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Foto da capa: Lusa. Foto da contracapa: Agência Ecclesia
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Papa apela à Conversão[ver+]
Uma Quaresma para os mais novos
1.º aniversário do pontificado
D. Pio Alves|João Aguiar Campos|Rosa Lima|José Moreira|José Manuel Pureza|Tony Neves
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Um ano de graça |
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João Aguiar Campos Secretariado Nacional das Comunicações Sociais |
Assinala-se, no próximo dia 13 deste mês de Março, o primeiro aniversário da eleição do Papa Francisco. É natural, por isso, que nestes dias se faça o balanço de um ano de pontificado. Não prevejo críticas acesas, dentro ou fora dos muros da Igreja. Pelo contrário, entendo que o estado de graça de Francisco vai sentir-se nos comentários; mesmo que um ou outro possa esboçar, timidamente, algum desencanto por uma qualquer reforma ainda não operada ou pelo ritmo da renovação. Não falta, de facto, quem deseje ver na Igreja a dinâmica de uma multinacional, cuja Administração reforma sistemas e infra-estruturas, respondendo à concorrência e às ondas do mercado. Para estes, o Papa é um CEO vestido de branco, mais que um pastor cuja tarefa é confirmar na fé os seus irmãos e ajudá-los a abrir inteligência e coração ao fogo do Espírito. Visto nesta última perspectiva, penso que este primeiro ano do pontificado de Francisco foi um ano de graça: os seus gestos e palavras têm-nos reconduzido ao essencial: o amor de Deus e a sua misericórdia para com todos. Por isso, a tarefa da Igreja é viver a alegria deste amor e propô-lo a quantos o desconheçam -- com uma urgência apaixonada e incarnando nas situações deste tempo; tocando e deixando-se tocar; desprendendo-se de peias administrativas que atrasam a pastoral. |
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Não podemos admitir que nos roubem a força missionária – alerta o Papa na Exortação “A alegria do Evangelho”, que constitui o seu verdadeiro programa. E aí nos diz como salvaguardar essa força: vivendo uma espiritualidade missionária e não fazendo dos deveres um apêndice; centrando-nos em Deus e não no relativismo das seguranças humanas; rejeitando o egoísmo que afasta a entrega; actuando pelas razões certas e não vivam obcecados pelo resultado imediato. Definitivamente, vivendo a fraternidade e a comunhão e empenhando-nos na revolução da ternura – centrados no anúncio explícito de Jesus como Senhor.
Neste ano, o Papa Francisco não se limitou, porém, a dizer. Ocupou-se, sobretudo, em mostrar como se chega ao coração |
dos homens e das mulheres deste tempo: fazendo-se próximo e – pelo menos para a sensibilidade de alguns – não temendo o “escândalo da normalidade”. Para os que pensam que a autoridade se alicerça na distância, Francisco revelou que a autenticidade e o encontro valem definitivamente mais. Tudo o que disse e fez na Jornada Mundial da Juventude, na deslocação a Lampedusa, nos seus percursos e paragens na Praça de S. Pedro, tal como nas breves homilias matinais em Santa Marta são disso eloquente exemplo. Falando simples e claramente, o Papa tem mostrado a força suave de um apaixonado por Deus e pelas pessoas. E a verdade é que, olhando-o, o mundo está a perceber mesmo o que Francisco não diz! |
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Papa Francisco usou chapéu militar alpino durante a audiência geral de quarta-feira © Créditos: noticias.uol.com.br |
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- “A todos os sonhadores do mundo que estão a ver esta noite, Venezuela, quero dizer-lhes: estamos aqui por vocês. E enquanto lutam para que vossos sonhos se tornem realidade, para viver o impossível, estaremos a pensar em vocês”, Jared Leto, cerimónia de entrega dos Óscares de Hollywood, 02.03.14
- “O objetivo da presença russa no território é dar às pessoas o poder para decidir o seu destino, seja em que região for. Não queremos intervir, mas acreditamos que todos os ucranianos devem ter os mesmos direitos para moldar o futuro do seu país.”, Vladimir Putin, presidente da Rússia, jornal “Público”, 04.03.14
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- “Houve uma mudança de linguagem que não tem a ver só com as palavras mas também com gestos e comportamentos. O Papa Francisco conseguiu tocar o coração das pessoas e, de certa forma, superar distâncias e barreiras. O coração desta nova linguagem é o anúncio do amor de Deus, o tema da misericórdia e do perdão para todos. Enquanto antes nos meios de comunicação social difundia-se o preconceito de que a Igreja dizia sempre ‘não’, e não estava próxima das pessoas”. Padre Frederico Lombardi, diretor da Sala de Imprensa do Vaticano, Agência Zenit, 05.03.14
- “Os polícias amedrontados depressa serão ignorados mas nós não vamos deixar que isso aconteça, estamos aqui para lutar, para o que der e vier. Eles [Governo] podem ter a faca e o queijo na mão mas nós temos a razão. Eles podem estar no poder mas nós somos o poder”, Emília Martins, agente da PSP, jornal “Expresso”, sobre a manifestação das forças de segurança no Parlamento, 06.03.14 |
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Crianças e jovens de Santarém
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A caminhada quaresmal na comunidade católica de Santarém vai ter na solidariedade as suas imagens de marca, com iniciativas que envolverão mais de 8000 crianças e jovens, preparadas pelo Secretariado Diocesano da Catequese. Em entrevista concedida à Agência ECCLESIA, o diretor daquele organismo realça a urgência de potenciar a capacidade agregadora da fé e utilizá-la para atender às necessidades daqueles que, neste momento de crise, estão a enfrentar maiores dificuldades, quer económicas quer sociais. A partir desta Quarta-feira de Cinzas e durante os próximos 40 dias, as crianças e jovens da Catequese são desafiados, em momentos específicos, a colocarem a sua fé “em ação” e a cuidarem de quem mais precisa, “visitando os que estão sozinhos, os doentes, dando uma atenção especial aos colegas de escola ou do prédio”, explica Paulo Campino. Esta iniciativa, inserida na |
campanha que o Secretariado da Catequese preparou para a vivência da Quaresma e da preparação da Páscoa, inclui também “uma recolha de bens que depois vão ser oferecidos a instituições sociais das diversas paróquias da região. “A nossa intenção é que estes bens sejam levados à eucaristia da Ceia do Senhor e que possam fazer parte do ofertório da missa de Quinta-feira Santa, retomando aqui esta ideia de que o ofertório também tem como objetivo recolher bens para os mais pobres, e desta forma levando-os à celebração”, explica Paulo Campino. O itinerário de Quaresma preparado pelo setor de Catequese é subordinado ao tema “Encontrar Cristo, Amar o Irmão”, uma expressão que dá também uma ênfase especial à necessidade de revitalizar a fé e de tornar as celebrações deste tempo litúrgico mais ricas e participadas. Paulo Campino chama a atenção para o papel que as famílias, |
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que os pais e avós podem ter na mobilização das novas gerações, já que “é à família que compete educar para a fé, a catequese é apenas um meio para ajudar”. Aquele responsável apela ainda a todos os catequistas que procurem envolver os seus catequizandos nas celebrações da Quaresma e do Tríduo Pascal, que incentivem a sua presença, porque essas celebrações são “a melhor catequese” que os mais novos podem ter. “O tempo mais forte da vivência de
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um cristão é este, portanto não devemos fazer férias da catequese mas procurar com todas as nossas energias esforçarmo-nos para que os catequizandos participem de forma ativa”, conclui. As propostas que compõem a campanha da Diocese de Santarém para a caminhada da Quaresma e a preparação da Páscoa estão disponíveis na página do Secretariado da Catequese de Santarém na internet, em catequese-santarem.blogspot.pt. |
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Desafios para os religiosos em Portugal |
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A presidente da Conferência dos Institutos Religiosos de Portugal (CIRP) considera que a 29ª Semana de Estudos sobre a Vida Consagrada, que decorreu entre sábado e terça-feira em Fátima, lançou “muitos desafios” aos religiosos. “Daqui saíram muitos desafios, que vão desde a arte de saber que Deus cuida de nós, até nós próprios cuidarmos de nós, das nossas próprias comunidades, das nossas fraternidades, o cuidar que temos de ter com a ação pastoral” explica a irmã Lucília Gaspar, em declarações à Agência ECCLESIA. A Semana de Estudos sobre a Vida Consagrada foi “um momento de formação dos religiosos presentes” algo determinante “para aumentar a fidelidade de todos para com a sua missão”, realça Lucília Gaspar. O padre Abílio Pina Ribeiro, presidente da comissão organizadora da iniciativa revela à Agência ECCLESIA que “os consagrados por natureza, por função são cuidadores de outras pessoas” sendo “que uns se dedicam às crianças, outros |
aos jovens, aos doentes ou aos idosos” mas todos têm por base “uma maneira de cuidar humana e espiritualmente”. A CIRP iria participar na próxima Assembleia Geral da União das Conferências Europeias dos Superiores e Superioras Maiores (UCESM), entre 10 e 15 de março, “num sinal de comunhão para com as homólogas Conferências de Religiosos/as Ucranianas, numa afetiva e efetiva peregrinação àquela “periferia” que anseia justiça, paz e liberdade”, mas os líderes da UCESM viram-se obrigados a cancelar esta Assembleia, devido à instabilidade em que vive o país. |
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Bispo de Coimbra no Dia da Universidade |
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D. Virgílio Antunes pediu à Universidade de Coimbra que promova um “amadurecimento cultural” capaz de contrariar “assimetrias, divisões, atentados à liberdade e ao respeito pelo ser humano” e conduza à “justiça e à paz”. “Possa a Universidade de Coimbra com a sua longa e gloriosa história enraizada nos ideais humanistas de matriz judeo-cristã ser parte privilegiada neste caminho de construção da cidade dos homens”, referiu na homilia da missa do Dia da Universidade de Coimbra. Na capela de São Miguel, este sábado, o bispo de Coimbra disse que as universidades são os “principais agentes” da “purificação e amadurecimento cultural” enquanto lugares de “conhecimento e de cultura, autêntico protagonista do desenvolvimento civilizacional” “A história do passado, mas também a história recente tem sido prolixa em projetos de investigação e conhecimento, em programas de construção e desenvolvimento que carecem de respeito por Deus e que não servem o bem do homem”, |
recordou D. Virgílio Antunes, acrescentando que “a cidade dos homens continua ainda hoje muito longe de garantir a todos o respeito pela sua condição de pessoa, pela sua liberdade e pela sua dignidade”. D. Virgílio Antunes pediu à universidade que desenvolva o conhecimento capaz de construir a “cidade dos homens caraterizada pelo amor e pela paz, nos objetivos e nas realizações” e de “edificar um mundo unido e justo, onde as pessoas se compreendam e se respeitem”, onde “se viva e se trabalhe dando a primazia absoluta ao sentido dos outros”. “Edificar sem respeito pelo que há de mais sagrado, Deus e o homem, perverte o sentido original da construção e torna-se pernicioso”, advertiu. |
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A Agência ECCLESIA escolhe sete acontecimentos que marcaram a atualidade eclesial portuguesa nos últimos dias, sempre atualizados em www.agencia.ecclesia.pt
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Comunicar com arte e alegria |
Quaresma |
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D. Pio Alves Presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais |
“Rasgai o vosso coração” é o grito do profeta Joel (2, 13) num veemente apelo à penitência. Este aparente exagero é a premissa para a verdadeira realização pessoal. Rasgar o coração, romper as muralhas do egoísmo, é abrir as portas a Deus, senhor e pai, para que, com Ele, entre na nossa vida toda a criação e todos os Seus filhos. Temos que saber descobrir no normal ritmo diário da vida, na continuidade do ano litúrgico, um convite a começar de novo essa tarefa que nunca está terminada; uma tarefa que, pelo peso das nossas fragilidades, deixamos cair reiteradamente. A quaresma, que agora iniciamos, é uma dessas oportunidades, que não podemos desaproveitar. “Rasgai o vosso coração”, isto é, com palavras do Papa Francisco na sua Mensagem para este tempo litúrgico, percorramos “o caminho pessoal e comunitário da conversão”. “Este é o tempo favorável, este é o dia da salvação”, recorda S. Paulo (2Cor 6, 2). A verdade desta afirmação, que é de agora e é de sempre, consolida a decisão de regresso à casa paterna na certeza de que, como nos diz Joel, Deus “é clemente e compassivo, paciente e misericordioso, pronto a desistir dos castigos que promete”. Jesus Cristo (cf. Mt 6, 1-6. 16-18) desenha-nos o quadro do nosso modo verdadeiro de estar com Deus, connosco próprios e com o próximo. Um quadro que é de qualquer |
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tempo, mas que a Igreja aplica de modo especial ao tempo da quaresma: a oração, o jejum, a esmola. A simplicidade, a verdade, o segredo de Deus marcam todos esses cenários. O espetáculo, a ostentação, a consideração alheia minam o mérito de qualquer um desses gestos. O Papa Francisco, na sua Mensagem, propõe-nos a interiorização (e a exteriorização) da afirmação de S. Paulo (cf 2Cor 8, 9): Deus “fez-se pobre para nos enriquecer com a Sua pobreza”. “Cristo, o Filho eterno de Deus, igual ao Pai em poder e glória, fez-Se pobre; desceu ao nosso meio, aproximou-Se de cada um de nós; despojou-Se, |
«esvaziou-Se», para Se tornar em tudo semelhante a nós (cf. Fil 2, 7; Heb 4, 15)”. O caminho da pobreza de Deus marca a nossa identidade e o itinerário da nossa relação com Deus e com o próximo. Esvaziar-se, assumir realmente a nossa condição de criaturas, liberta-nos para a relação amorosa com Deus, descobre-nos o próximo, sempre igual a nós em dignidade. O amor ao próximo se não é verdadeiramente humano é qualquer coisa, mais ou menos instrumental, mas não é amor. Despojados de nós próprios, cidadãos do mundo de Deus, seremos, a sério, cidadãos do nosso mundo, concidadãos dos nossos contemporâneos. |
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13 de março de 2013. O registo do momento aconteceu com os meios possíveis. E todos eram ótimos para tirar uma fotografia à imensidão da Basílica Vaticana no momento em que surgia, na Varanda Central, um “desconhecido” vestido de branco. Bastava, naquele momento, uma certeza: era o Papa. Na Praça de S. Pedro, era impossível definir contornos do rosto que, passo a passo, se foi revelando diante da multidão. A não ser pelos ecrãs plantados entre aglomerados de pessoas. Naquele momento, mais do ver ou ouvir, foi possível sentir. Cada instante, vivido a partir das 20 horas e 22 minutos de Roma, eram grandes conquistas acerca do eleito, vindo “do fim do mundo”. As palavras, os gestos, o silêncio, a oração, as palmas…
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Emoções que fixaram a personalidade do Papa que se ia revelando, tal como se de uma fotografia se tratasse. Mais do que a fórmula latina que anunciava o nome do novo Papa, a sua proveniência e o nome que escolhera, bastaram quatro minutos de presença do Papa na distante loggia para cativar mulheres e homens que o fixavam lá longe e aqueles que o viam bem perto através dos media. Olhando à esquerda ou à direita, a revelação da pessoa que a partir desse dia era o Papa transparecia em cada rosto. E não mais parou essa surpresa. Como nesse momento primeiro, pelas palavras e pelos gestos. Uma semana de há um ano, mas sempre muito presente…
Paulo Rocha |
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Um ano para a HistóriaO historiador e professor universitário Paulo Fontes, da Universidade Católica Portuguesa, afirma que a popularidade do Papa Francisco, que celebra no dia 13 de março um ano de pontificado, se inscreve num movimento “de grande visibilidade do papado”, nas últimas décadas.
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Agência ECCLESIA (AE) – Enquanto historiador que balanço faz sobre o primeiro ano de pontificado do Papa Francisco? Paulo Fontes (PF) – Talvez a primeira coisa a dizer sobre este Papa é que a figura do Papa Francisco se inscreve num movimento de maior DUração, de grande visibilidade do papado, pelo menos na segunda metade do século XX. Quando olhamos desde Pio XII com as peregrinações para Roma, com Paulo VI com a ida a alguns lugares simbólicos como seja a Jerusalém, à Assembleia das Nações Unidas nos EUA passando pelas suas visitas a alguns países de |
diversidade religiosa como a India, etc. Quando olhamos para o Papa peregrino que foi João Paulo II um pouco por todo o mundo e a sua atenção ao diálogo inter-religioso, quando olhamos para algumas reflexões e gestos de Bento XVI, nomeadamente para aquele que ficará como o mais marcante, a sua própria resignação. Olhando para todos estes casos o Papa Francisco inscreve-se dentro deste movimento que concita uma grande atenção por parte de um mundo cada vez mais numa lógica global e numa lógica comunicacional muito forte. |
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AE – Depois da surpresa com a resignação de Bento XVI havia muita expetativa em saber o que viria a seguir? PF – Francisco correspondeu por um lado a uma expetativa muito grande que havia e que tinha a ver por um lado com algum desencanto e críticas muito acesas que no final do pontificado de Bento XVI se tinham concentrado sobre a maneira não tanto do Papa mas da cúria romana, e por via dele do lugar do papado, na forma como foram geridos alguns dossiers. Nomeadamente nas questões de escândalos ligados a casos de pedofilia, sobretudo nos EUA e na Irlanda e depois a gestão do Instituto das Obras Religiosas, tudo isso gerava críticas muito fortes o que submeteu o papado de Bento XVI a um desgaste na sua fase final muito grande por isso havia uma expetativa relativamente ao modo em saber como quem lhe ia suceder ia reagir a isso e que perspetivas ia trazer. |
AE – Francisco disse no momento da sua eleição que vinha ‘do fim do mundo’. Até que ponto a sua origem e a sua vivência latina marcam o seu pontificado? PF – O Papa Francisco é marcado desde logo pela sua origem, vem de uma zona, de um continente de grande tradição e presença dos cristãos, e uso aqui expressamente a palavra cristãos porque existe naquela zona uma cristandade muito atravessada pelo confronto e pela diversidade entre setores católicos, evangélicos e protestantes tradicionais. A América, onde fica a Argentina, é um continente em grande ebulição e emergência com questões novas, a posicionar-se de novo no mundo global”. Por outro lado Francisco é marcado pela sua postura pessoal e creio que é isso que tem concitado uma grande atenção e diria até adesão por parte de muitos setores não só católicos mas da opinião pública em geral”. |
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AE – Como se explica essa atenção generalizada? PF – Explica-se pelo seu posicionamento do ponto de vista comunicacional e do entendimento que ele faz do lugar do papado, ele coloca-se como um testemunho de um crente, de alguém que nos gestos que têm, naquilo que diz, se |
envolve, parte de si e da sua experiência numa linguagem de grande proximidade. E isso transmite a muitas das pessoas um sentimento de autenticidade na sua comunicação e de facilidade de empatia num grande sentido de humanidade.
Por outro lado eu diria que Francisco através do seu |
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discurso, no seu apelo ao serviço da missão da Igreja acabou por recentrar o papel do papado seja do ponto de vista da Igreja como do ponto de vista da sociedade, do mundo global. As suas atitudes mostram que o papado está ao serviço da Igreja no serviço e na terminologia teológica e pastoral católica do anúncio da Boa Nova de Jesus Cristo, ou seja na perspetiva de servir esse movimento de evangelização com alegria e com esperança como ele diz. E, portanto, trazendo logo aí um olhar mais fresco e atento às periferias por um lado e por outro aos dinamismos de humanização que atravessam a própria humanidade.
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AE – Que análise faz à primeira exortação apostólica ‘Evangelii Gaudium’ (A Alegria do Evangelho) deste Papa?
PF – É curioso que Francisco vá buscar referências de vários pontos da tradição da Igreja, citando não apenas por exemplo São Tomás de Aquino mas citando também a exortação apostólica ‘Evangelii nuntiandi’ de Paulo VI, que se centra muito no tema da evangelização. Também muito interessante é ver a ideia que ele tem sobre qual deve ser o papel da Igreja diante dum mundo cada vez mais global. E aí a reflexão do Papa sobre a economia global, o sistema financeiro internacional e a sua desregulação são alvo de palavras muito fortes e contundentes expressas por ele na exortação apostólica ‘A Alegria do Evangelho’. E isso criou grandes expetativas na maneira como as Igrejas depois à escala local vão ser capazes de corresponder a esta expetativa de renovação em cada lugar, em cada diocese, em cada continente. |
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AE – Este primeiro ano de pontificado fica também marcado pela convocação do Sínodo dos Bispos para abordar o tema da família? PF – A convocação do Sínodo dos Bispos sobre o tema da família é outro dos pontos importantes neste ano de pontificado porque veio ao encontro também de expetativas porque se essas questões relativas ao entendimento plural e contraditório entre a doutrina e as vivências, entre a proposta cristã e muitas das vivências sociais, culturais em geral não existisse não teria havido o movimento de resposta que houve nesta preparação do próximo Sínodos dos Bispos.
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AE – Um ano depois e analisando os pontos principais do pontificado de Francisco até agora, que se pode esperar do futuro? PF – Resta saber, e penso que essa é uma questão é muito cedo ainda para avaliar, como é que o todo da Igreja, desde cada cristão, cada comunidade à escala local até às dioceses, aos vários episcopados locais e aos vários organismos da Igreja no seu todo, inclusive a Cúria Romana que o Papa Francisco pretende reformular e já iniciou passos |
nesse sentido, como é que vão corresponder a este desejo de renovação, como é que isso se vai traduzir na tal necessidade de conversão pastoral da Igreja e por outro lado de expressão numa lógica de empenhamento e presença cívica dos cristãos enquanto crentes na sociedade retomando para hoje uma teologia chamaríamos de política, de valorização desse empenho dos cristãos na cidade para anunciar com alegria e com esperança a palavra de Jesus Cristo. |
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Papa recusa culto de personalidade |
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O Papa concedeu uma entrevista ao jornal italiano ‘Corriere della Sera’, publicada esta quarta-feira, na qual manifesta o seu desacordo com o que qualifica como “interpretações ideológicas” do seu pontificado, iniciado a 13 de março de 2013. “Gosto de estar com as pessoas, junto a quem sofre, ir às paróquias; não me agradam |
as interpretações ideológicas, uma certa mitologia do Papa Francisco, como quando se diz, por exemplo, que [o Papa] sai do Vaticano, à noite, para dar de comer aos sem-abrigo, na Avenida Ottaviano. Nunca pensei nisso”, refere, em resposta a uma questão sobre a ‘franciscomania’. Francisco considera que a sua representação como “uma espécie de super-homem, uma espécie de estrela”, lhe parece “ofensiva”. O primeiro pontífice sul-americano foi eleito pela revista Time como ‘personalidade do ano’ de 2013. “O Papa é um homem que ri, chora, dorme descansado e tem amigos, como todos. Uma pessoa normal”, precisa Francisco. Neste contexto, revela que mantém o hábito de telefonar a quem se lhe dirige, embora agora seja “mais difícil”, e dá como exemplo uma senhora de viúva, de 80 anos, que lhe escreveu quando perdeu o filho. “Telefono-lhe todos os meses. Ela fica feliz, eu faço o meu papel de padre, que me agrada”, explica. |
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Francisco elogia o seu predecessor, Bento XVI, frisando que o Papa emérito “não é uma estátua num museu, é uma instituição”, que não mereceria “acabar numa casa de repouso”. “Ele é discreto, humilde, não quer perturbar. Falamos disso e decidimos juntos que seria melhor que visse pessoas, que saísse e participasse na vida da Igreja”, adianta. A entrevista aborda, entre outras questões, os casos de abusos sexuais por membros do clero, com o Papa a afirmar que “ninguém fez mais" do que a Igreja na luta contra a pedofilia, considerando-a "talvez a única instituição pública a reagir com transparência e responsabilidade" nesta matéria. “Os casos de abuso são terríveis porque deixam feridas profundíssimas. Bento XVi foi muito corajoso e abriu um caminho e a Igreja fez muito, nesta estrada, talvez mais do que todos”, sustenta. |
Francisco é questionado sobre a sua forma de governar a Igreja e, em particular, sobre o facto de aparentemente decidir “sozinho”. “O Papa não está só no seu trabalho, porque é acompanhado e aconselhado por muitos, seria um homem só se decidisse sem ouvir ou fingindo ouvir. Há um momento, contudo, quando se trata de decidir, de assinar, no qual está só com o seu sentido de responsabilidade”, revela. Admitindo que não gosta de “balanços”, Francisco adianta que este primeiro ano de pontificado começou sem “qualquer projeto de mudança da Igreja”. “Não esperava esta mudança de diocese, digamos assim. Comecei a governar procurando colocar em prática o que surgiu nos debates entre cardeais nas várias congregações [pré-conclave]”, sublinha. O Papa renovou as suas críticas |
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à globalização económica e financeira, lamentando que o “dinheiro” tenha tomado o lugar central de cada pessoa. É verdade que a globalização salvou muitas pessoas da pobreza, mas condenou muitas outros a morrer de fome, porque se tornou seletiva com este sistema económico”, assinala Francisco. O Papa explica que a decisão de centrar as próximas assembleias do Sínodo dos Bispos nas questões da família derivou da “crise muito séria” que esta atravessa. “Os jovens casam-se pouco, há muitas famílias separadas nas quais o projeto de vida comum falhou, os filhos sofrem muito: temos de dar uma resposta, mas para isso é preciso refletir muito em profundidade”, assinala. Neste contexto, Francisco reafirma que o matrimónio é “entre um homem e uma mulher” e que os Estados laicos podem querer regular as outras “situações de convivência”. O Papa retoma a sua reflexão sobre a necessidade de uma maior presença das mulheres nos “lugares de decisão da Igreja”, um tema que diz estar em |
“aprofundamento teológico”.
Em relação à contraceção e ao planeamento familiar, Francisco elogia a “genialidade profética” de Paulo VI, que há meio século assinou a encíclica ‘Humanae Vitae’, que diz ter funcionado como um “travão cultural”.
A entrevista revela uma troca de correspondência entre o Papa e o presidente, da China, e que os próximos destinos das viagens pontifícias serão “a Terra Santa, a Ásia e a África”. Francisco diz que não tem saudades da Argentina, embora gostasse de ir visitar a sua irmã, que se encontra doente. “Gostaria de vê-la, mas isso não justifica uma viagem à Argentina: ligo-lhe por telefone e isso basta. Não penso ir lá antes de 2016, porque já estive na América Latina, no Rio de Janeiro”, recorda o Papa. Jorge Mario Bergoglio, de 77 anos de idade, foi eleito como sucessor de Bento XVI a 13 de março do último ano, após a renúncia do agora Papa emérito. Francisco é o primeiro Papa jesuíta na história da Igreja e o primeiro pontífice sul-americano. Em doze meses, o Papa argentino visitou o Brasil (Rio de Janeiro |
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e Aparecida) e realizou três viagens à Itália, incluindo uma passagem pela ilha de Lampedusa. Entre os principais documentos do atual pontificado estão a encíclica ‘Lumen Fidei’ (A luz da Fé), que recolhe reflexões de Bento XVI, e a exortação apostólica ‘Evangelii Gaudium’ (A alegria do Evangelho), tendo ainda sido convocado um |
Sínodo sobre a Família, que vai decorrer em duas sessões: uma extraordinária em 2014 e outra ordinária, em 2015. Francisco criou uma Secretaria para a Economia e um Conselho de Cardeais, com membros dos cinco continentes, para o aconselharem no Governo da Igreja e na reforma da ‘Constituição’ do Vaticano, aprovando nova legislação para regular a atividade financeira da Santa Sé. |
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Uma Igreja mais de irmãos,
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O prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, diz que o Papa Francisco está a construir uma Igreja Católica mais “próxima” das pessoas e menos “pesada” nas suas estruturas. Em declarações concedidas à Agência ECCLESIA, no âmbito do primeiro ano do pontificado do Papa argentino que vai ser assinalado dia 13 de março, o cardeal João Braz de Avis realça que Jorge Mario Bergoglio “trouxe um ar novo à Igreja”, em primeiro lugar devido à sua postura acessível e à sua autenticidade. “As pessoas amam o Papa porque ele está próximo, não tem duas caras, não está a viver um papel, ele é o que diz ser”, salienta o cardeal brasileiro, que fala depois do seu contacto pessoal com Francisco. A marcação de uma simples audiência, que antes tinha de passar por uma multiplicidade de pessoas e processos, hoje é resolvida através de “um contacto telefónico, com o secretário do Papa”. |
“A relação com o Papa tornou-se muito simples, ele não trata as pessoas como se fossem funcionárias, ele acredita nas pessoas, é tudo mais fácil e isso indica o amor que o Papa tem pela Igreja e pela Cúria Romana”, sublinha D. João Braz de Avis. A reforma da Cúria Romana tem sido uma das apostas mais presentes no pontificado do Papa Francisco, tocando não só as estruturas e ministérios da Santa Sé mas também o coração dos cardeais, com apelos a uma mudança de mentalidade. O prelado brasileiro lembra particularmente a mensagem que Francisco dirigiu aos membros do Colégio Cardinalício, a 23 de fevereiro último, depois do primeiro consistório do seu pontificado, em que criou 19 novos cardeais. “Todos sabem que existem coisas que têm de ser corrigidas, carregaram a verdade nos ombros mas sentem-se felizes porque sabem que é por esse lado que têm de ir”, salienta o prefeito |
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da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica. Para aquele responsável, a mensagem do Papa pretende ajudar a Igreja a “voltar” a ser uma “família, mais de irmãos, menos de classes, uma Igreja mais comunhão, mais próxima das pessoas, que não se escandaliza com um erro mas que ajuda a resolver aquele erro”. De acordo com D. João Braz de |
Avis, durante este primeiro ano de pontificado, ficou no Vaticano a sensação de que a Igreja Católica está a ser alvo de uma “renovação profunda”. Olhando para as alterações que Francisco já concretizou, aquele responsável acredita que as comunidades católicas ainda vão assistir no futuro a “muitas coisas novas”. |
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O Papa e a Economia de Mercado |
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Muitos dos que defendem mais défice e mais dívida são os mesmos que elogiam a parte da Exortação apostólica Evangelli Gaudium (A Alegria do Evangelho) onde Francisco denuncia a economia – de exclusão e desigualdades – que mata. Daí os louvores à crítica do Papa à “autonomia absoluta dos mercados” e ao seu apelo aos políticos para que consertem o que a economia andou a destruir. Onde parará a distinção, da Centesimus annus, entre capitalismo bem e mal entendido? Que tanto ajudaria a perceber por que a pobreza não é um fenómeno contemporâneo e por que as economias de mercado fizeram mais pela diminuição da pobreza a nível mundial, do que o poder político e todos os esforços que foram desenvolvidos no passado. A impressão com que se fica é que a Igreja continua sem entender a natureza do Estado e parece ter aprendido pouco com os excessos estatais do século XX, que continuam no presente. Certamente consequência da concepção moderna da Igreja |
e do Estado como se fossem duas sociedades perfeitas. Só assim se explica a identificação com o Estado em tantos sectores da Igreja, ainda que se critique a razão de Estado. E se compreende que num documento centrado numa nova evangelização – capaz de atender mais aos pobres e aos excluídos – esteja ausente a distinção entre a solidariedade como virtude e como sentimento. Falha que nos impede de ver que esta conduz à postulação do Estado de Bem-estar em que a solidariedade se organiza burocraticamente à custa do orçamento do Estado e dando azo a todo o tipo de abusos, fraudes e corrupções. Enquanto a virtude da solidariedade leva à generosa realização de actuações concretas de ajuda, material, moral cultural, com sacrifício pessoal, de que está repleta a história da humanidade, sobretudo quando a solidariedade burocrática não impede a virtude da solidariedade pessoal. O que foi feito do legado de uma Igreja que vivia do dízimo voluntário e que durante centenas de anos foi a principal |
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e talvez a única instituição de ajuda os pobres sem necessidade de cobrar ou aumentar impostos aos cidadãos? Não fossem tais omissões e seria fácil relacionar o desemprego com o excesso de regulamentações e perceber que o muito criticado sistema financeiro, longe de ser uma criação do mercado, é um sistema altamente regulado e dependente do Estado. E também perceber que, ironicamente, são justamente os países mais relutantes em aceitar a globalização os que mais se ajustam aos exemplos de tragédia do mundo actual. Tragédia resultante da dificuldade de nos darmos conta de que a solidariedade é um valor que o governo não pode impor, só promover ou facilitar. Não é possível tornar os pobres prósperos através de legislação, nem multiplicar a riqueza dividindo-a. Torna-se difícil perceber como Domingo de Soto (1494-1560), |
apoiando-se em Santo Agostinho, foi capaz de ver que “os vícios dos comerciantes não são próprios do comércio, mas das pessoas que o exercem.” E que, hoje, 460 anos depois, uma parte tão importante da Igreja continue incapaz de distinguir – tanto no mercado económico como político – entre as regras de jogo e os jogadores. Termino com Philip Both (em “Has Pope Francis misunderstood the market economy?”, IEA): “devemos todos ter sempre presente a necessidade da actividade económica estar embebida na virtude, de modo a assegurar que os mercados sirvam os pobres e não os interesses instalados. (...) No entanto, ao contrário da maioria de outros aspectos da Exortação e, por exemplo, da Caritas in veritate, é provável que as secções sobre economia gerem mais calor do que luz e mais conflito do que síntese.”
José Manuel Moreira Professor Universitário |
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Um Papa normal |
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Na última reunião para escolha das figuras do ano – uma tradição na redacção do Expresso que se traduz, normalmente, em horas de acalorada discussão em plenário– a personalidade internacional do ano foi escolhida em menos de um fósforo. E por unanimidade. Nos 25 anos que levo como jornalista desta casa, nunca a tal tinha assistido. E duvido que se repita. Pode parecer estranho, começar um texto sobre o primeiro ano de pontificado com um exemplo tão «doméstico». Se calhar é. Mas, na verdade, o episódio marcou-me. |
Tanta unanimidade ao mesmo tempo, pareceu-me ao mesmo tempo, estranha e muito significativa. Nestas eleições do Expresso, há sempre divergências, discussão de personalidades, confronto de ideias. Com o Papa Francisco, nada. Ateus e agnósticos, concordaram. Esquerda e direita, também. Novos e velhos jornalistas, que sempre falam tanto, calaram-se. Há um mistério, sem dúvida, na figura deste Papa. Desde logo, por ser alguém que consegue agradar mesmo a tudo e todos. E isto é ainda mais bizarro no reino dos media –tradicionalmente crítico e distante das figuras da Igreja – onde o Papa ganhou uma |
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rápida e inegável simpatia. Francisco foi figura internacional do ano no Expresso. Mas também na Time ou na «Visão». Ou na revista «Sábado», que abriu pela primeira vez na sua história a corrida à figura de 2013 e… escolheu o novo Papa. Do outro lado do Oceano, mesmo a revista ‘gay’ «Advocate» achou Francisco digno de destaque. Isto é bom? É óptimo, sem dúvida. Mesmo tendo em conta os que já fazem presságios sobre a queda da popularidade do Papa. Ou os que antecipam o desgosto – e a revolta - do mundo, quando perceber que a doutrina da Igreja não desaparece num pontificado (grande surpresa, hã?) A verdade é que Francisco já nos fez ganhar a todos. E à Igreja em primeiro lugar. Não apenas pelo seu sorriso irresistível. Ou pela sua inteligência clara, que se vê nos gestos e nas palavras. Ou ainda pelo seu exemplo de simplicidade. O grande contributo do Papa, até agora, foi trazer a Igreja para a terra. Aproximá-la dos homens e do mundo, |
para os quais se dirige. Porque foi aqui que Cristo se situou. E é aqui que tem de continuar. E, infinitamente melhor do que eu, o Papa sabe explicar a sua missão, definindo exactamente a sua missão como sucessor de Pedro. Na sua última entrevista, ao Corriere della Sera, afirma: «Gosto de estar entre as pessoas, junto de quem sofre, de andar pelas paróquias. Não gosto das interpretações ideológicas, de uma certa mitologia do Papa Francisco. Quando se diz, por exemplo que saio de noite do Vaticano para andar a dar comida aos sem-abrigo na rua. Nunca me passou isso pela cabeça! Sigmund Freud dizia, se não me engano, que em cada idealização há uma agressão. Definir o Papa como uma espécie de super-homem, uma espécie de estrela, parece-me ofensivo. O Papa é uma homem que ri, que chora, que dorme tranquilo e que tem amigos. É uma pessoa normal».
Rosa Pedroso Lima Jornalista |
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Um cristão como Papa |
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Do fim do mundo, disse ele. E logo aí se fez a primeira das diferenças essenciais. Um Papa trazido do fim do mundo, a quebrar, portanto, o plurissecular eurocentrismo e os seus vícios e fantasmas. A catolicidade mundial exigia um pastor que trouxesse no coração e na mente a condição, largamente maioritária, da periferização económica e da subalternidade política. Um Papa que desse expressão à pobreza como condição estrutural de povos inteiros. Só um pastor assim, que trouxesse com ele a centralidade dos pobres no discurso e na prática, estaria em condições de ter autoridade no testemunho dos gestos simples de desprendimento quotidiano e de fazer da conversão a um estilo de vida pobre a prioridade de todo o povo de Deus. O discurso de Francisco ao longo deste ano foi totalmente fiel a esta conversão necessária. Tudo estará resumido no nº 198 da Evangelii Gaudium: “desejo uma |
Igreja pobre para os pobres. Estes têm muito para nos ensinar. (…) nas suas próprias dores conhecem Cristo sofredor. É necessário que todos nos deixemos evangelizar por eles. A nova evangelização é um convite a reconhecer a força salvífica das suas vidas e a colocá-los no centro do caminho da Igreja.”. E, por ser assim, Francisco deu mais densidade à crítica à fetichização do mercado: “Não podemos mais confiar nas forças cegas e na mão invisível do mercado. (…) a economia não pode mais recorrer a remédios que são um novo veneno, como quando se pretende aumentar a rentabilidade reduzindo o mercado de trabalho e criando assim novos excluídos.” (EG, 204) Feita de palavra, a conversão à centralidade dos pobres faz-se também de gestos. A abdicação de viver nos aposentos papais, o convívio com os sem-abrigo, a compaixão para com os doentes – tudo foi bem compreendido nesse sentido por um mundo carente da força do exemplo de vida. |
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Como bem compreendida foi a tónica na colegialidade do governo da Igreja, o “nunca mais” à cumplicidade do Banco Ambrosiano com a lavagem de dinheiro e o capitalismo de casino e, mais que tudo, a mudança do registo prescritivo do juíz para o registo cuidadoso do pastor.
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Disse-me há dias um amigo pouco dado a simpatias com a Igreja: “Os cardeais enlouqueceram – escolheram um cristão para Papa”. O acolhimento que Francisco teve neste ano de pontificado exprime que, bem vistas as coisas, não é senão isso que o mundo espera da Igreja neste tempo.
José Manuel Pureza Professor Universitário |
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O Papa pelo qual os cristãos rezaram |
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A responsável pelo setor da catequese do Secretariado Nacional da Educação Cristã (SNEC), Cristina Sá Carvalho acredita que o Papa Francisco tem “uma presença forte e reveladora” que corresponde àquilo que os cristãos desejavam “para o mundo e para a Igreja”. “A presença do Papa é tão forte, tão reveladora e vem ao encontro daquilo que seriam as nossas expetativas, daquilo que desejamos para o mundo e para a Igreja que tem sido um gozo permanente, uma alegria” pedindo apenas “a cada um a generosidade da comunhão entre todos os cristãos”, revela Cristina Sá Carvalho em declarações à Agência ECCLESIA. Para a responsável pelo setor da catequese do SNEC “o Papa Francisco traz a atualidade à vida da Igreja, sente-se que nas mãos, no coração daquele homem os problemas concretos das pessoas e da vida quotidiana estão bem entregues”. Cristina Sá Carvalho nota ainda que com Francisco “chegou uma renovação típica da América Latina, uma fé mais alegre” |
falando de uma forma “simples” para que “as pessoas o possam entender”. “Ele centra o seu discurso, a sua palavra na conversão da pessoa, no sentido espiritual da religião e é nesse sentido que ele vê a Igreja e o sentido que deve ter a transformação da Igreja que deve ser um corpo de gente que caminha conforme Cristo, ao encontro e de mão dada com Cristo”, acrescenta. A psicóloga teve a oportunidade de cumprimentar o Papa Francisco a 27 de setembro a propósito do Congresso Internacional de Catequese que decorreu no Vaticano.A responsável pelo setor da catequese do Secretariado Nacional da Educação Cristã, aproveitou o momento para convidar o Papa Francisco para vir a Fátima em 2017, data em que se assinala o Centenário das Aparições a que ele respondeu afirmativamente. “A sensação que dá é que ele tem a capacidade de mesmo no meio de uma multidão se concentrar em cada pessoa, é alguém que valoriza o outro a esse ponto, |
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ouve o que lhe é dito e a grande surpresa que tive é que efetivamente responde ao que lhe dizemos.” Analisando a exortação apostólica ‘A Alegria do Evangelho’ Cristina Sá Carvalho lembra, em declarações à Agência ECCLESIA que “o Papa estudou psicologia” e por isso nota-se |
“que ele conhece profundamente a pessoa humana, na exortação ele faz algumas elaborações que denotam um conhecimento aprofundado de linhas de investigação de raiz psicológica e isso também o ajuda a olhar para as pessoas com transparência”. |
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Quaresma, tempo de conversão |
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O Papa Francisco assinalou o início da Quaresma presidindo à Missa de Quarta-feira de Cinzas, em Roma, na qual alertou para o risco de “esquecer” os sofrimentos dos outros. “Só quando as dificuldades e sofrimentos dos nossos irmãos nos interpelam é que podemos começar o nosso caminho de conversão para a Páscoa. É um itinerário que compreende a cruz e a renúncia”, declarou, na homilia da celebração que decorreu na Basílica de Santa Sabina. O começo do tempo litúrgico da Quaresma, que antecede as celebrações pascais, foi marcado por uma procissão, nas ruas da capital italiana, desde a igreja de Santo Anselmo, acompanhada por cardeais, bispos, religiosos e leigos. Francisco precisou que a “conversão”, uma das mensagens centrais destes 40 dias, “não se reduz a formas exteriores ou propósitos vagos”, mas deve levar a “desafiar as rotinas”. “Vivemos num mundo cada vez mais artificial, numa cultura do fazer, do útil, no qual excluímos Deus do nosso horizonte, sem |
nos apercebermos”, advertiu. O Papa passou em revista três “elementos” tradicionalmente ligados à Quaresma: a oração, o jejum e a esmola. “A Quaresma é tempo de oração, de uma oração mais intensa, mais assídua, mais capaz de assumir as necessidades dos irmãos, de interceder diante de Deus por tantas situações de pobreza e sofrimento”, disse. Francisco alertou para a prática de um “jejum formal”, que não leva à “escolha de uma vida sóbria, que não desperdiça, que não descarta”. Em relação à esmola, o Papa destacou que este gesto simboliza a gratuidade, porque se dá “a alguém de quem não se espera receber algo em troca”. Durante a manhã, na audiência geral, Francisco afirmou que a humanidade se habituou a situações de miséria ou sofrimento humano e questionou os católicos sobre a “indiferença” da sociedade face a Deus. “Viver a fundo o Batismo significa que não podemos habituar-nos às situações de degradação e miséria que encontramos, ao caminhar pelas ruas das nossas cidades e dos nossos países”,
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alertou, na Praça de São Pedro. Francisco falou no risco de “aceitar passivamente certos comportamentos” e deixar de reagir às “tristes realidades” que rodeiam cada um. “Habituamo-nos à violência, como se fosse uma notícia diária normal; habituamo-nos a irmãos e irmãs que dormem na rua, que não têm um teto para se abrigar. |
Habituamo-nos a refugiados em busca de liberdade e dignidade que não são acolhidos como deveriam”, lamentou. “Habituamo-nos a viver numa sociedade que pretende deixar Deus de lado, na qual os pais já não ensinam aos filhos a rezar bem a fazer o sinal da cruz”, prosseguiu. |
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Papa desafia padres
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O Papa Francisco encontrou-se hoje no Vaticano com o clero de Roma, a quem desafiou a estarem perto das pessoas com uma atitude de “misericórdia” e de perdão. “O padre é um homem de misericórdia e de compaixão, próximo da sua gente e servidor de todos. Este é um critério pastoral que gostaria muito de sublinhar: a vizinhança. A proximidade e o serviço”, sublinhou, num encontro que durou cerca de uma hora, na sala Paulo VI. Segundo o Papa, cada padre tem de imitar Jesus, cuja vida era passada “nas ruas”, ao encontro de “quem quer que se encontre ferido na sua vida”, com “atenção”. “O horizonte alarga-se e vemos que estas cidades e estas aldeias não são apenas Roma e a Itália, mas são o mundo, as multidões infinitas são as populações de tantos países que estão a passar por situações cada vez mais difíceis”, observou. A intervenção começou com o Papa
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a manifestar a sua solidariedade aos membros do clero romano que foram acusados de estarem envolvidos em casos de prostituição infantil. “Fiquei muito tocado e partilhei a dor causada pelas acusações feitas contra um grupo de vós. Vi a dor das feridas destas feridas injustas: uma loucura”, afirmou, mostrando-se “publicamente ao lado do presbitério”. Francisco adiantou ainda que está a tratar do “afastamento” de um dos acusadores, que se encontra ao serviço diplomático da Santa Sé, por causa deste “ato grave de injustiça”. |
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Vida Consagrada: Responsável do Vaticano esteve em Portugal |
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A 29.ª Semana de Estudos de Estudos sobre a Vida Consagrada, promovida pela Conferência dos Institutos Religiosos de Portugal, contou com a presença do responsável pelo setor no Vaticano, o cardeal João Braz de Avis. Em entrevista à Agência ECCLESIA, esta terça-feira, no encerramento do evento em Fátima, o representante da Santa Sé falou acerca dos desafios atuais da Vida Consagrada e também do ano de 2015, que o Papa Francisco dedicou especialmente a todos quantos enveredaram pela via da “pobreza, castidade e obediência”. A iniciativa vai começar já a ser assinalada em novembro de 2014, para marcar o 50.º aniversário da publicação de documentos como os decretos “Perfectæ Caritatis”, sobre a renovação da vida consagrada, e “Apostolicam Actuositatem”, referente ao apostolado dos leigos. Até 2 de fevereiro de 2016, Dia Mundial da Vida Consagrada, vão decorrer “muitos eventos para os religiosos e religiosas, |
em Roma, nas dioceses, nos diversos continentes”, realçou D. João Braz de Avis. O prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica destacou a forma decidida como o Papa argentino “pegou” na proposta da realização desse projeto e a rapidez com que a “confirmou”. Segundo o prelado, a Santa Sé tem seguido com particular atenção o surgimento de “novas expressões de Vida Consagrada”: Novos “movimentos eclesiais, religiosos ou apostólicos” que, “de um modo geral, têm provocado um grande bem na Igreja”. D. João Braz de Avis recordou que a vocação de toda a vida consagrada é “sobretudo ajudar” a sociedade “a experimentar Deus". |
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A Agência ECCLESIA escolhe sete acontecimentos que marcaram a atualidade eclesial a nível internacional, nos últimos dias, sempre atualizados em www.agencia.ecclesia.pt
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Santa Sé divulga calendário do Papa até à Páscoa
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Audiência geral na Quarta-feira de Cinzas
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Judaica – 2ª mostra de cinema e cultura |
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De 27 a 30 de março próximo decorre a segunda edição da ‘Judaica – Mostra de Cinema e Cultura’ com todas as sessões programadas para o Cinema S. Jorge, em Lisboa. O objetivo primordial da mostra é o de trazer até a Portugal filmes recentes, na sua maioria inéditos entre nós, em géneros diversificados que vão do drama histórico à comédia, passando pelo documentário. Além da programação cinematográfica, com sessões ‘oficiais’, especiais e para escolas, são contempladas ainda propostas de partilha e debate em torno dos filmes, propostas literárias, musicais e gastronómicas. Entre os filmes a exibir na secção ‘oficial’, destaca-se ‘O Cardeal Judeu’, um filme originalmente concebido para televisão, em torno do qual se encontrarão o Padre José Tolentino de Mendonça, biblista e diretor do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura, e Eliezer di Martino, rabino na sinagoga Shaaré Tikva (Portas da Esperança) de Lisboa. A história é a de Jean-Marie Lustiger, nascido em Paris em |
1926 e filho de emigrantes judeus polacos, que manteve a sua identidade cultural judaica após converter-se ao catolicismo e de ser ordenado padre. Nomeado Arcebispo de Paris pelo Papa João Paulo II, em 1981, estabeleceu uma nova postura que respeitasse a sua identidade enquanto judeu católico, contribuindo, inequivocamente e apesar do algum mau estar provocando em setores de ambos os lados, para um entendimento sobre a pessoa una de Jesus Cristo, e da Igreja, na sua matriz judaica e cristã. Lustiger, de seu primeiro nome Aaron, que perdeu a mãe em Auschwitz, esteve em Lisboa em 2003, a convite do Patriarcado no âmbito da preparação do ICNE (Congresso Internacional para a Nova Evangelização. Aquando da sua passagem, em entrevista ao jornalista António Marujo (disponível na sua obra ‘Deus Vem a Público’), afirmou que ‘sem o judaísmo, o cristianismo ficaria truncado’ e que ‘do ponto de vista cristão, o problema da relação com o povo judeu é o teste da verdade do amor a Cristo e da fé. Não é um problema de relação com |
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alguém estrangeiro…’. Aprofundar o nosso conhecimento sobre a cultura, a história, a identidade e a atualidade judaica, também parte da nossa matriz portuguesa, com séculos de atualização a clamar desde as ténues impressões que ficaram, para muitos, dos manuais de história da escola ou, para outros, do que a indústria cinematográfica americana oferece – sem qualquer menorização das narrativas do holocausto, acha agora excelente oportunidade nesta mostra. Um novo ‘lugar do cinema’, de aprofundamento, encontro e partilha onde poderemos ainda conhecer o realizador libanês convidado Ziad Doueri; ‘A Última viagem de Petr Ginz’ - a extraordinária e comovente história verídica de um rapaz checoslovaco que, ao morrer num campo de concentração na II Guerra com apenas dezasseis anos, deixa um legado composto por cinco romances, uma multiplicidade de desenhos e pinturas e um diário sobre a ocupação nazi de Praga; ou, ainda, interrogar-nos sobre as possíveis origens da associação entre ‘Os Judeus e o Dinheiro’ |
que muitos de nós fazemos, num documentário de origem canadiana comentado por Richard Zimler, Manuela Franco e Jorge Martins. Margarida Ataíde |
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Passo a rezar na net |
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Como é sabido, iniciamos na passada quarta-feira, dia 5 de março, mais uma quaresma. Pensamos que uma das melhores formas de nos prepararmos para a Páscoa do Senhor, é através da oração e meditação pessoal. Apesar de já não ser a primeira vez que o aconselhamos, torna-se inevitável que, mais uma vez, façamos a sugestão de visita atenta e cuidada ao sítio deste extraordinário projeto católico nacional sustentado na internet. Este projeto inspirado no sítio pray-as-you-go (originalmente concebido pelos Jesuítas Ingleses) da responsabilidade do Apostolado da Oração, pretende “chegar à cultura da vida daqueles que rezam todos os dias e que, no encontro com Jesus Cristo, ganham força para transformar o mundo”. O conceito subjacente a este espaço virtual passa pela disponibilização de um ficheiro gratuito em formato de áudio, que pode ser guardado no computador e distribuído pelas diferentes plataformas e dispositivos |
(email, leitor de música digital, pen drive, smartphone, tablet, etc.). Este arquivo áudio é composto por “uma prece diária de 10 a 12 minutos, com música de fundo, introdução, uma leitura – normalmente o Evangelho do dia – e pontos de oração inspirados na espiritualidade de Santo Inácio de Loyola”. Logo na página inicial temos ao dispor os registos áudio das orações distribuídas pelos dias da semana de segunda a sexta, sendo ainda permitido a possibilidade de descarregarmos um ficheiro único que é composto por todas as orações dessa semana. No item “quem somos”, ficamos a conhecer a equipa que compõe este projecto da iniciativa do Secretariado Nacional do Apostolado da Oração, uma obra da Companhia de Jesus (jesuítas) que se dedica à promoção da oração pessoal. Em “Inácio de Loyola”, conhecemos um pouco da história da conversão deste Santo da Igreja. Na opção “músicas da semana”, descobrimos quais são as composições musicais que fazem parte da cada oração diária, para isso, encontramos todas |
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as informações relativas a cada música. Caso pretenda automatizar a descarga regular das orações diárias, basta efectuar a subscrição do podcast, que “em vez de irmos ao sítio buscar um ficheiro diária ou semanalmente, pode-se deixar o dispositivo de podcast (software) fazê-lo automaticamente”. Fica lançado o repto para que aceda diariamente, durante esta quaresma, a este espaço virtual, realizando assim a sua oração de uma forma diferente e bastante enriquecedora.
Fernando Cassola Marques |
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Libellus: A nova revista de música sacra |
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É sob o auspício de “cultura para cultura” que nasce a revista de música sacra «Libellus» que tem periodicidade semestral e pretende ser um alicerce musical nos tempos actuais. “Uma cultura do ser musical que se quer excelente ao serviço do agir cultural muito próprio e intrínseco da Igreja”, lê-se no texto introdutório. Com diferentes olhares musicais, «Libellus» reúne em si 12 composições inéditas de vários graus de complexidade e/ou simplicidade que estão ao alcance de um vasto número de pessoas quer tenham formação no âmbito musical ou não. Acima de tudo, nesta obra procura-se que na "música sacra, Deus seja sempre louvado de maneira compreensível à cultura contemporânea.” Esta publicação lança novo espaço aos compositores cujo reconhecimento é inegável e assina, também, as participações de novas vozes no contexto da composição sacra e litúrgica do panorama nacional. |
Do gregoriano à polifonia, dos jogos de timbres vocais aos acompanhamentos organísticos contrastantes, cabem em «Libellus» a diversidade e originalidade que vêm marcar, de forma decisiva, o panorama da música sacra em Portugal.
De forma sui generis, o editorial do primeiro número do «Libellus» abre com a conjugação dos diversos graus de perfeição em música sacra. Um olhar conciso que se deduz a partir do inexcedível poder de síntese da morfologia latina num passo de Santo Agostinho e nos leva numa viagem recheada de cenários e momentos que, de uma forma ou outra, serão algo familiares ao leitor. “Verdadeira ponte, de Cultura para Cultura, é esta que nos honramos de inaugurar sob o nome de Libellus Usualis. O nome alude a esse estojo precioso que é a colação da Missa e do Ofício num só livro, que se queria para uso frequentíssimo dos músicos ministros do culto. O diminutivo põe-se pela humilde aspiração
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à mímesis. Mas não deixa de ser também, da parte dos autores, uma tapeínosis merecedora do aplauso do seu público, a saber, todos aqueles que aspiramos ou trabalhamos para que, na Música Sacra, Deus seja sempre louvado |
de maneira compreensível à Cultura contemporânea”, lê-se na revista.
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II Concílio do Vaticano:
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A 04 de Dezembro de 1963, o Papa Paulo VI, sucessor de João XXIII, ao encerrar a segunda sessão do II Concílio do Vaticano, promulgou o primeiro documento oficial da grande assembleia: A Constituição sobre a Sagrada Liturgia «Sacrosanctum Concilium» (SC). O Papa evoca o carácter “laborioso e complicado” das discussões conciliares, mas rejubila com o nascimento da SC. O novo documento vai introduzir “algumas simplificações no culto, torná-lo mais compreensível aos fiéis e mais próximo da sua linguagem actual” (In: Fesquet, Henri «O Diário do Concílio», volume 1, página 356, Publicações Europa-América). No entanto, antes da «Sacrosanctum Concilium» ver a luz do dia, os padres conciliares tiveram muito trabalho preparatório. Em Outubro de 1960 foi constituída uma comissão, com 13 subcomissões, presidida pelo cardeal G. Cicognani e depois pelo cardeal A. Laraona, que elaboraram um documento apresentado à comissão central do Concílio, na Primavera de 1962. “O tema da renovação da Liturgia da Igreja ocupou 15 assembleias plenárias, tendo havido 326 intervenções orais, cerca de 600 escritas, resultando em centenas de emendas ao texto apresentado” (In: Morujão, Manuel «Ser Cristão à luz do Vaticano II, página 65, Editorial A.O. Braga). Um documento “profundamente inovador de
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hábitos seculares” teve uma unanimidade considerável. No livro «Vivre la foi avec le Concile Vatican II, Rey Mermet considera esta aprovação como “a maior reforma litúrgica de todos os tempos” e que foi também “a maior reforma dos próprios cristãos”. A relação final do Sínodo Extraordinário dos Bispos, em 1985, celebrando os 20 anos da conclusão do concílio convocado pelo Papa João XXIII, afirma que a “renovação litúrgica é fruto mais visível de toda a obra conciliar”. Para muitos cristãos, o II Concílio do Vaticano como que se resumiu à reforma litúrgica que pôs em andamento: “a Eucaristia e outros sacramentos tornaram-se acessíveis em língua comum; o sacerdote passou a celebrar voltado para o povo; o ambiente distanciante de mistério de uma celebração litúrgica tornou-se mais próximo e fraterno. A renovação litúrgica foi como que o fermento da renovação global de toda a Igreja” (In: Morujão, |
Manuel «Ser Cristão à luz do Vaticano II, página 66, Editorial A.O. Braga).
É o próprio João Paulo II que afirma, em Fevereiro de 1980, que existe, “de facto, uma ligação muito íntima e orgânica entre a renovação da liturgia e a renovação de toda a vida da Igreja. A Igreja não somente age, mas exprime-se também na liturgia e dela vive; e à liturgia vai buscar as energias para a vida”.
Se o II Concílio do Vaticano, que se concluiu há cerca de 50 anos, não tivesse feito “mais nada do que pôr em andamento a reforma litúrgica, só por isso ficaria na história. É que a vida litúrgica é um justo aferidor do nível da vida cristã de um pessoa ou comunidade”, escreveu o padre Manuel Morujão, na obra citada anteriormente. Por outro lado, Henri Fesquet escreveu “há que sacudir o pó imperial que se acumulou sobre a cátedra de São Pedro desde Constantino”. |
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Março 2014 |
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Dia 07
* Algarve - Alvor (Igreja da Misericórdia de Alvor) (18h00m) - Tertúlia sobre «Igrejas de Alvor: Singularidade, relação com o meio e turismo». |
* Aveiro - ISCRA - Início da acção de formação sobre «Desafios actuais à trilogia educativa: pais-filhos-escola» orientado por Dário Tavares, director pedagógico do Colégio de Mogofores.
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Dia 08
* Dia da Mulher. |
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Decorre este fim-de-semana no Centro Pastoral Paulo VI, em Fátima, o Encontro/Peregrinação Nacional da CPM Portugal com o tema «O casal na Igreja e no Mundo». O encontro destina-se a todas as equipas de CPM que queiram refletir sobre a temática, colocando o casal cristão no centro da vida em sociedade.
A diocese de Aveiro junta-se em celebração de ação de graças pelo ministério episcopal de D. António Francisco dos Santos este domingo, numa missa às 17h, na Sé Catedral. A 19 de março, pelas 21h00, vai decorrer a sessão pública de agradecimento com apresentação do livro ‘Diocese de Aveiro - Subsídios para a sua história’, da autoria de Monsenhor João Gaspar, no Auditório da reitoria da Universidade de Aveiro. O prelado em abril vai assumir a missão de bispo do Porto.
No próximo dia 9 de março o Papa Francisco dará início aos tradicionais exercícios espirituais da Cúria Romana que, este ano, têm uma novidade: vão decorrer fora do Vaticano, em Albano Laziale, localidade dos arredores de Roma.
No dia 13 de março celebra-se o primeiro ano de pontificado do Papa Francisco e na Sé de Lisboa vai haver um concerto de homenagem promovido pela Paulus Editora, Patriarcado de Lisboa e Rádio Renascença. Os Coros da Catedral de Lisboa e da Escola Diocesana de Música Sacra do Patriarcado vão ser dirigidos por Marco Frisina, compositor italiano e convidado especial para o concerto.
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Programação religiosa nos media |
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Antena 1, 8h00 RTP1, 10h00 Transmissão da missa dominical
11h00 - Transmissão missa
12h15 - Oitavo Dia
Domingo: 10h00 - O Dia do Senhor; 11h00 - Eucaristia; 23h30 - Ventos e Marés; segunda a sexta-feira: 6h57 - Sementes de reflexão; 7h55 - Oração da Manhã; 12h00 - Angelus; 18h30 - Terço; 23h57-Meditando; sábado: 23h30 - Terra Prometida. |
RTP2, 11h22
RTP2, 18h00
Terça-feira, dia 11 - Informação e entrevista a Alfredo Bruto da Costa sobre o pontificado do Papa Francisco; Quarta-feira, dia 12 - Informação e entrevista ao cónego João Aguiar sobre o pontificado do Papa Francisco; Quinta-feira, dia 13 - Informação e entrevista a António marujo sobre o pontificado do Papa Francisco; Sexta-feira, dia 14 - Apresentação da liturgia dominical pela irmã Luísa Almendra e cónego António Rego
Antena 1 Domingo, dia 09 de março, 06h00 - Proposta dos Missionários da Consolata na Quinta do Castelo. Comentário à mensagem do Papa para a Quaresma. Atualidade vista por José MIguel Sardica. Segunda a sexta-feira, 22h45 - 10 a 14 de março - Um ano de pontificado do Papa Francisco: análise de Alfredo Teixeira, Eugénio Fonseca, D. José Ponce de Léon, Cristina Sá Carvalho e Frei Francisco Sales.
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O que é o pecado?
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Ano A - 1º Domingo da Quaresma |
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Caminhar das cinzas para a luz pascal |
Estamos no primeiro Domingo da Quaresma, tempo de caminhada de vida, levados pela Palavra de Deus. Esta convida-nos à conversão, a recolocar Deus no centro da nossa existência, a aceitar a comunhão com Ele, a escutar as suas propostas, a concretizar no mundo, com fidelidade, os seus projetos. O gesto das cinzas de quarta-feira deu início a este processo: recordou-nos que somos nada, somos pó, somos cinzas que é preciso renascer. É na nossa humanidade, no húmus da terra do ser, é no nosso coração que a conversão se decide, como resposta ao dom da presença de Deus. Os gestos ditos exteriores – renúncias, asceses, penitências, sacrifícios, jejuns e abstinências – só fazem sentido na interioridade do nosso ser, onde habita Deus. Somos convidados a fazer das cinzas do nosso ser a passagem de fundo para a luz pascal. Aí está a primeira leitura, Palavra vinda das origens, a afirmar que Deus criou o homem para a felicidade e para a vida plena. Se dele prescindimos e nos fechamos em nós próprios, inventamos esquemas de egoísmo, de orgulho e de prepotência, construímos caminhos de sofrimento e de morte. Daí a conversão, hoje e sempre. A segunda leitura propõe-nos dois exemplos: Adão e Jesus. Adão representa o homem que escolhe ignorar as propostas de Deus e decidir, por si só, os caminhos da salvação e da vida plena; Jesus é o homem que escolhe viver na obediência às propostas de Deus e que vive na obediência aos projetos do Pai. Somos livres de escolher, |
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é certo. Mas se vamos por Adão, ficamos fora do processo do seguimento de Cristo. E o Evangelho apresenta, de forma mais clara, o exemplo de Jesus. Ele recusou, de forma absoluta, uma vida vivida à margem de Deus. Uma vida que ignora os projetos de Deus Pai e aposta em esquemas só de realização pessoal é uma vida perdida e sem sentido. O cristão deve rejeitar firmemente toda a tentação diabólica de ignorar Deus e as suas propostas. A vida é decisão. Depois do nascimento, em cada dia decidimos viver. Decidimos comer, trabalhar, repousar, cuidar, ter tempo de lazer… Diante de tantas contrariedades que é preciso |
aceitar, assumir, ultrapassar, também é preciso decidir. A maior parte de nós não decidiu ser batizada; outros fizeram-no por nós. Mas depois, decidimos crer, rezar, aprofundar a nossa fé, viver segundo o Evangelho. Muitos outros, na nossa própria família talvez, decidiram de modo diferente. Nesta semana, decidamos dar um passo ao encontro de Deus. Com toda a liberdade. Façamos desta semana a semana da liberdade, a dos filhos de Deus. Deus quer-nos livres. Quer que vamos até Ele, em plena liberdade do nosso ser, das cinzas à luz pascal. Não há quaresma sem Páscoa. Manuel Barbosa, scj www.dehonianos.org |
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Tanzânia: Será este o novo alvo dos radicais islâmicos?Dias de medo em Zanzibar |
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Ataques com motivação religiosa começam a ser cada vez mais frequentes na Tanzânia, especialmente no arquipélago de Zanzibar, onde um grupo terrorista quer implantar um Estado islâmico. Alvo principal das ameaças: a comunidade cristã.
Já são vários os ataques contra cristãos nestas duas ilhas (Zanzibar e Pemba) que compõem um estado semiautónomo da Tanzânia e que fazem temer um crescendo de violência instigada por diversos grupos radicais islâmicos. |
receio: sacerdotes, religiosas, paroquianos… Até eu tenho medo. Vivemos como se fossemos delinquentes que querem capturar”, diz o prelado à Fundação AIS.
Mais ataquesDurante os últimos tempos, houve vários ataques a igrejas, tendo muitas delas sido incendiadas. Uma data ninguém esquece: 28 de Maio de 2012. Decorria uma Missa em Zanzibar quando um grupo de jovens extremistas islâmicos entrou no templo, armados de paus e barras de ferro, e, sem que alguém tivesse sequer tempo para reagir, deitaram fogo aos bancos da igreja, partiram portas, destruíram cálices, vandalizaram a sacristia. Imagine-se o pânico que se instalou entre os Cristãos. Em Agosto de ano passado, duas |
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jovens inglesas, de 19 anos, que se encontravam em Zanzibar em trabalho voluntário, foram atacadas com ácido no rosto e nos braços em plena zona histórica da cidade.
Despertar para a violênciaO Bispo Barnardin Mfumbusa, que se encontra há três anos à frente da Diocese de Kondou, no coração da Tanzânia, teme uma radicalização da violência religiosa. Diz ele à Fundação AIS: “A Tanzânia tem uma população maioritariamente muçulmana. Um grupo, conhecido como Uamsho, que quer dizer 'despertar', tem vindo a incitar à violência, especialmente em Zamzibar.
Têm aparecido panfletos com mensagens contra os Cristãos. Até já foi encerrada uma emissora de rádio por incitamentos à violência religiosa”. |
grupos radicais. Por causa disso, também neste país os cristãos são ameaçados pelo extremismo islâmico. Uma tendência que tem vindo a ganhar contornos alarmantes nos últimos anos.
Paulo Aido | www.fundacao-ais.pt |
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Mulher com Missão |
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Tony Neves |
Foi na África que eu percebi melhor a importância da mulher na sociedade e na Igreja. É curioso isto porque todos sabemos que, regra geral, boa parte de África é muito machista e os homens acham que mandam em tudo e todos, incluindo nas mulheres. Como se enganam… A mulher em África é o pilar da sociedade. Ela é quem educa e isso diz tudo, ou quase. Em muitos países, a família nuclear, como a pensamos na Europa, quase não existe e o que vale é a família alargada. O que quer dizer que muitas meninas de 15 ou 16 anos começam por ser mães e, na prática, são as avós e bisavós que se encarregam da educação. A figura paterna, na maioria dos casos, está ausente ou, pelo menos, não tem muito impacto na vida das crianças. Quantas vezes não vi mulheres a trabalhar nos campos, a transportar água ou lenha levando a criança nas costas. Esta relação que se cria na presença constante dá á mãe um lugar na vida dos filhos que os pais nunca ousarão contestar. E se é verdade que a mãe africana marca o ritmo do crescimento dos filhos, também é certo que a mulher desempenha um papel fundamental na Igreja. Sempre presente na vida da comunidade cristã, ela garante a participação das crianças nas celebrações e catequeses e serve de ligação entre a comunidade e a Missão. Há momentos na história dos povos onde elas se levantam e impõem as suas convicções. Recordo |
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apenas, a título de exemplo, as mulheres angolanas que fundaram a PROMAICA (movimento para a promoção da mulher angolana na Igreja católica) que seria, na minha opinião, o movimento que levaria à pacificação de Angola, pois gritavam contra a morte dos maridos e filhos nas linhas da frente dos combates. Estive recentemente na América do Sul e percebi que a vitalidade das comunidades de base depende muito das mulheres. Em muitos casos, tal como na Europa, são elas que mais lideram os |
serviços das Paróquias e Missões e se responsabilizam pela transmissão dos conteúdos da Fé às novas gerações, mesmo quando os maridos não ligam nada à Igreja e até, nalguns casos, são do contra. Por ocasião do Dia Mundial da Mulher, a 8 de março, queria prestar-lhes uma grande homenagem e dizer a cada uma que o mundo é mais terno e a Igreja mais fraterna por causa das mulheres. Por isso, repudio toda a descriminação e violência de que muitas são vítimas por esse mundo além. Há que lhes dar mais vez e voz, para bem de todos.
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“Pode ouvir o programa Luso Fonias na rádio SIM, sábados às 14h00, ou em www.fecongd.org. O programa Luso Fonias é produzido pela FEC – Fundação Fé e Cooperação, ONGD da Conferência Episcopal Portuguesa.”
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Como dizer a quem não tem trabalho e tem filhos: “Felizes os pobres”?... Como dizer aos excluídos: “Felizes os que têm fome e sede de justiça”?...Como dizer às vítimas: “Felizes sereis quando, por minha causa, vos insultarem, vos perseguirem e vos caluniarem”?
Se queres evitar que as palabras saibam a gozo, ironia ou ofensa, talvez mais que perguntar como se pode dizer seja conveniente perguntar quem o pode dizer.
Notarás que o disse um pobre aos pobres, um excluído aos excluídos, uma vítima às vítimas. Notarás que o disse quem se fez pobre pelos pobres; quem, por ti, desceu até à tua pobreza para te fazer justiça e te enriquecer com a sua riqueza!... (Mons. Santiago Agrelo)
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