no Amor. Este amor faz –nos “sair” ao encontro das “misérias” dos homens e das mulheres deste tempo para anunciar com o testemunho da própria vida “ o amor misericordioso do Pai que abraça em Cristo toda a pessoa. De salientar quo o papa distingue “pobreza” de “miséria”. Esta última é uma “pobreza vivida sem confiança, sem solidariedade, sem e esperança”. “Miséria” é tridimensional pois pode ser material, moral e espiritual. A minha experiência de conviver, diariamente, com estes três tipos de misérias não me permite dissociar uma das outras pois, quase sempre, caminham |
juntas e se implicam entre si. A miséria material, traduzida na falta dos bens essenciais, a ausência dos valores humanos e espirituais, as injustiças sociais levam as pessoas a procurar a felicidade em formas de vida que tiram a dignidade e a liberdade. É esta a “ miséria moral” que nos transforma em “escravos do vício e do pecado”. Nestes tempos difíceis os “cortes” nos salários, o desemprego, a falta de apoios complementares, por parte da Segurança Social às famílias empobrecidas, aliadas a uma ausência de valores humanos, e cristãos levam as pessoas a buscar os “seus bens” em lugares “escuros” assentes em falsas liberdades. A droga, o álcool, o jogo, a prostituição, o tráfico de pessoas, a pornografia tornam-se “refúgios” de vidas sem sentido e sem esperança. Submersos no vazio caminham no chamado “suicídio incipiente”. A miséria moral acarreta a miséria espiritual onde Deus está ausente e o seu amor é recusado. Perante esta “miséria moral” |
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somos chamados a ser criativos e trabalhar para a aliviar, sendo doadores de Esperança com o nosso testemunho feito presença, escuta, e o modo de amar de Cristo que é misericórdia e compaixão. Por experiência sei que quando nos aproximamos com este “estilo de Deus” junto destes irmãos sofredores eles mudam para a verdade e para o bem. |
Este itinerário de amor junto das misérias humanas exige de nós, oração, despojamento e partilha. E como diz o papa isto “dói”, mas gera alegria jubilosa porque nos sentimos agentes do amor misericordioso de Deus.
Unidos a Cristo pobre “podemos corajosamente abrir novas vias de evangelização e promoção humana”
Maria de Fátima Magalhães, stj |
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Do nosso presente à mensagem de Francisco para a Quaresma |
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Ao longo dos últimos tempos, todos nós temos vindo a sentir o efeito da denominada crise, direta ou indiretamente. Alguns dos nossos familiares e amigos perderam o emprego, outros sofreram cortes nos salários ou nas pensões e, por último, outros decidiram emigrar. Face a toda esta realidade, a nossa primeira reação tende a ser a de rejeitar esta dinâmica, sem questionar a razão de muitos destes desagradáveis acontecimentos. Em suma, lembramos o passado, dada a incapacidade de compreender o frustante presente. A entrada de Portugal no projeto que viria a dar lugar à União Europeia possibilitou o acesso a inúmeros fundos comunitários, bem como a condições de financiamento favoráveis ao longo de muitos anos. Em contrapartida, exigia-se a elaboração e implementação de uma visão estratégica para o país, de forma a prepará-lo para os desafios decorrentes da nova vaga de globalização. No |
entanto, os vários governos, maioritários ou minoritários, adiaram sucessivamente a concretização de reformas, ditas estruturais, dado que implicavam custos a curto prazo e benefícios apenas a médio e longo prazo. O imediatismo reinante na sociedade atual favoreceu este comportamento por parte dos decisores políticos, dado o défice de exigência por parte dos eleitores. Para os governantes, este foi o caminho mais apeticível de trilhar, uma vez que bastava definir uma política de facilitismo para garantir o sucesso imediato entre a população. Na prática, esta política traduziu-se no abandono efetivo da função de governação, ou seja, de decidir. O progressivo declínio da indústria nacional, o efeito decorrente do envelhecimento da população e os recorrentes défices públicos foram temporariamente escondidos pelo recurso à contratação de dívida pelas famílias, empresas e Estado. Infelizmente, as dificuldades que hoje sentimos permanecerão |
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connosco por um período bastante longo, dado não ser possível corrigir os desiquilíbrios de décadas em três ou quatro anos. O processo de reequilíbrio financeiro do país tende a gerar sequelas do ponto de vista social, que passam por uma maior desigualdade na distribuição do rendimento e da riqueza. Face a esta nova realidade emergente, a mensagem do Santo Padre Francisco para esta Quaresma indica-nos o caminho a seguir: À imitação do nosso Mestre, nós, cristãos, somos chamados a ver as misérias dos irmãos, a tocá-las, a |
ocupar-nos delas e a trabalhar concretamente para as aliviar. A miséria não coincide com a pobreza; a miséria é a pobreza sem confiança, sem solidariedade, sem esperança. Por último, o Santo Padre deixa-nos ainda um forte apelo à participação esforçada na resolução das carências da comunidade em que nos inserimos pois: Desconfio da esmola que não custa nem dói.
Joaquim Cadete, Economista |
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Papa «escolheu o mote certo para despertar consciências nesta Quaresma» |
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O diretor da Obra Católica Portuguesa de Migrações (OCPM) considera que a prioridade que o Papa Francisco tem dado aos mais marginalizados e excluídos, reforçada na sua mensagem para a Quaresma, representa um sinal de “esperança” para todas as comunidades migrantes. Em entrevista à Agência ECCLESIA, o frei Francisco Sales destaca o papel que o Papa argentino está a desempenhar na mudança de uma mentalidade moldada pelo fator económico e pouco atenta ao fator humano, e de uma Igreja Católica que precisa de “deixar de ser prestadora de serviços para ser missionária”. Segundo aquele responsável, em muitas dioceses e paróquias, a urgência de estar junto daqueles “que estão à margem, particularmente com os imigrantes e com outras situações similares, ainda não foi assumida”, porque se trata de uma realidade que “incomoda”. “São pessoas que estão em situações difíceis, que precisam de uma atenção especial, de ser ouvidas, acolhidas, amadas, |
são pessoas que precisam de amor, de esperança, de alguém que lhes fale de Deus, que ajude a dar sentido à vida”, sublinha o diretor da OCPM. Na sua mensagem para o tempo quaresmal, o Papa recorda todas as pessoas que vivem em dificuldades por falta de “condições sociais, de trabalho, de igualdade nos direitos” de acesso a bens essenciais como “o alimento, a água, as condições higiénicas, a educação, a saúde, a possibilidade de progresso e crescimento cultural”. Por causa desta conjuntura, salienta o frei Francisco Sales, “milhões de pessoas estão a emigrar hoje” em “busca” de um futuro diferente. “Hoje vivemos a era da mobilidade humana e a Igreja tem de ir ao encontro desta realidade”, reforça o sacerdote franciscano. Num texto intitulado “[Cristo] fez-Se pobre, para nos enriquecer com a sua pobreza”, inspirado numa passagem da segunda carta de São Paulo aos Coríntios, o Papa chama a atenção para um |
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eixo que tem de definir toda a ação pastoral da Igreja Católica: o combate à miséria “material, moral e espiritual”. Recorda ainda que todos os cristãos são “chamados a ver as misérias dos irmãos, a tocá-las, a ocupar-nos delas e a trabalhar concretamente para as aliviar”. Para o diretor da OCPM, Francisco “escolheu o mote certo para despertar consciências e levar os cristãos a fazerem uma reflexão séria e um processo de |
caminhada e de conversão nesta Quaresma”. Frei Sales recorda que a atual “estrutura social, com uma economia exacerbada que destrói a pessoa humana, teve como raiz um mundo dito cristão”. No que toca à miséria espiritual, o sacerdote reconhece que “quem procura viver imerso numa realidade apenas material” acaba por rejeitar Deus e por coloca-lo “fora da sua vida”. |
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Desconfio de uma esmola
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O padre António Teixeira, pároco de Carcavelos do Patriarcado de Lisboa destaca a frase do Papa Francisco na sua mensagem para a Quaresma quando este escreve: ‘Desconfio de uma esmola que não dói nem custa’. “Isto é claramente provocador, é um desafio à Igreja que se quiser levar a Quaresma a sério, se quiser levar as palavras do Papa a sério implica um saltar do nosso sofá e pantufas espirituais para uma adesão, uma encarnação do mistério de fé que é muito forte. O Papa une categoricamente o tempo forte da Quaresma à experiência do mistério da paixão e da morte de Jesus”, disse à Agência ECCLESIA. Para o pároco de Carcavelos, nos arredores de Lisboa, “o Papa distingue categoricamente a pobreza da miséria desafiando-nos a todos com esta palavra, que nos assusta, o despojamento”, sendo que o que ele quer dizer com isto é que “se não assumirmos essa dimensão da paixão, deste completar em nós o que falta à paixão de Jesus é |
uma quaresma demagógica, sem consequências pascais”. Todo o conteúdo da mensagem para a Quaresma do Papa Francisco “é uma permanente provocação porque ele tenta esclarecer o que é a riqueza e desafia-nos à assunção desta pobreza evangélica, da pobreza ao jeito de Jesus, do despojamento interior e exterior como critério e caminho de enriquecimento”. O padre António Teixeira acredita que na sua mensagem o Papa desafia todos “a ir muito para além do tranquilizar a consciência porque se deu uma moedinha ou algo semelhante, desafiando-nos a ir mais longe, à assunção interior do estilo de vida de Cristo que se faz pobre e assim se torna rico aos olhos de Deus”. “Quaresma é lutar com o Evangelho, com os critérios de Jesus contra essas misérias que não libertam o homem mas o asfixiam e o matam progressivamente”, sublinha o sacerdote em declarações à Agência ECCLESIA. |
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O pároco de Carcavelos considera que a mensagem do Papa é especialmente dirigida para os padres e agentes pastorais que “facilmente dizem serem cristãos mas muitas vezes vivem um divórcio entre a fé e a realidade”.
“Vem-nos dizer a todos que ousemos sair da Igreja, que ousemos ir ao encontro dos que estão caídos à beira do caminho, desafiando-nos a colocar um ponto final na postura do sacerdote que muitas vezes passa pelo caminho e não se atreve a dar a mão e o coração a quem está nas margens da felicidade, |
da esperança, da dignidade”, explica o sacerdote. “Infelizmente vivemos num tempo onde não é preciso ir muito longe para encontrar ovelhas perdidas, quiçá nem seja preciso sair da Igreja porque a ovelha perdida é aquele que está à margem, que se perdeu do Evangelho” e nesse sentido “há muita gente nas igrejas que não estão na órbita do amor, do serviço, só estão na órbita do lava-pés” e esses considera o padre António Teixeira “têm de ser ajudados não apenas na Quaresma”. |
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Carnaval: alegria cristã convive bem
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O frei dominicano Filipe Rodrigues considera que a alegria própria dos dias de Carnaval “em nada” contraria o espírito de alegria cristã, pedida pelo Papa Francisco. “A base é a mesma porque é uma alegria que respeita, sem magoar. Evangelho significa mesmo boa nova, uma notícia alegre. Essa é a atitude que o Papa pede que o cristão tenha todos os dias”, afirma o dominicano à Agência ECCLESIA. A origem dos festejos de Entrudo é pré-cristã, ligando-se posteriormente à Quaresma, que começa na quarta-feira de cinzas, após a terça-feira de Carnaval, palavra que segundo algumas interpretações deriva da expressão latina ‘carne vale!’ (adeus, carne!), prenunciando a entrada num tempo marcado pelos apelos a uma prática mais intensa do jejum, esmola e oração. Segundo o frade dominicano o perigo é “usar máscaras todo o ano”, explica, aludindo à tradição de as pessoas que festejam o Entrudo esconderem o rosto. |
“A Deus, não vamos com máscaras. Os cristãos que toda a vida usam uma máscara são chamados a viver na verdade” pois é a “autenticidade de vida que liberta e dá felicidade”.
O papa Francisco, na exortação apostólica «A alegria do Evangelho» “pede aos cristãos para que não usem a máscara de «cara de vinagre», uma expressão própria do documento”, que alerta para a “cara triste que muitos cristãos têm inclusivamente na missa”. “Quem anda triste na Igreja tem de rever a sua forma de estar, porque é incompatível: ou essa pessoa não fez ainda a experiência de Deus ou não se quer envolver na dinâmica do reino de Deus. Com Deus tem de se falar a sério mas não com uma cara séria”. O frei Filipe, capelão no Hospital da Luz, alerta para o perigo de transformar a religião num «picar o ponto». “Quando vamos à missa, quando cantamos e participamos, quando a palavra de Deus entra em nós |
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e sentimos conversão, só pode haver espaço para a alegria. Todas as histórias de conversão terminam em alegria”. O cultivo da alegria na vida não faz dos cristãos “pessoas alienadas ou iludidas”, mas deve ser resposta contra o desespero que, explica o dominicano, “manifesta uma falta de confiança em Deus”. O convite à alegria feita por Francisco traduz uma “recuperação da originalidade de Jesus descrita nos evangelhos”, pedindo aos cristãos uma “alegria e autenticidade, não uma alegria vazia”. A exortação apostólica é para o frei Filipe Rodrigues um documento programático.
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“Tenho dito a algumas pessoas que andam mais afastadas e que antigamente criticavam a Igreja que a instituição está a mudar. E nós? Estamos a mudar com ela? Vemos mudanças no Papa e nós que o criticávamos, mudámos com ele?” O sacerdote aponta as palavras e os gestos do Papa próprios de uma pessoa “cheia de esperança” que acredita na mudança da Igreja. As ações do Papa Francisco correspondem “não apenas à sua personalidade mas à sua ideia de renovação a introduzir na Igreja” e, por isso, acredita o frei Filipe Rodrigues “quem não dança esta música está a estragar a festa”. |
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Por uma fé sempre jovem |
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O YOUthTRAVEL é uma experiência de Nova Evangelização; e uma experiência de sucesso, que tem gerado imensos frutos por todas as dioceses de Portugal. A ideia inicial de se realizar um projeto a nível nacional que reunisse jovens para refletir sobre a fé, a evangelização e o YOUCAT partiu do Departamento Nacional da Pastoral Juvenil (DNPJ) por ocasião do Ano da Fé. Em diálogo com a Paulus Editora, responsável pela adaptação do YOUCAT para a língua portuguesa, chegou-se a um formato que seria ao mesmo tempo formativo e informativo; uma forma dinâmica, alegre e jovem de pensar e viver mais profundamente a fé e o evangelho. Na reunião dos Secretariados da Pastoral Juvenil a 21 de abril de 2012 foi lançado o desafio e nos meses seguintes uma equipa formado por membros do DNPJ, dos SDPJ e da Paulus Editora começou a percorrer as dioceses do país. Quinze dioceses já acolheram o projeto, inclusive a Madeira e os Açores, mas esperamos novos encontros |
para o futuro. Em cada diocese inúmeros jovens reuniram-se à procura de uma fé mais “comprometida e comprometedora”. O mote que guia o projeto fala por si: “Encontro, Formação, YOUCAT, Ser +”. Partindo da certeza de que não basta dizermo-nos cristãos, mas é preciso “Ser+”, o YOUthTRAVEL oferece a todos os participantes um momento de “Encontro” para partilhar a sua experiência de fé e de vida cristã, ao mesmo tempo em que proporciona uma “Formação” especialmente direcionada aos animadores, catequistas e coordenadores de grupos de jovens. Uma formação sobretudo sobre o Catecismo Jovem da Igreja Católica, apresentando ferramentas para melhor compreender e utilizar o YOUCAT. Conhecer a história, a estrutura e o conteúdo deste projeto (atualmente com cinco títulos) é essencial para concretizar o objetivo para o qual nasceu, ou seja, ser instrumento de uma nova evangelização da juventude, como uma fonte segura sobre os elementos |
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essenciais da nossa fé. Só é possível construir uma Igreja viva, jovem e dinâmica se de facto nos sentirmos unidos pelos mesmos ideais, se de facto somos inspirados pelo mesmo Cristo e movidos pela mesma verdade que brota do evangelho e se expressa no catecismo. É exatamente esta experiência de crescermos juntos na fé e no seguimento de Cristo que o YOUthTRAVEL tenta gerar ao percorrer todas as dioceses. Ao envolver o DNPJ, os secretariados |
diocesanos e uma editora católica o YOUthTRAVEL mostra que é possível unir forças para proporcionar aos jovens experiências novas e envolventes. Experiências que levem-nos a “viajar” por este maravilhoso Caminho (para utilizar a imagem dos Atos dos Apóstolos e de João 14,6) que é Cristo e a fé cristã.
Ir. Darlei Zanon, religioso paulista |
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Novos cardeais, homens de paz
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O Papa Francisco criou este sábado os primeiros cardeais do seu pontificado, numa cerimónia que ficou marcada pela presença do seu predecessor Bento XVI, e apelou à paz e ao fim das perseguições religiosas no mundo. “A Igreja precisa da vossa compaixão, sobretudo neste momento de tribulação e sofrimento em tantos países do mundo. Queremos exprimir a nossa proximidade espiritual às comunidades eclesiais e a todos os cristãos que sofrem discriminações e perseguições”, disse Francisco, na homilia da celebração, que decorreu na Basílica de São Pedro, Vaticano. “Temos de lutar contra qualquer discriminação”, acrescentou, pedindo que os novos cardeais sejam “homens de paz”. Francisco invocou “a paz e a reconciliação” para os povos que “vivem provados pela violência e a guerra”. “A Igreja precisa de nós também como homens de paz, precisa que façamos a paz com as nossas obras, os nossos desejos, |
as nossas orações”, disse aos participantes na celebração, entre os quais se incluíam os três cardeais portugueses, D. José Saraiva Martins, D. José Policarpo e D. Manuel Monteiro de Castro. No domingo, o Papa presidiu à Missa com os novos cardeais e os participantes no primeiro consistório do pontificado, que alertou contra uma mentalidade de “corte” que promove “intrigas”. “O cardeal – digo-o especialmente a vós - entra na Igreja de Roma. Irmãos: não entra numa corte. Evitemos todos e ajudemo-nos mutuamente a evitar hábitos e comportamentos de corte: intrigas, maledicência, fações, favoritismos, preferências”, declarou, na homilia que proferiu na Basílica de São Pedro. Francisco apresentou um código de “conduta” para cada cardeal, convidando todos a imitar o “Espírito de Cristo” para serem “canais por onde corre a sua caridade”. “Este é o comportamento, esta deve ser a conduta de um cardeal”, sublinhou, pedindo depois:
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“Permaneçamos unidos em Cristo e entre nós”. Segundo o Papa, a linguagem dos responsáveis católicos deve ser a do Evangelho – ‘sim, sim; não, não’, com as atitudes das “bem-aventuranças” e o caminho “da santidade”. “Estas atitudes nascem da santidade de Deus. Nós somos tão diferentes, tão egoístas e orgulhosos, no entanto, a bondade e a beleza de Deus atraem-nos, e o Espírito Santo |
pode purificar-nos, pode transformar-nos, pode moldar-nos dia após dia”, precisou. Do grupo de 19 novos cardeais, D. Loris Capovilla, com 98 anos, esteve ausente por motivos de saúde, e irá receber o barrete e o anel pelas mãos de um enviado especial, como anunciou o Papa, numa cerimónia que decorrerá a 1 de março em Sotto il Monte (Itália), terra natal do Beato João XXIII, do qual era secretário. |
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Papa cria «ministério» para as Finanças |
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O Papa Francisco criou esta segunda-feira uma nova estrutura de coordenação para as atividades económicas e administrativas da Santa Sé e do Vaticano, sob a direção do cardeal George Pell, australiano, membro do chamado ‘C8’. A sala de imprensa da Santa Sé anuncia em comunicado a instituição de uma “nova Secretaria para a Economia”, com autoridade sobre todas as atividades económicas e financeiras. As mudanças promovidas pelo Papa “confirmam” o papel da Administração do Património da Sé Apostólica (APSA) como Banco Central do Vaticano, “com todas as obrigações e responsabilidades das instituições análogas em todo o mundo”. A APSA (Cúria Romana) tem como missão administrar os bens que são propriedade da Santa Sé, destinados a fornecer fundos necessários para o funcionamento dos organismos centrais de governo da Igreja Católica. O anúncio responde, segundo o Vaticano, às recomendações de
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"transparência" que surgiram após a “rigorosa revisão” levada a cabo pela Comissão Pontifícia de Inquérito para a Organização Económica e Administrativa da Santa Sé (COSEA), instituída por Francisco em julho de 2013. As conclusões destes trabalhos foram analisadas na última semana pelo Papa e o Conselho de Cardeais, o ‘C8’, organismo consultivo para a reforma da Cúria Romana, e pelo conselho de 15 cardeais “para o estudo dos problemas organizativos e económicos da Santa Sé”, ligado à Prefeitura dos Assuntos Económicos da Santa Sé, entidade que tinha até agora a responsabilidade de elaborar e aprovar os orçamentos.
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Bento XVI contesta especulações «absurdas» |
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O Papa emérito Bento XVI considera “absurdas” as posições que questionam a autenticidade da sua renúncia ao pontificado e manifestou o seu apoio e “amizade” a Francisco, numa carta publicada esta quarta-feira pelo jornal italiano ‘La Stampa’. A missiva surge em resposta a questões levantadas pelo periódico, cerca de um ano depois da resignação do Papa alemão, cujo pontificado se concluiu a 28 de fevereiro de 2013, num momento em que se multiplicaram comentários sobre uma suposta ‘diarquia’ no Vaticano, ou seja, um duplo governo, e insinuações de que teria sido 'forçado' a renunciar. “Não há dúvidas sobre a validade da minha renúncia ao ministério petrino. A única condição para a validade é uma liberdade plena da decisão. As especulações sobre a invalidade da renúncia são simplesmente absurdas”, afirma Bento XVI, em resposta a perguntas formuladas por escrito pelo jornal. O Papa emérito, que apresentou a sua renúncia, em latim, durante um encontro com cardeais a 11 |
de fevereiro do último ano, explica ainda porque é que continua a vestir-se de branco. “Manter o hábito branco e o nome de Bento é algo simplesmente prático. No momento da renúncia, não havia outras roupas à disposição. Além disso, uso o hábito branco de uma forma claramente distinta da do papa. Nisto também se trata de especulações sem fundamento”, precisa. O Papa emérito confirma, por outro lado, a veracidade das citações de uma carta que enviou ao teólogo alemão Hans Küng. No texto em causa, Bento XVI escreve: “Estou grato por poder estar vinculado por uma grande coincidência de opiniões e uma amizade de coração ao Papa Francisco". |
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A Agência ECCLESIA escolhe sete acontecimentos que marcaram a atualidade eclesial a nível internacional, nos últimos dias, sempre atualizados em www.agencia.ecclesia.pt
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Bento XVI acompanhou Papa Francisco pela primeira vez na Basílica de São Pedro
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Apelo do Papa pela Paz na Venezuela
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NEBRASKA |
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Woody e Kate Grant vivem a sua velhice em Billings, a maior cidade do estado de Montana. Kate é uma mulher lúcida e prática que procura otimizar o seu dia-a-dia com os recursos reais de que o casal dispõe, enquanto Woody varia entre uma visão desencantada da vida e a cedência megalómana a um futuro idealizado. A idealização atinge o seu auge quando Woody decide participar num concurso publicitário que envolve um prémio no valor de um milhão de dólares, a reclamar em Lincoln, no Nebraska. Sem hesitação, Woody decide meter-se ao caminho, à revelia de Kate mas acompanhado pelo seu filho mais novo. De Montana ao Nebraska, pai e filho encetam uma viagem de cerca de mil oitocentos e sessenta quilómetros, atravessando diferentes estados e contextos geográficos ao mesmo tempo que trilham novos caminhos da sua própria relação. Alexander Payne, por duas vezes premiado com o Oscar para melhor argumento adaptado com ‘Sideways’ e ‘Os Descendentes’ |
de que foi co-autor, reincide na escolha do road movie adotado em ‘Sideways’ e ‘As Confissões de Schmidt’ como metáfora para a exploração de viagens ao mundo interior e vinculativo de personagens masculinas. Nesse último, como agora em ‘Nebraska’, a escolha recai num olhar perspicaz, terno e bem humorado sobre os encantos e os desencantos do outono da vida, com a grande diferença de que Schmidt, um rezingão idealista a braços com a sua recente viuvez, parte em busca de um vínculo afetivo com alguém que não chega a ganhar corpo no ecrã (Ndungu, o menino africano que apadrinha e com quem se corresponde ou a filha, que vive a milhas de si), enquanto o filme agora em estreia é um caminho melancólico feito a dois - um percurso de relação materializada entre pai e filho, onde ambos se redescobrem. Relação feita de consonâncias e dissonâncias, de rudeza e de afetos, a viagem segue sob um argumento original bem gizado, a cargo de Bob Nelson, ilustrado num preto e branco que não |
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apenas expõe contrastes mas se concentra na estrita essência visual, escusando tudo quanto seja acessório ao retrato daquela relação acompanhada com realismo e simpatia. E para o seu bom resultado, contribui a belíssima prestação de Bruce Dern, o protagonista. À nomeação para a Palma de Ouro em Cannes em 2013 e à |
consagração como melhor ator que aí foi devida a Bruce Dern, somam-se agora para ‘Nebraska’ a candidatura aos Oscars em seis categorias: melhor filme, realização, argumento original, direção fotográfica, ator principal e atriz secundária – June Squibb, no papel de Kate.
Margarida Ataíde |
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Pastorinhos online |
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No passado dia 20 de fevereiro, dia de aniversário da morte de Jacinta, a Igreja celebrou a festa litúrgica dos Beatos Francisco e Jacinta Marto. Assim, esta semana, propomos uma visita ao sítio do secretariado dos Pastorinhos. Ao digitarmos o endereço www.pastorinhos.com entramos num espaço virtual eminentemente informativo, onde a causa da Postulação está bem presente, como não poderia deixar de ser. Na página inicial temos as últimas notícias relativas aos pastorinhos beatos de Fátima, bem como um conjunto de opções que passamos agora suscintamente a descrever. Na opção “postulação”, ficamos a conhecer um pouco mais sobre a componente organizativa desta “instituição da Igreja Católica que, trabalhando sob a direção da Congregação da Causa dos Santos e do Bispo da Diocese de Leiria-Fátima, tem como missão promover o processo de canonização dos Beatos Francisco |
e Jacinta Marto”. As suas principais áreas de atuação passam por “dar a conhecer a vida e a santidade dos Pastorinhos, e da difusão do seu culto entre o povo de Deus, estimulando também a que as pessoas peçam graças através da intercessão dos Pastorinhos”. Por outro lado é também possível conhecermos a postuladora e um pouco da história desta causa que já iniciou em 1952. Em “Francisco” e “Jacinta”, somos convidados a conhecer os principais dados históricos relativos à vida dos pastorinhos de Fátima, bem como algumas datas mais marcantes. No item “biblioteca”, encontramos um conjunto de registos nos mais variados formatos, nomeadamente, imagens sobre a atualidade e história dos pastorinhos, textos redigidos na altura da beatificação e vídeos promocionais relacionados com a história da Cova de Iria. Existe também uma área inteiramente dedicada à componente litúrgica que está associada ao processo de beatificação, designadamente, a liturgia das horas, | |
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a ladainha aprovada a 20 de fevereiro por D. António Marto e ainda a oração para pedir a canonização. Caso pretenda saber quais são e encomendar as publicações do secretariado dos pastorinhos, basta aceder a “edições”. Aí pode ler breves resenhas dos livros editados e ainda descarregar gratuitamente o primeiro volume do livro de memórias da Irmã Lúcia. Neste espaço, pode |
também consultar todos os boletins informativos e descarregá-los para o seu computador. Fica então lançado o convite para seguirem este sítio pois consideramos que as informações nele contidas, são merecedoras da nossa visita, para que possamos acompanhar de perto todo o processo de postulação.
Fernando Cassola Marques |
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Um mundo que falta fazer |
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Escreveu o padre Anselmo Borges acerca da teologia de Bento Domingues: Trata-se de uma teologia do Reino de Deus [que é] o futuro de Deus enquanto ‘o horizonte mais abrangente de esperança’ para o mundo em todos os domínios da vida, incluindo, portanto, a política, a cultura, a economia, a ecologia. De todos esses temas tratam as crónicas antologiadas neste volume e dedicadas a questões sociais e políticas: a presente crise económico-financeira e os estragos que ela está a provocar à democracia e à Europa, a reflexão ética sobre o exercício do poder, o escândalo gritante da miséria de tantos em contraste com a opulência de alguns, a busca da justiça |
social, o absurdo da guerra e da corrida armamentista, o diálogo entre culturas e religiões como caminho para a paz, a laicidade como possibilidade de exercício da dimensão religiosa das pessoas em sociedades democráticas. Também a (falta de) alma da Europa, o desafio da paz, da |
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esperança e da justiça no Médio Oriente, as ilusões e utopias da América Latina ou a busca de novos rumos para a martirizada África marcam a reflexão que aqui se reúne. Uma reflexão caracterizada pela |
lucidez, liberdade e bom humor, na forma de fazer teologia na praça pública a que frei Bento Domingues nos habituou. Temas e Debates (Círculo de Leitores)
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II Concílio do Vaticano: Paróquias romanas recebem Paulo VI na Quaresma |
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O Papa que convocou o II Concílio do Vaticano, João XXIII, num dos seus rasgos de intuição e verdade pastoral, restabeleceu a antiga tradição, perdida há séculos, de visitar as estações quaresmais em Roma. O seu sucessor, Paulo VI, continuou, nisto como em outras coisas, o exemplo de João XXIII, e deslocou-se na quarta-feira de cinzas e nos domingos seguintes a várias igrejas paroquiais da capital italiana. Que razões terão levado o Papa a presidir às celebrações quaresmais nas paróquias de Roma? A esta pergunta, que a si mesmo formula na homilia do I Domingo da Quaresma na moderna Igreja de S. Pio X, o continuador de João XXIII responde: “Antes de mais uma razão pastoral”. Ao descodificar o conceito de «pastoral», Paulo VI sublinha que o termo significa “a relação que existe entre aqueles que por Deus foram encarregados de comunicar a Sua Palavra, os Seus carismas, os Seus ministérios, os Seus sacramentos, a Sua graça, e aqueles que, pelo Baptismo, foram chamados a receber tão altos dons e a fazê-los frutificar” (Cf. Boletim Informação Pastoral, Nº 30, Março-Abril 1964). E porque não procederam assim os Papas antecessores? A esta questão, Paulo VI diz que havia várias razões. Em tempos não muito longínquos, o Papa “não podia sair do Vaticano; e em tempos anteriores, estava assoberbado com preocupações do poder temporal”. Paulo VI recorda que as exigências dos tempos
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vão mudando e que as visitas manifestam o amor que o sucessor de Pedro tem a Roma. “Todos, grandes e pequenos, bons e não bons, próximos e afastados, todos têm o direito de falar com o Papa e o Papa o dever de cuidar de todos” (Cf. Boletim Informação Pastoral, Nº 30, Março-Abril 1964). Com estas visitas, quer o Papa mostrar o seu apreço pelos padres que servem os cristãos nos seus ministérios pastorais, conhecê-los, ajudá-los e partilhar o ónus que sobre eles pesa”. Esta ideia de paróquia, comunidade de vida e sociedade de mútua ajuda espiritual, desenvolveu-a também na homilia do III Domingo da Quaresma, na Igreja de Santa Maria Consoladora, no novo bairro do Casal Bertone. A população daquele bairro operário – ferroviários, empregados dos correios, funcionários municipais |
– é uma comunidade concreta. A igreja é recente – o bairro foi bombardeado a 19 de Julho de 1943 – e Paulo VI congratula-se com a vitalidade espiritual da paróquia. “A confiança, a familiaridade e a solidariedade entre o pastor e o rebanho são o segredo de bem realizar o pensamento e a ação de Cristo no meio de nós”, disse o Papa aos cristãos do bairro do Casal Bertone. No domingo seguinte, a 08 de março de 1964, o Papa Paulo VI disse, na Igreja da Madre de Deus, que se a paróquia é para todos – “sem que ninguém possa ficar esquecido” – é também certo que a paróquia, fazem-na todos. Na sua homilia, o Papa pede aos cristãos para olharem para o concílio e afirma que esse grande acontecimento “procura despegar os lábios mudos do povo, que não pode permanecer silencioso e indiferente, mas abrir a alma”. |
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fevereiro 2014 |
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Dia 28
* Bielorrússia - Lida - Encerramento do 8.º campeonato europeu de futsal para sacerdotes católicos. |
* Guarda - Paul (Santuário de Nossa Senhora das Dores) - Retiro Jovem com o tema «Jesus, que queres que eu faça?» e promovido pelo Departamento da Pastoral Juvenil da Guarda. (28 a 02 março) |
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É carnaval! E ele vive-se em todos os contextos, também naqueles onde a alegria aparentemente é impossível. Nestes dias, as várias casas das Irmãs Hospitaleiras e dos Irmãos de S. João de Deus promovem um ambiente carnavalesco, porque essa é também uma dimensão da dignidade de vida que proporcionam a todos os doentes. E com a ajuda do voluntariado desenvolvido pela Juventude Hospitaleira.
“Para a História das Ordens e Congregações Religiosas em Portugal, na Europa e no Mundo”. É o título de uma obra, não tão extenso quanto a própria obra. Reúnem-se, em dois volumes, as atas do Congresso Internacional realizado na Gulbenkian sobre a História das Ordens e das Congregações Religiosas, no ano 2010. Com a chancela da Paulinas Editora, os livros são apresentados no dia 2 de março, em Fátima, no âmbito da Semana de Estudos sobre a Vida Consagrada.
A Igreja Católica inicia no dia 5 de março o tempo da Quaresma. 40 dias para preparar a Páscoa, a celebração central da experiência crente, a morte e ressurreição e Jesus. Como programa para este tempo, a pertinente mensagem do Papa Francisco, a sugerir com linguagem nova comportamentos e atitudes que marcam este tempo. Por exemplo: “Não esqueçamos que a verdadeira pobreza dói: não seria válido um despojamento sem esta dimensão penitencial. Desconfio da esmola que não custa nem dói”
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Programação religiosa nos media |
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Antena 1, 8h00 RTP1, 10h00 Transmissão da missa dominical
11h00 - Transmissão missa
12h15 - Oitavo Dia
Domingo: 10h00 - O Dia do Senhor; 11h00 - Eucaristia; 23h30 - Ventos e Marés; segunda a sexta-feira: 6h57 - Sementes de reflexão; 7h55 - Oração da Manhã; 12h00 - Angelus; 18h30 - Terço; 23h57-Meditando; sábado: 23h30 - Terra Prometida. |
RTP2, 11h22Domingo, dia 02 - Comunicar com arte e alegria: a história e a dinâmica de três projetos.
RTP2, 18h00Segunda-feira, dia 03 - Entrevista a Leite Garcia, António Soares e José Rodrigues sobre o padre Abel Varzim, nos 50 anos da sua morte; Terça-feira, dia 04 - Informação e entrevista sobre o projeto "A Magia da Vida"; Quarta-feira, dia 05 - Informação e entrevista de apresentação da mensagem do Papa para a Quaresma; Quinta-feira, dia 06 - Informação e entrevista de apresentação dos trabalhos preparatórios do Sínodo dos Bispos sobre a Família; Sexta-feira, dia 07 - Apresentação da liturgia dominical pelo padre Armindo Vaz e frei José Nunes.
Antena 1 Domingo, dia 02 de março, 06h00 - No domingo de Carnaval a Ecclesia conversa com o frei dominicano Filipe Rodrigues sobre a alegria cristã proposta pelo Papa Francisco. Olhamos a atualidade com a reflexão do padre José Luís Borga.
Segunda a sexta-feira, 22h45 - 03 e 04 de março - A verdadeira alegria no Carnaval: o projeto "Vanocas" e o grupo "Sorrisos de Deus". 05, 06 e 07 de março - A mensagem de Quaresma do Papa Francisco: comentários de Frei Francisco Sales, Lurdes Silva e Padre António Teixeira
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Que missão têm os Bispos?
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Ano A - 8º Domingo do Tempo Comum |
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Nunca te esquecerei! |
A Palavra de Deus deste oitavo Domingo do Tempo Comum convida-nos a dirigir o nosso olhar para o que é verdadeiramente importante, propondo-nos uma reflexão sobre as nossas prioridades. O Evangelho aponta para a busca do essencial, o Reino do amor de Deus. Na segunda leitura, Paulo convida os cristãos de Corinto a fixarem o seu olhar na proposta de salvação/libertação que, em Jesus, Deus fez aos homens, e não no acessório, os veículos da mensagem. Estes, sejam padres ou leigos, devem ter consciência de que não estão a anunciar-se a si próprios. Antes, devem assumir-se como discretos e fiéis “servos de Cristo e administradores dos mistérios de Deus”. Mas gostaria de salientar a belíssima mensagem da primeira leitura, com apenas dois versículos, que sublinha a solicitude e o amor de Deus, recorrendo à imagem da maternidade: a mãe ama o filho, com um amor instintivo, avassalador, eterno, gratuito, incondicional; e o amor de Deus mantém as características do amor da mãe pelo filho, mas em grau infinito. Vale a pena reler o texto de Isaías, o profeta da esperança: «Poderá a mulher esquecer a criança que amamenta e não ter compaixão do filho das suas entranhas? Mas ainda que ela se esqueça, Eu o Senhor não te esquecerei». A um Povo que vive numa situação dramática de frustração, de desorientação, de total incerteza em relação ao futuro, que olha à volta e não vê Deus presente na sua caminhada, que começa a duvidar do amor e da fidelidade de Deus, o profeta diz: “não desanimeis: apesar da aparente ausência, |
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Deus ama-vos ainda mais do que uma mãe ama o filho; Ele caminha convosco ao encontro da vida plena”. É uma mensagem eterna, consoladora e repousante. Num mundo em que as referências se alteram rapidamente e a humanidade não sabe exactamente para onde caminha, em que o terrorismo, as guerras, as ameaças ambientais e o totalitarismo dos bens materiais ameaçam o frágil equilíbrio da humanidade, somos convidados a descobrir o amor materno de Deus, a sua solicitude nunca desmentida, a sua presença terna e protetora. A vida terrena, peregrina, não nos deixa tempo nem disponibilidade |
para andarmos atrás de dois senhores. Na essência, só podemos seguir um senhor. Na nossa liberdade de optar, devemos ser coerentes e exigentes no seguimento do único Senhor da vida, o Senhor Deus, Pai e Mãe, que nos ama e cuida de nós. Trata-se de um intensa exigência para sermos ainda mais solidários e fecundos deste amor nas situações e atitudes, nos gestos e palavras ao longo desta semana, em que se inicia o tempo da Quaresma, sempre alimentados pela Palavra de Deus que incarna no nosso mundo por Ele amado.
Manuel Barbosa, scj www.dehonianos.org |
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Cazaquistão: o campo de concentração da união soviéticaOs escravos de Estaline |
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Milhões de homens foram presos e levados para os famosos “gulags” da União Soviética. O Cazaquistão transformou-se num gigantesco “campo de concentração” do regime. O Bispo Auxiliar de Astana esteve em Lisboa, a convite da Fundação AIS, e, numa Vigília de Oração, recordou esses anos terríveis em que a fé era posta à prova todos os dias.
Há duas décadas que o Cazaquistão deixou de fazer parte do “paraíso na terra”, como os ideólogos comunistas apelidaram a extinta União Soviética. Nesses tristes anos de repressão, este imenso país foi um verdadeiro “campo de concentração”. Para as suas estepes foram deportados milhões de pessoas, entre as quais, cerca de 1 milhão de católicos. Num mundo |
que se queria sem Deus, a fé pagava-se caro, com a prisão, trabalhos forçados, torturas e, tantas vezes, a morte. Alemães, polacos, lituanos… todos eram os escravos de Estaline, os escravos do regime. Este era o lado negro do paraíso na terra, como recordou D. Athanasius Schneider, Bispo Auxiliar de Astana, recentemente, no Mosteiro dos Jerónimos, durante a Vigília de Oração promovida pela Fundação AIS sobre o seu país.
Estaline, “o evangelizador”Antes de Estaline, o Cazaquistão era uma terra sem católicos. No século XIV, o país sofreu uma islamização violenta, em que foram arrasados quase todos os símbolos religiosos. Ninguém |
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escapou. De tal forma que seria preciso esperar pelo século XX, pelos campos de concentração de Estaline, para que se voltasse a rezar o Pai Nosso neste país. “Estaline foi o maior evangelizador do século XX”, disse, sublinhando a ironia, o Bispo. A história do Cazaquistão é a prova de que a fé não consegue ser agrilhoada. Recorda o bispo: “Foram destruídas todas as Igrejas e não havia sacerdotes. Mas nós tínhamos uma Igreja Clandestina. É preciso não esquecer que o verdadeiro templo de Deus são as almas”.O fim da União Soviética libertou o país de um jugo terrível, mas ainda não se pode falar em real liberdade religiosa. De qualquer forma, dos anos de provação nasceu uma forte comunidade muito devota a Nossa Senhora de Fátima, que já em 1917 falava nos males que a Rússia iria espalhar pelo mundo e da urgência da sua conversão. |
A importância da famíliaHoje, disse o Bispo, é preciso estar atento aos sinais dos tempos. “Que a velha Europa, que espalhou a fé pelo mundo, conserve essa fé. O meio mais forte para isso é a família. Que sejam famílias católicas numerosas, onde possam nascer vocações sacerdotais, religiosas. Esse é o futuro da Igreja”, disse D. Athanasius. “Sem sacrifício, não pode haver cristianismo. É preciso cultivar a família doméstica, transmitir o catecismo e cultivar os sacramentos”. Para quem sofreu tanto para se manter fiel à sua fé, deve ser estranho que na Europa da liberdade o cristianismo esteja em declínio não por ser perseguido mas por falta de comparência de quem o viva no dia-a-dia.
Paulo Aido | www.fundacao-ais.pt |
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O Evangelho,
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“Chegamos a ser plenamente humanos, quando somos mais do que humanos, quando permitimos a Deus que nos conduza para além de nós mesmos a fim de alcançarmos o nosso ser mais verdadeiro. Aqui está a fonte da ação evangelizadora. Porque, se alguém acolheu este amor que lhe devolve o sentido da vida, como é que pode conter o desejo de o comunicar aos outros?”. Com estas palavras da Evangelii Gaudium (n.8), o Papa Francisco evoca a nossa divinização, essa elevação que nos é concedida como um dom de Deus. Em Cristo descobrimos quem é a pessoa humana e qual a grandeza da sua vocação (cf. Gaudium et Spes, 22). Do encontro com Jesus nasce o desejo de partilhar essa alegria com os outros (cf. EG 3). O Papa Francisco convida-nos a “sair da própria comodidade e ter a coragem de alcançar todas as periferias que precisam da luz do Evangelho” (EG20). A “saída” que o Papa nos |
propõe, expressa o que a Igreja tradicionalmente designa com os termos “apostolado” e “evangelização”: tarefa que se caracteriza, entre outras coisas, por um absoluto respeito pela liberdade, e se afasta da aceção negativa que, principalmente no século XX, a palavra “proselitismo” ganhou. É o que o Papa aponta no n.14 ao afirmar que “a Igreja não cresce por proselitismo, mas «por atração»”. Nos ensinamentos de Cristo há uma evidente exclusão de qualquer atitude que desrespeite a liberdade alheia e ignore a dignidade da pessoa. Deus quer ser amado com verdade, e isso pressupõe uma decisão livre. Toda a vocação é uma história de amor e um encontro de duas liberdades: a chamada de Deus e a resposta do homem. A chave que define uma atitude autenticamente cristã está no Amor. O Papa Francisco usa palavras e gestos evangélicos que o manifestam: “convido” (EG 3, 18, 33, 108), “insisto” (EG 3); fala |
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de “coração transbordante” (EG 5) e anima-nos a entrar “nessa torrente de alegria” (EG 5) que é a comunidade cristã, incentiva a não impor condições desnecessárias à receção do batismo e ao sacramento da confirmação. “Entrar”. Jesus Cristo censurou duramente os escribas e os fariseus: “nem entrais vós nem deixais entrar os que o querem fazer.” (Mt 23,13). Deixar entrar, permitir que se entre, convidar a entrar: essa força que atrai é, no dizer de São Josemaria, |
“abundância de luz”, simpatia humana, oração e sacrifício pessoal, presença de Cristo no cristão: “amor verdadeiro é sair de si mesmo, entregar-se” (Cristo que passa, 43). É este o sentido do apostolado cristão, no sentido original do termo proselitismo, como tradicionalmente se entendeu na Igreja, herdado do judaísmo. Lacordaire usava esta forma lapidar: “Assim como não há cristão sem amor também não há amor sem proselitismo”. O apostolado de pessoa a pessoa supõe dedicar tempo ao próximo |
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e não tem outra força que a da oração, da paciência bondosa, da compreensão, da amizade, do amor pela liberdade. Supõe um sair de si mesmo para preocupar-se com os outros e partilhar com eles o mais verdadeiro, bonito e belo: a nossa vocação cristã. O “segue-me” de Cristo, longe de forçar, respeita a liberdade de cada um. Manifesta-o de modo tristemente eloquente o diálogo com o jovem rico. E hoje? Francisco assinala que “quando mais precisamos dum dinamismo missionário que leve sal e luz ao mundo, muitos leigos temem que alguém os convide a realizar alguma tarefa apostólica e procuram fugir de qualquer compromisso que lhes possa roubar o tempo livre.” (EG 81). A luz do Evangelho é “uma luz que atrai” (EG 100) pois é a lei do amor que nos convida a fazer o bem (EG 100-101). Ao ver as boas obras do cristão, o próximo será levado a dar glória a Deus (cf. Mt 5,16): descobrir e louvar o inefável amor de Deus, uma luz divina, não simplesmente humana. Nesse sentido, o apostolado, o santo zelo pelas almas, é dar testemunho da luz, como diz S. |
João (1, 7), dar abundância de luz, sem a mais mínima sombra de imposição, com muita delicadeza, pois Deus só quer amor e, por isso, atua com mansidão: com vigor e benignidade (cf. Sab 8, 1). Na Mensagem para a XX Jornada Mundial de oração pelas vocações (2 de fevereiro de 1983), João Paulo II afirmava: “não deve haver qualquer medo em propor directamente a uma pessoa jovem ou menos jovem a chamada do Senhor. É um ato de estima e confiança. Pode ser um momento de luz e de graça”. Vence-se a possível timidez, que podia revelar uma falta de fé e de humildade, com a luz de Cristo que transmite cada Cristão. Que luz? Bento XVI concluía a sua primeira encíclica com estas palavras: “aquele amor divino é a luz — fundamentalmente, a única — que ilumina incessantemente um mundo às escuras e nos dá a coragem de viver e agir. O amor é possível, e nós somos capazes de o praticar porque criados à imagem de Deus. Viver o amor e, deste modo, fazer entrar a luz de Deus no mundo” (Deus caritas est, 39). Em perfeita continuidade, Francisco assinala na sua primeira encíclica |
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que “O movimento de amor entre o Pai e o Filho no Espírito percorreu a nossa história; Cristo atrai-nos a Si para nos poder salvar (cf. Jn 12, 32)” (Lumen Fidei, 59). Nos antípodas de um proselitismo mal-entendido que não respeita a pessoa, está o apostolado concebido como atração, isto é, a proposta, transparente e respeitosa, de uma dedicação generosa – justamente |
aquela a que se refere o Papa – que envolve um testemunho plenamente consciente da liberdade e dignidade da pessoa, e faz que o coração do cristão participe do amor divino e humano de Jesus. Um coração que não pode conter os desejos de comunicar a alegria do Evangelho.
Javier Echevarría, Prelado do Opus Dei |
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APOSTOLADO DE ORAÇÃOContradições e equívocosPara que todas as culturas respeitem os direitos e a dignidade das mulheres. [Intenção Universal do Papa para o mês de Março] |
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1. A civilização ocidental é, entre as grandes civilizações mundiais, aquela que avançou mais no reconhecimento da igualdade de direitos entre homens e mulheres e na afirmação da sua dignidade. Há ainda muito a fazer, sobretudo para superar as discriminações presentes no quotidiano de tantas mulheres, mas legalmente houve um progresso notável ao longo do século XX. Este progresso, embora lentamente, não deixará de ter consequências nos comportamentos quotidianos, alterando uma cultura ainda com demasiada frequência discriminatória, na qual os comportamentos individuais não raro ignoram os progressos tidos socialmente como adquiridos.
2. Esta mudança cultural marca uma época nova na história da humanidade (pelo menos, de parte da humanidade). Infelizmente, nem tudo é positivo e há aspetos que traduzem um efetivo retrocesso na vivência da igualdade da mulher e do homem em dignidade e direitos. Acontece assim quando, mais do que |
realçar a complementaridade entre homem e mulher – dado natural que não vale a pena pretender recusar – a igualdade vem afirmada em chave «machista». Aqui, já não se trata de reivindicar a igual dignidade e os direitos a ela associados. O objectivo é impor um modelo cultural que «desfeminiza» a mulher, adotando como referência o homem e o seu modo de agir numa sociedade ainda marcada por preconceitos machistas. Promove-se, portanto, uma noção distorcida de igualdade, que vê na diferença um inimigo e no «mesmo» o modelo a atingir.
3. As consequências desta «masculinização» da mulher são inegáveis: a maternidade, por exemplo, torna-se um fardo do qual aquela deve «libertar-se», caso pretenda ser igual ao homem; o aborto é convertido num «direito humano» (da mulher), pois nada, nem outra vida humana indefesa, tem direito a «intrometer-se» no direito da mulher a «dispor» do seu corpo; |
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o aluguer do próprio útero para gerar filhos para outros (sejam pares homossexuais ou casais heterossexuais) não é mais uma comercialização do corpo mas a prestação de um serviço socialmente aceitável; a prostituição não é uma degradação da mulher, mas o uso livre do corpo por parte de uma «trabalhadora do sexo»; o pudor e a reserva da intimidade corporal constituem comportamentos preconceituosos e, por isso, despir-se em público é, na linguagem comum, «despir-se de preconceitos»...
4. A cultura que, como disse antes, mais progrediu na afirmação da dignidade da mulher e dos seus direitos revela-se assim como a cultura que mais avançou na degradação do corpo da mulher (e, portanto, da mulher), reduzido à condição de simples instrumento ou ferramenta ao dispor da própria ou de outros. Estranho é este modelo de «igualdade» ser promovido, em grande parte, por organizações cujo objetivo, dizem, é lutar pela promoção da dignidade da mulher e dos seus direitos. Um caso relacionado com o aborto como |
«direito humano» é exemplar: há organizações feministas que, em nome deste «direito», justificam o aborto seletivo de crianças do sexo feminino. Argumento? As razões pelas quais uma mulher aborta são assunto exclusivamente dela – como se tais organizações não soubessem que os abortos seletivos de meninas são o produto mais inumano do machismo cultural que pretendem combater.
5. Tais distorções do conceito de igualdade entre homens e mulheres acabam por contribuir para tornar menos repugnantes as malfeitorias que o machismo continua a impor a tantas mulheres. E permitem também que os progressos feitos no último século, embora efetivos em variados âmbitos da vida social, percam parte do seu significado perante os retrocessos noutros âmbitos. Tais retrocessos são, com frequência, fruto de ideologias desumanas, cuja bandeira já não é a dignidade da mulher, mas a sua «libertação» de quaisquer limites, mesmos aqueles com origem natural na condição biológica feminina. Elias Couto |
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Olhar e amar o campo… |
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Tony Neves |
Andei um mês por terras do Brasil, Bolívia e Paraguai. Nesta América Latina onde tanto chove, a agricultura continua a desempenhar um papel fundamental na economia. Sempre que falava com as pessoas ou me informava através dos media, a agricultura era tema inevitável. Percorrer os caminhos mal abertos do interior abandonado destes países (os interiores são sempre abandonados!), permitiu-me ver a fertilidade dos campos aliada à pobreza das gentes e à prepotência dos poderosos. É bem conhecida a luta dos Sem Terra no Brasil e outros países vizinhos. O problema de fundo é que há meia dúzia de pessoas que se sentem proprietárias de tudo e há milhões de pessoas que não têm um palmo de terra para cultivar ou construir a sua casa. Este drama social tem gerado muita violência e mantém a América Latina como um dos espaços do mundo onde as injustiças sociais são mais gritantes pelas desigualdades sociais que se percebem a olho nu. Outro drama que se vive nos campos tem a ver com as lógicas de invasão das produções que dão grandes lucros aos grupos económicos. Assim, na Amazónia, luta-se para que não continue o derrube de florestas para aumentar os terrenos de pasto para as milhares de cabeças de gado que estão a tomar conta da região. Também se luta, um pouco por toda a América Latina, contra as grandes produções de soja que exigem |
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hectares e hectares de terrenos, muitos deles roubados á floresta ou retirados aos pequenos agricultores. Era bom que cada família tivesse o seu pequeno espaço para cultivar. Sabemos que tal não é possível, sobretudo nas cidades. Mas há que defender os pequenos agricultores das garras dos grandes fazendeiros que |
se tornam senhores de tudo e de todos, condenando os mais pobres á miséria. Falar da justiça e dos direitos humanos é também olhar para a forma como a propriedade rural está dividida e é gerida. O mundo tem, a este nível, um longo caminho a percorrer…
Tony Neves |
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“Pode ouvir o programa Luso Fonias na rádio SIM, sábados às 14h00, ou em www.fecongd.org. O programa Luso Fonias é produzido pela FEC – Fundação Fé e Cooperação, ONGD da Conferência Episcopal Portuguesa.”
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São João Crisóstomo lembra com vigor: «Não fazer os pobres participar dos seus próprios bens é roubá-los e tirar-lhes a vida. Não são nossos, mas deles, os bens que aferrolhamos». «Satisfaçam-se, antes de mais, as exigências da justiça e não se ofereça como dom da caridade aquilo que é devido a título de justiça» (Catecismo da Igreja Católica, 2402)
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