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Jesus Cristo (J C) |
1. O nome próprio. Jesus (do hebr.>gr. = Deus que salva) é nome próprio, frequente na Bíblia, que, no seu sentido mais forte, foi anunciado pelo Anjo a Maria e a José (Lc 1,31; Mt 1,21) e por eles dado ao Menino quando circuncidado oito dias depois de nascer (Lc 2,21). «Ao nome de Jesus, todos os joelhos se dobrem…», exclamou S. Pau-lo num dos seus mais belos hinos (Fl 12,9-11); e foi em «nome de Jesus Cristo Nazareno» que os Apóstolos Pedro e João fizeram um dos mais retumbantes milagres (Act 3,6; 4,10). Na liturgia, sempre que se pronuncia o santo nome de Jesus, todos fazem inclinação de cabeça em gesto de fé e adoração. No anterior Calendário Litúrgico, este nome era celebrado especialmente na oitava do Natal (festa da Circuncisão); e ainda hoje é referido no Evangelho da missa da solenidade de Maria Mãe de Deus que substituiu essa festa no início do novo ano. O novo Missal dedica uma missa votiva ao SS. Nome de Jesus, que o Directório da Piedade Popular (107) coloca no dia 3 de Janeiro, dia em que é celebrada pela Família Franciscana. Nos textos à escolha desta missa, sobretudo nas nove leituras do NT, há referências explícitas ao nome de Jesus. Aprovada e indulgenciada (EI 29) temos a ladainha do SS. Nome de Jesus. 2. Os seus títulos. O Evangelho de Mateus (1,23) identifica Jesus com o *Emanuel (= Deus connosco) da profecia de Isaías (7,14). Entre os seus conhecidos era tratado por “o filho do carpinteiro (José)”; e em círculos mais alargados pelo nome gentílico de “Nazareno” ou por Rabi ou Mestre. O título principal, repetido dezenas de vezes no NT, é o de Cristo, tradução gr. do hebraico *Messias, que se traduz por “Ungido” ou penetrado pelo Espírito Santo para o exercício da missão de salvação que na Bíblia se reconhecia aos reis, sacerdotes e profetas. No gr. (e noutras línguas, como o fr.), este título é precedido do artigo definido “o”, para significar que Jesus-o-Cristo é por excelência o Messias salvador. J. C. aceitou o título de Rei, no julgamento de Pilatos (Mt 27,11 e //), mas esclarecendo que o seu reino não era deste mundo; mas calou os títulos de *Messias e de *Sacerdote, porque o seu messianismo e o seu sacerdócio não podiam ser compreendidos por quem o ouvia. O NT considera realizadas em J. C. várias figuras que no AT aparecem como proféticas: Ele é o novoAdão, o novo Moisés, o novo Elias, o Homem celeste, o Cordeiro de Deus, o Bom Pastor, o Filho de David, o Servo de Javé, etc. A si mesmo, J. C. gostava de se chamar o *Filho do Homem, para expressar a sua natureza humana marcada pela fragilidade. O título de *Filho de Deus, comum no AT em sentido genérico, é dado no seu sentido pleno a J. C. pelo NT e pela tradição cristã. A teologia trinitária vê nele a *Palavra (em lat., Verbum e, em gr., Logos) por que Deus exprime o conhecimento que tem de si mesmo, o que analogicamente é visto como geração do Filho por Deus-Pai. A tradição cristã, depois da divindade de J. C. se ter manifestado na sua ressurreição, passou a dar-lhe o nome divino de *Senhor (em gr., Kyrios), que entra na terminação das orações litúrgicas: «Por nosso Senhor Jesus Cris-to que é Deus com o Pai na unidade do Espírito Santo». V. Cristo (-Rei). 3. Traços biográficos. O que sabemos de J. C., da sua vida e da sua obra, encontramo-lo quase exclusivamente na Bíblia e, em especial, nos Evangelhos. Em traços gerais, por volta do ano 7 a.C., às portas de Belém da Judeia, J. C. nasceu virginalmente de Maria, casada com José. Depois de curto exílio no Egipto, viveu cerca de 30 anos em Nazaré, pequena cidade da Galileia, de fraca reputação. Por volta do ano 28, fez-se baptizar por João Baptista e iniciou cerca de três anos de vida pública. Ao longo deles, anunciou com grande liberdade e convicção o Evangelho do Reino de Deus, exortou à mudança de vida e recrutou discípulos, a pensar na Igreja que asseguraria a sua presença e acção junto dos homens, depois de regressar ao Pai que o enviara. As autoridades religiosas judaicas pressionaram o procurador Pilatos a condená-lo à morte, e morreu crucificado numa sexta-feira, pela Páscoa, provavelmente no ano 30. Ao terceiro dia, apareceu ressuscitado aos seus amigos, aos quais prometera o Espírito Santo e enviara a evangelizar e baptizar todas as nações. Tudo isto foi transmitido oralmente ao longo da primeira geração de cristãos, sendo passado a escrito pelos evangelistas depois de cerca do ano 70. Ao longo das gerações seguintes, durante séculos, isto foi considerado suficiente para situar a sua fé no Senhor Jesus. Mais tarde, em novo clima cultural, surgiu o desejo de um conhecimento biográfico mais rigoroso acerca de J. C. A primeira Vida de Jesus aparece no séc. XIV. Outras “Vidas” foram aparecendo até aos dias de hoje, para edificação dos fiéis. No tempo da Ilustração (sécs. XVIII-XIX), autores, sobretudo alemães e protestantes, tentaram chegar a uma biografia de Jesus rigorosamente histórica, partindo de uma análise crítica, i.e., científica, dos Evangelhos e socorrendo-se dos progressos alcançados pelas novas ciências da arqueologia, sociologia, etc., fazendo ressaltar o “Jesus histórico” do “Jesus da fé” . Chegando à conclusão de que os textos evangélicos traduziam tradições acerca de Jesus e não dados objectivos, julgaram inútil prosseguir. Em meados do séc. XX, com melhores conhecimentos bíblicos, históricos, arqueológicos, outros autores, agora sobretudo americanos, retomaram o trabalho, mas chegando a conclusões diversas, opinando que Jesus se considerava a si mesmo como sábio, como taumaturgo, como profeta, como libertador social, etc., negando ou abstraindo da sua divindade e missão. Embora sem chegarem à realidade almejada, estes estudos vieram contribuir, nas mãos de estudiosos e autores católicos, para um conhecimento cada vez mais profundo da pessoa e obra de Jesus. 4. O mistério de Jesus. À luz da fé cristã, J. C. é Filho de Deus e Deus verdadeiro, enviado pelo Pai a fazer-se Homem (na *Encarnação), para salvar a humanidade do seu estado de perdição causado pela queda original, para isso dando a vida em sacrifício de valor infinito, como sinal de amor ao Pai e aos homens tornados filhos de Deus e seus irmãos. Em J. C., na única Pessoa divina (segunda Pessoa da SS. Trindade), subsistem as duas naturezas, divina e humana. Por isso J. C. é, em pessoa, o medianeiro ou sacerdote perfeito que assegura a verdadeira *religião (palavra que vem do lat., re-ligare) que nos liga intimamente a Deus. O seu sacrifício na cruz, expressão suprema do seu amor redentor, sendo único, tem valor infinito, universal e eterno, pelo que nele podem participar todos os homens de todos os tempos, pela *Eucaristia e em geral pela *liturgia e pelos *sacramentos. 5. A sua doutrina. J. C. anunciou o *Reino dos Céus, que na sua plena realização consuma a perfeita comunhão dos filhos com Deus-Pai. Condição desta comunhão é acreditar (ou ter *fé) em J. C. e converter-se a uma vida de renúncia ao pecado e de amor generoso a Deus e aos irmãos. Síntese do programa de vida proposto por J. C., é a proclamação das *bem-aventuranças (Mt 1,5ss). Recorrendo a imagens e a parábolas, foi revelando os mistérios do Reino. Ao mesmo tempo foi preparando a *Igreja, fase temporal do Reino, pelo recrutamento e formação de discípulos. Ao chegar “a sua hora” (de dar a vida por nós), instituiu os sacramentos da Eucaristia e da Ordem. Ressuscitado, conferiu aos Apóstolos, constituídos os fundamentos da Igreja, o poder de perdoar pecados. Ao subir aos Céus, enviou-os em missão, prometendo-lhes a assistência do Espírito Santo. Este desceu sobre a Igreja nascente na manhã de Pentecostes e imprimiu forte dinamismo evangelizador aos Apóstolos, que imediatamente começaram a pregar que J. C. é o Messias e só nele se encontra a verdadeira salvação. 6. Sua presença na história humana. J. C., conforme prometeu, continua presente entre nós, não apenas pela sua memória de figura histórica extraordinária, mas, para quem tem fé, na Igreja como seu “*sacramento” (sinal eficaz). Apesar de inícios tão modestos (12 Apóstolos de poucas letras e alguns discípulos) a Igreja nascente cresceu rapidamente, mesmo no meio de perseguições, a ponto de, em menos de três séculos, se impor ao próprio Império Romano como a maior força social. Embora ferida na sua unidade por heresias e cismas, assegura hoje a presença de J. C. no pensamento e no coração de mais de mil milhões de católicos (e de quase outros tantos cristãos separados). Significativa também é a presença de J. C. nas expressões da cultura contemporânea. |
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