Construtores do Futuro como Peregrinos de Esperança


NOTA PASTORAL

Comissão Episcopal da Educação Cristã e Doutrina da Fé

SEMANA NACIONAL DA EDUCAÇÃO CRISTÃ

6 a 13 de outubro de 2024

 

Educação e Esperança são como que os dois pés do caminhar da humanidade. Educar é preparar o coração para a esperança, é abrir ao amanhã, avizinhar-nos do futuro, sendo que ela precisa de ser aprendida, pois é grande o risco de a noite tomar conta do olhar.

Quem educa, é “construtor do agora  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

e do futuro como peregrino da esperançaâ€. Habitamos o agora, mas certos de onde vimos e para onde caminhamos.

“A esperança não confunde!â€, como recorda o Papa Francisco, retomando o que diz São Paulo na Carta aos Romanos, na Bula de proclamação do ano jubilar que 

 

 

 

 

 

toda a Igreja celebrará em 2025. Sob o lema da esperança, o Papa dirige-se aos homens de todo o mundo, convocando-os para serem “peregrinos da esperançaâ€.

Esta circunstância proporciona motivos particularmente significativos e inspiradores, num contexto de celebração desta semana, enquanto tempo de escuta, planificação e compromisso: a fragilidade e o erro não nos prendem o caminhar, mas devem colocar-nos em atitude de procura, pelo que somos convidados a adotar a atitude de peregrinos, movidos pela(na) Esperança.

 

A fragilidade e o erro colocam-nos em atitude de procura

 

Educar é próprio e específico dos humanos que, perante a fragilidade e o erro, querem “conduzir a criança†a novos patamares. É, por isso, um estado de caminhar permanente feito de “erro†e “superaçãoâ€, que interpela a que não se desista de prosseguir, apesar da sedução da acomodação e da tentação de se bastar com o já obtido.

 

 

 

 

 

Neste contexto, a celebração jubilar, a que somos convidados pelo Papa Francisco, é motivo particularmente fecundo e oportuno para a renovação do olhar sobre a Educação, onde “errar†não pode ser sinónimo de se tornar “erranteâ€.

Àquele que erra, que cai no erro, deve ser dada uma nova oportunidade para que se reencontre, que rejubile de alegria por se sentir amado e perdoado.

Como serão diferentes as nossas escolas, as nossas aulas de Educação Moral e Religiosa Católica (EMRC), as nossas catequeses, as nossas comunidades educativas se o espírito do ano jubilar as perpassar da certeza de que o amor, com que somos perdoados, permite recomeçar, vez após vez, e superar os medos da novidade do Caminho.

Porque não somos errantes, mas peregrinos!

 

 

Adotar a atitude de peregrino

 

Ser peregrino é muito mais do que percorrer ou atravessar o espaço e o tempo. É habitá-los, sabendo, porém, não ter “aqui morada permanenteâ€. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Logo no século II, uma célebre carta de autor desconhecido, dirigida a um “Diognetoâ€, recordava que “[os cristãos] habitam pátrias próprias, mas como peregrinos: participam de tudo, como cidadãos, e tudo sofrem como estrangeiros.†(Carta a Diogneto, cap. VI, n.º 3).

Esta condição faz do ser humano um ser “em†e “a†caminho, não como alguém que erra e deriva, sem rumo, mas, pelo contrário, como alguém que tem um horizonte, uma meta. O seu viver é levantar-se e caminhar para o Outro, nos outros.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A condição de peregrino, revestido do essencial, é simbólica e fonte de inspiração eficaz para as nossas comunidades cristãs, para os seus agentes educativos, para a disciplina de EMRC, para a Catequese e para as Escolas Católicas. Em tempos de abundância de intermitentes propostas e caminhos, de (des)encontros entre o relativismo e o fundamentalismo, a imagem do peregrino desafia a que se escolha a perenidade e se consciencialize de que o saber, que se busca, permanece no horizonte como verdade.

 

 

 

 

A condição de peregrino, revestido do essencial, é simbólica e fonte de inspiração eficaz para as nossas comunidades cristãs, para os seus agentes educativos, para a disciplina de EMRC, para a Catequese e para as Escolas Católicas. Em tempos de abundância de intermitentes propostas e caminhos, de (des)encontros entre o relativismo e o fundamentalismo, a imagem do peregrino desafia a que se escolha a perenidade e se consciencialize de que o saber, que se busca, permanece no horizonte como verdade.

 

 

Movidos pela(na) Esperança.

 

A esperança não é um vago sentimento de que tudo correrá bem. É, antes, “a confiança em que existem, de forma latente, possibilidades inimagináveis, inclusive nas situações mais desesperadas. Na era da ciência, a autêntica fé é a convicção acérrima de que o futuro se encontra aberto e de que o espera uma culminação incalculável, não só para o ser humano, mas para a totalidade do cosmos†(Haught, John, Ciência e fé: uma introdução). Como recorda Bento XVI, na sua encíclica “Salvos na Esperançaâ€, a “fé é esperançaâ€, explicitando que acreditar é ser tomado pela força da esperança, que não é originada no sujeito, mas ao que este acolhe. A esperança não é fruto de um desejo, não é uma vã ilusão. Sendo o fruto mais visível da fé, ela nasce do que a fé é: “a fé não é só uma inclinação da pessoa para realidades que hão de vir (…). Dá-nos, já agora, algo da realidade esperada, e esta realidade presente constitui para nós uma prova das coisas que ainda não se veem. Ela atrai o futuro para dentro 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

do presente; (…) o presente é tocado pela realidade futura, e assim as coisas futuras derramam-se nas presentes e as presentes nas futuras.†(Bento XVI, Spe Salvi, 7)

A esperança é, por isso, muito mais do que utopia (um desejo de um “não-lugarâ€), mais do que “pensamento positivoâ€, é a antecipação, na história, dos sinais do sentido último de toda a realidade. No agora da história, a esperança vê acontecer e sabe que tem motivos para tal, o sentido definitivo, antecipado na vitória de Jesus Cristo sobre a morte.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Enquanto o desespero corrói, a esperança constrói, pois esta nasce de uma vivência não meramente subjetiva, mas objetivamente existente e pessoalmente interiorizada.

Nestes tempos, necessitados de esperança, somos convidados, como cristãos na família, no trabalho, nas comunidades eclesiais e nas escolas, a sermos focos de luz de esperança, sinais de que ela não nasce de cada um, mas habita o coração de cada ser humano, como certeza da vitória da vida sobre a morte, sobre todas as mortes do existir: da morte da ignorância, do erro, da desilusão, da tristeza, da derrota, da insatisfação e da errância…

Como educadores, constituímo-nos como aprendizes do amanhã, construtores do futuro, enquanto peregrinos “da†e “na†esperança, habitando o mundo com atitude de caminhantes, rumo a um horizonte sempre mais adiante e mais de todos.

Maria, invocada como ‘estrela da manhã’ e ‘estrela do mar’, interpela-nos a ser lugares onde brilha, como farol na costa de mar revolto, a autêntica e perene fonte da esperança: Jesus Cristo, o Amor ardente e o Sol nascente que dá vida!

 

 

27 de setembro de 2024,

Dia de S. Vicente de Paulo

 

Comissão Episcopal da Educação Cristã
e Doutrina da Fé

 

imagem: mattegg