04 - Editorial:

   Sandra Costa Saldanha

06 - Foto da semana

07 - Citações

08 - Nacional

14 -Opinião:

    Santiago Pérez de Camino

18 - A semana de...

     Luis Filipe Santos

    Diocese do Funchal

40- Internacional

 

46- Cinema

48 - Multimédia

50 - Estante

52 - Vaticano II

54-  Agenda

56 - Por estes dias

58 - Programação Religiosa

59  - Minuto YouCat

60 - Liturgia

62 - Fundação AIS

64 -Opinião:

    Margarida Corsino
68 - Lusofonias

Foto da capa: Agência ECCLESIA

Foto da contracapa:  Agência ECCLESIA

 

 

 

 

AGÊNCIA ECCLESIA 
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Opinião

 

 

 

 

500 anos da Diocese do Funchal

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Papa lança Igreja em Missão

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Patriarca apresenta caminho até ao Sínodo 2016

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Sandra Costa Saldanha|Padre Tony Neves | Margarida Corsino | Santiago Pérez de Camino

 

Ainda o “Culto das Imagens”,
e um Resplendor

Sandra Costa Saldanha

Secretariado Nacional dos Bens Culturais

 

Expoente da joalharia devocional portuguesa, o processo de deslocação do resplendor do Senhor Santo Cristo dos Milagres, no convento de Nossa Senhora da Esperança em Ponta Delgada, tem causado, como é sabido, diversas manifestações de repúdio.

Obra integrada no Tesouro do Senhor Santo Cristo dos Milagres (juntamente com a sua coroa, corda, relicário e cana), inscreve-se no quadro de um conjunto de ofertas feitas como pagamento de promessas, ou motivadas pela vontade dos fiéis em enriquecer a imagem venerada. Encomendada pela 4ª Condessa da Ribeira Grande, seria doada pelo 6º conde, seu neto. Executada pelo ano de 1785, e atribuída aos célebres mestres Pollet, joalheiros da Casa Real, impressiona pela riqueza dos materiais e qualidade iconográfica, com representações e simbologia da Paixão.

Mas é sobretudo a sua dimensão espiritual que tem gerado tamanha celeuma em torno da participação da obra na exposição "Splendor et Gloria", próxima mostra temporária do Museu Nacional de Arte Antiga. Reunindo e confrontando um notável conjunto de outras peças de ourivesaria, não se resume à simples exibição de obras esplendorosas. Como tantas outras iniciativas do género, resgata e divulga as extraordinárias histórias de cada uma, memórias vivas de fé e

 

 

 das comunidades que hoje as prosseguem.

Prática corrente em todo o mundo, não são raros os casos de empréstimos de obras desta natureza, inclusive em Portugal, e até de alguns dos mais importantes ícones do catolicismo. E a Igreja, como qualquer instituição que persegue os seus fins, reconhece e defende uma sábia articulação, alicerçada na partilha e na comunhão dos seus Bens Culturais: não se furta a que sejam considerados “entre o património artístico nacional ou local, dispondo-se a colaborar nas iniciativas civis destinadas ao conhecimento e apreciação dos bens artísticos do país, da região ou da localidade.” (Princípios e Orientações, CEP, 2005).

No caso da peça em apreço, para além de uma oportunidade única de afirmação da riqueza religiosa e cultural do Arquipélago no todo nacional, como bem sublinham os responsáveis locais, a iniciativa proporciona ainda condições excepcionais para o seu estudo e valorização, nunca empreendida no contexto em que é conservada. Acauteladas as indispensáveis normas de segurança e a necessária investigação

 

 nas áreas da História da Arte e da Conservação e Restauro, não visa apenas a exposição, análise ou inventariação material, mas também a imprescindível (e urgente) preservação deste tesouro açoriano.

Atenta à dimensão artística e devocional do património que tem à sua guarda - e em linha com a mais elementar regulamentação nesta matéria - a diocese de Angra corresponde, assim, com responsabilidade e apreço, à expectativa de milhares de fiéis e peregrinos: não apenas aqueles que hoje prestam culto ao Senhor Santo Cristo dos Milagres, mas também (e, talvez, sobretudo) legando-o com dignidade aos que no futuro prosseguirão umas das suas mais genuínas

formas de

devoção. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

  Há outros campeonatos para vencer    

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

“Não sei qual é a reputação que você acha que o Pepe tem” (Paulo Bento)

 

 

 

 

“Se a Igreja não é mãe, embora seja feio dizê-lo, torna-se uma solteirona, verdadeiramente, e assim não é fecunda” (Papa Francisco, 17 de junho de 2014)

 

 

 

 “Recasados é um ponto. O questionário tem 8 itens. São todos importantes e vamos dar uma resposta a todos, inclusivamente a esse tema”. (Cardeal Baldisseri, sobre o Sínodo dos Bispos sobre a Família)

 

 

 

 

“Nenhum critério densificador do significado gradativo de tal diminuição quantitativa de dotação e da sua relação causal com o início de procedimento de requalificação no concreto e específico órgão ou serviço resulta da previsão legal, o que abre campo evidente à imotivação e esta à arbitrariedade, com projeção inexorável na cadeia decisória que se segue, predeterminados os seus atos (e fundamentos) pela decisão genética”.

(Acórdão do Tribunal Constitcional de 28 de agosto de 2013)

 

 

"Aspiro a uma monarquia renovada para um tempo novo" (Felipe VI)

 

 

Patriarca de Lisboa apresentou
caminhada rumo ao Sínodo de 2016

O Patriarca de Lisboa apresentou este domingo a caminhada rumo ao Sínodo diocesano, a realizar em 2016, e que pretende seja “um sonho missionário” para levar a todos, a partir da exortação apostólica «Alegria do Evangelho». “Ele (Papa Francisco) diz que é um programa para toda a Igreja. E que nós façamos o possível em cada diocese, para de uma maneira corresponsável e partilhada levarmos à prática o que ele nos diz na exortação. Isso vai ser uma caminhada que vamos fazer em conjunto, até ao final de 2016. Vamos lançar aquilo que o Papa Francisco diz ser um sonho missionário de chegar a todos”, explicou D. Manuel Clemente à Agência ECCLESIA, aludindo ao lema «O sonho missionário de chegar a todos».

Até 2016, no início de cada trimestre vai ser lançado um guião para que em cada comunidade a exortação “seja refletida e se tirem implicações práticas de um agir missionário constante”, pede o patriarca, 

 

com o objetivo de “chegar onde não se chega” e ir “mais a fundo em proximidade”.

No dia em que o patriarcado assinalou o dia da Igreja diocesana, no Estoril, foi distribuído o «guião zero» apresentando as linhas principais deste caminho que vai compreender os anos pastorais 2014/2015 e 2015/2016, culminando simbolicamente na celebração dos 300 anos da qualificação patriarcal de Lisboa, conferida devido ao “seu esforço missionário”, esclarece D. Manuel Clemente.

Segundo o responsável, a missão terá de ser adequada a cada local do patriarcado de Lisboa, tendo em conta a reflexão feita e propondo iniciativas a incluir no programa pastoral.

“Não é a mesma coisa Alcântara e Alcobaça, a Azambuja ou Peniche, uma capelania hospitalar ou uma escola com uma aula de moral. O importante é que neste caminho sinodal, capítulo após capítulo da exortação, se entenda que conclusões tirar e ações

 

 

 ensaiar, para que daqui a dois anos se possa apurar o que realmente responde e interessa, fazendo parte do programa que se vai seguir”, sustentou.

Filipe Teixeira, responsável pela criação do logotipo do Sínodo de Lisboa, destacou à Agência ECCLESIA a preocupação de responder, graficamente, ao objetivo da iniciativa. “O objetivo", explicou, "é que tudo aponte para a vida eterna: daí a estrela de oito pontas que significa isso mesmo. A cruz que não tem barreiras, é uma cruz aberta, significa uma Igreja 

 

em movimento e em mudança. As duas linhas que fazem o círculo à volta da estrela simbolizam toda a Igreja diocesana que em comunidade está em caminho e procura respostas”.

 

 

 

 

 

Jornadas pastorais do episcopado debateram desafios do Papa

Os bispos portugueses promoveram em Fátima, entre segunda e quarta-feira, as suas jornadas pastorais, este ano dedicadas ao tema ‘A alegria do Evangelho e desafios pastorais do Papa Francisco’. O coordenador da iniciativa, D. António Couto, bispo de Lamego, disse à Agência ECCLESIA que temas como “a proximidade, o sair em missão, a alegria” no anúncio da mensagem cristã também fizeram parte da reflexão da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), durante o projeto ‘Repensar a Pastoral’, nos últimos anos.

Francisco, acrescentou, “supera os textos” com os seus gestos, e convida todos a construir “uma Igreja mais dinâmica, mais ativa, em saída”. “Uma Igreja que se aproxime dos pobres, de todas as pessoas, sem estar a defender-se, que se exponha”, acrescentou.

O membro do Conselho Permanente da CEP destaca a importância de levar aos outros a “notícia” de Jesus Cristo e a sua “vida nova”. “Se a Igreja não tem nenhuma notícia para 

 

transmitir, fica parada”, advertiu.

Um dos conferencistas convidados foi o sacerdote salesiano Luiz Alves de Lima, teólogo pastoralista brasileiro, que apresentou a influência no pontificado de Francisco da V Conferência Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe, realizada em Aparecida (Brasil), no ano de 2008. O especialista disse à Agência ECCLESIA que a tradição latino-americana pode ajudar que a Europa seja “reevangelizada”, tendo presentes as novas condições de vida e de cultura.

“O espírito, a mística da evangelização, é bastante vibrante na América Latina”, refere.

 

 

 

Celebrar a fé no Corpo de Deus

Os bispos católicos de Portugal pediram que as comunidades do país façam da celebração da solenidade do Corpo de Deus, que este ano se assinala no próximo domingo, seja uma “grande manifestação” pública da sua fé.

D. António Carrilho, bispo do Funchal, fala desta festa como um “marco religioso e cultural de imenso significado, longa e rica tradição”. Não sendo feriado o “dia tradicional próprio”, esta quinta-feira, a celebração é transferida para o domingo seguinte, como acontece em vários países.

A suspensão de dois feriados católicos (Corpo de Deus e Todos os Santos) em Portugal foi acordada em 2012 após um “entendimento excecional” entre a Santa Sé e o Governo, válido por cinco anos.

D. António Couto, bispo de Lamego, escreve à diocese para falar de um “Dia Grande” em que após a Missa na catedral local decorre a “solene e já tradicional procissão Eucarística de bênção nova e de amor novo e maior pelas principais artérias” da cidade.

 

 

 

“Para esta grande manifestação de fé, todos os párocos e fiéis das paróquias da cidade e do arciprestado de Lamego são chamados a participar, para fazermos desta celebração uma intensa celebração de fé”, acrescenta.

A Diocese de Coimbra também publicou uma nota, a respeito desta solenidade litúrgica, convidando os católicos a celebrar “de modo alegre e festivo, a entrega de Cristo na Cruz, antecipada na última ceia de Jesus com os seus discípulos”.

A Solenidade Litúrgica do Corpo e Sangue de Cristo começou a ser celebrada há mais de sete séculos, em 1246, na cidade de Liège, na atual Bélgica, tendo sido alargada à Igreja latina pelo Papa Urbano IV através da bula ‘Transiturus’, em 1264, dotando-a de missa e ofício próprios.

 

 

 

 

A Agência ECCLESIA escolhe sete acontecimentos que marcaram a atualidade eclesial portuguesa nos últimos dias, sempre atualizados em www.agencia.ecclesia.pt

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O desporto, meio global
da comunicação da fé

Santiago Pérez de Camino

Responsável da secção Igreja e Desporto,

Conselho Pontifício para os Leigos

 

Num mundo globalizado, onde as comunicações desempenham um papel fundamental na hora de transmitir mensagens à sociedade, o desporto é um meio de transmissão de todos os tipos de mensagens.

Com a chegada do Campeonato do Mundo de futebol, o desporto é utilizado para fazer passar mensagens de tipo comercial, de promoção ou de imagem de um país. Observamos, no entanto, que com frequência as pessoas também o usam de forma negativa, como argumento para discriminar por causa de ideologias, raça ou sexo, entre outras, e nos piores casos para justificar a violência. Temos exemplos disso, nos fins-de-semana, nos jornais ou nas televisões.

Muitas vezes esquece-se que o desporto, quando se pratica de uma forma sã, tem a sua própria mensagem a transmitir, infelizmente hoje muito desprezada ou desvalorizada. Pierre de Coubertin, criador dos Jogos Olímpicos Modernos, 

 

 

 

 

 

via com clareza que o desporto em si está destinado não à vitória ou para que o vencedor se vanglorie, mas para conseguir a união das pessoas que competem em igualdade de circunstâncias numa disciplina concreta. De facto, dizia Coubertin: “No dia em que o desportista deixar de considerar, acima de tudo, a alegria do seu próprio esforço (…), o dia em que se deixe dominar pelas considerações da vaidade ou do interesse, nesse dia o seu ideal acabará e o valor pedagógico desse ideal diminuirá irremediavelmente”.

O desportista, amador ou profissional, aprende uma variedade de virtudes que vão de mãos dadas com a fé cristã: o esforço e um incansável desejo de superação, o companheirismo e a generosidade, especialmente nos desportos por equipa, o respeito pelas regras estabelecidas ou o cuidado com o próprio corpo, que possuímos mas que não nos pertence.

A Igreja Católica, de quem o próprio Coubertin tomou algumas considerações para a criação

 

 dos Jogos Olímpicos modernos, vê nos desporto um meio de transmissão da fé cristã e dos valores humanos de que a sociedade precisa. Desde São Paulo, nos primeiros tempos do Cristianismo, até aos nossos dias e com maior força desde o século passado, o magistério ensina que o desporto bem vivido eleva a pessoa, dignifica-a, e é um ótimo meio de conhecer-se a si mesmo e um ponto de encontro com o Criador.

Através da pastoral do desporto e de tantas instituições religiosas ou de inspiração cristã vinculadas ao desporto, são obtidos grandes resultados na integração social dos mais desfavorecidos ou a promoção de programas educativos que afastam os jovens da droga, da violência ou do tráfico de pessoas.

Quero destacar o compromisso do Papa Francisco neste aspeto, com dois exemplos: o primeiro, 

patrocinando a campanha ‘Talitha Kum’, por ocasião do Mundial de Futebol de 2014, sob o lema ‘Jogue a favor da vida. Denuncie o tráfico de pessoas’.
 

 

 

   
A segunda foi o discurso na celebração do 70.º aniversário do Centro Sportivo Italiano, no qual pediu às instituições colaboração e compromisso para criar um futuro para os jovens, propondo três caminhos: “O caminho da educação, o caminho do desporto e o caminho do trabalho, isto é, que haja lugares de trabalho no início da vida juvenil! Se houver estes três caminhos, garanto-vos que não haverá dependências: nem de droga, nem de álcool. Porquê? Porque a escola te leva em frente, o 
 

 

 

 

desporto te leva em frente e o trabalho te leva em frente”.
O desporto é uma linguagem universal que ultrapassa barreiras de línguas, culturas, religiões ou ideologias. A Igreja tem consciência e tira proveito disso, mas é necessário que cada um, à sua volta, desde a sua posição de desportista amador ou profissional, técnico, dirigente ou simplesmente como aficionado, ajude a criar um ambiente no qual floresçam os valores e as virtudes genuínas do desporto.
 

 

 

 

Rasgar horizontes com a poética da vida

Luís Filipe Santos,

Agência ECCLESIA

 

1 - Quando o mundo está focado no campeonato do mundo de futebol, a decorrer no Brasil, apetece virar agulhas e fazer sentir que a «brazuca» saltitante não deve ser o centro, mas apenas um apêndice da vida. Depois da histeria inicial – não podemos esquecer que temos o melhor jogador do mundo – veio o chamado «balde de água fria» com o resultado contra a Alemanha. Nos últimos tempos, os germânicos têm estado no caminho dos portugueses pelos piores motivos. Sufocaram-nos com impostos e depois ainda goleiam os «tugas» com quatro golos sem resposta.

É engraçado ouvir e ver os analistas e treinadores de bancada depois dos resultados. Portugal pode ter lacunas em vários setores de produtividade, mas comentadores não faltam na praça pública. E o mais curioso… São os mesmos que falam de assuntos políticos, económicos, sociais, judiciais e desportivos. Razão tem a escritora portuguesa e portuense, Agustina Bessa-Luis, «O país não precisa de quem diga o que está errado; precisa de quem saiba o que está certo».

 

2 - «A Ilha e o Verbo – Dos vulcões da Atlântida à galáxia digital» é o título do livro, lançado recentemente, sobre o percurso de vida do padre António Rego. A entrevista conduzida por Paulo Rocha leva-nos ao

 

 

 

 

 interior e interiores do sacerdote-jornalista açoriano. A forma como descreve os Açores e as funções que tem desempenhado são uma autêntica mesa sublime e cheia de ciência humana.

Algumas respostas do padre António Rego têm a luz inconfundível das pinturas de Caravaggio, a sonoridade musical de Bach e a expressividade escultórica de Bernini. Recordo uma afirmação que ilustra toda a força dos seus gestos linguísticos: “O comunicador do sagrado tem de ter inspiração, dádiva, entrega, alegria, para que a linguagem seja eficaz. Tem de ter a Bíblia numa das mãos, o jornal na outra e a arte poética em todo o discurso” (Página 110).

A celebrar 50 anos de sacerdócio, o padre António Rego deixou-se guiar pela arte da entrevista simples e sem cortes bruscos, estilo parafuso, e abriu o coração: “Gosto de olhar as imensas rochas negras, pontiagudas, sacudidas pelos vulcões, desenhadas pelos ventos, batidas pelas marés, espécie de capelas góticas como

 

 são as Capelas [terra natal], com o azulão do mar profundo, baía mansa, farol humilde quase ícone religioso, em altura imponente de rocha, vagas doces em tempo de acalmia ou estrondo aterrador em dias de intempérie sob ventos implacáveis”. Uma obra a ler e reler onde, depois de cada reta, a paisagem que surge no horizonte tem o croma intenso e poético que só o entrevistado consegue transportar do vitral para a vida real.

 

3 – O calor gestual do Papa Francisco é real, no entanto é pena que as palmas, bandeiras e máquinas fotográficas absorvam a chama daquela fogueira andante. Naquele «argentino» tudo nasce de forma e brilho natural. O escritor francês, Paul Claudel (1866-1955), escreve que «As grandes verdades só se comunicam através do silêncio» e o Papa Francisco com a sua linguagem gestual e sorridente deixa marcas pictóricas no silêncio dos dias.

 

 

Jubileu da Criação da Diocese do Funchal

Nesta grande Assembleia Diocesana Jubilar das comemorações dos 500 Anos da Criação da Diocese do Funchal, é com imenso júbilo, que, como bispo desta Igreja Particular, saúdo, nas pessoas de Vossas Excelências, o nosso amado Papa Francisco e reafirmo, em meu nome pessoal e da comunidade diocesana da Madeira e do Porto Santo, a nossa fidelidade, comunhão e proximidade espiritual.

De todo o coração, agradeço ao Santo Padre, que, na sua solicitude por todas as Igrejas, se faz representar, nestas celebrações comemorativas, por Vossa Eminência, Senhor Cardeal Fernando Filoni, como seu Enviado Especial. Muito obrigado, Senhor Cardeal e Senhor Núncio, pela vossa presença entre nós.

 

Evangelização e ardor missionário

Senhor Cardeal, a participação de Vossa Eminência, nesta efeméride, como Prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos, é uma honra para

 

 a nossa diocese e uma enorme alegria, porque expressa, no ontem e no hoje da história, não só a beleza da comunhão e unidade da Igreja universal, mas confirma a riqueza do dinamismo evangelizador e missionário da Igreja madeirense.

Entre os numerosos missionários e missionárias, que transmitiram a chama e o esplendor da luz da fé, com um assombroso espírito evangelizador, apraz-me recordar a eminente e notável figura de D. Teodósio Clemente de Gouveia, o Cardeal missionário, natural da freguesia de S. Jorge, e a sua admirável atividade pastoral, como Arcebispo de Lourenço Marques, e a ação missionária de muitos sacerdotes, religiosos/as e leigos, muitos deles emigrantes que transportaram consigo a fé e as tradições católicas das suas terras.

Nesta bela e imensa Catedral aberta, que é o Estádio dos Barreiros, recordamos com gratidão a fé da comunidade insular, que, no passado, celebrou aqui, algumas vezes, as solenidades do Santíssimo Corpo e Sangue de Nosso Senhor 

 

 

Jesus Cristo e a visita histórica do Papa polaco, hoje São João Paulo II, que então presidiu à solene celebração da Ascensão do Senhor, no 12 de maio de 1991. A presença aqui do "papamóvel" é memoria feliz desse inesquecível e maravilhoso evento eclesial. Nestas Ilhas do Santíssimo Sacramento, perante uma multidão em festa, João Paulo II lembrou o dinamismo missionário da diocese do Funchal, na Missa a que presidiu: "Da Igreja catedral do Funchal nasceram, nesses anos, 

 

numerosas Igrejas locais que continuaram, ao longo dos séculos, e continuam ainda a proclamar o Evangelho e a tornar Jesus Cristo presente no mundo".

Da admirável ousadia profética e evangelizadora da nossa gente é testemunho vivo destas palavras do Papa a presença entre nós do Arcebispo de São Salvador da Baía e dos Bispos de Angra (Açores), Cabo Verde (Mindelo) e São Tomé e Príncipe, a quem saúdo, com muita alegria e amizade.

Hoje, regressamos a este mesmo local para celebrar a solene

 

 

 

 Eucaristia, num imenso louvor e espírito de gratidão a Deus, pelos 500 Anos da nossa Diocese. Fundada no período da expansão marítima, a 12 de junho de 1514, foi a maior Diocese do mundo, com jurisdição sobre todos os territórios descobertos e a descobrir por Portugal, das Américas à Africa e ao Oriente.

 

Igreja em missão

O Cristianismo, podemos dizer, tem sido entre nós uma constante sementeira de cultura, cidadania e solidariedade. Quantas histórias belas e luminosas, de autêntica santidade, muitas delas tecidas em silêncio, na contemplação, na doação e entrega da vida no anúncio do Evangelho, no amor solidário aos mais pobres e aos doentes, no desenvolvimento cultural e no campo educativo!

As comemorações jubilares são um tempo favorável para o aprofundamento da fé, renovado empenho e ardor no serviço pastoral, privilegiando a cultura do encontro) a perspetivar e a preparar os novos desafios que se apresentam no campo da fé

 

e da cultura, da ação educativa e social. O Congresso Internacional "Diocese do Funchal, a Primeira Diocese Global - História, Cultura e Espiritualidades", organizado por várias instituições científicas, é uma das ações culturais relevantes deste ano jubilar.

Com Nossa Senhora do Monte e São Tiago, nossos Padroeiros, renovamos o nosso "Sim" a Deus e a nossa profunda comunhão com o Papa Francisco. Juntos, comungamos do mesmo cântico de Louvor à Santíssima Trindade, Fonte de Amor e de Unidade, num imenso júbilo e ação de graças, pelos 500 anos da Criação da Diocese do Funchal: Te Deum, laudamus! Nós Vos louvamos ó Deus!

 

Funchal, 15 de junho de 2014

D. António Carrilho,

bispo do Funchal

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Funchal

A primeira diocese global

Se o catolicismo é, por definição, um ideal de religião global até pelo alcance significativo da sua etimologia – católico quer dizer universal – e ele transporta uma proposta/resposta para a reunião da diversidade de povos e culturais num abraço planetário de paz e concórdia.

Os Descobrimentos Ibéricos, nomeadamente os portugueses, tiveram como ideário mobilizador fundamental a universalização do Cristianismo, isto é, dar cumprimento pleno ao mandato de Cristo de levar o evangelho a toda a Terra que no crepúsculo da Idade se começou a abrir ao interconhecimento de todos os povos através das viagens marítimas transoceânicas. Rasgaram-se os caminhos, abateram-se fronteiras intransponíveis e desabaram-se mitos de impossibilidade.

Os compartimentos estanques e isolados em que mundo estava separado passaram a comunicar-se. Relações comerciais, culturais, científicas, políticas e religiosas passaram a intensificar-se

 

 naquela que pode ser definida como a era da protoglobalização que está na base da experiência de mundialização frenética das relações entre os povos que hoje vivemos plenamente num mundo globalizado a que Marsall MacLuan batizou, já nos anos sessenta do século XX, de “aldeia global”.

Com efeito, a modernidade e os descobrimentos -  que em grande medida a fizeram em termos de revolução de mundividências protagonizados pelas monarquias ibéricas - obrigaram a criar novas instituições quer políticas, quer religiosas, quer ainda levaram a repensar os velhos modelos para atender aos novos desafios agora à escala planetária.

No seio da Cristandade europeia regista-se a emergência  dos Padroados ou Patronatos (concessões especiais concedidas pela Santa Sé aos reinos de Portugal e Espanha para promover e administrar o processo de expansão das estruturas da Igreja nos territórios extraeuropeus recém-descobertos), 

 

 

 

 

a fundação de ordens adaptadas organizacionalmente ao novo dinamismo globalizante como é o caso conhecido dos Jesuítas,  a criação da congregação romana Propaganda Fide (para promover a evangelização ad extra, isto é, para além da cristandade europeia), bem como o surgimento de dioceses territorialmente imensas, quase à escala do planeta.

 
Neste contexto do dealbar de uma nova época histórica a que chamamos moderna, foi ereta canonicamente em 1514, na dependência da Ordem de Cristo, aquela que foi considerada durante algum tempo o maior bispado do mundo, a diocese do Funchal situada na pequena ilha da Madeira. Este primeiro bispado que pode ser apelidado, de certa maneira, como a 
 

 

 

primeira diocese global, detinha, a partir da Madeira que era uma espécie de porta da Europa para o Novo Mundo que se abria ao conhecimento da velha cristandade europeia, jurisdição sobre todos os territórios descobertos pelos portugueses além-mar ao longo da costa africana até ao Oriente e depois englobando também o Brasil. De tal modo que em 1533, com a criação de novas dioceses ultramarinas, a importância da diocese madeirense foi reconhecida durante certo tempo com a sua elevação a arcebispado detendo a primazia, como
 
 
 metropolitana, sobre todas as outras dioceses, nos territórios do império ultramarino português, desde o atlântico ao Índico.  

Na comemoração dos 500 anos do Funchal, não é de somenos relevância o facto histórico de ter sido a sede governadora dos destinos da Igreja de boa parte dos territórios englobados pelo padroado português, em virtude dos privilégios concedido ao Infante D. Henrique, mentor, empresário e estratega dos Descobrimentos, e à sua Ordem de Cristo, a quem tinha sido concedida a tutela da gestão 

 

 

 

 

 

 

 

 

das conquistas das empresas das viagens marítimas. Ordem de Cristo que, recorde-se, é herdeira direta da Ordem dos Templários, ou melhor, é a Ordem dos Templários com outro nome, pois o Rei D. Dinis não aceitou a decisão papal de extinguir esta ordem em Portugal, mas apenas aceitou mudar-lhe o nome. Ora a Ordem de Cristo, templária em essência, teve um papel importante na empresa dos descobrimentos e na promoção 

 
 

da Ilha da Madeira como importante interface económico, político e religioso no processo de expansão de Portugal e do cristianismo no mundo. Por isso, celebrar os 500 anos do Funchal é também recordar a decisiva marca de uma ordem que teve a visão de dar a esta cidade a importância histórica de que, com razão, se orgulha e este ano celebra. 

 

José Eduardo Franco,

Historiador

 

 

 

 

Carta Pontifícia

 

Ao Venerando Irmão Nosso

Fernando Filoni, Cardeal da Santa Igreja Romana

Prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos:

 

Vai celebrar-se a memória de cinco séculos desde que, por deliberação providente do Nosso Predecessor o Papa Leão X, foi erigida a Diocese do Funchal, a qual, passados alguns anos, foi elevada à dignidade de Arquidiocese e algum tempo depois tornou-se a maior de todas, ao compreender também os territórios do Brasil. Muitos foram os pregadores do Evangelho que, impelidos pelo amor espiritual aos povos, se juntaram para lhes levar as salutares palavras do Salvador.

É, portanto, sumamente justo e pertinente que tal acontecimento seja comemorado de forma conveniente e lhe seja dado o maior relevo. Efetivamente, tal celebração é motivo e oportunidade não apenas para lembrar este evento, mas também para estimular a uma fé mais fervorosa, para a qual em nossos tempos, apelou o Papa São João Paulo II, aquando da sua visita a esta comunidade eclesial.

(…)

Por isso, movidos pelo maior afeto, te nomeamos e constituímos Nosso Enviado Especial, com a incumbência de realizar tudo quanto dissemos atrás. A todos os participantes e aos fiéis ai reunidos manifestarás a Nossa benevolência e exortarás, igualmente, a perseverarem na fé e piedade, fazendo cada um com diligência a sua parte. Queremos que, em Nosso Nome e autoridade, dês a todos a Bênção Apostólica, que seja sinal de renovação espiritual e, no futuro, penhor de abundantes graças celestes, pedindo ao mesmo tempo a todos que rezem, para que possamos cumprir frutuosamente a Nossa Missão de Sucessor de Pedro.

 

Francisco

 

 

 

 
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

500 anos de uma Igreja missionária

O cardeal Fernando Filoni, enviado especial do Papa ao Funchal, presidiu à Missa que encerrou a semana de celebrações do 500.º aniversário da diocese madeirense, evocando a sua importância na expansão missionária católica. “Não posso esquecer que a Diocese do Funchal desempenhou, durante estes cinco séculos, um papel muito importante no apoio à obra missionária, encontrando-se na rota para as Índias e África, então consideradas terras distantes, onde era necessário levar o Evangelho”, declarou o prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos (Santa Sé), perante milhares de pessoas reunidas no Estádio dos Barreiros.

Vários bispos, representantes das dioceses que nasceram a partir do Funchal no século XVI, e entidades oficiais marcaram presença na celebração de encerramento da Semana Jubilar dos 500 anos da diocese, antecedida por uma coreografia sobre a história da Igreja Católica na Madeira, interpretada por

 

 cerca de mil crianças e jovens.

D. Fernando Filoni agradeceu às comunidades do arquipélago por terem “ajudado e apoiado milhares de missionários que passaram nestes ilhas antes do grande salto, com os navios da época, para a América, África e Ásia”.

“O Funchal desempenhou, naqueles tempos heroicos das missões, a importante tarefa, como escreveu o Papa Leão X na sua Bula de instituição da Diocese, de 12 de Junho de 1514, ‘Pro excellenti praeminentia’ (isto é: pela extraordinária importância) em apoio à ação missionária da Igreja para as novas Terras que eram então abertas ao conhecimento e ao comércio”, acrescentou.

O responsável da Cúria Romana afirmou que “não há nada mais significativo na vida de um cristão e de uma Igreja do que a sua própria vocação missionária”, apelando a um “testemunho coerente numa sociedade multicultural em crise de valores morais e espirituais, em particular esta, caracterizada pelo

 

 


 

 fenómeno do turismo e pelas migrações”.

“O amor eclesial deve sair de si mesmo e doar-se aos outros. Em primeiro lugar, àqueles que não conhecem o amor de Deus, ou dele se encontram afastados, ou não se sentem humanamente dignos de serem amados, porque se sentem pecadores”, destacou o cardeal Filoni, antes de proferir uma oração aos padroeiros da diocese, Nossa Senhora do Monte e São Tiago.

“Olhai para esta Diocese que é vossa; velai pelos nossos 

 

emigrantes e quantos nos acompanham através da televisão, da rádio e da internet; abençoai e protegei todas as famílias, na sua união e fidelidade; abençoai e protegei as crianças e os jovens, os idosos, os doentes, os pobres, os desempregados, todos os que perderam a coragem de sonhar e de acreditar em Deus e nos homens. Que não lhes falte a saúde, a paz e a concórdia, o trabalho, o ânimo e a alegria da fé e da esperança para a vida de cada dia”, rezou.

 

 

Patriarca enaltece exemplo cristão
das comunidades madeirenses

O patriarca de Lisboa presidiu na Sé do Funchal à Missa evocativa dos 500 anos da Diocese madeirense. Na homilia da eucaristia, D. Manuel Clemente enalteceu o “modo” como a “Igreja local” e a “presente diáspora madeirense tem vivido e alargado exemplarmente um modo particular e generoso de ser cristão, na comunhão com as Igrejas portuguesas” e “em

 

 profunda união com o sucessor de Pedro”.

“Se viver em ação de graças é dever e constância de qualquer alma cristã, meio milénio de Igreja constituída há de sê-lo muito especialmente”, referiu o patriarca, que recordou os “trinta e dois bispos” que ao longo dos últimos cinco séculos orientaram as comunidades católicas do Funchal e elogiou a vivência 

 

 

 

 

 

 

das famílias madeirenses.

“Por experiência própria o confirmo, que em tantas famílias madeirenses encontrei o esteio mais sólido duma convivência cristã geradora de vocações laicais, religiosas e sacerdotais de grande qualidade e comprovação, em benefício da sociedade e da Igreja”, sublinhou.

D. Manuel Clemente sustentou ainda que será a partir desta base de sustentação, dada pelas famílias, “que a Diocese do Funchal garantirá um futuro à altura dos seus gloriosos quinhentos anos de vida em missão”.

Ao longo da celebração, inserida na “Semana Jubilar” promovida pela Igreja Católica na Madeira, o patriarca e presidente da Conferência Episcopal Portuguesa destacou também o empenho das estruturas diocesanas do arquipélago na área da solidariedade, demonstrado na criação de “sucessivas obras” ao “serviço do próximo”.

 
Enalteceu também o seu esforço missionário, reforçado “na grande diáspora madeirense”, exortando as comunidades diocesanas a continuarem a ser mensageiras “da paz”.

 

 

 

Continue entre vós, queridos irmãos desta Igreja em festa, continue onde estiverem os cristãos que daqui partiram, no todo nacional ou por esse mundo além, a acontecer o melhor do que através de vós, Deus oferece ao mundo: o anúncio da paz e a aproximação do seu reino! Permanece convosco e convosco parte, na mesma missão e padroeira dela, a Senhora do Monte, vossa Mãe constante!

 

 

 

 

 

 

500 Anos da Diocese do Funchal.
Renovar o Caminho

 

 

Em 12 de junho de 1514, foi criada a Diocese do Funchal pelo Papa Leão X, através da sua Bula de instituição “Pro Excellenti Praeminentia”, onde se destaca a relevante importância desta diocese no apoio à ação missionária e evangelizadora da Igreja fora das fronteiras europeias, na sequência da epopeia marítima de descoberta que potenciaram uma embrionária experiência de globalização.

Este importante acontecimento não podia passar despercebido e, por isso, durante um triénio (2011-2014) se programou momentos significativos de preparação espiritual e pastoral, numa visão que celebra a Diocese enquanto “Igreja em Missão”, apontando para a construção de “Comunidades cristãs vivas e apostólicas”, fundadas no amor de Deus Pai que acolhe e congrega os Seus filhos”, de “Jesus Cristo que caminha connosco e reparte o Pão” e do “Espírito Santo que cria unidade e envia em missão.

 

 

 

 

 

Neste contexto, foi concentrada na semana jubilar de 8 a 14 de junho um programa intenso de iniciativas celebrativas desta data que culmina com a realização do Congresso Internacional dos 500 Anos da Diocese do Funchal, nos dias 17 a 20 de setembro. Todos estes momentos pretendem realçar não só o grandioso papel que esta Diocese desempenhou, durante estes cinco séculos, no apoio à obra missionária do anúncio do Evangelho a todos os povos, mas também encontrar renovados caminhos de resposta aos novos desafios pastorais e espirituais da atualidade e do futuro.

Esta comemoração constitui uma oportunidade para afirmar que o viver cristão no mundo não pode, pois, fugir ao empenhamento nas circunstâncias históricas, não pode prescindir da tentativa permanente de dar configuração concreta às exigências do Evangelho na realidade histórica. O testemunho cristão é convidado a redescobrir a sua mais profunda originalidade, a sua força 

 

 

interpelativa, a sua capacidade crente de saber "ver o mundo com os olhos de Deus". Trata-se de desafiar à vivência da autêntica maturidade de uma fé cristã que é, na sua essência, um ato de liberdade, que, uma vez assumido, oferece os critérios e parâmetros da escolha dos objetivos nucleares do ser. Será, certamente, um momento privilegiado para lançar as sementes do Evangelho e para aprofundar a vivência cristã que, ao dar sinais convincentes de valores autenticamente humanos, vai ser verdadeiramente interpelativa das pessoas na sua busca de sentido último e mais pleno para o seu viver. É um contributo para recordar o passado no presente, avivar a fé e criar novos projetos e novas formas de compromisso da Igreja com as pessoas e a sociedade de hoje.

 

Marco Gomes

Diretor pedagógico da APEL - Associação Promotora do Ensino Livre

 

 

500 anos. E agora?

Após as celebrações solenes de memória dos 500 anos da criação da diocese do Funchal vem a questão espontânea: e agora? Os antecessores, cumpriram até hoje, na alegria e na dor, o testemunho de uma identidade única e universal de grandes convicções que nos legaram. Na Ordem de Cristo foi enxertada a diocese de além-mar em 1514 para continuar a Missão com a Cruz de Cristo a guiar. E no Monte e na Sé, a Mãe junto à cruz.

Houve tempos de júbilo e de cruz, de luz e de sombras, construção de dezenas de igrejas, capelas e solares, e inundações destrutivas em terra e naufrágios no mar. Inovações agrícolas e comerciais, e açambarcamento de terrenos para poucos; e simples servos perpétuos que a trabalhavam sem poder possuir um metro de terra. Houve festas religiosas e epidemias de morte; passaram pela Madeira e dela partiram missionários para todas as terras de além-mar. Passaram também os piratas que saquearam, mataram e levaram o fruto do trabalho de muitos madeirenses. De um lado e do outro 

 

vieram barcos e homens empreendedores; e levaram bens exportados. Vieram também escravos da África, página triste de que pouco se fala e estuda, que deixou modos de ser aqui e ali até hoje. Vieram bispos fiéis a Roma para fazer a Igreja católica sediada na Madeira. Cedo vieram também os não católicos do norte da Europa, associados e apoiados por comerciantes, armadores, e esboçaram outra identidade para a Madeira: anglicana, luterana, “evangélica”.

A identidade, tradição e cultura católica, já consolidada, ameaçadas reagiram e defenderam-se com excessos, não dissemelhantes aos da caça aos católicos na Escócia e na Inglaterra nos séculos XVI e XVII. A cultura cristã católica do início, manteve-se e foi cultivada nos séculos seguintes. Resistiu às investidas antijesuíticas de 1759, às jacobínico-liberais dos anos 1820, dos ventos do laicismo de sopro napoleónico. Os ingleses aliados e já ocupantes de comércio e terras, com um pé na Inglaterra outro na Madeira, puseram os dois pés no solo madeirense em 1802 e 1807.

 

 

 No comércio açucareiro e vinícola decidiam por vezes mais os de fora que os de dentro, chegando a ser impedido o cultivo de cereais porque a terra era escassa e ficavam os madeirenses com fome de pão. Manter a identidade continuou a ser difícil ao longo do séc. XIX e primeiros anos do séc. XX. O golpe republicano-maçónico associado aos aliados jacobinos juraram mudá-la cortando muitos dos recursos identitários: liberdade religiosa, seminários, escolas, casas religiosas e algumas ligações a Roma.

Apesar dos solavancos  e dos embates do século XX, das guerras, revoluções e golpes de maio de 1928, do pós-Vaticano II, do maio de 1968, do abril de 1974, da rompante alienação secularista, contudo, a data dos  500 anos constitui um grito de júbilo: conseguimos manter a 

 

herança e multiplicá-la por mil extensões culturais de lusofonia e de evangelização!

Agora entregamos o testemunho. Estas celebrações cumprem também o gesto de Elias ao atirar a capa da sua Missão de profeta para cima de Eliseu: “sabes o que te fiz”, agora a Missão é tua. E Eliseu aceitou o dom, desprendeu-se de tudo para cumprir a sua missão. E agora? A Igreja na Madeira é chamada a aceitar e desenvolver a herança da cultura e identidade cristã católica de 500 anos, para ela e para os “seus ramos” de além-mar. Uma Identidade Universal Única como o nome católico significa. A diocese do Funchal é citada a continua ser foco de memória e de Missão da Igreja Católica, desde o Brasil ao Japão.

Aires Gameiro,

Ordem Hospitaleira de São

João de Deus

 

 

 

 

 

 
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Convocar a Igreja para a Missão

O Papa Francisco considera que a missão a todas as gentes ("ad gentes") é uma “grande urgência”, deve traduzir a natureza da Igreja “em saída” e ser sinal da “alegria da evangelização” diante da “tristeza individualista” que marca o mundo atual. Na Mensagem para o Dia Mundial das Missões, divulgada pela Sala de Imprensa da Santa Sé, Francisco a afirma que todos são chamados “a alimentar a alegria da evangelização”.

“O grande risco do mundo atual, com a sua múltipla e avassaladora oferta de consumo, é uma tristeza individualista que brota do coração comodista e mesquinho, da busca desordenada de prazeres superficiais, da consciência isolada”, refere o Papa.

Para Francisco, a humanidade tem “grande necessidade” de “saciar-se na salvação trazida por Cristo”. “Ainda hoje há tanta gente que não conhece Jesus Cristo. Por isso, continua a revestir-se de grande urgência a missão ‘ad gentes’, na qual são chamados a participar todos os membros da Igreja, 

 

pois esta é, por sua natureza, missionária: a Igreja nasceu «em saída»”, afirma.

Segundo o Papa, cada batizado não pode deixar que lhe roubem a “alegria da Evangelização”, capaz de sustentar a sua “vocação e missão”. “Os bispos, como primeiros responsáveis do anúncio, têm o dever de incentivar a unidade da Igreja local à volta do compromisso missionário, tendo em conta que a alegria de comunicar Jesus Cristo se exprime tanto na preocupação de O anunciar nos lugares mais remotos como na saída constante para as periferias de seu próprio território, onde há mais gente pobre à espera”, sustenta no documento.

Na Mensagem para o Dia Mundial das Missões, Francisco diz que a escassez de vocações ao sacerdócio e vida consagrada que se verifica em muitas regiões, fica a dever-se à “falta de um fervor apostólico contagioso nas comunidades, o que faz com que as mesmas sejam pobres de entusiasmo e não suscitem fascínio”. “Onde há alegria,

 

 

 

 

 fervor, ânsia de levar Cristo aos outros, surgem vocações genuínas, nomeadamente as vocações laicais à missão”, refere.

O Papa valoriza o aumento da “consciência da identidade e missão dos fiéis leigos na Igreja”, assim como a convicção de que cada um é chamado “a assumir um papel cada vez mais 

 

relevante na difusão do Evangelho”, sublinhando que “é importante uma adequada formação deles, tendo em vista uma ação apostólica eficaz”.

A Igreja Católica assinala o Dia Mundial das Missões no terceiro domingo de outubro, mês missionário, este ano no dia 19.

 

 

Secretário do Conselho de Cardeais apresentou «visão» do Papa

O secretário do conselho consultivo de cardeais criado pelo atual Papa, D. Marcello Semeraro, disse à Agência ECCLESIA que a “visão de Igreja” de Francisco implica um “caminho” e o respeito pelo “sentido da fé” dos fiéis. “É um movimento, este da Igreja”, referiu o bispo de Albano, na Itália, que esteve em Fátima para proferir duas conferências nas jornadas pastorais do episcopado.

O responsável partiu da exortação apostólica ‘Evangelii Gaudium’ (A Alegria do Evangelho), a primeira do Papa Francisco. “Esta alegria de que o Papa nos fala é, acima de tudo, o acolhimento do dom de Deus em nós, da experiência do amor de Deus. O estilo missionário que nos propõe é este duplo movimento: acolher e, depois, dar”, precisou.

D. Marcello Semeraro recorda que Francisco retoma o "grande tema da Igreja como Povo de Deus", apresentado pelo Concílio Vaticano II (1962-1965) e sublinha um "elemento muito 

 

importante", o da Igreja "animada interiormente pelo Espírito Santo". "Quando o Papa falou de pastores com o cheiro das ovelhas, quando nos diz que os pastores devem ouvir a voz da Igreja no Povo de Deus, é porque há um apelo, um chamamento do Espírito", precisou.

O conselho de oito cardeais dos cinco continentes, o ‘C8’, que auxilia Francisco na reforma da Cúria Romana, vai reunir-se pela quinta vez de 1 a 4 de julho, no Vaticano. Para o bispo de Albano, os resultados deste trabalho devem ajudar a configurar uma Igreja missionária, “em saída”, como tem repetido o Papa.

Os membros do C8, a que se junta o secretário de Estado do Vaticano, estudaram os dicastérios da atual Cúria Romana.

 

 

 

Mulher recebe Nobel da Teologia 
pela primeira vez

O Vaticano revelou que a quarta edição do Prémio Ratzinger, considerado o ‘Nobel’ da Teologia, vai distinguir este ano pela primeira vez uma mulher, a biblista francesa Anne-Marie Pelletier. O anúncio foi feito em conferência de imprensa pelo cardeal Camillo Ruini, presidente do comité científico da Fundação do Vaticano ‘Joseph Ratzinger-Bento XVI’.

“A professora Pelletier é uma personalidade de forte relevo no catolicismo francês contemporâneo, que une a um prestigiado mérito científico e a uma grande e versátil vivacidade cultural uma verdadeira dedicação a causas muito importantes pelo testemunho cristão na sociedade”, justificou o cardeal Ruini.

Anne-Marie Pelletier, especialista de hermenêutica e de exegese bíblica, também se dedicou ao estudo da “questão da mulher no cristianismo e na Igreja”. Atualmente é professora de Sagrada Escritura e Hermenêutica Bíblica na capital francesa, tendo lecionado em várias instituições e

 

orientado retiros em diversas abadias de França e Bélgica.

No campo da interpretação da Bíblia escreveu, entre outros, os livros “Leituras do Cântico dos Cânticos - Do enigma do sentido às figuras do leitor”, “Leituras bíblicas - Nas fontes da cultura ocidental” e “O livro de Isaías – A história pelo prisma da profecia”.

O prémio vai ser entregue a 22 de novembro e distingue ainda o padre Waldemar Chrostowski, biblista e promotor do diálogo católico-judaico.

O sacerdote, primeiro polaco a receber esta distinção, foi apresentado como uma pessoa que “une ao rigor científico a paixão pela Palavra de Deus, o serviço à Igreja e a solicitude pelo diálogo inter-religioso”.

 

 

 

A Agência ECCLESIA escolhe sete acontecimentos que marcaram a atualidade eclesial portuguesa nos últimos dias, sempre atualizados em www.agencia.ecclesia.pt

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Iniciativas de cinema pastorais e locais

Prosseguindo o elevado nível de qualidade da sua programação cultural, o Auditório Vita de Braga organiza, pela segunda vez consecutiva, o Ciclo de Cinema de Verão. Com início a 4 de Julho, a proposta é, nas palavras do Padre João Paulo Brito Costa, autor do texto fundador do ciclo, a de dar, através do olhar do cinema «um contributo à reflexão em torno dos lugares nucleares de geração da identidade e da criatividade humana’. Sob o título ‘Visões generativas do humano’ quatro dos melhores filmes que passaram em Portugal nos últimos tempos, convidam ao encontro da comunidade bracarense no magnífico espaço do claustro do Seminário Menor de Braga nas noites de sexta feira do mês de Julho: ‘Bestas do Sul Selvagem’ de Benh Zeitlin, ‘Amor’ de Michael Haneke, ‘Noiva Prometida’ de Rama Burshtein, ‘E Agora, Onde Vamos?’ de Nadine Labaki.

Iniciativas como esta são exemplares na forma como promovem uma relação 

 

saudável entre o cinema e a religião. Longe do ruído da indústria cinematográfica e dos redutores modelos pastorais que apenas reconhecem no cinema a capacidade de ilustrar de forma episódica – quando não pobre, tantas vezes distorcida na sua génese mais profunda – a vida de santos ou de Jesus, o convite a fazer do cinema lugar teológico, sem ser catequético, e de encontro é de um louvor e de uma urgência para tantos ainda ignorada.

Num mundo dominado e, cada vez mais, exaurido de imagem e de som, com a progressiva banalização a que inevitavelmente um e outro se sujeitam, o segredo do seu impacto, sobretudo para as novas gerações, está, cada vez menos na competitividade e inovação e cada vez mais na sua capacidade de criar vínculo. Sendo necessário num e noutro caso possuir algo mais do que um fator de atração momentânea para estabelecer uma relação duradoura com e entre pessoas.

 

 

 

 

 

É exatamente de encontro e construção de relação que se fala quando se criam espaços e tempos como este que têm e devem ter, como a arte e a cultura em geral, um papel primordial na proposta pastoral das comunidades católicas.

Através delas se olha e se reflete o mundo que somos e o mundo que queremos ser, atendendo por um lado às nossas mais profundas inquietações e por outro levando-nos adiante. Se se quer ser realista e verdadeiramente generoso para com o próximo, é urgente uma atitude de coração e mãos abertas, espírito arejado e olhar atento, tanto aos criadores, no caso do cinema, que registam e questionam esse nosso ser humano hoje como às inquietações dos membros das nossas comunidades.

Porque de atrativas solicitações estamos hoje, todos, autenticamente inundados, e porque elas não esperam pela iniciativa das igrejas, paróquias, movimentos ou seminários, cabe a cada um destes escolher:  competir, sem grande

 

 probabilidade de sucesso e face à exiguidade de meios quando comparados com os que outros dispõem, pela via da atração volátil e efémera; ignorar a importância de uma cultura que, de qualquer forma, se constrói. Ou optar por tomar a dianteira, abrindo as portas ao encontro e à vivência artística e cultural, não passiva mas ativa, criadora de vínculo e verdadeiramente transformadora. Para quem está dentro e para quem vem de fora. Ou para que apeteça entrar e ficar a quem por ali passe, ao acaso.

Para exemplo de boa prática, sobretudo na forma simultaneamente humilde, corajosa e exigente com que leva a cabo a sua missão, aqui fica o do Auditório Vita e o das equipas de formação dos seminários maior e menor de Braga que há muito se distinguem pelo empenho da sua missão de formação, com atenção particular ao papel da arte e da cultura. Um reconhecimento que se alheia de qualquer ímpeto de ‘ribalta’ mas inteiramente merecedor.

Margarida Ataíde

 

 

Portal dos Descobrimentos online

http://www.portaldescobrimentos.pt/

 

No passado dia 10 de junho celebrou-se mais um dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas. É neste dia que se assinala a morte de Luís Vaz de Camões em 1580 e o Dia do Santo Anjo da Guarda de Portugal. Assim a sugestão que esta semana apresentamos está diretamente relacionada com a nação portuguesa e com os seus feitos por mares nunca dantes navegados.

Sabia que “já é possível reviver, online, a aventura que, há cinco séculos, levou portugueses e espanhóis a explorar os mares. O Museu virtual dos Descobrimentos 'abriu portas' recentemente com documentos, vídeos e uma cronologia que permite percorrer algumas das rotas dos navegadores”. Este projeto “enquadra-se na rota Europeia dos Descobrimentos / DESCUBRITER e destina-se a valorizar e promover conjuntamente a cultura, a história e o património associado à navegação, aos descobridores e à tradição marítima dos

 

 territórios do Algarve e de Andaluzia. Nesse sentido, integrou várias ações de sensibilização e divulgação cultural, travessias de promoção turística a bordo da réplica da nau Victoria, jornadas profissionais transfronteiriças, a criação de redes empresariais e ainda à conceção deste Portal dos Descobrimentos”.

Ao digitarmos o endereço 

www.portaldescobrimentos.pt  encontramos um espaço bastante interativo e com um vastíssimo manancial de conteúdos.

Na opção “visitar” temos ao dispor um mapa interativo que nos permite navegar por ele e clicar nos locais que possuem informações relevantes acerca da grande epopeia nacional.

Em cronologia podemos percorrer uma barra temporal, que vai desde o séc. XV ao séc. XVII, onde facilmente descobrimos personalidades marcantes, acontecimentos, rotas marítimas e ainda o património que foi edificado.

No item “e-biblioteca”, dispomos de um riquíssimo património cultural disponível em vídeo, 

 

 

 

mapas cartográficos, bibliografia e registos de imprensa, da época que iniciou com a conquista de Ceuta por ocasião do reinado de D. João I, em 1415.

Existe um separador com alguns factos que despertam o interesse dos mais curiosos, lançando, para isso, questões bastante interessantes, por exemplo: Que expedições partiram de Sagres? Terá existido uma escola náutica na vila algarvia?

Por último em personalidades podemos descobrir, através de uma organização alfabética,

 

 quem foram os principais obreiros e intervenientes da aventura ultramarina que ganhou grande impulso através da ação do Infante D. Henrique.

Fica então a sugestão para que visitem e naveguem neste extraordinário portal inteiramente dedicado à promoção da “cultura, da história e do património das duas regiões de onde partiram as primeiras embarcações à descoberta do mundo”.

 

Fernando Cassola Marques

 

 

Um bispo com pendor iluminista
e estilo mordaz

Em pleno século XVIII, Matosinhos viu nascer uma “figura paradigmática de uma época de renovação de mentalidade, à qual adere com o seu espírito de pendor enciclopédico, caráter de atento observador e estilo mordaz”. Trata-se de D. João de São José Queirós (1711-1764) que foi bispo do Pará (Brasil).

Este beneditino que viveu na época do Marquês de Pombal é o centro da investigação feita pelo bispo português D. Carlos Azevedo, delegado do Conselho Pontifício da Cultura, e a cujo trabalho deu o título «João de S. José Queirós (1711-1764) – Vida e tribulações do erudito bispo do Pará, na época pombalina». Com edição da ANCIMA (Associação para a animação da Cidade de Matosinhos), esta obra, recheada de notas de rodapé e com muitas horas de pesquisa no Archivio Segreto Vaticano e arquivos nacionais é um excelente

 

 instrumento para perceber a sociedade e as vivências do século XVIII.

Dividida em sete capítulos e com um notável apêndice documental, a obra dá ênfase especial ao serviço pastoral deste bispo na diocese de Belém do Pará (1760-1763) e aos relatos das viagens pelo sertão da Amazónia. No entanto, segue a clássica ordem cronológica: desde o ambiente de nascimento e formação, passando à colocação em Lisboa onde se “insere na estação de erudição eclesiástica de grande relevância, tecendo uma significativa rede de amizades, até à nomeação episcopal, em pleno vulcão que rodeou a expulsão dos jesuítas”.

O prelado beneditino que foi substituir Miguel de Bulhões (foi transferido para a diocese de Leiria) na diocese brasileira mantinha contactos epistolares frequentes com Fr. Manuel do Cenáculo (1724-1814), um franciscano próximo do 

 

 

 

 

 

 

Marquês de Pombal e homem essencial na reforma da Universidade de Coimbra. Para além do saber teológico, João Queirós tinha interesse especial pelas ciências naturais (relatos saborosos das viagens em solo brasileiro) e conhecia várias línguas.

Se tinha conhecimentos em vários domínios do saber, o bispo português do século XVIII também possuía uma língua afiada. “Será vítima desta irresistível característica para a liberdade crítica e muitas vezes para o sarcasmo mordaz”. Como diz D. Carlos Azevedo na obra sobre o prelado beneditino: “A veia irónica do seu discurso e a propensão para castigar as situações pelo humor são notas que fazem rir os amigos, mas desgostam os atingidos”.

Em terras brasileiras vê-se envolvido em intrigas políticas, incluindo processo na inquisição, factos e alegadas acusações que conduziram ao seu regresso a Portugal e ao rápido fim no mosteiro de Arnóia, em agosto de 1764. 

 

 

 

 

 

 

II Concílio do Vaticano: A hora de encarar o problema do ensino particular

 

 

Em plena realização do II Concilio do Vaticano (1962-1965), os bispos portugueses escrevem uma nota pastoral sobre a questão do ensino particular, datada de 15 de junho de 1964.

No documento, os prelados referem que acolheram com “alegria e confiança” as palavras do ministro da educação nacional sobre o planeamento de todo o ensino. Neste planeamento, o ensino chamado particular, no qual está incluído o ensino da Igreja, “não pode deixar de ter o lugar que lhe reconhece a Constituição Política do país, e é uma exigência da doutrina cristã e da consciência do mundo livre” (In: Boletim de Informação Pastoral - Ano VI – 1964 - Maio-Junho – Nº 31, página 35). As palavras que saíram do Ministério da Educação, “com tão grande autoridade e sentido tão elevado dos fundamentos humanos e cristãos de toda a reforma escolar, enchem de esperança o país”.

Já o Papa Pio XI, na encíclica «Divini Illius Magistri», proclamara que é “injusto e ilícito todo o monopólio educativo e escolar”. Pelo contrário, todas as nações dominadas pelo materialismo como doutrina oficial, as quais ignoram a primazia da pessoa humana, “mantêm e defendem o totalitarismo escolar, atribuindo só ao Estado toda a missão educativa”, lê-se no documento dos bispos.

A nota dos prelados portugueses realça também que é “forçoso reconhecer” que o regime escolar que vigorava na altura ainda estava “longe de 

 

 

 

 

dar cabal cumprimento aos princípios constitucionais”. E acrescenta: “A liberdade de ensino, sob alguns aspectos, é mais teórica do que real”.

Ainda neste contexto, os bispos portugueses lamentam que só “as classes mais abastadas poderão escolher o estabelecimento que mais garantias lhes oferece de uma educação humana e cristã à medida dos seus desejos”.O documento sublinha que só poderá haver liberdade concreta quando “os pais puderem escolher, entre as escolas oficiais e as particulares, com igualdade de encargos e de vantagens”.

A igreja sentia-se chocada com a acusação de “só cuidar dos filhos dos ricos”. Perante tal lacuna linguística, os bispos exemplificam: “Isto é falso, basta contar as escolas, asilos, patronatos que ela sustenta, tendo que se tornar mendicante, só para os filhos dos pobres”. A igreja julga “que não reclama um privilégio, mas sim um direito reconhecido pela Constituição e confirmado pela Concordata”. 

 

Com isto só pode “lucrar o progresso, a invenção e a renovação do ensino”.

Neste ambiente conciliar, a Igreja pretendia “evangelizar os pobres” e poder levar o seu ensino, diocesano e religioso, a todos sem exclusão. “Sem menosprezo dos outros estabelecimentos de ensino, oficial e particular, ela tem consciência das suas responsabilidades para criar climas cristãos de educação integral”. Em assunto tão essencial “para a edificação do Portugal de amanhã – que desejamos sempre mais fraterno, mais próspero, mais cristão – julgamos que não nos seria licito ficar silenciosos”.

Apesar destes desejos, os bispos portugueses reconhecem as “dificuldades a vencer contra o peso de uma tradição secular, para a definição e realização de uma nova política escolar”. Em causa está a “formação e a educação da juventude”.

 

 

junho 2014

dia 20

* Porto - Campus Foz – UCP - Sessão final do ciclo «Aprender a Educar» com Maria do Rosário Carneiro e Laurinda Alves

 

* Lisboa - Reunião da Comissão Preparatória do Sínodo Diocesano com a presença de D. Nuno Brás.

 

* Beja - Auditório da Biblioteca Municipal de Beja Apresentação do projeto «Criactividade - O franchising social potenciado pelo marketing social» pela Cáritas Portuguesa e Cáritas Diocesana de Beja

 

*Beja - Igreja Paroquial de São João Baptista

Celebração de uma missa evocativa do «acto de consciência» de Aristides Sousa Mendes que será presidida por D. António Vitalino Dantas

 

*Lisboa – Sé - Missa por ocasião do aniversário do falecimento de Aristides Sousa Mendes presidida por D. Manuel Clemente.

 
*Lisboa - Espaço dos Recreios da Amadora - Exibição do documentário “O meu  bairro” e tertúlia sobre o tema “Refugiados e migrações” com a presença de António Moreira (CMA), Cristina Magalhães (RDP África), Octávio Carmo (Ecclesia), Mamadou Ba (SOS Racismo) e António Fernandes (IMC).

 

dia 21

*Itália - O Papa Francisco visita a cidade de Cassano.

 

*Viseu - Casa Episcopal

Encerramento (início a 18 de fevereiro) da exposição «A Paixão do Menino Jesus».

 

* Porto – Casa de Vilar

Festa dos Povos promovida pelo Secretariado Diocesano de Migrações do Porto em parceria com a Associação Multicultural.

 

*Fátima - Reunião da Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa

 

 

 

 

*Bragança – Miranda do Douro - Encerramento das inscrições para a Peregrinação ao Santuário de Naso, em Miranda do Douro, para a qual estão convidadas todas as comunidades, movimentos e instituições católicas da região.

 

*Braga - Barcelos - Centro Espírito Santo e Missão - Última tertúlia do ciclo «Missão na Praça» com o tema «Religiosidade popular: Desafios e Urgências» por D. António Moiteiro e pelo padre Abílio Cardoso.

 

*Lamego - Encontro das Equipas de Nossa Senhora (ENS)

 

*Braga – Sameiro - Encontro arquidiocesano de movimentos

 

*Braga - Auditório da Faculdade de Teologia - Seminário sobre «Família: da biologia ao afeto» com a presença de Mauro Paulino, psicólogo clínico e forense.

 

*Fátima - Centro Paulo VI - Jubileu das vocações destinado aos casais, sacerdotes e consagrados

 

*Lisboa - Seminário dos Olivais - Conselho Pastoral Diocesano

 

 

 

*Faro - Silves - Biblioteca Municipal

Conferência sobre «Arquivos Paroquiais - do registo sacramental a arquivos de arquivos» por Alexandra Xisto

 

dia 22 

*Coimbra - Figueira da Foz - Encontro da «Família Cáritas» da diocese de Coimbra

 

*Évora - Estremoz (Galeria Municipal D. Dinis) - Encerramento (início a 12 de abril) da exposição «Maria na colecção de bonecos de Estremoz».

 

*Leiria - Encontro «Festa da Eucaristia. Vamos cear com Jesus!» dos alunos do 3º ano da catequese e promovido pelo Serviço Diocesano de Catequese da Diocese de Leiria-Fátima.

 

*Fátima - Encontro nacional da Família Blasiana

 

* Leiria - Mercado de Sant´Ana - Festa dos Povos promovida pela AMIGrante (Associação de Apoio ao Cidadão Migrante)

 

 

 

 

 

 

«Família: da biologia ao afeto» é tema para um Seminário com a presença de Mauro Paulino, psicólogo clínico e forense. Será em Braga, este sábado, no Auditório da Faculdade de Teologia.

 

 

Na segunda feira, dia 23, a Sé Velha em Coimbra, acolhe a Sessão de apresentação dos roteiros turísticos, dedicados aos Caminhos Marianos e aos Caminhos de Santiago, e um «Guia de Boas Práticas de Interpretação do Património Religioso», uma parceria do Turismo de Portugal e o Secretariado Nacional dos Bens Culturais da Igreja.

 

 

Terça feira, dia 24, o Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa entrega o «Prémio Fé e Liberdade» a Alexandre Soares dos Santos. A Sessão decorre no Hotel Palácio, no Estoril.

 

 

A Associação de Psicólogos Católicos promove, no dia 26 de Junho, uma sessão do ciclo de conferências  “Ser Família é bom”.  Será no Edifício da Faculdade de Economia da Universidade Católica Portuguesa, pelas 21h30.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Programação religiosa nos media

Antena 1, 8h00

RTP1, 10h00

Transmissão da missa dominical

 

11h00 - Transmissão missa

 

12h15 - Oitavo Dia

 

Domingo: 10h00 - O Dia do Senhor; 11h00 - Eucaristia; 23h30 - Ventos e Marés; segunda a sexta-feira: 6h57 - Sementes de reflexão; 7h55 - Oração da Manhã;  12h00 - Angelus; 18h30 - Terço; 23h57-Meditando; sábado: 23h30 - Terra Prometida.

 
RTP2, 11h22

Domingo, dia 22 - Desporto: ir para além da competição.

 

RTP2, 15h30

Segunda-feira, dia 23 - Entrevista ao cónego Rui Osório sobre o São João no Porto;

Terça-feira, dia 24 - Informação e entrevista a Catarina Martins;

Quarta-feira, dia 25 - Informação e entrevista ao padre Manuel Saturino Gomes.

Quinta-feira, dia 26 - Informação e entrevista a António Matos Ferreira;

Sexta-feira, dia 27 - Apresentação da liturgia de domingo pelos padres Robson Cruz e Vitor Cruz.

 

Antena 1

Domingo, dia 22 de junho,  06h00 - Solenidade do Corpo de Deus: tradições em Caminha e Ria de Aveiro. Análise histórica com António Matos Ferreira. Comentário com padre José Luís Borga.

 

Segunda a sexta-feira, 22h45 - 23 a 27 junho - Realidade da catequese da adolescência: Cristina Sá Carvalho (SNEC), P. Valter salzedas (Guarda), P. Hector Figueira (Funchal), Ir. Josefina Teixeira (Algarve) e P. António Pereira (Angra)

 

 

 

O que significa "crer no Espírito Santo"?

 

 

 

 

 

 

 

 

Ano A - Solenidade do Santíssimo
Corpo e Sangue de Cristo

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Eucaristia, alimento da comunidade
  Nesta Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo, que abreviamos em Festa do Corpo de Deus, as leituras apresentam a Eucaristia como momento central da vida da Igreja. Leio alguns extratos de recentes catequeses do Papa Francisco sobre a Eucaristia. Deste Sacramento do Amor derivam todos os caminhos autênticos de fé, de comunhão e de testemunho. «Na Missa, Palavra e Pão tornam-se uma coisa só, como na Última Ceia, quando todas as palavras de Jesus, todos os sinais que Ele tinha realizado, se condensaram no gesto de partir o pão e de oferecer o cálice, antecipação do sacrifício da cruz, e naquelas palavras: Tomai e comei, isto é o meu corpo... Tomai e bebei, isto é o meu sangue. O gesto de Jesus na Última Ceia é a extrema ação de graças ao Pai pelo seu amor, pela sua misericórdia.

A celebração eucarística é muito mais do que um simples banquete: é precisamente o memorial da Páscoa de Jesus, o mistério fulcral da salvação. Memorial não significa apenas recordação ou simples lembrança, mas quer dizer que cada vez que nós celebramos este Sacramento participamos no mistério da paixão, morte e ressurreição de Cristo. A Eucaristia constitui o apogeu da obra de salvação de Deus: com efeito, fazendo-se pão partido para nós, o Senhor Jesus derrama sobre nós toda a sua misericórdia e todo o seu amor, a ponto de renovar o nosso coração, a nossa

 

 

 existência e o nosso próprio modo de nos relacionarmos com Ele e com os irmãos. É por isso que geralmente, quando nos aproximamos deste Sacramento, dizemos que recebemos a Comunhão, que fazemos a Comunhão: isto significa que, no poder do Espírito Santo, a participação na mesa eucarística nos conforma com Cristo de modo singular e profundo, levando-nos a viver desde já a plena comunhão com o Pai, que caracterizará o banquete celestial.

Todos os domingos, dia da Ressurreição do Senhor, vamos à Missa não só para rezar, mas para receber a Comunhão, o pão que é o corpo de Jesus Cristo que nos salva, nos perdoa e nos une 

 

ao Pai. Com a Eucaristia sentimos esta pertença à Igreja, ao Povo de Deus, ao Corpo de Deus, a Jesus Cristo. Nunca compreenderemos todo o seu valor e toda a sua riqueza».

Neste dia e em semana da Solenidade do Coração de Jesus, sempre levados pela Palavra de Deus e com o apoio destas palavras do Papa Francisco, peçamos ao Senhor que o Sacramento da Eucaristia possa continuar a manter viva na Igreja a sua presença e a plasmar as nossas comunidades na caridade e na comunhão, segundo o Coração do Pai.

 

Manuel Barbosa, scj

www.dehonianos.org

 

 

Ajuda de emergência para o Iraque

A Fundação AIS decidiu disponibilizar, de imediato, uma “ajuda de emergência” de 100 mil euros para os refugiados de Mossul que fugiram da cidade perante a aproximação dos rebeldes jihadistas do ISIS (Estado Islâmico do Iraque e do Levante), e em que se incluem os cerca de 3 mil cristãos que viviam na cidade.

De acordo com o Arcebispo caldeu de Mossul, D. Shimon Emil Nona, todos estes cristãos encontram-se agora refugiados em aldeias próximas de Nínive, em abrigos provisórios que a Igreja tem disponibilizado, quer em escolas, salas de catequese e até em casas abandonadas.

De acordo com o prelado, esta primeira ajuda de emergência destina-se ao atendimento inicial para os cerca de 3.000 cristãos refugiados, que deixaram tudo o que tinham para trás, principalmente das aldeias cristãs das planícies de Nínive, e que não sabem quando – e se – poderão regressar.

A ligação entre a Fundação AIS à igreja iraquiana remonta já aos anos 80 do século passado.

 
Para Regina Lynch, diretora internacional de projetos da Fundação AIS, “o sofrimento sem fim dos cristãos iraquianos é uma ferida aberta para nós. Os cristãos no Iraque têm de saber de que não estão abandonados e que os Cristãos no resto do mundo estão com eles, rezam por eles e, ajudam-nos na medida das suas possibilidades”.

Por isso, acrescenta, além dos projetos que a Fundação AIS já tinha em marcha na região, esta ajuda de emergência “procura cumprir essa solidariedade”.

Nos últimos cinco anos, a Fundação AIS – Ajuda à Igreja que Sofre – já disponibilizou um total de 2,4 milhões de euros para projetos no Iraque.

Entretanto, a situação continua a agravar-se com o avanço dos rebeldes jihadistas rumo à capital.

Em declarações exclusivas à Fundação AIS, desde Bagdade, o Arcebispo D. Jean Sleiman fala num “ambiente de caos” com as pessoas a tentar sair da cidade com medo da ofensiva do ISIS, havendo estradas bloqueadas e o aeroporto congestionado

 

 

 

 até ao final do mês.

D. Jean Sleiman defende um consenso na sociedade iraquiana como forma de se deter o avanço jihadista.

“O ISIS tem de ser detido… e é preciso que os líderes iraquianos trabalhem juntos para o fazer. Isso é mais importante do que conseguir o envolvimento da comunidade internacional”.

O prelado acredita que os líderes iraquianos vão conseguir encontrar a forma de lidar com esta ameaça. Caso contrário, “haverá um desfecho trágico”. “Não sei o que se vai passar. Acredito que os militares vão resistir ao ISIS, mas quem sabe se serão suficientemente 

 

fortes? Há a possibilidade de os terroristas terem sucesso…”

No passado domingo, por causa da “confusão” que se vivia na capital, o número de fiéis que participaram na celebração eucarística na Catedral de São José, foi reduzida.

“As pessoas com quem falei no final da missa estavam stressadas com toda esta situação, com as estradas fechadas a norte de Bagdad e com postos de controlo e barreiras a sul”.

A única forma de se sair da cidade, disse, é embarcando num dos sete voos que partem de Bagdade todos os dias.

 

 

Habitar os tempos

Margarida Corsino da Silva

 

Por que é que há vidas que nos tocam tanto? Que nos fazem esperar o próximo passo que darão. A próxima palavra. O próximo gesto. Há vidas que entram nas nossas, sem darmos por isso. E ficam a fazer parte de nós. E aproximam-nos da Vida.

Etty Hillesum. Entra na minha vida no Verão de 2008. Inesperadamente – não são inesperados os grandes encontros? Pelo seu Diário e pelas suas Cartas, partilho com ela alegrias e dores, sorrisos e lágrimas, oração e vida.

A sua vida fala do que o Espírito pode fazer em nós, mesmo quando não O invocamos explicitamente. Uma vida apaixonada. Que dava tudo e acolhia tudo. O seu caminho não foi de facilidade, mas de liberdade, num combate perseverante contra ilusões e desolações obstinadamente recorrentes. Tendo em si um grande amor à humanidade – à humanidade toda. Num abandono sem reservas. Numa agitação criadora. Reconhecendo que o melhor que há em si, o mais belo, lhe foi dado e que este dom, esta graça, procede de uma Generosidade misteriosa. Sabendo que o seu fazer consistirá em ser. Desejando – e cita um verso de Albert Verwey – ser uma melodia que surge da mão de Deus (Domingo, 9 de Março de 1941). Contemplando. Deixando que a oração invada toda a sua personalidade: espírito, afectividade e corpo. Experimentando uma necessidade profunda de se 

 

 

 

 

 

ajoelhar – ela que se definia como a rapariga que não sabia ajoelhar-se. Questionando-se sobre o que pode ser mais íntimo que a relação de um ser humano com Deus.

De certo modo, a descoberta de Deus é muito pessoal. A descoberta de Deus por Abraão não é igual à de Moisés nem à de Isaías. A vocação de Pedro é diferente da de Mateus ou da conversão de Paulo. Todas estas relações nos remetem a um

 

mesmo Mistério cuja inesgotável riqueza se refracta em cada um. Também a descoberta de Etty tem particularidades e tonalidades próprias. Através da sua experiência, pouco a pouco, foi tomando consciência da presença de Deus na sua vida. Como recorda muitas vezes, Etty é a rapariga que aprendeu a ajoelhar-se, dando-se conta que este gesto estava cheio de sentido para ela. Um vago misticismo não a satisfazia. Amava tanto os

 

 

 

 homens, pois, em cada um, ama algo de Deus. A crescente familiaridade com a presença de Deus na sua vida leva-a à experiência de um Amor absoluto que, em vez de se encerrar na sua Transcendência, parte ao encontro da humanidade, reconhecendo cada uma das suas relações como um diálogo entre duas liberdades. Etty descobre que Deus é transcendente (sem possível medida com o que é criado, com o contingente) e ao mesmo tempo, e devido à Sua transcendência, imanente (interior à intimidade mais profunda da criatura).

Sem dúvida, também haverá momentos de escassez na vida de Etty. Momentos em que a sua confiança já não alimenta com tanta abundância a presença de Deus. Mas é sempre constante o desejo de fidelidade. Numa certeza de estar nos braços de Deus. Protegida. Abrigada. Cheia de uma sensação de eternidade. E, em cada noite, abandona-se com as mãos vazias, abertas,

 
 

aceitando que se desprendam da jornada que termina, nada querendo reter e desejando que recebam, ao despertar, um dia totalmente novo.

A Bíblia – especialmente os salmos, o evangelho segundo S. Mateus e as cartas de S. Paulo -, Santo Agostinho, S. Francisco de Assis, Tomás de Kempis, Dostoiévski, Jung, Rilke e Julius Spier povoam a vida de Etty e ajudam-na a este Encontro que marca a sua vida. Que a transforma, dando-lhe um novo olhar sobre toda a sua realidade. De vida em vida, partilhamos os milagres da vida humana. E sabe bem poder dizê-los a alguém.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A Música, o Bem e o Belo…

Tony Neves

 
 

A arte de bem conjugar os sons é tão antiga como a presença dos humanos sobre a face da Terra. O canto chão tem expresso, ao longo dos séculos, todo o tipo de sentimentos. Associados á voz foram surgindo os diversos instrumentos musicais, alguns deles com capacidade de se ir impondo ao mundo, universalizando-se a sua utilização. Que o digam as bandas de todas as qualidades e feitios, bem como as orquestras que vão tocando instrumentos de sopro, de corda e de percussão que são semelhantes em Paris, Tóquio, Nova Iorque ou Dakar…

Celebrar o Dia Mundial da Música é privilegiar o olhar numa das artes que mais unem a humanidade. Todos os povos e culturas exprimem a sua identidade e partilham a sua tradição através da música cantada e tocada por instrumentos. Em tempo de Mundial, basta recordar os hinos nacionais que se escutam antes dos jogos, nos estádios.

A Música é essencial para todos os grandes momentos de celebração. Quase que não há liturgia sem música como não é possível fazer a maioria dos rituais sagrados sem recursos a canto e instrumentos. Que diriam as Religiões se tivessem que partilhar as suas ideais e ideais, adorar a divindade, viver os grandes momentos religiosos sem recorrer á Música que, em muitos contextos, assume mesmo formas de sagrado, como é o caso 

 

 

 

 

 

Luso Fonias

 

 

do canto gregoriano na Igreja. É que o povo já disse que quem canta reza duas vezes…

A Música congrega milhões à volta de concertos e festivais. Os artistas que ganham fama, organizam eventos musicais muito mobilizadores de pessoas e dinheiros. Basta olhar para acontecimentos como o ‘Roch in Rio’ que se realizou recentemente em Lisboa para concluir isto. Foram milhares e milhares os que pagaram caro e fizeram grandes viagens só para ouvir os velhinhos  Rolling Stones…

Há hoje, felizmente, muito 

 

e bom investimento no mundo da formação musical. Não basta utilizar a nossa capacidade inata de cantar ou de tocar um instrumento de percussão. É preciso competência e essa só a escola a pode dar. Ainda bem que aumentam as ofertas de uma formação competente na área da música, quer coral quer instrumental. Só assim se estica ao máximo a capacidade da música nos tornar pessoas mais cultas, mais sensíveis, com mais capacidade de comunicar o bem e o belo.

 

 

 

“Pode ouvir o programa Luso Fonias na rádio SIM, sábados às 14h00, ou em www.fecongd.org. O programa Luso Fonias é produzido pela FEC – Fundação Fé e Cooperação, ONGD da Conferência Episcopal Portuguesa.”

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

«A Igreja particular que está no Funchal tem ainda a sensação de querer reavivar o espírito missionário, que tão significativamente a distinguiu desde o início da sua criação, e percebe ainda hoje a vocação estimulante de um novo e vigoroso empenho missionário. Não há nada mais significativo na vida de um cristão e de uma Igreja do que a sua própria vocação missionária».

(Da homilia do cardeal Fernando Filoni no Jubileu dos 500 anos
da criação da Diocese de Funchal
- 15 de Junho de 2014)

 

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