04 - Editorial:

   Octávio Carmo

06 - Foto da semana

07 - Citações

08 - Nacional

14 - Opinião:

     D. Pio Alves

     Carlos Borges

     José Manuel Pereira de Almeida

24 - Dossier

    Pastoral Social

 

42- Internacional

50 - Estante

52 -  Agenda

54 - Por estes dias

56 - Programação Religiosa

57  - Minuto YouCat

58 - Liturgia

60 - Fundação AIS

64 - Intenção de Oração

66 - Lusofonias

68 - Opinião

    Manuel de Lemos

 

 

Foto da capa: DR

Foto da contracapa:  Agência ECCLESIA

 

 


AGÊNCIA ECCLESIA 
Diretor: Paulo Rocha  | Chefe de Redação: Octávio Carmo
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Opinião

 

 

 

 

Papa pede respeito pelo trabalho

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Jovens cada vez mais pobres

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O Evangelho e a crise

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Acácio Catarino | Nuno Ornelas | João Gonçalves |Manuel Barbosa | Tony Neves | Elias Couto | Manuel de Lemos |Mafalda Ferreira Santos

 

Construir o futuro

Octávio Carmo, 

Agência ECCLESIA

 

O fim do verão, que este ano passou muito discretamente pelo país, traz muitos de volta à realidade laboral e escolar que vai marcar os seus dias nos próximos meses. O interregno - cada vez menos generalizado, é certo - foi invulgar, não só por causa do clima, mas pelas diversas crises, do ébola à guerra na Ucrânia, passando pelos desvarios do autoproclamado Estado Islâmico. Apesar de tudo, fica a nota positiva do menor número de incêndios, poupando vidas e bens, em Portugal.

O mergulho na ‘realidade’ vai ter, por isso, um pano de fundo diferente. De crise financeira em crise financeira, parece ser difícil ter um fundo de esperança para vislumbrar algo de diferente no futuro. Qualquer ténue sinal de recuperação tem sido abafado por cataclismos ‘imprevistos’, que ninguém conseguiu ou quis ver antecipadamente, deixando adivinhar mais do mesmo, para os mesmos.

Ganha por isso particular importância a reflexão sobre a dimensão social do anúncio do Evangelho que a Igreja Católica, através do seu Secretariado Nacional de Pastoral Social, quer promover. O labirinto da crise financeira, os constrangimentos orçamentais e os sacrifícios impostos em prol do pagamento da dívida estão longe de ser respostas para a vida de milhões de pessoas que acreditaram numa sociedade melhor, mais justa e fraterna - porque não dizê-lo, mais cristã.

 

 

O poder transformador do Evangelho é fundamental neste impasse civilizacional em que o projeto europeu parece estar mergulhado. A falta de valores comuns, de fundo, que ultrapassem a mera visão utilitarista das pessoas e das nações, ameaça a estabilidade e a paz, exigindo a mudança de paradigma e a recentralização das preocupações na pessoa e na dignidade de cada um, como o Papa Francisco tem vindo a repetir incessantemente.

Feitos os diagnósticos à crise,

 

 contestadas as receitas para as solucionar e abertas as feridas que todo este processo provocou, está na hora de procurar uma verdadeira cura e começar a construir o futuro. A Doutrina Social da Igreja, com o seu equilíbrio de princípios e o respeito absoluto por cada vida, por todas as vidas, que nunca podem ser instrumentalizadas, oferece um guia seguro para superar o desencanto ideológico de tantos e o aparente desnorte de quem devia ir à frente dos seus povos e, afinal, perdeu o rumo.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 
 

 

 

 

Papa Francisco cumprimenta o ex-futebolista Maradona, horas antes de este participar no primeiro jogo inter-religioso pela paz. Vaticano, 01.09.2014 @Lusa

 

 

 

 

 

Por uma razão de transparência, transcreve-se na íntegra, a resposta dada pelo presidente da República a perguntas de jornalistas sobre o Grupo Espírito Santo, no dia 21 de julho de 2014, em Seul

Presidência da República, em resposta a declarações do advogado Miguel Reis, um dos responsáveis pela defesa do consórcio de pequenos acionistas lesados pelo BES - Lisboa, 02.09.2014

 

Tal como muitas pessoas no mundo, os americanos sentem repulsa pela barbárie [do Estado Islâmico. Não nos deixaremos intimidar

Barack Obama, presidente dos EUA, em reação à execução do jornalista Steven Sotloff - Washington, 03.09.2014

 

 

 

 

 

 

 

Temos de trabalhar nesse sentido. A proposta de Orçamento do Estado para 2015 só será conhecida no início de outubro e é cedo para eu antecipar qualquer cenário. É evidente que o Governo como um todo trabalha para poder aligeirar a carga fiscal nos próximos anos

António Pires de Lima, ministro da Economia, falando aos jornalistas sobre "moderação fiscal" - Lisboa, 03.09.2014

 

Temos consciência que há responsabilidades do Governo, da ‘troika' e da supervisão e regulação. Naturalmente, é esta amplitude que nós queremos ver discutida e aprofundada na comissão de inquérito

Alberto Martins, líder parlamentar do PS, sobre a responsabilidade da ‘troika' no processo do BES - Lisboa, 03.09.2014

 
 

 

Número de jovens em risco
de pobreza é alarmante

O presidente da Rede Europeia Anti Pobreza (EAPN) Portugal, padre Jardim Moreira, considerou “surpreendentes” e “alarmantes” os dados do Eurostat que revelam um elevado risco de pobreza para os jovens no país. “Acho que neste momento a sociedade portuguesa corre graves riscos porque sem os jovens não temos gente nova, capaz e criativa na sociedade, gente a arriscar para a sociedade e eles próprios correm riscos de não constituírem famílias, não termos novas gerações”, disse à Agência ECCLESIA.

A estatística do Eurostat, revelada pelo ‘Jornal de Notícias’, mostra que 29,8% dos jovens portugueses entre os 20 e os 24 anos se encontram em risco de pobreza, uma percentagem que acompanha a média da União Europeia (UE) de 31,8%. O Eurostat divulga também que 31,3% dos jovens entre os 15 e 34 anos não estuda e está desempregado - a média da UE está nos 20,4% - o que para o padre Jardim

 

 Moreira “é muito grave” e revela “uma falta de visão e estratégia do bem nacional”.

O presidente da EAPN Portugal alerta que o “primeiro objetivo” não podem ser “apenas económico, apenas pagar a divida” porque as pessoas “são desprezadas em função do dinheiro” o que coloca em risco o modelo de sociedade atual “porque não corresponde ao bem das pessoas”. O padre Jardim Moreira considera que a estatística em causa é motivo de “muitas preocupações e muitos dilemas a curto e médio prazo”.

Na opinião do sacerdote, aos jovens portugueses também são colocados “alguns riscos sérios” como a “falta de horizonte, a falta de emprego, riscos de permanência na família” ou “problemas de não puderem avançar para o casamento”. Estas situações podem originar uma “destruturação espiritual” que desmotivam os jovens que se “tornam muitos passivos” ou “desperta uma ânsia de

 


 

 vencer e vencer até fronteiras saindo para o estrangeiro”.

O responsável entende que os jovens sentem uma “desmotivação muito profunda” e questionam “esta sociedade que não tem como primeira preocupação o bem efetivo dos seus jovens que vão constituir o futuro do país”. Para o sacerdote é necessário que os “responsáveis das estruturas da constituição

 

 da sociedade portuguesa” e “a sociedade em geral” apoiem os jovens, porque “as causas são estruturais”.

“A pessoa humana e os jovens precisam de respostas locais, mas o seu futuro dependem das estruturas nacionais e deste envolvimento e mudança de organização familiar, social económica do país”, observou o presidente da EAPN Portugal.

 

 

Universidade Católica procura chegar
a novos públicos

A Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa quer que os cursos à distância reforcem a sua “missão de fornecer itinerários de reflexão”, como refere o coordenador do Gabinete de Apoio à Formação Avançada.

“A Faculdade de Teologia cobre uma área de reflexão humana fundamental que é trabalhar a transcendência, a dimensão fundamental religiosa do ser humano e portanto cabe-lhe essa missão de fornecer itinerários de reflexão, de estudo, de formação”, adianta o professor Juan Ambrosio.

Nesse sentido, para além do “objetivo principal”, que é a formação de cursos que conferem grau académico em Teologia, “não pode descurar o contributo não só à comunidade crente, à Igreja em Portugal, mas a todo um público em geral com estas propostas”, desenvolve o responsável.

A Faculdade de Teologia apresenta dois cursos em 

 

 

 

 

regime de e-learning: o de Pensamento Social Cristão e a Síntese Catequética Avançada, na sua 11ª edição. “É um curso que tem tido muito sucesso, é verdadeiramente uma introdução  doutrina cristã” e já “foi frequentado por mais de 1000 alunos”, contabiliza Juan Ambrosio.

A outra proposta de formação à distância, o curso “Pensamento Social Cristão, memória e projeto” que se realiza pelo segundo ano, e é um itinerário centrado na Doutrina Social da Igreja que “não tem só uma componente doutrinal”, adianta o professor da Faculdade de Teologia.

 

 

 

 

 

 

 

Jornadas Nacionais da Pastoral Juvenil dedicadas à Família

"Família, um projeto" é “um tema basilar para todos” destaca o padre Eduardo Novo sobre o tema das III Jornadas Nacionais da Pastoral Juvenil que se realizam em conjunto com as Jornadas Missionárias 2014, nos dias 20 e 21 de setembro, em Fátima.

“Estas jornadas continuam o seu objetivo geral de descobrir, aprofundar e traçar ‘novos’ caminhos de evangelização a partir de Cristo e ‘ir aos jovens’ para que, com a experiência de encontro pessoal sejam testemunha do Evangelho na cultura de hoje”, explica o diretor do Departamento Nacional da Pastoral Juvenil (DNPJ).

Em comunicado enviado à Agência ECCLESIA, o padre Eduardo Novo sublinha que as III Jornadas Nacionais da Pastoral Juvenil/Jornadas Missionárias 2014 “conjugam dom e vocação, dom e missão”.

Esta iniciativa, em “união” com as Obras Missionárias Pontifícias (OMP), vai ser acolhida pelo Centro Paulo VI, em Fátima, e ao longo de dois dias, jovens e missionários “vão ter 

 

 

oportunidade” de partilhar as interrogações que “atravessam o quotidiano da vida”

O sacerdote considera a parceria “uma aventura de caminho eclesial” que une sinergias mas “demonstra também a importância da comunhão e de caminhar juntos na busca do essencial”. “Se o essencial é o que nos move, então é na alegria e no dinamismo da Fé que devemos parar o desassossego e aprofundar as razões da nossa fé, partilhando experiências, conhecimentos e saberes”, acrescenta.

Aos jovens é pedido que se insiram e renovem “a sua comunidade local” sendo “agentes de missão” com objetivos específicos, desenvolve o padre Eduardo Novo.

 

 

 

 

A Agência ECCLESIA lembra acontecimentos que marcaram a atualidade eclesial portuguesa no mês de agosto. Pode ler outras notícias dos últimos dias, atualizadas em www.agencia.ecclesia.pt

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Apoio à Vida

 

 

 

Jovens sem Fronteiras em Avelãs de Ambom

 

Estamos em guerra

+Pio Alves

Presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais

 

O alarmismo não faz o meu género. Dormir fora de horas também não. Não invento a afirmação: copio a afirmação do Papa Francisco, que, obviamente, sabe disto (e de tudo) muito mais do que eu. No regresso a Roma, da sua viagem apostólica à Coreia do Sul, falou da situação no Iraque, da “crueldade selvagem”, e afirmou: “estamos na Terceira Guerra Mundial, realizada por partes”. Assim.

E, digo eu, a guerra não começou agora. Foi somando episódios, bem encenados de democracia, aplaudidos ou, mais ainda, coadjuvados pelo Ocidente (Estados Unidos incluídos). Apenas a título indicativo: no Iraque, organizou-se a cruzada anti-Saddam. Quando todos se preparavam para repartir a reconstrução, tivemos que fugir deixando atrás a guerra, a miséria, o caos. Na Líbia foi perseguido até à morte o ditador Kadafi: ficou o canibalismo social. Enchemos a opinião pública com as maravilhas da “primavera árabe”, que rapidamente passou ao verão, ao outono e parece estagnar no inverno. A última grande festa teve (tem) como palco a Síria. O alvo a abater é Bashar al Assad. Durante meses, aplaudimos, comovidos, os heróis democratas da libertação. Afinal, descobrimos agora que estes se chamam jihadistas, que servem o projeto do “Estado Islâmico no Iraque e no Levante” (ISIS), que são parentes (desavindos) da Al-Qaeda, que projetam a sua extensão ao Ocidente

 

 

 Europeu, fazem limpezas étnicas, torturam, matam quem não está do seu lado, decapitam jornalistas com requintes de malvadez e publicidade. Entretanto, um grupo significativo de meninos (as) ocidentais servem, convencidos, a sua causa.

Em todos estes sítios, por coincidência (casual!), alguém lhes compra o petróleo, alguém lhes vende as armas. Quem será? Por cima e no meio de toda esta barafunda há satélites que tudo veem e espias que, supostamente, tudo conhecem. Onde estavam?

Apesar do atraso e da miopia, é melhor acordar tarde que não acordar nunca.

Sei que o Secretário Geral da ONU se diz “indignado” com estas barbaridades, que o Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas vai enviar uma missão 

 

ao Iraque; conheço (sumariamente) declarações dos mais altos responsáveis políticos mundiais. Tudo bem. Mas volto às interrogações anteriores: quem vende as armas? quem negoceia o petróleo? Mas, principalmente, que fazemos com os (as) nossos (as) meninos (as) grandes?

Afinal, nasceram cá, andaram (andam) por cá! Afinal, os mais vis fundamentalismos dão-se bem com os nossos caldos de cultivo. Colam bem em superfícies lisas. Não tenho soluções milagrosas. Convido a ler e refletir um recente artigo de Bruno Forte (“Fundamentalismo, barbárie moderna: o novo inimigo da humanidade”) e aprender a conjugar justiça, misericórdia, fidelidade. Vale a pena, até porque – afirma o Papa Francisco – estamos em guerra.

 

 

O regresso de setembro!

Carlos Borges,
Agência ECCLESIA 

 

Em setembro entramos num mês de recomeços e de maior stress que muitas pessoas sentem por voltarem à rotina do dia-a-dia, que normalmente centra-se por regressarem aos bancos da escola/universidade ou ao trabalho. Na Agência ECCLESIA para além de regressos e casa cheia assinalamos este mês com o regresso deste semanário digital.

E, neste frágil setor do trabalho ou da falta dele, setembro não trouxe boas noticias: A  Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) divulgou, esta quarta-feira, que as previsões para a taxa de desemprego, para 2015, situam-se nos 14,7%. Desta forma, Portugal deve continuar a registar a terceira maior taxa de desemprego entre os países da OCDE.

“Não prevaleça a lógica do lucro mas a da solidariedade e da justiça. No centro de todas as questões, também da laboral, deve ser sempre colocada a pessoa e a sua dignidade”, apelou o Papa, também esta quarta-feira, quando manifestou solidariedade a operários siderúrgicos italianos que vivem ameaça de desemprego.

Um apelo à justiça de Francisco que não se confina à Itália e a estes operários siderúrgicos, mas ultrapassa fronteiras e faz parte do cristianismo desde o seu início.

Este mês de setembro também começou com um forte apelo à paz, logo no dia 1, com um jogo inter-religioso promovido pelo Vaticano,

 

 

 no Estádio Olímpico de Roma, com jogadores da atualidade e ex-futebolistas como Maradona, Del Piero, Buffon e Pirlo, Shevchenko e Valderrama.
“É possível construir a cultura do encontro e um mundo de paz, onde os crentes de religiões diferentes, conservando a sua identidade, possam conviver em harmonia e no respeito recíproco”, disse o Papa Francisco quando se encontrou com estes promotores da paz antes do jogo de futebol.

Uma paz que está constantemente presente nas intervenções e preocupações de Francisco que tem feito incansáveis apelos para esta seja uma realidade em diversas regiões do mundo onde os conflitos, como na República

 

Centro Africana, Nigéria ou no Iraque, promovidos por militantes islâmicos contra minorias religiosas, onde se inserem os cristãos, continuam a aterrorizar e dizimar vidas inocentes.

No dia 5 de setembro, esta sexta-feira, também se assinala o Dia Internacional da Caridade, na data da morte da Beata Madre Teresa de Calcutá. Esta data é recente, foi instituída pela Assembleia-Geral das Nações Unidas apenas em 2012, através da Resolução 67/105. Se tiver tempo agende uma visita a uma das instituições da Cáritas mais próxima da sua residência e conheça este serviço da Igreja que vai estar de portas abertas para o receber.

 

 

A proposta do Evangelho
no contexto social da modernidade

«A dimensão social do anúncio do Evangelho – Desafios do Papa Francisco» é o tema de reflexão do XXIX encontro da Pastoral Social, que vai decorrer em Fátima, de 9 a 11 de setembro. O diretor do Secretariado Nacional da Pastoral Social, o padre José Manuel Pereira de Almeida, apresenta o programa e os objetivos deste encontro.

 

Agência Ecclesia(AE)  – No XXIX encontro da Pastoral Social apostam em sublinhar os apelos do Papa Francisco que coloca o sentido da evangelização nesta modernidade na linha do social indo ao encontro das necessidades das pessoas. Talvez assim o Evangelho também seja mais facilmente apreendido?

Padre José Manuel Pereira de Almeida (JMPA) – Creio que sim, na sequência da fidelidade ao Evangelho que é anunciado por Jesus com palavras e gestos. Os gestos são obviamente de leitura social ou eminentemente de cuidado com os que estão em último lugar, os mais frágeis, aqueles que precisam efetivamente.

O Evangelho é também anunciado com eles, não é para os pobres mas é também com os pobres. É uma Igreja de pobres, para os

 

 pobres como o Papa Francisco disse logo desde o início. O Papa até agora não publicou nenhum documento eminentemente social, como fez o Papa emérito Bento XVI na que continua a ser ainda a referência maior no âmbito da Doutrina Social da Igreja, a ‘Caritas in Veritate’, mas a quarta parte do documento «A Alegria do Evangelho», que é só para nós, não é dirigida para nós, é uma exortação apostólica, apesar de ter tido um acolhimento extraordinário fora da Igreja é exatamente isto, a dimensão social do anúncio do Evangelho.

Nós propusemo-nos ler, diria quase ponto por ponto ou grupos de pontos, esse convite que o Papa nos faz para viver o Evangelho de forma enraizada e com cariz claramente de anúncio social.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

AE – É um convite que leva a desinstalar-nos, a repensar práticas pastorais, formas de estar na Igreja. O Papa Francisco, neste capítulo IV, convida quase a uma mudança de paradigma?

JMPA – É verdade, até no que diz respeito à relação fé e compromisso social vamos destacar no painel do primeiro dia “Confissão da fé e compromisso social” (números 178-179), com três situações a partir da leitura do Evangelho de São Mateus, capítulo 25: “Vinha de fora e acolheste-me”; “estava preso e foste visitar-me” e “estava doente e foste ver-me”. São três áreas de pastoral social eminentemente especializada, os migrantes, a pastoral penitenciária e a pastoral da saúde com vultos que têm tido importância quer a nível da sociedade civil em geral, quer a nível da pastoral.

Isto a partir de uma conferência do patriarca de Lisboa sobre ‘O pensamento económico e social do Papa Francisco’, que creio vai ser uma bela síntese de tudo o que o Papa foi dizendo

 

 nas suas intervenções de tantas maneiras e tantos gestos que soube fazê-lo neste ainda breve pontificado.

 

AE – Considera que a Igreja está a conseguir responder e acompanhar este ritmo bastante acelerado que o Papa Francisco está a imprimir ou a tentar imprimir às estruturas da Igreja?

JMPA – É de facto um desafio para todos, embora seja uma palavra um bocado estafada, porque é uma desinstalação, é um convite a não ficar tudo na mesma porque se ficar tudo na mesma mais vale estar quieto. Passar de uma Igreja manutenção para uma Igreja de portas abertas com tudo o que isso implica.

Estas jornadas também vão ajudar as pessoas que participam a fazer esse exercício conjunto de acompanhar o Papa no seu sonho que o Evangelho chegue a todos.

 

 

 

 

 

AE – Os participantes das jornadas são representantes de movimentos e estruturas da Igreja que estão no terreno?

JMPA – Ao contrário da Semana Social, que é realizada para todas as pessoas, as Jornadas da Pastoral Social são como a exortação apostólica, ad intra da Igreja, e são pessoas de facto comprometidas em estruturas que têm este cuidado social e muitas delas dão-nos grandes 

 

exemplos na linha do que o Papa tem proposto.

Nós vamos e estamos a aprender com o Papa Francisco mas não vimos do zero e tenho experiência, ao longo destes anos que tenho estado na Pastoral Social, de aprender muito com a generosidade, a abnegação, a exigência, a qualificação e a qualidade técnica de muitos e muito técnicos e voluntários no âmbito da pastoral social mais ampla.

 

 

 

AE – Pede-se também capacidade de testemunho junto de quem mais sofrem e acaba por isso que depois credibiliza e valoriza diante do mundo a ação dos crentes?

JMPA – Exatamente, muitas vezes sem discursos ou sem palavras mas com serenidade do testemunho quotidiano e a coragem dessa vida entregue, vida dada ao jeito de Jesus.

 

AE – O programa das Jornadas da Pastoral Social tem diversos intervenientes e vão também fazer uma homenagem a monsenhor Feytor Pinto?

JMPA – Uma justa homenagem: é o meu predecessor na Pastoral da Saúde, foi quem fez a viragem em mais de 30 anos da pastoral dos doentes para uma pastoral da saúde com toda a complexidade que isso comporta, acompanhando e sendo também importante a sua participação no dicastério romano, no ministério da saúde da Santa Sé. O monsenhor Feytor Pinto pediu para deixar este cargo a nível nacional, continua na pastoral da saúde a nível diocesano em Lisboa. É uma referência incontornável a este âmbito 

 

e ainda bem que podemos fazer desta maneira. E depois da sua intervenção, no painel da tarde do dia 9 de setembro, vamos fazer um jantar de homenagem.

 

AE – O ritmo que ele implementou na Pastoral da Saúde e esta visão inovadora encaixam bem nos desafios do Papa Francisco. De alguma o Monsenhor Feytor Pinto teve essa intuição antes da nomeação do Papa?

JMPA – O que quer dizer também que existem muitas coisas que o Papa Francisco assume agora na pessoa do sucessor de Pedro que vêm sendo preparadas, quer pela reflexão teológica, quer pela reflexão teológica prática, pastoral, quer por ações concretas na comunidade eclesial mais vasta.

 

 

 

 

 

 

  

 

  

 

 

Presos, prisões, Papa Francisco

Todos os dias o Papa Francisco nos surpreende; veio de longe, carregado de questões, e com uma sensibilidade humana e cristã tão apurada, que nenhum espaço de dor, de sofrimento, de abandono lhe escapa!

Mas ele não gasta muito tempo em discursos bem arquitetados, com a cerrada argumentação lógica das ideias claras e distintas: o Papa faz, e diz como se deve fazer, com o seu saber testemunhado nos atos que desarmam qualquer indiferente.

Como se sabe, as Pessoas Presas, reclusas nas nossas Prisões, são provenientes das nossas comunidades; são nossas conhecidas; têm um coração que sente e sofre as agruras da vida e dos comportamentos, seus e dos outros. E sofrem, especialmente, porque muitas vezes não se sentem sozinhas responsáveis pelos ilícitos cometidos: atrás de si vem o grande cortejo da Família, da Paróquia, dos Colegas de trabalho ou de convívio… tanta gente!

Os Presos são Pessoas, com dignidade e com sonhos, com direito a Viver um futuro diferente.

 
Não há muito que o Papa Francisco volta a um tema que lhe é querido, e tantas vezes já sublinhado nas suas conversas e escritos: “A Igreja é chamada a sair de si mesma e ir para as periferias, não somente as geográficas, mas aquelas existenciais – do mistério do pecado, da dor, da injustiça, da ignorância, da falta de fé, do pensamento, de todas as formas de miséria”.

É que as periferias que o Papa aponta, não são as da geografia, mas sim as pessoas que correm o risco de permanecerem na margem, perdidas, e em permanente risco de anonimato, de esquecimento e de morte antecipada.

Na primeira Semana Santa, como Papa, a surpresa foi enorme, para muita gente, quando o Santo Padre foi fazer a Celebração do Lava-Pés, em Quinta-feira Santa, numa casa de detenção; e lavou os pés a pessoas tidas como delinquentes, algumas de outras confissões religiosas, e até a uma pessoa de sexo feminino, para espanto dos religiosos mais farisaicos.

 

 

 

Com este maravilhoso gesto de aproximação a pessoas detidas e privadas de liberdade, o Papa veio dizer-nos que o Mestre foi enviado a anunciar um ano de graça, e a libertação aos cativos.

O Santo Padre elegeu a “Fraternidade, Fundamento e Caminho para a Paz” como tema central da sua primeira Mensagem para a Jornada Mundial da Paz (2014), onde denuncia explicitamente ”as condições desumanas de muitas

 

 cadeias, onde o Recluso, muitas vezes, fica reduzido a um infra-humano e humilhado na sua dignidade humana, impedido também de qualquer vontade e expressão de redenção”.

Trata-se de entender que as prioridades de Jesus Cristo, o Mestre, andaram sempre pela aproximação aos mais débeis, aos mais pobres, e mesmo aos que eram marcados por rótulos de incumpridores legais.

Sabemos que a Santo Padre

 

 

 

 dedica algum do seu tempo a falar com Presos; fazia-o quando era Bispo de Buenos Aires: sempre que recebia uma carta de um Recluso, ia visitá-lo; agora, se algum lhe escreve, o Papa telefona-lhe, “principalmente aos Domingos, e conversamos um pouco”; e, quando acaba de falar, diz o Papa, fica a pensar: “porquê ele e não eu” ”…As fraquezas humanas são as mesmas…então por que ele caiu e eu não?”. Diz o Santo Padre que isso é um mistério, que o deixa a pensar…e a nós também! E pede-lhes “que não desanimem e que não desistam”…

É interessante ouvir um Papa dizer que Deus está lá dentro, nas suas Celas e Camaratas; que Deus está preso com os presos; que “Deus também é um prisioneiro, em cada um de nós, nos nossos egoísmos, nos nossos sistemas cheios de injustiça; pois é fácil punir os frágeis, enquanto os peixes grandes nadam livremente nas águas. Nenhuma cela é tão isolada que possa excluir o Senhor: não, Ele está lá, chora com os detidos, trabalha com eles, mantém viva a esperança

 

 juntamente com eles; o Seu amor paterno e materno chega a todo o lado”.

Uma das grandes causas de sofrimentos das pessoas privadas da liberdade, é não poderem ver o seu futuro com a esperança a que têm direito. Em Portugal não se está preso em “prisão perpétua”; mas isso só será mesmo verdade, quando o Sistema e as filosofias que sustentam e caucionam a privação de liberdade de uma Pessoa forem mais humanas e humanizantes.

O que se pretende com a detenção de uma pessoa é, principalmente, a sua recuperação, de modo a que volte para vida em sociedade sem cometer crimes.

Por isso se diz que todo o esforço para a reinserção de uma pessoa presa, começa no dia em que ela é detida. Assim deveria ser, realmente!

Em junho de 2014 o Papa esteve numa Prisão de Itália – Estabelecimento Prisional de Castrillari, região de Calábria – onde, de novo, afirmou “que o cumprimento da pena de prisão deve ser acompanhado de um compromisso das instituições

 

 

 

 

 (diga-se Prisões!) na reinserção; caso contrário reduz-se a uma “punição prejudicial”.

E o Papa afirma e confirma que uma verdadeira reintegração não se completa sem um real encontro com Deus, que sempre perdoa, acompanha e compreende. É a questão, sempre verdadeira, da dimensão espiritual do Homem, a precisar de ser aprofundada e redimensionada nas Prisões em Portugal, quer com uma legislação da assistência espiritual e

 

 religiosa dos Reclusos mais adequada, quer com uma presença mais forte, preparada e sistemática de quem vai à Prisão em nome da Igreja.

O que o Papa Francisco vai dizendo, em muitas e diversas circunstâncias, sobre a reinserção social das pessoas privadas da liberdade, vem reforçar aquilo de que todos estamos convencidos; e essa força que ele nos dá, leva-nos a falar cada vez mais alto, sobre a urgência da reformulação do nosso Sistema Prisional.

 

 

 

Gostaríamos de o ver muito mais voltado para uma clara preocupação com a integração das Pessoas, quando voltam para o seu lugar na sociedade, do que para a punição pelo ilícito cometido. Tudo deveria estar voltado para a recuperação das Pessoas delinquentes, muito mais do que para uma punição que, se não for devidamente acompanhada, torna-se inútil, revoltante, e até destruidora da Pessoa que a suporta.
Entendo que a vida tem de ser olhada para o futuro, muito mais do que para o passado; embora quem erra deva ser chamado à sua responsabilização e, porventura, ter de passar por um tempo de punição ou de um castigo adequado, mas sempre na perspetiva da recuperação pessoal, na preparação de um futuro esperançoso, por muitos,  - e tantas vezes - nunca feito até então!

Por outro lado, a reincidência, entre nós, tem números que fazem pensar! Se se investisse mais na prevenção e, nos casos de alguém ter feita a má 

 
experiência da reclusão, o investimento fosse feito entre os que vão saindo das Prisões, acredito que as percentagens de reincidência diminuiriam drasticamente. Aliás, isso está dito, e tomado como decisão, já muito divulgada, pela Direção Geral da Reinserção e Serviços Prisionais (Dr. Licínio Lima), inclusive responsabilizando os Diretores dos Estabelecimentos Prisionais pela reincidência dos que vão saindo em liberdade.

Isto significa, por certo, que vai dar-se muito mais atenção à preparação para as saídas, fornecendo saberes e experiências às Pessoas em reclusão, para que ao deixarem os Estabelecimentos Prisionais, venham com competências laborais, habitacionais e outras, para poderem refazer o seu futuro em liberdade, dentro de parâmetros de vida a que possamos chamar de normalidade.

Quando o Papa Francisco fala, repetidamente, que o tempo da prisão deve ser um tempo de preparação para a reinserção, 

 

 

 

 

quer dizer que o trabalho, o estudo e outras qualificações, 

devem estar presentes no dia a dia das cadeias; que as instituições penitenciárias têm de ser munidas de condições para que isso aconteça, efetivamente!

Também aqui se deve falar da dignidade da Pessoa Presa; uma pessoa submetida a uma pena de não-trabalho, é permitir que, na pessoa, não se desenvolva a dimensão da realização pessoal e social; é criar o sentido da inutilidade e, muitas vezes, da preguiça e da dependência.

Ora as nossas Prisões não estão, todas, providas de oportunidades para que cada um, que queira, possa trabalhar; quando se sabe que a ressocialização pelo trabalho é inquestionável.

O Artigo 23º da Declaração Universal dos Direitos do Homem afirma que “Toda a pessoa tem direito ao trabalho”; e a nossa Constituição da República confirma o mesmo, ao dizer: “Todos têm direito ao trabalho” -  Artigo 58º. Portanto, também neste capítulo, há muitos incumpridores!

 
A Sociedade Portuguesa e as suas instituições governamentais, eclesiais, laborais e outras, têm aqui um espaço de programação e de trabalho, que vai dar muito que fazer… Ou então, se nada mudar, com toda a urgência, e se tudo continuar a estes ritmos, as nossas Prisões serão o que têm sido até agora; e os mais responsáveis dizem, em coro, que elas não estão a cumprir a função para que foram criadas.

O anúncio do Evangelho tem uma dimensão social que não podemos silenciar. Aliás, a nossa Fé de Cristãos tem como nota de identificação, a prática da Caridade. A Exortação Apostólica do Papa Francisco - A Alegria do Evangelho -, não perde a oportunidade, nem a validade; nem o que ela acarreta de novidade e de compromisso. São os permanentes desafios, sempre surpreendentes, do Papa Francisco! Também para o campo da Pastoral Penitenciária.

 

Padre João Gonçalves

Coordenador Nacional de Pastoral Penitenciária

 

 

Diálogo transformador e pacificador

O Papa Francisco, na Exortação Apostólica Evangelii Gaudium (nºs. 53 e 59) afirmou que «esta economia mata» e que «o sistema social e económico é injusto na sua raiz». Estas denúncias têm sido bastante difundidas mas, pelo contrário, não se tem chamado a atenção para as vias de solução defendidas pelo Papa. Em síntese, pode afirmar-se que essas vias se baseiam no diálogo transformador e pacificador; diálogo que é sempre indispensável por maiores que sejam a injustiça e as desigualdades (nºs. 238-239). Segundo a Exortação, a melhor forma de enfrentar o conflito - social ou outros - consiste em suportá-lo, «resolvê-lo e transformá-lo no elo de ligação de um novo processo» (nº. 227). Não se trata da imposição de uma parte em conflito  sobre a outra,  mas sim de reconhecer que nenhuma possui o monopólio da verdade; e há que descortinar a orientação recomendável através da «comunhão nas diferenças» (nº. 228). Por esta via não se põem em causa as verdades reveladas nem os princípios fundamentais, pois o que está em causa são

 

 «situações contingentes (nº. 182»; relativamente a estas, nã incumbe à Igreja mas sim às  populações, suas organizações e poderes constituídos procurar as soluções adequadas (cf. nºs. 182 e 241). É precisamente nestes meios que os leigos vivem, e naturalmente, devem intervir no seu dia a dia (cf. nºs. 182-184 e 201). 

O diálogo, assim entendifo, é eminentemente pacífico e pacificador (nº. 227) porque, sem vencidos nem vencedores, se orienta para a «resolução (...) que conserva em si as preciosas potencialidades das polaridades em contraste» (nº. 228). Além de pacífico e pacificador, é também transformador, em profundidade, porque exige a procura permanente de sínteses, tão avançadas e profundas (radicais) quanto possível,  das posições em confronto. Mesmo quando não se ultrapassem os conflitos, incluindo os conflitos armados, e mesmo quando o diálogo não é assumido pelas forças dominantes, ele pode fazer o seu caminho, eventualmente invisível e até clandestino.

 

 

 

 

 

 

 

A Exortação Evangelii Gaudium enfatiza «três campos de diálogo: «com os Estados, com a sociedade (...) e com outros crentes que não fazem parte da Igreja Católica» (nº. 238). Mas não descura - bem pelo contrário - o diálogo no interior da Igreja: 
 
lamenta a «guerra» entre irmãos  (nºs. 98-100), e convida ao «testemunho de comunhão fraterna» (nºs. 99-101). 

 

Acácio F. Catarino

 

 

 

 

O pensamento económico
e social do atual Papa

O pensamento económico e social do atual Papa expressa uma visão lúcida dos problemas atuais, que só poderá surpreender quem anda desatento a esses problemas, e quem leu com pouco cuidado os textos bíblicos onde a doutrina cristã sobre temas semelhantes é expressa. O tom crítico com que Francisco trata o problema das desigualdades sociais segue na linha daquele que encontramos nos Evangelhos, especialmente no de S. Lucas. E quando o discurso se torna mais incisivo, como na referência aos trabalhadores que não recebem o salário adequado ao seu trabalho, Francisco está simplesmente a citar a Carta de S. Tiago. O Cristianismo surgiu num contexto de enormes desigualdades sociais, características do Império Romano. E a posição cristã face às desigualdades sociais foi clara desde o início.

As desigualdades sociais não são menos importantes hoje do que foram nesse tempo, e não têm sido tratadas adequadamente nem na política económica

 

 e social, nem na teoria económica dominante. Aliás, esta última foi construída de modo a ignorar esta questão, assumindo que a distribuição do rendimento é determinada automaticamente pelo mercado, e que não se deve interferir nessa ação do mercado. A inconsistência dessa visão foi demonstrada na chamada controvérsia de Cambridge sobre a teoria do capital, onde ficou claro que a distribuição do rendimento não é determinada automaticamente, sendo antes determinada por forças institucionais e políticas. Deixar os mercados financeiros globais reger a distribuição do rendimento é também uma decisão política, que aliás implica ação política permanente para garantir a reprodução desse sistema de distribuição.

Francisco compreende de um modo claro esta questão, explicando como a desigualdade social é a fonte dos problemas sociais, e que é necessário procurar as causas estruturais dessa desigualdade. O Papa encontra essas causas

 

 

 

 

 precisamente no facto de se deixar a distribuição do rendimento (e da riqueza) ao cuidado dos mercados financeiros globais, classificando como “ingénua” a crença de que o sistema económico dominante, ou aqueles que o controlam, partilharão a prosperidade com os menos favorecidos.

Os textos de antecessores de Francisco distinguiam entre uma economia que serve a liberdade  

 

humana, e um capitalismo que se serve dos seres humanos limitando a sua liberdade. Infelizmente, esta última descrição fornece uma caracterização mais realista do sistema económico atual. O pensamento económico e social do atual Papa resulta do reconhecimento deste facto.

Nuno Ornelas Martins

Docente da Faculdade de Economia
e Gestão da Católica Porto

 

Fazer de uma instituição um lar

São 50 as crianças e jovens, entre os oito e os 23 anos, que atualmente encontram na Casa Mãe do Gradil o seu lar e ali ganham competências para serem autónomas com um projeto de vida formado. “Lembro-me perfeitamente dessa tarde. Foi uma grande emoção e estranho, ao mesmo tempo. Estava a mergulhar no desconhecido, não sabia o que me esperaria”, recorda Joana Trinta, 20 anos, a residir na instituição há 13 ou 14 anos, a primeira vez que entrou na Casa.

Enquanto aguarda a confirmação de que a sua vida nos próximos anos passará pela Universidade do Algarve, para estudar Marketing, Joana partilha com Neuza Augusto a certeza de que a sua vida teria sido muito diferente “se continuasse lá fora” junto dos seus pais. Finalista do curso de treino de ginástica, futura treinadora de atletas olímpicos, Neuza viveu mais de metade da sua vida nesta instituição, onde há 16 anos entrou pela primeira vez com a sua irmã.

 

 

Com a distância e maturidade que, admite, a Casa Mãe do Gradil lhe deu, Neuza, com 23 anos, afirma que este é um tempo para “aproveitar tudo o que a instituição pode dar”.

“Os momentos em família, porque esta acaba por ser a nossa família, as brincadeiras, tudo. A infância não tem de se tornar pior por estarmos aqui”. Uma vida igual a tantas outras mas que acontece dentro de uma quinta, porque, por diversos motivos estas crianças e jovens, todas mulheres, não puderam crescer junto das suas famílias de origem.

Desde 1948 que a Casa Mãe do Gradil é uma resposta social trabalhando em parceria com a equipa centralizadora de vagas da Segurança Social que, de acordo com as características das instituições, encaminha os casos de crianças “atualmente mais velhas e pré adolescentes” para os centros de acolhimento.

 

 

 

A diretora técnica da instituição, Dina Alves, explica que a reintegração familiar é o objetivo, “trabalhando paralelamente com as famílias de origem”, mas essa meta nem sempre é conseguida, fazendo com que o tempo de permanência se estenda e a instituição invista num processo de autonomização com as jovens.

Enquanto o desenvolvimento pessoal decorre, a Casa Mãe do Gradil quer proporcionar uma vivência o mais familiar possível, estando organizada em cinco unidades habitacionais para 10 crianças cada uma, onde uma madrinha é responsável diariamente pela educação e organização do espaço.

 
“É um espaço vivo não é um museu”, explica Sofia Parente, diretora geral da instituição, dando conta da similaridade que se pretende com qualquer outro espaço familiar.
A Casa Mãe do Gradil desenvolve ainda o serviço de apoio domiciliário a utentes mais idosos.

As respostas sociais desenvolvidas pela Igreja Católica vão estar em destaque no programa Ecclesia na Antena 1, este domingo, onde apresentamos a reportagem na Casa Mãe do Gradil e um trabalho do padre Nuno Rosário Fernandes na paróquia de Nossa Senhora do Amparo, em Benfica, ambas no Patriarcado de Lisboa.

 

 

 

Francisco: desafios à Caridade no atual contexto social e económico

Olhando para trás, num período de cerca de cinco anos, podemos hoje compreender a forma como a europa atual, em nome de uma complexa modernidade, se deixou aprisionar e tornar-se vítima dos efeitos da ação dos mercados financeiros. O resultado mais visível é o condicionamento do futuro de muitas famílias, em particular das classes média e baixa.

Torna-se cada vez mais evidente a urgência em encontrar novas estratégias que não apenas nos libertem da “escravatura dos mercados”, mas também e, principalmente, que nos inspirem e nos motivem a encontrar alternativas credíveis para que surja uma civilização nova, mais alicerçada na valorização da Pessoa e facilitadora da concretização de todos os princípios que a coloquem nos caminhos da sua realização humana e espiritual. Este tem sido o desafio constante do Papa Francisco quer ao denunciar uma “economia que mata” (EG 53), 

 

exortando «a uma solidariedade desinteressada e a um regresso da economia e das finanças a uma ética propícia ao ser humano» (EG 58), quer ao pedir que os cristãos abandonem aquilo a que chama de “cómodo critério pastoral” (EG 33).

A Cáritas, em Portugal, está atenta a todas as exortações que Francisco tem deixado ao mundo e disponível para aceitar os desafios delas decorrentes. Assim, tem procurado, nos últimos anos, ser fonte de inspiração para toda a sociedade civil. Projetos como In SpiraCriactividade+Próximo e Dar e Receber são algumas das tentativas de concretizar iniciativas que possam ir ao encontro das preocupações do Papa, tentando desbravar caminhos de integração das principais vítimas de uma “economia da exclusão” que são considerados «como um bem de consumo quese pode usare depois lançar fora (EG 53) -. A Cáritas acredita que o trabalho em rede, feito com base na proximidade, 

 

 

 

 

é a melhor forma de alcançar o sonho desta Igreja à luz da “nova evangelização” e que deve ter, no encontro com as “periferias”, o “novo ardor” reclamado por S. João Paulo II.

Cada uma das iniciativas, atrás referidas, apresenta-se, não como a única solução para os problemas que pretende eliminar, mas ser uma, entre outras, expressões da ação da Cáritas enquanto «instância típica e oficial para a promoção da ação social da Igreja» (IPASI 31). Elas 

 

pretendem ser força libertadora e promotora do desenvolvimento pessoal e sócio-local, pois através delas procuramos defender e colocar acima de tudo a dignidade de cada pessoa; são projetos que se dispõem à solidariedade, ao compromisso, à corresponsabilidade.

Na Cáritas lutamos contra o indiferentismo face à atual situação de empobrecimento crescente, porque a indiferença mostra o desprezo concreto pela vida humana, jamais 

 

 

 

 

 

a poderemos calar.

É a opção preferencial pelos pobres que faz com que a Cáritas assuma a dimensão profética como parte essencial da sua missão. Porém, não reduz a sua profecia, dando destaque à denúncia dos já aludidos 

 

mecanismos perversos da economia de mercado que prejudicam, fundamentalmente, os pobres. A Cáritas esforça-se também por ser fonte de esperança, estimulando a busca de novos modelos orientados para uma economia 

 

 

 

 

 

 

de solidariedade que proporcionem a promoção humana integral, assente em valores que se entranhem no âmago das pessoas, através de mecanismos educativos que tenham em conta todas as dimensões do ser humano.

É preciso que a pessoa descubra a estranha certeza de ir desvendando dimensões essenciais da sua existência. 

Possuído por um misterioso 

 

sentido de Justiça, de Tolerância, de Igualdade, de Fraternidade e de Solidariedade é levada a 

respeitar os seus semelhantes no que eles têm de mais sagrado: a sua liberdade e a sua diferença!

Este é um combate muito 

exigente, mas é necessário que «Não deixemos que nos roubem a esperança!» (EG 86).

 

Márcia Carvalho

Cáritas Portuguesa

 

 

Empreendedorismo para superar a crise

O projeto CRIA(C)TIVIDADE, surge no âmbito do projecto “O Franchising Social potenciado pelo Marketing Social” e é desenvolvido pela Cáritas Portuguesa, com o apoio técnico-científico da IPI Consulting Network, sendo co-financiado pelo Programa Operacional de Assistência Técnica/Fundo Social Europeu.

A Cáritas Portuguesa foi a instituição da Economia Social que num período conturbado do país, década de 80, geriu um fundo destinado ao empreendedorismo e a indivíduos em situações sociais adversas, os retornados, com resultados positivos quer na integração desse universo, quer no desenvolvimento económico de determinadas regiões do país.

Contudo, Portugal voltou a vivenciar uma nova crise 

 

económico-financeira, fruto da crise global de 2007-2008, e da crise da dívida pública da Zona Euro que tem o seu início em 2009, e que afectou particularmente os países mediterrânicos europeus. Durante este período verificou-se que o desemprego, as desigualdades sociais e o nível de pobreza aumentaram significativamente.

Perante este contexto e com a redução do acesso ao mercado de trabalho, o empreendedorismo surge como uma possível solução a indivíduos em situações sociais adversas.

O histórico da Cáritas Portuguesa, para além do seu trabalho desenvolvido com mais de 30 anos na inclusão social dos mais desfavorecidos, justifica o desenvolvimento do projecto 

 

 


CRIA(C)TIVIDADE enquanto suporte ao empreendedorismo social e servindo de alavanca para que os cidadãos portugueses em situação de pobreza, criem a sua própria autonomia financeira e construam os pilares de um futuro laboral sustentável neste momento de crise.

Deste modo, o CRIA(C)TIVIDADE tem dois grandes objectivos. Por um lado, a implementação e apoio de acções inovadoras de promoção da actividade que possibilitem autonomizar financeiramente pessoas em situação de desemprego e combater a pobreza e as desigualdades sociais, e por outro lado, criar e/ou replicar o seu próprio franchising 

 

social ou de promover e desenvolver o mesmo em Portugal, assistindo outras instituições a lançarem o seu próprio sistema de franchising social.

Neste seguimento, a Cáritas constituiu um Gabinete de Criação e Acompanhamento de Projectos, visando a promoção da difusão do Franchising Social, e o apoio a pessoas com interesse e capacidade para a criação de microempresas ou actividade por conta própria, nomeadamente através da realização de experiências piloto que abrangem todo o país.

 

Mafalda Ferreira Santos,

Cáritas do Porto

 

 

Caridade, Justiça, Solidariedade

O Semanário ECCLESIA vai ter uma edição especial no dia 25 de setembro, com coordenação científica do Centro de Estudos de História Religiosa (CEHR) da Universidade Católica Portuguesa. A revista, com mais de 120 páginas, aborda desde várias perspetivas as temáticas fundamentais da caridade, justiça e solidariedade, ao longo da história da humanidade.

António Matos Ferreira, do CEHR, explica na apresentação do número especial que o objetivo é “remeter para aspetos de convergência, mas também para processos de diferenciação”, através de um “transcurso histórico de problemas e de testemunhos”.

“Caridade – Justiça – Solidariedade: não são três tópicos inócuos, mas correspondem a vivências conducentes não só a possibilidades em si mas também a instâncias pedagógicas que colocam a alteridade como referência radical (como a raiz das relações) ao bem-querer do viver em sociedade”, escreve.

 
Para este responsável, os desafios da sociedade contemporânea apelam a uma “maior reflexão” e ao aprofundamento de questões que, “apesar de se manterem em aberto, implicam a intervenção de todos”.

O cónego João Aguiar Campos, diretor do Secretariado Nacional das Comunicações Sociais, sustenta por sua vez que esta é uma reflexão “mais que oportuna, pois que a crise social que vivemos se transformou já em crise antropológica, nomeadamente nos modos de conceber e manipular a vida”.

 

 

«Com o trabalho não se brinca»

O Papa manifestou esta quarta-feira a sua solidariedade a operários da siderurgia e a fiéis da Diocese de Terni-Narni-Amelia, localizada na Úmbria, centro da Itália, afirmando que “com o trabalho não se brinca”.

“Quem por motivos de dinheiro, de negócios, por querer ganhar mais, tira o trabalho, saiba que tira a dignidade às pessoas”, alertou Francisco, falando de improviso durante a audiência pública semanal, que decorreu na Praça de São Pedro.

Numa intervenção saudada pelas palmas de dezenas de milhares de pessoas, o Papa quis unir-se aos apelos do bispo de Terni-Narni-Amelia, manifestando a sua “profunda preocupação pela grave situação que estão a viver tantas famílias” por causa dos projetos da empresa ‘Thyssenkrupp’, novos proprietários da companhia siderúrgica ‘Acciai Speciali Terni’.

O grupo alemão apresentou nas últimas semanas um programa que visa uma poupança de 100 milhões de euros em cinco anos e implica o despedimento de 550 trabalhadores.

 
“Mais uma vez, dirijo um forte apelo para que não prevaleça a lógica do lucro, mas a da solidariedade e da justiça. No centro de todas as questões, também da laboral, deve ser sempre colocada a pessoa e a sua dignidade”, disse o Papa.

Francisco tinha recebido em audiência, no último dia 20 de março, os operários siderúrgicos de Terni e as suas famílias, no Vaticano.

Na ocasião, o Papa sustentou a necessidade de promover o emprego e proteger a “dignidade” de quem trabalha, reforçando as críticas a uma sistema que coloca o “dinheiro” no centro.

“Que podemos dizer perante o gravíssimo problema do desemprego que atinge vários países europeus? É a consequência de um sistema económico que já não é capaz de criar trabalho, porque colocou no centro um ídolo, que se chama dinheiro”, lamentou.

Ainda esta quarta-feira, o Papa Francisco evocou o início da II Guerra Mundial (1939-1945) e rezou pela paz na Europa,

 

 

 

 

 

num momento em que o continente vive em clima de tensão por causa dos confrontos no leste da Ucrânia.

“Invoquemos o dom da paz para todas as nações da Europa e do mundo”, apelou, durante a saudação aos peregrinos polacos. “Hoje, em especial, temos necessidade de paz”, acrescentou.

A intervenção do Papa deixou 

 

 

 

também uma palavra aos cristãos “perseguidos” e “indefesos”. “Hoje quero assegurar-lhes a minha vizinhança: estais no coração da Igreja, a Igreja sofre convosco e está orgulhosa de vós, orgulhosa por ter filhos como vós. Sois a sua força e o testemunho concreto e verdadeiro da sua mensagem de salvação, de perdão e de amor”, afirmou.

 

 

ONU das religiões

O Papa recebeu hoje no Vaticano o ex-presidente israelita Shimon Peres, que lhe apresentou a ideia de uma ‘ONU das religiões’, informou o diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé. Segundo o padre Federico Lombardi, o encontro privado durou cerca de 45 minutos,  na Casa de Santa Marta, onde Francisco reside, ao início da manhã, após a Missa a que o Papa preside habitualmente.

Os dois responsáveis tinham estado juntos pela última vez a 8 de junho, no encontro de oração pela paz convocado pelo Papa Francisco; Shimon Peres, na condição de presidente de Israel, uniu-se ao presidente palestino, Mahmoud Abbas, e ao patriarca de Constantinopla (Igreja Ortodoxa), Bartolomeu.

Em entrevista à edição italiana da revista ‘Família Cristã’, Peres explicou a sua ideia de uma ‘Organização das Religiões Unidas’. “No passado, a maior parte das guerras eram motivadas pela ideia de nação. Hoje, pelo contrário, as guerras 

 

desencadeiam-se sobretudo com a desculpa da religião”, precisou o ex-presidente de Israel, para quem a ONU “já teve o seu tempo”.

Para este responsável, é necessária uma "ONU das religiões", que seria "a melhor forma de combater os terroristas que matam em nome da fé".

O padre Federico Lombardi disse aos jornalistas que o Papa não se comprometeu com esta ideia e que explicou a Peres o trabalho já desenvolvido pela Santa Sé nas áreas do diálogo inter-religioso e da paz.

O Vaticano revelou ainda que Francisco se encontrou em privado com o príncipe El Hassan bin Talal, da Jordânia.

 

 

 

Igreja é «mãe» e Maria
o seu «rosto mais terno»

O Papa Francisco disse no Vaticano que a Igreja é uma “mãe” para todos os católicos e que nenhum batizado se deve sentir “órfão”, porque tem a proteção da Virgem Maria. “Olhando para Maria, descobrimos o rosto mais belo e terno da Igreja; olhando para a Igreja, reconhecimentos os traços sublimes de Maria. Nós, cristãos, não somos órfãos, temos uma mamã, uma mãe, e isto é grande. Não somos órfãos: a Igreja é mãe, Maria é mãe”, declarou, perante dezenas de milhares de pessoas reunidas na Praça de São Pedro, para a audiência pública semanal.

“A Igreja somos todos nós, não somente os sacerdotes ou nós, bispos, mas somos todos. A Igreja somos todos nós”, prosseguiu.

A intervenção prosseguiu o ciclo de catequese sobre a Igreja, que “continua a gerar novos filhos em Cristo, sempre na escuta da Palavra de Deus e na docilidade ao seu desígnio de amor”.

Francisco sublinhou que a Igreja é marcada pela “coragem” de uma mãe que conhece a

 

importância de “defender os próprios filhos dos perigos que derivam da presença de satanás no mundo”. “Esta defesa consiste também em exortar à vigilância: vigiar contra o engano e a sedução do maligno. Porque mesmo que Deus tenha vencido Satanás, ele volta sempre com as suas tentações como leão que ruge á nossa volta, procurando devorar-nos”, precisou.

Neste sentido, o Papa apelou a dar testemunho da “coragem materna da Igreja”.

Francisco deixou uma saudação aos peregrinos de língua portuguesa, incluindo os grupos da Baixa da Banheira e os crismandos de Cristo-Rei da Portela.

 

 

 

A Agência ECCLESIA escolhe alguns acontecimentos que marcaram a atualidade eclesial internacional no mês de agosto. Pode ler outras notícias dos últimos dias, atualizadas em www.agencia.ecclesia.pt

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Síria: Cáritas mostra rosto de crianças refugiadas

 

 

 

Papa lembra início da II Guerra Mundial 

 

«Diário de Viagem Costa do Marfim»

O livro ‘Diário de Viagem Costa do Marfim’ revela uma experiência de voluntariado em Marandallah através dos desenhos, das cores e do texto de Mário Linhares e Ketta Cabral Linhares. “Para mim havia uma questão muito importante, saber como é que a missão e o desenho, as artes, se podiam conciliar, porque eu pensava que os médicos fazem muito mais falta em países destes”, revela Mário Linhares, dos Leigos Missionários da Consolata, que realiza “um trabalho muito próximo” deste instituto religioso desde 1997.

Uma pergunta que ao longo dos anos, “com os testemunhos de padres e irmãs”, estava “sem solução” até que na tese de mestrado o entrevistado decidiu “tentar conciliar o tema da religião, do cristianismo, com o desenho”, explica à Agência ECCLESIA.

 

O objetivo de registar o quotidiano na missão dos Missionários da Consolata em Marandallah, no norte da Costa do Marfim, surgiu como uma

 

experiência de voluntariado diferente.

A ideia de publicar um livro-diário apareceu apenas quando se encontravam no local por sugestão dos sacerdotes presentes que também “deram algumas indicações” como o registo da “primeira casa” e emprestaram o “diário da missão dos primeiros tempos”, desenvolve Mário Linhares.

O autor conta que um dos primeiros desenhos que fizeram foi a dois chefes da aldeia, que tem quatro autoridades, cada um com a sua área, depois do ritual inicial de apresentação. “Se havia desenho que tinha de correr bem era este, porque ele ia autorizar-nos a continuar a desenhar na aldeia, era um livre-trânsito, às vezes mostrávamos esse desenho quando íamos desenhar outras pessoas”, comenta o voluntário.

Mário Linhares recorda ainda o momento em que foi ver uma mina de ouro “a céu aberto” e pediu a um habitante que estava com um detetor de metais para o desenhar e “todos pararam para ver porque naquele momento

 

 

 

 

 

 

 

 o desenho era mais raro que o ouro”.

Por onde andassem a desenhar, os habitantes de Marandallah, que não estavam habituados a este registo, paravam “sempre” e rodeavam os missionários desenhadores para verem a ilustração aparecer.

O leigo dos Missionários da Consolata destaca que os habitantes faziam perguntas sobre a sua presença, por isso considera que “a missão não começa por imposição” mas porque as pessoas perceberem que “podem conversar, questionar”. “Para nós,

 

 

 

esta conversa intima e próxima sobre as motivações que nos levam a sair de um sítio para o outro é que verdadeira missão”, acrescenta Mário Linhares.

O livro “Diário de Viagem Costa do Marfim”, com 192 páginas, é uma edição bilíngue português/francês com desenhos, textos de enquadramento e algumas fotografias: “Houve sempre um trabalho de tentar fazer uma edição a um custo acessível para as pessoas adquirirem e ao mesmo tempo não descurando a autenticidade das páginas”.

 

 

 

 

 

 

Setembro 2014

06 SET a 07 SET

Fátima - Encontro nacional dos Convívios Fraternos com o tema «Atreve-te a amar».

 

07 SET

Lisboa - Palácio da Cidadela de Cascais - Encerramento da exposição «O brilho da Fé - ourivesaria sacra em Bragança»

 

08 SET a 12 SET

Funchal - Convento de Santa Clara

Semana Bíblica da Madeira com o tema «A Bíblia, Evangelho da Família».

 

09 SET

Fátima - Reunião do Conselho Permanente da Conferência Episcopal Portuguesa.

 

09 SET a 11 SET

Fátima - Steyler Fátima Hotel - Pastoral Social: Os desafios do Papa Francisco

 

09 SET a 10 SET

Fátima: Peregrinação de idosos da Diocese de Coimbra

 

 

 

 

13 SET

 

Francisco visita o maior cemitério militar de Itália -

 

13 SET

Aveiro: Tomada de posse de D. António Moiteiro Ramos

 

13 SET

Braga: Dia Arquidiocesano do Catequista

 

 

13 SET

Lisboa: Itinerários da Fé

 

15 SET a 17 SET

Vaticano: Reunião do Conselho de Cardeais com o Papa Francisco

 

17 SET a 20 SET

 

Funchal - Casino Park Hotel, Universidade da Madeira e no Centro de Estudos de História do Atlântico

Congresso Internacional «500 anos - Diocese do Funchal. A primeira Diocese Global. História, Cultura e Espiritualidades». 

 

 

 

 

 

17 SET

Évora - Os escuteiros da Junta Regional de Évora promovem uma iniciativa de crowdfunding  que pretende angariar cinco mil euros para recuperar o jardim do seu edifício-sede.

 

17 SET a 18 SET

Coimbra - Seminário Maior de Coimbra - Jornadas de formação pastoral do clero com o tema «A formação de discípulos» que tem como oradores D. António Couto, D. Manuel Pelino e D. Virgílio Antunes.

 

 

17 SET a 19 SET

Bíblia: Universidade Católica organiza curso livre sobre «As tradições do Êxodo no Antigo Israel»

 

18 SET a 20 SET

Vaticano - Encontro internacional sobre «O projecto pastoral da Evangelii Gaudium» promovido pelo Conselho Pontifício para a Promoção da Nova Evangelização.

 

18 SET a 21 SET

Espanha - Madrid - Segunda edição das Jornadas Sociais Europeias promovidas pelo Conselho das Conferências Episcopais da Europa (CCEE).

 

 

 

 

 

 
 

18 SET

18 de Setembro de 2014 

Fátima: Curso de Mariologia -

 

 

20 SET a 21 SET

Fátima - Centro Pastoral Paulo VI

III Jornadas Nacionais da Pastoral Juvenil com o tema «Família um projeto». 

 

 

20 SET

Viana do Castelo - Abertura do Ano Pastoral e início do projecto pastoral diocesano para 3 anos tendo como referência a figura do beato Bartolomeu dos Mártires. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A Cáritas Portuguesa associa-se esta sexta-feira ao Dia Internacional da Caridade, instituído pela Assembleia-Geral das Nações Unidas em 2012, através da Resolução 67/105, na data da morte da Beata Madre Teresa de Calcutá, para “reconhecer o papel fundamental das instituições, governos e pessoas que praticam a caridade e aliviam as crises humanitárias e o sofrimento humano”.

 

A Associação Portuguesa de Canonistas vai realizar, de 4 a 6 de setembro, em Fátima (Casa de Nossa Senhora do Carmo), um curso sobre os dez anos da Concordata entre o Estado Português e a Santa Sé. A ação de formação – destinada aos advogados e outros licenciados em Direito – sobre esta área específica tem como coordenadores o cónego João Seabra e o conselheiro Almeida Lopes.

 

Com o tema “Atreve-te a amar”, vai realizar-se nos dias 6 e 7 de setembro, em Fátima, o 41.º Encontro Nacional dos Convívios Fraternos.

 

A Diocese do Funchal promove entre os dias 8 e 12 deste mês uma Semana Bíblica, com o tema ‘Família, Evangelho da Vida’. A iniciativa vai decorrer entre as 19h30 e as 21h30, no Convento de Santa Clara.

 

Entre 9 e 10 de setembro tem lugar a peregrinação de idosos da Diocese de Coimbra, promovida pelo Secretariado do Movimento da Mensagem de Fátima.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Programação religiosa nos media

Antena 1, 8h00

RTP1, 10h00

Transmissão da missa dominical

 

11h00 - Transmissão missa

 

12h15 - Oitavo Dia

 

Domingo: 10h00 - O Dia do Senhor; 11h00 - Eucaristia; 23h30 - Ventos e Marés; segunda a sexta-feira: 6h57 - Sementes de reflexão; 7h55 - Oração da Manhã;  12h00 - Angelus; 18h30 - Terço; 23h57-Meditando; sábado: 23h30 - Terra Prometida.

 
RTP2, 11h22

Domingo, dia 7 de setembro: Presença do Movimento dos Focolares na Indonésia

 

RTP2, 15h30

Segunda-feira, dia 08 - Entrevista, Leigos para o Desenvolvimento, a propósito do envio de novos voluntários;

Terça-feira, dia 09 - Informação e apresentação do Encontro de Pastoral Social com a presença do Padre José Manuel Pereira de Almeida;

Quarta-feira, dia 10 - Informação e apresentação das Jornadas Missionárias 2014 e Jornadas da Pastoral Juvenil;

Quinta-feira, dia 11 - Informação e apresentação do projeto cultural, Itinerários da Fé;

Sexta-feira, dia 12 - Apresentação da liturgia de domingo.

 

Antena 1

Domingo, dia 7 de setembro,  06h00 - Pastoral Social: reportagens na Paróquia de Nossa Senhora do Amparo, em Benfica e na Casa Mãe do Gradil.

 

Segunda a sexta-feira, 22h45 - 8 a 12 de setembro - Diocese do Funchal, História, Património e Religiosidade Popular: José Eduardo Franco, D. Teodoro Faria, D. Maurílio Gouveia, Frei Nélio Mendonça e Cónego José Fiel e D. António Carrilho

 

 

 

Que missão tem o Papa?

 

 

 

 

 

 

 

 

Ano A – 23.º domingo do Tempo Comum

 
 
 
 
 
 
 
Caminhar sempre no amor
 

Na liturgia da Palavra deste 23.º Domingo do Tempo Comum, gostaria de realçar a mensagem da segunda leitura da Carta aos Romanos em que São Paulo nos apresenta a essência do ser cristão:

«Não devais a ninguém coisa alguma, a não ser o amor de uns para com os outros. A caridade não faz mal ao próximo. A caridade é o pleno cumprimento da lei».

O cristianismo sem amor é uma mentira. O cristão nunca poderá cruzar os braços e dizer que já ama o suficiente ou que já amou tudo: ele tem uma dívida eterna de amor para com os seus irmãos.

Esta ideia de que toda a Lei se resume no amor não é uma invenção de Paulo, mas é uma constante na tradição bíblica.

Na última ceia, despedindo-se dos discípulos, Jesus resumiu desta forma a proposta que veio apresentar aos homens: “amai-vos uns aos outros como Eu vos amei” (Jo 15,12). Este não é mais um mandamento, mas é o mandamento de Jesus. Entretanto, algures durante a nossa caminhada pela história, esquecemo-nos disto e distraímo-nos com questões secundárias. Preocupamo-nos em discutir ritos litúrgicos, problemas de organização e de autoridade, códigos de leis, questões de disciplina, e esquecemos o mandamento do amor. É tempo de voltarmos ao essencial. O cristão é aquele que, como Cristo, ama sem cálculos, sem contrapartidas, sem limites, sem medidas.

As nossas comunidades cristãs, a exemplo da primitiva comunidade cristã de Jerusalém, deviam ser comunidades fraternas onde se notam as marcas do amor. Quem contempla as nossas

 

 

 

 

 comunidades nunca deveria ver em nós as marcas da insensibilidade, do egoísmo, do confronto, do ciúme, da inveja. Os estrangeiros, os doentes, os necessitados, os débeis, os marginalizados só podem ser acolhidos nas nossas comunidades com solicitude e amor.

Devemos ser comunidades missionárias e hospitaleiras. Todos os dias, podemos realizar gestos de partilha, de serviço, de acolhimento, de reconciliação, de perdão; mas é preciso ir sempre mais além. Há sempre mais um irmão que é preciso amar e acolher; há sempre mais um gesto de solidariedade que é preciso 

 

fazer; há sempre mais um sorriso que podemos partilhar; há sempre mais uma palavra de esperança que podemos oferecer a alguém. Sobretudo, é preciso que sintamos que a nossa caminhada de amor nunca está concluída.

O convite a sermos sentinelas de Deus, na primeira leitura, e a ajudarmos o irmão perante os seus erros, no Evangelho,

só pode ser assumido neste dinamismo essencial do amor.

E já agora, deixemo-nos levar pela oração do Salmo 94: «Se hoje ouvirdes a voz do Senhor, não fecheis os vossos corações». Que assim seja ao longo desta semana!

Manuel Barbosa, scj

www.dehonianos.org

 

 

Síria: Gestos de paz no meio do caos

Três anjos da guarda

Quase 200 mil mortos. 6,5 milhões de refugiados. Cidades inteiras em ruína. Notícias de atrocidades inimagináveis. Como é que se sobrevive num país em guerra civil onde, na maior parte dos dias, não há água nem eletricidade, falta comida, medicamentos e roupa?

 

Sobrevive-se graças à solidariedade. Ainda esta semana, a Fundação AIS decidiu enviar uma nova ajuda de emergência de 360 mil euros. Esta verba, que se destina essencialmente a apoiar projectos de carácter humanitário e pastoral, significa uma ajuda preciosa para os cristãos encurralados em Aleppo e em Homs, duas cidades esventradas pelas bombas onde as populações continuam encurraladas.
Todos os que podem fogem da Síria. É raro o dia em que não há notícias de bombardeamentos, de ataques, de mortes. É raro o dia em que não se conhecem novas atrocidades cometidas por ambos os lados deste conflito 

 

fratricida. Mas nem todos os que puderam abandonaram a Síria. Annie Demerjian, da comunidade das Irmãs de Jesus e Maria, o Padre jesuíta Ziad Hilal e o Padre Joseph Lajin são três rostos de paz no meio da guerra. A presença deles é sinal de que há sempre uma oportunidade para a paz. Os seus sorrisos são, seguramente, o tesouro mais precioso que alguém pode hoje encontrar na Síria. É com a ajuda da Fundação AIS que Annie, Ziad e Lajin fazem acontecer todos os dias pequenos milagres.

 

Uma morte lenta

Annie Demerjian, da comunidade das Irmãs de Jesus e Maria, diz que, após três anos infernais de guerra civil, “Aleppo vive sob a ameaça de uma morte lenta" e que esta ajuda de emergência vai aliviar um pouco as necessidades mais básicas da população de Aleppo.  Esta antiga metrópole do norte da Síria é hoje uma ruína onde as pessoas tentam 

 

 

 

 

 

 

 

sobreviver, no dia-a-dia, apesar do colapso das infraestruturas e dos combates permanentes. Falta água e eletricidade, assim como a distribuição de alimentos como carne e fruta fresca. A Irmã Annie diz-se ao serviço de toda a  população. "Temos de dar-lhes tudo o que precisam para sobreviver."

 

Prevenir o Inverno

Também em Homs a situação é trágica. Metade da sua população, calculada em cerca de 1,6 milhões de pessoas, já teve de abandonar as suas casas, destruídas pelo conflito, estando agora refugiadas noutras zonas da cidade ou noutras regiões do país.

O Padre jesuíta Ziad Hilal 

 

 

 

 

 

continua em Homs e conhece, como poucos, as necessidades mais básicas desta martirizada população. Por isso, já identificou cerca de 3 mil famílias a quem quer fornecer um cabaz com produtos básicos de alimentação e higiene. Mas há mais umas 15 a 18 mil pessoas, profundamente empobrecidas, que precisam de ajuda imediata para conseguirem sobreviver aos rigores do próximo Inverno. Para eles, o Padre Ziad quer distribuir cobertores e roupas quentes. "Em Homs aumenta o número de pessoas que não têm dinheiro para comprar produtos de higiene pessoal e mantimentos porque não há trabalho", explica o Padre Ziad Hilal. Além disso, a inflacção galopante torna os preços impraticáveis. Como em Aleppo, também em Homs a Igreja ajuda todas as pessoas em necessidade, independentemente da religião, sexo ou, até, do seu eventual posicionamento na guerra civil. Grande parte da população cristã de Homs está actualmente refugiada na região conhecida como o Vale dos Cristãos, junto da cidade de Marmarita.
 

 

Aprender a paz

O apoio constante da Fundação AIS à Igreja na Síria também contempla o trabalho pastoral. Sem essa ajuda, a paróquia greco-católica de St. Cyril, em Damasco, não podia continuar a proporcionar aulas de catequese às crianças, nem pagar salários aos seus funcionários, nem comprar alguns presentes de Natal para os mais novos. "O centro catequético da paróquia é mais do que um centro religioso: é quase o único consolo para 500 crianças",

 

 

 

 

 explica o Padre Joseph Lajin.
Ali, nas salas onde as crianças aprendem a catequese, o mais difícil é explicar que o amor tem de suplantar o ódio e que todos devemos ser construtores da paz. Num país em ruínas, onde não haverá nenhuma família enlutada, onde mais de 10 milhões de pessoas precisam de ajuda humanitária para sobreviverem no dia-a-dia, “não é fácil educar para a paz e o perdão, a aceitação dos outros

 

 e amar o inimigo”, diz o Padre Lajin. Não será fácil, mas desistir seria bem pior. Annie Demerjian, da comunidade das Irmãs de Jesus e Maria, o Padre jesuíta Ziad Hilal e o Padre Joseph Lajin são sinal de esperança de que a paz é sempre possível. Eles são, para a martirizada população síria, três anjos da guarda.

 

Paulo Aido |

www.fundacao-ais.pt

 

 

 

APOSTOLADO DE ORAÇÃO

A dignidade das pessoas
não tem mais nem menos

Para que os portadores de deficiência mental recebam o amor e a ajuda que necessitam para levar uma vida digna. [Intenção Universal do Santo Padre para o mês de Setembro]

 

1. A deficiência mental é uma das condições humanas mais difíceis, também para aqueles que – familiares ou cuidadores – têm a seu cargo o acompanhamento das pessoas com este tipo de doenças. Em alguns casos, a deficiência mental é ainda olhada como motivo de vergonha pelos familiares, que ou abandonam os doentes à sua sorte ou procuram escondê-los da sociedade. É frequente também tais pessoas precisarem de um acompanhamento permanente e especializado, que as famílias são incapazes de manter, por muito tempo. Percebe-se, assim, a importância de a sociedade se organizar para responder de forma adequada às exigências e necessidades destas pessoas, respeitando a sua dignidade.

 

2. A qualidade de uma sociedade mede-se pelo modo como 

 

trata os seus membros mais frágeis. Se tivermos em consideração esta premissa, e incluindo os deficientes mentais no grupo dos “mais frágeis”, podemos facilmente concluir que, no nosso caso, a situação é, no mínimo, ambígua. Algumas instituições da sociedade civil fazem um trabalho extremamente meritório nesta área, frequentemente com meios materiais e humanos bastante limitados. Mas não podemos, de modo algum, dizer que estas pessoas e as suas necessidades sejam uma prioridade para a maior parte das pessoas e para o Estado. Num tempo marcado pela mediatização das reivindicações e dos direitos, estas pessoas, sobretudo aquelas internadas em instituições de acolhimento, são socialmente “invisíveis”: não reivindicam nada e, portanto, não têm capacidade para influenciar quem toma decisões ou quem escolhe aqueles que vão tomar decisões. Ficam dependentes das prioridades estabelecidas por outros e do empenho de quem cuida delas.

 

 

 

 

 

3. Numa situação assim, a responsabilidade dos cristãos e das comunidades cristãs é evidente. Responsabilidade por serem discípulos de Cristo e por saberem que naquelas pessoas está presente, de modo particular, o Cristo da paixão. Haverá quem argumente que assim se menoriza a fraternidade humana, a qual deve antepor-se a qualquer consideração de ordem religiosa, e se esquecem os direitos das pessoas com deficiência. Embora muito frequente, este argumento repousa numa ilusão: a de que a fraternidade e os direitos humanos são uma evidência para todos. Não são! E, além disso, gastam-se depressa, mesmo em quem procura vivê-los: basta colidirem com os próprios interesses e é vê-los tornarem-se uma miragem ou um cabide onde dependurar algum discurso mais vistoso, mas sem consequências.

 

4. A motivação “religiosa” pode também ser objecto de muitas deformações. Mas aqui não falo de uma motivação “religiosa”. Falo de uma motivação

 

 “personalista”, pois o Cristianismo, antes e mais do que uma “religião”, é uma relação pessoal com Jesus Cristo e, n’Ele, com Deus. Saber que nas pessoas com deficiência mental está presente Cristo, na sua paixão, activa esta relação pessoal com aquele “cristo” concreto e traduz-se na urgência de ser cireneu, isto é, alguém que ajuda a levar a cruz. Pode o cristão não o fazer, mas a obrigação permanece e a consciência da obrigação também, para lá do próprio querer e dos interesses pessoais. Este facto dá persistência ao serviço cristão – à caridade – e comanda-o, valorizando ao mesmo tempo a dignidade daquele a quem se serve. Não se ganha nada com isso, humanamente falando? Parece que não, mas, bem vistas as coisas, ganha-se pelo menos em humanidade. E este não é um ganho tão inútil como pode parecer a quem mede tudo em termos de vantagem, poder, lucro e conta bancária.

 

Elias Couto

 

 

Fotos com Missão

Tony Neves

 
 

Gosto muito de fotos. Há muito que me delicio a fazer fotografias, quer de imagens retiradas da natureza, quer de reportagem em eventos onde participo.

Nos últimos anos, após fazer o Curso de Comunicação Social, a fotografia ganhou outra dimensão. Antes de mais, porque estudei este mundo da imagem, tão belo mas tão complexo. Os cursos que fiz no CENJOR, o nosso Centro Protocolar de Formação de Jornalistas, em Lisboa, abriram-me horizontes que eu nem suspeitava. Gostei muito do que aprendi e tentei ir pondo em prática algo do muito que aprendi.

Hoje tenho um outro olhar sobre as fotos. Gosto de as ler até esgotar a muita significação que delas capto. Quando o povo diz que uma imagem vale mais que mil palavras não tem toda a razão, mas a verdade é que há muitas imagens que nós vemos e para as quais nos faltam palavras. Há mais imagens que provocam em nós o mais profundo dos silêncios.

Ano após ano, habituei-me a ver a exposição ‘World Press Photo’ que mostra as fotos que foram consideradas as melhores do mundo publicadas nos milhares de jornais e revistas que chegam ás mãos das pessoas e, muitas vezes, lhes turbam o olhar. É impressionante perceber a riqueza de mensagens que uma foto pode veicular. E mais: em muitos contextos, as fotos denunciam barbaridades; noutros, amplificam gestos belos 

 

 

 

 

 

Luso Fonias

 

 

e rostos de felicidade.

Mês após mês tenho de editar o meu jornal ‘Ação Missionária’. As fotos são decisivas para a qualidade deste trabalho. A sua escolha obedece a critérios apertados e a verdade é que muitos dos leitores, ao falar do jornal, só referem as fotos. Em muitos artigos, eu fico convencido de que quem viu as fotos e leu título e legendas já apreendeu boa parte da mensagem. Há que perceber o impacto da imagem para decidir a linha gráfica 

 

de uma publicação bem como a escolha das fotografias a trabalhar e imprimir.

O digital tomou conta de quase tudo, nos tempos que correm, tal o impacto das tecnologias da comunicação no mundo dos media. Mas, digitais ou não, as fotos tiradas e mostradas ao mundo têm de veicular mensagens que aumentem humanidade. Se assim for, as fotos prestam um grande serviço ao mundo.

 

 

“Pode ouvir o programa Luso Fonias na rádio SIM, sábados às 14h00, ou em www.fecongd.org. O programa Luso Fonias é produzido pela FEC – Fundação Fé e Cooperação, ONGD da Conferência Episcopal Portuguesa.”

 

 

Uma economia social mais forte e robusta

Manuel de Lemos, presidente da UMP

 

Ao contrário do que habitualmente acontece nos meses quentes do verão, este ano estamos a assistir a notícias que a todos nos devem preocupar, tanto no plano nacional como internacional. Sendo certo que os conflitos na Faixa de Gaza como na Ucrânia e sobretudo no Iraque com as perseguições às minorias católicas devem merecer a nossa atenção, é sobre Portugal que gostaria de refletir convosco.

Há pouco mais de um mês foi publicado em Diário da República o decreto-lei que, finalmente, vem restabelecer a serenidade junto das Misericórdias detentoras de farmácias. Desde 2007 que estas instituições se deparavam cm a necessidade de converter em sociedades comerciais as suas farmácias cujos fins visam integralmente apoiar a ação social. A União das Misericórdias, ciente da importância deste "dossier" que atentava contra a a natureza e identidade das Misericórdias , foi ao longo dos anos acompanhando o assunto, ao mesmo tempo que tentava sensibilizar os mais altos dirigentes do nosso país para a injustiça inerente àquela obrigatoriedade.

Felizmente, a norma de 2007 foi alterada. Penso que a reviravolta legislativa muito se deveu ao sentido de Estado de alguns membros do governo. Tanto o primeiro-ministro, como o ministro da Solidariedade, Emprego e Segurança Social e o secretário de Estado da Solidariedade e da Segurança

 

 

 

 

 

 

 Social têm desenvolvido esforços para reforçar no nosso país aquilo a que chamamos de economia social e o decreto-lei 109/2014 é disto mais uma excelente demonstração.

Conforme podemos ler no próprio diploma, a Lei de Bases da Economia Social “constitui um quadro jurídico específico que promove e estimula o desenvolvimento da economia

 

 social e estabelece os princípios gerais do relacionamento do Estado com estas entidades”, incumbindo-lhe expressamente apoiar a sua atividade. “Este reconhecimento, que deriva de um imperativo constitucional, legitima a manutenção de um regime específico de que estas entidades são já detentoras mercê dos fins de solidariedade social que prosseguem”.

 

 

 

Contudo, durante todo este processo, muitos ouvimos falar sobre concorrência. Mas haverá mesmo concorrência possível entre as farmácias sociais e aquelas cuja natureza é estritamente comercial? Não acredito que haja.

Na nossa economia e na nossa sociedade há espaço para todos os tipos de atividade: pública, privada e social. Os fins são distintos, mas também são diferentes os constrangimentos. As entidades de economia social, entre elas as Misericórdias, que são instituições que lidam com a escassez de meios financeiros, ao mesmo tempo que veem crescer, diariamente, o número de pedidos de ajuda. Todas as fontes de receitas são, por isso, determinantes para que possamos apoiar aqueles que a aparecem às nossas portas com os mais diversos tipos de problemas.

Por sua vez, as farmácias comerciais têm natureza e fim completamente distintos. As mais-valias por elas geradas destinam-se ao usufruto do proprietário. Não havendo absolutamente nada de errado,

 

imoral ou menos ético em relação a isto, considero que esta grande diferença faz com que não haja espaço para o debate sobre concorrência, especialmente num cenário de rigoroso controlo da atividade farmacêutica. As farmácias das Misericórdias, como todas as outras, estão sujeitas as normas em vigor e não podem, assim, “incomodar” os seus vizinhos de cariz privado. Sujeitam-se às regras do mercado, estando apenas isentas de IRC. Mas para que não haja dúvidas, importa recordar que o montante dos impostos é integralmente aplicado no bem-estar daqueles que, em situação de maior e urgente fragilidade, precisam de nós.

Embora ainda haja alguns a criticar aquilo a que chamam de “caridadezinha”, é certo que cada vez mais as Misericórdias e outras entidades de economia social buscam aperfeiçoamentos de gestão para continuar a trabalhar em prol da nossa missão que é ajudar quem precisa. Medidas como o decreto-lei 109/2014 representam por isso 

 

 

 

 

um reforço de gestão e uma fonte de mais-valias que, bem gerida, pode contribuir para a continuidade e a qualidade dos serviços assegurados por estas instituições.

Por isso tudo, deixo-vos a todos o convite à reflexão sobre o que pode representar para o nosso país uma economia social mais forte e robusta, capaz de se

 

autossustentar e assim dar resposta aos concidadãos com a dignidade que todos merecemos. Incrementar a economia social, atrevo-me, é investir no país, nas pessoas, no desenvolvimento local, na criação de emprego, mas também em idosos tranquilos, crianças bem-acompanhadas, deficientes protegidos, em suma, em famílias saudáveis.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Já disponível!

Pedidos pelo email secretariado@ecclesia.pt

 

 

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