04 - Editorial:

   Paulo Rocha

06 - Foto da semana

07 - Citações

08 - Nacional

14 -Opinião:

    D. Manuel Linda

16 - A semana de...

     Octávio Carmo

    José Manuel dos Santos

32 - Dossier

    Sophia de Mello

 
 

44- Internacional

50 - Multimédia

52 - Estante

54 - Vaticano II

56-  Agenda

58 - Por estes dias

59 - Programação Religiosa

60  - Minuto YouCat

62 - Liturgia

64 - Fundação AIS

66 - Lusofonias

Foto da capa: Agência ECCLESIA

Foto da contracapa:  Agência ECCLESIA

 

 

 

 

AGÊNCIA ECCLESIA 
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Opinião

 

 

 

 

Encerrar escolas é um erro

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Sophia de Mello Breyner

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Texto preparatório para o Sínodo

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D. Manuel Linda|Padre Tony Neves | Paulo Rocha | José Rui Teixeira | Guilherme d'Oliveira Martins

 

Pessoas e instituições

Paulo Rocha

Agência ECCLESIA

 

A festa das vitórias e as análises em ocasiões de derrota confirmam a crescente polarização de referências sociais e mediáticas em torno de pessoas, não tanto das instituições que representam. Nomeadamente no mundo do futebol: um jogador é mais nomeado e objeto de louvores ou condenações do que uma instituição, o clube de competição ou a seleção que representa. São esses os indicadores revelados, por exemplo, pelas comunidades das redes sociais: enquanto Cristiano Ronaldo tem mais de 27 milhões de seguidores na rede social Twitter, o Real Madrid ultrapassa apenas os 11 milhões. 

O realismo destes números não interpela apenas estratégias de comunicação, mas todo o ambiente habitado por pessoas e instituições. Hoje são sobretudo pessoas, líderes que se transformam em referências de uma comunidade. Nos vários setores da sociedade, emergem mulheres ou homens com força comunicativa capaz de transmitir mensagens e inaugurar novas atitudes.

Para a Igreja Católica, uma instituição entre muitas outras que habita o ambiente também digital que marca a atualidade, a mudança em curso será uma oportunidade na medida em que for um meio para chegar à Pessoa que soube inaugurar uma nova era na História da Humanidade e propor novos comportamentos de forma “viral”.

Há dois mil anos, tudo aconteceu em torno de Jesus Cristo. As Suas mensagens depressa

 

 

 

 

 

tiveram muitos seguidores e outros tantos gostaram dos Seus gestos. A instituição veio depois, mostrando rapidamente que nunca poderia esconder o convite que marcou o início de uma nova rede: “segue-Me!”

A este desafio do primeiro anúncio sucedeu uma ambiguidade logo no segundo. “Eu sou de Paulo”, “eu sou de Pedro…” são afirmações que se podem ler nos relatos das primeiras comunidades cristãs, denunciando divisões espontaneamente ultrapassadas pela certeza de que, em qualquer contexto, todos são seguidores do mesmo “perfil”. Assim aconteceu ao longo de dois mil anos. Assim tem ser também agora, nomeadamente quando se recebe uma "ordem” para alargar esta rede.

 
A fraqueza das instituições, pelo menos aparente, e a força de lideranças, em torno de um perfil digital, é uma oportunidade para ajustar tudo e todos na identidade e verdade que a ambos sustenta. É essa a única via para se tornarem relevantes na atualidade. As pessoas e as instituições.

E vem do Twitter um indicador que o confirma. Desta vez do Papa: Bento XVI inaugurou uma conta na rede social dos 140 carateres com um perfil que não era designado pelo seu nome, mas por "@Pontifex". E Francisco deu-lhe continuidade, chegando agora a 14 milhões de seguidores. Uma forma de aproximar pessoas e instituições! De fazer "pontes" com a Pessoa que todos devem estar "seguindo".

 

 

 

E Portugal veio mesmo mais cedo para casa
© FIFA   

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

- “Grande poeta, cidadã exemplar, portuguesa ilustre, europeia consciente, Sophia de Mello Breyner Andresen foi uma das grandes figuras do nosso tempo. Na sua vida e na sua obra, há uma grandeza de ideais, de valores e de qualidades em que o país se reconhece e em que a democracia se revê”.

Excerto da resolução da Assembleia da República que aprovou por unanimidade a concessão de honras de Panteão Nacional aos restos mortais de Sophia de Mello Breyner Andresen

 

 

- “A melhor homenagem que se pode fazer à escrita de Sophia, dez anos após a sua morte, é reconhecer que ela continua deslumbrantemente atual”.

Miguel Sousa Tavares, filho de Sophia de Mello Breyner Andresen sobre a transladação da escritora para o Panteão Nacional (TVI 24, 26 de junho de 2014)

 

 

 

 

 

 

- “Sei da minha responsabilidade, sei que em abril cheguei a um acordo com a federação que não tinha apenas a ver com os resultados no Mundial, mas também com os objetivos para 2016. Perante estes factos, aconteça o que acontecer no jogo, não me demito”.

Paulo Bento, selecionador nacional de futebol (DN, 25 de junho de 2014)

 

 

- “Quando em zonas menos povoadas se fecham escolas, serviços de segurança sociais, postos de CTT, cuidados de saúde, está-se a fazer tudo menos a contribuir para a natalidade”.

António Bagão Feliz, comentador político e antigo ministro das Finanças (SIC Notícias, 25 de junho de 2014)

 

 

Fecho de escolas
revela falta de visão para o futuro

O bispo do Porto considera que a decisão do Governo em fechar mais 311 escolas do primeiro ciclo no país é uma solução baseada apenas na “tirania dos números” e que revela a falta “de uma cultura de visão para o futuro”. Em entrevista concedida à Agência ECCLESIA, D. António Francisco dos Santos, responsável por uma das dioceses mais atingidas pela decisão do Ministério da Educação, sublinha que mais do que “medidas tomadas por inércia” é preciso encontrar soluções para “as causas” que estão por detrás do fecho destas escolas.

Entre elas, aponta o prelado, estão problemas como “a baixa da natalidade” e o “abandono das terras”, sobretudo no “interior” do país, devido à inexistência de “ideias criadoras de emprego”.

“Não há escolas porque não há crianças, mas isto acontece porque a montante não tem havido um projeto impulsionador de uma transformação do país

 

 que leve as pessoas a fixarem-se com motivações, com trabalho, com esperança, com sonhos”, com uma perspetiva de vida integrada “no todo nacional”, sustenta o bispo do Porto.

Para o antigo presidente da Comissão Episcopal da Educação Cristã, esta decisão vai reforçar a necessidade das populações em centrarem-se “nos grandes espaços demográficos das cidades”, deixando os restantes territórios cada vez mais “despovoados”. Algo que é ainda mais difícil de entender porque surge “quase na eminência do novo ano letivo”, ou seja, muitas famílias “nem estão preparadas” para reorganizarem a sua vida.

Em causa está também a “liberdade” das comunidades e das famílias escolherem a solução mais conveniente para as suas crianças e jovens. “Não pode ser só o Estado a decidir o encerramento das escolas sem ouvir inclusivamente as instituições locais, que podiam proporcionar

 

 

 

respostas de escolas particulares que fossem ir ao encontro da realidade local”, sobretudo nas regiões do interior, “que são as mais desfavorecidas”, complementa D. António Francisco dos Santos.

A missiva do Governo dedicada ao “processo de reorganização da rede escolar para 2014/2015” refere que as crianças das 311

 

escolas em questão vão ser integradas em “centros escolares ou outros estabelecimentos de ensino com melhores condições”. O gabinete do ministro Nuno Crato frisa que na base desta estratégia estiveram, entre outros pontos, a intenção de “reduzir os riscos de abandono e insucesso escolares, mais elevados em escolas com menores recursos e alunos”.

 

 

Braga: Arcebispo lembra inverno da crise

O arcebispo de Braga presidiu à Missa da festa litúrgica de São João Batista, e disse que é preciso reconhecer que “o verão ainda não chegou a diversas pessoas”. “O inverno do desemprego, da emigração, do sofrimento, tem gerado muitas chuvas de lágrimas às quais Deus não nos permite ficarmos indiferentes”, declarou D. Jorge Ortiga, numa homilia pronunciada na Capela de São João da Ponte.

O arcebispo primaz recordou que João Batista “não ficou indiferente ao rumo que a história do seu povo estava a tomar” e “arriscou tudo, incluindo a vida”, tornando-se uma voz, “muitas vezes dura e ingrata”, que apresentou “novos caminhos”. “Não devemos, como crentes e cidadãos, estar mais atentos aos destinos sociais do nosso país? Não necessitaremos de propor um novo paradigma, onde haja justiça e equidade para todos? Pessoalmente, acredito que está nas nossas mãos fazer este caminho”, acrescentou.

D. Jorge Ortiga refletiu ainda sobre

 

 

 

 

 

a atualidade das celebrações do São João “num tempo de uma laicidade tão agressiva”, afirmando que a festa é “uma das componentes necessárias ao ser humano, tendo em vista a sua realização”. “A festa de São João diz a esta moderníssima cidade de Braga que o progresso industrial e tecnológico, que tanto a caracteriza, não a pode fazer esquecer que há princípios éticos que devem regular essa acelerada evolução e que não a pode afastar dos carenciados que, por diversos motivos, estão totalmente à margem dessa evolução”, precisou.

 

 

 

Departamento da Pastoral Juvenil
reforça formação

O Departamento Nacional da Pastoral Juvenil (DNPJ) vai reforçar a formação neste setor e promover uma maior interação entre os responsáveis da Igreja Católica. “Destacou-se a necessidade de intensificar a formação, a partilha de ações/atividades e de fortalecer o caminho em conjunto com mais profundidade”, refere o comunicado final dos Secretariados Diocesanos de Pastoral Juvenil que decorreu em Fátima, sob o tema ‘Bem-aventurados os puros de coração porque verão a Deus’.

Segundo o texto conclusivo, enviado à Agência ECCLESIA, a reunião de sexta-feira e sábado teve como objetivo debater “os desafios e perspetivas da Pastoral Juvenil no mundo atual, avaliar as ações nacionais, partilhar as realidades locais e projetar o futuro”.

Os secretariados, divididos em cinco grupos, analisaram ações passadas e projetaram o futuro das atividades da pastoral juvenil através do ‘Twitta lá’, “uma forma de auscultação

 

 

simples inspirada no exemplo do Papa Francisco através da sua conta @Pontifex, na rede social Twitter”.

O diretor do DNPJ, padre Eduardo Novo, lembrou o Papa Francisco que defende uma Igreja em saída, que vai ao encontro de todos. “Promover sempre e cada vez mais uma cultura do encontro com todas as realidades, desde a catequese à pastoral universitária”, disse.

No sábado, o frei Pedro Bravo apresentou a conferência ‘As Bem–Aventuranças, no contexto da Pastoral Juvenil no mundo atual’, segundo o evangelista São Mateus, e Filipe Teixeira falou do seu livro ‘A jornada em que almocei com o Papa – Uma revolução do coração’.

 

 

 

 

A Agência ECCLESIA escolhe sete acontecimentos que marcaram a atualidade eclesial portuguesa nos últimos dias, sempre atualizados em www.agencia.ecclesia.pt

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Uma civilização de fim de linha

 

D. Manuel Linda

Bispo das Forças Armadas e de Segurança

 

Há dias, um diário tido como influente, dedicava uma página inteira a um assunto que assim titulava: “Especialistas divididos sobre altura para dar contraceptivo a raparigas”. Referia-se a “um encontro sobre a contracepção moderna e os seus benefícios”, na Alemanha, promovido pela farmacêutica com a maior penetração no mercado nesta área. E que «convidou» a jornalista. Com as despesas todas pagas, evidentemente.

O que estava em causa era se se devia ou não dar a pílula às crianças/adolescentes logo no contexto da primeira menstruação. Ou até antes, por «segurança». Sabendo-se que aquela pode acontecer por volta dos onze ou doze anos, porque não começar a impingir a pílula aos dez, para que não aconteçam «acidentes de percurso»? Claro que a jornalista fez um trabalho «isento»: ouviu os que eram a favor e contra, falou dos benefícios e dos riscos, referiu os resultados e a falta deles. E com números, muitos números.

Mas esse é o texto. E o pre-texto e meta-texto? Agitar o pensamento, predispor para o chocante, levar à aceitação normal do tido como obtuso. Ou executar o programado por Estaline: retirar o pensamento autónomo e induzir uma “consciência imputada”.

Mas, pensando bem, lá no fundo, a jornalista não é nenhuma hedionda máquina de propaganda para que diga o que querem que se diga. Não. Ela é expressão e vítima 

 

 

 

de uma cultura dominante que intenta resolver os problemas a jusante, dando como suposto que, a montante, não se pode ou não vale a pena intervir. Da cultura que remenda, mas não cuida. Que parte do dado de que fato novo é para rasgar. E quanto primeiro, melhor. Por isso, acha que «cheira a mofo» falar da dignidade pessoal no campo da sexualidade, e dá-se como adquirido que todas se entregam a todos. O que é ofensivo, porque mentiroso e falso. Vê-se a natureza humana como mero conjunto de hormonas cujo ímpeto o aborto resolve. Legitima as relações sexuais tão-somente pelo uso do preservativo. Em Espanha, dá como inelutável a bebedeira do “botellón” semanal e, em detrimento do controlo parental e da educação, 

 

apenas exige que a Cruz Vermelha monte um hospital de campanha nas proximidades ou que o serviço de saúde faça deslocar para o local uma unidade móvel de emergência.

Quanto a mim, não sigo por essa via. Talvez porque nunca gostasse de muros à minha frente, prefiro muito mais uma civilização de auto-determinação do que de fim de linha. Porque acredito na educação preventiva, gosto mais que me ensinem a não partir a loiça do que ter de comer em pratos cheios de cola, reconstrução dos cacos espartilhados.

E tenho medo. Medo que uma civilização de fim de linha seja o equivalente ao fim do homem, enquanto espaço de auto-consistência e de liberdade.

 

 

Para lá das contingências

Octávio Carmo,

Agência ECCLESIA

 

O verão começou com chuva, mas nem por isso deixa de ocupar o seu lugar no calendário. Muitas crianças que acabaram o ano letivo começam a passar os tempos livres na praia, muitos cumprem o período de férias que tinham marcado antecipadamente, na esperança de encontrar o calor que teima em não chegar. No Mundial de Futebol, também vai desaparecendo o calor, à medida que as prestações da seleção portuguesa vão enchendo com desilusão o lugar que tinha sido dado à esperança no coração dos adeptos.

A vida desafia-nos, nas coisas mais pequenas e nas mais importantes, a olhar para lá das contingências e descobrir que o essencial permanece, sempre.

 

Confesso que, por gostar de futebol, me perturbam seriamente as intervenções das pessoas que, para falar em temas indubitavelmente mais importantes, precisam de criticar quem dedica atenção ao desporto-rei, colocando-se à margem (ou melhor, acima) da massa acéfala, ‘herdeira’ dos romanos que iam ao Coliseu ver os gladiadores. O jogo tem uma dimensão lúdica e todos os que dele gostam têm de ter noção disso para o preservar, mas há muito sobre a condição humana que é dito para lá do mero pontapé na bola…

 

A semana de trabalho ficou muito marcada pela divulgação do documento preparatório da próxima assembleia extraordinária do Sínodo dos Bispos, dedicado aos desafios pastorais da família. É uma leitura longa, que retrata em grande medida a participação de dezenas de milhares de pessoas no processo de preparação desta reunião magna, numa resposta ao inquérito promovido pelo Vaticano que mobilizou 85% das conferências episcopais católicas. Muitos são os temas abordados, a exigirem uma reflexão mais prolongada do que o mero instante da notícia, e não me surpreende por isso que alguns recorram a uma ou outra frase isolada da
 
 
 conferência de imprensa de apresentação do texto do que ao documento, propriamente dito.

A insistência na preservação da doutrina, face à “reivindicação”, pode deixar antever que os caminhos pastorais de misericórdia e de proximidade que os participantes neste Sínodo são chamados a desenhar poderão estar longe do que a opinião pública imagina, no seu debate atual. Mais do que um ‘balde de água fria’ – há muitas expectativas irrealistas em relação ao atual pontificado e à próxima reunião magna dos bispos -, os trabalhos ajudarão a recentrar as comunidades católicas no essencial. Para lá das contingências…

 

 

Uma poetisa de «causas»

Escritor José Manuel dos Santos vai ser o orador oficial na cerimónia de transladação dos restos mortais de Sophia de Mello Breyner Andresen para o Panteão Nacional. O diretor cultural da Fundação EDP e amigo da família da escritora fala da sua obra e do legado que deixou à sociedade portuguesa

 

Agência ECCLESIA (AE) – O que é que esteve na base desta proposta de transladação dos restos mortais da poetisa Sophia de Mello Breyner Andresen para o Panteão Nacional?

José Manuel dos Santos (JMS) – Eu entendo que algum declínio que todos nós sentimos e que nos preocupa nas democracias ocidentais é acompanhado de uma dessimbolização da própria democracia, é preciso dar aos símbolos a sua força, o seu valor e a sua função de exemplo.

E este ano passam 40 anos do 25 de abril e 10 anos da morte de Sophia, uma grande poeta e cidadã, que por isso reúne em si um valor simbólico que deve ser apontado à nossa comunidade, a todas as gerações mas também às novas gerações que ganham em ter conhecimento dessa lição, que foi essa vida e que é, continua a ser, essa obra.

 

 

 

AE – É justo dizer que as novas gerações poderão conhecer o nome, mas não o associam ao percurso que a poetisa teve?

JMS – Creio que a Sophia tem uma situação um pouco singular, toda a gente a conhece por causa das histórias para crianças.

Ela é uma grande autora de histórias para crianças, e portanto toda a gente que leu a “Menina do Mar” ou “O Rapaz de Bronze” ficou encantada com aquela capacidade extraordinária de usar uma linguagem acessível a todos e com aquela beleza, aquela vibração.

E por isso todas as pessoas, de todas as gerações, conhecem o nome de Sophia, se não leram as histórias, os filhos ou os netos leram, e isso é um convite a que conheçam o resto da obra de Sophia.

 

 

 

 

A poesia de que foi autora é elevadíssima, extraordinária, e também a vida, uma vida que ela quis sempre ligada à sua própria obra.

Ela dizia que escrevia para salvar a vida, portanto a conceção que ela tem da poesia não é de uma carreira literária, não é de um lugar proeminente na sociedade.

Ela dizia: a poesia é para mim uma arte do ser. E por isso eu escrevo para estar em concordância com a realidade e com o universo.

E desse ponto de vista, é também justo esta ligação entre aquilo que foi o seu comportamento humano e o que foi a sua obra, a sua vida.

 

 

 

 

 

AE – E é isso que é importante propor nos dias de hoje, daí a importância desta cerimónia?

JMS – Sim, esta cerimónia tem enorme importância porque estamos a falar de alguém que é, a vários títulos, exemplar. Não é fácil reunir numa só pessoa esta exemplaridade, uma grande escritora, uma grande mulher, uma grande portuguesa, uma grande cidadã.

Neste tempo, em que todos nós estamos preocupados com o que está a acontecer, ela representa uma possibilidade de podermos olhar um pouco acima das nossas preocupações, não para as ignorarmos mas para arranjarmos a força que nos permita ultrapassar os obstáculos e as dificuldades que todos estamos a viver, em Portugal claramente mas também no mundo em geral.  

 

AE – Faz esta análise através da obra poética de Sophia e daquilo que dela emana, mas também a partir do contacto que teve com a própria poetisa.

JMS – Sim, eu vi uma continuidade entre aquilo que ela era, 

 

que ela escrevia, e aquilo que ela pensava, fazia.

Era de facto uma personalidade fascinantíssima, cuja linguagem não tinha lugares comuns, frases feitas, concessões, e portanto conversar com ela era quase como ouvir a poesia dela, dita de outra maneira.

Ela dizia que a poesia não precisava de festa de anos, porque precisava de ser dita, ouvida, todos os dias. E praticava este princípio, havia uma continuidade absoluta entre o seu viver e o seu escrever.

E isso é também aquilo que se pode assinalar com este ato da transladação para o Panteão, em que, de alguma maneira, se vai pôr a memória de Sophia à altura daquilo que ela deu, que ela soube dar à sua vida e à sua obra.

 

AE – Tem memórias, acontecimentos concretos a partir do contacto com ela, que possam exemplificar a discrição que faz dela?

JMS – Havia nela sempre uma preocupação e uma disponibilidade para aquelas causas que considerava justas.

 

 

 

 

 

 

 

 

 Antes do 25 de Abril, ela teve um combate politico-cívico muito importante, disse em várias entrevistas que tinha chegado à política pelo cristianismo, pela leitura do Evangelho e por esse conceito de justiça 

 

fundamental que há nele.

E a seguir ao 25 de Abril, empenhou-se em ações políticas concretas, quando achou que essas ações eram importantes, quer no plano nacional quer internacional.

 

 

 

JMS - Ela foi deputada da Assembleia Constituinte, e aí a sua voz aí levantou-se sempre em defesa dos grandes valores da cultura. Mas foi também mandatária de candidaturas presidenciais, esteve por exemplo em ações de solidariedade na altura da luta do povo polaco 

 

pela liberdade e democracia.

Portanto, nunca virou a cara, embora parecesse uma pessoa um pouco despistada e desatenta.

Há muitas histórias sobre as suas distrações, chegava normalmente com um ar perdido e atrasado a todo o lado, mas depois quando abria a boca e falava era 

 

 

 

 

 

 

 

extraordinário sempre o que dizia.

Eu gosto de dizer que ela estava desatenta e distraída de tudo, menos daquilo que era importante.

 

AE – Todo o percurso de Sophia, toda a luta que ela fez até chegar ao 25 de Abril, não se apagou depois da revolução, o olhar crítico continuou também depois. Numa determinada entrevista, ela disse que o 25 de Abril trouxe coisas ótimas no plano político mas no plano cultural não, dando como exemplos a demagogia, o consumismo, a pressa, as propagandas.

JMS – Sim, ela logo em 1975, 1976, numa carta ao Jorge de Sena, diz-lhe: o que vai matar a nossa democracia é a sua incompetência cultural. E ela não fez isto como uma profetiza que está a anunciar o fim de uma coisa que a ela é indiferente. Pelo contrário, há aqui uma 

 
grande preocupação e um grande empenhamento para que isso não aconteça.

Em toda a sua vida há esse combate. O espirito crítico dela exercia-se sempre, a palavra dela levantava-se, ouvia-se sempre com sentido critico e construtivo, para corrigir o que ela achava que estava errado.

Há de qualquer forma, temos de reconhecer, um desencontro dela, que não é apenas dela, com 

aquilo em que as sociedades se foram tornando. Sociedades de consumo exagerado, sociedades de massificação, em que se sabe o preço de tudo e não se sabe o valor de nada.

E para isso há, quer nos poemas dela quer nas entrevistas que dá, sempre uma palavra, um alerta, um alarme sobre o que está a acontecer, algo que é também muito importante ter presente neste momento e neste ano.

 

 

 

 

AE – A própria consciência cristã dela brotava precisamente desse espírito. Ela hoje em dia encaixaria naquele título, que até muitos recusam, de católico progressista?

JMS – Sim, aliás antes da transladação que vai depois permitir conceder à Sophia as honras de Panteão Nacional, vai haver simbolicamente a celebração de uma missa na Capela do Rato. E a Capela do Rato não foi escolhida por acaso, na vida dela tem um grande significado e simbolismo.

Sendo Sophia uma mulher com um ar frágil, e que como digo, parecia um pouco fora do mundo, ela tem um combate extraordinário na associação de solidariedade para com as famílias dos presos políticos. Com o marido Francisco Sousa Tavares, tem um combate constante pela liberdade, pela justiça, que ela considerou sempre, sempre inseparáveis.

 

 

 

AE – Próxima do final da vida, ela dizia que gostava que se realizasse a justiça social, a diminuição da diferença entre ricos e pobres. A justiça para os pobres era aquilo que mais a preocupava, dizia mesmo que o resto lhe era indiferente. Isto é um testemunho, uma herança muito forte.

JMS – É um testemunho fortíssimo, num tempo como o nosso tem que se fazer ouvir a sua voz. Ela era uma mulher que vinha de uma família privilegiada e considerou que esse privilégio não lhe dava o direito de humilhar ou de ter alguma superioridade em relação aos outros.

Pelo contrário, Sophia achou que esse privilégio lhe dava uma responsabilidade de lutar pela justiça e pelas condições de dignidade humana de todos. E isso também é uma lição extraordinária.

 

 

 

 

 

 

AE – Como se processou a aprovação desta iniciativa da transladação do corpo de Sophia para o Panteão?

JMS – Eu lancei a ideia num artigo, esse artigo teve alguma repercussão e algum eco e os deputados na Assembleia da República acolheram essa sugestão, por unanimidade como se compreende, porque é uma figura em relação à qual não há nenhum reparo, de nenhuma natureza, a fazer.

Isto é extraordinário, porque há pessoas que conseguem uma espécie de unanimidade mole e passiva, porque se abstêm, porque se calam, porque não dizem o que

 

pensam, porque navegam em águas de ambiguidade e de pouca clareza.

Ela sempre foi claríssima, a sua voz disse sempre o que era preciso ser dito, afrontou quem tinha que afrontar. No entanto fez isso com uma altura, com uma dignidade, com um sentido humano e cultural, com uma inteligência que levou a que mesmo aquelas pessoas que, num ou noutro momento podem ter sido objeto da discordância ou da crítica dela, renderem-se perante a superioridade com que ela fez sempre essa crítica, ou com que ela fez os reparos que tinha que fazer.

 

 

 

AE – Especificamente em relação ao programa de dia 2 de julho, o que é que foi preparado?

JMS – Vai haver uma missa que tem um caráter mais privado, na Capela do Rato, seguida de um cortejo pela cidade. Depois o corpo de Sophia passará pela Assembleia da República, a caminho do Panteão Nacional, onde às 19h00 - é bom que as pessoas estejam um pouco antes - se vai proceder a uma cerimónia.

Nessa cerimónia terei a honra, o privilégio, de ser o orador oficial, por escolha da família, e irão falar também o presidente da República e a presidente da Assembleia da República.

 

AE – Que palavras é que vai dirigir às pessoas, em honra de Sophia?

JMS – Com um poder de concisão que lhe era grato, ela preferia sempre o que era conciso e claro, é uma das características dela e da poesia dela, vou tentar resumir o que a sua vida, a sua obra. Falar um pouco dos princípios que a inspiraram e da maneira admirável como ela os realizou.

 
Não esqueço a liberdade, a justiça, a poesia, acho que a lição dela é fundamentalmente essa, a poesia, a liberdade e a justiça - são boas razões para que os homens se possam olhar uns aos outros, olhos nos olhos, e ela ensinou-nos isso.

 

AE – Haverá mais algum outro momento especial que possa já ser desvendado antes das celebrações?

JMS - Sim, vão ser ouvidos alguns poemas ditos por ela, na voz gravada que temos dela, vamos ter música e uma coisa extraordinária numa cerimónia desta, vamos ter bailado.

A Companhia Nacional de Bailado vai interpretar duas peças, porque o bailado, a dança, atravessaram toda a vida e obra de Sophia.

As palavras da dança aparecem na sua poesia do último ao primeiro poema. Por exemplo, um excerto de um bailado que vai ser lá lançado é o Lago dos Cisnes, e há uma carta de Sophia para a mãe, quando penso que nos anos 50 viu o Lago dos Cisnes, e ela fala maravilhada com o que viu.

Portanto há essa memória, 

 

 

 

 

as cerimónias de entrada no Panteão não são cerimónias fúnebres, são de alguma maneira uma ressurreição simbólica.

De alguma maneira, o Panteão é o reconhecimento que a morte não prevaleceu contra aquelas pessoas, que elas estão vivas pelo seu simbolismo, pelo 

 

seu exemplo, pelo legado que nos deixaram, e no caso de Sophia, por maioria de razão ainda, pela sua obra.

Os grandes poetas não morrem, porque continuam a viver sempre que abrimos um livro e lemos o que eles nos deixaram ou escreveram para podermos ler.

 

 

 

JMS - Sophia está viva por todas essas razões, pela memória que temos dela, pelo legado exemplar que nos deixou e por essa obra extraordinária que vai desde os contos, histórias para crianças até a ensaios de uma inteligência extraordinária. Mas sobretudo a grande poesia que nos deixou, em que ela fala do universo, dos atos do quotidiano, dos combates políticos, fala de outros escritores, da maçã que a deslumbrou quando viu uma manhã, fala de tudo daquela maneira absolutamente extraordinária que era a dela.

 

 

 

AE – Nestes dias que antecedem a cerimónia no Panteão, tem-se lembrado de alguns momentos que partilhou com Sophia?

JMS – Sim, tenho-me lembrado de algumas vezes que estive lá em casa com ela, que lanchei com ela, que conversei, as viagens que fiz. Eu tive funções na Presidência da República durante 20 anos, era assessor cultural, fazia a ligação com os escritores, intelectuais, com os artistas, e portanto falava frequentemente com Sophia.

Acompanhei-a em muitas viagens que fez, a convite quer do presidente Mário Soares quer

 

 

 

 

 depois do presidente Jorge Sampaio, e há de facto memórias absolutamente extraordinárias.

A maneira como ela olhava as coisas, os comentários que fazia, a graça que tinha - era uma pessoa que tinha uma grande graça - as histórias que contava com uma grande ironia.

E isso fazia da Sophia ao mesmo tempo, como todas as personalidades com a dimensão dela, uma figura transparente e ao mesmo tempo misteriosa, havia sempre qualquer coisa nela que nos surpreendia.

 

AE – Que histórias peculiares é que guarda sobre ela?

JMS - Um dia o presidente Mário Soares estava em vésperas de partir para uma visita de Estado muito importante e estávamos a preparar a tradução dos discursos que iam ser feitos nos vários acontecimentos dessa vida, coisa que é sempre feita sob uma grande pressão. Um presidente tem sempre muito que fazer e normalmente já escreve mesmo sobre a hora e depois revê e depois é preciso mandar aquilo para tradução, para que quando se parta esteja já tudo 

 

bem organizado.

Estamos num dia desses, eu entrei no gabinete e percebi que o presidente Mário Soares estava ao telefone com a Sophia. O assunto era uma empregada doméstica da Sophia, que tinha saído por qualquer razão, e a Sophia estava um pouco atrapalhada porque não tinha empregada e ela não se orientava muito bem nas coisas domésticas.

E eu ouvi o presidente Mário Soares dizer – ó Sophia, eu vou tratar do assunto – não podemos esquecer que eram amigos e que tinham uma convivência, uma amizade e uma intimidade de muitos anos. Desligou o telefone e quando nós insistimos com as traduções ele disse: Não, não, agora vou ter de arranjar primeiro aqui uma solução para o problema doméstico da Sophia.

Isto é mais importante do que tudo o resto, porque ela diz-me que enquanto não tiver este problema resolvido, ela não escreve. E mais importante que tudo é que ela escreva, o meu dever como presidente da República é resolver este problema, dizia. 

 
 

 

 

AE – E o que é que diria Sophia nos dias de hoje?

JMS – Continuaria a dizer o que disse, que o mundo em que vivemos não é um mundo justo, tornou-se até mais injusto do que já foi.

E mesmo a própria liberdade que ela cantou naquele poema maravilhoso do 25 de abril, a maneira como ela conta como esse poema lhe surgiu é uma história também extraordinária.

Ela diz que a despertaram no meio da noite e lhe disseram – há uma revolução na rua – e ela foi ouvir rádio.

Sophia tinha o rádio numa divisão da casa que tinha uns vidros que davam para o jardim, na Travessa das Mónicas. Ela ficou colada ao rádio a ouvir a evolução da revolução, a perceber também por telefone, como é que a revolução se ia construindo e tornado vitoriosa. À medida que isto se foi passando, que as horas foram passando, a noite foi dando lugar ao dia.

Daí ela no poema falar – “emergimos da noite e 

 

do  silêncio”. E ela, num desses testemunhos, liga isto à Páscoa que tinha acontecido poucos dias antes na semana anterior à revolução.

Sophia diz que esta passagem da noite ao dia, das trevas à luz, foi para si uma nova Páscoa, como um milagre que Portugal viveu nas ruas, naqueles momentos. Esta é também uma memória extraordinária, que se percebe como os poemas de Sophia nunca eram qualquer coisa que não fosse autenticidade em estado puro.

 

AE – Portanto as palavras de Sophia nas décadas de 60, 70, continuam a fazer sentido hoje?

JMS – Acho que continuam a fazer muito sentido, porque ela faz uma espécie de ligação de todos os tempos e de todas as figuras. Ela tem um poema, por exemplo, dedicado a Catarina Eufémia em que tira tudo o que depois foi, digamos, cliché ideológico sobre essa figura, restituindo-lhe uma espécie de pureza e nudeza inicial.

 

 

 

 

Ela liga-a uma grande figura que admirava extraordinariamente, Antígona, que era a mulher que clamava sempre por justiça e que achava que havia uma justiça e um direito que se podia impor à própria lei. E isso é uma lição muito importante
 

 para o nosso tempo.

Eu gostaria ainda de dizer uma frase, fazendo uma citação dela, que diz assim: “É costume dizer só aos pobres portugueses: Tenham paciência. Eu acho que devíamos dizer: Não tenham paciência”.

E isso é extraordinário.

 

 

 

«Sophia é símbolo
de uma portugalidade de excelência»

O padre José Tolentino Mendonça é diretor do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura (SNPC) e responsável pela Capela do Rato, em Lisboa, que no dia 2 de julho vai acolher uma missa em honra de Sophia de Mello Breyner Andresen, antes da transladação do corpo da poetiza para o Panteão Nacional.

Em declarações à Agência ECCLESIA, o sacerdote madeirense, também poeta e ensaísta, falou sobre a importância desta cerimónia, o significado da passagem pela Capela do Rato e da relação da autora com a fé e a Igreja Católica.

Para o padre Tolentino Mendonça, numa altura em que Portugal precisa “de símbolos, de mulheres e de homens que corporizem um ideal de nação”, a distinção que vai ser feita a Sophia de Mello Breyner Andresen é “absolutamente” certa.

Por um lado porque “ela é símbolo de uma portugalidade de excelência”, pois a sua vida 

 

foi marcada por uma “perceção profunda daquilo que os portugueses são como povo” e ao mesmo tempo por uma “grande abertura ao mundo”.

Depois, toda a sua “criação poética” deixa transparecer uma mensagem de “empenhamento no mundo, uma grande atenção ao real”, o que “num tempo em que faltam mestres de humanidade, do que é ser pessoa”, representa “um legado incalculável”.

O capelão da Capela do Rato acredita que a transladação de Sophia de Mello Breyner Andresen para o Panteão Nacional pode servir de inspiração para inúmeras “gerações”, tanto para mais que “a sua obra é um legado profético, sempre desafiador”, que aponta para o “futuro” e tem um caráter “absolutamente transversal”.

“Sendo um clássico da nossa língua, Sophia tem um discurso legível para todos, desde um operário a um intelectual, todos são capazes de entender o significado e a força da

 

 

 

 sua palavra”, frisa o padre Tolentino Mendonça.

O sacerdote recorda o papel que aquele templo desempenhou para “uma geração” de católicos, como a de Sophia, que lutou “contra o Estado Novo, a guerra colonial e contra a posição da Igreja nesse contexto”.

“A Capela do Rato também é um lugar de cultura. E nesse sentido, penso que é uma grande alegria e o reconhecimento que nos reunamos naquele espaço para celebrar uma oração em memória da grande poetisa”, complementa o padre Tolentino Mendonça.

Segundo o responsável católico, o facto de Sophia de Mello Breyner Andresen ter assumido uma

 
posição critica face ao posicionamento da hierarquia católica perante o regime de Salazar não marcou de forma negativa a sua relação com a fé, antes “pelo contrário”.

“É muito clara a pertença espiritual de Sophia de Mello Breyner ao espaço cristão e católico e essa foi uma linha persistente na sua vida, sobre isso não há dúvidas”.

José Tolentino Mendonça destaca a forma “ativa” como a poetiza viveu a sua condição católica, sobretudo numa época em que o Concílio Vaticano II (1962-1965) deixava antever uma maior “abertura” da Igreja ao mundo, aos “leigos”, e também exortava à “construção de um mundo justo”.

 

 

Poesia e Transcendência

Há uns anos, em «A primitiva labareda» [prefácio do livro Três vezes Deus, de Ana Marques Gastão, António Rego Chaves e Armando Silva Carvalho], José Tolentino Mendonça repetiu a pergunta de Jean-Claude Pinson, em Habiter en poète: «Que relação pode ainda estabelecer a poesia moderna com qualquer coisa da ordem do sagrado?» A Cátedra Poesia e Transcendência, instituída no Centro Regional do Porto da Universidade Católica por vontade e iniciativa de Sophia de Mello Breyner Andresen e Arnaldo de Pinho, mais do que encontrar uma resposta, procura adentrar-se nessa pergunta: «Que relação pode ainda estabelecer a poesia moderna com qualquer coisa da ordem do sagrado?»

Com efeito, não se trata de saber quanto espaço o semantema Deus ocupou e ocupa nas páginas dos livros de um género literário específico num determinado período ou numa perspectiva histórico-literária mais geral, mas reflectir sobre o modo como Deus tem habitado não só as páginas dos livros, mas também o imaginário dos seus autores,

 

 da homilética barroca aos poentes românticos, dos labirintos da literatura existencialista às derivas de poetas experimentalistas. E perceber o modo como Deus tem habitado o imaginário dos escritores, implica de alguma maneira tentar perceber o modo como tem habitado o imaginário dos leitores.

Procurando desconstruir lugares-comuns, relativizamos o argumento espácio-temporal, afirmando que uma literatura em que o substantivo Deus é recorrente não considera necessariamente mais a questão de Deus do que uma literatura em que esse substantivo é fundamentalmente omisso; e afirmando ainda que a questão de Deus está longe de ser uma questão circunscrita aos meios religiosos sociologicamente demarcados.

Concordamos com José Tolentino Mendonça e Paulo Pires do Vale, quando afirmam que «Literatura e Religião iluminam aquilo que se encontra tatuado em algumas interrogações humanas: a necessidade de organizar a nossa experiência do mundo; 

 

 

 

colocar em diálogo o finito que somos e o infinito que irrompe dentro de nós e da história; decifrar o silêncio ardente da presença de Deus.»

Não acreditamos que Deus [a ideia de Deus, a questão de Deus, o mistério de Deus] esteja menos presente na poesia deste mundo «largamente desdivinizado» em que vivemos, mesmo que a secularização tenha desconstruído de algum modo

 

 o mito do poeta romântico, mesmo que no século XX a condição de poeta e o ofício da poesia tenham perdido uma certa aura hierática.

Sabemos que a literatura gosta de conduzir o homem para o desassossego da salvação [expressão de Paul Poupard], desde os grandes poetas e tragediógrafos gregos a Virgílio, de Dante a Dostoievski. Como afirma Jorge Coutinho, «a literatura percorre os labirintos da vida, 

 

 

 

remexe as profundezas do psiquismo humano, põe de manifesto o que passa ao lado da observação vulgar, denuncia as iniquidades da ordem estabelecida, questiona as certezas demasiado certas, abala as verdades petrificadas, levanta interrogações, provoca dúvidas, abre novos horizontes […]. Onde tudo é normal suscita espanto. Torna-se antecipadora das grandes questões de que irão ocupar-se os filósofos e os teólogos.» E isso não é menos verdade hoje do que foi noutros contextos histórico-culturais.

Por tudo isto, esse grande silêncio sobre Deus que nos provoca o sentimento da ausência de Deus pela constatação da ausência explícita do semantema, nem corresponde ao silêncio de Deus, nem é um verdadeiro silêncio sobre Deus. «Com Gadamer, diremos que a literatura, como forma específica do dizer humano, não é apenas o lugar ou o meio onde Deus, como quer que seja (nomeado ou silenciado, afirmado ou combatido, adorado ou vilipendiado), anda dito. 

 

Ela é também um meio ou instrumento privilegiado do nosso dizê-lo.»

Como lembra José Tolentino Mendonça «a poesia é a charrua que opera sobre o tempo para fazer emergir o que, nele, repousa no profundo» [Ossip Mandelstam]. Com efeito, se, de facto, uma relação se pode ainda estabelecer entre a poesia moderna e alguma coisa da ordem do sagrado, «isso passa pelo relato dos sulcos que, pacientemente, revolvem as devastações da terra em busca de um brilho, de uma razão, de uma palavra ou transtornam as escuridões planetárias que nos habitam, na esperança de um não sei quê agitado de esplendor. De que forma? Tanto pelo despertar do encantamento que religa a palavra ao silêncio, o visível ao invisível, por uma espécie de integridade inseparável que se descobre em nós e nas coisas, como pelo desencanto face ao inaceitável do mundo, à repetição sonâmbula do mal, à violência desmedida da banalidade que contamina tudo.»

 

 

 

charrua que opera sobre o tempo, nas palavras de Ossip Mandelstam, ou a clareira da verdade, numa hermenêutica inspirada por Heidegger, a clareira que se abre no dizer poético, «enquanto dizer metaforizante e simbolizante», dizer que diz e silencia, desvela e encobre, enuncia o mistério não como quem exibe, mas como quem se adentra no mistério.

Talvez a ideia de Deus [a questão de Deus] esteja mais encoberta neste mundo pós-moderno, híper-tecnificado, caracterizado por um

 

 materialismo obstinado e por um relativismo endémico, por um hedonismo obsessivo e uma apatia [quase] patológica. Talvez Deus esteja mais omisso neste mundo «largamente desdivinizado», essa coisa sem transcendência, como denunciou Ortega y Gasset, «distraído que está da profundidade dos grandes símbolos, dos códigos matriciais das linguagens que rondam o mistério que se consuma em nós, enquanto dispersa a sua fortuna no raso comércio de sinais que se pretendem directos e imediatos, longe, muito longe, da preocupação pelo fulgor 

 

 

 

íntimo de um sentido.» Ou talvez o mundo tenha sido sempre [nunca tenha deixado de ser] essa coisa sem transcendência. Talvez a encarnação de Cristo 

 

implique a desconstrução do modo como maniqueistamente separamos [desligamos] sagrado e profano.

A poesia [a arte em geral, a 

 

 

 

 

literatura] torna-se «antecipadora das grandes questões de que irão ocupar-se os filósofos e os teólogos», porque é intuitiva, criativa, problematizante. Arrisca dizer Deus nos limites da sua própria inteligibilidade, como um funâmbulo que caminha sobre uma corda esticada, tensa; um funâmbulo sem rede, numa certa suspensão ensimesmada, abstraída. Talvez seja essa a única forma de dizer Deus: uma espécie de funambulismo sonâmbulo, no limite da inteligibilidade da realidade, por dentro da ininteligibilidade em que Deus [a ideia de Deus, a questão de Deus, o mistério de Deus] é ainda inteligível, no limite da consciência do risco assumido em cada movimento, na fragilidade de cada equilíbrio, de cada silêncio recolhido pela «mão trémula/ pobre/ assinalada pela escassez extrema dos nomes» [como se lê num poema de Tolentino Mendonça].

lugar de Deus na poesia [na arte, na literatura] contemporânea é ainda um lugar que se pressente, que se intui. Pode ser menos explícito do que nas formulações de outros contextos

 

 histórico-culturais, mas nem por isso é menos autêntico. Com efeito, talvez seja legitimamente mais interrogativo, mais fracturante, mais coerente com um certo sentido de implicitude sem o qual Deus torna-se um dado adquirido, uma mera construção, o produto de uma racionalidade redutora: um deus à imagem e semelhança de um homem que já não sabe conceber-se [intuir-se] à imagem e semelhança de Deus.

Não se trata de uma atitude refractária ao discurso teológico e filosófico sobre Deus, mas a consciência de que [no caso concreto do cristianismo] a teologia tende muitas vezes a ser o meio de legitimação dos processos de subversão da poética do Evangelho. Como lembra Paul Tillich: «Não é fácil pregar cada domingo sem se elevar a pretensão de possuir Deus e de poder dispor dele. Não é fácil pregar Deus às crianças e aos pagãos, aos cépticos e aos ateus, e ter de lhes explicar, ao mesmo tempo, que nós próprios não possuímos Deus, mas que o esperamos. Eu estou convencido de que a resistência ao cristianismo vem em grande parte do facto dos cristãos, 

 

 

 

 

abertamente ou não, erguerem a pretensão de possuir Deus e terem assim perdido o elemento de expectativa.»

E nesse sentido, mesmo com a erosão de tanta inocência perdida, mesmo com uma vaga melancolia dispersa em desgastes e desgostos muitos, talvez esta indefinida pós-modernidade nos permita perceber que Deus não é de possuir; talvez os teólogos e filósofos cristãos tenham que [re]aprender com os poetas a esperar Deus sem a pretensão de possuí-lo.

Não se trata de afirmar que Deus está mais presente na poesia [na arte, na literatura] contemporânea do que em outros modos de presença [e pertença], em outros contextos histórico-culturais. Nem se trata de afirmar que a poesia [a arte, a literatura] serve os propósitos de um modelo de evangelização convencional. Mas estamos certos de que Deus não está mais presente numa poesia que o enuncia explicitamente, do

 

 que numa poesia que arrisca intuí-lo, que o pressente implicitamente. Cremos que o sentimento de ausência é tantas vezes a afirmação funâmbula de uma presença mais pura. E cremos que o Deus implícito na obra de tantos poetas contemporâneos é aquele no qual a profissão de fé continua a ser um horizonte de possibilidade de abertura à transcendência, a verdade íntima do mistério do homem que se coloca diante do mistério de Deus, a inteligibilidade do homem que percebe, na sua intrínseca ininteligibilidade, a ininteligibilidade em que Deus se torna poeticamente inteligível.

 

José Rui Teixeira
Diretor e presidente do Conselho Científico da Cátedra Poesia e Transcendência – Sophia de Mello Breyner Andresen
Universidade Católica – Porto

 

 

(O autor escreve segundo a anterior ortografia)

 

 

Sophia, símbolo indelével…

Sophia de Mello Breyner Andresen é uma das grandes referências da poesia contemporânea e da cultura portuguesa. Clássica e moderna, encontra e prolonga Fernando Pessoa por um caminho próprio e diferente. E Eduardo Lourenço afirmou que “desde os tempos de Pascoaes, a poesia portuguesa esforçava-se por conciliar Apolo e a sua mítica expressão solar da vida com Cristo, sombra sob tanto excesso de sol, deus morto para que a morte não fosse confundida com a vida digna desse nome. Se essa conciliação teve lugar em algum lugar foi na poesia de Sophia”. Sentimos a coexistência de Atenas e Jerusalém. Daí ter nascido “precocemente clássica”, talvez fora de uma modernidade, por definição em crise, mas ciente da importância dos novos caminhos em busca da dignidade do Ser. E assim Sophia chega a Nietzsche e à ligação dionisíaca, através de um “Cristo Cigano” – que não espera que o crucifiquem e que se oferece nu ao esplendor da vida que misericordiosamente o assassina – “mas a sua morte

 

 despe-o da sua aparência solar e esculpe-o em redentora agonia onde o rosto do Ausente se revela”. E sentimos a sede de justiça, que leva a não fechar os olhos ao “espantoso sofrimento do mundo”. Francisco Sousa Tavares disse, na melhor fórmula que conheço, que Sophia "tinha sinais do seu Deus na confusão dos homens". Eduardo Lourenço diagnosticou "uma espécie de milagre, de raro e quase incrível privilégio" que deve "ter preservado cedo a jovem Sophia, católica e portuguesa, daquela obsessão culpabilizante que encharca por dentro a lírica nacional". Vemos, ouvimos e lemos – não podemos ignorar. Contra a ambiguidade, “sempre a poesia foi para mim uma perseguição do real. Um poema foi sempre um círculo traçado à roda duma coisa, um círculo onde o pássaro do real fica preso. E se a minha poesia, tendo partido do ar, do mar e da luz, evoluiu, evoluiu sempre dentro dessa busca atenta. Quem procura uma relação justa com a pedra, com a árvore, com o rio, é 

 

 

 

 

necessariamente levado, pelo espírito de verdade que o anima, a procurar uma relação justa com o homem”. E lembremo-nos do entusiasmo posto por Sophia na tradução de «Anunciação a Maria» de Paul Claudel. Sente-se a proximidade relativamente ao artista de «Arte Poética». «Esta é a noite / Densa dos chacais / Pesada de amargura / Este é o tempo em que os homens renunciam». Longe da exclusiva busca de doçura, o que há, sim, é a permanente demanda de uma vida de drama, de dúvida e de contradição. Tomé e Pedro estão sempre presentes, antes e depois de pôr a mão na ferida aberta ou de ouvir o galo cantar, sempre perante o medo terrível que leva Mara ao ato de desespero perante Violaine. «Aquele que partiu / Precedendo os próprios passos como um jovem morto / Deixou-nos a esperança». É aqui que a poética de Sophia se aproxima e se afasta de Claudel. Aproxima-se porque há a procura silenciosa da esperança no equilíbrio da palavra e da justiça, nunca a confusão com qualquer certeza intolerante. Mas 

 

 

distancia-se, uma vez que não pode haver ambiguidade na luta agónica. Violaine é símbolo, a um tempo, da incerteza e da força, num gesto inusitado e necessário do beijo ostensivo ao leproso.

 

Guilherme d’Oliveira Martins

 

 

Sínodo com «retrato real»
das famílias atuais

“A família é um elemento essencial para todo e qualquer progresso humano e social sustentável”. Este foi hoje o tweet do Papa Francisco, no dia em que foi divulgado o texto preparatório – ‘instrumentum laboris’ – da assembleia extraordinária do Sínodo dos Bispos (5-19 de outubro) com o tema ‘Os desafios pastorais da família, no contexto da evangelização’.

O Evangelho da família, as situações familiares difíceis e a educação para a vida e na fé no núcleo familiar são as três áreas em que se desenvolve texto, que convida a Igreja a enfrentar os desafios que decorrem da “contraceção” e da falta de “abertura à vida” em várias famílias.

“Neste campo tocam-se dimensões e aspetos muito íntimos da existência, acerca dos quais se salientam as diferenças substanciais entre uma visão cristã da vida e da sexualidade, e um delineamento fortemente secularizado”, refere o texto.

 

 

 O documento de trabalho fala em “objeções radicais” aoensinamento da Igreja, destacando a encíclica ‘Humanae Vitae’ (1968), de Paulo VI, na qual se reafirmou a “união inseparável entre o amor conjugal e a transmissão da vida”.

Na preparação para este Sínodo, foi enviado às conferências episcopais de todo o mundo um questionário com 38 perguntas para promover uma consulta alargada às comunidades católicas sobre as principais questões ligadas à família e ao casamento. “Muitas das dificuldades evidenciadas por respostas e observações põem em evidência a dificuldade do homem contemporâneo no que diz respeito ao tema dos afetos, da geração da vida, da reciprocidade entre o homem e a mulher, da paternidade e da maternidade”, pode ler-se no ‘instrumentum laboris’. O texto alerta também para o risco de uma “mentalidade reivindicativa” em relação aos sacramentos.

 

 

 

 

 

“Frequentemente não se entende a relação intrínseca entre matrimónio, Eucaristia e penitência; portanto, é muito difícil compreender por que motivo a Igreja não admite à comunhão aqueles que se encontram numa condição irregular”.

O ‘instrumentum laboris’ fala na “caridade pastoral” que leva a Igreja a acompanhar as pessoas que passaram por uma “falência

 

matrimonial” e admite que “uma ferida mais dolorosa” se abre para as pessoas que se voltam a casar, “entrando numa condição de vida que não lhes permite o acesso à Comunhão”.

"Parece cada vez mais necessária uma pastoral sensível, norteada pelo respeito destas situações irregulares, capaz de oferecer uma ajuda concreta para a educação dos filhos", prossegue.

 

 

Francisco visitou Calábria
e condenou crime organizado

O Papa Francisco visitou a cidade italiana de Cassano, na região da Calábria, um local visto como símbolo da Mafia, e condenou o crime organizado, afirmando que o mal “tem de ser combatido e removido”, sendo dever da Igreja fazer com que “o bem prevaleça”. “A família «Ndrangheta» significa o culto do mal e do desprezo pelo bem comum. Esse mal deve ser combatido, deve ser removido. É preciso dizer não. A Igreja deve gastar-se cada vez mais para que o bem possa prevalecer. Pedem-no as nossas crianças, pedem-no os nossos jovens carecidos de esperança”, afirmou o Papa esta tarde, na missa que celebrou na planície de Sibari, a 15 quilómetros da cidade.

A família «Ndrangheta» é uma associação mafiosa que se formou na região da Calábria, em Itália, sendo atualmente a mais influente e fechada organização criminosa.

O Papa falava aos presentes na celebração eucarística, que assinala a Solenidade do Corpo

 

 

 de Deus, que os cristãos devem “adorar Jesus na Eucaristia” e “caminhar com ele”, dois aspetos que, referiu, “são inseparáveis”. “Quando à adoração do Senhor se substitui a adoração do dinheiro, abre-se o caminho ao pecado, ao interesse pessoal e à prepotência”, assinalou Francisco contrapondo “a beleza” da Calábria com os “negócios sujos e da violência” que ali acontecem.

“Aqueles na sua vida seguem esta estrada do mal, como são os mafiosos, não estão em comunhão com Deus: estão excomungados”, realçou.

Francisco afirmou estar em Cassano para confirmar a Igreja da Calábria “na fé e na caridade”, e exortou aos políticos “empenho” para “o serviço ao bem comum” tendo em mente “os que têm mais necessidade de justiça, de esperança, de ternura”.

 

 

 

África: Papa dá voz a campanha
em favor de meninos albinos

O Papa associou-se à campanha internacional ‘Help African albinos’ (Ajuda aos albinos africanos), cuja página oficial foi hoje lançada, anunciou o Vaticano. Francisco registou a sua voz, como pede a organização da iniciativa, lendo algumas passagens do livro ‘Sombra Branca’, do autor italiano Cristiano Gentile, que procura sensibilizar a opinião pública sobre a situação dos albinos em África, “uma população muitas vezes repudiada e rejeitada”.

“Em muitos países africanos, milhares de pessoas com albinismo são consideradas seres sobrenaturais; são discriminadas, oprimidas e perseguidas só por causa da sua pele branca. Vivem isoladas, em extrema pobreza e, por causa do sol equatorial, a sua esperança de vida é de cerca de 30 anos”, explicam os promotores da iniciativa.

O Serviço de Informação do Vaticano adianta que a leitura e o testemunho do Papa se inserem numa “mensagem universal de paz e 

 

fraternidade, cujos destinatários são desta feita os albinos africanos, símbolos vivos da periferia absoluta, os ‘últimos dos últimos’”.

A campanha internacional usa o marcador #HelpAfricanAlbinos e inclui uma petição, em seis línguas no site www.change.org, para “manifestar proximidade e solicitar uma ajuda concreta em favor dos africanos albinos”, através da ONG aos ‘Médicos com a África-CUAMM’.

Qualquer pessoa pode seguir o exemplo do Papa e doar a sua voz, lendo uma frase do livro de Cristiano Gentile, participando assim na criação de um audiolivro social que visa dar a conhecer “as inacreditáveis condições de vida dos africanos com albinismo”.

 

 

 

A Agência ECCLESIA escolhe sete acontecimentos que marcaram a atualidade eclesial internacional nos últimos dias, sempre atualizados em www.agencia.ecclesia.pt

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Congregação para o Clero online

http://www.clerus.org/

 

No próximo dia 27 de junho, solenidade litúrgica do Sagrado Coração de Jesus, realiza-se mais uma jornada mundial de oração pela santificação do clero, onde todas as comunidades são convidadas a rezarem pela santificação dos seus pastores. Como forma de aprofundarmos melhor “o encanto da vida dos apóstolos e a beleza da missão dos sacerdotes” esta semana propomos uma viagem até ao sítio da Congregação para o Clero.

Ao nosso dispor neste espaço encontramos uma quantidade enorme de conteúdos graficamente bem enquadrados. Logo na página inicial, dispomos dos habituais destaques, das últimas novidades e de um conjunto de funcionalidades que passamos agora a analisar.

Caso pretenda conhecer melhor os fundamentos históricos e pastorais do surgimento desta congregação que se encontra designada na constituição

 

apostólica Regimini Ecclesiae Universae de 15 de agosto de 1967, basta que aceda à opção “congregação”.

Ao acedermos à “Biblioteca”, ficamos maravilhados com a “coleção de livros e documentos destinados à consulta / leitura e ao estudo, divididos em vários temas úteis ao desempenho do ministério”, é de facto uma ferramenta bastante útil e que se encontra totalmente disponível. Ainda dentro desta opção, podemos filtrar todos estes documentos, com os mais variados temas (teologia, catequese, direito canônico, liturgia, mariologia, espiritualidade, história da Igreja, etc.), do ponto de vista dos presbíteros, diáconos e seminários.

Em “estatísticas” podemos efetuar “uma análise e uma visão estatística da realidade do clero no mundo”, onde temos imensos dados.

No item “Bíblia Clerus” dispomos de um extraordinário espaço

 

 

 virtual onde nos é oferecida a “Sagrada Escritura, a sua interpretação à luz da Tradição e do Magistério, com comentários teológicos e exegéticos a respeito. Podemos ainda descarregar para o nosso computador a “Sagrada Escritura com as obras completas de muitos doutores da Igreja, os Concílios, as encíclicas, o ensino dos Papas, os catecismos, os comentários da literatura profana, etc.”.

Por último temos a opção 

 

“orando pelos sacerdotes”, que faz parte de um “projeto de adoração eucarística e maternidade espiritual para apoiar os sacerdotes do mundo inteiro”.

Aqui fica a sugestão de visitarmos este espaço, apesar de especialmente dedicado ao clero, esta é uma oportunidade para cada vez mais todos conhecermos mais e melhor este sector que é “fonte de riqueza e renovação espiritual para a Igreja”.

Fernando Cassola Marques

 

 

Evangelizar em diálogo

Evangelizar em diálogo é o mais recente livro de D. Francisco Senra Coelho. O recém-nomeado bispo Auxiliar de Braga reúne num livro as reflexões escritas na rubrica «Diálogo com o padre», da revista FAMÍLIA CRISTÃ.

Naquele espaço mensal de partilha, em forma de pergunta e resposta, Senra Coelho realizou durante cinco anos uma verdadeira “evangelização em diálogo”, falando de temas como a família, a fé, a Igreja, a sociedade, os valores e o testemunho cristão.

No prefácio, D. Jorge Ortiga diz que «falar de valores e contravalores, de família e educação, de fé e testemunho de Igreja, tradição, Bíblia e espiritualidade, torna-se uma amostra que convida à leitura pausada, à reflexão esmerada e, talvez seja oportuno referi-lo, a um exame de consciência para, posteriormente, se situar numa atitude de diálogo com os outros».

O arcebispo primaz de Braga salienta que «numa linguagem clara, incisiva e interpelativa, 

 

 

são abordadas temáticas variadíssimas, incidindo em aspetos reais do quotidiano da vida. A organização por capítulos, e o modo como estes congregam essas temáticas, permite ao leitor uma maior compreensão daquilo que foi escrito em tempos diversificados e ao longo de anos». Para o prelado 

 

 

 

 

 

 

«consegue-se, assim, uma unidade vantajosa para esse evangelizar em diálogo».

D. Francisco Senra Coelho vai ser ordenado no dia 29 de junho, solenidade de S. Pedro e S. Paulo, na Sé de Évora, numa celebração presidida por D. José Alves, arcebispo de Évora, e concelebrada por D. Jorge Ortiga, arcebispo de Braga, e D. Maurílio Jorge de Gouveia, arcebispo emérito de Évora.

 

 

 

 

 

 

Evangelizar em diálogo

Autor D. Francisco Senra Coelho

ISBN 978-972-30-1810-3

Secção - Questões atuais

Coleção - Atualidade

 

Formato do livro 150 mm × 230 mm  (312 páginas)

Lembrar Paulo VI

Na preparação para a beatificação do Papa Paulo VI, a PAULUS Editora reedita num único volume as duas últimas exortações apostólicas de Paulo VI. Publicadas em maio e dezembro de 1975, estes documentos marcaram a Igreja pós-conciliar e servem de referência essencial para compreender e aprofundar a recente exortação do Papa Francisco, ‘Evangelii gaudium’.

Num só volume, o leitor encontra as duas célebres exortações apostólicas ‘Gaudete in Domino’, sobre a verdadeira e profunda alegria que deve marcar a vida de todos os cristãos, e ‘Evangelii Nuntiandi’, sobre a missão e dever que os cristãos têm de anunciar o Evangelho a todos os homens.

Paulo VI será beatificado a 19 de outubro. Foi Papa entre 1936 e 1978, período durante o qual conduziu os trabalhos do Concílio Vaticano II, convocado e iniciado pelo seu predecessor João XXIII.

 

II Concílio do Vaticano: Os esquemas em estaleiro para a terceira sessão

 

 

Para a terceira sessão do II Concílio do Vaticano que teve o seu início em setembro de 1964 estavam no programa treze esquemas que ainda não tinham sido promulgados. Segundo Henri Fesquet, no II volume da obra «O Diário do Concílio», seis desses esquemas seriam discutidos e sete, simplesmente, apresentados – “sem discussão em princípio, mas os padres podem decidir de outro modo – e talvez possam exigir emendas”.

A influência em profundidade sobre o curso dos eventos ecuménicos do encontro em Jerusalém do então patriarca do Ocidente (Paulo VI) e do patriarca do Oriente (Atenágoras) produziu os seus frutos. “Foi uma verdadeira fortuna que a segunda sessão não tenha tido tempo de votar definitivamente a primeira esquema sobre o ecumenismo”, escreveu Henri Fesquet (HF) na obra citada anteriormente.

Porém, o esquema «vedeta» (termo utilizado por HF) da terceira sessão, aquele que “concitará mais curiosidade, porque o mais original e o mais conforme ao espírito da «Pacem in Terris», será o da «Igreja no mundo de hoje»”. Este texto, que o padre Yves Congar chamou de «a Terra prometida» do concílio, foi objecto de uma dezena de refundições e, na expectativa de últimos retoques, não foi, completamente, distribuído aos padres conciliares antes do início da terceira sessão.

A matéria a debater era particularmente árdua: “A criação vista numa perspectiva evolutiva; 

 

 

 

 

 

 

a cultura; os direitos da pessoa humana; os países subdesenvolvidos; a família e a procriação; a teologia da guerra e da paz e as relações internacionais”, refere a obra citada com a chancela das «Publicações Europa-América».

Perante as novidades conciliares, o Papa Paulo VI preveniu “claramente”, os bispos que contrariavam o concílio que o Papa João XXIII convocou. Dirigindo-se, a 14 de abril de 1964, ao episcopado italiano, que se reunia pela primeira vez na história, o Papa Paulo VI sublinha: “Nós contamos com a vossa participação atenta, entusiástica, activa (no concílio). A vossa participação não quer ser certamente tímida, incerta, questionadora ou polémica, mas franca, nobre qualificada e proveitosa”.

Para quem conhecia as reticências de uma “larga parte do episcopado italiano frente ao concílio”, estas palavras tiveram grande alcance. Para Henri 

 

Fesquet, o conhecimento adquirido pelos padres conciliares iria ser útil nas discussões sobre os documentos e três acontecimentos de grande alcance iriam marcar a sessão que teve início em setembro de 1964.

O Papa Paulo VI decidiu que a cerimónia da abertura da terceira sessão comportasse uma concelebração litúrgica: rodeado de três cardeais (Tisserant, Lercaro e Larraona) e de vinte e um bispos. A celebração seria no altar da confissão. Este acto simbólico, fruto da Constituição sobre a Sagrada Liturgia promulgado no ano anterior, “fará sobressair com brilho que a colegialidade episcopal começa a entrar nos costumes.

Depois do intervalo, os padres conciliares estavam preparados para dar início aos trabalhos da III sessão.

 

 

junho 2014

28 de Junho de 2014

*Beja – Sé - Ordenações sacerdotais e homenagem a dois padres com 60 anos de missão

 

*Braga - Seminário conciliar - Conferência promovida pela LOC/MTC sobre «O pensamento e acção do Pe. Abel Varzim no mundo laboral».

 

*Beja - Moura (Igreja Matriz de São João Baptista)

Concerto «Instantes infinitos: Mozart, Feldman & Mozart» e integrado no Festival «Terras Sem Sombra».

 

*Fátima - Peregrinação da diocese de Coimbra ao Santuário de Fátima.

 

*Fátima - Peregrinação nacional da família claretiana com o tema «O amor de Cristo impele-nos».

 

*Faro – Sé - Ordenação presbiteral e diaconal

 

*Braga - Sala Emaús - Conselho arquidiocesano da Pastoral dos Jovens

 

 

 

*Ponta Delgada - Centro Cívico e Cultural de Santa Clara - Quarto módulo do programa «+Próximo» da Cáritas da Diocese de Angra (Açores) sobre temáticas relacionadas com a ação social da igreja.

 

*Guarda - Seminário Maior - Conselho Diocesano da Pastoral Juvenil com a presença de D. Manuel Felício

 

*Lamego - Museu Diocesano de Lamego - Apresentação da intervenção na catedral de Lamego no âmbito da Rota das Catedrais presidida pelo secretário de Estado da cultura.

 

*Setúbal - Sesimbra - Biblioteca Municipal - Lançamento da obra «A Serra da Arrábida na Poesia Portuguesa» de António Mateus Vilhena e Daniel Pires.

 

*Guarda - Centro Apostólico - Reunião do Conselho Pastoral Diocesano 

 

*Coimbra - Mosteiro de Santa Clara-a-Nova - Lançamento do livro de banda desenhada sobre a vida da Rainha Santa Isabel

 

 

 

 

29 de Junho de 2014

*Évora – Sé - Ordenação episcopal de D. Francisco Senra Coelho.

*Évora - Assembleia Plenária Diocesana.

 

*Vaticano - Basílica de São Pedro - Imposição dos pálios aos arcebispos metropolitas.

 

*Coimbra - Sé Nova - Ordenações presbiterais de André Sequeira e Manuel Vaz Patto

 

*Fátima - Encontro Nacional dos Grupos Bíblicos

 

*Bragança - Miranda do Douro - Peregrinação da diocese de Bragança-Miranda ao Santuário de Nossa Senhora do Naso.

 

*Porto - Oliveira de Azeméis - Parque temático Molinológico - O Secretariado da Catequese da diocese do Porto organiza um encontro com o Evangelho em plena natureza

 

*Viana do Castelo - Templo de Santa Luzia - Peregrinação da Diocese de Viana do Castelo ao templo de Santa Luzia subordinada ao tema «Tende coragem: Eu venci o mundo».

 

 

 
*Lisboa – Peniche - Reabertura da Igreja de São Pedro de Peniche por D. Manuel Clemente

 

*Fátima - Museu de Arte Sacra e Etnologia - Encerramento (início a 03 de Maio) da exposição «As devoções a Maria, mãe de Jesus, em diversos locais do mundo e a cultura local» da artista plástica Mari Bueno.

 

*Leiria - Souto da Carpalhosa - Iniciativa «Família em Festa» e assembleia diocesana dos CPMs

 

*Lisboa - Mosteiro dos Jerónimos - Ordenações presbiterais por D. Manuel Clemente

 

30 de Junho de 2014

*Porto - Santa Maria da Feira (Seminário dos Passionistas) - Encerramento (início a 13 de janeiro) do ciclo de conferências sobre o «Credo» promovidas pelos Missionários Passionistas.

 

*Faro - Convento de São Francisco - Encerramento (início a 01 de junho) da exposição sobre Santo António promovida pela Ordem Franciscana Secular de Faro

 

 

 

 

 

 

O Papa Francisco vai visitar esta sexta-feira o Hospital romano Agostino Gemelli e a Faculdade de Medicina e Cirurgia da Universidade Católica. A chegada do Papa às instalações do hospital está marcada para as 15h30 locais (menos uma em Lisboa), assinalando o 50.º aniversário da instituição com uma Missa ao ar livre.

 

No próximo dia 28 de junho é lançado um livro de banda desenhada sobre a vida da Rainha Santa Isabel. Parte do valor das vendas reverte para as obras do mosteiro de Santa Clara-a-Nova e o lançamento vai ter lugar nos claustros do mosteiro de Santa Clara-a-Nova,  às 17h30.

 

Este domingo acontece a ordenação episcopal de D. Francisco Senra Coelho na Sé de Évora, tendo sido nomeado pelo Vaticano, bispo auxiliar da Arquidiocese de Braga. A celebração acontece a partir das 16h na Basílica Metropolitana de Évora e vai ser presidida por D. José Alves, arcebispo de Évora, que será o bispo ordenante principal, e concelebrada por D. Jorge Ortiga, arcebispo primaz de Braga, e por D. Maurílio de Gouveia, arcebispo emérito de Évora, que serão os bispos ordenantes.

 

Neste domingo, solenidade de São Pedro e São Paulo, inicia-se a visita do padre geral da Ordem dos Carmelitas Descalços, Savério Cannistrá, à Província Portuguesa. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Programação religiosa nos media

Antena 1, 8h00

RTP1, 10h00

Transmissão da missa dominical

 

11h00 - Transmissão missa

 

12h15 - Oitavo Dia

 

Domingo: 10h00 - O Dia do Senhor; 11h00 - Eucaristia; 23h30 - Ventos e Marés; segunda a sexta-feira: 6h57 - Sementes de reflexão; 7h55 - Oração da Manhã;  12h00 - Angelus; 18h30 - Terço; 23h57-Meditando; sábado: 23h30 - Terra Prometida.

 
RTP2, 11h22

Domingo, dia 29 - Entrevista com D. Francisco Senra Coelho

 

RTP2, 15h30

Segunda-feira, dia 30 - Apresentação da Edição 2014 do Festival Jota;

Terça-feira, dia 01 - Informação e entrevista com Frei Francisco Sales;

Quarta-feira, dia 02 - Informação e entrevista com o Padre António Fernandes.

Quinta-feira, dia 03 - Informação e entrevista com Nelson Costa e Sandra Maurício;

Sexta-feira, dia 04 - Apresentação da liturgia de domingo pelo padre João Lourenço e Juan Ambrosio.

 

Antena 1

Domingo, dia 29 de junho,  06h00 - O programa Ecclesia assinala a solenidade de São Pedro e São Paulo com o percurso vocacional de David Mieiro, religioso dehoninano que em breve vai ser ordenado sacerdote e conversamos com o professor Alfredo Teixeira sobre o primado de Pedro. O comentário à atualidade informativa está a cargo do professor José MIguel Sardica.

 

Segunda a sexta-feira, 22h45 - 30 junho a 04 julho - A festa dos padroeiros e a união das comunidades: - Festa de São Pedro (Monte Sta. Quitéria, Porto); Comunidade de Oiã (diocese de Aveiro); Comunidade da Areosa (diocese do Porto); Festa da Sra. da Ortiga (diocese de Leiria-Fátima) e Festa da Rainha Santa Isabel (diocese de Coimbra).

 

 

 

O que tem a ver a minha oração pessoal com a oração da Igreja?

 

 

 

 

 

 

 

 

ANO A - 13.º DOMINGO DO TEMPO COMUM

Solenidade de S. Pedro e S. Paulo 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Quem é Cristo para mim?
 

Este ano, o 13.º Domingo do Tempo Comum coincide com a Solenidade dos apóstolos S. Pedro e S. Paulo. A liturgia convida-nos a refletir sobre estas duas figuras e a considerar o seu exemplo de fidelidade a Jesus Cristo e de testemunho do projeto libertador de Deus.

Na primeira leitura dos Atos dos Apóstolos, na ação de Deus em favor de Pedro, Lucas destaca a solicitude de Deus pela sua Igreja e pelos discípulos que testemunham no mundo a Boa Nova da salvação.

Na segunda leitura apresenta-se o testamento de Paulo, a sua resposta generosa ao chamamento que Jesus lhe fez e o seu compromisso total com o Evangelho: «Combati o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a fé». Um texto comovente e interpelante, que nos convida a percorrer o caminho cristão com entusiasmo, com entrega e com ânimo, a exemplo de Paulo.

O Evangelho acentua a adesão a Jesus como Messias, Filho de Deus, da qual nasce a Igreja, a comunidade dos discípulos de Jesus, convocada e organizada à volta de Pedro. A missão da Igreja é dar testemunho da proposta de salvação que Jesus veio trazer. À Igreja e a Pedro é confiado o poder das chaves, isto é, de interpretar as palavras de Jesus, de adaptar os ensinamentos de Jesus aos desafios do mundo e de acolher na comunidade todos aqueles que aderem à proposta de salvação que Jesus oferece.

 

 

 

 

 

“E vós, quem dizeis que Eu sou?” Esta pergunta do Evangelho deve, de forma constante, ecoar nos nossos ouvidos e no nosso coração. Responder a esta questão não significa papaguear lições de catequese ou tratados de teologia, mas interrogar o nosso coração e tentar perceber qual é o lugar que Cristo ocupa na nossa existência. Responder a esta questão obriga-nos a pensar no significado que Cristo tem na nossa vida, na atenção que damos às suas propostas, na importância que os seus valores assumem nas nossas opções, no esforço que fazemos ou que não fazemos para O seguir.
Quem é Cristo para mim? A resposta exige uma procura contínua, a empenhar todo o nosso ser. Pedro e Paulo responderam entregando toda a sua vida. Como eles, só podemos ser discípulos missionários, na fidelidade à Pessoa de Cristo, como tanto nos pede o Papa Francisco. Isso deve acontecer em Igreja, em 
 

 
comunidade, em família, em casa, no emprego, na escola, na rua, no prédio, nos acontecimentos sociais, nas situações de periferia onde somos chamados a testemunhar que Cristo está vivo.
 

Manuel Barbosa, scj

www.dehonianos.org

 

 

SUDÃO DO SUL: O velho vício da guerra

no mais novo país do mundo

O sonho de Joseph

Um conflito entre etnias fez desmoronar a ilusão da paz no Sudão do Sul. A guerra rebentou no final do ano passado com uma violência dificilmente compreensível. Milhares de pessoas foram forçadas a fugir. Vivem agora em campos de refugiados. Joseph é um deles.

 

Joseph tem apenas 11 anos. Uma noite, sobressaltou-se com o barulho metálico dos tiros a esburacarem tudo à sua volta. “Tivemos de sair de casa a correr porque choviam balas e uns homens armados entravam nas casas para roubá-las.” Joseph não compreende como as pessoas podem odiar-se só por pertencerem a etnias diferentes, como aconteceu no seu país entre os dinka e os nuer. Para Joseph, esse ódio, que já causou milhares de mortos e dezenas de milhares de refugiados no Sudão do Sul, é incompreensível.

Joseph vive agora com os pais num enorme acampamento em Juba, dos missionários salesianos.

 

Ali, naquele mar de tendas, parece que o tempo parou. Joseph brinca. Qualquer coisa serve para se entreter.

 

Milhões de refugiados

Nunca, como nos dias de hoje, houve tantos refugiados no mundo. São números impressionantes que parecem, contudo, não comover quase ninguém. No ano passado, milhões de pessoas foram obrigadas a deixar o seu país, a abandonar o que tinham por causa de algum conflito. A maior parte dos novos refugiados são consequência da guerra civil na Síria. Mas não só. Sudão, Eritreia, Afeganistão, Mianmar, República Democrática do Congo, Vietname e, agora de novo, o Iraque são alguns dos países que fazem engrossar essa multidão de gente perdida, amontoada em campos de tendas, sem futuro, mas também sem possibilidade de regresso.

 

 

 

 

Vidas sem futuro

Joseph ainda se lembra bem da sua casa e da aldeia que provavelmente terá sido destruída na noite dos tiros e da fuga.

Joseph, apesar de tudo, é uma criança com sorte. Está ali, tem uma tenda a que chama casa e tem os pais consigo. Há muitas outras crianças mais desafortunadas. Só este ano, segundo cálculos das Nações Unidas, mais de 50 mil crianças correm o risco de morrer de doença ou de fome no Sudão do Sul, calculando-se em 

 

quase 4 milhões as pessoas atingidas pela fome, violência e doença neste país só nos últimos meses.

O apoio aos refugiados é uma das prioridades da missão da Fundação AIS. Joseph sonha em regressar a casa, à sua casa verdadeira, não à tenda onde está abrigado. É na sua aldeia, onde ia à escola e tinha os amigos, que quer viver. Às vezes, Joseph fecha os olhos, na esperança de que tudo aquilo seja apenas um sonho mau.

 

Paulo Aido 

www.fundacao-ais.pt

 
 

 

Moçambique, que futuro?

Tony Neves

 
 

Habituei-me a olhar para Moçambique como um arco-íris de povos e culturas. Ali, lado a lado, encontramos povos originários de muitas etnias locais, gentes vindas da Europa, da Ásia ou de outros países africanos. Falam línguas diferentes e, em muitos casos, professam religiões diferentes. É conhecida, reconhecida e elogiada a sã convivência que vem de longe entre cristãos e muçulmanos um exemplo para boa parte da humanidade. Também há muitas pessoas que ainda seguem as religiões tradicionais e outras, vindas da Índia, que professam religiões de origem mais oriental. Por mais que me tentem convencer do contrário eu estou convicto de que esta é a maior riqueza de Moçambique que até deveria ser ‘produto de exportação’, dado o valor enorme deste património imaterial.

É grande em tamanho, esta língua estreita que vai de Cabo Delgado a Maputo. O Índico banha este país lusófono que se tornou independente em 1975 e foi marcado por uma guerra civil muito cruel. Depois de um cessar fogo para o qual muito trabalhou a Igreja, através da Comunidade de S. Egídio, o país tem progredido no que diz respeito ao desenvolvimento económico, mas continua a desejar quanto á cimentação da democracia e do pluralismo partidário, como ajudam as perceber as recentes escaramuças entre a Frelimo e a Renamo. Há, por isso, que dar mais e melhor lugar ao diálogo que 

 

 

 

 

Luso Fonias

 

concerte posições democráticas e ajude a perceber a pluralidade como uma riqueza e não como factor de tensão e violência.
Conheço um pouco melhor o norte macua de Moçambique. Ali os Espiritanos estão a trabalhar na Missão de Itoculo que pertence á Diocese de Nacala. Aterrar em Nampula e fazer a estrada na direção de Nacala mostra o Moçambique mais desenvolvido. Entrar para Itoculo e andar séculos para trás, encontrando muitas povoações com casas de pau a pique e cobertas de capim, com povo a viver sem acesso a cuidados básicos de saúde, a uma escola de qualidade. Os caminhos são picadas, não 

 

há alfaias agrícolas motorizadas, as malárias são mortíferas, as pessoas não têm dinheiro, os índices de pobreza são muito elevados. Ali a Missão católica, com Padres, Irmãs e Leigos, têm investido muito nas áreas da Saúde e da Educação, trabalhando ainda em questões delicadas como a dos direitos humanos, incluindo a luta contra as práticas abomináveis da feitiçaria com efeitos intimidatórios e desastrosos na vida das pessoas e comunidades.
Em Moçambique, o Evangelho é anunciado como é: libertador de todas as formas de opressão e esse é o maior contributo que o povo pode esperar da Igreja.

 

 

“Pode ouvir o programa Luso Fonias na rádio SIM, sábados às 14h00, ou em www.fecongd.org. O programa Luso Fonias é produzido pela FEC – Fundação Fé e Cooperação, ONGD da Conferência Episcopal Portuguesa.”

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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