|
||
Octávio Carmo Carlos Borges D. Gregório II Laham |
|
|
Foto da capa: AIS Foto da contracapa: Agência ECCLESIA
AGÊNCIA ECCLESIA Diretor: Paulo Rocha | Chefe de Redação: Octávio Carmo Redação: Henrique Matos, José Carlos Patrício, Lígia Silveira,. Luís Filipe Santos, Sónia Neves Grafismo: Manuel Costa | Secretariado: Ana Gomes Propriedade: Secretariado Nacional das Comunicações Sociais Diretor: Cónego João Aguiar Campos Pessoa Coletiva nº 500966575, NIB: 0018 0000 10124457001 82. Redação e Administração: Quinta do Cabeço, Porta D 1885-076 MOSCAVIDE. Tel.: 218855472; Fax: 218855473. agencia@ecclesia.pt; www.agencia.ecclesia.pt;
|
Opinião |
|
Liberdade religiosa em risco[ver+]
Carreirismo na Igreja
Repensar a Pastoral da Igreja
Octávio Carmo |Fernando Cassola Marques |Manuel Barbosa |Paulo Aido Tony Neves | António Marujo | Nuno Rogeiro |
Valem menos do que um cão? |
||
Octávio Carmo Agência ECCLESIA |
Eu, pecador, me confesso: dei a notícia do assassinato de um casal de cristãos no Paquistão com a tristeza e o choque natural perante a barbárie em causa, mas rapidamente houve outras notícias, outras entrevistas, infelizmente mais choques e preocupações. Não me surpreendeu que não viesse ninguém para as ruas protestar, por exemplo, diante da embaixada do Paquistão. O mesmo se diga em relação aos cristãos que morrem na Síria ou no Iraque, bem como aos milhões que aí são forçados a deixar tudo para trás, em troca de uma sobrevivência precária. Felizmente, eles não sabem que aqui no Ocidente há pessoas que, lutando por aquilo em que acreditam, são capazes de fazer de fazer vigílias contra touradas ou contra a morte de um cão, mas os cristãos, pelo contrário, parecem assistir com indiferença ao martírio dos seus irmãos. Imagino o choque: será que eu valho menos do que um cão? O recente relatório sobre a liberdade religiosa da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (cuja apresentação ficou mais marcada pelas ausências institucionais do que pela presença de quem de direito), as entrevistas ao patriarca Gregório III Laham e o testemunho do arcebispo libanês Issam John Darwish ajudam a combater o que foi definido como “iliteracia religiosa”. Não quero acreditar nisso, mas talvez haja quem pense que as comunidades religiosas atingidas pelo fundamentalismo ‘merecem’ esse castigo e estão a provar do seu próprio veneno; talvez a falta de humanidade chegue ao ponto de considerar um |
|
||
crente como cidadão de segunda ou de terceira, face a outras vítimas das barbáries e das tragédias que se multiplicam no planeta. Estes homens e mulheres, no entanto, representam um património de humanidade que não pode ser descurado ou maltratado, pelo contrário: a resposta ao extremismo, ao fundamentalismo, ao Mal, exige um fundo comum de valores, de espiritualidade, muito mais do que |
uma mera intervenção militar, armando ou desarmando as partes em conflito segundo interesses momentâneos. A violência não se combate com mais violência e a intolerância exige um acréscimo de fraternidade e de diálogo na vida das comunidades crentes. Só assim se poderá ver no outro um irmão, com quem construir um mundo mais digno do desígnio divino para todos. |
|
|
||
|
|
|
|
||
Tentámos sobretudo colocar os interesses da nação em primeiro lugar (…) houve sete casos assinados por um magistrado que eram ‘copy paste', só havia diferença na quantia de dinheiro e depois outros dois assinados por timorenses também. Porque era o processo de ensino que se estava a fazer. Fazem uma cópia, não veem factos». «Eu não tenho o direito de dizer que isto é incompetência, que nos faz perder dinheiro do Estado? Tudo junto foram 35 milhões que perdemos só por causa disso”. Primeiro-ministro de Timor Leste, Xanana Gusmão, sobre a expulsão dos sete funcionários judiciais do país (Lusa, 05/11/2014)
“Não estão criadas as condições adequadas para prosseguir a política de cooperação na área judiciária com Timor Leste sem que primeiro tenha lugar uma reavaliação cuidada de pressupostos e regras bem diversas das que conduziram à atual situação”. Ministra da Justiça portuguesa, Paula Teixeira da Cruz (Jornal de Notícias, 05/11/2014)
|
“Que, com aquilo que se orçamente e depois se execute, não se ponha mais em causa a solidariedade e a justiça de uma sociedade que bem precisa disso”. Presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, D. Manuel Clemente, sobre o Orçamento de Estado para 2015 que está a ser discutido na especialidade (04/11/2014)
Esta gente não é religiosa, dizem que são muçulmanos mas quem é esta gente? Pessoas convertidas ao Islão à pressa na Suécia ou na Holanda? O que sabem eles do Islão? Eu acredito que, na maior parte dos casos, são oportunistas, mercenários. Por isso, os ataques contra os cristãos na Síria não podem ser interpretados como uma perseguição religiosa”. Patriarca da Igreja Católica Greco-Melquita de Antioquia e de todo o Oriente, Gregorios III Laham (Lusa, 31/10/2014) |
|
Repensar a pastoral, tarefa em andamento |
||
A renovação da pastoral da Igreja Católica em Portugal poderá passar pela reinstituição de um secretariado nacional dedicado a esta área, que sirva para as dioceses como “fórum” de partilha e consolidação de estratégias. Em entrevista à Agência ECCLESIA, em Fátima, o presidente da Comissão Episcopal da Missão e Nova Evangelização, D. Manuel Linda, adiantou que “a necessidade de recuperar este órgão já esteve mais do que uma vez” em cima da mesa de diálogo dos bispos portugueses. Para a revitalização da pastoral não existem “soluções pré-fabricadas”, há que “escutar” os outros, “ver por |
onde passam as grandes preocupações”, salientou o prelado.
A recuperação deste secretariado nacional de pastoral, “coordenador e distribuidor de materiais, que funcionava como forma de intercâmbio daquilo que se ia realizando”, poderá ser tema em debate na próxima assembleia plenária da Conferência Episcopal Portuguesa, que vai decorrer em Fátima entre 10 e 13 de novembro.
Entretanto, a Comissão Episcopal da Missão e Nova Evangelização promoveu esta terça-feira em Fátima uma reunião com os bispos e responsáveis diocesanos no campo |
|
|
||
da pastoral. D. Manuel Linda admitiu que numa sociedade “de velha cristandade”, como a portuguesa, em que “teoricamente já todos ouviram falar de Jesus, é mais difícil dizer algo que cative”. Esse é um dos desafios, o da novidade. No entanto há ainda “muita gente que não tem conhecimento nenhum de Cristo”, o que deve levar também a Igreja a trabalhar a sua “dimensão missionária”, acrescentou. O acolhimento, a espiritualidade, o aproveitamento das potencialidades dos leigos, a proximidade com os jovens, a presença mais efetiva |
nos meios urbanos, são outras áreas a considerar, neste esforço de revitalização pastoral. No caso específico dos jovens, o bispo defende que “pela sua linguagem específica e maneira de comunicar, normalmente através das novas tecnologias”, eles podem “ser agentes primordiais da Nova Evangelização, na sua faixa etária”. Até porque quando as novas gerações deixarem de “falar” sobre religião, até de criticar e debater, isso significará que ela “não preocupa, não tem importância, morreu”, concluiu. |
|
Quer rezar? É só clicar, 3 vezes por dia |
||
O Secretariado Nacional do Apostolado da Oração, obra da Companhia de Jesus, acaba de disponibilizar uma aplicação móvel que propõe três momentos de oração por dia, com a ajuda das novas tecnologias. O projeto ‘Click To Pray’ (clique para rezar) está disponível em Android, IOS e no site www.clicktopray.org, apresentando em três momentos do dia “propostas de oração simples e breves, para além de convidar os seus utilizadores a fazerem parte de uma rede social de oração”, assinala um comunicado dos promotores da iniciativa, enviado à Agência ECCLESIA. O ‘Click to Pray’ resulta de uma parceria com o Departamento Nacional da Pastoral Juvenil e a empresa La Machi, contando com o apoio da Agência ECCLESIA, da rede de informação católica internacional Aleteia e do grupo R/com (Renascença). A aplicação vai ser apresentada publicamente no dia 21 deste mês, às 10h00, no Carmelo de São José em Fátima. O evento de lançamento conta com a presença de D. Antonino Dias, presidente da Comissão Episcopal do Laicado e Família; |
|
do padre António Valério, secretário nacional do Apostolado da Oração; do padre Eduardo Novo, diretor do Departamento Nacional da Pastoral Juvenil, colaborador e parceiro desta iniciativa; e de Juan Della Torre, CEO de La Machi, responsável pelo desenvolvimento e estratégia de comunicação do projeto ‘Click To Pray’. Durante a tarde do mesmo dia vão ter lugar, na ‘Domus Carmeli’ de Fátima, as Jornadas Práticas Sobre Comunicação Digital, destinada a profissionais e voluntários ligados à comunicação da Igreja. Esta iniciativa visa “proporcionar formação prática que dará instrumentos para um uso atual e eficaz dos meios digitais na comunicação da fé”. |
|
Paulistas encerram comemorações
|
||
O patriarca de Lisboa encerrou o centenário da Família Paulista considerando-a um carisma “oportuno” para a Igreja Católica, pela forma como coloca hoje as tecnologias de comunicação ao serviço da evangelização. Em entrevista à Agência ECCLESIA, depois da inauguração da nova capela da congregação na Quinta Rainha dos Apóstolos, na Apelação, D. Manuel Clemente recordou que “para São Paulo carismas são graças que Cristo concede para a edificação da Igreja” e que “aparecem no momento certo para aquilo que é preciso fazer”. Foi o que aconteceu há um século, pela mão do Beato Tiago Alberione, fundador dos Paulistas, que decidiu “deitar mão” aos “novos recursos mediáticos, desde a imprensa àqueles que se seguiram depois, para que a evangelização se tornasse ainda mais próxima de toda a gente”, para que chegasse “onde tinha de chegar”, salientou. |
Já o superior regional dos Paulistas em Portugal, padre José Carlos Nunes, explicou que o projeto da capela, de linha “contemporânea”, pretende corresponder ao desafio do Beato Tiago Alberione de uma Igreja Católica capaz de “comunicar com os homens e mulheres do seu tempo”.
Ao mesmo tempo, a ideia foi erguer um templo que ajude a congregação, através da “celebração, da oração, da arquitetura, da liturgia”, a “amadurecer” a sua fé. Porque na base do sucesso de todo e qualquer “apostolado ou comunicação” cristã está sempre a “qualidade da fé”, frisou o sacerdote. Em Portugal, os Paulistas estão presentes em três comunidades e desenvolvem a sua missão apostando numa editora multimédia, a Paulus, numa publicação imprensa, a revista «Família Cristã», e num programa de rádio semanal com transmissão em várias rádios locais e no estrangeiro. Foto: Família Cristã |
|
A Agência ECCLESIA escolhe sete acontecimentos que marcaram a atualidade eclesial portuguesa nos últimos dias, sempre atualizados em www.agencia.ecclesia.pt
|
||
|
|
|
Fátima: Terceira parte do «Segredo» analisado pelo Centro de Física Atómica |
||
|
|
|
Movimento Vida Ascendente |
Lá fora… a ausência de liberdade religiosa |
||
Carlos Borges Agência ECCLESIA |
O ciclo das horas, dos dias e meses trouxe-me a estas páginas que são da autoria dos jornalistas da Agência ECCLESIA mas não fui eu que trouxe a chuva, o vento ou a neve nas terras altas, nem afugentei o antecipado e hipotético verão de São Martinho. Para quem não tem terras de cultivo ou colheitas para apanhar estas preocupações climatéricas são menores depois da apresentação do Relatório 2014 sobre liberdade religiosa da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS), esta terça-feira, no auditório da Assembleia da República, em Lisboa. Nesse dia do Paquistão chegaram notícias que apenas afundam o país nas estatísticas e são classificadas como impróprias para pessoas de todos os credos, géneros e idades que respeitam a liberdade, a liberdade religiosa e os direitos humanos: Um casal cristão, de 26 e 24 anos de idade, foi atirado para um forno e queimados vivos por um multidão que os acusaram de blasfémia contra o Corão. O relatório da AIS analisou a liberdade religiosa entre outubro de 2012 e junho deste ano e revelou, reforçando conclusões anteriores, que os cristãos “são de longe o grupo religioso mais perseguido”. O documento analisou 196 países e em 81 destes países, foram identificados como locais onde |
|
|
||
a liberdade religiosa “é perseguida ou está em declínio”. Deste universo, 20 países são sinalizados como tendo uma perseguição “alta”. Depois, a Fundação esmiuça ainda mais esta realidade e em 14 a perseguição religiosa está relacionada com o extremismo islâmico e em seis países a regimes autoritários. Ou seja, em nome de um Deus que dizem ser paz mas pelas ações fazem a guerra e nos outros em nome de uma liberdade que só é permitida se for a que eles impõem. A Fundação dependente da Santa Sé também está presente em Portugal, Lisboa e Fátima, e concluiu que “a liberdade de culto é uma realidade concreta na sociedade, respeitada pelos poderes instituídos”. “Chuva em novembro, Natal em dezembro”, diz a vasta e rica sabedoria popular portuguesa mas para mim mais do que o calendário civil a aproximação do tempo do Natal é marcado pelo calendário litúrgico e por sinais exteriores como a |
passagem do circo pela freguesia, que foi embora esta semana, pelos intermináveis anúncios na televisão e pela iluminação na ruas e/ou centros comerciais, que já vi em Lisboa e no Barreiro. Nos territórios onde os cristãos são perseguidos ou foram obrigados a fugir como no Iraque podia não haver Natal mas a Ajuda à Igreja que Sofre, com uma campanha humanitária de quatro milhões de euros, está a contribuir para que a estrela da esperança, fraternidade e solidariedade continue a brilhar. A Fundação está a apoiar “12 projetos concretos” onde contempla também presentes de Natal – lápis; cadernos para colorir e livros catequéticos como as Bíblias para Crianças; casacos e meias - para as crianças que fugiram do Estado Islâmico.
Foto: Kamané Fotografia Lisboa, dezembro 2013 |
|
|
||
|
|
|
Cristãos são essenciais
|
||
Agência ECCLESIA (AE) - A sua visita a Portugal acontece num momento em que a violência aumenta na Síria. Como analisa esta «guerra sem rosto» que tem vindo a denunciar? D. Gregório III Laham (GL) - Falamos de um conflito que provoca vítimas de forma contínua. Tenho dito, de facto, que esta é uma guerra sem rosto, uma guerrilha sem rosto, não sabemos o motivo desta guerra. Temos democracia como no mundo árabe e melhor do que no mundo árabe; há serviços secretos em todo o lado, por vezes há tortura, corrupção - não estamos no melhor dos mundos, mas também não estamos no pior e eu pergunto: o que é que esta guerra nos pode trazer? É verdadeiramente, como se diz na Europa, uma primavera árabe pela democracia, a liberdade de religião, de culto? |
Não vejo o que este grupo, que se diz oposição, nos pode trazer. E se houvesse uma verdadeira oposição, que diríamos moderada… Pelo contrário, há oposições, completamente divididas. Segundo Kofi Annan e Lakhdar Brahimi (enviados da ONU para a Síria), com quem me encontrei em 2013, há dois mil grupos que combatem na Síria.
Não podemos esperar que dois mil grupos façam Democracia: estão divididos, querem dinheiro, repartem entre si o dinheiro, não têm programa. Não são uma alternativa, não há uma alternativa.
Eu não quero o regime, quero um Estado: há um Governo, há uma tradição síria de convivência, de liberdade religiosa e de culto, de procissões, de peregrinações, de confrarias.
|
|
|
||
AE - De que forma vê o crescimento do chamado Estado Islâmico? GL - O Estado Islâmico não é nem Estado nem islâmico, como me disse um mufti [pessoa a quem é reconhecida autoridade em assuntos relacionados com a da lei islâmica, sua aplicação e interpretação]. Não é islâmico porque não representa o Islão, essa é uma vontade, mas eu penso que tudo isto é, antes, uma instrumentalização. A desinformação, a manipulação desempenharam e desempenham ainda um grande papel nisto. Os media apresentaram as coisas de forma completamente diferente da realidade e não sei se na Europa há informação sobre a manipulação, se isso se sabe. Há um objetivo que para mim não é claro. Nesta guerra na Síria e agora em parte do Líbano e no Iraque - onde houve uma campanha militar mal fundamentada -, há todo um mal, que eu denomino ‘mysterium iniquitatis’, o mistério do mal. Também o vemos numa Europa cada vez menos cristã, que se diz de raízes cristãs mas onde há uma tendência de não o afirmar. Isso é grave. Há uma
|
Europa que já não está na sua forma cristã: um mundo sem Deus é um mundo onde não há valores para o homem, como disse Bento XVI. Muitos destes mercenários, destes guerrilheiros que estão agora na Síria, com o Estados Islâmico, esta gente que combate são pessoas que perderam o sentido da vida, do homem, da dignidade do homem. Se não são muçulmanos, se são cristãos, pessoas que se converteram ao Islão com a internet, o que é que podemos esperar deles. Que formação muçulmana é que têm? É um alibi, portanto, um alibi, e para mim é um instrumento. O Daesh - Estado Islâmico do Iraque e do Levante ou Estado Islâmico do Iraque e da Síria, como vocês lhe chamam - é um instrumento. Não sei como é que de repente têm 15 milhões de pessoas sob a sua jurisdição, na região onde estão presentes. Têm um território de 40 mil quilómetros quadrados. É algo que se tornou tão grande que não é verossímil e é por isso que digo que está instrumentalizado. Eles são um perigo mesmo para o Islão e por vezes ainda mais para o Islão |
|
|
||
do que para o Cristianismo. Isto não será um complô contra o Islão? Para mim, de uma forma ou de outra, é um complô para destruir o Islão desde o interior, despojá-lo, dividi-lo e, mais ainda, é um movimento sem valor.
Por isso, a atual coligação de alguns países contra este ‘Estado Islâmico’ é insuficiente. Dado que é limitada |
e dividida, vai gerar ainda mais divisões, mais guerra. Se quisermos um verdadeiro remédio, é preciso que haja um consenso, um acordo geral de todas as partes e de todos os países do mundo e não apenas alguns, sejam países europeus ou árabes. |
|
|
||
AE - O que tem faltado para chegar a este acordo? GL - Se estamos verdadeiramente a falar de um perigo para a humanidade, é preciso que todos os países, a Rússia, a China, o Japão, os Estados árabes - porque é que só a Jordânia, a Arábia Saudita e não os outros? Onde estão Omã, Barém, Tunísia? Se é um perigo, é preciso que todo o mundo esteja de acordo, porque se não houver um consenso geral, isso vai causar ainda mais guerra, mais vítimas e mais horror.
|
Este consenso geral tem de dar resultados do ponto de vista militar, mas sobretudo ideológico, para que haja uma ideologia comum ao mundo e não apenas a uma parte.
AE - Essa ideologia exige uma laicidade do Islão? GL - Sim, é por isso que eu peço uma frente comum, local. Já fizemos reuniões dos patriarcas cristãos orientais, não apenas os católicos, desde junho, para formar uma visão comum e assumir posições comuns. |
|
|
||
Visitamos juntos o Iraque, Washington (EUA) e temos outras programadas, há uma frente comum, cristã, que ajudar a compreender melhor a situação. Eu fiz um apelo ao mufti do Egito, o maior país islâmico e também o maior país cristão do Médio Oriente, com 15 milhões de coptas, para que convocasse uma reunião de muftis e patriarcas para criar uma frente comum. É muito importante ter esta espécie de cimeira espiritual, inter-religiosa, cristãos e muçulmanos juntos para mostrar onde nascemos e dar a verdadeira posição sobre o ser humano.
Há um trabalho neste sentido, para que haja uma cimeira espiritual, o que poderia ajudar a criar um consenso universal, a começar pelo Islão - porque há o Paquistão, não é só o mundo árabe - e o mundo europeu, para compreender melhor o desafio e o perigo deste momento.
AE - O Papa Francisco tem dado uma atenção muito particular ao Médio Oriente. GL - Sim, sim. Já quando o Papa São João Paulo II foi à Síria em 2001, havia um novo presidente [Bashar al-Assad, que continua a ser chefe de Estado], filho de Assad, que o recebeu dizendo: ‘Bem-vindo à Síria, berço
|
do Cristianismo’. Tiro-lhe o meu chapéu. É uma verdade histórica, mas é bom ouvi-lo da boca do presidente de uma república árabe. Gostamos de ouvir o Papa Bento XVI e o Papa Francisco que não se pode compreender o Médio Oriente sem os cristãos e a necessidade de manter os cristãos nos seus locais de origem, também é bom citar um presidente que disse isso, é um testemunho muito importante para mim. Por outro lado, vemos uma certa abertura: a nova Constituição do Egito tem 25 pontos que favorecem os cristãos, as outras minorias, as mulheres, a família, os Direitos Humanos. Nessa Constituição é dito que a civilização egípcia é, em primeiro lugar, faraónica, depois cristã e em terceiro lugar muçulmana. Tudo isso mostra como é importante a presença cristã. O Papa Francisco repete muitas vezes a expressão “a minha amada Síria”, é muito bonito. Tudo isso é muito importante, é preciso compreender a importância da presença cristã e do nosso papel. Para mim, defender a presença cristã no Médio Oriente - na Palestina, na Síria, no Egito, no Iraque - é bom, mas essa presença tem em vista uma missão. |
|
|
||
GL - Nós queremos conservar a presença cristã, ajudar os cristãos a ficar - agradeço à Ajuda à Igreja que Sofre, aos cristãos de Portugal, obrigado por tudo -, mas peço sobretudo aos cristãos da Europa a não se defenderem apenas a presença dos cristãos, mas a ligar a presença à missão e a missão à presença. Digam: ajudamos os cristãos para que continuem a permanecer no mundo árabe, como fermento na massa, como luz e sal. Este é o acento: se falarmos apenas em ajudar os cristãos, nos cristãos perseguidos, isso reflete-se numa mentalidade de gueto. Peço sempre que não se fale demasiado nas perseguições, para não criar uma mentalidade defensiva, de pessoas |
vencidas. É preciso dar coragem aos cristãos para ficarem, com uma missão, senão vai dizer-se: os cristãos da Europa ajudam os cristãos do Oriente, é uma cruzada, ajudam-nos contra os outros. No berço do Cristianismo, há uma Igreja que fala de Jesus, que dá o Evangelho, que o vive num contexto muçulmano. São João Paulo II já tinha dito que a essência do homem é ser “com e para”. Nós somos cristãos no Médio Oriente com os muçulmanos, estamos num país árabe, de maioria muçulmana. Somos uma Igreja com os outros e para os outros. É uma Igreja que gosto de chamar ‘Igreja dos árabes’. Ainda mais, forçando, chamo-lhe a ‘Igreja do Islão’. Não é uma Igreja formada por
|
|
|
||
muçulmanos convertidos, não é só isso, é uma Igreja que está em relação e deve levar Jesus ao Islão, de forma especial, não apenas pregando - como fazem alguns grupos protestantes, que fazem mal. É preciso, como disse o Papa Francisco, que o Cristianismo seja atraente, atrativo: esta é a verdadeira missão. Mesmo que os países europeus tivessem hoje leis que são contra o Cristianismo, o cristão teriam de ter a coragem de viver como português e como católico. Esta coragem não é apenas para o cristão que vive no mundo muçulmano, mas também
|
num mundo demasiado secularizado, ateu ou, digamos, contra a Igreja. No Evangelho é dito que ‘Deus amou tanto o mundo’. Na liturgia de São João Crisóstomo, dizemos: ‘Tu amaste o teu mundo’. Para mim, cristão, Portugal é o meu mundo, a Arábia, o Líbano, a Síria são o meu mundo, que tenho de amar, levando os meus valores cristãos. É a minha mensagem para os meus amigos em Portugal. É preciso ajudar os cristãos a manter a sua identidade, como disse o Papa aos jovens no Brasil, com abertura. Este é o adágio: identidade e abertura. |
|
|
||
AE - Quais são as principais necessidades dos cristãos na Síria? GL - Há mais de seis milhões de deslocados no interior do país e dois ou três milhões de refugiados, incluindo cerca de 450 mil cristãos, ou seja, 25% dos nossos cristãos estão fora da Síria. Eles são corajosos, resistiram durante três anos e meio, a tragédia da Síria tem uma duração mais longa e o choque da fuga dos cristãos é menos forte do que a do Iraque, num tempo limitado. Mas é mais grave, no nosso país, até porque já recebemos um milhão e meio de refugiados iraquianos que partiram, entretanto. Outra estatística importante para os nossos amigos na Europa: há entre 91 a 100 igrejas destruídas ou danificadas, de todas as comunidades cristãs. Há mais de 25 aldeias que ficaram sem habitantes cristãos, também. A Igreja está ao lado do povo, ninguém fugiu: todos os bispos ficaram no seu lugar, todos os patriarcas estão em Damasco. Cada igreja transformou-se num centro de ajuda, todas. Agradecemos a todas as comunidades que nos ajudaram, às agências humanitárias de todo o mundo. |
Aos poucos, vemos sinais positivos: Maalula ficou vazia em setembro de 2013 e um ano depois 200 famílias voltaram a entrar. Agora temos um jardim de infância, uma escola, e comecei a reconstruir as igrejas. Em Homs, o centro está destruído - foram seis meses para remover os destroços, seis meses. Ainda não começamos a reconstruir, mas a igreja está lá e no próximo dia 28 vou inaugurar a reparação. São pontos positivos. É preciso reconstruir igrejas, centros de catequeses, apoiar as pessoas na reconstrução. As prioridades são ajudar imediatamente, e depois participar, quando as pessoas regressarem, com o Estado, na reconstrução das suas casas: diria que 2 ou 3 mil dólares, por exemplo, para famílias pobres. É preciso que a Igreja se prepare para isso, que a Igreja participe e que os cristãos sintam que a mão da Igreja está lá: é uma mão bela, estendida, que ajuda, a mão do bispo, a mão do patriarca. É preciso que as organizações cristãs ajudem a Igreja local: cada padre, cada monge, todos os que trazem o hábito são um centro de ajuda. |
|
|
||
Eu sinto que as pessoas estão traumatizadas, sobretudo os jovens, as crianças, mesmo sem o sentirem. Então, como ajudar a enfrentar este problema? Neste momento, estou à procura de saber como fundar pequenos centros, pequenos clubes, para ajudar de forma direta e indireta, a diminuir, digamos, estes traumas nas nossas aldeias, nos
|
nossos fiéis, nas nossas gentes, nas nossas escolas. Quem sabe se em Portugal há pessoas que nos leiam e que tenham um conceito interessante do que se pode fazer na reabilitação, na diminuição do trauma nas nossas crianças? São pequenos projetos que podem mostrar que a Igreja está junto das populações, que estão feridas. |
|
|
||
AE - Teve oportunidade de participar na assembleia extraordinária do Sínodo dos Bispos sobre a família. Que avaliação faz dos trabalhos? GL - Esta assembleia serviu sobretudo para desbravar terreno. Os bispos da Europa, da Ásia, da África, do Médio Oriente, da América, vivem a família, sabem como elas estão, nessas regiões. Abordamos os problemas, os desafios, mas não quisemos dar remédios, soluções, propostas, como é costume fazer: deixamos isso para um período de reflexão, nos vários países, e depois a partir desta reflexão vamos apresentar ideias que possam ajudar a definir uma nova linha, entre a continuidade e a novidade. É um pouco o dilema: como abrir-se às famílias em sofrimento, em dificuldade, dando-lhes ao mesmo tempo o Evangelho; como estar aberto às situações e, sobretudo, ajudar as famílias a sair dessas situações, porque não se trata apenas de as compreender. É preciso ajudá-las, onde elas estão, a converterem-se, a mudar de visão. Não insistimos muito nisto, do meu ponto de vista é preciso compreender as situações, perceber porque é que |
as pessoas chegaram a esse ponto, mas não deixá-las no mesmo lugar. A Incarnação fez isso: Deus fez-se homem, mas não deixou o homem em baixo, elevou-o. Compreendendo as situações dos divorciados, de convivência sem casamento, não as posso deixar no seu pecado, há outro valor cristão: se tu és cristão, aqui está o valor. É preciso combinar a doutrina da Igreja, a situação das pessoas, a continuidade e a novidade, o diálogo, o contacto contínuo. Nunca podemos deixar ninguém sozinho, a Igreja não pode deixar uma pessoa só, mesmo no período de sofrimento, mas também não a pode deixar ficar ali, é preciso mostrar-lhe outro caminho. Jesus disse: ‘Eu sou o Caminho’. É preciso dizer a quem está num sofrimento terrível que há um caminho, que há uma verdade. É uma desafio para a família e para a Igreja. |
|
||
|
|
|
|
||
|
|
|
|
||
|
|
|
Mártires com nome e rosto |
||
O último nome da tragédia que se abateu sobre os cristãos é o de Asia Bibi, cuja condenação à morte foi reafirmada há dias. Acusada há cinco anos, no Paquistão, por ter “conspurcado” um poço reservado a muçulmanos ao querer beber um copo de água, a sua defesa da fé cristã custou-lhe a acusação de blasfémia e a pena de morte. Como me dizia a jornalista francesa Anne-Isabel Tollet, autora de Blasfémia, numa entrevista que me concedeu há três anos, Asia Bibi é apenas o rosto visível de uma tragédia mais vasta, que atinge cristãos e muçulmanos: em 1000 condenações ao abrigo da lei da blasfémia, 800 são de muçulmanos. E este agravamento da violência extremista, mesmo que legal, resulta directamente das guerras no Afeganistão e no Iraque, em que as potências ocidentais se envolveram com invasões dos dois países. Os cristãos são, hoje, a minoria religiosa mais perseguida. No último século, muitos morreram apenas por se afirmarem cristãos: “No final do segundo milénio, a Igreja tornou-se novamente a Igreja dos mártires”, dizia o Papa João Paulo II, na Tertio Millenio Adveniente. |
Andrea Riccardi recenseou muitos casos d’O Século do Martírio. “Agora, chegou-se a um fresco incrível do martírio do século XX. Por um só motivo? Há um que os une a todos: são cristãos...”, dizia o historiador, em entrevista publicada em Deus Vem a Público.
Foram, entre muitos, os casos do arcebispo arménio-católico Ignazio Maloyan, de Mardin, morto em Junho de 1915 por recusar converter-se ao islão; do padre ortodoxo russo Alexandre Men (9 de Setembro de 1990), autor de uma Vida de Cristo onde comparava a experiência de Jesus no Jardim das Oliveiras com a experiência do mártir; de Dietrich Bonhoeffer, testemunha maior da “vivência radical da fé” contra o nazismo (9 de Abril de 1945); de Edith Stein, nascida judia e morta em Auschwitz (1942) por causa disso, apesar de se ter tornado cristã e monja carmelita; de Martin Luther King, pastor baptista que teve o sonho de ver as pessoas tratadas com igual dignidade; dos monges de Tiberine (Argélia, 1996), assassinados por estarem próximos de Deus e dos seus vizinhos; de Oscar Romero, morto quando celebrava missa (El Salvador, |
|
|
||
Março de 1980) – inexplicavelmente ainda não beatificado, tal como Ignacio Ellacuría e companheiros jesuítas (El Salvador, 1989). Recordar estes nomes é uma forma de dizer que a consciência de cada pessoa é o mais sagrado que há. a |
E que é possível um mundo onde a norma seja o respeito pela consciência. António Marujo Jornalista do religionline.blogspot.pt;
o autor escreve segundo a anterior
|
|
Leituras sugeridas: Andrea Riccardi, O Século do Martírio (Quetzal); António Marujo, Deus Vem a Público (Pedra Angular); Didier Rance, Rezar com os Mártires do Século XX (AIS-Ajuda à Igreja que Sofre/Apostolado da Oração); Reinhard Backes, Por Causa do Meu Nome – perseguição aos cristãos nos dias de hoje (Paulinas/AIS); Robert Royal, Os Mártires Católicos do Século XX (Principia); Asia Bibi, Blasfémia (Alêtheia); Henri Teissier, Christophe Lebreton, (Consolata), Martin Luther King, Eu tenho um sonho (Bizâncio); Óscar Romero, A Doce Violência do Amor (Consolata)
|
A Liberdade Religiosa,
|
||
Se a religião (ou a capacidade de a questionar) é uma extensão inteligente do ser, a liberdade religiosa confunde-se com a ideia de uma humanidade que cresce íntegra. Isto é, dotada de todas as suas capacidades e possibilidades.
|
Não se trata aqui apenas do exercício da palavra, do direito de circulação, da não obstrução ao culto, da possibilidade de manutenção de uma consciência não coagida.
Não se trata apenas do direito à expressão e opinião, da tolerância
|
|
|
||
face a um sistema de convicções, do reconhecimento da diferença, da abdicação, pelo estado e pela comunidade, de interferir nas escolhas pessoais. Traduz tudo isso, mas é mais do que isso. Na verdade, se a religião é, para além de inteligência, essência, a liberdade religiosa é a principal proteção da identidade do indivíduo. Por outras palavras, o ser humano completo realiza-se aqui, na possibilidade de interrogar a vida |
e de fazer a pergunta primeira. Como diziam alguns filósofos, a pergunta sobre Deus é a primeira pergunta, independentemente da resposta.
Os sistemas que querem destruir a dignidade individual costumam por proibir o culto. Ou admiti-lo, mas de forma quase clandestina, como se os fiéis não pudessem comunicar entre si, ou explicar a sua condição de assembleia.Os sistemas que desejam destruir a individualidade precisam de tomar o corpo e o espírito. O não reconhecimento de uma verdadeira liberdade religiosa (que é, ao mesmo tempo, direito e garantia, proclamação e eficácia) procura dar ao Estado, ao poder de um senhor ou de um grupo de senhores, a possibilidade de conduzir homens vazios.
Sem a possibilidade de interrogar sobre o essencial, o homem vazio é esse ser parcial, cortado, irreconhecível ao espelho da alma, mesmo que impresso num passaporte ou num bilhete de identificação. E esse ser parcial é o sonho último das tiranias. Desapossado de identidade verdadeira, apesar de identificado, fichado, localizado, vigiado, o homem parcial, ser não livre, é um destroço. E a humanidade destroçada é uma forma de morte em vida. Nuno Rogeiro, comentador
|
|
A ameaça da violência sobre a fé |
||
Os atos de violência cometidos em nome da religião continuam a dominar os meios de comunicação social internacionais. A impressão inevitável é de que o terror de inspiração religiosa não só está generalizado como está a aumentar. Infelizmente, este relatório confirma esta avaliação. Em quase todos os países onde registámos uma mudança na situação e na condição das minorias religiosas, essa mudança foi para pior. Por vezes, a deterioração é causada por
|
discriminação legal ou constitucional; noutros casos está relacionada com hostilidade sectária, muitas vezes ligada a tensões raciais ou tribais. Nalguns casos envolve um grupo religioso que oprime outro, ou que tenta mesmo eliminá-lo. Noutras situações ainda, um estado autoritário tenta restringir as atividades de um grupo religioso específico. Nos países ocidentais, a tensão religiosa está a aumentar, provocada pelo fenómeno recente do ‘ateísmo agressivo’, do secularismo liberal
|
|
|
|
||||
e do influxo rápido de migrantes económicos e refugiados com uma fé e uma cultura claramente diferentes das do país de acolhimento.O relatório reforça investigações anteriores que estabeleciam que os Cristãos são de longe o grupo religioso mais perseguido. A suscetibilidade dos Cristãos à opressão está diretamente relacionada com o facto de eles estarem historicamente muito dispersos, muitas vezes em culturas muito diferentes das suas. Muitos dos países onde os Cristãos estão estabelecidos há gerações ou mesmo milénios tornaram-se agora sujeitos ao extremismo. Em quase todos os vinte países
|
que identificámos com níveis de perseguição mais “alta” à liberdade religiosa, os grupos minoritários muçulmanos também enfrentam perseguições terríveis e sistemáticas. Contudo, deve referir-se que, na maior parte dos casos, estas são realizadas por outros muçulmanos. O aumento da tensão entre muçulmanos xiitas e sunitas é um tema constante neste relatório.
Peter Sefton-Williams Presidente do Comité Editorial do Relatório da Liberdade Religiosa Mundial da AIS
|
|||
|
Cristãos são cada vez mais perseguidos |
||
O Relatório 2014 sobre a liberdade religiosa no mundo, da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS), revela que os cristãos são o grupo mais atingido pelas violações a este direito, em particular no Médio e Extremo Oriente. O documento realça o impacto negativo da criação ou reforço de “Estados uniconfessionais”, como é visível no caso do autoproclamado ‘Estado Islâmico’. O relatório analisa a situação em 196 países do mundo, dos quais 81 (41%) são identificados como locais onde a liberdade religiosa “é perseguida ou está em declínio”. No total, 20 países são designados como de perseguição “alta” em relação à liberdade religiosa; destes, 14 experimentam perseguição religiosa relacionada com o extremismo islâmico: Afeganistão, República Centro-Africana, Egipto, Irão, Iraque, Líbia, Maldivas, Nigéria, Paquistão, Arábia Saudita, Somália, Sudão, Síria e Iémen. Nos restantes seis países da ‘lista negra’, a perseguição religiosa está ligada a regimes autoritários: Mianmar, China, Eritreia, Coreia do Norte, Azerbaijão e Usbequistão Um total de outros 35 países (incluindo Angola) foi classificado |
como tendo problemas de liberdade religiosa “preocupantes”, sem deterioração da sua situação. A organização católica precisa que, no período compreendido entre outubro de 2012 e julho deste ano, a liberdade religiosa “entrou numa fase de declínio grave”. O documento retrata um aumento das perseguições dirigidas às “comunidades religiosas marginalizadas”, não apenas cristãs, e sustenta que “os países muçulmanos são predominantes na lista de estados com as violações mais graves à liberdade religiosa”. A análise sublinha que a liberdade religiosa está “em declínio” também nos países ocidentais predominante ou historicamente cristãos, tanto por causa do “desacordo em relação ao papel a ser desempenhado pela religião na ‘praça pública’” como pelo “aumento da preocupação social com o extremismo”. A fundação pontifícia aponta ainda um aumento da “iliteracia religiosa” entre os decisores políticos ocidentais e os meios de comunicação social. O relatório apresenta uma série de casos concretos de violações da liberdade religiosa, como o |
|
|
||
do missionário sul-coreano Kim Jung-Wook, de 50 anos, “condenado a trabalhos forçados perpétuos pelas autoridades norte-coreanas”. Nesse contexto, são também lembradas as 276 alunas raptadas por membros do grupo terrorista ‘Boko Haram’ de uma escola secundária em Chibok, no nordeste da Nigéria, em abril deste ano, ou o caso de Meriam Ibrahim, sudanesa que foi inicialmente condenada à morte por enforcamento no Sudão e que atualmente se |
encontra nos Estados Unidos da América. O relatório da fundação assinala, a respeito de Portugal, que “a liberdade de culto é uma realidade concreta na sociedade, respeitada pelos poderes instituídos”. “A necessidade de todos os líderes religiosos proclamarem em voz alta a sua oposição à violência de inspiração religiosa e de reafirmarem o seu apoio à tolerância religiosa estão a tornar-se cada vez mais urgentes”, sustenta a AIS. |
|
|
Cristianismo em perigo no Médio Oriente |
||
O arcebispo libanês D. Issam John Darwish disse em Lisboa que a liberdade e o diálogo entre religiões estão ameaçados no Médio Oriente e questionou a aparente apatia do Ocidente. “O Médio Oriente é hoje o pátio de radicais islâmicos que destroem a imagem de todos os países e criam uma nova ideologia baseada no ódio”, declarou, no auditório da Assembleia da República, em Lisboa, durante a apresentação do Relatório 2014 sobre a liberdade religiosa no mundo, da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS). D. Issam John Darwish, presidente de um Comité Episcopal para o Diálogo Islâmico-Cristão, denunciou a ameaça do ‘Daesh’ (autoproclamado ‘Estado Islâmico’). “Como é que os países ocidentais permitiram que isto acontecesse? Como é que os países democráticos permitiram que estes grupos radicais decapitassem pessoas inocentes?”, perguntou o arcebispo greco-melquita. Segundo o responsável, os cristãos estão a atravessar “uma fase crítica”, tendo passado, por exemplo, de 80% da população libanesa em 1920 para 40% hoje; as guerras na Síria e no |
Iraque forçaram muitos cristãos a imigrar. “Venho hoje de uma região ferida que luta entre países, religiões, seitas, grupos étnicos, na qual pessoas são assassinadas diante dos media”, referiu, lembrando que “igrejas foram destruídas, padres e religiosas foram raptados”. Segundo o prelado, a chamada ‘Primavera Árabe’ não avançou e os países árabes enfrentam agora “ondas de fanatismo” e “instabilidade”. Catarina Martins, diretora do secretariado português da AIS, afirmou que é “fundamental” dar a conhecer “a situação dos diversos países do mundo em termos de liberdade religiosa”. A campanha de Natal da fundação pontifícia vai reverter este ano em favor dos refugiados no Médio Oriente. Na apresentação do relatório marcou presença Michael Gulbenkian, sobrinho-neto de Calouste Gulbenkian, cristão do Oriente e português. “Neste país que esteve na linha da frente do intercâmbio religioso, hoje em dia há uma total ignorância” |
|
|
||
em relação a estas questões, a que se soma uma “total falta de solidariedade”, advertiu. O orador assinalou que os cristãos do Oriente “estão numa fase extremamente complexa, na medida em que perderam completamente |
a esperança, sobretudo no Iraque e na Síria”. “O Cristianismo arrisca-se a desaparecer, nesses países”, alertou, precisando que “é preciso fazer alguma coisa” e não “olhar para o lado” em relação à “tragédia” no Médio Oriente. |
|
Carreirismo na Igreja
|
||
O Papa Francisco disse no Vaticano que os bispos têm uma missão de “serviço” e dedicação aos outros na Igreja, alertando para os perigos do carreirismo nos membros do clero. “O episcopado não é uma honorificência, é um serviço. Jesus quis que fosse assim. Não deve haver lugar na Igreja para a mentalidade mundana que diz assim: Este homem fez a carreira eclesiástica e tornou-se bispo. Não, não, na Igreja não deve haver lugar para esta mentalidade, o episcopado é um serviço, não uma distinção para vangloriar-se”, declarou, perante milhares de pessoas reunidas na Praça de São Pedro para a audiência pública semanal. O Papa sublinhou que este não é um cargo de “prestígio” e pediu que os bispos saibam ser um “sinal visível” da ligação entre Cristo e o seu povo, um instrumento de “comunhão”, como tantos santos que os precederam. “Os santos bispos - e há tantos na história da Igreja, tantos bispos santos - mostram-nos que este ministério não se procura, não se pede, não se compra, mas acolhe-se em
|
obediência, não para se elevar, mas para abaixar-se, como Jesus”, precisou. Neste, contexto, afirmou que é “é triste quando se vê um homem que procura este cargo e faz tantas coisas para lá chegar”. “Quando ali chega, não serve, pavoneia-se, vive apenas para a sua vaidade”, assinalou, numa intervenção saudada pelos presentes com uma salva de palmas. O Papa precisou que os bispos, como sucessores dos Apóstolos, são colocados à frente das comunidades cristãs “como garantes da sua fé e como sinal vivo da presença do Senhor no meio delas”. Francisco lembrou ainda que os bispos constituem “um único colégio”, unido ao Papa, em que todos procuram “ser cada vez mais servidores dos fiéis, servidores da Igreja”, uma experiência que foi visível, por exemplo, na assembleia extraordinária do Sínodo que decorreu em outubro.
“Não há uma Igreja saudável se |
|
|
||
Igreja que não está unida ao bispo é uma Igreja doente”, advertiu.
No final da audiência, Francisco deixou saudações aos vários grupos presentes, incluindo os peregrinos |
rezai pelos vossos Bispos, que sãogarantes da verdadeira fé e sinal vivo da presença do Senhor no meio
de vós. Rezai também por mim. Agradeço-vos de coração.
Que Deus vos abençoe”.
|
|
Regras para renúncias de bispos e cardeais |
||
O Papa Francisco publicou um conjunto de disposições, em sete artigos, sobre a renúncia ao cargo de bispos e membros da Cúria Romana, que confirma a disciplina vigente, recordando as situações de exceção à norma. “É confirmada a disciplina vigente na Igreja latina e nas várias Igrejas orientais sui iuris, segundo a qual os bispos diocesanos e eparquiais, e quantos lhes são equiparados, bem como os bispos coadjutores e auxiliares, são convidados a apresentar a renúncia ao seu ofício pastoral ao cumprir 75 anos de idade”, assinala o rescrito, publicado após uma audiência do Papa ao secretário de Estado do Vaticano, cardeal Pietro Parolin. |
As novas disposições recordam que “nalgumas circunstâncias particulares”, a autoridade competente pode “julgar ser necessário pedir a um bispo que apresente a renúncia ao ofício pastoral”, algo que já aconteceu no atual pontificado.
Esta situação deve acontecer “depois de se terem feito conhecer” à pessoa em causa “os motivos de tal pedido” e de se terem “escutado atentamente as suas razões, em diálogo fraterno”. O Papa considera “digno de apreço” o gesto de quem, “levado pelo amor e pelo desejo de um melhor serviço à comunidade”, decide apresentar a renúncia antes do 75 anos “por doença ou outro motivo grave”. |
|
Nulidade matrimonial:
|
||
O Papa reforçou esta quarta-feira no Vaticano a sua preocupação com a necessidade de agilizar os processos de nulidade do matrimónio, por uma questão de “justiça” com as pessoas envolvidas, e rejeitou a mercantilização dos tribunais da Igreja. “Há muito gente que tem necessidade de uma palavra da Igreja sobre a sua situação matrimonial, para o sim e para o não, mas que seja justa. Alguns procedimentos são tão longos ou tão pesados que não favorecem [a justiça] e as pessoas desistem”, alertou Francisco, num encontro com participantes num curso promovido pelo Tribunal da Rota Romana (Santa Sé). O Papa deu como exemplo o Tribunal interdiocesano de Buenos Aires que cobre 15 dioceses, nos julgamentos de primeira instância, incluindo uma situada a cerca de 240 quilómetros. “É impossível imaginar que pessoas simples, normais, vão ao Tribunal. Têm de fazer uma viagem, perder dias de trabalho, salário, tantas coisas. Dizem: ‘Deus compreende-me e vou em frente, assim, com este |
peso na alma’”, observou.
Segundo Francisco, é importante que a Igreja faça “justiça” e diga a estas pessoas se o seu matrimónio é “nulo” ou “válido”. “Assim poderão seguir em frente sem esta dúvida, sem esta escuridão na alma”, precisou.
A intervenção, improvisada, alertou para o risco de misturar estes procedimentos canónicos com “negócios”, alertando para a existência de “escândalos públicos”. “Eu tive de despedir do tribunal, há tempos, uma pessoa que dizia: ’10 mil dólares e faço os dois processos, o civil e o eclesiástico’. Isto não, por favor”, pediu Francisco, recordando que no Sínodo dos Bispos deste ano algumas propostas falaram de “gratuidade” neste campo. O Papa instituiu em setembro uma comissão especial de estudo para a reforma do processo matrimonial canónico, com o objetivo de simplificar os procedimentos, um problema que esteve em debate no recente Sínodo extraordinário dos Bispos.
|
A Agência ECCLESIA escolhe sete acontecimentos que marcaram a atualidade eclesial internacional nos últimos dias, sempre atualizados em www.agencia.ecclesia.pt
|
||
|
|
|
|
||
|
|
|
Audiência geral, 05.11.2014
|
Apoio ao luto |
||
No passado dia 2 de Novembro comemorámos mais uma solenidade de todos os fiéis defuntos. Por ser uma altura em que, naturalmente, pensamos mais naqueles que nos eram queridos e partiram para a casa do Pai, esta semana apresentamos como sugestão de navegação o sítio da APELO – Associação de Apoio à Pessoa em Luto. Neste espaço fala-se com “naturalidade sobre perdas emocionais profundas, como as provocadas pela morte de um ente querido”. Ao digitarmos o endereço da associação, encontramos um espaço simples e bastante claro, sendo certo porém que, a qualidade gráfica e o uso das mais recentes tecnologias de desenvolvimento de páginas web não está a ser aplicado. Na opção “quem somos”, descobrimos que a APELO é uma “instituição baseada na colaboração solidária e voluntária de pessoas em luto, técnicos e profissionais de diferentes áreas e outras pessoas que desejam promover o auxílio ao luto”. Percebemos ainda que as áreas de |
intervenção chave desta organização são: - O apoio direto às pessoas e famílias em luto; - A formação, ensino e pesquisa sobre o luto; - A divulgação do tema “os afectos: construção, manutenção e perda”; - A cooperação interinstitucional. No item “onde estamos”, encontramos os centros da APELO já implantados em algumas zonas do país, bem como, informações regionais de cada extensão desta associação. Se pretender colaborar tornando-se sócio aceda à opção “associado”, onde encontra todos dados que lhe permitem juntar-se a esta extensa missão solidária. Em “pedido de apoio”, entramos num espaço muito importante, dado que é através desse formulário que podemos entrar em contacto com esta fabulosa equipa que presta apoio nesta área tão sensível e esquecida por muitos. Para finalizar, destacamos a página inicial, pois aí dispomos de um conjunto enorme de conteúdos. |
|
||
Temos possibilidade de adquirir online os livros do prof. Eduardo Rebelo (“Desatar o nó do luto”, “Amor, luto e solidão” e ainda “Defilhar: como viver a perda do filho”), que são “leituras aconselhadas a quem sofre o luto pela perda de um filho, por viuvez ou por se ver privado de outro alguém ou algo com muito significado pessoal”. Encontramos também ligações para duas excelentes reportagens produzidas pela rádio TSF, |
relacionadas com esta associação. E ainda sugestões na área formativa, seja para as oficinas formação ou para os cursos de aconselhamento do luto. Pois bem, aqui fica a sugestão para que memorizem este endereço e o divulguem, dado que é uma maneira de nos mantermos actualizados com as iniciativas desenvolvidas por esta enorme associação.
Fernando Cassola Marques fernandocassola@gmail.com |
|
Eterno agora |
||
O cónego António Rego lançou hoje o livro "Eterno agora - Conversas com o Deus de sempre", onde escreve orações poéticas que ligam o chão “de agora” aos passos para o “eterno”. “Não sei bem o que é este livro. Sei que piso um chão que é de agora e que caminho para um eterno. E sei que eles estão juntos. Não estão tão separados como a gente pensa”, referiu o sacerdote e jornalista à Agência ECCLESIA. O livro "Eterno agora” foi escrito pelo |
cónego António Rego ao longo de “vários anos” e publica poemas orantes que refletem a realidade que se vive e a que se procura. “O livro é resultado dos passos que foi dando e das ligações que fui fazendo com a minha fé ao que é transcendente”, afirmou o autor “Pretendo transmitir alguma alegria que me habita na visão da Igreja do mundo de hoje, porque há valores dispersos por todos”, acrescentou. |
|
|
|
||
O livro "Eterno agora - Conversas com o Deus de sempre" foi apresentado hoje na livraria Buchholz por Laurinda Alves, que o “terno e eterno”. “É um livro de uma ternura incrível, de uma gratidão enorme, do olhar para o mistério da vida, com os sofrimentos e tristezas, e que nos leva tão longe. O que nos fica é a esperança a gratidão e a ternura”, afirmou a jornalista à Agência ECCLESIA. Para Laurinda Alves, a publicação editada pela Oficina do Livro transmite um “impulso para “viver melhor o presente”, que é o está “garantido”. “O livro ‘Eterno agora - Conversas com o Deus de sempre’ tem o poder de nos convocar ao aqui e agora no sentido de melhor a maneira como vivemos e de tomarmos mais consciência”, referiu. D. Manuel Clemente escreve no prefácio que “a sugestão destes textos provém do ritmo litúrgico, no ciclo anual que nos retoma, sempre mais à frente, sempre mais a fundo”. “Não é repetição, mas insistência daquele Deus que ‘está à porta e bate’, sem se cansar de bater, até que lha abramos, franca e escancarada”, sublinha. |
Através destes textos, o leitor irá reparar que “o Natal ou a Páscoa são sempre iguais no que dizem, da parte de Deus”, mas “sempre novos” no que dizem a cada um, “no agora” em que “irrepetivelmente” cada pessoa está.. O “Eterno agora - Conversas com o Deus de sempre”, do cónego António Rego, é publicado no ano em que o autor assinala os 50 anos de sacerdócio e do jornalista. |
|
|
II Concílio do Vaticano:
|
||
|
No mesmo ano em que surge a revista «O Tempo e o Modo», em 1963, começa a ser publicado e difundido um jornal clandestino, policopiado, de orientação católica. Enquanto «O Tempo e o Modo - Revista de Pensamento e Acção» inaugurou na sociedade portuguesa um espaço de diálogo entre católicos e outros meios culturais, a publicação «Direito à Informação» era um projecto editorial que “pretendia difundir notícias e documentos que a censura não deixaria passar nos jornais legais, com especial atenção ao problema da guerra colonial” (In: João Miguel Almeida – «A oposição Católica ao Estado Novo»; Edições Nelson de Matos; Página 123). Entre 1963 e 1969 saem dezoito números, seis dos quais até 1965. A equipa coordenadora integrava o casal Maria Natália e Nuno Teotónio Pereira, o padre António Jorge Martins, frei Bento Domingues. A tiragem era inicialmente de três mil exemplares e o número de páginas variava. Num artigo publicado no jornal «Público» e depois no livro «Tempos, lugares Pessoas», Nuno Teotónio Pereira realça que o primeiro número foi dedicado à guerra em Angola, “denunciando a prisão e exílio para Portugal de nove padres angolanos, com residências fixas vigiadas pela PIDE em conventos e casas religiosas dispersas de norte a sul do país”. Na colectânea dos textos, o arquitecto escreveu que o número dois do «Direito à Informação» foi dedicado à miséria “imerecida dos trabalhadores”; o número três colocou novamente em destaque a guerra em África e |
|
|
||
os dois seguintes “a visita, silenciada com a conivência da Igreja Portuguesa, da viagem de Paulo VI à Índia” (In: Nuno Teotónio Pereira; «Tempos, lugares Pessoas», página 125). O jornal era policopiado, primeiro nalgumas igrejas e, quando as “exigências da clandestinidade apertaram, num apartamento do Lumiar”. Tal como escreveu João Miguel de Almeida, a distribuição “fazia-se através de contacto pessoal ou por correio, por vezes utilizando, para iludir a vigilância da polícia política, «sobrescritos timbrados de movimentos não suspeitos, como os grupos de casais católicos, cuja direcção aliás não se coibiu de denunciar à PIDE o estratagema, e ainda de empresas fictícias» ”. |
Em Novembro de 1964, o Papa Paulo VI visitou a União Indiana, facto que “deixou Salazar furioso, tendo sido imposta uma apertada censura ao acontecimento, que o governo português resolveu silenciar” e “o mais espantoso é que a Igreja foi conivente com esta atitude: as centenas de publicações católicas que se publicavam regularmente, mesmo as que não eram obrigadas a ir à censura, como os boletins paroquiais, obedeceram cegamente à ordem do ditador”.
Este facto levou a que um “grupo de cristãos organizasse a saída de um número único de um jornal chamado «Igreja Presente», que foi impresso em Madrid, graças à colaboração de católicos espanhóis que militavam na oposição ao franquismo". |
Novembro 2014 |
||
Dia 07 de Novembro*Guarda - Instalações do futuro museu de arte sacra - Encontro «Café In» promovido pelo Departamento da Pastoral Juvenil da Diocese da Guarda com a presença de D. Manuel Felício.
* Senegal – Dakar - Encerramento do congresso da União dos sacerdotes da África Ocidental com o tema «A família como participante no diálogo inter-religioso».
* Lisboa - Ministério da Solidariedade, Trabalho e Segurança Social - Reunião de D. Jorge Ortiga, arcebispo de Braga, no Ministério da Solidariedade, Trabalho e Segurança Social
* Lisboa – UCP - Arcebispo de Braga, D. Jorge Ortiga, participa numa reunião na Universidade Católica Portuguesa (UCP) com a Direcção da Faculdade de Teologia.
* Leiria - Aldeia de Santo Antão - A Associação de Visitadores dos Estabelecimentos Prisionais de Leiria - Os «Samaritanos» - organiza jantar solidário para angariar fundos para a construção de uma capela na Prisão-Escola de Leiria.
|
* Bragança - auditório da Escola Superior de Tecnologia e Gestão - O Agrupamento XVIII de Bragança do Corpo Nacional de Escutas promove um sarau com o intuito de «semear valores» com a presença do antigo chefe nacional do CNE.
* Cantanhede - Câmara Municipal - Debate sobre «Religião e Maçonaria» com Henrique Monteiro e João Conduto
* Lisboa - Massamá - Encontro dos bispos com autarcas de Sintra integrada na visita pastoral à vigararia da Amadora
* Lisboa - Colares (Rodízio - Casa dos Jesuítas) - Encontro de oração sobre «Vede como eles Trabalham - Sentido e Critérios Cristãos na Profissão» para membros da ACEGE. (07 a 09)
Dia 08 de Novembro* Bragança - Celebração solene da promulgação do título de basílica menor ao Santuário de Santo Cristo de Outeiro
* Lisboa - Seminário dos Olivais - Curso de formação para agentes da pastoral do baptismo
|
|
|
||
* Fátima - Centro Pastoral Paulo VI - Ação de formação anual do CPM subordinada ao tema «CPM – âmbito da Nova Evangelização».
* Setúbal - Palmela (Casa de Oração) - Sessão de formação para leitores promovida pela Comissão Diocesana de Liturgia e Música Sacra.
* Lamego - Seminário maior de Lamego - Jornada de formação de catequistas.
* Braga - Casa Episcopal - Conselho Pastoral da arquidiocese de Braga
* Guarda – Seminário - Encontro de professores de Educação Moral e Religiosa Católica (EMRC) com D. Manuel Felício.
* Lamego – Sé - A Diocese de Lamego é entronizada pela Confraria dos Vinhos do Porto com celebração presidida por D. Jacinto Botelho.
* Setúbal - Sesimbra (Núcleo Museológico da Capela do Espírito Santo dos Mareantes de Sesimbra) - Apresentação do livro «Descrição da Arrábida» do Padre Inácio Monteiro por Ana Chora com edição do Centro de Estudos Bocageanos.
|
* Lisboa - Auditório do Colégio de São João de Brito - Concerto «Cantar juntos» para pais e filhos
* Lisboa - Associação Portuguesa dos Amigos dos Castelos (Rua Barros Queirós nº 20) - Início do curso livre sobre a história das ordens e congregações religiosas promovido Centro de Literaturas e Culturas Lusófonas e Europeias da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e com coordenação científica de José Eduardo Franco.
* Porto - Felgueiras (Mosteiro de Santa Maria de Pombeiro) - A Direção Regional de Cultura do Norte promove um espetáculo inserido no Ciclo de Concertos Espaços da Polifonia com o Grupo Vocal Ançãble.
* Lisboa - Convento dos Dominicanos - Concerto solidário (consiste na entrega de um alimento não perecível) com a Orquestra Nova de Guitarras.
* Porto - Encontro da equipa nacional da Juventude Operária Católica (JOC) (08 e 09) * Fátima - Centro Catequético - Curso intensivo destinado a catequistas em fase inicial de formação (08 e 09)
|
|
|
|
||
|
A partir deste sábado, Portugal terá mais uma basílica, desta vez no nordeste transmontano. O título foi atribuído pela Congregação para o Culto Divino à igreja de Santo Cristo de Outeiro, do Vaticano, e será lido por D. José Cordeiro, bisop de Bragança-Miranda. A igreja de Santo Cristo de Outeiro, monumento nacional desde 1927, é datada do final do séc. XVII, sendo concluída na 1ª metade do século XVIII.
A Conferência Episcopal Portuguesa reúne-se em Assembleia Plenária, entre os dias 10 e 13 de novembro. A agenda de trabalhos inclui, entre outros assuntos, a preparação da visita “ad limina” dos bispos de Portugal ao Vaticano, agendada para os dias 7 a 12 de setembro de 2015 e a publicação de um documento sobre o Ano da Vida Consagrada, que a Igreja Católica inicia no dia 30 de novembro.
A iniciativa é do Centro de Estudos do Pensamento Português. Pertence ao pólo do Porto da Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa e vai promover um colóqui internacional sobre o tema “Catolicismo, modernidade e anti-modernidade (1910-1940)”. Decorre nos dias 13, 14 e 15 de novembro, no auditório na Católica/Porto.
Chegará primeiro uma nova edição do semanário digital Ecclesia. Mas é bom reservar já o dia 14 de novembro para a V Jornada de Teologia Prática. Tema: «As intrigantes linguagens da fé». |
|
|
||
|
|
|
Programação religiosa nos media |
||
Antena 1, 8h00 RTP1, 10h00 Transmissão da missa dominical
11h00 - Transmissão missa
12h15 - Oitavo Dia
Domingo: 10h00 - O Dia do Senhor; 11h00 - Eucaristia; 23h30 - Ventos e Marés; segunda a sexta-feira: 6h57 - Sementes de reflexão; 7h55 - Oração da Manhã; 12h00 - Angelus; 18h30 - Terço; 23h57-Meditando; sábado: 23h30 - Terra Prometida. |
RTP2, 11h18Domingo, dia 09 - Viseu: uma diocese em Sínodo
RTP2, 15h30 Segunda-feira, dia 10 - Entrevista ao cónego Emanuel Silva sobre a Semana dos Seminários; Terça-feira, dia 11 - Informação e entrevista a Alfredo Teixeira sobre a Jornada de Teologia Prática; Quarta-feira, dia 12 - Informação e entrevista ao padre Fernando Sampaio sobre a Pastoral da Saúde; Quinta-feira, dia 13 - Informação e entrevista a Helena Rebelo Pinto sobre a Família; Sexta-feira, dia 14 - Apresentação da liturgia de domingo pela irmã Luísa Almendra e o cónego António Rego.
Antena 1 Domingo, dia 09 de novembro, 06h00 - Semana dos Seminários com entrevista a D. Virgílio Antunes
Segunda a sexta-feira, 10 a 14 de novembro - 22h45 - A realidade dos Seminários: Braga, Verbo Divino, Angra, Redemptoris Mater e Évora. |
Para que servem os Sacramentos?
|
||
|
|
|
WhatsPrayer, a horação |
||
1. O que é a HORAÇÃO? Horação é um trocadilho usando as palavras Hora e Oração. Este trocadilho é original do Pe. Rui Santiago. WhatsPrayer, a horação, é um grupo de oração via a aplicação WhastApp. Todos os dias, às 09 horas de Portugal, é enviada uma oração simples, curta, mas interpelativa. As orações são ao estilo Taizé: pequenas frases que permitam a meditação das pessoas, a interpelação, a oração. São pontos de oração.
2. A quem se destina? Esta iniciativa destina-se a todos os utilizadores WhatsApp. Não há idade mínima nem limite. Todos os que enviarem o número de telemóvel, através de mensagem privada na página do facebook do iMissio, serão adicionados ao grupo.
3. Sabendo que existem hoje muitas formas de oração nas novas plataformas qual a ideia para criar algo no WhatsApp. WhastApp é da aplicações mais usadas para comunicar. Foi das aplicações mais caras compradas pelo Facebook (cerca de 20 mil milhões |
de euros), é das aplicações que mais tem crescido em número de utilizadores e funciona em quase todos os sistemas operativos dos smartphone. Já há muitas coisas pensadas pela Igreja e agentes pastorais para o Facebook, Twitter,
|
|
|
||
mas não havida nada ainda pensado para esta aplicação, em Portugal. A comunidade iMissio quer dar uma nova utilidade ao WhatsApp: fazer das 9 da manhã a hora de oração (horação) a Deus. A vantagem desta aplicação é que surge nos écrans do smartphones dos utilizadores: usar
|
o push dos smartphones para puxar à oração individual, mas tendo presente que mais pessoas estão a rezar ao mesmo tempo.
4. Com que periodicidade vamos ter esta horação? As orações são enviadas todos os dias à 9 horas de Portugal.
5. Como tem sido as primeiras reações? Pelo que é possível observar as pessoas estão a aderir, a dar os parabéns pela iniciativa, dando alguns ecos de que as orações são interpelativas, desafiantes, curtas.
6. Quantas pessoas já aderiram? Quanto às latitudes geográficas, temos pessoas de Portugal, de Espanha, do Qatar, do Brasil, dos USA, do Malawi, de Moçambique. A maioria portugueses a viverem nesses países. Já aderiram cerca de 150 pessoas. A iniciativa foi lançada no passado dia 19 de outubro, via página do facebook do iMissio. |
|
Ano A – 32º domingo do Tempo ComumFesta da Dedicação da Basílica de Latrão |
||
Deus mora connosco |
O 32º Domingo do Tempo Comum coincide este ano com a Festa da Dedicação da Basílica de São João de Latrão, cuja “dedicação” ou consagração aconteceu no ano 320. É a catedral do Papa, enquanto Bispo de Roma, é a “mãe de todas as igrejas”, o símbolo das Igrejas de todo o mundo, unidas à volta do sucessor de Pedro. Somos convidados a tomar consciência de que a Igreja de Deus é hoje, no meio do mundo, a morada de Deus, o testemunho vivo da presença de Deus. A primeira leitura de Ezequiel garante-nos que Deus nunca desiste de ser uma presença amiga e reconfortante na caminhada dos homens e de derramar sobre a humanidade sofredora vida em abundância. Trata-se de uma boa nova que devemos ter continuamente presente. As guerras, as injustiças, as convulsões sociais, a depressão económica, os escândalos que abalam a sociedade e que nos fazem desconfiar das instituições, a falência dos líderes em quem confiamos, as notícias diárias sobre a escravatura e o tráfico de seres humanos, a crise de valores, a falta de respeito pela vida humana, desenvolvem em nós sentimentos de angústia e frustração, insegurança e instabilidade, orfandade e abandono. Para nós, crentes, a certeza de que Deus reside no nosso meio e derrama continuamente sobre nós vida em abundância é um convite à serenidade, à confiança e à esperança. Temos de dar testemunho, diante dos nossos contemporâneos, desta certeza que nos anima. Na segunda leitura, São Paulo afirma que os cristãos são templo de Deus, onde reside o Espírito que os anima a |
|
|
||
serem sinal vivo de Deus. No nosso ambiente familiar, no nosso espaço de trabalho, no nosso círculo de amigos, devemos ser o rosto acolhedor e alegre de Deus, as mãos fraternas de Deus, o coração bondoso e terno de Deus. O Evangelho diz-nos que podemos encontrar Deus olhando para Jesus. Nas palavras e nos gestos de Jesus, Deus revela-se e manifesta-nos o seu amor, oferece-nos a vida plena, faz-se companheiro da nossa caminhada e aponta-nos caminhos de salvação. O verdadeiro culto que Deus espera não são os ritos solenes e pomposos, mas vazios, estéreis e balofos. O culto que Deus aprecia é uma vida |
levada na escuta das suas propostas e traduzida em gestos concretos de doação, de entrega, de serviço simples e humilde aos irmãos. Quando somos capazes de sair do nosso comodismo e da nossa autossuficiência para ir ao encontro do pobre, do marginalizado, do estrangeiro, do doente, estamos a dar a resposta “litúrgica” adequada ao amor e à generosidade de Deus para connosco. Estamos a ser Igreja em saída, como tanto nos pede o Papa Francisco, sempre transformados pela Palavra e pela Eucaristia.
Manuel Barbosa, scj www.dehonianos.org |
|
A doença e o sofrimento na Bíblia |
||
A vida é relação com Deus e com os outros nossos irmãos. Diz Enzo Bianchi que «a doença é um mal, uma desarticulação do ser a que é necessário resistir». E L. Manicardi defende que a doença é um atentado à plenitude da vida não só porque implica a diminuição das forças e das capacidades físicas, mas também porque provoca dependências, perturba a vida familiar e afetiva, afasta da vida social e profissional, ameaça a vida, põe em causa a fé. A doença, com efeito, não deriva da vontade de Deus, nem o sofrimento é castigo. Em Deus encontramos vida e saúde. É certo que alguns textos do Antigo Testamento sugerem a ideia que a doença e o sofrimento são consequências do pecado, mas essa relação entre doença/sofrimento-pecado é anterior à Bíblia. Tem origem no fundo cultural da humanidade, estando por isso presente em todas as sociedades pagãs. Chama-se o “princípio da retribuição” e tem subjacente uma lógica de “olho por olho e dente por dente”. Constitui a primeira tentativa de compreensão da doença e do sofrimento. É ainda hoje, desgraçadamente, a forma
|
A Assistência espiritual e religiosa é prestada ao utente a solicitação do próprio ou dos seus familiares ou outros cuja proximidade ao utente seja significativa, quando este não a possa solicitar e se presuma ser essa a sua vontade.(Decreto Lei 253/2009, art. 4)
de compreensão de muitos cristãos. Na perspetiva da revelação bíblica, de forma particular nos evangelhos, o princípio da retribuição veicula uma ideia terrível: Deus é visto como adversário ou inimigo do homem, n’Ele não se pode confiar porque é vingativo. Pode-se perguntar: teria Jesus curado alguém se assim fosse? O que vemos nos evangelhos, pelo contrário, é Jesus, o Médico divino, numa luta permanente contra o mal, atendendo e curando os doentes de suas doenças e sofrimentos. E a cura, que é física mas também social, moral e espiritual, dá aos doentes a |
|
Assistência religiosa e cuidados de saúde:
“Se tiver de ser internado(a), não esqueça, peça a visita do capelão aos enfermeiros logo no início do internamento. Não fique à espera”.(Comissão Nacional da Pastoral da Saúde)
|
||
possibilidade de viverem integralmente de novo as suas vidas (O caso mais expressivo é o dos leprosos que tinham de viver na margem da sociedade e da vida). No evangelho de S. João, Jesus diz que a deficiência/doença –cego de nascença- não está associada ao pecado e que na cura se revela a glória de Deus (cf. Jo 9, 3).
|
Mateus (Mt 8, 17), ao dizer que Jesus «tomou sobre si as nossas doenças e carregou as nossas dores» (Mt 8,17; Is 53, 4), está a referir-se à luta sem tréguas contra o mal de que as doenças físicas, psíquicas e espirituais parecem ser de alguma forma expressão e metáfora. Por isso Jesus acolhe e cura as pessoas de suas doenças e sofrimentos. |
|
SÍRIA: DIAS DE DESESPERO NA CIDADE DE ALEPPOAs mãos vazias da Irmã Annie |
||
Meu Deus, que posso fazer? Quantas vezes, tantos sacerdotes se questionaram já assim? Que posso eu fazer? Como dar uma ajuda concreta, quando não se tem nada? É difícil, por vezes, imaginar a pobreza imensa em que vivem muitas comunidades cristãs. Como em Aleppo, na Síria.
É difícil imaginar a pobreza imensa em que vivem os cristãos na Síria, por causa da guerra civil que deixou em ruínas cidades inteiras. Como Aleppo. Os que puderam fugiram. Aleppo foi a grande metrópole do norte da Síria. Agora é um destroço. Por causa da guerra as infraestruturas colapsaram. As torneiras estão secas, a maior parte das lâmpadas estão cobertas de pó e continuam adormecidas. “As pessoas já se esqueceram do sabor da carne ou da fruta fresca”, lamenta-se a Irmã Annie Demeerjian, das Irmãs de Jesus e Maria. Ela ficou na cidade. Para onde iria, se há tantas pessoas desesperadas ainda a viverem em Aleppo? Para onde iria?
Dias de desesperoPara a Irmã Annie, cada dia que |
passa aumenta o seu desânimo. Ela está em Aleppo para ajudar mas continua de mãos vazias. O seu sorriso tranquiliza, o seu olhar bondoso dá esperança mas não alimenta quem tem fome, não faz esquecer os gritos das bombas a explodirem em sangue, não faz parar a guerra. A Irmã Annie tem uma energia que surpreende. “Se quisermos que os cristãos permaneçam no Médio Oriente, temos de ajudá-los em tudo o que for necessário para que possam sobreviver.” Em Aleppo, como em outras cidades e aldeias na Síria, há uma teimosia que comove. Todos os dias se celebra a missa, mesmo que no meio de escombros. Todos os dias se murmuram orações em favor da paz, mesmo quando tudo à volta parece destruído. Todos os dias alguém recomeça tudo de novo, porque não se pode desistir da vida.
Milhões de refugiadosDesde Março de 2011, quando começaram os primeiros tiros da guerra civil, já morreram mais de 150 mil pessoas na Síria e mais de 10 milhões precisam de ajuda humanitária para sobreviverem. |
|
|
||
Mais de seis milhões perderam as suas casas e estão refugiados algures no país. Cerca de dois milhões estão a viver em campos de refugiados no Líbano, na Jordânia ou na Turquia. A Irmã Annie Demeerjian continua de mãos vazias e todos os dias nos pede mais e mais ajuda. Tudo o que lhe conseguimos dar é sempre insuficiente. Quando se perdeu tudo, um simples cobertor faz toda a diferença para se resistir ao frio agreste do Inverno que está às portas da cidade. Uma barra de sabão e um garrafão de água potável valem mais do que todos os lingotes de ouro que se pudessem oferecer.
Verdadeira solidariedadeJean-Clément, Arcebispo de Aleppo, conhece bem o trabalho da Irmã Annie e a tenacidade dos 16 sacerdotes que, com ele, procuram “acalmar as pessoas aterrorizadas”, como nos disse, há algumas semanas, através de um e-mail. Que fazer para espantar o medo? “Os nossos padres celebram a missa diariamente, essa é a verdadeira solidariedade em Cristo”, diz Jean-Clément, sublinhando que não é fácil a vida na cidade, pois mesmo nos bairros menos afectados pela guerra “há sempre uma granada a cair aqui e ali”. No meio da pobreza imensa, como ajudar esta igreja que sofre? |
“As intenções de missas, por exemplo – diz – permitem-nos minorar a miséria dos mais pobres. Sem elas, não poderíamos fazer muito, pois os fiéis já não podem apoiar os seus padres e a Igreja, como faziam de boa vontade antes da guerra. Hoje, já nem sabem como irão sobreviver no dia seguinte…”
Paulo Aido | www.fundacao-ais.pt |
|
|
Olhar os campos… |
||
Tony Neves |
Sou filho de agricultores e ainda nesta semana dei um dia da minha vida ao trabalho do retirar as espigas de milho do campo e desfolha-las em casa, antes de as colocar no espigueiro. Gosto dos ares do campo e não esqueço nem escondo as minhas raízes. Como boa parte dos portugueses, não entendo a política agrícola imposta pela União Europeia aos Estados-membros. Talvez não a compreenda porque nunca estudei a sério os dossiers. Ou então, porque tudo o que sei sobre o assunto li-o em artigos saídos na comunicação social, sem o rigor que seria exigido para ser claro. Tempos houve em que a União Europeia pagou aos agricultores para estarem quietos, para não produzir, para deitar abaixo vinhas… tudo isto para evitar excessos de produção e, desta forma, manter ou fazer subir os preços de mercado. Devo confessar que sempre achei esta política ridícula, porque o importante não é deixar de produzir para aumentar o preço dos produtos, mas produzir o máximo para que ninguém tenha fome no mundo. Com estas políticas nós ganhamos mais dinheiro, mas o mundo ganha mais fome e miséria… Esta será, talvez, uma análise sem grande profundidade. Será, de certeza, ingénua, pois até parece que eu acredito num mundo onde as pessoas contam mais que o dinheiro, a felicidade vale mais que o lucro! Sim, acredito nesse mundo e é por esta fraternidade universal que eu luto. Há sinais que vêm das relações internacionais que me assustam. Um deles tema ver com o |
|
|
||
excessivo peso que a indústria das armas tem no mundo. Assim, os países e grupos económicos que as fabricam sentem a urgente e constante necessidade de as pôr no mercado, incentivando guerras por esse mundo fora. Também algumas das lógicas das políticas agrícolas me preocupam porque há interesses que estão acima das pessoas e dos seus direitos e essa lógica de pagar para não cultivar é perversa pelos efeitos de fome que provocam em certas |
regiões do mundo que só podem sobreviver à custa de excedentes de áreas mais férteis. Há que rever certas políticas e a agrícola é uma das mais decisivas para o presente e o futuro da humanidade. É necessário que o olhar dos países e continentes sobrevoe a sua região e ultrapasse a lógica curta dos seus interesses egoístas. Queremos um mundo mais fraterno e solidário e todos seremos poucos para o ajudar a construir. |
|
“Pode ouvir o programa Luso Fonias na rádio SIM, sábados às 14h00, ou em www.fecongd.org. O programa Luso Fonias é produzido pela FEC – Fundação Fé e Cooperação, ONGD da Conferência Episcopal Portuguesa.”
|
|
||
|
|
|