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João Aguiar Campos D. Pio Alves Sónia Neves Juan Ambrosio |
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Foto da capa: News.va Foto da contracapa: Agência ECCLESIA
AGÊNCIA ECCLESIA Diretor: Paulo Rocha | Chefe de Redação: Octávio Carmo Redação: Henrique Matos, José Carlos Patrício, Lígia Silveira, Luís Filipe Santos, Sónia Neves Grafismo: Manuel Costa | Secretariado: Ana Gomes Propriedade: Secretariado Nacional das Comunicações Sociais Diretor: Cónego João Aguiar Campos Pessoa Coletiva nº 500966575, NIB: 0018 0000 10124457001 82. Redação e Administração: Quinta do Cabeço, Porta D 1885-076 MOSCAVIDE. Tel.: 218855472; Fax: 218855473. agencia@ecclesia.pt; www.agencia.ecclesia.pt;
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Opinião |
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Igreja debate impacto das migrações [ver+]
Conselho de Cardeais desenha nova Cúria
Igreja rumo ao Sínodo
D. Pio Alves |Padre Tony Neves | Padre João Aguiar | Bento Oliveira| Elias Couto |
A chave da porta |
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João Aguiar Campos Secretariado Nacional das COmunicações Sociais |
Não é fácil impor silêncio à criança que trazemos dentro de nós; sobretudo quando ela quer encher o ar de perguntas, sem cuidados diplomáticos, nem perceber o critério adulto que adoça as dúvidas. Mas a dificuldade aumenta quando à curiosidade da criança se juntam anos de jornalismo, mais a sua prática de questionar, explicar e interpretar. Então os porquês são mais que muitos… Acreditem que estou mesmo a falar de um verdadeiro desassossego, de uma íntima turbulência que centrifuga em permanente auto-avaliação e, para fora, põe no olhar um microscópio em cuja lamela se analisam pessoas e opções. Não raro, até Deus é questionado, como se Ele não nos tivesse entregado o mundo para nosso governo inteligente; ou não nos houvesse dotado da liberdade que apenas se concede totalmente a quem se ama para além dos limites. Sejam quais forem as razões, os porquês são, frequentemente, mais que muitos. Todos o sentem por certo, inscritos nessa espécie de recanto onde vive o que percebemos mal ou não percebemos de todo. Mas quando saímos de nós e olhamos à nossa volta, às nossas perguntas somam-se as alheias, num ruído que não tem fonte certa; antes parece nascido de todos os lados. No entanto, a multiplicação das dúvidas não gera a clarificação. |
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Esta – escrevo-o convictamente - precisa do silêncio contemplativo. Não me refiro a um qualquer fazer de conta que não passa nada. Nem a um alheamento cómodo ou cobarde. Nem à displicência preguiçosa, que deixa para os outros tudo o que dá trabalho ou pode complicar a vida. Muito menos ao medo que suja tanto a autoridade como a obediência. O silêncio contemplativo é, na minha definição, um cuidado esforçado de todos os sentidos - como se cada um deles passeasse descalço sobre o terreno da procura, onde alguém perdeu agulhas... Só este silêncio permite o discernimento. Só ele deixa saber (saborear) o que chega, trazido na brisa, à porta das nossas cavernas. Só ele nos abre ao espanto, numa dupla vertente: o espanto de constatarmos a fragilidade do que dávamos como certo; e o espanto de descobrirmos como são, afinal, estupendas as obras do Senhor e profundos os seus desígnios (Salmo 91). Só o silêncio contemplativo |
nos faz verdadeiramente humildes e, consequentemente, capazes de confessarmos que demasiadas vezes queremos “sondar o mar com uma bóia”! A pressa de ter opiniões ou a pressa com que as solicitamos (ou no-las solicitam) está a roubar-nos - também na Igreja - as palavras maduras; de modo que podem sobrar conceitos gasosos ou líquidos. Mas não deveríamos já saber que não é do ensino dos escribas que se recebe a luz, mas daquele que tem autoridade (coerência de vida)? Comecei por confessar a minha própria e complicada experiência, que reafirmo: é difícil, nas mais diversas circunstâncias, poisar no colo de Deus a criança e o jornalista; crer e não querer; distinguir a inspiração da aspiração; perceber as horas do Espírito e a exuberância das adegas. Tenho para mim que o silêncio contemplativo se impõe e dará um fruto: confiaremos tanto, que entregaremos a Deus a chave das nossas portas!... |
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Pessoas aguardam à entrada do Panteão Nacional os restos mortais de Sophia de Mello Breyner Andresen numa cerimónia evocativa dos 10 anos da sua morte – 2 julho 2014 © LUSA |
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“As presentes orientações entram em vigor nesta data [27 de junho], sem prejuízo da sua aplicação em momento anterior, nas situações em que as mesmas venham já a ser observadas", lê-se no ofício disponível no Portal das Finanças que determina a baixa da taxa de iva de 23 para 6% o pão fabricado com produtos locais, como o chouriço dos fumeiros de Lamego ou com nozes da região centro - Autoridade Tributária e Aduaneira, 27 de junho.
“Houve coisas que não correram bem. Tínhamos um objetivo definido, que era passar a fase de grupos do Mundial, e não o conseguimos. A nossa participação tem de ser vista como negativa. Uma deceção”, selecionador nacional Paulo Bento, 30 de junho à TVI24.
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“Tudo está ordenado - até o apoio que existe ao aborto - para não ter filhos. Existe o despedimento quase imediato das mulheres que estão em situação mais precária em termos contratuais assim que se torna evidente que estão grávidas”, Joaquim Azevedo, líder do grupo de trabalho que vai propor ao governo medidas para aumentar a natalidade, 1 de julho, in Rádio Renascença.
“A Sophia ir para o Panteão é muito importante para nós, não para ela mas para nós. Para nós que nos entendemos como nação e precisamos de símbolos de mulheres e homens que corporizem um ideal de nação”, Pe Tolentino Mendonça à Agência Ecclesia, 1 julho |
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Igreja desafiada pela nova emigração |
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Os responsáveis pelos diversos secretariados e capelanias diocesanas ligadas à área das Migrações estão reunidos em Tomar, na Diocese de Santarém, para darem um novo impulso à sua ação. Em declarações à Agência ECCLESIA, o frei Francisco Sales, diretor da Obra Católica Portuguesa de Migrações, realça a importância do encontro para “recentrar” as prioridades dos agentes pastorais que trabalham neste setor, que mudaram com o “grande movimento migratório” para o exterior, provocado pela crise. Segundo o responsável católico, a ação da Igreja, que esteve “durante bastantes anos” centrada “na questão da imigração para Portugal”, tem agora de se inteirar melhor acerca da realidade da emigração. Apesar de, em termos numéricos, o movimento de portugueses para o exterior ser comparável ao que sucedeu entre as décadas de 50 e 80 do século XX, “os problemas são diferentes, a realidade é diferente”. D. António Vitalino, membro da Comissão Episcopal da Pastoral |
Social e Mobilidade Humana, sustenta que falta “mão-de-obra” pastoral para o apoio às comunidades de emigrantes portugueses que crescem no estrangeiro. Em declarações à Agência ECCLESIA, o bispo de Beja realça que “a Igreja Católica tem de acompanhar mais de perto essas pessoas”. “Dado que é uma instituição por natureza missionária, se as pessoas e o povo estão em saída, a Igreja também tem de adotar essa mentalidade”, aponta o prelado, para quem as dioceses nacionais ainda são muito dominadas por uma “mentalidade” centrada na “ocupação de lugares” e “têm dificuldade em deixar que o clero seja mais móvel”. D. António Vitalino defende também a necessidade de apostar numa maior ligação “com as Igrejas dos países de acolhimento”, sobretudo para acompanhar de perto as comunidades migratórias, “nos primeiros tempos”. Em causa, para aqueles que deixam o seu país, está sempre a adaptação a uma realidade diferente: |
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“É o trabalho, a língua, a cultura, a religiosidade popular e nos primeiros tempos precisamos de colaborar uns com os outros”, sustenta o bispo. O jornalista João Santos Duarte considera que a emigração e o desemprego são atualmente os “grandes temas sociais” em Portugal. |
O comunicador apresentou em Toma as conclusões de um trabalho intitulado 'A grande debandada', publicado pela Renascença. A reportagem centrou-se na comparação entre a realidade da emigração dos anos 60 e a realidade atual, sobretudo “nestes últimos três anos” de “crise económica”. |
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Roteiros dedicados a Santo António
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O Secretariado Nacional dos Bens Culturais da Igreja (SNBCI) e o Turismo de Portugal estão a preparar novos roteiros turísticos e vão destacar os caminhos dedicados a Santo António e ao Espírito Santo, inseridos na temática ‘Portugal - Caminhos da fé’. “O projeto tem a designação ampla de « Portugal - Caminhos da fé » e estão em projeto, neste momento, os «Caminhos Antonianos» e os «Caminhos do Espírito Santo» por serem dois temas que cumprem dois objetivos muito concretos: Por um lado do ponto de vista devocional, por serem particularmente importantes do território nacional, e por serem muito importantes para a identidade portuguesa e particularmente representativos no território português”, explicou à Agência ECCLESIA Sandra Costa Saldanha, diretora do SNBCI. A responsável destaca que o turismo movimenta “ciclos e fluxos de pessoas muito significativos independentemente das suas motivações” por isso |
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considera que a proposta destes dois novos roteiros encontram base nos “imensos e riquíssimos recursos patrimoniais” que existem em Portugal para além das igrejas, edifícios, pinturas, esculturas, ourivesaria. “Inclui-se aqui também muito património imaterial, festividades, inclusivamente até gastronomia”, exemplifica a diretora do SNBCI destacando a “articulação de várias áreas e de várias matérias” que tornam estes caminhos muito interessantes. Sandra Costa Saldanha não adianta uma data para a publicação dos novos roteiros, mas espera que aconteça em 2015. |
Terras Sem Sombra, marco de qualidade |
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O professor José António Falcão, principal impulsionador do Festival Terras Sem Sombra, considera que a 10.ª edição do certame, que terminou no último domingo em Moura, foi um marco na “qualidade” e “maturidade” do projeto. Em declarações à Agência ECCLESIA, o diretor do Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja, membro da comissão organizadora do festival, destaca a forma como o programa deste ano conseguiu reforçar a ligação entre a música clássica, “o grande fio condutor”, e as áreas do património e da biodiversidade. O cartaz de 2014, que conjugou intérpretes nacionais e internacionais com a participação de companhias de renome, como o Teatro Nacional de São Carlos e a Orquestra Gulbenkian, permitiu “mostrar” às comunidades alentejanas “o que há de mais interessante” atualmente no panorama “artístico”. Por outro lado, o facto de o certame apostar nas igrejas locais para a realização dos concertos, é também um contributo essencial |
para a divulgação do “património histórico” da região, realça José António Falcão. Ao longo dos últimos 10 anos, a componente da biodiversidade foi também ganhando peso no cartaz do festival, com a promoção de iniciativas tendentes à sensibilização do público e dos artistas. A vereadora do pelouro da Cultura da Câmara Municipal de Moura, entidade anfitriã do último concerto do festival deste ano, considera o projeto fundamental para a preservação de um interior português por vezes esquecido. Uma aposta que tem sido também perfilhada pela autarquia, por exemplo “na recuperação de edifícios históricos, de edifícios que marcaram a sua presença em Moura, que são sentidos pelas suas gentes”, adianta Maria do Céu Rato. |
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A Agência ECCLESIA escolhe sete acontecimentos que marcaram a atualidade eclesial portuguesa nos últimos dias, sempre atualizados em www.agencia.ecclesia.pt
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Sophia de Mello Breyner Andresen |
O banco da frente |
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D. Pio Alves Presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais |
Ouvi, há dias, uma simpática estória, que bem podia ter sido história. Era uma vez um homem que, de tempos a tempos, se deixava entusiasmar por um bom tinto. Numa dessas tardes de especial torpor, deram com ele, dentro do seu carro, a chorar convulsivamente e a lamentar-se em altos gritos: Roubaram-me o volante! Também me levaram o pedal do travão! Ai … e falta-me o comando das luzes! Uns passavam indiferentes; outros riam com a situação. Até que uma criança, na sua bondosa simplicidade, bateu no vidro e disse-lhe: Senhor! Passe para o banco da frente! Está no banco de trás! Não falta nada! Não há dúvida: por uma ou por outra razão, há quem nem carro tenha para que lhe possam roubar o que quer que seja; outros, efetivamente, foram sendo espoliados de algumas peças; mas, com frequência, quem mais grita e chora está apenas … no banco de trás. Inebriados na sua fartura, mal se apercebem de que ainda têm quase tudo (e é muito!) à sua disposição. Choram e gritam por vício. Os pobres, os verdadeiros pobres continuam escondidos, sem voz e sem rosto: porque se escondem ou porque os escondemos. Como quase sempre. Às vezes, apetece dizer: Coitados dos pobres! Dão de comer a tanta gente! O Papa Francisco, dirigindo-se aos pobres na catedral de Cagliari (22.09.2013), recordou que “a caridade não é um simples |
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assistencialismo, e menos um assistencialismo para tranquilizar as consciências. Não, isso não é amor, isso é negócio, isso é comércio. O amor é gratuito. A caridade, o amor, é uma opção de vida, é um modo de ser, de viver, é o caminho da humildade e da solidariedade. (…) Esta palavra, solidariedade, nesta cultura do descarte – o que não serve deita-se fora – para que fiquem só os que se sentem justos, os que se sentem puros, os que se sentem limpos. Pobrezinhos”. É isso: pobrezinhos! Tranquilizam consciências, dão empregos, alimentam discursos, |
sustentam imagens. Não sei fazer as contas (que não seriam fáceis de fazer!). Mas dá-me a impressão que se chegasse aos pobres tudo o que supostamente se gasta com eles … acabavam os pobres. Urge eliminar a anestesia que, como na estória, nos levou ao torpor do banco de trás. Usar o volante, o travão, as luzes e, com responsabilidade e sabedoria, dar um contributo efetivo à erradicação desta crescente vergonha da Humanidade. No banco da frente, sim: não para ser visto, mas para servir. Sem negócios, sem desperdícios, sem aproveitamentos pessoais, sem gritarias. |
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Constituir família… |
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Sónia Neves Agência ECCLESIA |
Lembro-me de, pouco tempo depois de casar, um colega e amigo jornalista me ter feito uma questão sobre o futuro da família. Na altura respondi afirmativamente (e hoje daria a mesma resposta) invocando a base da minha educação e do que sou hoje como cidadã do mundo. Afinal a família está na base do nosso nascimento e crescimento. Respondi que também queria uma família, minha, entenda-se! E a família volta a estar no centro dos assuntos com o sínodo convocado pelo Papa Francisco, onde é tema de reflexão e estudo. Muitos afirmam que a família está em crise, faltam apoios, incentivos à natalidade, fazem-se contratos desumanos, onde se pede às mulheres a promessa de que não vão ter filhos, e a família é atirada para segundo, terceiro, ou outro qualquer plano. O sonho de “constituir família”, como se dizia, desvanece-se... Acredito que seja difícil mas problemas sempre houve! Talvez “noutros tempos” fossem outros: a dificuldade financeira para matar a fome, o espaço em casa para ter tantos filhos ou a forma como os entreter com os poucos brinquedos que havia. No entanto havia disponibilidade, tempo e Amor para a família. E hoje? É necessário que os casais ganhem gosto por terem uma família, para “constituir uma família”, lidarem e amarem. Há que haver condições reais de apoio na família |
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alargada, na sociedade, na Igreja e no Estado. Um dia ouvi um testemunho de um pai de 5 filhos que dizia, em jeito de graça, que preferiu ter na vida cinco filhos em vez de ter uma televisão melhor ou uma casa de férias. Pode parecer uma comparação corriqueira mas que se entenda como Amor, aquele que dá valor à Vida. Neste tempo que proporciona e chama por férias para muitos é ocasião para unir e reunir; há mais tempo para diversão, descobertas, brincadeira e conversa. As férias são sempre mais tarde recordadas por todos como tempos de saudade, porque se viviam horas de aprendizagem, confiança, cumplicidade e alegria… Isso é ser família! Tento às vezes imaginar como seriam as férias da Sagrada Família… Se, naquele tempo, houvesse a noção de férias, tempo livre, passeio ou lazer que teriam feito? Momentos a três ou em pequena comunidade onde o diálogo decerto ocuparia muito tempo… As famílias precisam de apoio e de quem as apoie. São muitos |
os movimentos eclesiais que abordam e acompanham casais de namorados, preparam os casais para o matrimónio mas, e depois? Quando uma família se aproxima da Igreja, de uma paróquia, que respostas tem? Fazem falta grupos de acompanhamento das famílias, que promovam a formação, que as ajudem a serem melhores e a superar problemas do quotidiano, para que, depois na altura do batismo e das catequeses das crianças já estejam integradas. As paróquias são lugares onde se devem sentir acolhidas e, salvo raras e belas exceções, as que conheço não têm um serviço de atendimento às famílias, uma escola de pais ou simplesmente uma orientação espiritual que pudesse simplesmente valorizar o estatuto família. As famílias precisam de se sentir comunidade, crescer na fé e constituir uma família maior. Afinal sentem a alegria do evangelho de uma outra forma e são os grandes potenciais de evangelização das futuras gerações… |
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Análise plural à realidade
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Agência ECCLESIA (AE) – Que abordagens destacaria nesta primeira síntese do trabalho preparatório rumo ao Sínodo sobre a família? Juan Ambrosio (JA) – É importante sublinhar a preocupação da Igreja em acolher, acompanhar, que percorre todo o documento, mesmo nas situações que são, digamos, inaceitáveis do ponto de vista do projeto cristão. É algo que já deriva da constante chamada de atenção do Papa Francisco para essa realidade e é um dado muito positivo. Há aqui um claro convite a mudar algumas atitudes.
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AE – Na preparação para este Sínodo, foi enviado às conferências episcopais de todo o mundo um questionário para promover uma consulta alargada às comunidades católicas. Como é que isso se traduz neste documento? JA – Temos desde logo uma primeira questão, que é a de saber como é que as diversas instâncias trabalharam estas perguntas, ou seja, como é que chegaram às pessoas. Sabemos que no caso de Portugal nem todas as dioceses trabalharam as questões da mesma maneira. Teria sido interessante haver alguma indicação do que se fez chegar ao Vaticano, porque não tivemos acesso a esses textos. Isso permitiria perceber quais são as opções. |
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Este ‘instrumentum laboris’ tem uma preocupação positiva de mostrar uma pluralidade de situações e de tentativas de as perceber, uma pluralidade até de práticas. É positivo que apareça com clareza que a resposta não é a mesma porque os problemas não são os mesmos, nos diversos sítios.
Apesar de, num ponto ou outro, já haver alguns sinais indicativos, de um modo geral procura-se não fechar as questões, sem tentar dar já as respostas. |
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AE – Há nalgumas passagens a preocupação de contrapor as opiniões recolhidas àquilo que é apresentado como a doutrina… JA – A primeira parte é essencialmente de apresentação da doutrina, sempre. Há uma questão de fundo, que o documento não resolve: uma coisa é a doutrina da Igreja, enquanto tal, que é dita de uma vez por todas, digamos assim; outra coisa é saber se essa doutrina é verdadeiramente acabado. Uma coisa é o projeto de Deus para a humanidade, outra é a interpretação que vamos tendo para esse projeto nos diversos momentos da história. Nem sempre tivemos a mesma interpretação desse projeto de Deus, a mesma sensibilidade, e fomo-lo dizendo de maneira diferente. Esse é um problema de fundo. A análise que se faz da realidade – e é muito interessante que seja uma análise plural, que mostra as diferenças entre os vários locais, as dificuldades – levanta alguns problemas. Em primeiro lugar, esta realidade plural e |
complexa tem de ser lida à luz do projeto de Deus para a humanidade, mas, do meu ponto de vista, há aqui outro processo que nós, comunidade crente, também temos de fazer: ler as doutrinas que fomos elaborando, à luz dessa realidade. Ou seja, não só fazer a leitura da realidade à luz do projeto mas permitir que a realidade concreta que estamos a viver nos ajude a repensar a maneira como formulamos o pensamento de Deus para a humanidade. Não se trata só de ler a realidade a partir da fé, há um reverso da medalha igualmente importante: ler a fé a partir da realidade, deixar que a maneira como expressamos a nossa fé seja interpelada pela realidade.
AE – Essa dificuldade é visível noutros pontos do documento? JA – Há outra nota que também é importante: apresentam-se muitas questões da realidade, mas quase sempre na perspetiva das dificuldades e dos obstáculos que se levantam à vivência da fé e da concretização da doutrina. |
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Não é tão abundante a sua perceção como oportunidade para repensar as coisas que o tempo, a história nos levaram a formular de determinada maneira e que hoje, um outro tipo de conhecimento, de experiência nos podem levar a reformular. Um caso típico é a questão da lei natural: há uma série de número que lhe são dedicados, |
dizendo que é uma linguagem dificilmente entendível para as pessoas – aludindo até a uma série de práticas noutras zonas do globo que ali são naturais -, mas dá-se claramente a indicação de que aquilo que se deve fazer é explica melhor o que é a lei natural, sem pensar que seria possível utilizar outras categorias. |
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AE – No documento aponta-se um fosso entre o magistério da Igreja e a realidade cultural ou mesmo da comunidade eclesial… JA – Claramente. Há um número em que se fala da necessidade de rever as linguagens, mas a verdade é que todos os nossos processos continuam a ser |
muito indutivos e não dedutivos, ou seja, são de cima para baixo. Muita da reflexão que é feita não é entendida, e isso não é só uma questão das categorias e da linguagem que se utiliza: as pessoas não são envolvidas na elaboração desses documentos, a doutrina chega como |
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uma coisa acabada. Ainda não há aqui verdadeiramente a consciencialização de que estes documentos teriam de ser também resultado do sentir e da experiência da fé das comunidades, do ‘sensus fidei’ e do ‘consensus fidelium’. Depois há um discurso dito de uma maneira que depois não diz muito à prática, à vivência, à sensibilidade das pessoas. Por exemplo, naquilo que é dito sobre a conceção não se refere a questão do preservativo e eu não acredito que não tenha havido respostas nesse sentido. O que aparece no documento é a regulação da natalidade e a mentalidade contracetiva, parece que se foge à questão, embora não seja a mais importante.
AE – É possível apontar mais aspetos a melhorar, no trabalho que vai ser desenvolvido até 2015, com uma assembleia ordinária do Sínodo sobre o mesmo tema? JA – Uma vez mais, o centro da família está no matrimónio. |
O próprio documento de trabalho assimila isso, a segunda parte – ‘A Pastoral da Família face aos novos desafios’ – gira fundamentalmente em volta do matrimónio, da sua preparação, mas a família é muito mais ampla do que isso. Esse é um dos problemas que o próprio documento reconhece. Sabemos que na vida das pessoas há muitas fases: não temos um acompanhamento das famílias, quando nasce um primeiro filho, o que introduz dinâmicas completamente diferentes na relação; não falamos no acompanhamento quando os filhos saem de casa; não falamos, embora seja evidente, no regresso não só dos filhos como dos netos; ou noutra situação, mais grave, quando o casal já está sozinho e um dos elementos morre. Este acompanhamento ao longo de todas as etapas que constituem a família aparece, aqui e acolá, no instrumento de trabalho, mas continua a ser verdadeiramente uma questão em aberto.
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AE – Ao contrário do que aconteceu no debate público, o instrumento de trabalho não centra o debate na questão dos divorciados recasados e do acesso aos Sacramentos… JA – O documento faz referência à indissolubilidade do matrimónio, mas não aborda essa questão teológica. Fala-se sobre os casados e recasados, na pluralidade de situação que aí se encontram, e há um cuidado com a linguagem, que é interessante, mas muitas vezes fala-se simplesmente em famílias “regulares” ou “irregulares”. Podemos dizer, com tudo o que isso implica, que há famílias que estão em situações irregulares do ponto de vista canónico, mas não se pode considerar que uma família monoparental é uma família irregular. Sobretudo na última parte essas questões aparecem com mais relevância.
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AE – Há alguma indicação sobre o que serão os debates e as tomadas de decisão no Sínodo? JA – Julgo que as decisões não vão aparecer ainda. Da leitura que faço, fico com a ideia de que este primeiro momento, a assembleia extraordinária do Sínodo, será essencialmente para tomar conhecimento da realidade plural e aprofundá-la. Só num segundo momento, na assembleia ordinária de 2015, se irá procurar dar respostas mais claras. |
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Apresentação |
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No dia 8 de outubro de 2013, o Papa Francisco convocou a III Assembleia Geral Extraordinária do Sínodo dos Bispos, acerca do tema: Os desafios pastorais da família no contexto da evangelização. A Secretaria Geral do Sínodo deu início à preparação mediante o envio do Documento Preparatório, que suscitou uma vasta resposta eclesial por parte do povo de Deus, reunida no Instrumentum Laboris. Considerando a amplidão e a complexidade do tema, o Santo Padre definiu um itinerário de trabalho em duas etapas, que constitui uma unidade orgânica. Na Assembleia Geral Extraordinária de 2014, os Padres sinodais avaliarão e aprofundarão os dados, os testemunhos e as sugestões das Igrejas particulares, com a finalidade de enfrentar os novos desafios sobre a família. A Assembleia Geral Ordinária de 2015, mais representativa do episcopado, inserindo-se no precedente trabalho sinodal, meditará ulteriormente sobre as temáticas abordadas para encontrar adequadas linhas de ação pastorais.
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O Instrumentum Laboris nasce das respostas ao questionário do Documento Preparatório, publicado no mês de novembro de 2013, estruturado em oito grupos de perguntas relativas ao matrimónio e à família, e amplamente difundido. As respostas, numerosas e minuciosas, foram enviadas pelos Sínodos das Igrejas Orientais Católicas sui iuris, pelas Conferências Episcopais, pelos Dicastérios da Cúria Romana e pela União dos Superiores-Gerais. Chegaram diretamente à Secretaria-Geral também respostas – chamadas observações – da parte de um número significativo de dioceses, paróquias, movimentos, grupos, associações eclesiais e realidades familiares, assim como de instituições académicas, especialistas, fiéis e outras pessoas interessadas em fazer conhecer a própria reflexão.
O texto está estruturado em três partes e retoma, em conformidade com uma ordem funcional à Assembleia sinodal, as oito temáticas propostas no questionário. A primeira parte |
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é dedicada ao Evangelho da família, entre desígnio de Deus e vocação da pessoa em Cristo, horizonte no qual se relevam o conhecimento e a receção do dado bíblico e dos documentos do Magistério da Igreja, incluindo as dificuldades, entre as quais a compreensão da lei natural. A segunda parte aborda as várias propostas de pastoral familiar, os relativos desafios e as situações mais difíceis. A terceira parte é dedicada à abertura à vida e à responsabilidade educacional dos pais, que caracterizam o matrimónio entre o homem |
e a mulher, com referência particular às situações pastorais atuais. O documento, fruto do trabalho colegial proveniente da consulta das Igrejas particulares que a Secretaria Geral do Sínodo recolheu e elaborou juntamente com o Conselho de Secretaria, é colocado nas mãos dos Membros da Assembleia Geral sinodal como Instrumentum Laboris. Ele oferece um panorama amplo, embora não exaustivo, da situação familiar contemporânea, dos seus desafios e das reflexões que suscita. |
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Problemas e desafios novos |
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O cardeal Baldisseri, secretário-geral do Sínodo dos Bispos afirmou que a família vive atualmente “problemas e desafios novos” e a Igreja tem de dar “respostas adequadas”. Em entrevista à Agência ECCLESIA, D. Lorenzo Baldisseri afirmou que há 30 anos “tudo foi dito” na Exortação Apostólica “Familiaris Consortio”, escrita pelo Papa João Paulo II após a realização de uma Assembleia Sinodal que teve por tema «As funções da família cristã no mundo de hoje», mas atualmente vivem-se “situações diferentes” “Acredito que naquela época foi tudo dito. Mas as situações são diferentes, é preciso aprofundar mais todos os temas, do ponto de vista sociológico, antropológico, filosófico e também teológico. A doutrina é sempre a mesma, mas tem aspetos que se renovam”, referiu secretário-geral do Sínodo dos Bispos. “Vamos mobilizar todas as inteligências para poder ter respostas. Hoje há problemas e desafios novos e temos de dar resposta adequada”, afirmou o cardeal italiano. “Depois
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de 30 em que a Igreja deu um documento importante, era necessário retomar o tema e atualizar”, sublinhou. D. Lorenzo Baldisseri sustenta que o momento atual é de “reflexão” sobre a “situação da família no Ocidente, em particular, e também noutros países”, após a realização de um questionário com oito temas sobre a família, que possibilitou uma auscultação a partir “de baixo”, o que “antes não acontecia”. “Estamos num momento de debate. Há posições diferentes, que parecem distantes, mas não são porque se acentua um ou outro aspeto. O importante é colocar os problemas com muita tranquilidade e serenidade, falar e comparar para tirar conclusões. Vamos reunir o melhor das várias posições”, sublinhou o secretário-geral do Sínodo. D. Lorenzo Baldisseri referiu que o tema do acesso ao sacramento da reconciliação e da comunhão dos divorciados recasados “é apenas um ponto”, recordando que o questionário tem 8 itens e que “todos são importantes” e que todos vão ter “uma resposta”. |
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“Nós temos um magistério, uma doutrina, mas que não pode ser só teoria, tem de entrar na experiência das pessoas. Vamos considerar as experiências das pessoas, os sofrimentos, as problemáticas novas e dar uma resposta pastoral”, afirmou.
O secretário-geral do Sínodo referiu que, para além dos |
bispos e peritos que participam na Assembleia Sinodal, a reunião que decorre em outubro terá a participação de 20 auditores, com possibilidade de intervir, sendo mais deles metade famílias. “A presença de leigos e pessoas que vivem em família é uma presença numerosa”, adiantou o cardeal Baldisseri. |
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Enfrentar crise cultural
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A crise “cultural, social e espiritual” que atinge as famílias, bem como o “crescente contraste” entre os valores propostos pela Igreja sobre matrimónio e família e a “situação social e cultural” em todo o planeta são preocupações do próximo Sínodo. No texto preparatório alude-se à tendência de acentuar “o direito à liberdade individual”, sem obrigações, que está a afetar as famílias, e à difusão da ideologia do género, para além do “positivismo jurídico”, em que o indivíduo e a sociedade “se tornaram os únicos juízes para as escolhas éticas”. A relativização do conceito de ‘natureza’, pode ler-se, reflete-se também no “conceito de «duração» estável” em relação à união matrimonial, levando à “prática maciça do divórcio” e a dissolver “o vínculo entre amor, sexualidade e fertilidade”. O ‘instrumentum laboris’ fala no desconhecimento do magistério católico e assinala que “muitos aspetos da moral sexual da Igreja hoje não são compreendidos”. |
Várias Conferências Episcopais recordam a importância de “desenvolver as intuições” de São João Paulo II sobre “a teologia do corpo” e pede “um espaço e um tempo” para que todos possam estar juntos, numa comunicação “aberta e sincera”, promovendo também uma “cultura familiar de oração”. Noutro ponto lamenta-se a “perda relevante de credibilidade moral” da Igreja por causa dos escândalos sexuais envolvendo membros do clero e a “perceção de rejeição” em relação a pessoas separadas, divorciadas ou pais solteiros nas comunidades paroquiais, “Neste sentido, sente-se a necessidade de uma pastoral aberta e positiva, que seja capaz de voltar a dar confiança na instituição, através de um testemunho credível de todos os seus membros”, pode ler-se. Agora o documento será objeto de estudo e de avaliação por parte das conferências episcopais para apresentar “propostas pastorais” a serem debatidas durante |
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os trabalhos da assembleia extraordinária e depois na assembleia ordinária do Sínodo dos Bispos que vai decorrer de 4 a 25 de outubro de 2015, cujo tema será ‘Jesus Cristo revela o mistério e a vocação da família’. O arcebispo Bruno Forte, secretário-especial, afirmou |
que os trabalhos “não têm nada a ver com o slogan banalizador do ‘divórcio católico’, de que alguns falaram em relação ao que o Sínodo poderá propor”. A Santa Sé vai promover uma jornada de oração pelo Sínodo a 28 de setembro. |
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Violência doméstica e situações de crise |
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O documento de trabalho defende a necessidade de uma presença da Igreja junto das vítimas da violência doméstica e outras formas de abuso nas famílias. “Nalguns casos é urgente a necessidade de acompanhar situações nas quais os vínculos familiares estão ameaçados pela violência doméstica, com intervenções de apoio capazes de curar as feridas infligidas, e desenraizar as causas que as determinaram”, refere o texto que vai orientar os trabalhos. A violência doméstica, o abandono e a desagregação familiar têm “um impacto significativo na vida psicológica da pessoa e consequentemente na vida de fé”. “Unânime e transversal nas respostas é também a referência à violência psicológica, física e sexual, e aos abusos cometidos em família sobretudo contra as mulheres e as crianças”, pode ler-se. O documento condena o assassinato de mulheres, “com frequência ligado a profundos distúrbios relacionais e afetivos”, um fenómeno que considera “deveras preocupante”. |
A Igreja é chamada a ocupar-se das famílias que vivem “situações de crise e de stress” e enfrentam problemas provocados por fatores económicos, sociais ou culturais (pobreza, guerra, abusos, violência, migrações, separações, poligamia, entre outros).
O documento fala num “impacto negativo” dos media e das novas tecnologia de comunicação sobre a família, considerando que “a televisão, o smartphone e o computador podem ser um impedimento real do diálogo”. Outra problemática identificada é a dos ritmos de trabalho “intensos” e mesmo “extenuantes”, da precariedade e do desemprego, com “incidências pesadas sobre a vida familiar”. “Em diálogo com o Estado e com as entidades públicas designadas, espera-se da parte da Igreja uma ação de apoio concreto para um emprego digno, para salários justos, para uma política fiscal a favor da família”, refere o documento. Entre as várias “pressões culturais” sobre a família mencionam-se o “individualismo” e o “consumismo”, |
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bem como a “tentativa da sua privatização”, anulando a “participação da família na sociedade”. “É necessário propor uma visão aberta da família, fonte de capital social, o que significa, de virtudes essenciais para a vida comum”, sustenta o ‘instrumentum laboris’. O texto alude a uma “distância preocupante” entre a família nas formas em que hoje é conhecida e o ensinamento da Igreja a este propósito, reforçando a importância da preparação para o matrimónio e a promoção de uma espiritualidade familiar. |
“O ‘desejo de família’ revela-se como um verdadeiro sinal dos tempos, que pede para ser aproveitado como ocasião pastoral”, acrescenta, em relação aos anseios dos jovens. "Consciente de que as dificuldades não determinam o horizonte último da vida familiar e de que as pessoas não se encontram unicamente diante de problemáticas inéditas, a Igreja constata de bom grado os impulsos, sobretudo entre os jovens, que fazem entrever uma nova primavera para a família". |
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Redefinição do matrimónio e uniões entre pessoas do mesmo sexo |
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O documento de trabalho refere que a equiparação ao casamento das uniões entre pessoas do mesmo sexo é um “redefinição do matrimónio”. “Existem países nos quais se deve falar de uma verdadeira redefinição do matrimónio, que reduz a perspetiva sobre o casal a alguns aspetos jurídicos como a igualdade dos direitos e da ‘não-discriminação’, sem que haja um diálogo construtivo sobre as relativas questões antropológicas”. Em causa, acrescenta, está a difusão da ideologia do género, que “por detrás da ideia de remoção da homofobia” propõe uma “subversão da identidade sexual”. Segundo o documento de trabalho, as “reações extremas” às uniões homossexuais, tanto de condescendência como de intransigência, “não facilitaram o desenvolvimento de uma pastoral eficaz, fiel ao Magistério e misericordiosa para com as pessoas em causa”. “Muitos fiéis exprimem-se a favor |
de uma atitude respeitosa e não julgadora em relação a estas pessoas, e em benefício de uma pastoral que procure acolhê-las. No entanto, isto não significa que os fiéis estejam a favor de uma equiparação entre matrimónio heterossexual e uniões civis entre pessoas do mesmo sexo”, revela o Vaticano. “O grande desafio será o desenvolvimento de uma pastoral que consiga manter o justo equilíbrio entre acolhimento misericordioso das pessoas e acompanhamento gradual rumo a uma autêntica maturidade humana e cristã”, acrescenta o texto. O documento refere, por outro lado, que se as pessoas que vivem em uniões do mesmo sexo pedirem Batismo para um filho, este “deve ser acolhido com a mesma atenção, ternura e solicitude que recebem os outros”. A preparação para o sacramento deverá ser “particularmente cuidada pelo pároco”, com uma “atenção específica na escolha do padrinho e da madrinha”.
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Visão cristã da sexualidade |
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A próxima assembleia extraordinária do Sínodo dos Bispos vai desafiar a Igreja a enfrentar os desafios que decorrem da “contraceção” e da falta de “abertura à vida” em várias famílias. “Neste campo tocam-se dimensões e aspetos muito íntimos da existência, acerca dos quais se salientam as diferenças substanciais entre uma visão cristã da vida e da sexualidade, e um delineamento fortemente secularizado”, refere o texto preparatório. O documento de trabalho fala em “ objeções radicais” ao ensinamento da Igreja, destacando a encíclica ‘Humanae Vitae’ (1968), de Paulo VI, na qual se reafirmou a “união inseparável entre o amor conjugal e a transmissão da vida”. “Muitas das dificuldades evidenciadas por respostas e observações põem em evidência a dificuldade do homem contemporâneo no que diz respeito ao tema dos afetos, da geração da vida, da reciprocidade entre o homem e a mulher, da paternidade e da maternidade”. |
O texto admite que a doutrina da Igreja sobre a “abertura dos esposos à vida” não é conhecida na sua “dimensão positiva” e que a avaliação moral dos diferentes métodos de regulação dos nascimentos “é hoje entendida pela mentalidade comum como uma ingerência na vida íntima do casal”. "A maior parte das respostas dão a impressão de que para muitos católicos o conceito de 'paternidade e maternidade responsável' inclui a responsabilidade partilhada de escolher conscientemente o método mais adequado para a regulação dos nascimentos", alertam os bispos.
A este respeito observa-se que muitos casais “não consideram um pecado o recurso aos métodos anticoncecionais” e, por conseguinte, “tende-se a não fazer disto matéria de confissão e a aproximar-se da Eucaristia sem qualquer problema”. Pelo contrário, existe a consciência do aborto como “pecado extremamente grave”. O texto apela à promoção de “leis justas”, como as que |
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“garantam a defesa da vida humana desde a sua conceção” e as que “promovem a bondade social do matrimónio autêntico entre o homem e a mulher”. Além da “mentalidade contracetiva”, o documento de trabalho critica também a “a presença maciça da ideologia do género”, que “tende a modificar algumas estruturas fundamentais da antropologia, entre as quais o sentido do corpo e da diferença sexual”. Os bispos afirmam que esta mentalidade e a difusão de |
um “modelo antropológico individualista” levaram a uma “acentuada diminuição demográfica” e que a Igreja tem de promover uma reflexão sobre o modo de apoiar “uma mentalidade mais aberta à vida”, também com mudanças sociais e laborais. Noutro ponto assume-se a insatisfação em relação a “alguns sacerdotes que parecem indiferentes em relação a alguns ensinamentos morais” da Igreja, uma situação que “gera confusão”. |
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Pastoral sensível para situações difíceis |
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O documento de trabalho da assembleia extraordinária do Sínodo dos Bispos, marcada para outubro, alertou para o risco de uma “mentalidade reivindicativa” em relação aos sacramentos. “Frequentemente não se entende a relação intrínseca entre matrimónio, Eucaristia e penitência; portanto, é muito difícil compreender por que motivo a Igreja não admite à comunhão aqueles que se encontram numa condição irregular”. “O sofrimento causado pela não receção dos sacramentos está claramente presente nos batizados que estão conscientes da própria situação. Muitos sentem-se frustrados e marginalizados”, pode ler-se. Por outro lado, no entanto, há muitos que “consideram com menosprezo a própria situação irregular” e não fazem “qualquer pedido de admissão à Comunhão eucarística” ou ao sacramento da Reconciliação. “A misericórdia de Deus não provê a uma cobertura temporária do nosso mal, mas abre radicalmente a vida à reconciliação, conferindo-lhe renovada confiança |
e serenidade, mediante uma verdadeira renovação”. O próximo Sínodo tem como tema os “desafios pastorais sobre a família” e será seguido por uma assembleia ordinária em 2015; só após a conclusão destes dois momentos serão apresentadas propostas ao Papa, a partir das quais poderá redigir uma exortação apostólica. O ‘instrumentum laboris’ fala na “caridade pastoral” que leva a Igreja a acompanhar as pessoas que passaram por uma “falência matrimonial” e admite que “uma ferida mais dolorosa” se abre para as pessoas que se voltam a casar, “entrando numa condição de vida que não lhes permite o acesso à Comunhão”. “Nestes casos a Igreja não deve assumir a atitude de juiz que condena, mas a de uma mãe que acolhe sempre os seus filhos e cuida das suas feridas em vista da cura”, realça o texto, no qual se pede “mais atenção aos separados e aos divorciados não recasados”. "Parece cada vez mais necessária uma pastoral sensível, norteada pelo respeito destas situações irregulares, capaz de oferecer uma ajuda concreta |
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para a educação dos filhos", prossegue. Nas respostas que chegaram ao Vaticano recorda-se a prática de determinadas Igrejas ortodoxas que “abre o caminho para um segundo ou terceiro matrimónio, com caráter penitencial”, mas o documento de trabalho insiste, sobretudo, na importância de verificar a “eventual nulidade matrimonial”. “Muitos apresentam pedidos relativos à simplificação: processo canónico facilitado e mais rápido; concessão de maior autoridade ao bispo local; maior acesso de leigos como juízes; e redução |
do custo económico do processo”, precisa-se. Segundo o texto divulgado pela Santa Sé, existe “um amplo pedido de simplificação da prática canónica das causas matrimoniais”, no que diz respeito à declaração de nulidade. Nas respostas e nas observações, “tendo em consideração a vastidão do problema pastoral das falências matrimoniais”, pergunta-se se é possível “fazer face ao mesmo unicamente por via processual judicial” e “apresenta-se a proposta de empreender um percurso administrativo”. |
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Questões financeiras dominam reunião
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O porta-voz do Vaticano revelou que as questões financeiras e administrativas têm dominado a quinta reunião do Papa com o Conselho de Cardeais, que se iniciou na terça-feira, admitindo mudanças no Instituto para as Obras Religiosas (IOR). Em declarações aos jornalistas, o padre Federico Lombardi sublinhou que o IOR (conhecido como ‘Banco do Vaticano’) se encontra numa fase de “transição e desenvolvimento”. Notícias publicadas nos últimos dias davam conta da possibilidade de substituição do presidente da instituição, Ernst Von Freyberg, nomeado por Bento XVI em fevereiro de 2013, após o anúncio da sua renúncia ao pontificado. “O contributo de Ernst von Freyberg continua a ser muito apreciado e é avaliado de forma muito positiva. Novas clarificações são possíveis, na próxima semana, após o encontro com o Conselho para a Economia, que terá lugar no sábado”, adiantou o diretor da sala de imprensa da Santa Sé.
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A quinta reunião do Papa com o Conselho de Cardeais, criado pelo próprio Francisco para o ajudar no governo da Igreja e para estudar um programa de revisão da Constituição sobre a Cúria Romana, decorre até sexta-feira. Os trabalhos contaram com a participação de alguns elementos da Comissão Cardinalícia de Vigilância do IOR. Francisco decidiu já criar uma estrutura de coordenação para as atividades económicas e administrativas da Santa Sé e do Vaticano, sob a direção do cardeal George Pell, australiano, membro do Conselho de Cardeais. O padre Lombardi referiu, por outro lado, que os oito membros deste conselho consultivo, oriundos dos cinco continentes, têm sido sempre acompanhados pelo secretário de Estado do Vaticano, cardeal Pietro Parolin, como membro de “pleno direito”, pelo que se passou a falar de um ‘C9’. Os participantes na reunião analisaram a situação |
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da Secretaria de Estado do Vaticano e do Governatorato, estando prevista uma nova análise aos vários organismos da Cúria Romana, rumo a uma “reformulação”. O secretário do conselho consultivo de cardeais, D. Marcello Semeraro, disse à Agência ECCLESIA que a reforma em curso deve ajudar a |
configurar uma Igreja missionária, “em saída”. O bispo revelou ainda que o Papa está “muito atento” durante as reuniões de trabalho, “disposto a ouvir e pronto a dar o seu contributo, dando a conhecer o seu pensamento e exprimindo o projeto de Igreja que o anima, com grande simplicidade”. |
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Crise da humanidade e futuro da Igreja |
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O Papa concedeu uma entrevista ao jornal italiano ‘Il Messaggero’, publicada no último domingo, em que afirma que a atual crise é sinal de uma “decadência moral” e reafirma a prioridade aos pobres. “Estamos a viver não tanto uma época de mudanças, mas uma mudança de época: trata-se, portanto, de uma mudança de cultura”, referiu Francisco, para quem esta transformação “alimenta a decadência moral, não só na política mas também na vida financeira ou social”. O Papa rejeita, como em ocasiões anteriores, o rótulo de ‘marxista’, afirmando mesmo que “a bandeira dos pobres é cristã” e que os comunistas a “roubaram”. “O que eu digo é que os comunistas nos roubaram a bandeira. A bandeira dos pobres é cristã. A pobreza está no centro do Evangelho. A pobreza no centro do Evangelho”, afirma Francisco. “Podemos ver também as bem-aventuranças, outra bandeira. Os comunistas dizem que tudo isto é comunismo. Pois, está bem, só que chegam vinte séculos depois”, prossegue. |
O Papa retoma as suas preocupações com as consequências do desemprego, frisando que quem perde o seu trabalho “tem de lidar com outra pobreza, já não tem dignidade”. “Até pode ir à Cáritas e levar para casa um saco de bens alimentares, mas sente uma pobreza gravíssima que lhe destrói o coração”, precisou. A entrevista, publicada na solenidade de São Pedro e de São Paulo, os padroeiros da Igreja de Roma, Francisco é questionado sobre o seu discurso em relação às mulheres e o seu papel na comunidade católica. “A mulher é a coisa mais bela que Deus fez”, começa por afirmar, realçando que “se deve trabalhar mais sobre a Teologia da mulher” e falar mais neste tema. |
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Cristãos em risco no Iraque |
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O Papa Francisco lançou um apelo ao diálogo e à paz no Iraque, mostrando-se preocupado com a situação no país, envolto num conflito militar. “As notícias que chegam do Iraque são infelizmente muito dolorosas. Uno-me aos bispos do país para apelar aos governantes que, através do diálogo, se possa preservar a unidade nacional e evitar a guerra”, disse, perante milhares de pessoas reunidas na Praça de São Pedro para a recitação do ângelus, no domingo. Francisco mostrou-se próximo de milhares de famílias, “especialmente cristãs”, que tiveram de deixar os seus lares e “estão em grave perigo”. “A violência gera mais violência, o diálogo é o único caminho para a paz”, realçou, antes de convidar os presentes a rezar à Virgem Maria para que “guarde o povo do Iraque”. Os rebeldes sunitas liderados pelos jihadistas do Estado Islâmico do Iraque e do Levante (ISIS) controlam áreas a norte e ocidente de Bagdade, incluindo a segunda cidade do país, Mossul, e todos os postos fronteiriços |
com a Síria e a Jordânia. A possível divisão do país em três partes (xiita, sunita e curda) tem merecido a oposição da Igreja Católica no Iraque, que acusa as “potências estrangeiras” de perseguirem apenas os seus próprios interesses. O patriarca caldeu Louis Rapahel I Sako, principal líder católico no Iraque, apelou entretanto à libertação imediata de duas religiosas e três órfãos sequestrados em Mossul. O responsável, citado pela Agência Fides, do Vaticano, dirige-se em particular aos chefes religiosos muçulmanos e aos xeques das tribos sunitas de Mossul, pedindo-lhes que façam “todos os possíveis” para conseguir a libertação dos sequestrados. |
A Agência ECCLESIA escolhe sete acontecimentos que marcaram a atualidade eclesial internacional nos últimos dias, sempre atualizados em www.agencia.ecclesia.pt
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Os trabalhos do Conselho de Cardeais |
Festival Jota 2014 Online |
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Decorre entre 25 e 27 deste mês o maior e melhor evento de música de mensagem cristã em Portugal. Como não poderia deixar de ser estamos a falar do Festival Jota, que este ano está de malas e bagagens em Carvalhais – S. Pedro do Sul. Assim, como o fazemos todos os anos por esta altura do ano, propomos que visite o sítio daquele que já “é uma marca na pastoral juvenil e na música de inspiração cristã” nacional. Da responsabilidade do departamento da Pastoral Juvenil da Guarda este evento conta com mais de cinquenta atividades, onde o ponto forte são as atuações musicais dos diversos grupos presentes. Ao entrarmos neste espaço virtual rapidamente percebemos que todo o sítio está graficamente muito bem produzido, tendo como pano de fundo uma imagem bastante jovem, agradável e muito bem enquadrada com o público-alvo a que se destina. Logo na página inicial além das notícias sempre atualizadas, que pretendem evidenciar a |
importância deste encontro juvenil, temos ainda ligações para as principais redes sociais (facebook, twitter e youtube) e um destaque especial à Banda Jota que este ano celebra onze anos de vida. Além da natural ficha de inscrição, cartaz com o programa, espaços de alojamento e os contactos, podemos clicar em “atividades”, onde temos uma descrição dos vários workshops que farão parte do cartaz para os três dias (agricultura biológica, rir com Deus, artes plásticas, primeiros socorros, musicoterapia, entre outras atividades). No item “artistas do festival”, encontramos conteúdos relacionados com os artistas convidados para o festival. Este ano “estão garantidas as presenças da anfitriã Banda Jota, a Banda Missio que lança este ano o seu primeiro, o Padre Jason dos Açores que lançou igualmente o seu primeiro álbum este ano. Da vizinha Espanha estarão presentes os roqueiros LVD - La Voz del Desierto, e Ruben Villar de Lis, e de Inglaterra os Crossbeam. Na vertente |
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ecuménica, farão parte do cartaz os luso-brasileiros Xpression Cross e os US - Unidos em Santidade. A grande novidade vem do Chile e será um dos artistas mais esperados, pois é a primeira vez que pisa o palco do Jota, a Irmã Glenda”. Em “vídeos”, dispomos de três espaços bastante distintos: o primeiro onde podemos assistir a alguns video-clips das músicas que irão ser ouvidas em terras de S. Pedro do Sul, em “outros”, spots promocionais que vão sendo transmitidos nos média e no terceiro, um arquivo de todos |
os vídeos que passaram nos meios de comunicação relacionados com o festival. Existe ainda a possibilidade de consultar os espaços virtuais das seis anteriores edições deste megaevento de música cristã, na opção “edições anteriores”. Aqui fica então a sugestão para que naveguem até ao espaço deste festival e assim ficarmos a conhecer um pouco mais acerca de tudo aquilo que está preparado para ser vivido com muita animação e juventude nesta autêntica festa da fé. Fernando Cassola Marques |
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Um Francisco que continua ser Jorge |
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Qualquer obra publicada sobre o Papa Francisco é sinónimo de sucesso editorial. A última que li de fio a pavio num curto espaço de tempo tem uma foto do Papa sorridente na capa e como título: «Francisco – O argentino – O Papa íntimo contado pelos seus próximos». Com a chancela da «Guerra&Paz» e saído da pena de Arnaud Bédat, este livro centra-se em testemunhos de pessoas simples e de coração aberto que relatam a sua proximidade com o atual Papa. Não são personagens oriundas da burguesia, da classe política, da alta finança nem diretores de jornais que falam sobre «o padre Jorge». Testemunhos vivos e sentidos de quem privou e absorveu o estilo do Papa argentino. Começo pelo fim do livro – pelo último testemunho – relatado pelo amigo do Papa Bergoglio, Federico Wals (assessor de imprensa do cardeal na Argentina) que conta este episódio hilariante: O Papa (vestido de padre) foi esperar um amigo ao aeroporto. Este amigo |
(bispo argentino) diz-lhe: “Mas és completamente louco, Jorge! Que fazes tu aqui?». O Papa Francisco – lê-se no livro – respondeu-lhe: “Ouve lá, também preciso de arejar um pouco, não te parece?”. Ao longo da obra somos surpreendidos com relatos que fogem dos cânones papais. Um Papa que telefona aos amigos com frequência e que responde às cartas que lhe enviam. Recordo um episódio que marca a sua força interior e a sua fé. No dia da morte da sua avó, o neto que agora é Papa estava, naturalmente, à sua cabeceira. Quando viu que acabara de morrer, ficou prostrado no chão por um instante e disse às religiosas que o rodeavam: “Neste instante a minha avó enfrenta o momento mais importante da sua vida. Deus está a julgá-la. É assim o mistério da morte”. O livro contém algumas fotos que ilustram as palavras – no capítulo «O mago das agulhas» - o médico Liu Ming (chinês e monge taoista) que tratou de alguns problemas de saúde de Francisco através de acupuntura relata a amizade |
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que os unia. “A cada sessão o ritual repetia-se. Jorge Mário Bergoglio despia-se, ficava apenas com a roupa interior e deitava-se. A agenda, o relógio, a cruz, o casaco, deixava sempre as suas coisas no mesmo sítio. Com uma precisão quase milimétrica. É espantoso. Nunca tinha visto
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mais ninguém assim”, recordou Liu Ming. E acrescenta: “Reparei que tinha a roupa cheia de buracos. Não podia acreditar”. Como é que uma pessoa com “tal grandeza consegue ser tão humilde?”. Este é um dos relatos da humildade do Papa argentino que não esquece os amigos. |
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II Concílio do Vaticano:
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A experiência da primeira sessão do concílio (1962-1965) aconselhara algumas modificações importantes quanto à sua organização. Uma das mais importantes foi a redução e reelaboração dos esquemas. Reduzidos ao número de dezassete, aliás já por indicação do Papa que convocou o II Concílio do Vaticano (João XXIII), foram refundidos e redigidos de maneira mais breve, tendo em vista os princípios gerais e deixando de lado alguns problemas que não diziam respeito ao assunto central. Foram também reforçadas as características pastorais dos diversos esquemas. A nomeação dos quatro cardeais delegados os moderadores constitui uma inovação de não menor alcance. Na primeira sessão notou-se que o conselho de presidência se revelava “muito pesado”, sendo-lhe difícil orientar os trabalhos conciliares. A nomeação deste grupo de moderadores, “mais restrito e dotado de poderes mais amplos, permitiu uma orientação mais firme dos trabalhos, tendo ainda a possibilidade de intervir em várias ocasiões com maior agilidade e energia” (Cf: Boletim de Informação Pastoral; Julho-Setembro 1964; Nº 32-33; Página 7). A mentalidade dos moderadores, “mais homogénea”, facilitava a unidade e firmeza de orientação tão desejadas pelo Papa. O grupo de moderadores era constituído pelos cardeais: Agagianian; Suenens, Lercaro e Doepfner. |
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Homens que deram profundidade, rapidez e agilidade aos trabalhos. O conselho de presidência viu também o número dos seus membros aumentado para doze. O Papa Paulo VI nomeou para este organismo os cardeais Siri, Meyer e Wyszynsky. Mais significativa porém foi a missão conferida à comissão de coordenação que fora criada para orientar os trabalhos conciliares no período entre as duas sessões. “Ficou encarregada de promover e garantir a conformidade dos esquemas com os objectivos do Concílio” (Cf: Boletim de Informação Pastoral; Julho-Setembro 1964; Nº 32-33; Página 7). Foram nomeados para esta comissão, os cardeais Agagianian, Roberti e Lercaro. A reforma nos serviços de imprensa do Concílio foi talvez uma das renovações “mais espectaculares”. De facto, durante a primeira sessão a imprensa só dispunha de comunicados extremamente concisos, nos quais só se poderia encontrar qualquer informação “com real interesse, |
mais nas entrelinhas que no próprio texto”. Para mais eram elaborados por uma comissão estranha ao Concílio, na qual não estava presente nenhum padre conciliar. Confiando a monsenhor O´Connor, arcebispo titular de Laodiceia, o encargo de formar e de presidir à nova comissão de imprensa, Paulo VI resolveu “o sério problema de informação com que se debatia o Concílio”. Para mais, esta comissão foi dotada de membros padres conciliares que “representavam os principais grupos linguísticos e que eram directamente responsáveis perante o concílio por todas as informações prestadas”. A presença dos auditores leigos foi outra das inovações mais significativas. Escolhidos como representantes das principais organizações internacionais católicas, foi-lhes dado seguir directamente os trabalhos conciliares, funcionando como um grupo de consultores para os padres que desejavam confrontar as suas opiniões. |
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julho 2014 |
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2014-07-05* Itália - Papa vai a Campobasso e Isernia
* Beja - Sines (Forte do Revelim) - Cerimónia de entrega de prémios do Festival «Terras Sem Sombra».
* Aveiro – Murtosa - Festival de música de inspiração cristã, seguido de Cristoteca, promovido pelo Secretariado da Pastoral Juvenil de Aveiro
* Coimbra – Sé - Ordenação sacerdotal de Paulo Duarte
*Algarve - Peregrinação de catequistas ao Santuário del Rocio (Espanha) promovida pelo Sector da Catequese da Infância e Adolescência da Diocese do Algarve
* Fátima - Encontro nacional da Associação Portuguesa de Famílias Anónimas
* Coimbra - Reunião do conselho do Serviço Nacional da Pastoral do Ensino Superior (SNPES). |
* Açores - Ponta Delgada - Igreja de São José - Missa de envio de Sara Ferreira para a Mongólia integrada no projeto de Nova Evangelização
* Fátima - Peregrinação nacional da Família Espiritana (05 e 06) Fátima - Peregrinação nacional dos Carmelitas Descalços (05 a 06)
* Fátima - Domus Carmeli - Retiro espiritual organizado pela Fundação AIS e orientado pelo padre Dário Pedroso, SJ, sob o tema da Exortação Apostólica «A Alegria do Evangelho», do Papa Francisco. (05 a 09)
* Porto - Maia - Missão Jovem 2014 com o tema «Liberta o Comboni que há em ti». (05 a 06)
2014-07-06*Lamego - Sé - Ordenação presbiteral de José Soares
* Porto - Caminhada solidária promovida pelo Grupo de Ação Social do Porto. |
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* Setúbal - Auditório de Nossa Senhora da Anunciada -Assembleia do Renovamento Carismático
* Itália - Lampedusa - O presidente do Conselho Pontifício para a Pastoral dos Migrantes e Itinerantes, cardeal Antonio Maria Vegliò, preside a uma Missa na ilha italiana de Lampedusa para recordar a visita do Papa Francisco.
* Évora - Elvas - Igreja do Senhor da Boa Fé - Ordenação diaconal do irmão Nuno do Coração Imaculado, da Associação Mater Dei
2014-07-07
*Vaticano - Casa de Santa Marta - Missa com vítimas de abusos sexuais presidida pelo Papa Francisco
* Lisboa - UCP - Instituto de Estudos Políticos - Apresentação da obra «Maritain e Bento XVI Sobre a Modernidade e o Relativismo», da autoria de Diogo Madureira com a chancela da Cáritas Editora |
* Fátima -Encontro das religiosas Agostinhas Contemplativas de Espanha no Santuário de Fátima (7 a 11)
2014-07-08
Fátima - Reunião do Conselho Permanente da Conferência Episcopal Portuguesa
2014-07-11
* Lisboa - Fundação Calouste Gulbenkian -
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- O bispo de Coimbra, D. Virgílio Antunes, vai celebrar este sábado a ordenação de seis novos sacerdotes jesuítas, a partir das 15h00, na Sé nova de Coimbra.
- A vila da Murtosa vai ser palco no próximo sábado a partir das 21h30 do “FÉstival”, certame de música de inspiração cristã da Diocese de Aveiro, sob o lema “Não te conformes, transforma-te!”. Depois da atuação das bandas, a diversão continuará noite dentro com a abertura da “cristoteca”, uma discoteca com mensagem cristã.
- O Grupo de Ação Social do Porto, organização não-governamental para o desenvolvimento, vai promover este domingo às 10h00, no Parque da Cidade, uma caminhada cujo valor da inscrição reverte a favor da realização de projetos solidários.
- A Cáritas Diocesana de Leiria-Fátima vai abrir mais uma vez as portas da sua colónia de férias a crianças entre os 6 e os 15 anos, na Praia do Pedrogão. Um projeto que pretende ajudar os mais novos, especialmente os mais carenciados, a terem um verão diferente. As atividades decorrem entre a última quinzena de julho e a primeira semana de setembro. |
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Programação religiosa nos media |
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Antena 1, 8h00 RTP1, 10h00 Transmissão da missa dominical
11h00 - Transmissão missa
12h15 - Oitavo Dia
Domingo: 10h00 - O Dia do Senhor; 11h00 - Eucaristia; 23h30 - Ventos e Marés; segunda a sexta-feira: 6h57 - Sementes de reflexão; 7h55 - Oração da Manhã; 12h00 - Angelus; 18h30 - Terço; 23h57-Meditando; sábado: 23h30 - Terra Prometida. |
RTP2, 11h22Domingo, dia 6 de julho: Ecos de Sophia.
RTP2, 15h30Segunda-feira, dia 7 - 50 anos de sacerdócio do cónego António Rego; Terça-feira, dia 08 - Informação e entrevista a Sara Fonseca, sobre o Festival Terras Sem Sombra; Quarta-feira, dia 09 - Informação e entrevista a António Rebelo, sobre as festas da Rainha Santa Isabel; Quinta-feira, dia 10 - Informação e entrevista a Carlos Oliveira Cruz sobre a inauguração da "Casa Daniel"; Sexta-feira, dia 04 - Apresentação da liturgia de domingo pelo padre João Lourenço e Juan Ambrosio.
Antena 1 Domingo, dia 06 de julho, 06h00 - José Manuel dos Santos e o padre José Tolentino Mendonça evocam Sophia de Mello Breyner Andresen por ocasião da trasladação da poetisa para o Panteão Nacional. Neste programa ouvimos poemas pela voz da escritora.
Segunda a sexta-feira, 22h45 - 07 a 11 de julho - Os Roteiros Marianos e dos Caminhos de Santiago (dias 7, 8 e 9) Festival Terras Sem Sombra, diocese de Beja (dia 10 de julho) Secretariado Nacional dos Bens Culturais em entrevista a Sandra Costa Saldanha (11 de julho) |
Por que motivo o domingo é importante?
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APLICAÇÕES PASTORAISOneNote |
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Julho é tempo de avaliações e programações, entre muitas outras coisas. Pastoralmente é um tempo em que diminuem as atividades pastorais, mas há um aumento de reuniões de análise, revisão, avaliação e programação. É um tempo de intensa atividade escrita. É também, para muitos, um tempo e stress porque não sabem onde escreveram, onde tomaram notas, onde estão os apontamentos que eram importantes para esta reunião.
Como forma de facilitar o nosso trabalho e porque tempo é dinheiro, apresento a aplicação OneNote. Existem muitas outras aplicações para este efeito no mercado. Esta tem a particularidade, na minha opinião, de responder às várias necessidades que tenho: tudo num só lugar; rápida atualizações dos vários aplicativos; estar disponível online; armazenada na nuvem; agrupar por assuntos; partilhar; e, user friendly, fácil utilização.
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A última atualização do OneNote trás algumas novidades: é uma aplicação gratuita com um número ilimitado de notas; permite juntar apontamentos, imagens e links num único documento; há uma melhoria do interface de edição; é em português.
Organiza-te!Com o OneNote as notas são guardadas automaticamente à media que são criadas e “acompanham-nos” para todo o lugar. Agrupa as notas ao teu critério: por assuntos, temas, ou outro critério. As notas podem ser facilmente movidas numa página ou num bloco de notas. Através da pesquisa é possível pesquisar notas e ficheiros que adicionamos ou criamos, desde uma página específica a uma expressão ou referência.
Trabalha em Equipa!Cria qualquer base de trabalho e partilha com outras pessoas em tempo real, o que isto agiliza as nossas reuniões. O OneNote |
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sincroniza as notas automaticamente com a conta de armazenamento online do OneDrive, para que se possa aceder sempre à versão mais recente a partir de qualquer lugar. Para trabalhar em equipa basta enviar às pessoas pretendidas uma só ligação para o mesmo bloco de notas. Será sempre usada a versão mais recente do documento.
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Já não há motivos para o sr. Padre, o ecónomo, catequista ou outro agente pastoral perder tempo à procura dos papéis que não sabe onde os colocou.
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Bento Oliveira http://www.imissio.net |
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Ano A – 14.º Domingo do Tempo Comum |
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Ser manso e humilde de coração |
A liturgia deste 14.º domingo do tempo comum ensina-nos onde encontrar Deus: na simplicidade, na humildade, na pobreza, na pequenez. Ele não se revela na arrogância, no orgulho, na prepotência. A primeira leitura de Zacarias apresenta-nos um enviado de Deus que vem ao encontro dos homens precisamente nessa forma de ser, eliminando assim os instrumentos de guerra e de morte e instaurando a paz definitiva. Na segunda leitura, Paulo convida os crentes a viverem «segundo o Espírito», com o coração plenamente aberto para Deus, e não «segundo a carne». No Evangelho, vemos que a proposta de salvação que Deus faz aos homens encontrou acolhimento no coração dos pequeninos. Os grandes, instalados no seu orgulho e autossuficiência, não têm tempo nem disponibilidade para os desafios de Deus; mas os pequenos, na sua pobreza e simplicidade, estão sempre disponíveis para acolher a novidade libertadora de Deus. Ainda na sequência da Solenidade do Sagrado Coração de Jesus recentemente celebrada, sabe bem acolher o convite do Senhor no Evangelho de hoje: «Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para as vossas almas”. Os critérios de Deus são bem estranhos, se forem vistos com as lentes do mundo. Afinal, admiramos e incensamos os sábios, os inteligentes, os intelectuais, os ricos, os poderosos, os bonitos. Até queremos que sejam eles a dirigir o mundo, |
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a fazer as leis que nos governam, a ditar a moda ou as ideias, a definir o que é correto ou não é correto. Mas Deus diz que as coisas essenciais são muito mais depressa percebidas pelo pequeninos: são eles que estão sempre disponíveis para acolher Deus e os seus valores e para arriscar nos desafios do Reino. O que garante a posse da verdade é ter um coração aberto a Deus e às suas propostas. Como é que chegamos a Deus? Como percebemos o seu rosto? Como fazemos uma experiência íntima e profunda de Deus? Só através da Pessoa de Jesus, o Filho que conhece o Pai; só quem segue Jesus e procura viver |
como Ele, no cumprimento total dos planos de Deus, pode chegar à comunhão com o Pai. Há crentes que, por terem feito catequese, por irem à missa ao domingo e por fazerem parte de quase todos os grupos da paróquia, acham que conhecem Deus, que têm com Ele uma relação estreita de intimidade e comunhão. Até pode ser. Mas atenção: só conhece Deus quem é simples, manso e humilde de coração e está disposto a seguir Jesus no caminho da entrega a Deus e da doação da vida aos homens. É no seguimento de Jesus, e só desse modo, que nos tornamos filhos de Deus. Manuel Barbosa, scj www.dehonianos.org |
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Dias de terror em Malakal, no Sudão do SulA guerra de novo |
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Meses depois da independência, a guerra voltou, mais trágica ainda, ao Sudão do Sul. Um conflito tribal desabou sobre esta jovem nação e provocou já milhares de mortos e cerca de 1 milhão de refugiados. A Irmã Elena não consegue esquecer toda essa violência em Malakal, onde vivia. Mas, mesmo assim, quer voltar.
Malakal é agora uma cidade fantasma. Até os animais parecem ter fugido. Não há ninguém. Por vezes, escuta-se o ruído apressado de carros que transportam homens armados. Agora não há mais ninguém para matar, não há mais nenhuma mulher ou rapariga para violar. Não há mais nada. É difícil imaginar as ruas desertas de Malakal. Ainda há tão pouco tempo, parecia uma cidade normal, cheia de pessoas, com mais de 250 mil habitantes. Agora, não tem praticamente ninguém.
Sombras da violênciaEm muitas casas ainda há vestígios de morte, da violência que tomou conta das ruas, em paredes esburacadas por balas, nas casas incendiadas, nos corpos que ninguém ainda reclamou. |
A Irmã Elena Balatti, missionária comboniana, também abandonou Malakal. Por mais que se esforce, por mais que tente esquecer, esta missionária italiana é obrigada a recordar os dias de pavor que viveu na cidade, quando bandos armados do chamado “white army” entraram na catedral, à procura de soldados fiéis ao Governo. Nem os locais de culto foram poupados. Muito menos os hospitais, orfanatos ou, até, as bases da ONU. Há relatos impressionantes de violência, de uma violência que não tem poupado ninguém, nem sequer crianças, mulheres ou idosos. “Houve pessoas mortas nas igrejas”, diz a Irmã Elena. “A cidade ficou destruída. Ainda tenho na memória a imagem do mercado, com as decorações de Natal, pouco antes do ataque de 24 de Dezembro. Agora aquele mercado já não existe. Todas as estruturas governamentais foram saqueadas e incendiadas.”
Guerra tribalNa base desta guerra civil que envolve forças governamentais |
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do presidente Salva Kiir e partidários de seu ex-vice-presidente Riek Machar, destituído em 2013, e que já causou 1 milhão de refugiados e dezenas de milhares de mortos, está um conflito tribal entre as etnias Nuer e Dinka. Foram elementos afectos à etnia Nuer, do ex-vice-presidente, que atacaram a cidade de Malakal. A violência contra as mulheres banalizou-se. No último dia, antes de apanhar o avião que a transportou para Juba, a capital, onde ainda se encontra, a Irmã Elena levou uma menina de 12 anos até ao hospital da Cruz Vermelha. Tinha sido violada, juntamente com outras nove crianças, na Igreja do Cristo Rei. Foi dolorosa a decisão das missionárias combonianas de abandonarem a cidade de Malakal. “Éramos três irmãs. Depois de a nossa casa também ter sido saqueada, já não tínhamos onde morar. Ficámos ao lado dos sacerdotes locais, mas agora que todos fugiram nós também abandonámos Malakal. Já não havia razões para permanecermos numa cidade deserta.” O Sudão do Sul é o país mais novo do mundo. Ganhou a independência em 2011, depois de meio século de luta contra o norte, maioritariamente árabe e muçulmano, em flagrante contraste com o sul onde predomina a religião cristã. Foi um conflito sangrento, que causou mais de 3 milhões de mortos. Agora, ao fim de poucos meses, voltou a guerra. Ainda mais violenta e incompreensível. |
Partir para voltar A Irmã Elena está em Juba, mas o seu coração continua em Malakal. Não há dia que passe que não recorde os gritos de ajuda das populações atacadas, o olhar aterrorizado da menina violada, ou as paredes das igrejas esburacadas pelas rajadas das metralhadoras. A Irmã Elena quer regressar. Para isso é preciso que o cessar-fogo já assinado entre rebeldes e forças governamentais não seja apenas um papel com intenções mas sem valor. De todo o lado continuam a chegar notícias de ataques, de mortos, de violência. Ainda esta semana. Nem as bases da ONU, com campos de refugiados, são poupadas. No meio da impotência, resta a fé. A Irmã Elena pede as nossas orações. As suas orações. Nada voltará a ser como dantes. O Sudão do Sul é como uma ferida aberta que dificilmente irá sarar. A Igreja tem um papel essencial a desempenhar depois destes dias de terror. É preciso acreditar. É preciso ter esperança. “Quero voltar, juntamente com as minhas irmãs combonianas, para continuarmos o nosso trabalho”, diz a Irmã Elena. Vamos ajudá-la?
O trabalho destas Irmãs Combonianas é apoiado pela Fundação AIS
texto Paulo Aido | |
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aPOSTOLADO DE ORAÇÃOCoisas sobre as quais não vou escrever |
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Para que a prática do desporto seja sempre oportunidade de fraternidade e crescimento humano. [Intenção universal do Santo Padre para Julho]
1. Não vou escrever sobre o desporto de alta competição, pois este não cuida de outras coisas que não sejam as receitas mais ou menos milionárias dos intervenientes no espectáculo e daqueles que, por fora, no conforto dos gabinetes, organizam, vendem e compram os espectáculos e os seus actores. Já não se trata, na verdade, de desporto, mas de um negócio, com frequência marcado por sinais de corrupção. Os atletas, é certo, proporcionam espectáculos excelentes, mas como profissionais pagos de modo principesco, esquisito é quando tal não acontece – e acontece mais vezes do que seria de esperar.
2. Não vou escrever sobre o escândalo, segundo alguns, das remunerações auferidas pelos intervenientes no desporto profissional, pelo menos aqueles que estão no topo, em termos de cotação profissional – eles e quem, na sombra, lhes trata dos contratos. Reclamar contra tais honorários e continuar a ser sócio dos clubes que os pagam, a frequentar os |
recintos desportivos ou a assistir aos espectáculos na televisão é inveja ou hipocrisia. Também é verdade que não é muito comum encontrar pessoas a reclamar por causa das fortunas gastas em contratos, ordenados e prémios. É mais fácil encontrar gente a gritar contra o ordenado de um gestor bem pago, responsável pelo trabalho, o salário, a vida de centenas ou milhares de pessoas do que contra as quantias obscenas pagas a jovens, mal acabados de sair da adolescência, apenas para enfiarem a bola numa baliza, num cesto de basquete ou baterem o recorde de velocidade numa qualquer pista de competição...
3. Não vou escrever sobre o comportamento de muitos destes “ídolos”, quer como profissionais, quer na sua vida privada. Por vezes, parece que, em nome da “tensão” do jogo”, vale tudo: cabeçadas no adversário, dentadas, cotoveladas, cenas para enganar os árbitros, jogadas maldosas para magoar os adversários... enfim, comportamentos negativos que em nada abonam a favor do papel social destes “ídolos” junto dos milhões de devotos, seus fiéis seguidores.
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4. Não quero escrever sobre nada disso. Prefiro lembrar o desporto como ele deve ser e como o Santo Padre o coloca à nossa consideração: tempo para conviver, para crescer em fraternidade, para crescer em humanização – tempo para nos fazermos mais humanos. O desporto praticado por milhares de pessoas, nos seus tempos livres, gratuitamente, apenas porque gostam. As competições saudáveis entre grupos de amigos, cujo prémio são as gargalhadas por um tempo bem passado. A alegria de quem chega ao fim de uma corrida, simplesmente por ter chegado ao fim, vencendo as próprias |
limitações e as normais dificuldades impostas por um esforço físico pouco habitual. Este tipo de coisas não atrai multidões – mas a sua beleza não está nas multidões à volta, está nos grupos maiores ou menores envolvidos. Aliás, as multidões não humanizam nem fraternizam. As multidões são massa desumanizadora e, não raro, propensa à violência. O desporto não precisa delas. O espectáculo precisa, pois as multidões alimentam a máquina do dinheiro que o mantém a funcionar. Mas isso é outra história, sobre a qual não pretendo escrever.
Elias Couto |
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Terras de ‘Morabeza’ |
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Tony Neves |
Tenho Cabo Verde no coração. Não tanto a terra (são umas Ilhas muito bonitas) mas o seu povo, marcado pela ‘Morabeza’ (arte de bem acolher) e pela ‘Sódade’ (pois são tantos os que vivem fora da terra para criarem melhores condições de vida). A minha relação com Cabo Verde começou em Lisboa quando ainda estudava teologia na Universidade Católica. O meu trabalho pastoral era no Alto de Santa Catarina, um daqueles bairros chamados ‘de lata’, onde as pessoas viviam em casas sem quaisquer condições, amontoados em pouco espaço e marcados com o carimbo de gente perigosa à sociedade. Passar pelo meio do bairro estava fora de questão para a maioria dos habitantes das imediações, tal a imagem que o bairro ganhara. A maioria dos habitantes era de origem caboverdiana e, em poucos dias, descobri como a tal ‘morabeza’ era uma característica deste povo, mesmo fora da sua terra e a viver em condições péssimas. Passei com eles três anos fantásticos da minha vida. Senti-me sempre em casa e nunca pressenti qualquer perigo por andar no bairro às tantas da noite. Tenho ainda amigos desses tempos antigos. Tive, mais tarde, a alegria de ir a Cabo Verde. Foi fantástico o acolhimento. Vou lá regressando de tempos a tempos. Encontro sempre um povo que trabalha muito |
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para sobreviver, que espera pela chuva que às vezes não vem, que nunca desiste de atingir os objectivos a que se propõe. Talvez por isso, o mundo está cheio de caboverdianos que se fizeram ao mar para encontrar os meios que ali não havia nem há. Lutaram muito e venceram. Talvez por isso, Cabo Verde é um caso exemplar em África: tem democracia, nunca teve guerra, está a desenvolver-se muito, tem uma Igreja muito sólida |
e interveniente. Em termos de Igreja, Cabo Verde tem duas Dioceses com dois Bispos ‘jovens’: D. Ildo Fortes é o Bispo do Mindelo e D. Arlindo Furtado é o Bispo de Santiago. São um símbolo de uma Igreja que cresceu e amadureceu, constituindo uma referência moral para um país onde o cristianismo é forte e tem marcado a vida destas populações nas horas melhores e piores da sua história. Cabo Verde tem futuro. |
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“Pode ouvir o programa Luso Fonias na rádio SIM, sábados às 14h00, ou em www.fecongd.org. O programa Luso Fonias é produzido pela FEC – Fundação Fé e Cooperação, ONGD da Conferência Episcopal Portuguesa.”
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«O anúncio da Igreja sobre a família encontra o seu fundamento na pregação e na vida de Jesus, o qual viveu e cresceu na família de Nazaré, participou nas bodas de Caná, das quais enriqueceu a festa com o primeiro dos seus “sinais” (cf. Jo 2, 1-11), apresentando-se como o esposo que une a si a Esposa (cf. Jo 3, 29)». (Instrumentum laboris - III Assembleia Geral Extraordinária do Sínodo do Bispos sobre os desafios pastorais da família no contexto da evangelização, n.2) |
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