|
|||||
|
|
|
|||
Foto da capa: D.R. Foto da contracapa: Agência Ecclesia
|
|
|
Tradições da Semana Santa e Tempo Pascal[ver+]
A Liturgia das Horas em português nas plataformas móveis
Papa reforça política contra abusos sexuais
Paulo Rocha | José Cordeiro |César Costa |Jorge Coutinho | Miguel Neto | Margarida Corsino da Silva Francisco Senra Coelho |
A maior manchete |
||
Paulo Rocha, Agência ECCLESIA |
“Ressuscitou, não está aqui – a maior manchete de todos os tempos!” Ano após ano, estas palavas antecedem os votos de “Páscoa Feliz” que chegam por sms. E criam sempre surpresas, impactos causados pelo olhar a notícia da ressurreição como a mais relevante de todos os tempos, única e completamente nova na História da Humanidade. Em cada ano, a notícia é dada de novo. Tem e terá sempre a mesma novidade. E é também celebrada de forma criativa. A manchete, que chega no domingo de Páscoa, é precedida de muitas notícias nos 40 dias anteriores. Elas partem não apenas do interior de ambientes litúrgicos, mas de contextos surpreendentes que reservam energias e criatividade para recriar, na atualidade, os últimos momentos da vida de Jesus. Autarquias, associações ou grupos informais, muitas vezes distantes de rotinas relacionadas com a realização da experiência crente na continuidade de um ciclo anual, revelam proximidade a estes dias e representam com paixão os acontecimentos do caminho do Calvário. E mais do que a teatralidade desse itinerário, é a verdade de Jesus, o realismo do Seu sofrimento e o alcance da Sua salvação que nunca deixa indiferentes promotores, participantes ou espetadores das estações da Via-Sacra. |
|
|
||
Noutras épocas do ano, com a mesma raiz religiosa, o comércio e as luzes invadem espaços públicos e ocupações pessoais. No caso da Quaresma, Semana Santa e Páscoa, é a força dos acontecimentos da paixão, morte e ressurreição de Cristo que preenche momentos de reflexão ou oportunidades de contemplação.
Nestes dias não há |
"amêndoas" que escondam nem que seja um dos capítulos da História de Salvação que marcou definitivamente a Humanidade. Ela só pode ser deixada de lado quando a decisão passa por fazer férias… Porque férias na Semana Santa é fazer férias de Deus. E não apenas na Semana Santa como na seguinte. Com frequências de procuram dias de descanso após o acontecimento da ressurreição. E fecham-se portas de templos quando seria óbvio que se preenchessem do anúncio do maior acontecimento cristão. Há dois mil anos, os discípulos deixaram Jesus sozinho Jardim das Oliveiras. Sabia que O esperava uma condenação e os Seus mais próximos abandonaram-No. Hoje recriamos esses momentos com paixão, esquecendo depois o ressuscitado. A Páscoa tem de ser uma provocação para o anúncio dessa grande notícia que, em cada ano, é sempre manchete: “ressuscitou, não está aqui”. |
|
|
||
“Não sacudo do meu capote nenhuma responsabilidade, mas estamos a cumprir o programa, não estou a pedir um segundo resgate para Portugal e, felizmente, a perspetiva para os próximos anos é melhor para os portugueses”.
Pedro Passos Coelho, primeiro-ministro de Portugal em entrevista à SIC, 15/04/2014
|
“É óbvio que a troika fará tudo para que José Seguro quando chegar ao Governo seja facilmente embolsável, a questão fundamental é perceber que o Partido Socialista tem que ser o garante do bem estar do seu povo. Se Seguro é o coveiro, por má preparação, por hesitação não deixará de ser coveiro, embora com a melhor das intenções.” João Cravinho, responsável pelo manifesto dos 74, programa ‘Terça à Noite’ da Rádio Renascença, 15/04/2014
|
|
Navio de passageiros sul-coreano ‘Sewol’ naufragou ao largo da costa Sudoeste da Coreia do Sul © Crédito: Reuters |
|
||
“O que se passa hoje representa um perigo para a Europa e União Europeia. Está claro que os nossos vizinhos russos decidiram construir um novo muro de Berlim e querem o regresso à guerra fria”. Primeiro-ministro da Ucrânia, Arseni Iatseniuk, no início do Conselho de Ministros na Ucrânia, 16/04/2014 |
“Vamos olhar para a dor de Jesus e pensar ‘isto foi para mim, ainda que fosse a única pessoa no mundo ele fez isso por mim’, vamos beijar o crucifixo e dizer obrigado Jesus”. Papa Francisco, Audiência Geral, Vaticano, 16/04/2014 |
iBreviary em português
|
||
A aplicação iBreviary, criada em 2008 na Itália, conta agora com uma versão portuguesa constituída por textos aprovados pela Conferência Episcopal Portuguesa e cedidos pelo Secretariado Nacional da Liturgia. O iBreviary é uma “aplicação católica que permite ter no telemóvel e no tablet a Liturgia das Horas, todos os textos da liturgia diária, os rituais de todos os sacramentos e todas as principais orações católicas”, explica uma nota enviada
|
à Agência ECCLESIA. “Assim como o breviário impresso é um instrumento portátil, que pode acompanhar a jornada dos sacerdotes e leigos, do mesmo modo, com a modernidade, abrimo-nos ao suporte para telemóveis: mudam as modalidades de uso, mas não a lógica subjacente, que é a de pode aceder à oração de modo prático a qualquer momento do dia”, sintetiza o autor da aplicação, o sacerdote italiano Paolo Padrini
|
|
|
Novos Bispos em Portugal
|
||
O Papa Francisco nomeou esta quinta-feira o cónego José Augusto Traquina como bispo auxiliar de Lisboa e o cónego Francisco José Senra Coelho como bispo auxiliar da Arquidiocese de Braga. D. José Augusto Traquina Maria nasceu a 21 de janeiro de 1954 em Évora de Alcobaça, (Patriarcado de Lisboa), e foi ordenado padre a 30 de junho de 1985. Mestre em Teologia Pastoral, o novo bispo auxiliar de Lisboa era atualmente responsável pela paróquia de Nossa Senhora do Amparo, em Benfica, diretor espiritual do Seminário Maior de Cristo Rei do Olivais e coordenador do Conselho Presbiteral de Lisboa. O cónego Francisco José Villas-Boas Senra de Faria Coelho |
nasceu a 12 de março de 1961 em Maputo, Moçambique, sendo os pais naturais de Adães, concelho de Barcelos na Arquidiocese de Braga. Após o curso de Teologia no Seminário Maior de Évora, foi ordenado sacerdote a 29 de junho de 1986. Atualmente o novo bispo auxiliar de Braga era pároco em Évora, assistente do Movimento dos Cursos de Cristandade, entre outras responsabilidade. A nível académico, D. Francisco José Senra Coelho é doutorado em História pela Universidade Internacional de Phoenix tendo como tema da tese a vida do Arcebispo de Évora, D. Augusto Eduardo Nunes, no contexto da Primeira República em Portugal. |
|
500 anos do nascimento do Beato Bartolomeu dos Mártires |
||
O Município e a Diocese de Viana do Castelo vão comemorar o 500º Aniversário do nascimento do Beato Bartolomeu dos Mártires entre 3 de maio de 2014 a 18 julho 2015, de forma a promover a causa da canonização. “O objetivo principal é divulgar a sua vida e obra, promover a devoção e promover a causa da canonização e consequente declaração de Doutor da Igreja”, explica uma nota publicado no portal da Câmara Municipal de Viana do Castelo. Já no dia em que o programa foi apresentado oficialmente, no final de março, o bispo da diocese, D. Anacleto Oliveira confidenciou a esperança de que “o santo do povo” seja “reconhecido como santo por toda a Igreja”. “Aqui já é santo, aliás desde que ele morreu que lhe chamavam santo arcebispo de Braga e ao povo ninguém lhe tira isso. Se a Igreja ouvisse a voz do povo, se calhar, já o teria canonizado”, disse D. Anacleto Oliveira |
segundo o jornal Diário do Minho. O programa das celebrações inicia-se a 3 de maio com um concerto de música sacra, seguindo-se no dia seguinte “a sessão solene de abertura a ter lugar no Auditório do Instituto Politécnico de Viana do Castelo, com uma conferência a cargo do professor José Marques”. Todo o programa das celebrações dos 500 anos de São Bartolomeu dos Mártires (1514-2014) está disponível no portal da Câmara Municipal de Viana do Castelo. |
|
Padres não são «funcionários do sagrado», afirma bispo de Angra |
||
O bispo de Angra, D. António de Sousa Braga afirmou esta terça-feira que a “diminuição” do número de sacerdotes não pode transformá-los em “meros funcionários do sagrado. D. António de Sousa Braga presidiu à Missa Crismal esta terça-feira, na Catedral de Angra , dirigindo palavras de incentivo aos sacerdotes para estes promovam uma verdadeira cultura do encontro. “Com a diminuição dos efetivos não podemos deixar-nos transformar em meros funcionários do sagrado. É preciso ter tempo para acolher e dialogar com as pessoas. Trata-se de ter tempo seja para a confissão individual, como para a direção espiritual”, sublinhou D. António de Sousa Braga na homilia da Missa Crismal desta terça-feira. Durante a Missa Crismal, em que foram abençoados os óleos dos catecúmenos e dos enfermos para a celebração dos sacramentos nas várias comunidades paroquiais |
da Diocese de Angra, D. António de Sousa Braga convidou todo o clero da Terceira, a renovar as suas promessas sacerdotais. “É preciso pregar ao povo como uma mãe fala aos filhos”, disse D. António de Sousa Braga pedindo por isso aos sacerdotes que “não fiquem comodamente à espera das pessoas” mas que “procurem ir ao seu encontro”.
|
|
A Agência ECCLESIA escolhe sete acontecimentos que marcaram a atualidade eclesial portuguesa nos últimos dias, sempre atualizados em www.agencia.ecclesia.pt
|
||
|
|
|
|
||
|
|
|
Entrevista a Lisandra Rodrigues, Presidente da JOC |
Um coração de Misericórdia |
||
|
A Igreja exulta de alegria e louva a Deus pelas maravilhas operadas em dois Papas: João XXIII e João Paulo II. A canonização da sua santidade renova-nos no serviço alegre do Evangelho da Esperança. Lembrei-me de ir revisitar a homilia que João Paulo II proferiu aquando da beatificação de João XXIII, a 3 de Setembro do ano jubilar de 2000. Referiu-se assim um santo acerca de outro santo: «o Papa que conquistou o mundo pela afabilidade dos seus modos, dos quais transparecia a singular bondade de ânimo. (…) Do Papa João permanece na memória de todos a imagem de um rosto sorridente e de dois braços abertos num abraço ao mundo inteiro. Quantas pessoas foram conquistadas pela simplicidade do seu ânimo, conjugada com uma ampla experiência de homens e de coisas! A rajada de novidade dada por ele não se referia decerto à doutrina, mas ao modo de a expor; era novo o estilo de falar e de agir, era nova a carga de simpatia com que se dirigia às pessoas comuns e aos poderosos da terra. Foi com este espírito que proclamou o Concílio Vaticano II, com o qual iniciou uma nova página na história da Igreja: os cristãos sentiram-se chamados a anunciar o Evangelho com renovada coragem e com uma atenção mais vigilante aos "sinais" dos tempos. O Concílio foi deveras uma intuição profética deste idoso Pontífice que inaugurou, no meio de não poucas dificuldades, uma nova era de esperança para os cristãos e para a humanidade». Igualmente, revisitei a homilia de Bento XVI |
|
||
na beatificação de João Paulo II, a 1 de maio de 2011: «Karol Wojty?a subiu ao sólio de Pedro trazendo consigo a sua reflexão profunda sobre a confrontação entre o marxismo e o cristianismo, centrada no homem. A sua mensagem foi esta: o homem é o caminho da Igreja, e Cristo é o caminho do homem. Com esta mensagem, que é a grande herança do Concílio Vaticano II e do seu «timoneiro» – o Servo de Deus Papa Paulo VI –, João Paulo II foi o guia do Povo de Deus ao cruzar o limiar do Terceiro Milénio, que ele pôde, justamente graças a Cristo, chamar «limiar da esperança». Na verdade, através do longo caminho de preparação para o Grande Jubileu, ele conferiu ao cristianismo uma renovada orientação para o futuro, o futuro de Deus, que é transcendente relativamente à história, mas incide na história. Aquela carga de esperança que de certo modo fora cedida ao marxismo e à ideologia do progresso, João Paulo |
II legitimamente reivindicou-a para o cristianismo, restituindo-lhe a fisionomia autêntica da esperança, que se deve viver na história com um espírito de «advento», numa existência pessoal e comunitária orientada para Cristo, plenitude do homem e realização das suas expectativas de justiça e de paz». A celebração solene do reconhecimento da santidade destes dois homens de Deus e da Igreja ocorre no segundo domingo de Páscoa, que São João Paulo II quis intitular Domingo da Divina Misericórdia. Certamente, por isso, o Papa Francisco escolheu esta data. Foi também nessa data que João Paulo II, por um desígnio providencial, entregou o seu espírito a Deus ao anoitecer da vigília de tal ocorrência. Estes dois santos da Misericórdia e da Bondade servem-nos de ajuda e nos abençoem enquanto ainda peregrinamos no tempo e no espaço. |
|
«As voltas que a vida dá» |
||
Lígia Silveira Agência ECCLESIA |
Fechei as páginas de um livro baseado em histórias verídicas. A psicoterapeuta Margarida Cordo cruza, em «As Voltas que a Vida dá», relatos de pessoas que acompanha, sem identificar quem a consulta, colocando-nos, a partir daí, perante o ser humano. Não há vidas fáceis - embrenhadas na complexidade dos dias, das emoções, das falhas, dos anseios, das expetativas que cada pessoa carrega. Também do que as doenças e o próprio calendário de vida provocam. As vidas que a autora decide expor – e também ela se expõe como profissional e como pessoa – são lugares de afetos. Eles surgem, nem sempre, nas melhores circunstâncias – por isso mesmo as pessoas entram no seu gabinete. Emergem depois da discórdia, da negação ou anulação de si mesmo. Aparecem em alturas de doença, de incompreensão da vida e dos outros. Até quando as prioridades dos dias, que durante anos parecem certas, se revelam afinal distorcidas. Mas estão lá, no caminho dos pacientes e quando, a partir dos olhos de Margarida Cordo, podemos entender esses problemas como ensinamentos para todos. E é aí que o espelho sobre a humanidade acontece. «Nada do que é humano me é estranho»: a frase do poeta e dramaturgo romano Terêncio é aqui bem aplicada. |
|
||
Penso que são os afetos que ordenam a narrativa que cada um deixará. Quando a memória nos transporta geográfica e temporalmente para o lugar dos cheiros, dos olhares, dos sabores, da luz do sol ou da sombra da chuva, quando as recordações impactam – aí estão pessoas ligadas por afetos.
O que me faz olhar para este livro? A profunda crença no ser humano que a autora não se cansa de sublinhar. Uma crença humana, também cristã, sabendo que cada pessoa que abre a porta da sua vida não é apenas produto do seu passado mas |
agente do seu futuro. Em todos os relatos ali colocados em perspetiva lê-se a gratidão pelos encontros, pela reflexão proporcionada, pelos gestos gratuitos que fazem o bem, pela crença de que a última página ainda não foi virada. Lê-se também que a vida é reciprocidade e, por isso, quem analisa, confirma a gratuidade dos afetos. Nestas páginas de histórias que outros ousaram contar, lê-se a vida, tal como ela é: mesmo que o mundo nos peça fortaleza, destreza e frivolidade, há parágrafos de silêncio, emoção e partilha. E por isso, sou grata. |
|
Mistérios da Páscoa em Idanha-a-Nova
O ciclo pascal no Concelho de Idanha-a-Nova é rico em vivências e tradições religiosas que se fazem sentir ao longo da Quaresma e na riqueza ritual das celebrações pascais. As aldeias do conselho partilham uma riqueza etnográfica e religiosa que é única no país. António Catana tem dedicado parte da vida ao estudo desta identidade religiosa que, no seu entender, forma uma unidade ímpar no nosso país. |
||
É quase como uma ilha encantada que nós encontramos no nosso concelho. Estas tradições foram comuns em grande parte de Portugal mas que, com o tempo foram desaparecendo. A forte presença templária nesta região, onde possuiu oito castelos, contribuiu para a preservação de uma identidade que perdura até hoje. A valorização de Maria Madalena nos ritos pascais tem uma ligação a esta ordem militar. Importante também a presença de nove Irmandades da Misericórdia que, no seu compromisso, assumem em grande medida estas tradições da Páscoa.
António Catana |
|
|
||
|
|
|
|
||
Agência Ecclesia - Estas tradições não se restringem à Semana Santa, ao longo da Quaresma existem manifestações da religiosidade popular no sentido de valorizar estes dias de preparação para a Páscoa... António Catana - Durante as cinco semanas da Quaresma, o Ladoeiro tem a procissão dos homens que, em cada sexta-feira junta muitas pessoas. Os jovens aderem também a esta tradição, embora por motivos demográficos eles sejam cada vez menos nesta zona do país. Em S. Miguel de d'Acha existe o terço dos homens em cada sexta feira da Quaresma, temos a encomendação das almas em diversas paróquias. Sabendo que grande parte destas manifestações religiosas são asseguradas por pessoas idosas, sublinho a liderança de alguns que se assumem como verdadeiros guardiães da tradição e que a vivem, não de forma teatral ou como mera representação, mas com uma profunda convicção e fé. Recordo um dos solistas da |
encomendação das almas que faleceu recentemente, que dizia: Quando estou a cantar a encomendação das almas estou a ver os meus familiares já desaparecidos e tenho-os presentes.
AE - A Igreja tem acompanhado estas tradições como algo que brota do íntimo do sentimento popular e procura preservar estes ritos que se apresentam muito diferentes do que a liturgia sugere como forma de celebrar os Mistérios da Páscoa. AC - Sabendo que após o Concílio de Trento a Igreja foi pondo de lado estas manifestações populares, mas considero que os párocos que foram passando pelo nosso conselho, tiveram sempre a sensibilidade de respeitar o sentimento popular. Dou o exemplo da procissão dos passos e as procissões corridas de Alcafozes em que o pároco se limita a incorporar numa manifestação de fé que é conduzida pelo povo. Tudo decorre segundo a tradição popular que entoa cânticos onde o latim se mistura com o português.
|
|
|
||
|
|
|
|
||
|
|
|
|
||
AE - Entre os momentos celebrativos, a bênção dos Ramos adquire um colorido especial no domingo que antecede a Semana Santa... AC - Esta celebração adquire uma dimensão especial na aldeia de Monsanto. Todos os homens levam o seu ramo composto que habitualmente é preparado pela mulher. São ramos grandes de oliveira enfeitados com flores que levam à Igreja para serem benzidos. Depois, e segundo os lugares, os ramos são guardados. Em Monsanto há quem guarde este ramo durante um ano até quarta feira de cinzas em que é queimado, servindo as cinzas para assinalar esse dia que inicia a Quaresma. Outros, guardam o ramo junto a pequenos oratórios onde fazem as suas orações ao longo do ano.
AE - Na Quinta-feira Santa, o momento celebrativo centra-se no Lava-pés e numa realização a que se chama a Ceia dos Doze. AC - Em Alcafozes e Segura, o lava-pés é assumido pelo provedor da Misericórdia. Como é habitual o pároco preside à celebração da Eucaristia da Ceia do Senhor mas não participa no rito do Lava-pés que é protagonizado pelo provedor da Misericórdia. Eu |
penso que isto deriva do período do liberalismo em que foram extintas as ordens religiosas e o clero era perseguido, então houve a necessidade de outras figuras colmatarem a ausência dos ministros sagrados assumindo algumas das suas tarefas. No final deste período de perseguição, o clero ao ver como o povo tinha assumido a celebração da sua fé, acabou por permitir que alguns ritos assim permanecessem. Nos primeiros tempos da República verificou-se algo idêntico, nessa altura algumas procissões realizavam-se no interior do templo por proibição de saírem à rua. Isto sem esquecer que o Provedor da Misericórdia assume uma missão de serviço aos mais pobres.
AE - A Ceia dos Doze é uma recriação da última ceia? AC - Há cerca de trinta anos esta ceia realizava-se em casa do Provedor. A sua esposa preparava a refeição no final da Procissão do Encontro que em muitas localidades se faz na Quinta feira Santa, e havia o hábito de todas as mulheres saírem de casa para que fosse uma representação da última ceia de Cristo com os apóstolos, e por isso se chama a Ceia dos Doze. |
|
|
||
|
A
|
|
|
|
||
AE - A celebração da Páscoa no Conselho de Idanha-a-Nova é envolve várias dimensões, até uma gastronomia própria que se sintoniza com os mistérios evocados pela fé... AC - Em Segura, um dos pratos da ceia é um esparregado de ervas azedas que acompanha peixe do rio frito. É um prato delicioso em que as ervas azedas estabelecem uma ligação com o Êxodo e o facto dos judeus comerem ervas amargas na noite que antecedeu a sua libertação do Egito. A este elemento gastronómico também não é estranho o facto de esta região do país contar outrora com uma importante comunidade judaica.
AE - A Sexta-feira Santa é um dos dias em que a tradição e os momentos celebrativos da Paixão de Cristo adquirem, no concelho de Idanha-a-Nova, uma dimensão especial. AC - Em todos os lugares realiza-se o Enterro do Senhor e em Monsanto é de realçar a cerimónia do Descimento da Cruz. Num silêncio sepulcral é de uma beleza extraordinária assistirmos ao descimento do corpo de Cristo que está crucificado e que é retirado da cruz sendo depositado no esquife. São retirados os pregos que o prendem à cruz, pelos irmãos da Misericórdia, e |
depois envolvem-no nuns panos brancos de linho, de forma muito compassada, até o deitarem no esquife para prosseguir a procissão. Trata-se de uma imagem de Cristo articulada que permite este descimento e confere um maior realismo ao momento. Temos também um momento muito marcante que é o canto da Verónica, pela tradição a mulher que limpou o rosto de Cristo e que o viu impresso no pano que usou. À medida que se entoa este canto vai-se desdobrando o pano que no final revela o rosto de Cristo.
AE - Se estes momentos são marcados pelo silêncio e dominados por semblantes pesados, a ressurreição é o oposto. A alegria e a expressão ruidosa marca a tradição... AC - Estes elementos fazem parte do encanto de quem vai a Idanha-a-Nova no sábado de Aleluia e assiste a uma multidão que leva os seus apitos ou chocalhos e manifesta a sua alegria de forma ruidosa. É também uma reação de rutura com um longo período em que apenas se entoavam cantos religiosos e que neste momento, são substituídos pelo ruído e pelos gritos de alegria. É neste clima que todos acorrem à casa do pároco que, da janela, lança 70 quilos de amêndoas para todos. |
|
Lugares da paixão em Jerusalém
|
||
|
|
|
Via-Sacra de Dornes
|
||
|
|
|
Via-Sacra no Coliseu de Roma |
||
Aquele madeiro da cruz pesa, porque nele Jesus leva os pecados de todos nós. Cambaleia sob aquele peso, grande demais para um homem só (Jo 19, 17). Nele está também o peso de todas as injustiças que produziram a crise económica, com as suas graves consequências sociais: precariedade, desemprego, demissões, dinheiro que governa em vez de servir, especulação financeira, suicídios de empresários, corrupção e usura, juntamente com empresas que deixam os países. Esta é a cruz pesada do mundo do trabalho, a injustiça colocada sobre os ombros dos trabalhadores. Jesus toma-a sobre os seus ombros e ensina-nos a viver, não mais na injustiça, mas capazes, com sua ajuda,
|
de criar pontes de solidariedade e esperança, para não sermos ovelhas errantes nem extraviadas nesta crise. Portanto voltemos para Cristo, Pastor e Guarda das nossas almas. Lutemos juntos pelo trabalho na reciprocidade, vencendo o medo e o isolamento, recuperando a estima pela política e procurando juntos a saída para os problemas.
A condenação apressada de Jesus reúne assim as acusações fáceis, os juízos superficiais entre o povo, as insinuações e os preconceitos que fecham o coração e se tornam cultura racista, de exclusão e de descarte, juntamente com as cartas anónimas e as calúnias horríveis. |
|
|
||
Nas lágrimas d’Ela, reúnem-se todas as lágrimas de cada mãe pelos seus filhos distantes, pelos jovens condenados à morte, trucidados ou enviados para a guerra, especialmente as crianças-soldado. Aqui ouvimos o lamento desolador das mães pelos seus filhos, que morrem por causa dos tumores produzidos pela incineração dos resíduos tóxicos. Lágrimas amarguíssimas! Partilha solidária da angústia dos filhos!
|
Choremos por aqueles homens que descarregam sobre as mulheres a violência que têm dentro. Choremos pelas mulheres escravizadas pelo medo e a exploração. Mas, não basta bater no peito e sentir comiseração. Jesus é mais exigente. As mulheres devem ser tranquilizadas como Ele fez, devem ser amadas como um dom inviolável para toda a humanidade. Para o crescimento dos nossos filhos, em dignidade e esperança.
(Das meditações de D. Giancarlo Bregantini, arcebispo de Campobasso-Boiano, Itália) |
|
Passionistas, espiritualidade e semana santa em santa maria da feira |
||
A Paixão de Cristo, que a Igreja universal celebra e recorda de uma forma mais intensa nestes dias da Semana Santa, é para os Missionários Passionistas, a centralidade do seu carisma. Como Passionistas, procuramos, animados pelo exemplo de S. Paulo da Cruz, fundador da nossa Congregação, “promover, com a palavra e com as obras, a memória da Paixão de Cristo, para aprofundarmos a consciência do seu significado e do seu valor para cada homem e para a vida do mundo” (Constituições, 6). É comprometidos com o nosso carisma e com esta mesma consciência que os Passionistas pretendem viver de uma forma mais intensa estes dias, procurando assim acompanhar Jesus Cristo, “mais de perto”, tornando-nos testemunhas da sua Paixão. Um pouco por todo o mundo a Congregação da Paixão (Passionistas) procura, no contexto das culturas e do seu apostolado, fazer destes dias ponte para a Vida que brota de Cristo, estradas que nos |
conduzem com Ele a Deus, caminhos que nos levam a descobrir “o poder da Cruz, sabedoria de Deus” (Const., 3). Neste descobrir que “a Paixão de Cristo é a maior e mais bela obra do amor de Deus” (S. Paulo da Cruz) procuramos celebrar estes dias com maior intensidade, envolvendo os leigos e, mais concretamente, a Família Passionista laical, na qual se insere o Grupo Gólgota, “expressão cultural e social da espiritualidade passionista”. Este Grupo, que tem como bilhete de identidade a Paixão de Cristo, procura envolver todos quantos participam e assistem a Semana Santa em Santa Maria da Feira, recriando e expressando os últimos dias da vida de Jesus, da mesma forma que o Grupo S. Paulo da Cruz em Viana do Castelo. Envolvendo a Comunidade Passionista e a paróquia da Feira e ainda vários organismos civis, este Grupo, animado pelo espírito que move a Congregação, recria e encena a “Entrada Triunfal de Jesus em Jerusalém – na ‘cidade humana’”, |
|
|
||
no Domingo de Ramos, como expressão pública de fé e como peregrinação acompanhando Jesus; a “Última Ceia, Getsémani e Sinédrio”, na quarta-feira santa, que nos abeira mais ao amor de Cristo que quer ficar connosco; e a “Via Sacra”, em sexta-feira santa, que nos volta a fazer, e nos faz continuamente, peregrinos com Jesus, em direção ao Calvário, |
onde Ele dá a sua Vida por amor e nos torna participantes da sua Vida. Todas estas recriações e encenações são mais do que mero teatro, mas, acima de tudo, vivência profunda que nos aproxima e nos revela toda “a largura, o comprimento, a altura e a profundidade” (Ef. 3,18) do peregrinar de Cristo. P. César Costa, cp
|
|
Semana Santa de Braga |
||
A Semana Santa de Braga é, entre as muitas que se celebram em Portugal, sem dúvida a que goza de maior fama, que no plano nacional quer no internacional. Nela se conjugam harmoniosamente, por um lado, as celebrações litúrgicas e a religiosidade popular, e por outro, a religião e a cultura. Tem constituído, desde há mitos anos, com notável crescimento nos últimos tempos, um evento que atrai milhares de turistas, de Portugal e do estrangeiro. Não admira que o Turismo de Portugal , em 2011, a tenha declarado “De Interesse para o Turismo”. Embora não esteja feita a sua história, presume-se que esta remonte aos longínquos anos 80 do século IV, desde que uma mulher nascida na Gallaecia, e provavelmente na cidade capital desta província romana, Bracara Augusta, hoje cidade de Braga, depois de uma viagem à Terra Santa, escreveu uma espécie de diário (o Itinerarium ou Peregrinatio ad Loca Sancta), onde faz a descrição das comemorações populares que então se faziam em Jerusalém. |
Na actualidade – após uma preparação e ambientação quaresmal, com celebrações, procissões de penitência, concertos, exposições e espectáculos –, os pontos altos da Semana Santa em Braga são, no plano litúrgico, as grandes celebrações do Tríduo Pascal (quinta e sexta-feira santas, Vigília Pascal e Missa do Domingo do Páscoa). Todas elas enchem o vasto espaço da Catedral de fieis atentos e devotos. No plano da religiosidade popular, devem destacar-se: as procissões “de Nossa Senhora da burrinha” (Cortejo bíblico “Vós sereis o meu povo”), na quarta-feira; a procissão do Senhor “Ecce Homo” ou dos fogaréus, na quinta-feira; e a do Enterro do Senhor, na sexta-feira.
Muito comovente é, no interior da liturgia bracarense da Morte do Senhor, a Procissão Teofórica. Nesta impressionante procissão, o Santíssimo Sacramento (Cristo vivo, portanto, segundo a fé cristã), encerrado num esquife coberto de um manto preto (sugerindo o Cristo morto), é trazido do «Horto» onde |
|
|
||
estivera e levado pelas naves da Catedral e deposto em lugar próprio para a veneração dos fiéis. Em contraponto, no final da Vigília Pascal, organiza-se a Procissão da Ressurreição, própria do Rito Bracarense, igualmente pelas naves da Catedral mas em sentido inverso. O Santíssimo Sacramento, que estivera encerrado na urna com um |
manto negro mas apresenta-se agora como o Cristo ressuscitado e vivo, é colocado na custódia e trazido para o altar-mor, seguindo depois em cortejo triunfal sob o canto de vitória da multidão, abençoando, por fim, todos os presentes. Jorge Coutinho Presidente de Comissão da Quaresma e Solenidades da Semana Santa |
|
Páscoa no Algarve: tradição marca a quadra |
||
Hoje, como noutros tempos, o Algarve vive a Semana Santa recordando, em eventos cheios de história e significado, os últimos momentos da vida de Jesus. Localidades como Tavira, Silves, Monchique, Estoi, Alcantarilha, Lagoa, entre outras, preparam a festa maior dos cristãos ainda durante a Quaresma, realizando monumentais procissões em honra do Senhor Jesus dos Paços. Ao longo de toda a Semana Santa as paróquias algarvias programam várias iniciativas, mais ou menos “comuns”, já que acontecem, também, por todo o país e por toda a cristandade: os lava-pés, as eucaristias de Quinta-feira Santa, as celebrações da Paixão e Morte do Senhor, as Vigílias Pascais, as Missas de Páscoa (ver horários das celebrações de toda a Diocese em http://www.diocese-algarve.pt.) O que será “menos comum” é a importância que se dá, por exemplo, às procissões de Sexta-Feira Santa. Em algumas povoações acontece a Procissão do Enterro, também conhecida como Procissão do Senhor Morto.
|
Nela predominam o silêncio, a luz das tochas e das velas, os trajos das confrarias. O Senhor segue num pequeno tombinho, ou numa imagem que o representa acabado de descer da cruz. Silves, Tavira, Portimão, Monchique, Faro entre outras localidades organizam impressionantes procissões, que para além de relevarem a devoção dos cristãos, marcam uma identidade e uma cultura muito características do Algarve. As celebrações do Domingo de Páscoa assumem, igualmente, particular relevância, pois nesta região tem lugar uma procissão única no país: a Procissão das Tochas Floridas (S. Brás de Alportel), ou Procissão Real (Silves), ou Procissão das Flores (Silves), ou Procissão das Campainhas (S. Clemente, Loulé), ou Procissão do Triunfo, ou Procissão da Ressurreição de Cristo, ou, ainda, Procissão do Santíssimo Sacramento (Lagoa). Esta procissão assinala sempre a vitória de Cristo sobre a morte e a Sua realeza. No Domingo de Páscoa, Loulé acolhe a Festa Pequena |
|
|
||
em honra da Mãe Soberana, a manifestação religiosa mais importante da região, que movimenta milhares de peregrinos nacionais e estrangeiros e que culmina 15 dias depois, com a Festa Grande, durante a qual a imagem de N. Senhora é transportada em passo de corrida até ao topo de uma colina sobranceira à cidade, onde se situa o seu santuário. Paróquias e autarquias colaboram nestas iniciativas, |
partilhando em muitos casos a logística que as mesmas implicam, reconhecendo que estes eventos tocam os cristãos de forma particular, mas são motivo de interesse para os muitos visitantes que, nesta época, procuram a região para descansar.
Pe Miguel Neto Responsável pela Pastoral do Turismo da Diocese do Algarve |
|
Procissão da Ordem Terceira em Óbidos |
||
A Procissão Penitencial da Ordem Terceira marcou o início das celebrações pascais na vila de Óbidos, desafiando centenas de cristãos durante a “procissão da esperança” a mudarem de vida, com o desejo de preparar o tempo da Quaresma numa atitude fraterna de amor ao próximo, de especial atenção pelos que mais sofrem. “Nesta imensa multidão de santos franciscanos, muitos deles tiveram um passado cheio de erros e de pecados, no entanto, ao reconhecerem o Amor gratuito de Deus, converteram-se pela Sua graça, hoje são modelo de santidade e sinal de esperança para o mundo, e percorrem as ruas desta vila”, manifestou o Frei Nicolás Almeida do Convento de Santo António do Varatojo em Torres Vedras no sermão da procissão, presidida pelo pároco Paulo Gerardo, lembrando o gesto do Papa Francisco ao adoptar S. Francisco de Assis como ideal do seu pontificado. Segundo o responsável, só com “a luz da fé” os cristãos
|
conseguem compreender o mistério que liga a “ação de Deus” à “liberdade humana”. O que marca profundamente a vida franciscana é a ideia “de que o mal nunca poderá ser combatido com o mal, mas apenas com o bem”; como “Cristo na Cruz, no meio dos maiores sofrimentos soube perdoar aos seus inimigos”. Os gestos manifestados pelo Frei Nicolás chamaram à atenção dos crentes para “a responsabilidade da santidade de cada pessoa com quem vivemos”. A Procissão da Ordem Terceira realiza-se em Óbidos desde do tempo em que a vila pertencia à Casa das Rainhas. A celebração religiosa com raízes culturais e humanas, muito rara no País, percorre as ruas tortuosas da vila, transportando imagens construídas em Braga no ano de 1849. A comunidade secular foi criada no século XIII por São Francisco de Assis e só se instalou na Capela de Nossa Senhora de Monserrate no século XVIII. |
|
|
|
||
Atualmente, este evento religioso conta com a organização das Paróquias de Santa Maria e S. Pedro de Óbidos, Santa Casa da Misericórdia da vila de Óbidos, Comissão da Semana Santa
|
e conta com o apoio do Município de Óbidos, através da empresa municipal Óbidos Criativa.
João Polónia |
|
|
Mensagem da Comissão Nacional Justiçae Paz para a Quaresma
|
||
|
|
|
A espiritualidade da música de QuaresmaO musicólogo Rui Vieira Nery fala de música, a arte que acompanha as cerimónias de todos os tempos na Igreja e que por estes dias também ganha destaque.
Rádio
"Esta ideia de interiorizar a dor de Cristo, que se pretende neste tempo de Quaresma, é mais eficaz através de uma mensagem musical do que propriamente numa mensagem por palavras. Através da música sentimos essa tal melancolia que nos convida à partilha da dor de Cristo."
"A dor de Cristo é o caminho da nossa libertação."
|
||
|
|
|
Acompanhando-nos, em silêncio,
|
||
Margarida Corsino da Silva |
“Onde queres que preparemos a Eucaristia?” – a cada dia, a pergunta repete-se e Jesus diz-nos – como disse então: “Ide à cidade.” É aqui, nos lugares que habitamos, que O Senhor Se quer fazer presente. No nosso quotidiano. Naqueles com quem nos cruzamos diariamente. No pequenino pedaço de pão. É aqui, bem no meio da nossa vida, que Jesus quer que preparemos a Eucaristia. Que façamos memória agradecida do Seu amor por cada um de nós contado em cada detalhe da nossa história e de tudo quanto esse amor nos possibilita. Não precisamos de fazer um grande exercício de imaginação para contemplar Jesus no meio de todas as personagens que povoam os espaços da nossa cidade ou que estão nas nossas igrejas. O mendigo de mão estendida. Os que estão doentes. A mulher curvada. Os que criticam. Os que rezam no meio de todos ou discretamente. Os idosos como Simeão e Ana. As crianças. E até a viúva que deixa as duas moedas. E, ao contemplá-Lo assim, outra das Suas questões ecoa: “Compreendeis o que vos fiz? Fazei-o vós também.” O convite de Jesus é muito claro. Temos que sair pelo mundo a dizer, com a nossa vida, que Ele está vivo. Entregando a nossa vida. A estes que reconhecemos da história da relação de Deus com os homens em Jesus. Mas, também, à vizinha que nos aborrece, pois fala sempre do mesmo. Ao senhor simpático que nos vende o jornal. Às crianças.
|
|
|
||
Aos jovens. Àqueles que já perderam a esperança. Aos que estão sós. Aos que foram abandonados. Àqueles que nunca ouviram falar de Jesus ou que, entretanto, se esqueceram dEle. Temos que sair das nossas casas e pormo-nos a caminho ao encontro dos outros, dizendo, com alegria, que Jesus vive. Vivendo como alguém que Deus encheu de bem. Gratuitamente. Alguém feliz (fecundo!). Agradecido. Sendo, até, uma provocação para o mundo. Como pessoa amada por Deus. Mas, para vivermos assim, teremos que ir à fonte – a Eucaristia. Na Eucaristia, centramo-nos em Cristo, para nos descentrarmos de nós e partirmos em direção às periferias. Continuamente. Com Ele. Jesus toma a forma de pão: para se dar inteiro tem que se partir. Com Jesus, queremos ser um povo que come o pão com as mãos, que o abençoa, o parte e o partilha. Queremos viver na pobreza em que nos sabemos donos de nada, recebendo tudo do Pai. Tudo agradecendo e tudo entregando. Como filhos. Olhando as nossas mãos, necessitadas e pecadoras, que se estendem, humildes e abertas, para receber, com fé, o próprio Jesus. Assim, a Eucaristia reenvia-nos e faz-nos |
cair da segurança posta em nós e eleva o que em nós era pequeno. As nossas palavras, os nossos gestos vêm do silêncio. O dar tem o seu berço no receber. “Não fomos nós que amámos primeiro, foi Deus Quem nos amou!” Na Eucaristia, somos modelados para a atenção ao outro. A ouvir e a responder. E uma vida atenta é uma vida que se faz atenciosa. A memória da entrega de Jesus por cada um de nós remete-nos à memória do primeiro encontro com Ele – a memória do primeiro amor. A memória de Deus em Quem somos mergulhados em crianças e no qual vivemos, nos movemos e existimos. Neste Deus que não Se fez carne para nós apenas há muitos anos, num país muito distante, mas que Se torna alimento e bebida para nós, em cada Eucaristia, precisamente onde nos reunirmos. Porque Deus, O Senhor, quer fazer-Se próximo de mim. De nós. E tudo isto é tão simples. Tão vulgar. Tão óbvio. E, contudo, tão diferente! E neste gesto, simultaneamente o mais humano e o mais divino que possamos imaginar que é a Eucaristia, Deus acompanha-nos, em silêncio, há dois mil anos. Na nossa própria realidade. Seja ela qual for. |
|
Papa reforça política contra
|
||
O Papa Francisco recebeu na sexta-feira no Vaticano uma delegação do Departamento Católico Internacional da Infância (BICE), perante a qual pediu “perdão” pelos casos de abusos sexuais sobre menores envolvendo membros do clero. A intervenção aludiu a “todo o mal que alguns sacerdotes – bastantes em número, não em comparação com o total” e pediu “perdão pelo dano que os abusos sexuais das crianças provocaram”. “A Igreja está consciente deste mal, que é um dano pessoal, moral, deles [padres], mas homens da Igreja, e não vamos dar um passo atrás no que se refere ao tratamento destes problemas e às sanções que se devem aplicar, pelo contrário, acredito que temos de ser muito fortes: com as crianças não se brinca”, declarou. O BICE foi criado por Pio XII, em defesa das crianças, após o fim da II Guerra Mundial (1939-1945), colaborando com as representações da Santa Sé junto das Nações Unidas. |
Francisco apelou ao desenvolvimento de projetos contra o “trabalho escravo” e o recrutamento de crianças-soldado ou “qualquer tipo de violência sobre os menores”.
“É preciso reafirmar o direito das crianças de crescer numa família, com um pai e uma mãe capazes de criar um ambiente adequado para o seu desenvolvimento e maturidade afetiva”, acrescentou. Neste contexto, o Papa destacou a importância da “masculinidade e feminilidade” de um pai e de uma mãe no crescimento das crianças. “Isto implica, ao mesmo tempo, apoiar o direito dos pais à educação moral e religiosa dos seus filhos: neste ponto, gostaria de experiências educativas com as crianças, com as crianças e os jovens não se fazem experiências, não são cobaias de laboratório”, advertiu. Francisco evocou os “horrores” da manipulação educativo das “ditaduras genocidas” do século XX que, apesar de terem desaparecido, “mantém a sua atualidade sob roupagens |
|
|
||
e propostas diferentes que, sob a pretensão de modernidade, forçam as crianças e jovens a seguir pelo caminho ditatorial do pensamento único”. Para trabalhar pelos Direitos Humanos, prosseguiu, é necessário “manter sempre viva a formação antropológica” e responder aos desafios colocados pelas “culturas contemporâneas e a mentalidade difundida pelos meios de comunicação social”. |
O Papa concluiu com uma evocação da sua experiência na comissão de proteção de menores em Buenos Aires, cujo logotipo apresentava a “Sagrada Família em cima de um burro a fugir para o Egito”.
“Por vezes, para defender há que fugir; por vezes, há que ficar e proteger; por vezes há que lutar. Sempre, no entanto, é preciso ter ternura”, acentuou. |
|
Papa apela a exame
|
||
O Papa iniciou no domingo as celebrações da Semana Santa, com a Missa dos Ramos no Vaticano, e questionou os católicos sobre a sua atitude perante Jesus. “É bom que nos façamos uma pergunta: quem sou eu diante de Jesus que entra em festa em Jerusalém? Sou capaz de exprimir a minha alegria, de o louvar, ou ponho-me à distância? Quem sou eu diante de Jesus que sofre?”, perguntou, na homilia da celebração que decorreu na Praça de São Pedro, perante dezenas de milhares de pessoas. Após a leitura da Paixão segundo o Evangelho de São Mateus, Francisco evocou os “muitos nomes” presentes no relato da entrada triunfal de Jesus em Jerusalém. O Papa recordou a figura de Judas, o “traidor”, que vendeu Jesus por 30 moedas e “finge” amá-lo para o entregar, Pilatos |
que “lava as mãos” para não assumir a sua responsabilidade, a multidão que “não sabia se estava numa reunião religiosa, num julgamento ou num circo”, as “mulheres corajosas”, que acompanharam sempre Cristo, e José, o “discípulo escondido” que levou o seu corpo para a sepultura. “Onde está o meu coração? A qual destas pessoas me pareço? Que esta pergunta nos acompanhe durante toda a semana”, concluiu. |
|
Via-Sacra do Papa centrada nas «injustiças» da crise social e económica |
||
O Departamento das Celebrações Litúrgicas do Papa divulgou os textos das meditações das estações da Via-Sacra que o Papa Francisco vai presidir esta sexta-feira no Coliseu de Roma. D. Giancarlo Bregantini, arcebispo de Campobasso-Boiano (Itália), é o autor dos das reflexões e enumera, nas 14 estações, as chagas sociais da atualidade. O texto revela que no madeiro da Cruz levado por Jesus até ao calvário estão “o peso de todas as injustiças que produziram a crise económica, com as suas graves consequências sociais: precariedade, desemprego, demissões, dinheiro que governa em vez de servir, especulação financeira, suicídios de empresários, corrupção e usura, juntamente com empresas que deixam os países”. D. Giancarlo Bregantini refere-se também ao sofrimento das mulheres e pede para que se chore “pelas mulheres escravizadas pelo medo e a exploração”, afirmando que |
“não basta bater no peito e sentir comiseração”. As mulheres devem “ser tranquilizadas como Ele fez, devem ser amadas como um dom inviolável para toda a humanidade”, acentua o arcebispo italiano. Na Via-Sacra, presidida pelo Papa Francisco, o texto tem como tema «Rosto de Cristo, Rosto do Homem» |
|
A Agência ECCLESIA escolhe sete acontecimentos que marcaram a atualidade eclesial portuguesa nos últimos dias, sempre atualizados em www.agencia.ecclesia.pt
|
||
|
|
|
Cruz feita com madeira de barcos naufragados em Lampedusa vai percorrer a Itália |
||
|
|
|
Papa condena assassinato de jesuíta holandês na Síria |
Por aqueles em perigo |
||
Aaron nunca se sentiu genuinamente integrado na comunidade em que nasceu e cresceu. Na remota aldeia piscatória do norte da Escócia, a sua natureza e a sua forma de se relacionar não correspondem aos padrões da maioria dos seus vizinhos. A situação agrava-se quando Aaron é o único sobrevivente de um acidente ocorrido no mar onde, entre outros, o seu próprio irmão desapareceu. Vítima da mal disfarçada indignação e desconfiança dos próximos que ora lamentam a perda de vidas mais valiosas do que a sua aparenta ser ora lançam suspeitas sobre a forma como ocorreu o desastre, vítima do seu próprio sentimento de culpa e do enorme desgosto que a morte do irmão lhe provoca, os dias de Aaron tornam-se cada vez mais pesados. Condenado a um naufrágio afetivo porventura mais doloroso do que o sofrido no mar Incapaz de recuperar a memória do sucedido e incapaz de aceitar a morte do irmão, Aaron decide enfrentar de novo o mar e perante este, a sós, reclamar o que |
brutalmente lhe retirou. É o início de uma viagem e de um diálogo, visual e íntimo, em busca de uma identidade perdida. De origem escocesa e evocando sempre algo de biográfico nos seus filmes, Paul Wright, na sua ainda curta carreira de realizador e argumentista, tem manifestado particular interesse por temas que rondam a busca do sentido da vida, mesmo em registos diferentes com referências peculiares à existência de um deus peculiar e marcante na sua filmografia. Na curta metragem ‘Until the River Runs Red’ (Até que o Rio corra Vermelho), de 2010, Chloe é uma adolescente em viagem, filha única de God, que atravessa as belas paisagens escocesas na ânsia de encontrar o mítico ‘rio vermelho’; uma caminhada que pouco a pouco expõe uma terrível verdade escondida. ‘Believe’ (Crê), |
|
|
||
mergulha no processo de luto de um homem que procura lidar com o profundo desgosto causado pela morte da mulher. Com cada uma das suas ainda poucas obras têm sido reconhecidas quer em festivais quer por prémios do cinema, como os prestigiados BAFTA, |
da Academia Britânica de Cinema, Locarno, Berlim ou Miami, Wright estreia nos ecrãs nacionais, em distribuição moderada, com ‘Por Aqueles em Perigo’.
Uma viagem de luto, reconciliação e descoberta, ‘o filme explora razoavelmente as potencialidades do cinema, quer pela envolvência visual que nos oferece quer pela intimidade conseguida entre protagonista e espetador.
Embora notória a alguma imaturidade na construção narrativa, particularmente revelada na forma como gere a densidade de alguns planos, sequências e personagens, para início de carreira Wright mostra-se promissor. Um profissional e criador a quem se pode desejar que não sucumba à tentação de fazer da existência, que tanto o preocupa e interessa, mais um caminho que um ofício.
Margarida Ataíde |
|
Lugar Sagrado Online |
||
Em plena semana maior, sugerimos um espaço virtual que nos convida a alimentar a fé com uma escuta mais atenta e prolongada da Palavra de Deus levando-nos a uma participação efetiva nos Sacramentos e a crescer na caridade - amor a Deus e ao próximo. Assim, como forma de entrarmos neste tempo precioso de reavivar a fé, esta semana apresentamos um sítio de oração diária pensado para quem, como tantos de nós, passa grande parte do tempo em frente ao computador e naturalmente tem dificuldade em arranjar um tempo para rezar. O Sacred Space (Lugar Sagrado) é um projecto lançado pelos jesuítas irlandeses na quaresma de 1997 sempre com actualizações diárias e com as leituras adequadas ao dia, encontrando-se já traduzido em 17 idiomas. Apesar de estar a necessitar de uma actualização ao nível do ambiente gráfico e uma melhor otimização para os dispositivos móveis (smartphones, tablets, |
etc.), os conteúdos e objetivos a que se propõe estão bastante actualizados. O que é pedido a cada visitante é que tire 10 minutos do seu dia para dedicar à oração e ao relacionamento mais profundo e próximo com Deus. Desta forma, conseguimos ter consciência da Sua presença na nossa vida, através da persecução de sete etapas (Oração Introdutória, Presença de Deus, Liberdade, Tomada de consciência, A palavra de Deus, Diálogo e Conclusão), pelas quais somos guiados com um simples clique do rato. Temos ainda disponível um guia nas etapas de maior dificuldade de reflexão que nos orienta e ajuda para uma oração mais conseguida e profunda. Apesar de existirem actualmente outras propostas de oração virtual, que já foram alvo de análise neste espaço, fica aqui a sugestão que bem poderá ser continuada para além deste forte tempo litúrgico, podendo certamente tornar-se um “vício” diário. Pois sendo verdade que nos preparamos para a festa |
|
|
||
da ressurreição de Cristo, a Igreja através da liturgia e oração, deseja principalmente que nos prepararemos para o encontro definitivo com Ele. Como sabemos Deus está em todo o lado e o nosso escritório, |
o espaço onde na nossa casa temos o computador, ou mesmo o nosso dispositivo móvel podem também ser espaços adequados para conversarmos com o nosso Pai. Fernando Cassola Marques |
|
|
“Jesus, Subimos a Jerusalém” |
||
“Jesus, Subimos a Jerusalém” é o terceiro título da trilogia que começou com “Paulo, de Jerusalém a Roma” e a que se seguiu “Maria, Mãe de Jesus” da autoria de D. Teodoro Faria, bispo emérito do Funchal. Lançado pela Paulinas Editora, este livro que aborda o tema “O sudário e a paixão de Cristo” associa-se também aos 500 anos da Diocese do Funchal que se assinalam este ano. As viagens de peregrinação à Terra Santa efetuadas por D. Teodoro de Faria, bispo emérito do Funchal, para além “dos aspetos de compensação reconfortante de ordem espiritual”, têm também constituído pretexto de enriquecimento de memórias sobre “os lugares e de experiências intensas ali colhidas, quer de ordem pessoal quer comunitária, pois, normalmente, são feitas de forma integrada com grupos peregrinos”, revela a sinopse do livro. O imenso espólio dessas viagens de D. Teodoro de Faria é constituído de muito material
|
imagético mas também de muitos textos, resultantes de momentos especiais de reflexão e de oração, sendo que dessas memórias muitas têm sido partilhadas, “através da sua organização temática e dando-o à estampa”, como é o caso deste livro “Jesus, Subimos a Jerusalém”. “Durante a minha estadia em Roma, como vice-reitor do Pontifício Colégio Português, |
|
|
|
||
fui convidado por monsenhor Giovanni Ricci, da Congregação para os Bispos, para participar no curso de sindonogia em Roma. Entrei sem grande entusiasmo mas em breve fui contagiado pelo tema”, começa por contar o autor na introdução. Quanto ao Sudário ou Sínode este “envolveu o Senhor Jesus no túmulo, foi testemunha do temporâneo estado de morte de Cristo e do seu retorno à vida ou ressurreição”, escreve D. Teodoro de Faria. “A investigação científica considera possível que o homem do Síndone seja de facto Jesus Cristo, que foi envolvido no lençol, segundo a forma própria de sepultar do povo judeu e a reflexão teológica mostra que o Síndone faz uma ponte entre nós e a manhã da ressurreição, ele é um testemunho que resta do prodígio da manhã da Páscoa”, acrescenta. D. Teodoro de Faria foi ordenado padre, na Diocese do Funchal a 22 de setembro de 1956, vindo depois a ser ordenado bispo da
|
mesma no ano de 1982, entrando ao serviço da diocese a 16 de maio desse mesmo ano, cargo que ocupou até 2007. |
|
|
II Concílio do Vaticano:
|
||
|
O II Concílio do Vaticano inaugurou uma nova forma de estar em Igreja, na qual a intervenção do laicado se torna muito mais ativa e decisiva. Este acontecimento convocado pelo Papa João XXIII e continuado pelo Papa Paulo VI teve uma importância extrema no catolicismo contemporâneo nas áreas do social, político e cultural. A cooperativa «Pragma» que foi fundada por um grupo de católicos a 11 de abril de 1964, um ano depois da publicação da encíclica de João XXIII, «Pacem in Terris» é um exemplo desse impacto. No livro «Entre as Brumas da Memória – Os católicos e a ditadura» da autoria de Joana Lopes (uma das associadas da cooperativa), na sua recensão José Pedro Castanheira (Jornal «Expresso»; de 03 de março de 2007) escreve que a obra começa com o II Concílio Vaticano e a encíclica «Pacem in Terris». Mas para Joana Lopes, o concílio foi “um dos grandes motores de tudo” quanto se relata. Datada de 1963, a encíclica de João XXIII encorajou um grupo de «católicos progressistas» (como ficaram conhecidos) a passar à ação na sociedade em que viviam. Assim nasceu o boletim clandestino «Direito à Informação» e a cooperativa «Pragma», “ambos liderados por Nuno Teotónio Pereira – um nome presente em quase todo o livro, juntamente com o de João Bénard da Costa e José Manuel Galvão Teles. Tendo sido anunciado no final da década de
|
|
||
50 e decorrido, com algumas interrupções, entre 1962 e 1965 – convocado e liderado por João XXIII e depois por Paulo VI – o concílio constituiu uma “marcante novidade, pela sua raridade na história do catolicismo e pela sua pertinência para um campo católico que se confrontava com a rápida mutação das sociedades ocidentais”. (In: Jorge Revez “«Os vencidos do Catolicismo» - Militância e Atitudes Críticas (1958-1974)”; Lisboa; Centro de Estudos de História Religiosa). Do Vaticano vinham “gestos anunciadores duma profunda mudança na mentalidade eclesiológica”. Entre estes, avultavam os relacionados com a problemática da “pobreza da Igreja, na linha das Bem-Aventuranças” e a “viagem de Paulo VI a Jerusalém” (In: Nuno Estêvão; «O Tempo e o Modo. Revista de Pensamento e Ação (1963-1967)»; Separata de Lusitânia Sacra, 2ª série (6), 1964). O II Concílio do Vaticano representou, para alguns setores |
católicos, “a esperança de um rejuvenescimento, de uma forma quase urgente de diálogo entre a Igreja e o mundo, agora entendido, na sua formulação moderna, com expectativas de mudança e de uma clara procura da adaptação das velhas estruturas religiosas, nas quais a Igreja Católica, no Ocidente, poderia ser apresentada como exemplo mais nítido”. (In: Jorge Revez “«Os vencidos do Catolicismo» - Militância e Atitudes Críticas (1958-1974)”; Lisboa; Centro de Estudos de História Religiosa). A receção do concílio, que ainda hoje se apresenta como um amplo espaço de debate e problematização histórica, “foi marcada por uma certa desilusão, um desajuste sentido por alguns, entre as expectativas criadas e as mudanças ocorridas”, lê-se na obra de Jorge Revez. E acrescenta. “Não pelo discurso conciliar em si, (…) mas sobretudo pelas consequências reais do desejado aggiornamento da Igreja”. |
|
Abril 2014 |
||
Dia 17
* Lisboa - Celebração dos 25 anos da Comunidade Vida e Paz.
* Vaticano - Basílica de São Pedro - Missa Crismal. |
* Porto - Santa Maria da Feira (21h30m) - Procissão do «Triunfo das Endoenças ou Ecce Homo» num percurso que une a igreja da Misericórdia e a matriz. Dia 18
* Dia Internacional dos Monumentos e Sitíos. |
|
|
||
* Vaticano - Basílica de São Pedro - Celebração da «Paixão do Senhor» presidida pelo Papa Francisco. |
Dia 19
* Vaticano - Basílica de São Pedro - Vigília Pascal presidida pelo Papa Francisco.
Dia 20
* Páscoa. Dossier: Páscoa. |
|
|
||
|
Portugal assinala no dia 25 de abril os 40 anos da conquista da liberdade. Inclui-se nesse aniversário o debate promovido pela Fundação Calouste Gulbenkian “A Ditadura Portuguesa | porque durou, porque acabou”, no dia 23 de abril.
Igreja Católica vai marcar presença na 11ª edição do Festival de Cinema IndieLisboa, que decorre de 24 de abril a 4 de maio, e associa-se este ano ao Indiejúnior. O IndieLisboa “comemora uma das suas mais bem-sucedidas secções, o Indiejúnior” e o Prémio Árvore da Vida promovido pela Igreja Católica associa-se a estes festejos “contemplando também os filmes para os mais novos, com júri próprio constituído por quatro alunos do Colégio São João de Brito, em Lisboa”, revela em artigo publicado hoje no Semanário ECCLESIA Margarida Ataíde, membro do júri do Prémio ‘Árvore da Vida’, onde representa o Secretariado Nacional das Comunicações Sociais (SNCS).
A canonização de João XXIII e de João Paulo II é no dia 27 de abril. Mas multiplicam-se as iniciativas que preparam essa celebração. O Vaticano recorreu às novas tecnologias para lançar o site “2papisanti” (dois Papas santos) e divulgar por esse meio as muitas formas de bem viver o dia da canonização. |
|
||
|
|
|
Programação religiosa nos media |
||
Antena 1, 8h00 RTP1, 10h00 Transmissão da missa dominical
11h00 - Transmissão missa
12h15 - Oitavo Dia
Domingo: 10h00 - O Dia do Senhor; 11h00 - Eucaristia; 23h30 - Ventos e Marés; segunda a sexta-feira: 6h57 - Sementes de reflexão; 7h55 - Oração da Manhã; 12h00 - Angelus; 18h30 - Terço; 23h57-Meditando; sábado: 23h30 - Terra Prometida. |
RTP2, 11h22Domingo, dia 20 - Da morte à vida: perspetivas do neurocirurgião João Lobo Antunes.
RTP2, 15h30Segunda-feira, dia 21 - Entrevista a José Frazão Correia, provincial da Companhia de Jesus; Terça-feira, dia 22 - Informação e entrevista ao cónego António Janela, sobre a canonização do Papa João XXIII e João PauloII; Quarta-feira, dia 23 - Informação e entrevista a Emília Nadal sobre a canonização do Papa João XXIII e João PauloII; Quinta-feira, dia 24 - Informação e entrevista a António Marujo sobre os católicos e o 25 de abril; Sexta-feira, dia 25 - Os católicos e o 25 de abril. Análise de Maria Conceição Moite e Jorge Wemans.
Antena 1 Domingo, dia 20 de abril, 06h00 - Ressurreição e Vida no olhar do neurocirurgião João Lobo Antunes. Comentário à atualidade com a Irmã Irene Guia.
Segunda a sexta-feira, 22h45 - 21- Padre António Teixeira e João Paulo II; 22 - Manuela Silva fala de João XXIII; 23 - O musical Wojtyla recordou João Paulo II; 24 - Historiador Matos Ferreira enquadra o pontificado de João XXIII; 25 - Conceição Moita conta a sua história de libertação. |
Por que motivo foi condenado à morte de cruz um homem de paz como Jesus?
|
||
|
|
|
Ano A - Domingo de Páscoa
|
||
Testemunhas
|
Vivemos hoje a mais importante celebração da nossa fé, a Páscoa da Ressurreição do Senhor. Celebramos e recebemos Cristo, Palavra e Pão, para alimentar as nossas fomes quotidianas. Páscoa é todos os dias, mas este é o Dia por excelência. Como escutamos a Palavra de Deus neste dia? A primeira leitura apresenta uma das mais belas caracterizações de Jesus Cristo: “passou fazendo o bem”. Uma passagem de bem pelo mundo, que implica morte e ressurreição, doação total de si mesmo, que exige que os discípulos entrem nesta nova dinâmica e anunciem o mesmo caminho de bem a todas as pessoas e em todos os lugares. A segunda leitura convida os cristãos, revestidos de Cristo pelo batismo, a continuarem a sua caminhada de vida nova até à transformação plena. Aspirar e afeiçoar-se às coisas do alto significa dar sentido ao que somos e fazemos à luz da presença do Senhor que está vivo nas nossas vidas. O Evangelho coloca-nos diante de duas atitudes face à ressurreição: a do discípulo obstinado, que se recusa a aceitá-la porque, na sua lógica, o amor total e a doação da vida nunca podem ser geradores de vida nova; e a do discípulo ideal, que ama Jesus e que, por isso, entende o seu caminho e a sua proposta; a esse não o escandaliza nem o espanta que da cruz tenha nascido a vida plena, a vida verdadeira. Somos discípulos de Jesus, tal como se revela na Palavra, não à nossa maneira. Ser discípulo de
|
|
|
||
Jesus Cristo Ressuscitado implica ser testemunha da ressurreição. Nós não vimos o sepulcro vazio; mas fazemos, todos os dias, a experiência do Senhor ressuscitado, que anda connosco nos caminhos da história. Mas o nosso testemunho será oco e vazio se não for comprovado pelo amor e pela doação, as marcas da vida nova de Jesus. São estas as marcas que devemos mostrar, pois testemunhar é mostrar, com entusiasmo e coragem, com convicção e paixão. Celebremos a Páscoa! Mergulhada no coração da nossa fé! Mergulhada nas fontes do nosso Batismo! Hoje, a Ressurreição de Cristo não pode ser para nós uma espécie |
de vago sentimento. A Ressurreição de Cristo deve ser o dínamo das nossas vidas de batizados, a energia que nos envia a testemunhar: “Cristo está vivo! Nós encontrámo-l’O!” Somos chamados a viver a presença do Ressuscitado, diante de tantas situações em sentido contrário. Somos levados a anunciar Cristo vivo em atitudes e gestos solidários, plenos de esperança e de doação. Assim seja o nosso tempo pascal, vivido e celebrado na continuidade do tempo quaresmal. Sempre conduzidos e orientados pela Palavra de Deus!
Manuel Barbosa, scj www.dehonianos.org |
|
Paquistão: a história esquecida das crianças escravizadasO preço de uma mercadoria |
||
Todos os anos cerca de mil crianças cristãs desaparecem no Paquistão. São raptadas e acabam, quase sempre, nas malhas de redes de tráfico de seres humanos. Para estas redes mafiosas, estas crianças são apenas um negócio.
As crianças cristãs no Paquistão são vítimas, vezes demais, de uma violência impensável. Raptadas, violentadas, forçadas a converterem-se ao islão, acabam quase sempre por cair nas malhas do tráfico de seres humanos. Todos os anos haverá cerca de mil casos de crianças cristãs paquistanesas vítimas destas redes. Estas crianças são como mercadoria. Têm um preço. Samir tem 12 anos e gosta de brincar à porta da catedral com o seu papagaio de papel. Foi assim a 23 de Outubro de 2011 quando um homem o levou dali à força. As câmaras de vigilância não permitem ouvir os gritos de ajuda do pequeno Samir, mas atestam bem como tentou libertar-se. Em vão. Quando souberam da notícia, os pais de Samir ficaram desesperados. Era a segunda |
vez que a tragédia lhes batia à porta. Num atentado, a irmã mais nova de Samir perdera a vida. Agora, o rapaz tinha sido levado.
Vidas raptadasSempre se contaram histórias de crianças que desapareceram. E o pior é que nenhuma regressou. Fala-se em crianças raptadas que foram levadas para o Afeganistão para se converterem em bombistas suicidas, ou de meninas vendidas a famílias muçulmanas ricas, ou a quem lhes cortam uma mão ou uma perna para integrarem os exércitos dos pedintes explorados por máfias. Os pais de Samir, na sua infinita pobreza, agarraram-se à sua fé. Só Deus lhes poderia valer. O padre local, Andrew Nisari, sabia que era preciso agir depressa. Contactou as autoridades e mostrou-lhes a foto do menino. Com isso, conseguiu que a TV mostrasse a sua imagem. Foi o que valeu. Quando já ia a caminho do Afeganistão, junto a um rio, o raptor atirou Samir à água, para o afogar. Já tinha visto a sua foto |
|
|
||
na televisão e teve medo de ser denunciado. Samir não morreu. Agarrou-se a umas canas de bambu e conseguiu chegar à margem. Cheio de medo pôs-se a correr até que, em Peshawar, viu um cartaz de Nossa Senhora de Mariamabad, um santuário paquistanês, e pediu que o levassem até lá. Nessa noite, |
consegue telefonar para casa. Em Lahore, todos dizem que a história de Samir é um milagre. Um milagre que não esconde o drama de milhares de rapazes e de raparigas raptados, vendidos, escravizados. Reduzidos a quase nada, apenas por serem cristãos. Paulo Aido | |
|
|
Astros que brilham |
||
Tony Neves |
João XXIII e J. Paulo II são construtores de ‘Pontes’. João XXIII abriu as janelas da Igreja aos tempos presentes e futuros para evitar mortes por asfixia. Quis que entrasse uma lufada de ar fresco na Igreja. Convocou o Concílio Vaticano II que pôs a Igreja a conversar com o mundo de que ela também é parte integrante. Pôs de lado o latim que ninguém falava e entendia e convidou os povos a louvar a Deus nas suas próprias línguas, transformando o Babel da incompreensão no Pentecostes da partilha entre irmãos que falam uma linguagem que todos entendem e abraçam: a Palavra do Evangelho. João XXIII, homem bom e feliz, semeou alegria à sua volta, acreditando a Igreja em contextos onde era já considerada peça de museu. Deus o chamou com o Concílio ainda a balbuciar as primeiras palavras da conversão que propunha, mas Paulo VI deu continuidade e conclusão á obra começada há 50 anos. J. Paulo II construiu uma ponte entre a Europa do silêncio (esmagada e oprimida do outro lado da cortina de ferro) e a Europa ocidental (abafada nas suas convicções ancestrais pelo indiferentismo religioso). Deu um empurrão e ajudou a deitar abaixo o Muro de Berlim e, com ele, acabou a guerra fria que opunha o capitalismo ao socialismo, impondo ao mundo o equilíbrio do terror, assente na corrida aos armamentos. Com J. Paulo II, o mundo respirou de alívio, mas o capitalismo |
|
|
||
liberal, gerador de enormes desigualdades sociais, impôs-se como sistema único. O Papa que ‘veio de longe’ lançou-se na aventura de percorrer os caminhos do mundo para falar de Cristo, apostando forte nas ‘Viagens apostólicas’. Criou as ‘Jornadas Mundiais da Juventude’ que congregam milhões de jovens, reforçando a sua missão. Promoveu em Assis o Encontro dos líderes Religiosos de todo o mundo para rezar pela Paz, ideia reforçada por Bento XVI e Francisco. São dois Papas que marcaram o fim do segundo milénio. A canonização conjunta mostra
|
á Igreja e ao mundo a riqueza da pluralidade. São dois estilos completamente diferentes mas com algo de essencial em comum: o amor à Igreja, a fidelidade ao Evangelho e a abertura com atenção aos sinais dos tempos. Se tivesse que eleger uma ‘obra’ de cada um deles, dirá que me marcaram a ‘Pacem in Terris’ de João XXIII e a ‘Redemptoris Missio’ de J. Paulo II. Duas encíclicas em que a Missão, num sentido muito alargado do termo, joga um papel decisivo na vida da Igreja, na sua relação com o mundo. Próximos no tempo, estes Santos são modelos a seguir.
|
|
“Pode ouvir o programa Luso Fonias na rádio SIM, sábados às 14h00, ou em www.fecongd.org. O programa Luso Fonias é produzido pela FEC – Fundação Fé e Cooperação, ONGD da Conferência Episcopal Portuguesa.”
|
Como pode a EU liderar o combate à fome |
||
A Cáritas Europa apresentou no passado dia 15, no Parlamento Europeu, o último relatório sobre segurança alimentar: “De que forma pode a União Europeia liderar a batalha contra a fome mundial”. A Cáritas defende, neste relatório, que a “União Europeia deve assumir a erradicação da fome no mundo como uma prioridade na agenda pós 2015, e defender uma definição clara do objetivo “Pobreza Zero” tendo em conta as raízes das causas da fome, em particular aquelas que são resultado de medidas politicas defendidas pela própria União Europeia”. A missão da Cáritas tem no seu coração a defesa da dignidade do ser humano. A fome é a mais crua manifestação da pobreza e a que ataca de forma mais severa os direitos Humanos, por isso, a Cáritas não pode ficar indiferente. Principalmente porque acreditamos que é possível, até ao anos de 2025, a fome, má nutrição e insegurança alimentar podem e devem ser erradicadas. A União Europeia, com os seus |
28 estados membros, é um dos mais importantes guardiães do desenvolvimento humano. As medidas defendidas pela EU têm um impacto crucial na segurança alimentar e na sustentabilidade dos caminhos para o desenvolvimento. Por isso, a EU tem um papel fundamental quando se fala no combate à fome. A Cáritas neste relatório que agora se apresenta desafia, portanto, os estados membros a serem coerentes e a reforçarem entre si a importância de assegurarem nos seus países o direito à alimentação e à segurança alimentar. O relatório, feito com base nos testemunhos recolhidos pelas diferentes Cáritas nacionais que compõem a Cáritas Europa, defende como “não negociáveis” os seguintes aspetos: - Direito à alimentação: O direito à alimentação deve ser avaliado e assumido como uma prioridade em todos os países da EU particularmente quando o seu impacto se manifestam na agricultura e na segurança alimentar; |
|
|
||
- Objetivo “Erradicação da Fome”: Os países da EU deverão assumir a erradicação da fome como um objetivo, na moldura dos objetivos pós 2015;
- Agricultura de pequena escala: A EU e os seus estados membros devem apoiar a agricultura tendo como foco principal a agricultura de pequena escala e de subsistência; - Organizações da Sociedade Civil: Estas são as principais parceiras da EU e Estados-Membros no combate á fome. Escutar a sua experiência e trabalho local, com pessoas em situação de pobreza, fome e má nutrição, é fundamental para que se tomem decisões que possam |
ir ao encontro das necessidades reais. À ONG deve ser dado acesso ao financiamento e espaço de intervenção; - Coerência politica: A regulação de temáticas relacionadas com a agricultura, comercio e energias, deve ser analisada sob um ponto de vista global tendo em conta todas as consequências e riscos acrescidos que elas terão nos países em vias de desenvolvimento e nas comunidades mais pobres. O relatório poderá ser lido em: http://www.caritas.org/what-we-do/advocacy
Márcia Carvalho
Cáritas Portuguesa |
|
40 anos do 25 de Abril
Os Católicos no Estado Novo
|
||
Padre Senra Coelho |
A breves dias de se comemorarem 40 anos sobre a “revolução dos cravos”, completaram-se no passado Domingo, dia 13 de abril, 25 anos sobre a morte do bispo do Porto (1952-1982), D. António Ferreira Gomes, falecido a 13 de abril de 1989. O bispo que enfrentou Salazar, soube dizer-lhe com frontalidade e coragem o que pensava, sofrendo por isso o exílio político de 1959 a 1969. O seu regresso a Portugal só foi possível no contexto da dita “primavera marcelista”. No muito que se tem escrito e dito, continua-se a constatar a crítica à Igreja Portuguesa, através da insinuação, ou mesmo acusação, que esta esteve sempre ligada ao regime do Estado Novo e que apoiava as suas ações, no mínimo através da inércia das suas omissões e dos seus silêncios, tornando-se por isso cúmplice com a sua ideologia corporativista com acenos totalitaristas filogermânicos e filofascistas. Silêncio contrário ao magistério pontifício de Pio XI (1922-1939) que na Encíclica Mit brennender Sorge (14.03.1937) condenara todo o tipo de totalitarismo. Compreendendo por esta expressão, qualquer manipulação estatal sobre os cidadãos, incluindo o controlo das suas consciências e do direito à educação dos filhos por parte dos pais, segundo
|
|
|
||
os seus valores morais e compreensão da vida e da família. Sem esquecermos os reflexos da traumática experiência sofrida pelos católicos na Primeira Republica, sobretudo nas questões referentes ao arrolamento de todos os bens eclesiais, moveis e imoveis; às questões referentes às “Associações Culturais” que deveriam administrar os bens arrolados, sob indigitação e nomeação estatal; dos padres pensionistas, hierarquicamente dependentes da Direção Geral dos Assuntos Eclesiásticos, do Ministério da Justiça, pagos pelo estado da Republica e por isso funcionários públicos; das questões relacionadas com o encerramento dos Seminários e depois da sua redução a Braga, Porto, Coimbra, Lisboa e Évora; todas as questões radicalizadas e referentes à Lei da Separação do Estado e das Igrejas (1911) e finalmente, os complexos assuntos relacionados com a extinção e expulsão das Ordens Religiosas; somos obrigados a revisitar a História e a interrogarmo-nos se a Igreja terá |
sido em absoluto uma aliada incondicional do Estado Novo, como alguns continuam a afirmar? Em Novembro de 2011, foi publicado o 3.º volume da obra A Questão Religiosa no Parlamento, vol. III, 1935-1974, da autoria de Paula Borges Santos. A autora publicou anteriormente Igreja Católica, Estudo e Sociedade (1968-1975) e para além da relação com a Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa é investigadora do Centro de Estudos de História Religiosa da Universidade Católica Portuguesa (UCP) e do Instituto de História Religiosa. Estamos perante uma investigação histórica isenta e rigorosa, integrada na Coleção Parlamento N.º 32. Este 3.º Volume, coloca uma questão decisiva sobre a relação entre a Igreja e o Estado Novo: «Houve, ou não, uma “questão religiosa” no Estado Novo? (…). Sim, se isso significar as atuações do Estado, por um lado, e da Igreja Católica, por outro, na disputa pelas respetivas autonomia e liberdade, no quadro do regime de separação que regulava, |
|
|
||
desde Abril de 1911, o relacionamento entre o poder civil e aquela instituição religiosa». Verifica-se que ao longo das décadas do Estado Novo, surgiram na hierarquia da Igreja figuras proféticas, que pelas suas posturas e intervenções preocuparam o regime. Nomes como D. Manuel Mendes da Conceição Santos (1876-1955) (Arcebispo de Évora, 1928-1955), Padre Abel Varzim (1902-1964), D. Sebastião de Resende (1906-1967) (Bispo da Beira, Moçambique 1943-1967), D. Altino Santana Ribeiro (1915-1973) (Bispo de Sá da Bandeira, Angola (1955-1972) e Bispo da Beira, Moçambique (1972-1973)), D. Eurico Dias Nogueira (Bispo de Vila Cabral, Moçambique (1964-1972) e Bispo de Sá da Bandeira, atual Lubango (1972-1977)), D. Manuel Vieira Pinto (Bispo/Arcebispo de Nampula, Moçambique, 1984-2000) e D. António Ferreira Gomes e muitos outros, comprovam a largueza de horizontes e a formação política existente em muitos clérigos, vários dos quais formados em prestigiadas universidades europeias e por isso figuras incontornáveis |
na vida eclesial e sociocultural portuguesa. Coincidente com esta análise histórica, também Paulo Fontes, investigador no Centro de Estudos de História Religiosa-UCP, explica que o envolvimento, ou a conivência, da Igreja com o Estado Novo foi-se esbatendo ao longo dos anos em que o regime esteve a governar Portugal, e que muito antes do 25 de abril eram já notórias as clivagens entre o governo e o clero. Segundo ele, «A posição da Igreja variou desde uma adesão muito significativa nos anos 30 até um afastamento que se inicia depois da Segunda Guerra Mundial, com a consciência clara de que estávamos perante um regime de tipo ditatorial, com mecanismos de repressão efetivos, e relativamente aos quais o catolicismo tinha dificuldade em desenvolver a sua ação religiosa, social e, por extensão, política». O investigador, assinala a substituição do Cardeal Cerejeira, que vivia uma situação mais «ambivalente», por D. António Ribeiro, como simbólica desse afastamento, «Do ponto de vista da Igreja mais institucional, |
|
|
||
a vinda de D. António Ribeiro para Lisboa foi o sinal que marca uma vontade de mudança no posicionamento da Igreja e do seu episcopado em relação à situação política» (Cf. Família Cristã, Abril, 2014). Não é historicamente correto, identificar os grandes sinais de abertura e atualização da Igreja em Portugal como consequência do 25 de Abril, que «até democratizou a igreja e a aproximou do povo». Sem ignorar a importância do contexto político e sociocultural em que se insere e vive a Igreja, não podemos ignorar a especificidade da vida eclesial, que em Portugal, como em todo |
o mundo, viveu intensamente a aplicação e o aprofundamento do Concílio Vaticano II, de que celebramos os seus 50 anos. Sem dúvida que a implementação das reformas conciliares em Portugal e a províncias ultramarinas, na segunda metade da década dos anos 60 e nos primeiros anos de 70, muito contribuíram para a perceção dos aspetos obsoletos e arcaicos do regime e ajudaram a abrir horizontes de liberdade e fraternidade. A aplicação do Concílio em Portugal abriu janelas e portas aos ares frescos vindos da Europa Ocidental livre e democrática. |
|
|
||
|
|
|
Irmãos e irmãs: seguimento, comunhão e partilha. Oremos a fim de que a participação na Eucaristia nos estimule sempre: a seguir o Senhor cada dia, a ser instrumentos de comunhão, a partilhar com Ele e com o nosso próximo aquilo que nós somos. Assim, a nossa existência será verdadeiramente fecunda. Amém! (Papa Francisco, 30 de Maio de 2013) |