04 - Editorial:

   Paulo Rocha

06 - Foto da semana

07 - Citações

08 - Nacional

14 - Opinião:

     D. Manuel Clemente

     Octávio Carmo

    D. António Carrilho

30 - Dossier

   500 anos da Diocese do Funchal

 

44 - Internacional

52 - Estante

54 -  Agenda

56 - Por estes dias

58 - Programação Religiosa

59  - Minuto YouCat

60 - Liturgia

62 - Fundação AIS

64 - Lusofonias

66 - Opinião:

    Manuel de Lemos

 

 

Foto da capa: DR

Foto da contracapa:  Agência ECCLESIA

 

 


AGÊNCIA ECCLESIA 
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Opinião

 

 

 

 

Novo bispo chega a Aveiro

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Misericórdia no coração da Igreja

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500 anos da Diocese do Funchal

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Paulo Rocha | D. Manuel Clemente Manuel Barbosa | Tony Neves Manuel de Lemos

 

Periferias

Paulo Rocha, 

Agência ECCLESIA

 

O Papa Francisco colocou no palco principal dos debates sobre a missão da Igreja Católica na atualidade o tema das periferias. São recorrentes os apelos à “saída” para junto das “periferias existenciais e geográficas” e, no documento programático para este pontificado, a Exortação Apostólica “A Alegria do Evangelho”, Francisco refere-se em nove ocasiões à(s) “periferia(s)”. O Papa centra nesse imperativo missionário a principal atitude de quem é hoje portador da “luz do Evangelho”.

O escrutínio sobre o que já é passado comprova reiteradamente que opções prioritárias pelo que aparentemente é marginal consolida o percurso e a ação de pessoas e instituições. Estão aí os principais capítulos das suas histórias, escritos com ousadia, desinstalação e determinação no romper com comportamentos acomodados. Mas a produzir rapidamente efeitos positivos. Para quem os inaugura e no ambiente onde acontecem.

O tema pode emergir, no contexto atual, como resposta verbal a um desafio do Papa Francisco, referenciado com frequência, citado e até aplaudido. 

 

 

 

Mas menos, muito menos, serão as circunstâncias em que o vemos a acontecer, refugiados muitas vezes na dificuldade em descobrir as circunstâncias em que podem ser o vetor principal de um projeto pessoal ou institucional. Bastará dar o primeiro passo e nunca olhar situações inesperadas como o limite, mas o limiar.

A História ensina que a atitude agora lembrada pelo Papa Francisco está na origem de muitos feitos. Foi “em saída” que se conheceram novos mundo, se construíram projetos inovadores e aconteceu o melhor que o mundo tem!

As comemorações dos cinco séculos da criação da Diocese do Funchal e a realização do Congresso “A Primeira Diocese Global” estão a ser uma ocasião para novos encontros com a realidade madeirense, nomeadamente a que documentam o alcance do que aparentemente pode parecer periférico.

 

 

A Madeira foi ponto de passagem de navegadores e comerciantes para novos mundos. Por lá passou a primeira globalização, em latitudes de rotas mercantis e sobretudo de transmissão de experiências humanas e de valores pelas vagas dos oceanos.

Criada em 1514, a diocese do Funchal deixou para a História a primeira experiência de organização das comunidades crentes nos territórios “descobertos e a descobrir”, tendo por sede uma ilha situada no meio do Atlântico e que se estendia, dessa forma, até à América Latina, África e Ásia.

Aparentemente periférico, o Arquipélago da Madeira tornou-se o centro. E assim acontece, outrora como hoje, cada vez que uma porção de terra, nestas ou noutras ilhas, é bastante para ser ponto de partida para outras periferias. Porque estar rodeado pelo mar ou chegar à ponta de uma ilha não é o limite, mas o limiar…

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 
 

 

 

 

Americanos recordaram vítimas do atentado terrorista ao World Trade Center, em Nova Iorque, cometido a 11 de setembro de 2001 © Chang W. Lee /AFP

 

 

 

 

 

- “Nestes tempos, em que a situação internacional contra o terrorismo é ainda muito complexa e estamos longe de ter acabado com este grave problema, que nos oferece novas ameaças e novos desafios, é hora de cooperarmos uns com os outros”.

Porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China, Hua Chunying, sobre a situação no Iraque, Jornal de Notícias, 11.09.2014

 

 

- “Posso garantir aos portugueses que não aumentarei a carga fiscal, o IRS, o IRC, o IVA (…) nem surpreenderei os portugueses, como os últimos quatro primeiros-ministros. Nós temos que honrar a palavra”. António José Seguro

- “Os portugueses o que pedem nem é menos ritmo nem menos dose, é um caminho diferente e alternativo. E o PS foi somando sinais equívocos. Por exemplo, absteve-se na Assembleia da República nas propostas para o aumento do salário mínimo nacional”. António Costa

Excertos da entrevista aos dois candidatos às eleições primárias do PS, TVI, 09.09.2014

 

 

 

 

 

 
 
 

- “Perto de 700 crianças foram mortas e mutiladas no Iraque desde o início deste ano, incluindo em execuções sumárias”.

Denúncia feita por Leila Zerrougui, representante especial das Nações Unidas para as crianças e os conflitos armados, Lusa, 08.09.2014

 

 

 - Não queremos pôr o Estado a dizer às pessoas para terem mais filhos, o que queremos é remover os entraves às famílias que querem ter mais filhos e não veem condições para os poder gerar “.

Primeiro-ministro português, Pedro Passos Coelho, sobre uma estratégia dedicada à natalidade que o Governo vai apresentar até ao final de setembro, Rádio Renascença, 7.09.2014

 

 

Novo bispo de Aveiro apresenta-se
como homem do terreno

O novo bispo de Aveiro, D. António Moiteiro, que vai tomar posse e entrar solenemente na diocese, em cerimónias no sábado e domingo, falou à Agência ECCLESIA do seu percurso de descoberta da vocação sacerdotal, as dúvidas e incertezas deste chamamento e a importância do seu trabalho como pároco na atual missão episcopal.

“Neste momento e após dois anos como bispo auxiliar em Braga sinto que ter estado no seminário, dez anos como diretor espiritual, e também ter sido pároco de paróquias grandes e rurais pequenas deram-me uma visão bastante fiel da realidade das nossas dioceses o que ajuda de facto na missão e no exercício do ministério episcopal”, revelou.

Na Arquidiocese de Braga, o prelado visitou 114 paróquias e já tinha planeado visitas a mais dois arciprestados, antes de ser nomeado bispo de Aveiro. “É evidente que para além da amizade com os sacerdotes também procurei fazer amizade com muitos leigos nas visitas pastorais e uma preocupação que tinha era dar continuidade às visitas”, explicou 

 

o bispo que em várias paróquias, depois da missa crismal, deu início a “grupos de jovens”.

Ao bispo que não se considera “de maneira nenhuma um intelectual” mas “um homem do terreno, da pastoral” que tem de ser feita com as pessoas é reconhecida a característica da proximidade.

O novo bispo da Diocese de Aveiro, para além da licenciatura em Teologia, de uma licenciatura em Ciências Religiosas e Catequética também fez um doutoramento em Teologia Pastoral, “baseada nos catecismos desde 1952 até aos de 1993”, na sequência do trabalho desenvolvido na elaboração do programa nacional de catecismos.

Este sábado, D. António Moiteiro toma posse canónica numa cerimónia privada junto ao Túmulo de Santa Joana Princesa, perante do Colégio dos Consultores, às 11H00, e no domingo a celebração eucarística que assinala a entrada solene realiza-se às 16H00 na Catedral de Aveiro.

Foi vigário paroquial e com outro sacerdote desempenhou as funções de pároco: “Nunca vivi sozinho 

 

 

 

 

 

como padre e enquanto pároco nunca estive sozinho. Sempre formamos uma comunidade de dois ou três sacerdotes que tínhamos várias paróquias”.

Com lema episcopal ‘É preciso que Jesus reine’ que retomou do “venerável D. João de Oliveira Matos”, bispo auxiliar da Guarda, cujo processo de beatificação está a decorrer na Santa Sé, D. António

 

 Moiteiro revela que “foi algo natural” lembrar-se deste “servo de Deus” para viver este ministério.

“O estilo dele das visitas pastorais também procurei que passasse para a minha vida de bispo e posso afirmar que há uma semelhança muito grande”, assinala o também vice-postulador desta causa de canonização.

 

 

Por uma sociedade nova

O arcebispo de Braga e presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social afirmou que os católicos têm de estar presentes no mundo da política e na praça pública, para construir uma “sociedade nova”. “Há quem diga que a Igreja não pode fazer política e use este argumento para impedir que ela intervenha nos problemas reais das pessoas, mas ela nunca será fiel ao seu fundador se não for capaz de edificar Reino através de palavras e de diversas iniciativas e de colaborar com todas as forças do bem presentes na sociedade”, disse D. Jorge Ortiga, em Fátima, no 29.º Encontro da Pastoral Social, que hoje se concluiu.

O arcebispo primaz sustentou que a Igreja é chamada a pronunciar-se sobre as “situações complexas da vida hodierna”. “O Evangelho nunca será Boa Nova sem esta visibilidade. Ele não pode ser colocado como doutrina que favorece simples meditações intimistas, tem uma força orientada para gerar uma sociedade nova”, observou.

O presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Humana disse que além da construção deste “mundo novo”, 

 

 

 

 

é necessário denunciar as “negações da humanidade” e fazer com que “as forças da discriminação e da opressão não impeçam a felicidade dos mais vulneráveis”. “Sair ao encontro das pessoas e dos problemas que as afetam é quanto o Papa Francisco nos desafia. Ele não se contenta com os formalismos entrincheirados na rotina que não vê e que passa ao lado”, prosseguiu.

D. Jorge Ortiga mostrou-se contrário a uma “perspetiva legalista” e realçou que ninguém se deixa fascinar por uma “caridade por receita”. Nesse sentido, o arcebispo de Braga deixou votos de que a mensagem católica ajude à “contínua transformação” da sociedade e à “promoção inclusiva” das pessoas.

 

 

 

 

 

 

Educação Cristã propõe alegria
em tempos de desânimo

A Comissão Episcopal da Educação Cristã e Doutrina da Fé (CEECDF) convidou as comunidades católicas do país a apresentarem a mensagem de Jesus como uma proposta de “alegria” face a tempos de “desânimo” em Portugal. “Na realidade, vivemos tempos de desânimo, de tristeza e de resignação. Estes sentimentos estão relacionados com o forte individualismo e consumismo da nossa cultura. Abundam os divertimentos mas escasseia a alegria interior e profunda”, assinalam os bispos na sua mensagem para a Semana Nacional da Educação Cristã que vai decorrer de 27 de setembro a 5 de outubro, com o tema ‘Educar na Alegria da fé’.

O documento convida a “educar na alegria da fé”, apresentando o Evangelho como “o caminho para uma vida plena e feliz”. “Oferecem-se hoje muitos bens da técnica moderna que distraem, preenchem o tempo e os interesses imediatos mas alienam da vida real e criam um mundo próprio em que cada um se fecha e se isola dos outros”, alerta a CEECDF.

A educação cristã, realça a mensagem, incentiva cada um “a sair de si para 

 

a realidade, para o mundo, para os outros, para Deus”. Os bispos sublinham que a família é “o primeiro lugar de educação humana e cristã”, que leva a superar problemas como “o individualismo, a indiferença e a dispersão”.

O documento fala ainda na “importância essencial da Escola” e, em particular, da disciplina de Educação Moral Religiosa Católica (EMRC) como “fonte de formação humana e cristã”.

A Comissão Episcopal conclui com uma reflexão sobre o papel das comunidades cristãs e das suas celebrações no “ensino da memória da fé da Igreja”, que passa pelo “encontro e experiência” vividos na liturgia e na piedade popular e pela “prática da solidariedade”.

 

 

 

 

A Agência ECCLESIA escolhe sete acontecimentos que marcaram a atualidade eclesial portuguesa nos últimos dias, sempre atualizados em www.agencia.ecclesia.pt

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A dimensão social da evangelização

(Uma leitura do capítulo quarto da Exortação apostólica Evangelii Gaudium)

D. Manuel Clemente

Patriarca de Lisboa

 

Poderia alguém perguntar por que razão dedica o Papa Francisco uma parte substancial da sua exortação apostólica aos problemas socioeconómicos. Persistem, efetivamente, pessoas e grupos, por vezes com tradução política forte, a julgarem ainda que, se restar algum campo à religião, será apenas para convicções e sentimentos tão íntimos como desencarnados. Quando muito, com expressão pública simbólica, atuação cultural pouco mais do que folclórica e aplicação social que não passe a assistência aos necessitados, no sentido fraco dos termos...

Por outro lado, o século XX assistiu à falência das ideologias que, dum modo ou doutro, sempre pretenderam mudar radicalmente a sociedade a partir de reflexões, análises e propostas que, politicamente ativadas, renovariam certamente o mundo, mesmo sem excluir a violência contra quem resistisse a tal novidade.

O Papa Francisco, por seu lado, está profundamente convicto de que, vistas as coisas a partir de Cristo, a dimensão social da religião – isto é da ligação a Deus e a tudo e a todos a partir de Deus – é fundamental e indispensável. Di-lo com particular força expressiva: «O querigma possui um conteúdo inevitavelmente social: no próprio coração do Evangelho, aparece a vida comunitária e o compromisso com os outros. O conteúdo do primeiro anúncio tem uma repercussão 

 

 

 

 

 

 

 

 

moral imediata, cujo centro é a caridade» (Evangelii Gaudium, 177).

(Diga-se, a propósito que é arbitrária a distinção, por vezes ouvida, entre caridade e solidariedade, ou filantropia. Não se trata de distinção, mas de radicalização, pois a caridade inclui essoutros sentimentos, levados ao ponto em que Cristo os viveu - e em que nós os podemos viver “no Espírito de Cristo”.)

 (…)

Concluamos que o capítulo quarto da exortação do Papa Francisco é um convite insistente a considerarmos a verdade operativa da nossa interdependência radical, pois somos frágeis e devemos ser humildes e acolhedores da fragilidade dos outros – e até da própria “fragilidade” de Deus, como em Jesus se revela. Assim tomada, a pobreza compartilhada converte-se em riqueza que chegará e sobrará. Toda a lição bíblica vai nesse

 

 sentido, concluindo-se na Páscoa de Cristo, que sobejamente retomou a vida que inteiramente doou. E a crise mundial evidencia-nos que o contrário disso tem consequências tremendas de miséria e frustração. Ligando muitas décadas de magistério papal, quase podemos dizer que, assim como Leão XIII, em 1891 (Rerum Novarum), propunha uma sociedade de pequenos proprietários, em que cada um tivesse o suficiente para garantir a liberdade e a subsistência própria e dos seus, Francisco, em 2013 (Evangelii Gaudium), nos propõe uma sociedade em que a interdependência geral, assumida e correspondida, nos faça realmente solidários.

 

Fátima, XXIX Encontro da Pastoral Social, 9 de setembro de 2014

 

 

Texto na íntegra

 

 

 

Em busca da memória

Octávio Carmo,
Agência ECCLESIA

 

A semana noticiosa ficou marcada, para além do clima tropical, pela estreia dos debates entre os candidatos à liderança do Partido Socialista, tendo em vistas as próximas eleições legislativas. Aparentemente, o formato não ajuda a uma troca esclarecida de pontos de vista sobre os respetivos projetos políticos, mas na verdade o que mais perturba a comunicação é a busca incessante pelo ‘soundbite’, pelo título dos jornais no dia seguinte, pela frase que mais facilmente possa ser partilhada nas redes sociais. Num tempo comunicacional por excelência, é paradoxal que seja cada vez menor o peso das palavras ditas para ficar e não para correr…

 

Como é possível ler nesta edição, o trabalho dos últimos dias passou de forma muito atenta pelas celebrações dos 500 anos da Diocese do Funchal. Um olhar histórico, que sublinha a importância estratégica desta comunidade cristã para o projeto de expansão portuguesa - do ponto de vista religioso, certamente, mas também económico e cultural - e uma análise atenta sobre a atualidade da Igreja neste arquipélago, que projeta o futuro. Sendo natural da Madeira, tive sempre interesse em conhecer este trajeto, com recurso ao contributo valioso de sacerdotes-historiadores como Fernando Augusto da Silva, Eduardo Clemente Nunes Pereira ou Gaspar Frutuoso, para além das humildes memórias e notas que muitos párocos foram redigindo nas suas igrejas, em “memórias” que se estendem ao longo dos séculos.

Esta atenção serve também como tributo 

 

 

 

 

 a quem, “entre a rocha dura”, como diz o hino da Região Autónoma, construiu uma nova sociedade, numa luta aparentemente desigual contra a natureza e o isolamento. A profunda religiosidade dos habitantes do arquipélago foi uma força interior que os ajudou a superar as dificuldades sem perder a esperança.

 

A busca por esta “vida melhor”, expressão referida em muitos documentos relativos à emigração madeirense, levou dezenas de milhares, ao longo dos últimos 

 

dois séculos, a rumar para outras regiões, algumas tão improváveis como o Havai ou Demerara. Viagens que, noutros tempos, eram uma verdadeira aventura no desconhecido. É difícil esconder o espanto perante a decisão de quem partia para provavelmente nunca mais voltar. A história da Diocese do Funchal também é isto: a presença dos seus filhos nos cinco continentes, com a sua marca própria, levando consigo uma fé e uma força nascidas do mar e da montanha.

 

 

 

 

 

   
 D. António Carrilho, bispo do Funchal

 

 

 

Madeira: 500 anos de uma diocese global, evangelizadora e de participação

Agência Ecclesia (AE) – Que Balanço é que faz das celebrações que têm decorrido por ocasião dos 500 anos da constituição da Diocese do Funchal?

D. António Carrilho (AC) –A apreciação que nos chega é bastante positiva nos diversos âmbitos e setores tanto da parte de muitos sacerdotes, como da parte dos bispos que aqui estiveram e partiram e deixaram uma palavra de mensagem, como da parte da nossa gente que se cruzando connosco se aproxima, felicita e alegra pelo modo como tudo decorreu.

Eu alegro-me e dou graças a Deus por aquilo que foram estas comemorações e até por aquilo que elas significaram em termos públicos e sociais. Foram comemorações que tiveram três celebrações religiosas realmente marcantes, o Pentecostes, o dia 12 de junho, dia da assinatura da bula (‘Pro Excelenti Praeminentia’ do Papa Leão X) da diocese, como no dia 15 a grande assembleia jubilar. Portanto, foram três assembleias, três celebrações nucleares 

 
e muito participadas.
Depois a preocupação de ser presença social e cultural. Fizemos três concertos com muita qualidade e muita mensagem, a publicação de um livro que sobre a diocese, a edição filatélica com seis selos, em parceria com os Correios de Portugal (CTT), que ficam a assinalar esta data em aspetos importantes porque as imagens que foram escolhidas são integradas nestes 500 anos desde o seu início, como a Bula ou a vinda do Papa João Paulo II, que foi um grande momento histórico e eclesial da nossa diocese.

Nestes diversos aspetos, como na exposição de arte sacra também quisemos trazer 500 anos de história em 56 peças selecionadas com muito cuidado e que fossem significativas do desenvolvimento da fé da nossa gente ao longo deste tempo, assim expresso com amor, dedicação e generosidade em obras e arte que espelham aquilo que foi o crescimento da fé, das devoções e da vivência das próprias comunidades.

 

 

 

AE – Foi uma oportunidade da diocese dar-se a conhece melhor à sociedade?

Em parte sim, porque não ocultamos nada e procuramos ser uma presença ativa e interventiva na sociedade, com as pessoas a intervirem, cada uma aos seus diferentes níveis, nas suas diferentes posições. Um dos meus lemas das preocupações e princípios pastorais é o da corresponsabilidade e participação, esta consciência que o bispo não é tudo. Não é o bispo com os padres e com religiosos, a Igreja somos todos nós e por isso mesmo, cada um no seu posto tem de assumir as suas responsabilidades. O bispo tem responsabilidades que são dele, que as assuma, os sacerdotes têm responsabilidades que são deles, que as assumam mas não podemos prescindir nem dos religiosos nas suas posições, nem sobretudo dos leigos nesta presença social.

O Papa Francisco, na linha do que vinha de trás, com a autoridade que tem, diz que é preciso que cada um assuma as responsabilidades nas próprias famílias, nos grupos, na sociedade, na ação social e política. Quer dizer, o cristão onde está tem de ser cristão e a Igreja está com ele e ele está na Igreja, assim realmente 

 

se reflita a grande mensagem da Igreja que é a sua mensagem social. Gosto de sublinhar este aspeto porque muitas vezes olha-se a mensagem da Igreja como o catecismo doutrina mas há um segundo catecismo, consequências sociais da doutrina que é exatamente o catecismo social. Os princípios de ordem humana, os valores da ética e o compromisso social são princípios essenciais e que tornam a Igreja presente através da totalidade e das diversas responsabilidades dos seus membros.

 

AE – Na semana jubilar contaram sempre com entidades políticas, culturais, no fundo representantes da sociedade civil. Esta presença é fruto das boas relações que se estabelece entre Igreja e Estado, Igreja e a Cultura e a Igreja e a Sociedade?

AC – Existe um princípio que sempre defendi e na minha entrada afirmei, que foi o princípio da autonomia e da cooperação. Autonomia em relação a todas as instituições públicas e privadas que nós temos de respeitar uns aos outros na nossa natureza, nos nossos objetivos ma quando está em causa o bem-comum temos de cooperar. A boa articulação 

 

 

 

 

 

e a boa cooperação têm de fazer-se com todos na linha do bem-comum e por isso mesmo nó tivemos desta vez como sempre a preocupação de criar espaço e abertura precisamente para quem quiser participar. Evidentemente, não podemos esquecer a responsabilidade 

 

daqueles que tendo sido eleitos têm uma especial representatividade do próprio povo e respeitando-nos uns aos outros, nos nossos objetivos, e na nossa natureza damos as mãos e queremos dá-las com todos para bem dom nosso povo.

 
 

 

 

AE – Qual é o papel do bispo nestes novos tempos, no século XXI?

AC – É ser pastor, sendo muito direto. O bispo tem de ser pastor que significa, olhando para Cristo o bom pastor ser aquele que torna Jesus próximo de todos como Ele esteve próximo. Diz que Ele conhecia as suas ovelhas e que elas que o Conheciam, que estava disposto a dar a vida por elas, e aquilo que tinha para lhes dar era corresponder às suas 

 

necessidades fundamentais, satisfazer as suas sedes, satisfazer a necessidade de alimento para prosseguir um caminho de vida com aquela força espiritual eu naturalmente terá que poder usufruir. Portanto, a presença de um bispo numa diocese, e o Papa Francisco tem falado nisso muitas vezes, é exatamente o ser pastor atento, o ser pastor que acompanha, que se dá conta das necessidades, que não prescinde de anunciar os 

 

 

 

 

 

 

 

valores que são aqueles que brotam do Evangelho de Jesus, aliás, Ele sempre o fez, nunca calou aquilo que tinha para dizer, tinha princípios, valores a anunciar e dava-se por eles.

A responsabilidade de um bispo é fundamentalmente esta, por isso é importante um bispo próximo, as pessoas vêm isso no Papa e alegram-se com essa proximidade. Nós queremos estar próximos com uma palavra acessível, uma palavra de resposta, mas que se assuma exatamente naquilo que é específico e é próprio. As responsabilidades são participadas e partilhadas, evidentemente que o bispo não poderá fazer tudo nem a Igreja se deve confundir com o bispo. O lugar do pastor é de pastor mas há lugar daqueles que acolhendo a palavra, deixando-se conduzir por ela também com o bispo vão dando a vida e é nesta comunhão como corpo que é a Igreja que a nossa missão se vai realizando.

 

AE – Qual a importância da formação cristã das comunidades madeirenses?

AC - A questão da pastoral, da formação, do esclarecimento, 

 

aprofundamento e transmissão da fé e aqui na Madeira é fundamental porque estamos numa sociedade não só pluricultural mas multicultural e religiosa pela circunstância até de um turismo que cria mobilidade e traz por aqui milhares e milhares de pessoas e a nossa gente está constantemente em relação com outras ideias, costumes e perspetivas de vida. E, portanto, queremos pessoas que tenham os seus próprios critérios, que tenham a sua formação própria porque hoje as pessoas têm de agir em termos religiosos numa linha de fé, como alguém que tem razões da sua fé e da sua esperança e crê conscientemente. Não é uma razão de costumes somente, embora as tradições tenham muita força e não deixem de ter de um momento para o outro, e é bom que as tradições continuem a aflorar valores e a ajudá-los até a repensar. Sem dúvida nenhuma que queremos que cada um assuma conscientemente as suas próprias posições, o testemunho da sua fé porque só isso é que se pode tornar positivo. Não é por costume, não é por tradição mas é porque creio e assim o testemunho.

 

 

 

AE – É uma educação na fé da própria religiosidade popular?

AC – Sem dúvida nenhuma que temos de partir daquilo que temos e esclarecer e enriquecer em termos de projeto de vida cristã o que nos chega como tradição. Existem tradições muito bonitas, que podem ser enriquecidas e temos responsabilidade de o fazer mas em toda a Igreja esta preocupação existe ou deve existir porque a tradição forma-se ao longo dos tempos, entra numa prática que pode em algumas situações tornar-se rotineira, porque é o costume, é o que se faz, mas dar o sentido daquilo que se faz e porque é que se faz em termos práticos e concretos das nossas tradições é fundamental. O esclarecimento, o aprofundamento e a transmissão da fé é exatamente nesta linha.

Depois, é evidente que preocupa-me, e gostaria de chegar com muito empenho, as famílias para que possam quês e possam apresentar como verdadeiras famílias cristãs dentro do projeto da Igreja. Portanto, unidos pelo sacramento do matrimónio, com as graças próprias desse sacramento e caminharem para a comunhão de vidas ao serviço da

 

 vida mas ao serviço da felicidade das próprias pessoas. Eu costumo dizer que sobre a família muito já está escrito mas espero que muito mais se venha a escrever através do sínodo dos bispos, em outubro.

Em relação à família nós temos a preocupação de olhar a nossa realidade, do país e a dinâmica da Igreja universal, portanto existem princípios que assumimos mas sem nos deligarmos do que são os dinamismos, seja um projeto da Conferência Episcopal Portuguesa ou um projeto a partir do Papa. E o questionário (preparatório da próxima assembleia sinodal extraordinária sobre a família) envolveu-nos e esperamos dele.

A Igreja e nós temos esta preocupação e queremos responder aos problemas das nossas famílias, dentro do possível, e apelamos que as famílias cristãs, alegres e felizes, deem este testemunho que vale mais do que tudo aquilo que se possa dizer como princípio, como leitura ou reflexão porque é o testemunho concreto.

Uma questão fundamental é a vertente social. Nós felizmente temos em grupos organizados, e não corresponde a toda a pastoral 

 

 

 

 

 

social porque existe muita atividade de presença, de apoio, de caridade e serviço fraterno que só Deus conhece porque as pessoas na sua simplicidade e descrição vão procurando fazer o bem a quem podem e há muito bem que se faz e que não conhece mas Deus conhece. Em grupos organizados temos conferências vicentinas
 

 em mais de 50 por cento das paróquias e temos a Cáritas Diocesana procurando estar sobre as situações mais criticas, sobre as dificuldades maiores e numa situação de crise é um alerta e uma preocupação constante de ajudar, dentro de uma orientação, mas de atenção e procurando caridade.

 

 

 

AE – A questão da solidariedade, da caridade é cada vez mais uma parte importante do plano pastoral da Igreja?

AC – É uma consequência necessária dos espírito cristão que é espírito de fraternidade. São Tiago diz que “a fé sem obras é morta, as obras da fé são as obras do amor, as obras da caridade” e mais do que solidariedade gosto de dizer fraternidade para dar o sentido de comunhão de irmãos que brota desta relação de filhos de Deus. Não tiro nada à solidariedade apenas acrescento esta dimensão de uma exigência de fé de quem crê realmente nesta relação filial com Deus e na relação fraterna com os outros.

Não há dúvida nenhuma que é uma exigência de sempre e numa exigência de crise, pode em certas situações tornar mais exigente e ser necessário uma resposta mais generosa, mais delicada, mais pronta, mais próxima. É verdade mas é uma exigência de sempre porque “a fé sem obras é morta” e o amor, caridade tem de se traduzir na proximidade.

 

 

 

AE – De 17 a 20 de setembro vai realizar-se o congresso internacional ‘Diocese do Funchal, a Primeira Diocese Global – História, Cultura e Espiritualidades”. Este evento inserido nas comemorações dos 500 anos da criação da Diocese do Funchal vai ser um momento importante?

A nossa programação teve um crescente em diversas áreas. O aspeto pastoral praticamente, ao longo destes três anos, em cada um tivemos um lema e um conjunto de objetivos que analisados levaram-nos a rever quase toda a ação pastoral na nossa diocese e diante de um princípio que a paróquia deve fazer as suas opções mediante as suas necessidades, os arciprestados devem também fazer as suas e a diocese também deve ter as suas (garizações) organizações.

Ao longo de três anos caminhamos assim procurando tocar aspetos da liturgia, da religião, das manifestações e expressões cultuais mas também na linha dam cultura, do património que são aspetos que nunca estiveram desligados e tudo foi convergindo para a hipótese de um grande congresso

 

 

 

 porque queremos conhecer melhor a nossa realidade, queremos aprofundar esse conhecimento de um modo científico numa linha muito aberta sem ocultar ou relevar aspetos. Nós queremos com simplicidade assumir as nossas realidades, aquilo que é o nosso passado, interpretá-lo no seu contexto, porque é extremamente importante que não   

se faça com os olhos do presente porque interpretamos mal, num contexto desligado. Por isso conhecer a realidade, procurar aprofundá-la no seu contexto específico, próprio, de ocasião e depois tentar ver através disso os dinamismos que presentes na identidade da nossa gente, como também nas exigências daquilo que o futuro apresenta.

 

 

 

AC - Tem sido importante para a Igreja, e certamente que vamos profundar no congresso, verificar como a sementeira de valores humanos, dos valores da solidariedade e da fraternidade e outros valores evangélicos, forma moldando o perfil do homem e da mulher madeirenses. Quer queiramos, quer não queiramos, as marcas ficaram e foi dentro deste contexto que desenvolvendo toda uma ação cultural queremos ao mesmo tempo verificar que os dinamismos que brotam do nosso passado se podem interpretar hoje, no seu significado mais autêntico. Este trabalho implica muita pesquisa que não estará ao alcance de todos fazê-lo mas poderemos contar com muita gente apta, capaz para efetivamente o fazer.

Queremos ir mais longe tanto na linha humanista, esta aposta na pessoa humana que marca a ação da Igreja na nossa terra: Os hospitais que se fizeram, a resposta aos problemas da peste, a presença junto de crianças, jovens e idosos. Tudo isso é evidentemente a aposta na pessoa mas não apenas nos aspetos humanos e sociais mas naquilo que é mais intimo e profundo em termos de 

 

aspirações, em termos de projetos e há princípios fundamentais que brotam do Evangelho e que penso que realmente abrem caminho a quer viver e ser feliz.

Jesus disse “eu sou caminho verdade e a vida, quem vai por mim vai bem”, e eu queria que pudéssemos, aprofundando aquilo que somos, descobrindo mais profundamente dinamismo que nos podem relançar ou lançar para o futuro e depois abrir caminhos de felicidade para as pessoas.

Que as pessoas sejam felizes com Deus e a Igreja possa ser um instrumento a que nós nos comprometemos, o bispo como pastor e a Igreja toda com o bispo nesta comunhão procurando servir amando.

 

AE – Celebrar 500 anos também é olhar o futuro. Quais são os grandes desafios para esta Igreja madeirense?

Em termos de princípios repito aqueles que nortearam à chegada. Quero contar com as pessoas e digo às pessoas que contem comigo e esta ideia de corpo e comunhão é fundamental como motor de qualquer ação pastoral. O da autonomia e da cooperação também é fundamental.

 

 

 

 Depois, a corresponsabilidade e participação, o bispo não é tudo, nem as suas instâncias, nem os seus órgãos são absolutos. Nesse sentido, queremos pensar naquilo que podemos pensar juntos, delinear juntos as respostas que têm de ser dadas e assumirmos conjuntamente, cada um com a sua parte, por isso é participação.

A continuidade e a criatividade pastoral são fundamentais. Eu não posso criar descontinuidade, 

  eu tenho de saber de onde venho, o que tenho e para onde devo partir mas não posso parar diante de um passado ou de um presente, eu tenho de abrir os olhos e responder aquilo que são as novas questões, as exigências de um futuro. Nesse sentido, considero que dentro desta base não tínhamos mais que fazer a não ser procurarmos generosamente discernir a realidade para podermos prosseguir segundo as nossas responsabilidades.
 

 

Congresso recorda «história grande e significativa» para Igreja e sociedade

O congresso internacional que vai assinalar os 500 anos da criação da Diocese do Funchal, de 17 a 20 de setembro, tem mais de 600 de inscritos e quer evocar a história “grande e significativa” desta Igreja.

“É importante para a Igreja e para a sociedade e cultura portuguesa o conhecimento de uma diocese tão importante e tão relevante”, assinala José Eduardo Franco, presidente da comissão organizadora do congresso internacional ‘Diocese do Funchal, a Primeira Diocese Global – História, Cultura e Espiritualidades”.

O responsável disse à Agência ECCLESIA que a Diocese do Funchal “se tornou um território de plataforma de lançamento do processo de expansão ultramarina”. “Do ponto de vista religioso foi um ponto promotor de evangelização ad gentes, de organização de nova cristandade, de novas Igrejas e novas dioceses”, acrescentou.

Nesse sentido, este congresso científico “coroa as celebrações” da criação da diocese madeirense que até 12 de junho de 2014 “foram 

 

essencialmente de caracter pastoral, litúrgico”, observou o entrevistado.

Para congresso que se realiza de 17 a 20 de setembro, no Funchal, foram convidados 130 especialistas/investigadores portugueses, europeus e de continentes com quem a Diocese do Funchal “teve relação”, como “África, Oriente, Brasil”, das “mais variadas óticas/áreas e proveniências científicas”. “Não é um congresso que interessa só aos madeirenses e aos católicos da Madeira porque vamos estudar a diocese na relação com a história portuguesa, europeia e universal e vai ser um momento para compreender os dinamismos institucionais, políticos e religiosos da história moderna”, alerta o presidente da comissão organizadora.

O congresso internacional ‘Diocese do Funchal, a Primeira Diocese Global – História, Cultura e Espiritualidades”, “uma espécie de universidade intensiva” está a ser preparado há tês anos. Segundo José Eduardo Franco, o desafio apresentado “a mais de duas centenas especialistas/investigadores 

 

 

 

de vários países” vai ser editado no livro “Uma nova história da Diocese do Funchal, a primeira diocese global” que vai deixar “um legado de conhecimento importante para a posteridade”.

Vai ser também apresentada a obra poética do padre madeirense Inácio Monteiro, “como poeta importante do período barroco que produziu um canto à Arrábida, no século XVII” e “documentos inéditos ou pouco 

 

 

 

conhecidos” descobertos por “muitos investigadores” convidados para o congresso. O material apresentado neste dossier resulta de uma colaboração entre o Centro de Literaturas e Culturas Lusófonas e Europeias da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (CLEPUL) e a ECCLESIA, que incluiu a produção de uma série de documentários televisivos sobre os 500 anos da Diocese do Funchal.

 

 

 

 

Uma história religiosa

A história religiosa é a história da Madeira desde o primeiro ato oficial que fazem os primeiros descobridores, ao celebrar uma Missa em Machico.

O professor universitário Nelson Veríssimo recorda que a Igreja está presente “desde o início do povoamento da ilha”, mesmo “omnipresente” no quotidiano do arquipélago, sobretudo até ao século XIX, em áreas como o ensino, a saúde, ou a promoção social.

“Os 500 anos da diocese representam progresso, promoção social, solidariedade entre as comunidades e esses valores são sempre de lembrar”, acrescenta.

O historiador José Eduardo Franco sublinha que a Madeira “foi fundadora de uma Igreja nova, estruturada, uma diocese que recebeu em 1514, no momento da sua bula fundacional, jurisdição sobre todos os territórios descobertos e a descobrir”.

Esta diocese foi assim “potenciadora” de um processo de “protoglobalização” que se encontrava no seu início, quer nas relações económicas e culturais entre os vários continentes, quer 

 

no “processo de verdadeira universalização do Cristianismo”.

O arquipélago da Madeira tornou-se o primeiro território descoberto oficialmente no contexto da expansão marítima portuguesa. Foi um ponto estratégico, no meio do oceano, para a construção do império português ultramarino.

Para Alberto Vieira, diretor do Centro de Estudos de História do Atlântico, a Madeira acaba por ser “o centro fora da Europa” onde se começa a gerar “uma nova sociedade, que vai ter uma nova estrutura política e também religiosa”.

O facto de ter sido a primeira ilha ocupada no espaço atlântico “projetou-a para uma posição chave em termos de todo um projeto de expansão portuguesa e europeia num mundo atlântico”.

Um século depois da chegada dos primeiros navegadores nasce a Diocese do Funchal, em 1514; a Igreja de Santa Maria foi elevada à condição de Catedral e foi sagrada em 1516.

O Funchal seria posteriormente elevado à dignidade de arquidiocese, durante pouco mais de duas décadas, o que fez desta Igreja, no seu tempo, a maior arquidiocese do mundo, 

 

 

 

tendo como sufragâneas as dioceses do império colonial português nos Açores, Brasil, África e Oriente.

Com o crescimento da população surgem as primeiras ermidas, as primeiras igrejas, as primeiras paróquias.

Bruno Costa, historiador, observa que logo no inicio no século XV existiriam 10 paroquias em toda a ilha: Funchal, Câmara de Lobos, Ribeira Brava, Ponta do Sol, Calheta, São Vicente, Machico, Santa Cruz, Caniço e Porto Santo.

“No final do século XVI já são 36, ou seja, no primeiro século de plena expansão existem logo mais 26 paróquias, que no final do século XVII serão 42”, prossegue.

A historiadora Cristina Trindade 

 

sustenta que “a história religiosa é a história da Madeira, desde o primeiro ato oficial que fazem os primeiros descobridores ou redescobridores”, lembrando que “as armadas portuguesas, os barcos portugueses não navegavam sem elementos do clero”.

D. Teodoro Faria, bispo emérito do Funchal, observa que a grande expansão portuguesa destes 500 anos permitiu que o Evangelho chegasse “a muitos lugares do mundo”.

“Os portugueses que para aqui vieram foram extraordinários: trazendo as tradições do Continente, souberam adaptá-las a esta terra e criar cá uma forma cultual muito bela”, sustenta.

 

 

 

Património de fé

Ao longo dos séculos o Cristianismo foi deixando as suas marcas na alma e no coração do povo do arquipélago madeirense, visíveis no património cultural material e imaterial. A riqueza gerada pelos ciclos económicos da Ilha foi construindo o esplendor da arte religiosa da Madeira patente nas inúmeras igrejas e capelas, que vão pontuando a paisagem madeirense e na beleza das coleções de pintura, escultura ou ourivesaria.

O Museu de Arte Sacra do Funchal é disso exemplo, como explica a sua diretora, Luiza Clode.

“O Museu de Arte Sacra do Funchal é muito importante no contexto madeirense e também no contexto nacional. Prima pela qualidade das suas peças, em especial a grande coleção de pintura e escultura flamenga”, recorda.

Da grandeza das telas flamengas ao trabalho minucioso da ourivesaria, inúmeros objetos de culto e devoção atestam a riqueza da Igreja madeirense.

João Henriques, diretor regional dos Assuntos Culturais, estima que 70 por cento do património da Madeira seja de caráter religioso, “ou seja, está na sua essência ligada às comunidades

 

 cristãs, paróquias e diocese”.

Por entre capelas e igrejas descobrem-se autenticas obras de arte que a exposição temporária 9Madeira: do Atlântico aos confins da Terra9 quis dar a conhecer, no âmbito da celebração dos 500 anos da Diocese. Do trabalho de inventariação pelas várias paróquias resultou esta exposição patente ao público até finais de outubro.

Luiza Clode revela que foi feita uma “inventariação pelas paróquias”, num processo de seleção “muito difícil” dada a qualidade de muitas peças ou, noutros casos, pela necessidade de fazer uma intervenção profunda de restauro.

O recém-restaurado retábulo de Sé apresenta, segundo o historiador Rui Carita, elementos inéditos, como o facto de o cadeiral e o coro se manterem no local original, antes das alterações do Concílio de Trento.

“A peça mais notável que a Madeira tem é o teto mudéjar, o maior teto alguma vez montado em Portugal que tenha chegado até nós”, acrescenta.

Nos últimos anos, tanto no restauro e na salvaguarda, como na edificação do novo património a cooperação Igreja/Estado tem sido uma 

 

 

 

 

 

constante.

João Henriques precisa que o património é da Igreja e foi construído “num contexto religioso e pela inspiração da fé”, mas o Estado “tem, pela sua natureza e responsabilidade política, o dever de salvaguarda desse património de preservação e restauro para o futuro”.

O património, prossegue, “tem a ver com a vida de uma comunidade, com as suas raízes, com as sua histórias”, por isso “salvaguardar e dar a ver, dignificar esse património é cumprir  um dever de memória e identidade”. 

 

O serviço aos fiéis e à população em geral é a palavra de ordem.

João Cunha Paredes é responsável, nos últimos anos, pela criação de inúmeros templos madeirenses. Estabelecer pontes entre o passado e o presente é a prioridade deste arquiteto, procurando “pegar nos modelos tradicionais da arquitetura madeirense” e “estudar dentro da diáspora os resultados dessa arquitetura religiosa pelo mundo inteiro”.

 

 

 

A experiência de fé moldada pela Madeira

A experiência do sagrado cristão transmite-se de geração em geração e começa em tenra idade. Resulta do trabalho pastoral levado a cabo em cada paróquia, em cada movimento, em cada grupo eclesial. É no seio das 96 paróquias da Diocese que nascem e crescem os cristãos madeirenses numa terra que sempre foi de missão.

“Eu caracterizo esta diocese dentro da linha missionaria como sempre foi ao longo destes 500 anos. O Papa diz que a ação pastoral deve estar sempre em comunhão, numa linha missionária, e eu posso dizer que esta diocese sempre atuou na sua maneira de transmitir a fé de uma forma missionária”, refere o cónego José Fiel, vigário-geral da Diocese do Funchal.

A religiosidade cristã ganha contornos específicos no arquipélago. A espiritualidade franciscana que chegou com os primeiros navegadores moldou a fé deste povo, como refere José Eduardo Franco, historiador.

Esta presença dos franciscanos, sublinha, moldou a forma “da sociedade da cultura e da Igreja madeirense” com uma “caráter próprio”.

São inúmeras as formas de um povo expressar a sua religiosidade: 

 

às Missas do Parto e à devoção ao Espírito Santo e ao Santíssimo Sacramento, por exemplo, juntam-se as festas dos padroeiros, as procissões, as peregrinações, a devoção mariana.

Graça  Alves, do Centro de Estudos de História do Atlântico, destaca estas particularidades: “Estamos no meio do mar, um pouco como uma jangada, uma rocha estacionada. Não há nada que nos ajude, só Deus, e o povo madeirense sente que só Deus e a Igreja Católica o vão direcionando e ajudando a lidar com estas realidades”.

O pároco do Estreito de Câmara de Lobos, padre José Luís Sousa, refere que as pessoas do meio rural “se orientam por dois ritmos”

“Primeiro é o litúrgico: toda a nossa vida, não só espiritual mas também social, está em torno das festividades, nomeadamente o Natal, a Páscoa, as visitas do Espírito Santo, as grandes festas do verão e da própria natureza. Depois, a vida agrícola também determina um pouco o ritmo da vida das pessoas nesta terra”, precisa.

Um lugar de relevo merece Nossa Senhora do Monte, como realça o pároco local, padre Giselo Andrade, que fala numa devoção 

 

 

 

 

mariana que começou já nos primórdios da colonização.

“Essa imagem constituiu até aos dias de hoje uma riqueza muito grande para nós, porque no fundo é a expressão de Maria. Enquanto no Continente temos Fátima e outros santuários, aqui temos e concentramos toda a nossa devoção e o nosso amor mariano para Nossa Senhora do Monte”, precisa.

 
Hoje, como ontem, a Madeira continua a ser terra de emigração, mas continuará a ser missionária? O cónego José Fiel lembra que muita gente está a deixar a ilha, por causa da crise e espera que, como os seus antepassados, saibam levar as suas raízes e “toda a religiosidade” pela Europa e o mundo.
 

 

A marca das ordens religiosas

Os primeiros religiosos que chegaram à Madeira eram Franciscanos e acompanhavam as caravelas portuguesas que ali aportaram. Do património edificado franciscano resta apenas o Convento de São Bernardino hoje a beneficiar de obras de restauro. Mas o grande legado dos franciscanos na Madeira não está nos edifícios mas sim num património imaterial patente na religiosidade deste povo.

D. António Montes, bispo emérito de Bragança-Miranda e membro desta ordem religiosa sustenta que “a marca principal que ficou dos franciscanos não foi em edifícios, foi no estado de espírito do Cristianismo na Madeira, particularmente as devoções ligadas ao presépio, ao Natal, bem como à Semana Santa e ao Santíssimo Sacramento”.

O desenvolvimento de novos núcleos populacionais, nos primeiros séculos do povoamento, tornou necessários novos agentes de pastoral, vindos de outras ordens.

É neste contexto que os Jesuítas chegam à Madeira, como recorda o historiador José Eduardo Franco: “A partir de 1569, a Companhia de Jesus começa a projetar-se no Funchal, 

 

com a construção de um grande colégio que ainda hoje é a referência histórica da Madeira, essa grande instituição que era quase universidade, à semelhança do que os jesuítas tinham em grandes cidades de Portugal”.

Já no século XVIII, foi a vez dos padres vicentinos chegarem pela primeira vez à Madeira: Foi a pedido do bispo do Funchal D. Gaspar Brandão. Dois objetivos estavam por detrás deste pedido: formação do clero e missões populares, como explica o padre Gil Pereira: “Para a formação do clero, embora não houvesse seminário, para fazer pregações, retiros para os futuros padres e ao mesmo tempo foram-se juntando outras tarefas, como encontros com religiosas para retiro, as confissões pelas aldeias da Madeira e as missões populares”.

Outras congregações foram-se implantando posteriormente neste território. Uma delas foi a Ordem dos Irmãos de São João de Deus, que chegou à Madeira em 1924 e se instalou no Trapiche, uma quinta situada numa das altas encostas do Funchal, com uma aposta na dignidade no cuidado dos doentes mentais.

 

 

 


 

Algumas décadas mais tarde, em 1950, chegaram os salesianos e começaram por tomar conta da obra fundada pelo padre Laurindo Leal Pestana, um sacerdote seguidor de Dom Bosco, que dedicou a vida a acolher jovens abandonados e a dar-lhe formação na Casa de Artes e Ofícios.

Formação era a palavra de ordem para os Sacerdotes do Coração de Jesus.  Chegaram à Madeira em 1947 a pedido do prelado madeirense D. Teodósio de Gouveia, arcebispo de Lourenço Marques, que anos antes viajara por Roma em busca de missionários para Moçambique.

A educação para a missão é também uma prioridade do Instituto das Irmãs Franciscanas Missionárias de Maria, um Instituto fundado na Índia, e que chegou à Madeira em 1898.

 
As Irmãs franciscanas de Nossa Senhora das Vitorias são outra congregação que contribuiu para que a Madeira fosse um viveiro de vocações missionárias. As vitorianas, também assim chamadas, têm a particularidade de terem nascido na Ilha, pela mão de Mary Jane Wilson, uma anglicana convertida ao catolicismo.

Além da marca deixada pelas ordens e congregações na estruturação do tecido social, estas tiveram e continuam a terem um importante papel na evangelização e na promoção social e humana do arquipélago. Com um vasto trabalho nas áreas da saúde, educação e ação social, as religiosas e religiosas da Madeira continuam a fazer da ilha um local de missão. E também daqui continuam a partir para servir a Igreja Universal.

 

 

Democracia na Madeira
é devedora à Igreja Católica

O presidente do Governo Regional da Madeira considera que a Igreja Católica é chamada a ter um “papel fundamental” no regime democrático com participação nos domínios em que está “particularmente vocacionada” para atuar, como tem acontecido no arquipélago nas últimas décadas.

“Costumo dizer que tive muita sorte, trabalhei com três grandes bispos: D. Francisco Santana (1924-1982), D. Teodoro de Faria e D. António Carrilho. Foram bispos certos na altura certa”, declara Alberto João Jardim.

O responsável recorda D. Francisco Santana como “um grande combatente político”. “A opção pela democracia que a Madeira fez logo desde o 25 de Abril deve-se a ele, sem dúvida, e eu não me envergonho de dizer que, de certo modo, sou um produto de D. Francisco Santana”, prossegue.

Em relação a D. Teodoro de Faria, bispo do Funchal entre 1982 e 2007, o presidente do Governo Regional valoriza o trabalho de “arrumar a casa” num período pós-revolucionário.

“O bispo já não precisa de interferir, politicamente, mas é um bispo muito 

 
atento, valorizando aquilo que representa a presença histórica e efetiva da diocese no território madeirense”, recorda.

Quanto a D. António Carrilho, Alberto João Jardim realça que o atual bispo diocesano chega num momento em que a democracia está mais consolidada e “pode agora, nesta terceira fase, separar mais a Igreja do Estado”.

“Seguimos caminhos paralelos, com valores semelhantes. O governo da Madeira assenta no personalismo cristão”, observa.

O responsável sustenta que a Igreja e o Estado têm uma relação “complementar” e destaca dois planos da ação católica que vão para lá da esfera religiosa. “Nos tempos de relativismo, que alguns chamam pós-modernismo, de forma caricata, a Igreja tem um papel de formação, de fazer um esforço enorme de transmitir valores às pessoas”, começa por dizer.

“O Estado, por si só, não tem capacidade para atuar em todos os campos, no sentido do bem comum, particularmente na saúde, 

 

 

 

 

 

na cultura, na conservação do património?, acrescenta.

Segundo Alberto João Jardim, o apoio do Governo à Igreja Católica em vários campos não deve ser visto como ?um favor?, mas como o cumprimento do dever democrático de responder aos ?direitos? da população, como aconteceu no caso da construção de igrejas.

A esse respeito, deixa o exemplo da educação, revelando que ?nos estabelecimentos que estão à responsabilidade da Igreja Católica, o custo de gestão é um terço, por pessoa abrangida, em relação aos estabelecimentos oficiais públicos?.

Nos 500 anos da criação da Diocese do Funchal, o presidente do Governo Regional diz que esta se ?confunde com a história da Madeira e de

 

 Portugal, porque é a entidade religiosa que dirige a expansão, sob este ponto de vista?.

O governante recorda o papel da Madeira como ?base? da expansão portuguesa pelo Atlântico e a dimensão invulgar que a diocese atingiu, na sua jurisdição.

Quanto ao futuro, Alberto João Jardim defende que a Igreja tem de ser mais ?atrativa? e ir ao encontro das pessoas, também através das novas tecnologias, renovando a sua Liturgia e falando ?sem medo? em relação às ?grandes questões sociais?.

?Sinto às vezes que a Igreja tem receio de que a confundam com qualquer proximidade a uma corrente política. Mas há princípios que a Igreja defende e que os cristãos que estão na política seguem?, conclui.

 

 

Percursos de santidade

Em 500 anos de existência, é impossível falar da Igreja na Madeira sem nos determos no exemplo extraordinário de vida de alguns homens e mulheres que ganharam muito justamente fama de santidade. Pessoas do seu tempo, procuraram dar um contributo para a construção de uma sociedade mais justa que refletisse os valores do Evangelho.

D. Maurílio de Gouveia, arcebispo emérito de Évora, nasceu na Madeira e dedicou parte da sua vida j a estudar a história destes cristãos que se destacaram pela bondade, caridade e profunda fé em Jesus Cristo. Um deles é o frade franciscano Pedro da Guarda (1435-1505).

“É talvez a figura mais destacada do franciscanismo na Madeira. Veio para cá ainda no século XVI. Uma figura extraordinária pela sua santidade e que marcou a História da Madeira durante séculos”, assinala o prelado.

Tal como frei Pedro, há homens e mulheres, consagradas ou não à vida religiosa, que impressionaram desde sempre D. Maurílio Gouveia. Uma delas é a Madre Virgínia Brites da Paixão (1860-1929). Conhecida como a última abadessa do Convento das

 

 Mercês, da Ordem de Santa Clara, viveu intensamente os tempos conturbados da implantação da República e da perseguição à Igreja.

Outra figura incontornável é a irmã Mary Jane Wilson (1840-1916), inglesa convertida que iria ter um papel muito ativo na vida da Madeira do seu tempo.

O bispo emérito do Funchal, D. Teodoro de Faria, destaca a generosidade de Mary Wilson que ganhou dos pobres da Madeira o apelido de “boa mãe”, talvez a síntese mais feliz de toda a sua vida, dedicada à educação, ao cuidado dos doentes e à catequese. “Quem tem Deus dentro do seu coração não para”, explica.

O prelado gosta também de sublinhar particularmente a história do imperador Carlos da Áustria (1887-1922), beatificado no Funchal, que no seu exílio na Madeira impressionou o povo pela sua profunda fé e pela forma intensa como orava.

Muito presente na memória está a história da irmã Maria do Monte Pereira (1897-1963), uma mulher mística, contemplativa, que levou a sua vida a trabalhar com doentes do foro psiquiátrico. “Deus tinha-a

 

 

 

 

 

 escolhido para um campo especial, a mística do sofrimento, que é o que purifica a Igreja por dentro”, precisa D. Teodoro de Faria.

Houve outras figuras extraordinárias, como Maria Eugénia de Canavial (1863.1945), que provavelmente serão menos conhecidas. 

 

Para D. Maurílio de Gouveia, há ainda que acrescentar dois nomes: monsenhor Manuel Joaquim de Paiva, “talvez o padre mais extraordinário que a Madeira teve no século XX” e o padre Laurindo Leal Pestana, fundador da Escola de Artes e Ofícios.

 

 

 

 

Papa elogia exemplos
de misericórdia da Igreja

O Papa elogiou no Vaticano os exemplos de “misericórdia” da Igreja junto dos pobres, dos doentes, dos presos e de quem está a morrer, considerando que esta é uma questão “essencial” na fé dos católicos. “Assim, a Igreja comporta-se como Jesus: não dá lições teóricas sobre o amor, sobre a misericórdia, não difunde no mundo uma filosofia, um caminho de sabedoria”, afirmou, na catequese da audiência geral que reuniu dezenas de milhares de pessoas na Praça de São Pedro.

A misericórdia, precisou Francisco, supera “qualquer barreira” e leva a procurar “o rosto do homem”, sendo por isso capaz de mudar “o coração e a vida”, de “regenerar uma pessoa e permitir-lhe a reinserção, de modo novo, na sociedade”. O Papa sublinhou a importância do “exemplo”, que passa por “dar de comer e de beber” a quem precisa, como fizeram tantos santos e “pais e mães que ensinam aos seus filhos que aquilo que sobre é para quem não tem o necessário”.

“Um bom educador aponta para o essencial, não se perde nos detalhes, mas quer transmitir aquilo que 

 

conta verdadeiramente”, observou, antes de frisar que “o essencial, segundo o Evangelho, é a misericórdia”.

Francisco recordou depois a tradição de “hospitalidade” nas famílias cristãs mais simples, recordando uma conversa com uma mãe, em Buenos Aires, que abriu as portas de casa, com os seus três filhos, para dar de comer a quem lhe pedia alimento, sugerindo às crianças que oferecessem “metade do seu bife”. “Dá do que é teu”, disse aos presentes.

O Papa passou em revista várias obras de Misericórdia, como visitar os doentes ou quem está na prisão, criticando quem considera os reclusos como “gente má”. “Cada um de nós é capaz de fazer o mesmo que aquele homem ou aquela mulher que está na cadeia”, advertiu.

A intervenção recordou também o exemplo da Beata Madre Teresa de Calcutá no acompanhamento de quem estava abandonado ou morria sozinho, oferecendo-lhes “paz”.

Estas lições, precisou, devem levar os católicos a “fazer o bem sem esperar nada em troca”.

 

 

 

 

 

 

“Que belo é viver na Igreja, nossa mãe Igreja, que nos ensina estas coisas”, acrescentou.

Como é tradição, o Papa deixou uma saudação aos grupos de peregrinos lusófonos que o acompanharam nesta audiência pública. “Queridos amigos, as obras de misericórdia são essenciais para a nossa vida cristã. Olhai ao vosso redor, há sempre alguém que precisa

 

de uma mão estendida, de um sorriso, de um gesto de amor”, declarou.

Francisco dirigiu ainda uma palavra de esperança aos peregrinos provenientes do Médio Oriente: “Que o Senhor recompensa a vossa fidelidade, vos infunda coragem na luta contra as forças do maligno e abra os olhos a quem está cego por causa mal”.

 

 

Sínodo: Assembleia extraordinária
vai ter 253 participantes

A Santa Sé anunciou que 253 pessoas, incluindo 25 mulheres, vão marcar presença na terceira assembleia extraordinária do Sínodo dos Bispos, dedicada às questões da família, que vai decorrer no Vaticano entre os dias 5 e 19 de outubro.

A lista inclui 114 presidentes de conferências episcopais, entre eles D. Manuel Clemente, patriarca de Lisboa, que participam por direito próprio, para além de 16 peritos, 14 casais de vários países, incluindo o Iraque, e representantes de outras Igrejas cristãs.

Entre os participantes estão os presidentes dos dicastérios da Cúria Romana, bem como cardeais, bispos ou padres selecionados pelo Papa, que aprova ainda a escolha de peritos (‘adiutores secretarii specialis’) e ouvintes (‘auditores’); nestes últimos grupos há 24 leigas e uma religiosa.

O Vaticano já divulgou o documento de trabalho (instrumentum laboris) da assembleia extraordinária do Sínodo dos Bispos, no qual se alertou para o risco de uma “mentalidade reivindicativa” em relação aos sacramentos.

 

O próximo Sínodo tem como tema os “desafios pastorais sobre a família” e será seguido por uma assembleia ordinária em 2015; só após a conclusão destes dois momentos serão apresentadas propostas a Francisco, a partir das quais poderá redigir uma exortação apostólica.

O Sínodo dos Bispos, convocado pelo Papa, pode ser definido em termos gerais como uma assembleia consultiva de representantes dos episcopados católicos de todo o mundo.

Até hoje houve 13 assembleias gerais ordinárias e duas extraordinárias: a primeira em outubro de 1969, para debater a cooperação entre a Santa Sé e as Conferências Episcopais; a segunda em 1985, pelo 20.º aniversário do encerramento do Concílio Vaticano II.

 

 

 

Papa vai visitar Parlamento Europeu

O Papa Francisco vai visitar Estrasburgo, a 25 de novembro, para proferir um discurso no Parlamento Europeu, anunciou hoje a instituição comunitária, uma informação confirmada depois pela Santa Sé. O presidente do Parlamento, Martin Schulz, revelou a notícia aos líderes dos grupos políticos esta manhã, depois de ter recebido uma resposta afirmativa ao convite que dirigiu ao Papa numa visita ao Vaticano, a 11 de outubro de 2013.

“A visita oficial vai decorrer a 25 de novembro, em Estrasburgo. Nesta ocasião, o Papa vai dirigir-se aos membros, durante uma sessão formal”, assinala uma nota oficial divulgada pela presidência do Parlamento Europeu.

O diretor da sala de imprensa da

 

 Santa Sé, padre Federico Lombardi, confirmou que Francisco aceitou o convite para “visitar o Parlamento Europeu e dirigir um discurso aos seus membros”.

O presidente da Comissão dos Episcopados Católicos da União Europeia (COMECE), cardeal Reinhard Marx, reagiu aos anúncios, em comunicado, considerando que a visita é “uma notícia muito boa” num ano que apresenta “uma série de inícios desafiantes para o projeto europeu”.

“A decisão de ir a Estrasburgo antes de visitar individualmente um dos Estados-membros da União Europeia, enquanto tal, dá um forte sinal de que o Papa apoia e encoraja a busca da integração e unidade europeias”, acrescenta o arcebispo de Munique, em nota enviada à Agência ECCLESIA.

 

 

 

A Agência ECCLESIA escolhe sete acontecimentos que marcaram a atualidade eclesial internacional nos últimos dias, sempre atualizados em www.agencia.ecclesia.pt

 

 

 

 

 

 

 

 

 

«A guerra nunca é necessária nem inevitável» 

 

 

 

Programa 70x7 (emissão 07-09-2014) 

 

Exigências éticas
e comportamentos saudáveis

O monsenhor Vítor Feytor Pinto acaba de lançar uma obra sobre a “sexualidade humana”, as suas “exigências éticas e comportamentos saudáveis”.

Segundo um comunicado enviado à Agência ECCLESIA pela PAULUS Editora, responsável pela difusão do livro, o objetivo do antigo coordenador da Comissão Nacional da Pastoral da Saúde é “compreender a evolução dos comportamentos” das pessoas nesta área e sublinhar “a importância da transmissão responsável da vida”.

O projeto nasceu no seguimento da tese de mestrado do sacerdote, na área da Bioética, e da “consciência de que a sexualidade humana é um problema não estudado, de uma maneira formal e acessível a todos, na sociedade portuguesa”.

No desempenho da sua missão pastoral, o monsenhor Feytor Pinto acompanhou “milhares de jovens e jovens casais” que manifestaram o desejo de “ter, no exercício da sexualidade e na afirmação do amor humano, valores de referência que orientem os próprios comportamentos”.

 
A grande dificuldade, aponta o coordenador da Comissão Nacional da Pastoral da Saúde entre 1985 e 2013, era sempre “encontrar elementos de estudo e de reflexão sobre a matéria”.

Por isso, o monsenhor Vítor Feytor Pinto “dedica este trabalho a todos os jovens que desejam viver a sua sexualidade inseridos num projeto de amor e de vida, e aos casais jovens que desejam orientar a sua vida num quadro de unidade e fidelidade e, também, de fecundidade responsável”.

Pretende ainda favorecer o debate acerca da influência da tecnologia e dos avanços científicos para a desvirtuação da sexualidade enquanto “dom”.

“Por vezes, a ciência tem a tentação de ser ela a senhora da vida, que marca as características de cada ser humano, que define o ritmo da sua multiplicação, que se permite não respeitar a liberdade de cada um quando esta não se sujeita aos seus interesses”, aponta o sacerdote.

O professor e médico Walter Osswald, especialista em Bioética que assina o prefácio do livro, salienta que os leitores vão poder encontrar 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

um conjunto de “teses e opiniões, clara e metodicamente expostas, e sempre confrontadas com o discurso magisterial, muito especialmente com a notável catequese inicial de João Paulo II sobre o corpo humano”.

Ao longo de 192 páginas, “o autor 

 

lembra-nos que a fecundidade cultural, artística, espiritual tem sempre a sua raiz num ser humano sexuado”, frisa o antigo diretor do Instituto de Bioética da Universidade Católica Portuguesa.

 

 

 

Redentorista português sentiu o fervilhar dos debates conciliares

 

Depois de terminar o percurso no seminário e receber a ordenação presbiteral em 1960, o padre Américo M. Veiga, missionário redentorista, foi enviado para Roma dois anos depois. Chegou à capital italiana dois meses antes do início do II Concílio do Vaticano.

Ao dar o seu testemunho na XXVII Semana de Estudos de Vida Consagrada, o padre Américo Veiga recordou que a “grande maioria ou a totalidade dos professores” da Academia de Moral dos Redentoristas, a funcionar na casa onde residia quando esteve em Roma, “eram consultores ou peritos do Concílio”.

Em Roma, o fervilhar de debates, conferências, colóquios e testemunhos era constante. Para entender isto, basta recordar que a capital italiana acolheu cerca de 2500 bispos, “um significativo número de peritos do Concílio e ainda numerosos conselheiros ou consultores de cada bispo ou de grupos de bispos”, disse o padre redentorista e acrescenta: “Todos eles sentiam necessidade de desabafar e dizer qualquer coisa”.

Na casa onde residia este missionário português, estavam hospedados uns “25 bispos redentoristas de todo o mundo”.

Quando os estudantes redentoristas que ali viviam saiam para as diferentes universidades, os bispos conciliares diziam “com alguma graça: «Ide, que nós também vamos para a nossa [referiam-se ao Concílio]»”. Segundo o testemunho deste missionário, esta assembleia magna “foi um autêntico, amplo e profundo curso de reciclagem”.

Na sua comunicação aos participantes na 

 

 

 

 

 

 

Semana de Estudos de Vida Consagrada, o padre Américo Veiga recorda que “a grande maioria dos bispos conciliares estava à margem dos grandes debates que ali se realizavam e dos grandes voos teológicos que supunham”. A Igreja “teve a sorte e a graça” de possuir naquela época um número de teólogos “extraordinários” e um grupo de bispos, “reduzido é certo, mas muito bem preparado teologicamente, de grande abertura e experiência pastoral”.

Para o padre Américo Veiga, o II Concílio do Vaticano foi “uma explosão de alegria” e o acontecimento mais marcante” da sua vida. E adianta: “Sempre inquieto e interrogativo, muito do que me tinham ensinado e aprendido não me convencia totalmente, nem me deixava tranquilo”.

Passados 50 anos do início (11 de outubro de 1962) desta assembleia magna convocada pelo Papa João XXIII, o missionário português 

 

confessa: “Não me imagino sem o concílio nem quero imaginar o que seriam as relações da Igreja com o mundo sem o concílio”. Este acontecimento “foi a luz tão desejada e ardentemente procurada, a luz cheia de vida ao fundo do túnel para muitas interrogações que me dominavam”.

Quando morre o Papa João XXIII (03 de junho de 1963) coloca-se o problema da sucessão e da continuação do concílio. O padre Américo Veiga recorda uma conversa entre o cardeal Cerejeira e o redentorista Bernhard Haring (especialista na área da Moral). Nesse diálogo, o cardeal português pergunta ao moralista quem eram os cardeais mais «papáveis». Na sua resposta, Bernhard Haring diz: “Os cardeais Lercaro, arcebispo de Bolonha, e Montini, arcebispo de Milão”. As previsões de Bernhard Haring estavam certas…

 

LFS

 

 

Setembro 2014

Dia 12

* Lamego - Casa de São José - Colégio de arciprestes presidido por D. António Couto.

 

* Braga - Abertura da fase diocesana do processo de canonização do cónego Adão Salgado, fundador da Congregação da Divina Providência e Sagrada Família.

 

* Santarém – Sé - Inauguração do Museu Diocesano de Santarém e estreia da «Cantata Mundi» de Rodrigo Leão.

 

* Braga - Igreja de Santa Cruz - Concerto das celebrações da Exaltação de Santa Cruz com a atuação da orquestra «Sinfonieta de Braga».

 

* Fátima - D. Manuel Linda preside à peregrinação aniversária de setembro que tem como tema «Quereis oferecer-vos a Deus em reparação?» (das ‘Memórias da Irmã Lúcia’). (12 e 13)

 

* Vila Real - Alijó e Sanfins do Douro - Dois concertos orantes nas igrejas paroquiais de Alijó e Sanfins do Douro pelo grupo Dabar. (12 e 13)

 

 

 

 

 

 
Dia 13

* Itália – Gorizia - O Papa Francisco desloca-se à província de Gorizia, no norte de Itália para «rezar pelas vítimas de todas as guerras».

 

* Braga - Santuário do Sameiro - Dia arquidiocesano do catequista presidido por D. Jorge Ortiga.

 

* Lisboa - Mosteiro de São Vicente de Fora - Concerto de órgão no Mosteiro de São Vicente de Fora.

 

* Lisboa - Visita guiada a Igrejas de Lisboa com o tema «Itinerários da Fé».

 

* Coimbra - Colégio de São Teotónio - Assembleia diocesana de catequistas com reflexão sobre «Adolescentes hoje, espaços educativos, desafios para crescer» promovido Secretariado de Evangelização e Catequese.

 

* Aveiro - Junto ao túmulo de Santa Joana - Tomada de posse de D. António Moiteiro Ramos como bispo de Aveiro junto do colégio dos consultores.

 

 

 

 

 

 

 

 

 
* Braga - Seminário de Nossa Senhora da Conceição - Fórum da UASP (União das Associações dos antigos alunos dos Seminários Portugueses) com o tema «Olhares sobre o II Concílio do Vaticano» (13 e 14)
 
 
Dia 14

* Fátima - Peregrinação nacional da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (FAIS) e vai promover uma jornada de oração pela paz no Iraque.

 

* Vaticano - Basílica de São Pedro - O Papa Francisco preside ao matrimónio de 20 casais da Diocese de Roma.

 

* Aveiro – Sé - Entrada solene de D. António Moiteiro Ramos na Diocese de Aveiro.

 

 

Dia 15

* Évora - Seminário Maior de Évora - Jornada geral do clero da diocese de Évora e apresentação do projeto do plano pastoral para 2014-2015.

 

 

 

 

 

 

 

 

* Porto - Salão Nobre Seminário - Celebração dos 150 anos do Seminário Maior do Porto presidida por D. António Francisco Santos.

 

* Madrid - Casa de acolhimento e formação das Carmelitas Teresianas de São José - Seminário de comunicação sobre «Como comunicar os grandes eventos da Igreja?» organizado pela Fundación Carmen de Noriega. (15 a 17).

 

* Vaticano - Reunião entre o Papa Francisco e o Conselho de Cardeais.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Museu Diocesano de Santarém

O Museu Diocesano de Santarém vai ser inaugurado esta sexta-feira, uma ocasião assinalada com a estreia da Cantata Mundi ‘Todos somos terra e céu, todos somos mundo’, que tem música de Rodrigo Leão. Da autoria de Rui Baeta (cantor lírico e compositor) e Ana Margarida Encarnação (compositora), responsáveis pela seleção dos temas, arranjos, orquestração e composição, a obra musical confere aos temas de Rodrigo Leão “uma sonoridade diferente, mais clássica, solene e até celestial”, revela um comunicado enviado à Agência ECCLESIA.

 

Francisco visita o maior cemitério militar de Itália

O papa Francisco vai viajar “como peregrino” ao chamado Santuário militar de Redipuglia, em Gorizia, região próxima da fronteira de Itália com a Eslovénia, e visitar o cemitério inaugurado em 1938 para servir de última morada a 100 mil italianos que tombaram no decurso da Primeira Grande Guerra.

 

Aveiro acolhe o novo pastor

O novo bispo de Aveiro, D. António Moiteiro vai tomar posse e entrar solenemente na diocese, em cerimónias no sábado e domingo. “Há dois campos fundamentais onde o bispo deve estar muito presente: na vida dos sacerdotes, porque o bispo sem um presbitério dinâmico não é capaz de realizar a sua missão, e também leigos formados, que podem ter uma formação melhor e mais aprofundada”.

 

Papa vai presidir a 20 casamentos

O Papa Francisco vai presidir ao matrimónio de 20 casais da Diocese de Roma, este domingo, na Basílica de São Pedro. A celebração dos 20 casamentos vai ser a primeira do género no atual pontificado. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Programação religiosa nos media

Antena 1, 8h00

RTP1, 10h00

Transmissão da missa dominical

 

11h00 - Transmissão missa

 

12h15 - Oitavo Dia

 

Domingo: 10h00 - O Dia do Senhor; 11h00 - Eucaristia; 23h30 - Ventos e Marés; segunda a sexta-feira: 6h57 - Sementes de reflexão; 7h55 - Oração da Manhã;  12h00 - Angelus; 18h30 - Terço; 23h57-Meditando; sábado: 23h30 - Terra Prometida.

 
RTP2, 11h22

Domingo, dia 14 de setembro: Origens e estrutura da diocese do Funchal

 

RTP2, 15h30

Segunda-feira, dia 15 - Entrevista a José Eduardo Franco sobre os 500 anos da diocese do Funchal;

Terça-feira, dia 16 - Informação e entrevista a João Paulo Oliveira e Costa sobre os 500 anos da diocese do Funchal;

Quarta-feira, dia 17 - Informação e entrevista a Guilherme Silva sobre os 500 anos da diocese do Funchal;

Quinta-feira, dia 18 - Informação e entrevista ao padre José Ornelas Carvalho sobre os 500 anos da diocese do Funchal;

Sexta-feira, dia 19 - Apresentação da liturgia de domingo pelo cónego António Rego e frei José Nunes

 

Antena 1

Domingo, dia  14 de setembro,  06h00 - Diocese de Aveiro: entrevista a D. António Moiteiro Ramos, bispo de Aveiro

 

Segunda a sexta-feira, 22h45 - 15 a 19 de setembro - 500 anos da diocese do Funchal: Perspetivas de Paquete de Oliveira, Alberto Vieira, Cristina Trindade, João Henriques e Alberto João Jardim

 

 

 

Que missão tem o Papa?

 

 

 

 

 

 

 

 

Ano A – Festa da Exaltação da Santa Cruz

 
 
 
 
 
 
 
Contemplar a Cruz, acolher o amor de Deus
 

A liturgia deste domingo, Festa da Exaltação da Santa Cruz, convida-nos a contemplar a cruz de Jesus como expressão suprema do amor de um Deus que veio ao nosso encontro, que aceitou partilhar a nossa humanidade, que quis fazer-se servo dos homens, que se deixou matar para que o egoísmo e o pecado fossem vencidos. Oferecendo a sua vida na cruz, em dom de amor, Jesus indicou-nos o caminho para chegar à vida plena.

João é o evangelista abismado na contemplação do amor de Deus. Com João, o Evangelho deste domingo convida-nos a contemplar esta incrível história de amor e a espantar-nos com o peso que nós, seres limitados e finitos, pequenos grãos de pó na imensidão das galáxias, adquirimos nos esquemas, nos projetos e no coração de Deus.

O amor de Deus traduz-se na oferta de vida plena e definitiva. É uma oferta gratuita, incondicional, absoluta, válida para sempre e que não discrimina ninguém. A todos nós, dotados de liberdade e de capacidade de opção, compete decidir se aceitamos ou se rejeitamos o dom de Deus. Às vezes, acusa-se Deus pelas guerras, pelas injustiças, pelas arbitrariedades que trazem sofrimento, desespero e morte. O Evangelho é claro: Deus ama-nos e oferece-nos a vida. O sofrimento e a morte não vêm de Deus, mas são o resultado das escolhas erradas feitas pelo homem que se obstina na autossuficiência e que prescinde dos dons de Deus.

João define claramente o caminho que todos devemos seguir para chegar à vida eterna: acreditar em Jesus. Acreditar em Jesus não é uma mera adesão intelectual ou teórica a certas verdades da fé; mas é aderir à 

 

 

 

 

 

 

 

Pessoa de Jesus e escutá-lo, acolher a sua mensagem e os seus valores, segui-lo nesse difícil caminho do amor e da entrega ao Pai e aos irmãos.

Como diz o Papa Francisco na «Alegria do Evangelho», a fé conserva sempre um aspeto de cruz, certa obscuridade que não tira firmeza à sua adesão. Há coisas que se compreendem e apreciam só a partir desta adesão que é irmã do amor, para além da clareza com que se possam compreender as razões e os argumentos. Por isso, é preciso recordar-se de que cada 

 

ensinamento da doutrina deve situar-se na atitude evangelizadora que desperte a adesão do coração com a proximidade, o amor e o testemunho».

Que a liturgia da Festa da Exaltação da Santa Cruz nos ajude a percorrer, com Jesus, esse caminho de amor, de dom, de entrega total que Ele percorreu, com gestos concretos que tragam alegria, vida e esperança aos irmãos que caminham lado a lado connosco.

Manuel Barbosa, scj

www.dehonianos.org

 

 

A tragédia dos Cristãos no Iraque parece não ter fim

As lágrimas do Padre Behnam

Os Cristãos vivem dias de apocalipse no Iraque. Sem nada, dependem apenas da caridade de instituições como a Fundação AIS. Acossados pelos jihadistas, fogem do terror. Um padre, que agora vive em Bartella, escreveu ao Papa Francisco a contar toda esta tragédia.

Não se conhece o diálogo, mas imaginam-se as palavras. O Padre Behnam Benoka, vice-reitor do seminário católico de Ankawa, e que vive agora numa tenda em Bartella, uma pequena cidade cristã nas imediações de Mossul, escreveu ao Papa Francisco. Este, profundamente comovido com as palavras em lágrimas do padre, telefonou-lhe. Que escreveu o Padre Behnam Benoka nesta carta manchada de lágrimas? Ele falou da “situação terrível” dos Cristãos em fuga da violência dos jihadistas, que “morrem e têm fome e os seus filhos têm medo e não aguentam mais”. O Padre Behnam disse também ao Papa que são poucos os padres, religiosos e religiosas que se encontram no Iraque. São poucos porque são cada vez mais os que lhes imploram ajuda.

Primeiro, foi Mossul, cidade onde 

 

viviam milhares de cristãos. No dia 10 de Junho, as milícias jihadistas entraram na cidade com enorme alvoroço. Ameaçaram toda a gente: ou se convertiam ao Islamismo ou morriam. Fotografias dos cadáveres correram mundo e ampliaram, ainda mais, a fama sanguinária destes homens de negro. Os Cristãos viram as suas casas assinaladas, uma a uma, tal como os nazis fizeram aos judeus. Fugiram com o que tinham vestido. Muitos não escaparam com vida. Há também notícias de mulheres e jovens violadas e vendidas como escravas sexuais. Os Cristãos fugiram para Qaraqosh, uma cidade cristã situada no Curdistão e defendida pelos seus soldados, os peshmerga.

 

Números trágicos

No dia 6 de Agosto, a notícia correu de boca em boca como um grito: Os jihadistas estavam às portas da cidade. Foi uma fuga imensa. Aos 50 mil habitantes de Qaraqosh juntaram-se os de Bartella e Karemlesh. Foram mais de 100 mil pessoas. Os números são trágicos. Só no Curdistão, e segundo estimativas da ONU, 

 

 

 

 

 

 

 

haverá mais de 850 mil deslocados.

As lágrimas do Padre Benoka também falam de Yacoub. Vivia em Mossul. Agora é apenas um refugiado que depende da ajuda de emergência que a Fundação AIS disponibilizou para o Iraque. A sua vida é uma tragédia. A perna, cheia de cicatrizes, não lhe permite esquecer o atentado à bomba contra uma igreja em Mossul, em 2008. Estava lá a rezar quando o petardo explodiu. Quando os jihadistas entraram na cidade, 

 

Yacoub fugiu com as suas quatro filhas. Foram para Al Qosh. Quando os jihadistas começaram a bombardear Al Qosh, fugiram para Duok. Yacoub perdeu tudo o que tinha, mas não perdeu a fé. Aliás, foi por causa da fé que fugiu. “Antes a morte que a renúncia a Cristo”, costuma dizer. Como poderia o Padre Behnam Benoka ter escrito ao Papa uma carta que não estivesse cheia de lágrimas?
 

Paulo Aido | www.fundacao-ais.pt

 

 

 

 

A arte de ensinar e aprender…

Tony Neves

 
 

Tudo em Portugal anuncia o regresso às aulas. Os programas de rádio e tv falam dos preços dos livros, da ansiedade de alguns professores e alunos. No caso do Ensino Superior, publicam-se as médias exigidas por cada Universidade para a admissão nos diferentes cursos. Enfim, o trânsito também aumenta com a ida para a estrada de professores, alunos e funcionários das instituições académicas, após prolongada pausa de verão, em tempo de férias.

A Escola é um lugar de aprendizagem por excelência. A lógica do ler, escrever e fazer contas já passou de moda, mas a verdade é que a instituição escolar continua a ter lugar cativo na vida das novas gerações. Não é por acaso que a escolaridade é obrigatória até certa idade, sentindo-se o Governo no direito de obrigar crianças e adolescentes e chegar a um patamar mínimo de conhecimentos académicos.

Há muito que se discute em Portugal sobre a qualidade do Ensino. Estruturas há muitas e boas. Os professores têm uma formação de elite e, pelo facto de serem muitos, acaba por haver escolha, permitindo mais qualidade, sobretudo no Ensino Particular e Corporativo onde as direções podem escolher à vontade os seus professores e funcionários, sem concurso.

Este regresso às aulas faz-me sempre pensar num contraste estranho entre a Europa e boa parte de África. Assim, as notícias que circulam na Europa apontam para  Escolas que fecham todos os anos por falta de alunos. Também nas Universidades há cursos que não abrem portas por falta de

 

 

 

 

 

Luso Fonias

 

 

 

 candidaturas. E é enorme a quantidade de professores atirados para o desemprego. Em boa parte dos países africanos, a realidade é exatamente a contrária: há uma falta enorme de professores qualificados porque é enormíssima a quantidade de crianças e jovens em idade escolar. Também os edifícios e outras estruturas escolares faltam ou primam pela qualidade baixa das construções.

Numa era marcada pelas 

 

tecnologias da comunicação que fazem crianças e jovens passar horas agarrados a máquinas para jogos e divertimentos afins, há que investir muito numa escolaridade que obrigue a pensar, a comunicar, a interpretar e a construir vidas marcadas por um sentido de cidadania responsável. Esta poderá ser a Missão que levará a Escola de regresso ao número das instituições de importância capital para as sociedades e para a vida de cada pessoa.

 

 

“Pode ouvir o programa Luso Fonias na rádio SIM, sábados às 14h00, ou em www.fecongd.org. O programa Luso Fonias é produzido pela FEC – Fundação Fé e Cooperação, ONGD da Conferência Episcopal Portuguesa.”

 

 

Encontrar as respostas certas

Manuel de Lemos
Presidente da União das Misericórdias Portuguesas

 

Em Portugal, as Misericórdias apoiam diariamente mais de 58 mil idosos através de respostas sociais como lar residencial, centro de dia e serviço de apoio domiciliário, entre muitos outros. O número não é novo. Há já algumas décadas que as Santas Casas se dedicam a cuidar da terceira idade no nosso país. Contudo, nos anos mais recentes temos vindo a perceber, cada vez mais claramente, que o perfil dos seniores tem-se vindo a alterar. São cada vez mais velhos os mais velhos da nossa sociedade e esse ganho civilizacional (sim, porque viver muito e viver bem é uma conquista da nossa sociedade) traz consigo um novo fenómeno: o aumento exponencial dos casos de demência. As estimativas apontam para 160 mil pessoas, sendo que 90 mil sofrerão de Alzheimer.

Esta nova realidade alterou a realidade dos serviços prestados pelas Misericórdias. Seja em lar ou outra resposta social, os idosos doentes representam um novo desafio para dirigentes e técnicos empenhados em prestar um serviço de excelência para todos, estejam a sofrer de demências ou não. Acresce que, num quadro de escassez de recursos, importa contrariar a tendência (tão portuguesa) de simplesmente construir novos equipamentos para novos problemas. Face ao cenário de contenção, é urgente e imprescindível que saibamos desenhar respostas eficazes e cientificamente comprovadas de modo a garantir que o erário público seja bem investido.

Foi por isso que a União das Misericórdias Portuguesas (UMP) entendeu construir uma

 

 

 

 

 

 

 unidade especialmente concebida para lidar com as demências. Pioneira no nosso país, a Unidade de Cuidados Continuados Bento XVI, construída em Fátima, teve a honra de ter a sua primeira pedra benzida pelo Papa, durante a sua visita a Portugal em 2010.

Em ambiente controlado e a contar com uma equipa técnica especializada, naquela unidade é possível estabilizar casos mais agudos para que os utentes possam ser reintegrados nos seus lares, seja institucional ou junto da família.

 

 Recordar ainda que antes da cerimónia oficial de inauguração, tivemos o gosto de receber a visita, a 12 de novembro do ano passado, do patriarca de Lisboa e dos bispos portugueses.

Mas entendemos que, face à dimensão do problema, deveríamos expandir a nossa atuação. Ou seja, não ficarmos limitados ao colhimento de pessoas na Unidade Bento XVI, mas partilhar com as Misericórdias, mas também com as IPSS e as Mutualidades, o conhecimento adquirido através do trabalho naquele equipamento realizado.

 

 

 

Foi assim que surgiu o projeto VIDAS – Valorização e Inovação em Demências. Apresentada em fevereiro, a iniciativa arrancou oficialmente há poucos dias, através de um seminário que teve lugar em Fátima. Em breves linhas, o objetivo do VIDAS é, tendo como eixo central a Unidade Bento XVI, identificar a população com demência que já se encontra a receber cuidados institucionais e, depois, estabelecer padrões de boas práticas com os recursos existentes, adequando o nível de cuidados às necessidades específicas.

Para o efeito, a primeira fase deste projeto conta com 22 Misericórdias e uma IPSS. O arranque será marcado pelo trabalho de uma equipa de psicólogos que, durantes os próximos meses, irá aplicar testes para determinar o grau de demências dos utentes das instituições envolvidas. Com bases nos resultados, serão ministradas ações de formação junto dos diversos intervenientes que compõem as equipas dos serviços prestados aos idosos. Paralelamente será avaliada a necessidade e o 

 

possível impacto de alterações arquitetónicas no que respeita aos cuidados às pessoas com demência.

Apoiado pelo governo e financiado no âmbito da rubrica “Projetos Inovadores” do Programa Operacional Potencial Humano (na ordem dos 300 mil euros), o VIDAS pretende aproveitar meios humanos e equipamentos já instalados no terreno para melhorar o apoio prestado aos nossos idosos. Por isso o ministro Pedro Mota Soares destacou, na sessão de lançamento há alguns meses, que “não é um projeto de betão e tijolo, mas é fundamental para a qualidade de vida das pessoas que sofrem de demências”.

Infelizmente na nossa sociedade há cada vez menos espaço e tempo para os idosos junto das suas famílias. Mas para que essas pessoas possam viver com dignidade e qualidade, importa transformar os lares institucionais em verdadeiros lares, onde a serenidade da expressão “lar doce lar” esteja sempre presente. Hoje, por via dos avanços da medicina e sem entrar em pormenores demasiado técnicos, sabemos que idosos a sofrer de 

 

 

 

 

demências podem representar fontes de stress para idosos saudáveis e não só: também eles precisam de cuidados específicos para que possam estar tranquilos e estáveis. Daí que a palavra VIDAS tenha especial conotação. Queremos com este projeto melhorar ainda mais as condições de que dispomos para acolher os nossos idosos.

Para levar a cabo este desiderato, que pessoalmente desejo ser como a carta a Garcia, contamos com diversos parceiros institucionais para conceber o projeto e que, ao longo dos próximos meses, acompanharão connosco os resultados. Muito temos falado, em áreas diversas de atuação, da necessidade de estabelecermos redes de trabalho para solucionar, com baixo custo e alta eficácia, os problemas dos portugueses. Por isso contamos com a Direção Geral de Saúde, a Alzheimer Portugal, a CNIS, o Hospital do Mar e o Hospital de Magalhães Lemos, mas também com universidades e investigadores de renome, para dar mais este contributo em prol do bem-estar dos idosos, mas também dos seus familiares.

 
Permitam-me apenas, para concluir esta reflexão, recordar que muito antes de termos instalada uma Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados (RNCCI), já as Misericórdias discutiam a urgente necessidade, sentida então, de serem criadas respostas para os idosos acamados que praticamente todos os dias chegavam aos nossos lares, enviados, na maior parte dos casos, pelos hospitais. Muitos anos foram precisos para que aqueles alertas se transformassem em medidas concretas. Felizmente, a RNCCI já existe e tende a crescer.

Trabalhamos diariamente, como referi no início desta prosa, com mais de 58 mil idosos. Sabemos quem são, sabemos o que precisam. Este conhecimento, adquirido ao longo de tantos anos de atividade junto dos seniores, representa, por isso, motivo mais que suficiente para que, também no que respeita às demências, as Misericórdias sejam ouvidas quando chegar o momento da implementação de medidas concretas nesta área. Através do VIDAS, estamos já a trabalhar para encontrar as respostas cientificamente acertadas.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

sair