04 - Editorial:

   Tolentino Mendonça

06 - Foto da semana

07 - Citações

08 - Nacional

14- A semana de...

     Margarida Duarte

16- Entrevista

     Maria Conceição Moita

    25 de Abril

40 - DNPJ

 

 

 

 

 

 

 

42 - Internacional

48 - Cinema

50 - Multimédia

52 - Estante

54 - Vaticano II

56-  Agenda

58 - Por estes dias

60 - Programação Religiosa

61  - Minuto YouCat

62 - Liturgia

64 - Fundação AIS

66 - Luso Fonias

68 - Cáritas Portuguesa

70 - Opinião:

     Manuel de Lemos


 

 

 

 

 

 

 

Foto da capa: D.R.

Foto da contracapa:  Agência Ecclesia

 






AGÊNCIA ECCLESIA 
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Opinião

 

 

 

 

Novo bispo elogia alma do Porto

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Bispo toma posse como capelão-chefe

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Os católicos e o 25 de Abril

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Tolentino Mendonça| João MIguel Almeida |Jorge Revez| Tony Neves | Márcia Carvalho | Luís Salgado de Matos | Manuel de Lemos

 

 

 

Falar e ser entendido

José Tolentino Mendonça

 

Durante muito tempo o desafio da renovação eclesial esteve centrado na necessidade de encontrar uma nova linguagem. Um dado era (e continua a ser) evidente: a linguagem habitual não só dos documentos, mas até da pregação da Igreja, já não é entendida pelos nossos contemporâneos. Podemos simplesmente cruzar os braços e denunciar a falta de uma formação cristã de base. Contudo, o desencontro entre a mensagem e os seus destinatários continua lá. E o “desencontro” não é só “ad extra”: dentro das nossas próprias comunidades contam-se pelos dedos os que resistem a uma leitura integral de um texto mais longo do magistério. Ora isso gera uma desarticulação e uma incomunicabilidade que só acentuam a fragmentação do corpo eclesial. Não funcionamos como arquipélagos, mas como desagregadas ilhas.

Este é certamente um dos aspectos em que o pontificado do Papa Francisco se tem revelado providencialmente inovador. Ele tem mostrado à Igreja no seu conjunto que é possível falar e ser entendido; que se pode anunciar o kerygma evangélico a um auditório diversificado, do ponto de vista humano e cultural, e cada um entendê-lo, de forma relevante, na sua própria língua; que a palavra serve para ensinar, mas também para consolar, comover e reconciliar; que a palavra ganha profundidade sempre que se torna 

 

 

 

 

simples e transparente; que a palavra que une razão e coração é aquela parabólica; que a linguagem que não se esquece é a que tem uma qualquer sonoridade maternal. Nesse sentido, é fundamental que o exemplo de Francisco inaugure e inspire, de facto, uma nova estação na forma como a Igreja se comunica. Mas para isso a própria Igreja é chamada a redescobrir-se ela própria em novas imagens. 

 

Os discursos do Papa estão repletos delas. Que a Igreja não é uma ONG. Que a Igreja não é uma mãe por correspondência. Que a nossa não é uma fé-laboratório com soluções prontas para tudo, mas uma fé-caminho. Que a Igreja é um hospital de campanha, disponível para as grandes feridas do coração humano. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 «Este gesto de D. António Francisco Santos ficará na história da diocese do Porto»  

 

 

 

 

 

 

«Lembra-te que a Igreja te pôs na mão um báculo; não te ofereceu umas muletas…» (D. António Ferreira Gomes; In: Stimulus Pastorum – Pensamentos sobre a Profissão de Bispo)

 

 

 

 

«Saberemos ajoelhar diante de Deus em oração, para servir de pé, com passos serenos mas decididos, a Igreja e o mundo, como nos ensinou D. António Ferreira Gomes, generoso servidor desta Igreja, que partiu ao encontro de Deus faz agora vinte e cinco anos.» (Homilia de D. António Francisco Santos, Sé do Porto, 06 de abril de 2014)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

«Vou construindo caminhos de unidade, tentarei congregar e não separar» (D. Manuel Linda no discurso de tomada de posse oficial como bispo das Forças Armadas e de Segurança, 08 de abril 2014)

 

 

 

 

«Se a Igreja no Porto persistir em práticas clericalizadas, correrá o risco de pecar por omissão, impedindo a voz e a vez dos leigos» (Rui Osório, Voz Portucalense, 09 de abril 2014)

 

Novo bispo elogia alma portuense

O novo bispo do Porto elogiou este domingo a “alma” da população local e pediu um esforço conjunto em favor dos “frágeis, os pobres e os que sofrem” que envolva a Igreja e a sociedade. “Grande é a alma portuense, solidária e exemplar, até para o todo nacional”, disse D. António Francisco dos Santos, na Catedral diocesana, na homilia da Missa que assinalou a sua entrada solene.

O sucessor de D. Manuel Clemente, nomeado pelo Papa Francisco a 21 de fevereiro, destacou as caraterísticas próprias de um “povo consistente e nortenho”, em particular a sua “tenacidade” e “criatividade”

 

 

 

 
face às dificuldades, que são motivo de “esperança forte” para o futuro.

D. António Francisco dos Santos referiu-se particularmente à “capacidade de criar, empreender e inovar” com que se tem conseguido resistir e até “superar” as dificuldades criadas pela crise. O responsável prometeu “diálogo” com todas as autoridades locais, para promover “o serviço da vida, a procura do bem comum, o valor da dignidade humana, o respeito pela liberdade e o esforço da coesão social”.

“Apenas quem serve com amor e ternura, que são as linhas do rosto de Deus, é capaz de cuidar, de proteger, de promover e de salvar o seu povo”, referiu anteriormente, numa intervenção em que mostrou a intenção de transmitir uma mensagem centrada na “esperança” e nas “boas notícia de Deus”.

D. António Francisco declarou não trazer consigo planos pastorais predefinidos, pedindo atenção 

 

 

 

 

 

à inspiração do “Espírito de Deus”. “Saberemos ajoelhar diante de Deus em oração, para servir de pé, com passo serenos mas decididos, a Igreja e o mundo, como nos ensinou D. António Ferreira Gomes [1906-1989]”, sublinhou, numa passagem em que evocou os seus predecessores mais recentes.

A cerimónia contou com a presença de autoridades políticas, civis, judiciais, académicas e religiosas, 

 

 

incluindo o presidente da Câmara Municipal do Porto, Rui Moreira.

O autarca disse à Agência ECCLESIA que este é um “dia de alegria para o Porto” e que o novo bispo é visto como alguém que desenvolveu um “trabalho fantástico” na relação com a sociedade.

D. António Francisco dos Santos, de 65 anos, tomou posse este sábado perante o Colégio de Consultores da diocese no Paço Episcopal, numa cerimónia privada.

 

 

Catequese é apelo à promoção humana

O vogal da Comissão Episcopal para a Educação Cristã, D. Manuel Pelino, incitou os jovens a frequentarem a catequese, lembrando que esta é “um apelo à liberdade e à promoção enquanto seres humanos”. “A catequese é um apelo à liberdade, são os próprios jovens que aceitam as regras, eles gostam e precisam de regras, sentem-se promovidos e isso nota-se na catequese, nas aulas de EMRC, no escutismo e noutros movimentos de jovens”, disse o bispo de Santarém à Agência ECCLESIA.

O responsável falava durante o 53.º Encontro Nacional de Catequese que decorre até sexta-feira em Alfragide, arredores de Lisboa, que promove a reflexão sobre o tema ‘pedagogia da fé e da vida para adolescentes’. Os valores a passar aos jovens na adolescência são “determinantes para no futuro serem adultos comprometidos” e por isso é importante que estes vivam este tempo de crescimento com “sentido de comunidade, de fraternidade, de serviço e de participação ativa” evitando que 

 

os meios tecnológicos sirvam como ferramentas que os “vão fechar para o mundo e para a comunidade”, sustenta o vogal da Comissão Episcopal para a Educação Cristã. A colaboração entre as várias propostas da Igreja Católica é aliás um dos trunfos para captar a atenção dos jovens “ pois em todas estas frentes educativas passam-se valores cristãos e humanos que fazem muita falta”. Maria João Pena, professora universitária no ISCTE, abordou o tema ‘Adolescentes de hoje, espaços educativos, desafios para crescer’. “ A adolescência é um período de mudança em que por vezes nem os próprios adolescentes percebem que estão a mudar tendo dificuldade em perceber o que se passa”, disse à Agência ECCLESIA.

 

 

 

Bispo das Forças Armadas tomou posse como capelão-chefe

O bispo das Forças Armadas e de Segurança, D. Manuel Linda, tomou posse do cargo de capelão-chefe da Igreja Católica, esta terça-feira, numa cerimónia que decorreu no Ministério da Defesa, após ter assumido funções canónicas em janeiro.

“A minha missão é trabalhar e construir no silêncio uma Igreja que é constituída por homens e mulheres concretos”, disse o prelado aos jornalistas, que o questionaram sobre as suas prioridades.

D. Manuel Linda foi nomeado pelo Papa Francisco a 10 de outubro de 2013, sucedendo a D. Januário Torgal Ferreira, e rejeitou qualquer cenário de desentendimento com o Governo no processo que impediu, até hoje, a sua tomada de posse. “Da minha parte não houve qualquer mal-estar”, sublinhou.

O bispo das Forças Armadas e de Segurança disse querer fazer o seu “caminho próprio”, pregando a “mesma fé” de forma atenta à realidade, numa “grande estrutura” que continua 

 

 

a assegurar os valores indispensáveis da “segurança e a paz”.

O ministro da Defesa Nacional, José Pedro Aguiar-Branco, sublinhou por sua vez que foi preciso assegurar uma solução legal para que o bispo pudesse “integrar a estrutura das Forças Armadas” e que o problema não esteve no salário. “Não houve mal-estar com a Igreja”, sustentou, frisando que não quer “condicionar” a ação de D. Manuel Linda.

A tomada de posse contou com a presença do presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, D. Manuel Clemente, e do núncio apostólico [embaixador da Santa Sé], D. Rino Passigato.

 

 

 

 

 

A Agência ECCLESIA escolhe sete acontecimentos que marcaram a atualidade eclesial portuguesa nos últimos dias, sempre atualizados em www.agencia.ecclesia.pt

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Basílica de Nossa Senhora do Rosário vai fechar para obras após peregrinação de maio

 

 

 

Entrevista a Manuel Matias, coautor do livro «O Inimigo em Casa»

 

Em reunião… para ajudar os pobres!

Margarida Duarte

Agência ECCLESIA

 

“Que se lixem os pobres”, é o nome de uma campanha de alerta para a pobreza, que chamou a atenção dos ingleses de uma forma muito peculiar. Um homem foi para as ruas de Londres, no Reino Unido, com um cartaz com uma frase muito ofensiva direcionada aos mais carenciados.Ao longo de cerca de 30 segundos de vídeo podemos perceber que o homem nem precisa de falar, apenas a mensagem provocadora que ostenta no cartaz gera a indignação dos transeuntes que se mostram revoltados e exaltados com tamanha ofensa.Estranho é que na segunda parte do vídeo o mesmo homem troca de cartaz e agora pede apenas “ajuda para os pobres” pedindo efusivamente algum apoio monetário. A rua é a mesma mas o contraste da mensagem é igual à indiferença de quem passa pelo homem ignorando-o e nada dizendo ou fazendo.

O vídeo é da responsabilidade de uma fundação, a Pilion Trust e foi publicado na internet apenas na segunda-feira mas já leva mais de um milhão e meio de visualizações, sendo que se tornou já um vídeo viral. 

Duvido se esta será a melhor forma de despertar a atenção das populações para a pobreza e fragilidade em que milhões de pessoas vivem atualmente mas este vídeo revela o desprezo e o desinteresse com que se lida com essa realidade no dia-a-dia, sendo preciso reinventar a abordagem levando-a neste caso ao exagero para se tornar incómoda e levar à reação.

 

A vida passa a correr, cada um tem os seus próprios problemas, as suas próprias preocupações e na maior parte das vezes os pensamentos fazem-nos perder a noção da realidade em que vivem os outros. Algo que acontece a nível individual mas também em muitas organizações, partidos políticos e governo onde o apoio ao mais carenciado é muitas vezes divulgado amplamente como a finalidade teórica mas que pouco interessa na realidade. Discursos bem preparados, cheios de lugares comuns, promessas de estudos, de ações de formação e ensino. “É preciso educar as crianças e jovens logo na escola para que não entrem na pobreza como os pais entraram”, ouvi há uns dias… Se ser pobre ou não, se ter fome ou não, se ter dinheiro, água e luz dependesse só da educação então todos os alunos fariam por ter boa nota nessa "disciplina". 
 

Num dia ouve-se um político prometer que quando chegar "ao poleiro" acaba com os sem-abrigos, noutro ouve-se então “que ser pobre é uma escolha e que é preciso educar para evitar esse caminho”. Tantas reuniões, encontros, formações, debates, almoços e jantares se fazem por este país e mundo para debater a pobreza e a carência social em que cada vez mais caem seres humanos vítimas da insegurança laboral e económica. No fim muitas dessas ‘reuniões’ revelam-se apenas ocas e demagógicas onde as conclusões não existem ou se existem estavam já pré-definidas à partida e não passarão do papel.

“É como estar num quarto com inúmeros espelhos fantásticos que torcem para reflexões falsas uma única anterior realidade que não está em nenhuma e está em todas”, já dizia Fernando Pessoa quando reunia com os seus heterónimos.

 

 

 

Livres!
Eu e o meu país...

Maria Conceição Moita estava presa em Caxias no dia 25 de abril de 1974. Participou em ações contra a ditadura e sobretudo contra a guerra nas colónias portuguesas. E teve um papel determinante nos acontecimentos da Capela do Rato: leu a declaração que convocava a vigília de 48 horas.

 

 

 

 

 

 

Agência Ecclesia – Que liberdade conquistou no dia 25 de abril de 1974?

Maria Conceição Moita – No dia 25 de abril de 1974 estava presa, na cadeia de Caxias, como estavam muitos cristãos. Não soubemos que tinha havido a revolução nem o golpe militar pelo Movimento das Forças Armadas. Apenas tivemos conhecimento vagamente no final do dia 25. Percebemos que havia algumas alterações nas rotinas na cadeia, alguns companheiros que seriam julgados nesse dia e que não foram.

Houve um automóvel que tentou comunicar com os presos de Caxias. Através de sinais sonoros, a partir da autoestrada. Disse que tinha havido um golpe de estado e que iriamos ser libertados. Mesmo sem ouvir toda a mensagem, percebemos as duas últimas palavras: “derrubado” e “coragem”.

Ficamos muito entusiasmadas, eu e as três pessoas que estavam na cela comigo, porque queríamos que aquele pesadelo acabasse rapidamente.

No dia 26 de abril a horas tardias, já noite, fomos libertados depois 

 

de algumas diligências para que todos os presos políticos fossem libertados e não alguns como inicialmente tinha sido anunciado.

Foi uma libertação que teve um significado pessoal enorme! Estava presa há seis meses. Tinha passado pela tortura, isolamento numa cela sozinha e finalmente com outras companheiras.

Foi uma libertação única. Era a minha libertação pessoal depois de uma situação de cativeiro; a libertação do meu país, que tanto desejava; o fim da ditadura e a conquista da palavra “liberdade” que faltava; e depois a libertação dos povos das colónias, uma luta onde estava particularmente implicada.

 

AE – Por que motivos foi presa?

 

MCM – Eu estava presa porque colaborei com as brigadas revolucionárias nalgumas ações, tinha uma casa em meu nome onde se refugiavam algumas pessoas que viviam na clandestinidade e colaborei com boleias para ações de brigadas revolucionárias.

 

 

 

 

AE – Pertencia ao grupo de católicos que se opunham ao regime. Essa determinação implicava a rutura com a Igreja Católica?

MCM – Não necessariamente. E muitos de nós não fizemos rutura com a Igreja. Eu, por exemplo, ia à missa todos os domingos e estava completamente integrada. Alguns sim, mas não por razões de necessidade para a sua ação política.

A rutura ou desencantamento com a Igreja institucional aconteceu de uma maneira natural porque os cristãos viviam muito entristecidos pelo facto dos frutos maravilhosos do Concílio Vaticano II não terem atingido a Igreja Católica em Portugal de uma maneira manifesta. Houve bolsas muito interessantes, de padres e leigos, que viveram a grande abertura que foi o Concílio e as suas orientações, em que participei, e que tiveram uma grande importância na nossa consciência política. A mesma importância tiveram as encíclicas de João XXIII e de Paulo VI, que apontavam para a grande importância do desenvolvimento humano, da democracia e da 

 

vivência em liberdade, o que era incompatível com o que acontecia em Portugal. Afastaram-se, por isso, da Igreja de uma maneira muito entristecida e dorida…

 

AE – Vencidos do catolicismo?

MCM – Não sei se vencidos… Vencedores, não, de certeza, mas muito entristecidos. Muitos deles não perderam a fé, mas afirmaram a grande tristeza em relação à cumplicidade que a hierarquia da Igreja mantinha quer ao fascismo quer à guerra colonial.

 

AE – Qual o papel dos “católicos progressistas” na construção de uma consciência política nova e de participação ativa?

MCM – Os católicos da altura foram verificando que o que se vivia enquanto cidadãos era insustentável e insuportável para a sua consciência cristã. As liberdades eram coatadas, não havia direito à informação, que era completamente vigiada e cortada pela censura; não havia o direito à reunião e, quando nos queríamos reunir para questões mais melindrosas tinha de ser na clandestinidade. Um grupo 

 

 

 

Momento da libertação de Maria Conceição Moita da prisão de Caxias

 

 

cada vez maior de cristãos foram tomando consciência destas realidades e ligando-se entre si.

Houve pessoas e marcos de referência. Mas a tomada de consciência da situação em que se vivia aconteceu em grupo. Aí debatíamos e combinávamos como ajudar outros cristãos a tomar consciência destas realidades, concertávamos 

 

estratégias para ações concretas… E estas ações foram cada vez mais importantes à medida que nos aproximávamos do 25 de abril. Aumentava o número de participantes, de vários quadrantes e com várias sensibilidades políticas que tomavam medidas quer pessoais quer em grupo para dar volta à situação.

 

 

 

 

AE – A divulgação de uma nova consciência política gerou-se em torno de pensadores e publicações. Qual a importância do “Tempo e o Modo”?

MCM – Eu não estive muito ligada ao “Tempo e o Modo”. Era de uma geração um pouco mais nova. Foram iniciadores de um pensamento muitíssimo aprofundado e aberto ao que se pensava lá fora e ao que de melhor se pensava cá dentro. Foram intelectuais que abriram um grande clarão na Igreja “cinzenta” a que estávamos habituados.

Eu fui uma leitora do “Tempo e o Modo” e ainda tenho alguns exemplares que guardo religiosamente.

Depois, saiu um jornal que se chamava “O Direito à Informação”. Denunciava o que se passava no país, com a ditadura, a ausência de liberdades, o aumento da pobreza, da emigração, pela qual as pessoas fugiam à miséria extrema que acontecia no país. Foi um meio de luta contra a guerra colonial, que tinha envolvido muitos cristãos desde 1964.

 
O “Direito à Informação” durou cerca de 8 ou 9 anos, tendo saído 18 exemplares, o que é muito porque se tratava de uma publicação feita na mais rigorosa clandestinidade, escrita à máquina por três mulheres.

 

AE – E Cadernos GEDOC, ligados ao padre Felicidade Alves?

MCM – Os Cadernos GEDOC foram notáveis no contributo para a consciencialização de muitos católicos. Eles adotaram uma estratégia muito interessante para fugir à censura. Cada um tinha um nome diferente, normalmente nomes bíblicos: um chamava-se Judite outro um nome diferente da Bíblia. O padre Felicidade teve uma grande importância aí e muitos leigos ligados a ele. Posteriormente começou a editar-se o “Boletim Anti-colonial” que também teve muito importância na divulgação do que se passava nos palcos de guerra.

 

 

 

 

 

AE – Foi uma dos “101 católicos” que assinou o “Manifesto”, em 1965?

MCM – Não me recordo! Naquela altura havia muitos documentos que era assinados e não me recordo se o meu nome está no “Manifesto dos 101 católicos”. Por vezes não convinha assinar porque estávamos ligados a outro tipo de iniciativas e não era bom que figurássemos entre essas assinaturas. Havia estratégias de defesa de nós próprios e das ações em que estávamos implicados para não “espantar os pardais”.

 

 

 

AE – Que importância teve o padre Alberto Neto, uma das lideranças católicas da época a lutar não por “outra Igreja” mas por uma “Igreja outra”, como dizia?

MCM- De facto, queríamos uma Igreja outra, como o padre Alberto dizia, que fosse mais fiel à Evangelho de Jesus e uma presença de Jesus consentânea com essa mensagem.

O padre Alberto Neto foi um dos muitos clérigos formidáveis dessa altura. Lembro-me de tantos que foram influenciadores da juventude e outros setores que tiveram um papel determinante na tomada de consciência de jovens e não jovens para a situação em que se vivia.

 

 

 

AE – Particularmente marcante no seu percurso de luta pela liberdade foi a participação na vigília da Capela do Rato. Como foi preparada e porque foi a Maria do Conceição Moita a ler a declaração que anunciava a realização de uma vigília, em jejum, durante 48 horas?

MCM – Os acontecimentos da Capela do Rato foram preparados com grande rigor. Tinha havido uma iniciativa na igreja de S. Domingos, dois anos antes. Mas tinha sido um episódio efémero e com pouco impacto. O que levou a pensar numa outra ação, no interior da Igreja mas aberta a não cristãos, que tivesse mais impacto quer do ponto de vista eclesial quer político.

Um grupo de seis pessoas decidiram dar a cara para que essa ação fosse realizada. Escolheu-se a capela do Rato não por causa do padre Alberto Neto, mas por ser um “antro” onde a mensagem evangélica era proclamada e vivida de uma maneira muito intensa por uma pequena comunidade.

Havia um ambiente que nos chamava para o melhor de nós próprios enquanto cristãos. O padre Alberto fazia umas homilias notáveis. A PIDE estava

 

 sempre a assistir, mas nunca conseguiu prendê-lo porque, apesar de fazer a denúncia clara das situações que se viviam em Portugal, mantinha uma linguagem sempre próxima do Evangelho do dia. E por isso não podia ser acusado de intervenção política. Ele proclamava a mensagem do Evangelho, apenas.

Estávamos todos presentes na missa vespertina de sábado, dia 30 de dezembro de 1972, celebrada pelo João Seabra Dinis. No fim eu dirigi-me aos microfones dizendo aos presentes que nos queríamos comprometer a ficar dois dias em jejum completo e em greve de fome, em solidariedade com as vítimas da guerra, como protesto contra situação de guerra que se vivia em Portugal e contra a ausência de tomadas de posição da hierarquia católica condenando a situação da guerra.

Os acontecimentos da Capela do Rato tiveram muito impacto. Foram uma pedrada no charco muito grande, sobretudo pela possibilidade de discussão e debate que aconteceram durante todo o tempo, pela oração e pela enorme participação que teve.

 

 

 

 

 

 

AE – A entrada da política e as prisões que fez aumentaram a repercussão dos acontecimentos?

MCM – De facto, muitas pessoas foram presas, algumas sem sequer estar ligadas aos acontecimentos, nomeadamente muitos jovens.

Eu estranhamente não fui presa. E é impossível que não tenham percebido que eu tinha lido aquela declaração.

Uns dias depois fui interrogada pela PIDE. Perguntaram-me  se tinha estado na Capela e disse-lhes obviamente que sim, 

 

que concordava completamente com os objetivos da vigília da Capela do Rato; que estava completamente de acordo coma mensagem do Papa para o Dia Mundial da Paz, que esse ano tinha por título “A Paz é possível”. E eu disse aos inspetor da PIDE que “a paz é possível”, que todos tínhamos de fazer um esforço de encontrar formas e processos de resolver os conflitos entre os humanos de maneiras humanas. Tínhamos de encontrar maneiras de por fim à guerra!

 

 

 

AE – Que significado teve o facto de o cardeal Ribeiro ter condenado a invasão da Capela pela polícia?

MCM – Ele foi ultrapassado pelos acontecimentos! Pediu aos padres que celebravam missas na capela do Rato que não deixassem de o fazer, foi muito solícito em relação aos padres que foram presos depois de terem celebrado e foi à PIDE libertá-los, concretamente o padre Janela e padre Armindo. Mas não se pode opor à entrada da polícia.

 

AE – Mas reagiu negativamente. Terá sido uma afirmação de simpatia contra as causas que estavam a ser debatidas?

MCM – Não o lemos assim. Teria havido tantas possibilidades de ter tomado as suas posições noutras circunstâncias de uma maneira mais clara. Teria o seu pensamento sobre a situação de guerra e de ditadura.

O que estava em questão era uma defesa das posições da Igreja, que achava que a polícia não podia invadir uma igreja para prender cristãos. No entanto, ele foi muito cauteloso e não enfrentou o regime.

 

 

AE – E depois de 1974, acabou a militância de muitos católicos?

MCM – Não acabou no 25 de abril. Trazíamos uma dinâmica que era difícil de parar. Logo depois realizamos “Assembleias de Cristãos”, onde participaram todos os católicos, também os que fazíamos oposição ao regime. Nelas havia debate sobre tudo o que se pode imaginar.

A coordenar essas mesas estavam católicos como Fernando Gomes da Silva, Manuela Silva, padre João Resina, frei Bento Domingues. Pessoas que estiveram completamente presentes na continuidade da sua ação contra o regime.

Constituíram-se depois vários grupos, como os “Cristãos em Reflexão Permanente” ou os “Cristãos pelo Socialismo”, de algum modo impulsionado por mim, mas que durou muito tempo. Houve também um grupo que fundou o jornal “Libertar” que teve muita importância nos primeiros tempos da vida em liberdade, consciencializando os cristãos para se misturarem com todos os cidadãos para consolidarem a liberdade e lutarem contra o capitalismo feroz que nessa altura havia em Portugal.

 

 

 

 

 

 

AE – Que presença tiveram os católicos, por exemplo, no primeiro de maio de 1974?

MCM – O Nuno Teotónio Pereira fez nesse encontro, no Estádio Primeiro de Maio, uma intervenção muito interessante. Disse: “Nós os católicos estamos no meio do povo português, muito contentes como que aconteceu em Portugal. Mas que tudo está tudo por fazer! O 25 de abril foi um grande clarão que aconteceu a todos, mas agora é tempo de… mãos à obra! E deixa de fazer sentido a designação de ‘católicos progressistas’. Agora somos portugueses que vamos trabalhar pelo nosso desenvolvimento, pelo bem-estar e pela qualidade de vida de todos!”

 

AE – Os católicos permaneceram também na intervenção política?

MCM – Nós cristãos, dada a autonomia da coisa política, dividimo-nos por onde a nossa competência política achava que era justo.

 

 

 

 

 Maria Conceição Moita 

 

 

 

 

 

 

 

 

A reação dos bispos ao 25 de Abril

A revolução de 1974 encontrou os bispos “da Metrópole” reunidos em Fátima, para a sua reunião ordinária de abril, que se concluiria no dia 26. No final dos trabalhos, em comunicado, os prelados aludiam aos “acontecimentos de caráter nacional”, do conhecimento público, afirmando que os mesmos não deixariam de “ter fundas repercussões na vida do povo”.

“Nestas circunstâncias, [os bispos] formulam o voto de que tais acontecimentos contribuam para o bem da sociedade portuguesa, na justiça, na reconciliação e no respeito por todas as as pessoas. Apelam para as virtudes cívicas dos católicos e de mais portugueses de boa vontade. E rezam a Deus pelo povo de Portugal”, pode ler-se.

Na primeira nota pastoral “a propósito dos acontecimentos de 25 de Abril”, publicada a 4 de maio, o episcopado convida a trabalhar “pela concórdia e pela paz”.

“Sentimos com todo o Povo os anseios e esperanças da hora

 

presente e com ele nos empenhamos, dentro da nossa competência, na edificação de uma ordem social assente na verdade, na justiça, na liberdade, no amor e na paz”, pode ler-se num texto de duas páginas, em que se recorda aos padres e religiosos que não devem ocupar cargos políticos e aos partidos que nenhum deles pode reivindicar para a sua opinião, “de modo exclusivo”, a autoridade da Igreja.

Após a breve declaração do episcopado de 4 de maio, chegou ao público uma “Carta Pastoral sobre o contributo dos cristãos para a vida social e política”, com data de 16 de julho de 1974.

Este documento, dividido em 59 pontos, aborda temas como a restruturação política do país, a crise económica, as “exigências da sã democracia”, a pluralidade partidária ou o marxismo.

A carta pastoral, publicada menos de três meses depois da revolução, referia que “o movimento de 25 de Abril pôs termo a um regime político de meio século e abriu ao povo português a possibilidade de um futuro marcado pelo 

 

 

 

ideal democrático”.

O documento concluía com uma palavra de “confiança no bom senso do povo português”, numa “encruzilhada histórica”.

Em julho de 1975, numa nota pastoral “sobre o momento presente”, os bispos afirmam que “a lgreja acolheu, com esperançosa expectativa, a revolução desencadeada em 25

 

de Abril” e sublinham que “os valores que de início a Revolução anunciava situavam-se, em grande parte, na linha do Evangelho”.

O episcopado colocava, no entanto, “sérias reservas ao processo revolucionário” tal como se tinha desenvolvido, confessando “a recear que se esteja a caminho dum totalitarismo indesejável”.

 

 

A revolução de abril comunicada
aos bispos portugueses

O monsenhor Vitor Feytor Pinto foi porta-voz, junto dos bispos portugueses, da revolução de 25 de abril de 1974, e recorda a forma “serena” mas “interventiva” como a Igreja Católica viveu a queda do regime. “A Igreja em Portugal nesse momento ficou com uma grande paz porque o que aspirava era que se encontrasse uma solução para um país que estava em rutura profunda”, sublinha o sacerdote, em declarações à Agência ECCLESIA.

Eram cerca de sete horas da manhã quando o monsenhor Feytor Pinto, na altura a realizar trabalho pastoral em Lisboa, telefonou para Fátima onde os bispos portugueses estavam reunidos em plenário. Em conversa com D. Júlio Tavares Rebimbas, então bispo auxiliar do Patriarcado de Lisboa, o sacerdote explicou o que estava a acontecer na cidade, onde as tropas estavam a prepara-se para depor o presidente Américo Tomás e colocar no poder o general Francisco da Costa Gomes.

 
Convocado para ir sem demora para Fátima, o monsenhor Vitor Feytor Pinto recorda que, no caminho, teve de passar “um ninho de metralhadoras” onde a sua sorte foi o responsável pela unidade ser um “antigo aluno” dos tempos de professor na Diocese da Guarda.

A reunião da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), presidida por D. Manuel de Almeida Trindade, começava às 10h00 e ficou marcada por uma análise aos novos desenvolvimentos que chegavam da capital.

“Foi interessante que o bispo das Forças Armadas, D. António dos Reis Rodrigues, disse logo que podíamos aguardar com serenidade porque o general Costa Gomes era católico, um homem de confiança e que poderia fazer bem a ponte para um novo Governo”, recorda.

Monsenhor Feytor Pinto destaca a forma como a Igreja interveio no processo de transição entre o regime ditatorial do Estado Novo e a implantação da democracia,

 

 

 

 

 

 sobretudo “através dos leigos”.

Como assistente nacional da Junta Central de Ação Católica, o sacerdote de 82 anos testemunhou a forma positiva como os membros daquele órgão encararam a mudança, com “a esperança de que o desmoronar do regime permitisse reequilibrar as relações entre as pessoas e que elas pudessem sentir a liberdade a que tinham direito”.

O professor Jorge Miranda, que teve um papel decisivo na elaboração da Constituição 

 

Portuguesa de 1976 e o político António Sousa Franco, quem nesse mesmo ano assumiu o cargo de secretário de Estado das Finanças, eram dois dos elementos que constituíam a direção da Junta Central.

“Um grupo interessantíssimo que entrou na vida ativa política e que ajudou a equilibrar muita coisa que sem os valores cristãos talvez não se tivesse equilibrado”, conclui o padre Vitor Feytor Pinto.

 

 

Os católicos e a esperança do 25 de Abril

Sophia de Mello Breyner escreveu da revolução iniciada a 25 de Abril: «Esta é a madrugada que eu esperava/O dia inicial inteiro e limpo». Era uma esperança partilhada por outros católicos e não-crentes que tinham afrontado e resistido ao Estado Novo.

Em 1958, durante as eleições de Humberto Delgado, uma aspiração à liberdade percorrera o país e o apoio de católicos ao candidato que pretendia demitir o Presidente do Conselho fora notada pelo próprio Salazar que os acusou, em público, de «romperem a frente nacional». Tornara-se impossível silenciar vozes católicas críticas do regime. Ainda em 1958, o pro memoria do bispo do Porto, colocou a questão de os católicos serem politicamente livres, o que lhe custou dez anos de exílio.

Em 1959, dois documentos subscritos por personalidades católicas afirmavam que um regime que sacrificava em demasia a liberdade e a justiça só podia ser anticristão e que os métodos da PIDE repugnavam a uma consciência cristã. Os 

 

católicos não se ficaram por declarações de princípios: participaram em tentativas de derrubar o regime por golpe militar, na revolta da Sé (1959) e no golpe de Beja (1962). Na década de 1960 combateram a censura através da imprensa clandestina: Direito à Informação e Igreja Presente. O Concílio do Vaticano II (1962-1965) fortaleceu as razões da Igreja dos católicos que valorizavam o mundo e a quem a fé animava a um compromisso político. E fizeram-no em associações e cooperativas, como a Pragma, em sindicatos, nas crises académicas, nas listas oposicionistas das eleições consentidas, a partir de 1961. Nas eleições de 1969, os católicos oposicionistas dispersaram-se pelos diversos agrupamentos políticos. Os últimos anos do Estado Novo foram marcados por uma radicalização anticolonial, que esteve na origem da remoção do padre Felicidade Alves de pároco de Belém, da proibição dos Cadernos do GEDOC, da prisão do padre Mário de Oliveira, 

 

 

 

da publicação dos Cadernos de Guerra Anti-Coloniais e do BAC. Há católicos nas organizações de luta armada contra o Estado Novo.

Católicos animaram vigílias pela paz, primeiro na Igreja de S. Domingos (1969), depois na capela do Rato, na passagem de ano de 1972 para 1973. Esta última vigília leva a um cerco e invasão da capela pela polícia e tem 

 

amplas repercussões na opinião pública. A polémica em torno do caso na Assembleia Nacional leva à saída dos elementos da «ala liberal». É patente o impasse do regime, desfeito a 25 de Abril de 1974. O dia em que tudo pareceu possível.

 

João Miguel Almeida,

historiador

 

 

Os «Vencidos do Catolicismo»
e o 25 de Abril

Nos finais dos anos 60, Ruy Belo fixaria uma expressão marcante para os católicos que progressivamente se distanciavam da Igreja, revelada no poema «Nós os vencidos do catolicismo» (Homem de Palavra[s], 1970). É difícil determinar o impacto do poema mas podemos falar de uma apropriação da expressão - cujo responsável principal foi João Bénard da Costa - por parte de um grupo de católicos que a tomam como lema daquela dissidência. Esta rutur é um processo não apenas individual mas o resultado de uma reflexão espiritual e geracional, e um percurso indissociável também das motivações mais profundas das tomadas de posição de católicos, denominados «progressistas», contra o Estado Novo.

            O «vencidismo católico» pode ser entendido a partir de duas personalidades: Ruy Belo e o Padre José da Felicidade Alves. Se não podemos, no caso de Felicidade Alves, afirmar a coerência total de uma crise 

 

 

de fé, entendida como crença, é indiscutível a condição comum às duas figuras de uma perda de fé na Igreja, simbolizada quer por uma rutura que decorreu de um posicionamento individual (que pensamos ser a situação do poeta), quer por uma distanciação precipitada pelo próprio comportamento da hierarquia (o que se adequa mais ao caso do Padre Felicidade). Consideramos ambos, assim, «vencidos do catolicismo», não só porque num dado momento rompem o laço que os unia à Igreja mas também porque inspiram outros a romper (o que é muito significativo no caso do sacerdote).

Parece-nos assim que estamos perante uma chave de compreensão de um contexto eminentemente religioso – e como tal social – que define o desajuste entre o conjunto das mudanças que constituem uma certa modernidade e a própria estrutura eclesial. É um momento charneira no longo processo de dissolução do mundo tradicional e da sua definição do religioso, 

 

 

 

 

Ruy Belo intervém numa sessão de esclarecimento da CEUD em Lisboa, na campanha eleitoral de 1969. Na mesa reconhecem-se (da direita para a esquerda) Vitorino Magalhães Godinho, Luís Filipe Lindley Cintra, Mário Bruxelas, Raul Rego e Salgado Zenha. (Fotografia cedida por Teresa Belo)

 

agora entendido enquanto explosão, pluralidade e multiplicação de instâncias em concorrência, e no qual o indivíduo é ato principal no debate entre liberdade e autoridade.

Esta temática não é apenas relevante para a compreensão da história do catolicismo português mas também para a forma como a sociedade portuguesa, através de inúmeros filões de renovação, 

 

reuniu condições para o lento processo de democratização que antecedeu e sucedeu o golpe militar de 1974. A efervescência daquele período revela-nos uma reconfiguração da identidade católica, em especial o relevo que as questões da liberdade e da cidadania assumem para alguns destes homens e mulheres.

 

Jorge Revez,

Historiador

 

 

Catolicismo no 25 de Abril:  tensão e colaboração renovadas todos os dias

Os bispos estavam reunidos em Fátima quando ocorreu o movimento do 25 de Abril; ao verem a primeira edição do Telejornal, ficaram «apreensivos»,  conta D. Manuel de Almeida Trindade nas suas memórias. A apreensão sugeria tensão com o Estado mas os bispos anunciaram colaboração, retribuída pelos cumprimentos apresentados ao Cardeal Patriarca de Lisboa, D. António Ribeiro, pelo Primeiro Ministro do Governo Provisório, Adelino da Palma Carlos, e pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Mário Soares, um dos principais defensores do fecho da «questão religiosa». Por seu lado, os militares encaravam o catolisimo com uma indiferença polida e respeitosa.

Cedo se manifestaram, porém, atitudes sociais agressivas para o catolicismo; a primeira e mais visível foi a transmissão televisiva de uma representação d’ A Comuna no Mercado do Povo na qual um « Cardeal Cerejeira» 

 

com insígnias nazis era um serventuário de Salazar. O seu fim de algum modo simboliza as relações entre o novo Estado e o catolicismo: Raul Rego, o responsável governamental pelos media e futuro grão mestre do Grande Oriente Lusitano, mandou cortar a emissão, para evitar um clima de mal estar com a Igreja Católica. Assim, os bispos não quiseram dar a um único partido político o exclusivo da representação política dos católicos face ao Estado – o que mais tarde os forçaria a um diálogo direto com o Estado – mas não desautorizaram partidos de referência cristã que então se formaram, como o Centro Democrático Social (CDS).

As tensões multiplicaram-se durante o período de transição, como os ataques ao CDS, o cerco do Patriarcado, em junho de 1975, e a incapacidade de o Estado devolver à Igreja a Rádio Renascença. A resposta foi inesperada: no Verão Quente, pela primeira vez na história 

 

 

 

 

portuguesa, os católicos lutaram a favor da democracia política.

Depois da normalização constitucional do 25 de Abril, emergiram novas tensões em torno das questões de civilização, ditas fraturantes. A mais importante foi a legalização do aborto, nos anos 1980. D. António Ribeiro levou a contestação ao campo estatal, o que parecia abrir uma questão de regime, mas este caminho foi abandonado, 

 

a benefício da clara separação dos campos moral e estatal.

Contudo, continuaram as tensões entre o Estado e o catolicismo, acompanhadas de colaborações, numa rede que todos os dias tem que ser recosida  para evitar que o conflito entre ambos sobrepuje a colaboração.

 

Luís Salgado de Matos,

Historiador

 

 

25 de Abril: uma conquista que
«ainda está em construção»

O diretor da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica defende que 40.º aniversário do 25 de Abril deve ser uma ocasião para Portugal refletir sobre o seu rumo e buscar forças para enfrentar os desafios atuais.

“Que a comemoração sirva para lembrar que, da mesma maneira que as coisas se conquistam, se não forem cuidadas perdem-se, portanto que haja pelo menos um sobressalto cívico que nos faça lembrar aquele entusiasmo, aquela genuinidade, energia, que se sentia em Portugal em 1974 e que essa energia possa conduzir-nos nas dificuldades que sentimos hoje”, frisa o professor José Miguel Sardica.

Em entrevista à Agência ECCLESIA, o historiador e docente universitário recorda a “revolução dos cravos” como uma “explosão maciça de liberdade” que veio acabar com “um regime sem salvação possível e mergulhado num verdadeiro beco sem saído político, social, económico”.

 

Uma data central, “quer para a geração mais velha, aqueles que eram jovens adultos e que perceberam que a vida deles mudou nessa altura, quer para os filhos que, não tendo a memória desse acontecimento, hoje ouvem falar dele”, sublinha José Miguel Sardica.

Um estudo recente do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa permitiu verificar que cerca de 59 por cento dos portugueses consideram o 25 de abril de 1974 “a mais importante de toda a história” da nação portuguesa.

Para o diretor da Faculdade de Ciências Humanas da UCP, é preciso potenciar as transformações que surgiram a partir daquele acontecimento “para os dias de hoje” e perceber que “aquilo que se começou a construir há 40 anos ainda não é um dado final, ainda está em construção”.

Mais do que falar em diferenças, apontando por exemplo que 

 

 

 

a “descolonização, democratização e desenvolvimento” foi substituída quatro décadas depois pelo “défice, desemprego e dívida”, o essencial é analisar o caminho percorrido, ver o que é que “falhou”.

Até porque “as dificuldades atuais são comparáveis” - em 1974 “o país estava a sair de um ciclo imperial e a entrar numa 

 

incógnita, mais tarde veio a ser a Europa, ganhou um rumo, mas a incerteza era muita, como é hoje”, sustenta o investigador.

José Miguel Sardica integra um grupo de colaboradores da ECCLESIA que semanalmente comenta a atualidade informativa cuja análise completa pode encontrar no canal 524995 da plataforma MEO.

 

 

O feliz reino dos pobres

A propósito da Mensagem do Papa Francisco
para a XXIX Jornada Mundial da Juventude

Como é bom viver o dia Mundial da Juventude também nas dioceses, e quão bem, todos o fazem, tornando-os felizes Encontros de partilha e Alegria.

Felizes os que compreendem que a felicidade não é uma meta, mas um caminho: não deixarão de se alegrar a cada dia. Dedicarão a cada momento o entusiasmo que preenche a vida de afeto e de ousadia, reavivando sempre com um sabor a novidade a aspiração profunda que os habita a agarrarem o essencial com a coragem de quem deseja profundamente viver até ao extremo. Não se deixarão confundir com as promessas, tão fáceis quanto ilusórias e efémeras, do inebriamento que o sucesso, o prazer e a riqueza egoísta oferecem. Mas reconhecerão em Deus a única fonte inesgotável da alegria interior, que sacia e frutifica em vida abundante.

Felizes os que ousam viver até às últimas consequências a 

 

revolução das bem-aventuranças, dessa lei libertadora oferecida pelo Nazareno para escândalo de um mundo demasiado focado na autossatisfação. A lei dos felizes é a liberdade que o mundo não pode compreender. É a liberdade de quem vive contra a corrente, não porque deseje contrariar a todos, mas porque não pode ser fiel a si mesmo senão vivendo segundo uma outra lógica, falando uma linguagem diferente: a lógica e a linguagem da pró-existência, de quem vive para se dar, de quem vê no Cristo o jeito de ser que responde aos anseios mais profundos e sinceros do mistério do homem.

Felizes os que se desprendem de quanto é supérfluo: não deixarão de encontrar Deus. Porque Deus se encontra para lá de todas as máscaras e subterfúgios, de todos os medos e justificações, ali onde o homem se confronta com a sua verdade. Na nudez da minha verdade, aí se encontra Deus. Só aí, desprendido de todas 

 

 

 

 

 

 

as «cisternas rotas que não podem reter as águas» (Jer 2,13), se constrói o Reino dos felizes, o Reino dos céus, o Reino do Deus que é «nascente de águas vivas».

João Paulo II, que, a 27 de abril, será declarado feliz porque muito ousou a felicidade verdadeira que brota da cruz de Cristo, continua ainda hoje a desafiar os jovens a que abram, que escancarem as portas do seu coração a Cristo, que se deixem habitar pela lei da felicidade que é loucura para a mediocridade de um mundo autossatisfeito, mas que é encontro verdadeiro de alegria plena com Aquele que dá resposta ao anseio mais profundo que nos habita.

 
A caminho da jornada mundial da juventude, o Papa Francisco desafia os jovens a que se deixem habitar pela ousadia das bem-aventuranças e particularmente, este ano, daquela que do desprendimento constrói o Reino dos felizes: «Felizes os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus» (Mt 5,3). Porque importa recordar, hoje e sempre, que é no Reino dos pobres – dos desprendidos e ousados – que habita a felicidade verdadeira.

Quem ousará construí-lo?

Deixemo-nos invadir por este Reino.

Não te conformes, transforma-te. Sê mensageiro e protagonista das Bem-aventuranças!

 

 

Papa diz «basta» ao tráfico de pessoas

O Papa defendeu hoje ser necessário dizer “basta” ao tráfico de pessoas, que considerou um “crime contra a humanidade”. “O tráfico de seres humanos é uma chaga, uma chaga no corpo da humanidade contemporânea, uma chaga na carne de Cristo. É um crime contra a humanidade”, declarou, perante os participantes na segunda conferência internacional que decorreu desde quarta-feira no Vaticano.

Segundo Francisco, este é “um encontro importante, mas também é um gesto da Igreja, das pessoas de boa vontade, que quer gritar ‘basta’!”. A iniciativa tem lugar na Aula Magna da Academia Pontifícia das Ciências, com organização da Conferência Episcopal de Inglaterra e Gales, um ano após o primeiro encontro do género.

O Papa destacou a importância de reunir diversos especialistas para acompanhar as “estratégias e competências” de cada um com a “compaixão evangélica, a proximidade aos homens e mulheres que são vítimas deste crime”. “Estão aqui reunidas

 

 autoridades policiais, empenhadas sobretudo em combater este triste fenómeno com os instrumentos e o rigor da lei, e operadores humanitários, cuja missão principal é oferecer acolhimento, calor humano e possibilidade de resgate das vítimas”, acrescentou.

Para Francisco, estas duas abordagens “podem e devem andar juntas”, por serem “complementares”. “Encontros como estes são de grande utilidade, diria mesmo necessários”, concluiu, elogiando a presença de participantes de “tantas partes do mundo, para levar por diante um trabalho comum”.

O cardeal Vincent Gerard Nichols, arcebispo de Westminster, que preside aos trabalhos da conferência, disse à Rádio Vaticano que a colaboração entre religiosos e a Polícia Metropolitana de Londres no combate ao tráfico humano ganhou muita importância nos últimos anos, esperando que a experiência possa ser colocada em prática noutros países.

 

 

  

 

“Aquilo que a Igreja tem a oferecer é a melhor rede a nível mundial, que envolve em particular as religiosas”, precisou.

As estimativas mais recentes da Organização Internacional do Trabalho referem que o tráfico humano envolve 2,4 milhões de pessoas e montantes na ordem dos 32 mil milhões de dólares por ano. Os promotores da conferência 'Combate ao Tráfico Humano: Igreja e forças da lei em parceria' pretendem “unir esforços para que a lei seja aplicada” 

 

de forma a ajudar à “construção de uma rede efetiva" que seja capaz de combater este crime.

A rede passa por uma “cooperação mais estreita” entre Igreja e polícia de forma a “facilitar as investigações conjuntas" e promover uma ação internacional mais coordenada que ajude a “livrar o mundo do flagelo do tráfico de seres humanos, a segunda fonte de riqueza criminosa mais rentável do planeta”.

 

 

Francisco apela ao fim da guerra na Síria

O Papa condenou o assassinato “brutal” do padre jesuíta Frans van der Lugt, morto a tiro na Síria, esta segunda-feira, e apelou ao fim da guerra no país. “O seu brutal assassinato encheu-me de profunda dor e fez-me pensar uma vez mais nas muitas pessoas que sofrem e que morrem nesse país martirizado, a minha amada Síria, há demasiado tempo vítima de um conflito sangrento, que continua a espalhar morte e destruição”, referiu Francisco, falando na Praça de São Pedro, Vaticano, durante a audiência pública semanal.

A intervenção recordou as “numerosas pessoas raptadas”, cristãos e muçulmanos, sírios e de outros países, entre os quais há bispos e sacerdotes. “Peçamos ao Senhor que eles possam voltar quanto antes aos seus entes queridos e às suas famílias e comunidades”, disse.

Francisco convidou todos à oração “pela paz na Síria e na região”, lançando um “apelo urgente” aos responsáveis sírios e à comunidade internacional: "Por favor, que as armas se calem, 

 

que se ponha fim à violência”. 

“Basta de guerra, basta de destruição”, exclamou, antes de rezar, com os presentes, à Virgem Maria, "Rainha da Paz".

Segundo a ONG Observatório Sírio dos Direitos Humanos, com sede no Reino Unido, os combates entre as tropas do governo de Bashar Al-Assad e forças opositoras ao regime já provocaram 150 mil mortos, incluindo 7985 crianças, e milhões de refugiados e deslocados.

O Papa pediu que se respeite o “direito humanitário”, com atenção à “população necessitada de assistência humanitária”, e se chegue “à desejada paz através do diálogo e da reconciliação”.

 

 

 

Francisco deu entrevista a jovens belgas

O Papa Francisco convidou crentes e não crentes a um compromisso conjunto pela construção de um mundo em que cada ser humano esteja no centro, em vez do “poder” ou do “dinheiro”, numa entrevista a jovens belgas.

"Todos somos irmãos, crentes, não crentes, desta ou de outra confissão religiosa, judeus, muçulmanos... todos somos irmãos! O homem está no centro da história, e isso para mim é muito importante: o homem é o centro. Neste momento da história o homem foi tirado do centro, foi atirado para periferia e no centro – pelo menos agora – está o poder, o dinheiro”, referiu, em declarações transmitidas pelo canal VRT, da Flandres, reproduzidas pelo site do Vaticano.

Os jovens, incluindo uma agnóstica, foram acompanhados pelo bispo de Gent, D. Lucas Van Looy, e fizeram as perguntas em inglês, tendo Francisco respondido em italiano. “Temos de trabalhar pelas pessoas, pelo homem e a mulher, que são imagens de Deus”, declarou.

O Papa explicou que os jovens são uma dos seus interesses 

 

 

centrais, porque representam “a semente que dará fruto”. “Neste mundo, onde no centro está o poder, o dinheiro, os jovens foram expulsos. Foram afastadas as crianças – não queremos crianças, queremo-las cada vez menos, famílias pequenas: não se desejam crianças. Foram expulsos os idosos: tantos idosos morrem por uma eutanásia escondida, porque não se trata deles e morrem”, alertou.

Francisco revelou particular preocupação com o desemprego juvenil, referindo que nalgumas partes de Espanha chega atualmente aos 70%. “Este é o momento da ‘paixão dos jovens’. Entramos numa cultura do descartável, aquilo que não serve para esta globalização, deita-se fora”, lamentou.

 

 

 

 

A Agência ECCLESIA escolhe sete acontecimentos que marcaram a atualidade eclesial portuguesa nos últimos dias, sempre atualizados em www.agencia.ecclesia.pt

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Cruz feita com madeira de barcos naufragados em Lampedusa vai percorrer a Itália

 

 

 

Papa condena assassinato de jesuíta holandês na Síria

 

‘NOÉ’ …ou ‘NÃO É’

Aguardada estreia, mercê do potente motor comercial de que foi investido desde o início do projeto e da expectativa criada em torno de uma agenda mediática bem oleada, ‘Noé’ chega finalmente às salas de cinema portuguesas.

Após várias tentativas falhadas de somar a todo o investimento de mega produção e divulgação a simpatia, ou pelo menos a atenção especial do Vaticano, solicitando audiência particular com o Papa Francisco, o mais que o realizador Darren Aronofsky, o presidente da Paramount e o protagonista Russel Crowe conseguiram foi sentar-se, no dia de São José e juntamente com umas dezenas de pessoas, a uns metros menos de distância do Papa do que milhares de fiéis, na audiência geral na praça de São Pedro. Foi, assim, na mesma condição dos demais, que Russel Crowe teve a oportunidade de receber a bênção de Francisco, mesmo sem palavras, encontro que o ator descreveria posteriormente como ‘uma experiência incrível’ (Variety), com o Papa a manifestar ‘um 

 

elevado nível de consistência relativamente ao que tem dito e ao que tem feito’ (mail online). Ou não fosse o Papa Francisco que, desde o início, recusara categoricamente qualquer indício de privilégio à equipa ou tentativa de transformar o encontro numa ação promocional.

‘Noé’ não é nem o filme bíblico que muitos esperavam, nem aquele com que muitos se poderiam surpreender. O próprio realizador afirma-o como ‘o menos bíblico alguma vez feito’ (http://www.newyorker.com) e de facto a obra escapa, em muito, à fidelidade da narrativa bíblica, quer no seu sentido estrito, quer na riqueza da interpretação da sua extraordinária simbologia.

A obra inicia num tempo em que a Terra e a humanidade são ameaçadas pela corrompida ação do homem. Noé, a mulher Naameh e os três filhos, Sem, Cam e Jafet, herdeiros de uma pureza de coração única, vivem afugentados dos humanos. Aqui, a pureza de coração não significa um coração fecundo, uma maior capacidade ou permeabilidade à escuta de Deus, o qual no filme 

 

 

 

praticamente não tem expressão, mas algo que faz Noé, como premissa, desejar vingança, interpretar literalmente o desejo de Deus de que construa uma barca mas, na maior parte do filme, erroneamente, a missão de que foi confiado. Incluindo na assunção de que afinal a sua própria família deverá terminar ali, naquela barca, o que diverge para um melodrama familiar cada vez mais distante do significado salvífico da aliança de Deus consigo, a aliança sempre possível, sempre disponível com os homens, para um Noé contra tudo e contra todos e para extremos que tentam trazer, entre outros e atabalhoadamente, o tema do aborto a lume. Se é certo que no final a mensagem expressa é a da salvação pelo amor, também é muito provável que entre as deambulações se perca a essência do genuíno significado da narrativa. E é pelo significado, que a simbologia literária e cinematográfica tão bem enriquece, que as narrativas valem.

Perde-se o significado da sempre possível salvação do homem, é subdimensionado o significado ecológico intemporal mas tão pertinente nos dias de hoje, a urgência do olhar ao bem comum. Nem mesmo a construção de Naameh como personagem,

 

uma das explorações mais interessantes do filme que vem resgatar a interpretação literal de Eva, a mulher indutora de pecado, chega para suportar uma tão divergente leitura da relação de Deus com os homens. O sobredimensionamento da personagem Noé, porventura com a intenção de que lhe conferir uma humana fragilidade igual à dos outros homens, acaba por ter o efeito reverso, votando-o à mesma literalidade a que o argumento terá tentado escapar. Cinematograficamente, procurando combinar fantástico, tradição, ficção e inovação, o filme não se destaca. Sem a originalidade, a profundidade e a mestria que um empreendimento desses exige, ficciona a tradição, segue fórmulas tradicionais e frágeis onde poderia inovar, fantasia sem grande convicção aquilo com que alguns públicos se poderiam enfim identificar. O cinema tem a extraordinária capacidade de nos arrebatar e, ao mesmo tempo, nos tocar fundo. Pelo que diz ao nosso íntimo e pelo que nos leva adiante, como a fé. Nos dias de hoje, em que o ruído é norma, fá-lo com melhor resultado pela simplicidade do que pelo rebuscamento. Visual e narrativo. ‘Noé’, de fé ausente, não é esse cinema.

Margarida Ataíde

 
 

 

iMissio

http://www.imissio.net

 

Um dos projetos nacionais mais interessantes que utiliza a internet como meio privilegiado de Evangelização é o iMissio. Conforme refere o responsável, Bento Oliveira, o “iMissio é um projeto de evangelização que tem como objetivo criar uma comunidade que está convicta que a internet é um ambiente de evangelização que desafia o modo de pensar a fé. Pretende ser espaço de relação entre a fé, a vida da Igreja e as transformações que o homem está a viver. A rede é um ambiente no qual vivemos, com um modo de pensar, conhecer, comunicar e viver próprios. A nossa tarefa é a de acompanhar o homem no seu caminho, e a rede faz parte integrante deste percurso de modo irreversível. Os cristãos refletem na rede porque foram chamados a ajudar a humanidade a compreender o significado profundo da própria rede no projeto de Deus”.

 
Ao digitarmos o endereço www.imissio.net  encontramos um espaço simples e graficamente muito bem conseguido, onde os conteúdos disponíveis são iminentemente informativos, mas que se tornam interativos devido aos desafios regularmente apresentados. Na página inicial estão dispostos os artigos mais recentes e um menu com todas as opções disponíveis. Chamamos a atenção para as ligações a algumas redes sociais (facebook, twitter, instagram e pintrest), dado que este projeto sustenta, e bem, muito do seu trabalho nestes ambientes sociais digitais, tornado assim a informação bastante dinâmica e apelativa. Como forma de ilustrar esta afirmação, referimos, a título de exemplo, que nesta quaresma está em vigor a campanha iMissio2Lent, o desafio passa por, “ao longo destes 40 dias meditar ativamente na mensagem do Papa Francisco para esta quaresma. Em cada dia uma trecho da 
 

 

mensagem, acompanhada de uma imagem e um pequeno desafio para cada dia intitulado HOJE”.

Clicando em “menu” é apresentado um conjunto interessante de opções, onde algumas são apenas formas diferentes de olharmos para as notícias publicadas (categorias, autores, arquivo), mas outra mostram-nos conteúdos muito agradáveis.

Em twitter, além de serem mostradas as micro-mensagens publicadas na conta relativa a esta página, somos ainda 

 
presenteados com todos os twits do Papa Francisco.
Outro espaço também ele bastante rico é da autoria do responsável da livraria Fundamentos em Braga - Rui Pedro Vasconcelos, onde regularmente nos são apresentadas publicações muito estimulantes.

Aqui fica lançado o repto de aderirem às redes do projeto iMissio porque é preciso desafiar o modo de pensar a fé!

 

Fernando Cassola Marques

 

 

 

O Concílio de Trento em Portugal
e nas suas conquistas

Este livro é produto da atividade desenvolvida no ciclo de 2013 do Seminário de História Religiosa Moderna, que teve por tema geral “O Concílio de Trento (1545-1563)”.

As questões selecionadas para debate mereceram uma atenção cuidada, centrada em duas linhas de fundo. A primeira, visou conseguir pontos de situação historiográficos e metodológicos que consintam aprofundamentos futuros, seguros e críticos. A segunda, fazendo convergir sobre cada tópico novos olhares e aproximações de tratamentos documentais deu conta das temáticas em aberto e das implicações do Concílio na vida cultural, religiosa e política moderna.

 

 

 

 

 

 

Centro de Estudos de História Religiosa (CEHR) da Universidade Católica Portuguesa

Coord.: António Camões Gouveia, David Sampaio Barbosa e José Pedro Paiva

Ano da edição: 2014

Pág.: 216

ISBN: 978-972-8361-60-0  

 

 

 

A escrita na Catedral: a Chancelaria
Episcopal do Porto na Idade Média

O objetivo deste livro é o de estudar a chancelaria da Sé do Porto, entre 1247 e 1406, e os documentos por ela produzidos, não só do ponto de vista diplomático mas também paleográfico. Estas duas visões entrecruzam?se, e somente o estudo de ambas permite conhecer a chancelaria. Pretende?se, portanto, analisar a composição desta escrivaninha, a génese e a tipologia dos seus atos, o habitus documental refletido nas diversas parte dos documentos (protocolo, texto e escatocolo), e a respetiva estrutura formular, bem como os seus notários, “anónimos” e identificados, a sua escrita e a evolução da mesma, e não menos importante, o seu lugar na cultura e na sociedade medieval portuense. Só o estudo de todos estes vetores permitirá avaliar o papel e a importância desta chancelaria episcopal no panorama da produção documental na cidade.

 

 

 

 

 

 

Autor: Maria João Oliveira e Silva

Ano da edição: 2014

Pág.: 400

ISBN (CEHR): 978-972-8361-54-9

ISBN (CITCEM): 978-989-8351-26-5

 

 

 

II Concílio do Vaticano: A luz conciliar
na cooperativa «Pragma»

 

A cooperativa «Pragma» foi fundada por um grupo de católicos a 11 de abril de 1964, um ano depois da publicação da encíclica de João XXIII, «Pacem in Terris». A data foi escolhida de propósito para celebrar o primeiro aniversário do documento do Papa que convocou o II Concílio do Vaticano. Ao elegeram esta espécie de «patrocínio», esses católicos deram um sinal do que os movia.

“A «Pacem in Terris» tinha sido para eles um reconforto, uma tábua de salvação. Passaria a ser também um meio de pressão”, (In: Jornal «Expresso», 03 de março de 2007). Ao ser constituída, os associados da «Pragma» (cooperativa de difusão cultural e acção comunitária) tiraram partido de uma lacuna legislativa: “as cooperativas não tinham sido abrangidas pelas limitações impostas ao direito de associação e, por essa razão, nem os seus estatutos eram sujeitos a aprovação legal nem a eleição dos seus dirigentes a ratificação pelas entidades governamentais” (In: Jornal «Expresso», 03 de março de 2007).

No mesmo texto da pré-publicação da obra «Entre as Brumas da Memória – Os católicos e a ditadura» da autoria de Joana Lopes (uma das associadas) lê-se que forçando “uma porta entreaberta por um lapso do poder, os fundadores da «Pragma» puseram mais uma peça no puzzle da oposição ao regime – cuidadosa e imaginativamente”. Antes desta cooperativa, 

 

 

 

 

já a revista «O Tempo e o Modo» tinha colocado também mais peças no puzzle da oposição.

O grupo de católicos que fundou a «Pragma», talvez “menos teórico e mais social” (disse mais tarde João Bénard da Costa) propôs-se romper com outras barreiras. Saiu do meio intelectual e incluiu, desde o nascimento, não só licenciados e estudantes universitários, mas também sócios que vinham do meio operário, nomeadamente dirigentes de organismos ligados à Acção Católica Portuguesa. Subjacente a este projecto, tal como o da revista «O Tempo e o Modo», estava um “posicionamento de oposição ao regime como um todo, à falta de liberdades, à guerra de África”.

Mário Murteira foi o sócio número 1 e o primeiro presidente da direcção. Nuno Teotónio Pereira o sócio número 2 e segundo presidente, mas manteve-se até ao fim como o seu principal animador. Apesar da lacuna legislativa, a PIDE esteve atenta à «Pragma» desde o seu início.

Com sede na Rua da Glória 

 

(Lisboa), a «Pragma» realizava sessões públicas para alertar consciências. Uma delas - «Emigração – situação de crise ou factor de progresso?», a PIDE considerou “inconveniente” a sua realização e o Governo Civil de Lisboa indeferiu o pedido da «Pragma». A questão da emigração era um tema especialmente sensível, já que, em 1966, tinham sido 125 mil os portugueses que, legal ou clandestinamente, tinham deixado o país. Devido à recusa de autorização por parte do Governo Civil, o ciclo sobre emigração ficou limitado aos sócios.

A história da «Pragma» ilustra “bem alguns ambientes da última década do fascismo” e mobilizou muita gente e abriu horizontes. Depois de muitas «peripécias» com a PIDE, o ministro do interior dissolveu a «Pragma» a 29 de março de 1968… Apesar de interposto recurso desta decisão para o Supremo Tribunal Administrativo (STA) – tomou decisão favorável à cooperativa – anulando o despacho ministerial, a decisão do STA não teve efeitos práticos. 

 

 

Abril 2014

Dia 11
* Setúbal - Do Seixal a Arrentela - Via Sacra Jovem promovida pela Pastoral Juvenil de Setúbal

* Fátima - Museu de Arte Sacra e Etnologia (21h30m) - Edição do “Cinema no Museu” com a visualização do documentário «O meu Bairro» da autoria das irmãs Inês e Daniela Leitão
* Coimbra - Sé (11h00m) - Bênção das grávidas.
* Braga - Famalicão - Encenação ao vivo da Paixão e morte de Jesus Cristo, pelas ruas da cidade
* Fátima - Encontro nacional das Filhas de Maria Auxiliadora.
* Lisboa - UCP - Conselho Superior da Universidade Católica Portuguesa.
* Porto - Gaia (Arquivo Municipal Sophia de Mello Breyner) -Apresentação do livro «Religião e Diálogo Inter-Religioso» da autoria do teólogo Anselmo Borges e conferência do autor sobre «A "síndrome de Obama" ou o "efeito Francisco"».
* Lisboa - Igreja do Bom Sucesso (19h00m) - Celebração com a Ordem de Cavalaria do Santo Sepulcro de Jerusalém presidida pelo Patriarca de Lisboa.

 

* Porto - Paróquia de Nossa Senhora da Conceição - Encontro sobre «As famílias cristãs no mundo de hoje - bênçãos e desafios» por Carlos Aguiar Gomes, presidente da Associação Famílias.
* Algarve - Quarteira - Jornada diocesana da juventude.  (11 e 12)
* Fátima - Encontro nacional dos Diplomados Católicos. (11 e 13)

 

Dia 12

* Guarda - Maçainhas - Tradição Quaresmal «Encomendação das Almas»
* Braga - Igreja de São Vicente - II Cortejo de guiões dos Passos do Arciprestado de Braga.
* Viseu - Mangualde - Jornada diocesana da juventude com o tema «Felizes os pobres… traz-me um pouco do teu tempo e descobre o que tenho para te dar»
* Porto - Ermesinde (Igreja matriz) - Concerto da Páscoa pelo Coro da Sé do Porto com apresentação da obra «A Criação» de Joseph Haydn. 
* Lisboa - Igreja de São Pedro de Alcântara - Concerto de Páscoa com o grupo «Prova dos Nove» e promovido pelo Movimento ao Serviço da Vida.

 

 

 

 

* Braga - Centro Académico de Braga (CAB) (21h30) - Apresentação do livro «Entre-tanto» da autoria do padre José Frazão.
* Leiria - Ourém (Igreja de Santa Maria) - Celebração do 5º aniversário da canonização de São frei Nuno de Santa Maria
* Castelo Branco - Idanha-a-Nova (Forum Cultural) - VII encontro de cantares quaresmais de Idanha-a-Nova
*Beja - Grândola (Igreja Matriz de Nossa Senhora da Assunção) -Concerto e encenação «Liturgia da Esperança» integrado no Festival «Terras Sem Sombra».
* Setúbal - Moita (Salão Paroquial) - Conferência Quaresmal sobre “Viver na dinâmica da Palavra de Deus, hoje" por Frei Herculano Alves.
* Aveiro - Dia diocesano da Juventude.
* Lisboa - Visita a alguns monumentos emblemáticos localizados no Bairro Alto: Igreja de São Roque, Convento dos Cardaes, Teatro da Trindade, Ruínas do Carmo e promovida pelo Centro de Estudos de Cultura História, Artes e Património
* Beja - Moura (Centro Paroquial) - Celebração do Dia Mundial da Juventude.

 

* Évora - A comunidade paroquial de Nossa Senhora de Fátima de Bacelos entrega 200 cabazes a famílias carenciadas.
* Guarda - Seminário da Guarda - Retiro diocesano de catequistas
* Aveiro - Largo da Igreja da Gafanha da Encarnação (21h00m) - Encenação da «Paixão de Cristo».
* Braga - São Bartolomeu do Mar - O agrupamento de escuteiros de São Bartolomeu do Mar, leva à cena a representação da Paixão de Cristo.
* Évora - Dia diocesano da Juventude.
* Fátima - Centro Paulo VI (16h00m) - Assembleia Vicentina presidida por D. Joaquim Mendes.
* Porto - Sé - Concerto de Quaresma.
* Coimbra - Sé Velha (21h30m) - Concerto do II Ciclo de Requiem.
* Alcobaça - Rotunda da ESDICA - Inauguração da estátua de São Bernardo de Claraval por D. Manuel Clemente.
* Guarda - Trancoso - Dia diocesano da juventude e Festival Jovem da Canção de Mensagem promovido pelo Departamento da Pastoral Juvenil da Diocese da Guarda.
* Itália - Turim - Encerramento do Capítulo geral dos Salesianos

 

 

 

 

 

 

 

O Festival “Terras Sem Sombra”, da Diocese de Beja, vai levar este sábado até Grândola uma dramatização sobre o “Cristo dos Gascões”, escultura da época românica venerada anualmente na região de Segóvia, Espanha e cuja tradição esteve outrora enraizada no Alentejo. O espetáculo da companhia “Nao d’Amores” está marcado para as 21h30, na igreja matriz de Grândola.

 

A Câmara Municipal da Guarda, através do núcleo de animação cultural, vai organizar este sábado, em Maçainhas, o encontro de “Encomendação das Almas”. Cerca de 180 homens e mulheres vestidos de negro vão sair à rua, durante a noite, para rezarem e cantarem pelas almas dos mortos, no âmbito de uma tradição religiosa integrada no tempo da Quaresma.

 

Este domingo a Igreja Católica assinala o Dia Mundial da Juventude, marcado pelo desafio do Papa Francisco aos jovens para que rejeitem as “ofertas de baixo preço” e privilegiem a “verdadeira felicidade” em Jesus Cristo. O dia é marcado por diversas iniciativas ao nível das dioceses portuguesas.

 

A Pastoral Juvenil da Vigararia de Gaia Sul, da Diocese do Porto, vai promover na próxima quarta-feira às 21h30 uma Via-sacra jovem, com concentração inicial à frente do solar dos Condes de Resende. O evento terá como destaque a presença da cruz relíquia que o Papa João Paulo II entregou em 1987 ao continente europeu, durante as primeiras jornadas mundiais da juventude, em Buenos Aires.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Programação religiosa nos media

Antena 1, 8h00

RTP1, 10h00

Transmissão da missa dominical

 

11h00 - Transmissão missa

 

12h15 - Oitavo Dia

 

Domingo: 10h00 - O Dia do Senhor; 11h00 - Eucaristia; 23h30 - Ventos e Marés; segunda a sexta-feira: 6h57 - Sementes de reflexão; 7h55 - Oração da Manhã;  12h00 - Angelus; 18h30 - Terço; 23h57-Meditando; sábado: 23h30 - Terra Prometida.

 
RTP2, 11h22

Domingo, dia 13 - Caminhos de espiritualidade.

 

RTP2, 15h30

Segunda-feira, dia 14 - Entrevista a José Paixão e Ricardo Coelho da Liga Operária Católica/Movimento de Trabalhadores Cristãos;

Terça-feira, dia 15 - Informação e entrevista a António Catana sobre a vivência da Semana Santa;

Quarta-feira, dia 16 - Informação e entrevista a António Catana sobre a vivência da Semana Santa;

Quinta-feira, dia 17 - Informação e entrevista a António Catana sobre a vivência da Semana Santa;

Sexta-feira, dia 18 - Textos e locais da paixão de Cristo comentados pelo padre João Lourenço.

 

Antena 1

Domingo, dia 13 de abril,  06h00 - Acontecimentos da paixão de Cristo vividos pela Juventude Passionista. Conversa com o padre Nuno Branco sobre os desafios de trabalhar com os jovens. Comentário de José Miguel Sardica.

 

Segunda a sexta-feira, 22h45 - 14 a 18 de abril - Rui Vieira Nery e a música da quaresma, mensagem de quaresma da Comissão Nacional Justiça e Paz, explicação do Tríduo Pascal, com o padre Nélio Pita e a Quinta-feira Santa com o padre José Miguel Pereira.

 

 

Pode a Igreja perdoar
realmente os pecados?

 

 

 

 

 

 

 

 

Ano A -  Domingo de Ramos

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Apaixonados pela Cruz de Cristo
 

A liturgia deste último domingo da Quaresma, Domingo de Ramos, convida-nos a contemplar Deus que, por amor, desceu ao nosso encontro, partilhou a nossa humanidade, fez-Se servo dos homens, deixou-Se morrer para que o egoísmo e o pecado fossem vencidos.

A cruz está no centro da liturgia deste domingo; apresenta-nos a lição suprema, o último passo desse caminho de vida nova que, em Jesus, Deus nos propõe: a doação da vida por amor.

As celebrações deste dia estão plenas de simbolismo, mas é sobretudo a Palavra de Deus que deve marcar o andamento do nosso celebrar, em particular o longo texto do Evangelho da Paixão.

Aí somos convidados a contemplar a paixão e morte de Jesus: é o momento supremo de uma vida feita dom e serviço, a fim de libertar os homens de tudo aquilo que gera egoísmo e escravidão. Na cruz, revela-se o amor de Deus, esse amor que não guarda nada para si, mas que se faz dom total.

Desse amor resultou vida plena, que Jesus quis repartir connosco até ao fim dos tempos: eis a mais espantosa história de amor que é possível contar; ela é a boa notícia que enche de alegria o coração dos crentes.

Contemplar a cruz significa assumir a mesma entrega de Jesus e solidarizar-se com aqueles que são crucificados neste mundo: os que sofrem violência, os que são explorados, os que são excluídos, os que são privados de direitos e de dignidade.

Olhar a cruz de Jesus significa denunciar tudo o que gera ódio, divisão, medo, em termos de 

 

 

 


 

 

 

 

estruturas, valores, práticas, ideologias; significa evitar que os homens continuem a crucificar outros homens; significa aprender com Jesus a entregar a vida por amor.

Viver deste modo pode conduzir à morte, mas o cristão sabe que amar como Jesus é viver a partir de uma dinâmica que a morte não pode vencer: o amor gera vida nova e introduz na nossa carne os dinamismos da ressurreição.

A cruz é símbolo da vida como paixão. Jesus foi um apaixonado. Uma só coisa contava para Ele: salvar a humanidade, arrancando-a do egoísmo, da violência, do orgulho, da riqueza, da idolatria, de tudo o que leva à morte e à infelicidade, para lhe propor o serviço, o acolhimento, o perdão, a pobreza, tudo o que leva à vida e à felicidade, em suma, ao Amor.

Durante a Semana Santa, ergamos os olhos para Cristo na sua Paixão por Deus seu Pai, na sua paixão pela Humanidade. Para que nós sejamos também apaixonados pela Cruz de Cristo, na plenitude do Amor de Deus.

Conduzidos pela Palavra, vivamos a Semana Santa como Santa Semana do Amor de Deus por nós. Aí está a essência da vida cristã, o resto são pormenores.

 

Manuel Barbosa, scj

www.dehonianos.org

 

 

Índia: A história improvável da carmelita Christine Kapadia

Conhecer Deus numa pastelaria

Christine Kapadia tem 35 anos, olhar doce e sorriso franco. É uma rapariga normal. Tal como 90 por cento dos 60 milhões de habitantes deste estado indiano, Christine nasceu em Gujarat, na Índia, numa família de forte tradição hindu. Mas, com ela, tudo isso mudou…

 

Christine Kapadia ganhou o hábito de fazer perguntas. Tudo a sobressalta como se fosse uma criança. Ainda hoje, aos 34 anos, lembra-se de quando ia com o pai, de motoreta, para a escola, e falava tu cá, tu lá, com Deus. Era uma lengalenga que mais ninguém entendia. “Falava com um Deus que não conhecia, mas a quem contava tudo o que era importante”. Hoje, Christine sorri quando se recorda desse tempo em que serpenteava pelo trânsito, entre buzinadelas, e se segurava ao pai, com a mão direita, e via o mundo correr ao contrário, cheio de vento. Desabafava com Deus e, sem o saber, já rezava.
A ânsia era tão grande que pretendia saber tudo sobre todas as religiões. Procurava uma 

 

chave quando teve um estremecimento. Aconteceu por acaso. Tinha 15 anos, estava numa pastelaria, quando meteu conversa com uma mulher um pouco mais velha. Ela era cristã. Católica. Houve ali um fascínio que não se traduz. Recorda-se apenas que lhe pediu para a levar a uma igreja. Foi o começo. Dois anos mais tarde, sobressaltou a família com um desejo: ser baptizada!

O baptismo

Quando falou nisso, sentiu-se sozinha mas nunca abandonada. Chorou quando os pais lhe disseram que compreendiam a sua ânsia pela descoberta do mundo e de Deus, e até toleravam que continuasse a frequentar a Igreja, mas só isso. Conversão ao cristianismo estava fora de questão. Na Igreja, Christine foi ganhando novos amigos. Os cristãos são, em Gujarat, uma ínfima minoria. Eles sabem que a paciência tem de ser infinita. E explicaram-no a Christine. Quando fez 18 anos, voltou a falar em ser baptizada. Ao contrário do que temia, os pais concordaram, 

 

 

 

 

 

por fim. Christine Kapadia baptizou-se em 2002 e continuou a viver em casa a tratar dos seus pais, cada vez mais doentes. Surpreendentemente, uma semana antes de falecer, a sua mãe pediu também para ser baptizada.
Desde então, mais nenhum obstáculo se colocou a esta jovem que abraçou a fé numa pastelaria
Christine Kapadia contraria as estatísticas. Hoje, pertence a uma comunidade carmelita, apoiada

 

 pela Fundação AIS, e a sua vida é já testemunho de vários milagres. Quando ingressou no Carmelo, conseguiu algo inimaginável. Todos a quiseram acompanhar. Todos. A simplicidade de Christine fez-lhes ver que Deus, ou o Amor, se podem escrever de muitas maneiras, em muitas línguas.

 

Paulo Aido | Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt

 

 

 

 

Vida a sério

Tony Neves

 
 

Estou em Taizé, com milhares de jovens e menos jovens que quiseram viver uma Semana Santa especial marcada por muita Oração, por um forte aprofundamento da Fé e do sentido da vida e por encontros sem fronteiras, uma vez que estão aqui ‘peregrinos’ de muitas origens. J. Paulo II, santo, também esteve aqui e disse que se vai a Taizé como quem passa por uma fonte: bebe-se a água e, saciados, continua-se o caminho…

A palavra ‘Pascoa’ quer dizer ‘passagem’… primeiro, do Mar Vermelho para a terra de Israel, ou seja, da terra da escravatura para a terra da liberdade, da terra estrangeira para a nossa terra; depois, Páscoa significa, com Cristo, passagem da morte á vida, vitória sobre todas as formas de morte que vitimam as pessoas por esse mundo além.

Já que a primeira Páscoa tem ligação com o Egipto, gostaria de partilhar uma pequena história que recebi há algum tempo pela internet: ‘Conta-se que, no século passado, um americano foi à cidade do Cairo no Egipto, como turista. Surgiu-lhe a oportunidade de aí visitar um famoso sábio e não a quis perder. Ficou, no entanto, muito surpreendido ao ver que o sábio morava num quartinho muito simples e cheio de livros. As únicas peças de mobília eram uma cama, uma mesa e um banco.

 

 

 

Luso Fonias

 

- Onde estão seus móveis? Perguntou o turista.

E o sábio, bem depressa olhou ao seu redor e perguntou também:

- E onde estão os seus...?

- Os meus?! Surpreendeu-se o turista - Mas estou aqui só de passagem!

- Eu também... - concluiu o sábio... A vida na Terra é somente uma passagem... Apesar disso, alguns vivem como se fossem ficar aqui eternamente, e esquecem-se de ser felizes’.

O Papa Francisco pediu a todos que a nossa Quaresma desembocasse na manhã da 

 

Páscoa. É, pela certa, o que vai acontecer, se tivemos a preocupação de ir até ao deserto, converter a vida e praticar a caridade. Sim, a Quaresma está a ser tempo forte de conversão aos valores do Evangelho, de uma oração mais intensa que põe o nosso coração a bater ao ritmo do coração de Deus, de uma solidariedade mais eficiente que traz os pobres das periferias e das margens até ao centro onde tudo existe ao alcance das mãos.

Desejo que a Vigília Pascal seja a grande noite e que a vida de Cristo Ressuscitado encha o coração de todos. Um Santa e Feliz Páscoa.

 


 

“Pode ouvir o programa Luso Fonias na rádio SIM, sábados às 14h00, ou em www.fecongd.org. O programa Luso Fonias é produzido pela FEC – Fundação Fé e Cooperação, ONGD da Conferência Episcopal Portuguesa.”

 

 

 

 

“uma só família humana,
alimento para todos”

Coordenador da campanha internacional de visita a Portugal apela à participação do país nesta iniciativa. Educação e desperdício alimentar serão os focos principais da campanha em Portugal.

 

“São muitas as evidências que legitimam a participação da Cáritas na campanha global contra a fome, algo que acontece pela primeira vez na Cáritas, um destes indicadores é o facto de se saber que 842 milhões de pessoas em todo o mundo passam fome.” Quem o explica é Alfonso Apicella, coordenador internacional da campanha que esteve em Portugal onde participou na conferência sobre direito à alimentação à luz do Pensamento Social Cristão, que aconteceu em Beja no âmbito do Conselho Geral da Cáritas Portuguesa.

“Quando falamos de fome não estamos apenas a falar da fome que é resultado do estômago vazio” explica Alfonso Apicella, “falamos também da chamada fome oculta e que é resultado 

 

de uma alimentação pobre em nutrientes, que prejudica o desenvolvimento físico e mental, reduz a produtividade laboral e aumenta o risco de doenças e morte prematura”.  

Por tudo isto a campanha internacional “uma só família humana, alimento para todos” tem como principal objetivo “respeitar e promover a dignidade humana reduzindo o número de pessoas com fome e mal nutridas em todos os continentes”. Para além deste objetivo central Alfonso Apiccella destaca mais três: “sensibilizar o público em geral para o direito à alimentação, reduzir o número de pessoas a viver com carências alimentares, aumentar a participação dos pobres na tomada de decisões e em todos os processos relacionados com medidas para a redução da fome”.

No que toca à incidência política da campanha o coordenador internacional destaca a importância de se debater, ao nível nacional, o direito a alimentação não apenas 

 

 

 

 

 

 

no ponto de vista da reivindicação mas, muito, na sua monitorização e acompanhamento. “É importante que ao nível nacional as pessoas e as organizações tenham um entendimento claro sobre aquilo que é o direito à alimentação”, sublinha Alfonso Apicella acrescentando ainda que “Esta não é uma campanha 

 

para os países do sul. Ela destina-se a todos os países num esforço coletivo de potenciar a discussão sobre direito à alimentação e segurança alimentar a todos os níveis da vida de um país.”

 

Márcia Carvalho
Cáritas Portuguesa
 

 

Tempo para cuidar do espírito

Manuel de Lemos

Presidente da União das Misericórdias Portuguesas

 

Muito se tem falado sobre a crise que assola o país e as dificuldades por que têm passado as famílias portuguesas e as Misericórdias têm estado atentas e prontas a responder aos pedidos de ajuda com que são diariamente confrontadas. Mas neste tempo de Quaresma, embora sem perder de vista que a nossa resposta aos portugueses é urgente e imprescindível, as Misericórdias convidam as comunidades a refletir sobre o sofrimento de Cristo. O tempo é para cuidar do espírito.

As Misericórdias sempre estiveram ligadas à celebração de procissões na Quaresma. O seu património secular e a iconografia das suas igrejas evidenciam esta realidade. A Nossa Senhora da Misericórdia ou Nossa Senhora da Piedade e a Paixão são os temas mais marcantes deste ideário programático e iconográfico que, ao longo de mais de cinco séculos, tem distinguido a história e a vida destas instituições. Ambos representam uma referência para todas as Misericórdias reconhecerem o sofrimento em todos os que, na sociedade contemporânea, precisam de ajuda, consolação e auxílio.

É neste contexto que devemos interpretar a mobilização das Misericórdias para a celebração da Quaresma. A Misericórdia de Braga é um dos inúmeros exemplos. Ano após ano, a instituição promove a Semana Santa naquela localidade. A procissão de Endoenças, também conhecida por 

 

 

 

 

procissão do Senhor da Cana Verde ou mais popularmente conhecida como procissão do Senhor Ecce Homo, tem lugar na noite de Quinta-Feira Santa. Esta cerimónia, segundo o compromisso da Santa Casa de Braga, refletia “a penitência aos fiéis cristãos que reconheceram seus pecados, e por eles quiseram fazer alguma satisfação penal nos dias em que o mesmo Filho de Deus quis pagar por nós derramando Seu precioso sangue”.

Esta e outras manifestações públicas que perpetuam tradições de grande religiosidade são prova do compromisso destas instituições. Nesta lógica de missão, a grande devoção das Misericórdias passa pelo culto do Cristo que sofreu e morreu, entregando-se na Cruz por amor aos homens interpelando-nos com a maior prova de amor e de misericórdia que conhecemos na história. A espiritualidade das Misericórdias esteve sempre marcada por estes valores que imanam diretamente de Cristo que se humilhou, sofreu, perdoou e morreu por amor aos outros. .

 

Esta entrega deverá ser o exemplo da missão dos homens de Misericórdia pelo seu próximo.

As Misericórdias estiveram e estão em cada comunidade, nos momentos altos da celebração da fé cristã. Esta particularidade vem coroar a sua ação quotidiana, em que a par das obras corporais realizadas diariamente nas repostas sociais, as Misericórdias assumem a sua vertente espiritual de profunda identidade cristã. Tradição, fé e devoção são também elementos fundacionais da identidade das Misericórdias portuguesas.

E é esta identidade e natureza que distingue as Misericórdias. Apesar de no dia a dia buscarmos socorrer o próximo, encontrando resposta para as mais variadas carências, temos ao longo de 500 anos inspirado a reflexão sobre este mesmo sofrimento através das inúmeras procissões que por este país fora mobilizam as comunidades. Dando cumprimentos às obras de misericórdia, estas instituições emprestam um brilho e uma introspeção às solenidades da Páscoa. Tempo maior dos cristãos

 

 

 

 

A Paz sem vencedor e sem vencidos

 

Dai-nos Senhor a paz que vos pedimos
A paz sem vencedor e sem vencidos
Que o tempo que nos deste seja um novo
Recomeço de esperança e de justiça
Dai-nos Senhor a paz que vos pedimos

A paz sem vencedor e sem vencidos

Erguei o nosso ser à transparência
Para podermos ler melhor a vida
Para entendermos vosso mandamento
Para que venha a nós o vosso reino
Dai-nos Senhor a paz que vos pedimos

A paz sem vencedor e sem vencidos

Fazei Senhor que a paz seja de todos
Dai-nos a paz que nasce da verdade
Dai-nos a paz que nasce da justiça
Dai-nos a paz chamada liberdade
Dai-nos Senhor a paz que vos pedimos

A paz sem vencedor e sem vencidos


(Sophia de Mello Breyner Andresen,  'Dual')

 

 

 

 

 

 

 

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